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Com revitalização da Zona Portuária, Centro do Rio pode voltar a ser opção de moradia

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Com revitalização da Zona

Portuária, Centro do Rio pode

voltar a ser opção de moradia

Coração da cidade perdeu 120 mil moradores em 40 anos, segundo dados do IBGE. Reabitá-lo é um desafio para o poder público.

Duas antigas residências no Largo São Francisco da Prainha, perto da Pedra do Sal e do Morro da Conceição, foram abaixo sem preservação. No imóvel vizinho, invasor tenta vender casarão sem documentos – Márcia Foletto / Agência O Globo O Rio foi fundado na Urca, mas sua ocupação começou mesmo no Morro do Castelo. Sobrados reinavam imponentes naquela faixa de seis quilômetros quadrados, um pouco menor que Copacabana, que ainda nem existia. Pessoas viviam na Rua da Quitanda, na Rua do Ouvidor e arredores. De manhã cedinho, antes de as lojas abrirem, moradores colocavam seus passarinhos ao sol nas

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janelas. Ao entardecer, cadeiras na calçada. O Centro era lugar de trabalho, mas também de moradia e lazer. Vivia-se entre quiosques e casas de chá, e havia bonde para os quatro cantos. Os melhores cinemas, as melhores boates, as melhores lojas. Mudou o cenário a partir dos anos 1940, quando a classe média começou a migrar para os novos apartamentos da Zona Sul. Dados do IBGE mostram que nos últimos 40 anos cerca de 120 mil pessoas deixaram o coração da cidade, que ficou cinza, cheio de ônibus e pedestres, mas deserto à noite e aos fins de semana.

Trazer os cariocas de volta para o Centro parece um eterno desafio do poder público, que elaborou vários planos de habitação e revitalização desde os anos 1960 — entre eles um do arquiteto Jaime Lerner, chamado “Renascimento do Centro”, que pretendia aumentar as áreas residenciais, mas nunca foi adiante. No momento, os olhos do município estão voltados para a Zona Portuária, onde espera-se a chegada de 70 mil novos moradores ao longo de uma década com os investimentos do Porto Maravilha.

Consultoria dos EUA estuda solução

No fim do ano passado, a prefeitura concedeu incentivos fiscais, como isenção de IPTU até 2019. Mas, até o momento, apenas dois empreendimentos residenciais foram lançados ali. Juntos, os 2,7 mil apartamentos devem trazer oito mil habitantes. Para o Centro Histórico, não há nenhum plano em andamento.

— É um processo. O mercado imobiliário brasileiro deu uma desaquecida. Se não fosse isso, provavelmente haveria um número maior de lançamentos. Acabamos de mudar uma lei que aumenta os incentivos à construção de residências no Porto. Ainda teremos atrativos como VLT e Museu do Amanhã. Com o tempo, vai decolar — acredita o prefeito Eduardo Paes.

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Rio Patrimônio da Humanidade, ainda não há demanda para mais moradia no Centro (“se houvesse, não estaríamos tendo essa conversa”, diz). Uma das ideias que Fajardo tem para a área é que ela tenha uma agência, assim como o Porto tem a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdurp). Uma equipe de arquitetos e urbanistas da Bloomberg Associates, consultoria do ex-prefeito nova-iorquino Michael Bloomberg, já veio ao Rio três vezes. Eles estão elaborando, junto com Fajardo, soluções para o Centro. O arquiteto promete que a habitação terá papel central no novo projeto.

O síndico do Cores da Lapa, último grande lançamento na região: preços em alta – Alexandre Cassiano / Agência O Globo Há dez anos, o mercado imobiliário do Centro viveu um caso raro. Com jeitão de residencial da Barra da Tijuca, o condomínio Cores da Lapa já fazia sucesso antes de nascer. Q u a s e 8 0 % d o s 6 8 8 a p a r t a m e n t o s f o r a m v e n d i d o s c o m antecedência, e os 20% restantes, liquidados em apenas duas horas. Fincado num terreno de 12 mil metros quadrados, na Rua do Riachuelo, o conjunto de seis torres oferece aos moradores

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serviços de clube. Parecia ser o motor que faltava para atrair novos habitantes ao Centro. Mas desde a venda do Cores da Lapa passaram-se dez anos sem nenhum lançamento na região, segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) — salvo algumas unidades habitacionais em Santa Teresa.

