REALISMO E NATURALISMO
O Realismo é uma reação contra o Romantismo:
“O Romantismo era a apoteose do
sentimento; o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houve de mau na nossa
CARACTERÍSTICAS
As características do realismo estão intimamente ligadas ao momento histórico e às novas formas de pensamento:
• objetivismo = negação do subjetivismo romântico, homem volta-se para fora, o não-eu;
• Universalismo = substitui o personalismo anterior.
materialismo que leva à negação do
sentimentalismo e da metafísica.
autores são antimonárquicos e defendem os
ideais republicanos.
nacionalismo e volta ao passado histórico são
deixados de lado para enfatizar o presente, o contemporâneo.
determinismo influenciando o homem e a obra
de arte por 3 fatores: meio, momento e raça (hereditariedade);
Descrições e adjetivações objetivas; Linguagem culta e direta;
• Mulher não idealizada, e sim, real. Ex.: Marcela e Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas), Sofia (Quincas Borba)...
• Amor e outros interesses subordinados aos interesses sociais;
• Herói problemático;
• Narrativa lenta, tempo psicológico;
• Personagens trabalhados psicologicamente.
Principal autor brasileiro:
Machado de Assis com “Memórias Póstumas
COMPARAÇÃO
O quadro abaixo mostra as principais oposições entre Romantismo e Realismo / Naturalismo :
PANORAMA HISTÓRICO
(1881 - 1893)
•
Socialismo, cientificismo, evolucionismo,
positivismo, lutas antiburguesas, 2ª Rev.
Industrial;
•
Em 1881, com a publicação de
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de
Machado de Assis, inicia-se o Realismo
no Brasil;
•
No Brasil: abolição, República, romance
ROMANTISMO x REALISMO
Principais diferenças entre Romantismo e Realismo:
ROMANTISMO (1836-1881)
• Ênfase na fantasia;
• Predomínio da emoção;
• Proximidade emocional entre autor e os temas; • Subjetividade;
• Escapismo (literatura como fuga da realidade); • Personagens idealizados;
REALISMO
• Ênfase na realidade; • Predomínio da razão;
• Distanciamento racional entre o autor e os temas;
• Objetividade;
• Engajamento (literatura como forma de transformar a realidade);
• Retrato fiel das personagens;
• A mulher numa visão real, sem idealizações... • Universalismo.
NATURALISMO
• Determinismo biológico; • Objetivismo científico;
• Temas de patologia social;
• Observação e análise da realidade;
• Ser humano descrito sob a ótica do animalesco e do sensual;
• Linguagem simples;
• Descrição e narrativa lentas • Impessoalidade;
Principais autores
:•
Aluísio Azevedo
, “O mulato”, em 1881: início do Naturalismo no Brasil; “O Cortiço”,DIFERENÇAS ENTRE REALISMO E NATURALISMO
NATURALISMO
• Forte influência da literatura de Gustave Flaubert (França). • Romance documental, apoiado na observação e na análise. • A investigação da sociedade e dos caracteres individuais é
feita “de dentro para fora”, por meio de análise psicológica capaz de abranger sua complexidade, utilizando a ironia, que sugere e aponta, em vez de afirmar.
• Volta-se para a psicologia, centrando-se mais no
indivíduo.
• As obras retratam e criticam as classes dominantes, a alta
burguesia urbana e, normalmente, os personagens pertencem a esta classe social.
• O tratamento imparcial e objetivo dos temas garante ao
leitor um espaço de interpretação, de elaboração de suas próprias conclusões a respeito das obras.
REALISMO
• Forte influência da literatura de Émile Zola (França). • Romance experimental, apoiado na experimentação e
observação científica.
• A investigação da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro”, os personagens tendem a se simplificar, pois são vistos como joguetes, pacientes dos fatores biológicos, históricos e sociais que determinam suas ações, pensamentos e sentimento.
• Volta-se para a biologia e a patologia, centrando-se mais no social.
• As obras retratam as camadas inferiores, o proletariado, os marginalizados e, normalmente, os personagens são oriundos dessas classes sociais mais baixas.
• O tratamento dos temas com base em uma visão determinista conduz e direciona as conclusões do leitor e empobrece
ROMANCE REALISTA
É uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica,fazendo crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. Faz uma análise da sociedade "por cima", visto que seus personagens são capitalistas, pertencentes à classe dominante. Este tipo de romance é documental, sendo retrato de uma época. Foi cultivado no Brasil por Machado de Assis, em obras como "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Quincas Borba" e "Dom Casmurro".
ROMANCE NATURALISTA
Foi cultivado no Brasil por Aluísio de Azevedo ("O Mulato") e Júlio Ribeiro. Raul Pompéia é um caso a parte, pois seu romance, "O Ateneu", apresenta características ora naturalistas, ora realistas, ora impressionistas. Existem várias semelhanças entre o romance realista e o naturalista, podendo-se até mesmo afirmar que ambos partem de um ponto comum para chegarem a mesma conclusão, sendo que percorrendo caminhos distintos.ANÁLISE DE FRAGMENTOS
TEXTO I: Memórias Póstumas de Brás Cubas
"Naquele tempo contava apenas 15 ou 16 anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação".
TEXTO II – Memórias Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis
...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.
— Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma Universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra coisa um filho que me faz isto...