— Um três quartos comprado na planta por R$ 150 mil acaba de ser vendido por R$ 900 mil. A região está muito valorizada — afirma o síndico do Cores da Lapa, Antonio Carlos Gusmão, chamado de “miniprefeito” pelos funcionários que o ajudam a zelar por 2,5 mil moradores. Sobre os preços, ele tem razão: desde 2012, o valor do metro quadrado para venda subiu 34,6%, segundo o Sindicato da Habitação, chegando a R$ 8,6 mil — um terço do preço no Leblon, o mais caro da cidade.

Até meados dos anos 1990 o Cores da Lapa não poderia ser construído. Prevalecia uma lei que impedia o licenciamento de novos empreendimentos residenciais no Centro. Sufocando ainda mais a moradia, a prefeitura incentivava a alteração do uso de imóveis de residencial para comercial, seguindo uma tendência de cidades norte-americanas. Foi assim que diversos edifícios e sobrados deixaram de abrigar casas para receber escritórios de advocacia e contabilidade. Com o passar do tempo, restou um conjunto de casarões de valor histórico inestimável, mas em estado de ruínas.

Mais de 1,5 mil imóveis abandonados

Segundo levantamento da Secretaria municipal de Habitação, há 1.546 construções no Centro arruinadas, abandonadas ou invadidas que poderiam virar moradia. O programa Novas Alternativas foi criado para dar uma solução a esses esqueletos urbanos, transformando-os em 30 mil residências — 100 mil pessoas poderiam ser beneficiadas, pelas contas do coordenador do programa, o arquiteto Nazih Heloui. Sem orçamento este ano, o Novas Alternativas aliou-se à Cdurp, que tenta viabilizar na Região Portuária a construção de 300

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unidades habitacionais para baixa renda. Mas tudo é difícil quando se trata de patrimônio histórico. Na pacata Rua do Monte, por exemplo, um antigo casarão recém-restaurado seria entregue este mês a seis famílias. Mas traficantes do vizinho Morro da Providência, que possui UPP, invadiram o local e construíram um muro de concreto na porta de entrada. Em vez de moradia, inaugurou-se uma torre de observação do tráfico.

Casa restaurada na Rua do Monte: tráfico ocupou imóvel – Márcia Foletto / Agência O Globo

Outro caso emblemático do abandono dos casarões está no Largo São Francisco da Prainha, logo atrás do Museu de Arte do Rio e vizinho à Pedra do Sal. Coladas ao tradicional Angu do Gomes, duas casas da Venerável Ordem Terceira (VOT) — ordem religiosa dos franciscanos leigos que recebeu, através de doações, muitos imóveis no Centro — foram abaixo sem preservação, o que obriga os sócios do restaurante a jogar veneno para matar rato no terreno baldio todos os dias. O sobrado ao lado, também da VOT, está à venda. No telefone informado, um invasor oferece o casarão deteriorado por R$ 180 mil. Só faz uma ressalva: a

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venda seria “de boca”, sem documentos.

Se a situação está desse jeito, a culpa também é dos construtores, que não se interessam por restaurar antigos sobrados. Jackson Pereira é uma exceção. Apaixonado pela arquitetura histórica do Rio, ele lançou nos últimos dez anos 50 unidades habitacionais em dez imóveis antes decrépitos. Na Rua André Cavalcanti, comprou dois casarões incendiados e os transformou em seis lofts de dois andares — parece até Nova York. Ele conhece como poucos a situação dos casarões:

— A cada 20 imóveis que analiso, apenas em um é possível construir de modo financeiramente viável. Há desde a dificuldade de se regularizar documentos como de se obter financiamento, pois os bancos não têm técnicos especializados nesse mercado. Se houvesse uns mil construtores como eu, o problema do Centro estaria resolvido, mas meus colegas só pensam a curto prazo.

Por Caio Barretto Briso

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