TEXTO III – O Mulato – Aluísio Azevedo
Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. (…) A Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre. De um casebre miserável, de porta e janela, ouviam-se gemer os armadores enferrujados de uma rede e uma voz tísica e aflautada de mulher cantar em falsete a "Gentil Carolina era bela"; doutro lado da praça, uma preta velha, vergada por imenso tabuleiro de madeira, sujo, seboso, cheio de sangue e coberto por uma nuvem de moscas, apregoava em tom muito arrastado e melancólico: "Fígado, rins e coração!" Era uma vendedeira de fatos de boi. As crianças nuas, com as perninhas tortas pelo costume de cavalgar as ilhargas maternas, as cabeças avermelhadas pelo sol, a pele crestada, os ventrezinhos amarelentos e crescidos, corriam e guinchavam, empinando papagaios de papel.
TEXTO IV – Casa de pensão – Aluísio Azevedo
O quarto respirava todo um ar triste de desmazelo e boemia. Fazia má impressão estar ali: o vômito de Amâncio secava-se no chão, azedando o ambiente; a louça, que servia o último jantar, ainda coberta pela gordura coalhada, aparecia dentro de uma lata abominável, cheia de contusões e roída de ferrugem. Uma banquinha, encostada à parede, dizia com seu frio aspecto desarranjado que alguém estivera aí a trabalhar durante a noite, até que se extinguira a vela, cujas últimas gotas de estearina se derramavam melancolicamente pelas bordas de um frasco vazio de xarope Larose, que lhe fizera as vezes de castiçal.
TEXTO V – O Bom-Crioulo – Adolfo Caminha
“Uma coisa desgostava ao grumete: os caprichos libertinos do outro. Porque Bom-Crioulo não se contentava em possuí-lo a qualquer hora do dia ou da noite, queria muito mais, obrigava-o a excessos, fazia dele um escravo, uma ‘mulher à-toa’ propondo quanta extravagância lhe vinha à imaginação. Logo na primeira noite exigiu que ele ficasse nu, mas nuzinho em pêlo: queria ver o corpo ... Aleixo amuou: aquilo não era coisa que se pedisse a um homem!”
TEXTO VI - O Cortiço – Aluísio Azevedo
“Pombinha assentou-se, constrangida, no rebordo da cama e, toda perplexa, com vontade de afastar-se, mas sem animo de protestar, por acanhamento, tentou reatar o fio da conversa, que elas sustentavam um pouco antes, à mesa, em presença de Dona Isabel. Léonie fingia prestar-lhe atenção e nada mais fazia do que afagar-lhe a cintura, as coxas e o colo. Depois, como que distraidamente, começou a desabotoar-lhe o corpinho do vestido.
— Não! Para quê!... Não quero despir-me... — Mas faz tanto calor... Põe-te a gosto... — Estou bem assim. Não quero!
— Que tolice a tua...! Não vês que sou mulher, tolinha?... De que tens medo?... Olha! Vou dar exemplo!
E, num relance, desfez-se da roupa, e prosseguiu na campanha.
A menina, vendo-se descomposta, cruzou os braços sobre o seio, vermelha de pudor.
— Deixa! segredou-lhe a outra, com os olhos envesgados, a pupila trêmula.
E, apesar dos protestos, das súplicas e até das lágrimas da infeliz, arrancou-lhe a última vestimenta, e precipitou-se contra ela, a beijar-lhe todo o corpo, a empolgar-lhe com os lábios o róseo bico do peito.
— Oh! Oh! Deixa disso! Deixa disso! reclamava Pombinha estorcendo-se em cócegas, e deixando ver preciosidades de nudez fresca e virginal, que enlouqueciam a prostituta.
— Que mal faz?... Estamos brincando...
— Não! Não! balbuciou a vitima, repelindo-a.
— Sim! Sim! insistiu Léonie, fechando-a entre os braços, como entre duas colunas; e pondo em contacto com o dela todo o seu corpo nu.
Pombinha arfava, relutando; mas o atrito daquelas duas grossas pomas irrequietas sobre seu mesquinho peito de donzela impúbere e o rogar vertiginoso daqueles cabelos ásperos e crespos nas estações mais sensitivas da sua feminilidade, acabaram por foguear-lhe a pólvora do sangue, desertando-lhe a razão ao rebate dos sentidos.
Agora, espolinhava-se toda, cerrando os dentes, fremindo-lhe a carne em crispações de espasmo; ao passo que a outra, por cima, doida de luxúria, irracional, feroz, revoluteava, em corcovos de égua, bufando e relinchando.
E metia-lhe a língua tesa pela boca e pelas orelhas, e esmagava-lhe os olhos debaixo dos seus beijos lubrificados de espuma, e mordia-lhe o lóbulo dos ombros, e agarrava-lhe convulsivamente o cabelo, como se quisesse arrancá-lo aos punhados. Até que, com um assomo mais forte, devorou-a num abraço de todo o corpo, ganindo ligeiros gritos, secos, curtos, muito agudos, e afinal desabou para o lado, exânime, inerte, os membros atirados num abandono de bêbedo, soltando de instante a instante um soluço estrangulado.
A menina voltara a si e torcera-se logo em sentido contrário à adversária, cingindo-se rente aos travesseiros e abafando o seu pranto, envergonhada e corrida.