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PROCESSO Nº /95 ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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PROCESSO Nº 16.496/95

ACÓRDÃO

B/M ”VIDA NOVA". Naufrágio com danos materiais c o

desaparecimento de 05 passageiros. Condições meteorológicas

adversas, excesso de confiança do condutor, má peação da carga e

falta de material de salvatagem em local de fácil acesso. Condenação.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.

No dia 24 de abril de 1995, cerca das 17:30h, ocorreu o naufrágio do B/M "VIDA NOVA", classificado como N-2-a e conduzido pelo seu proprietário inabilitado Paulo da Silva M aracaipe, quando navegava nas proxim idades da ilha da Matança, no rio Tocantins, Estreitos - MA.

Do acidente decorreu o desaparecim ento e provável morte por afogamento de três crianças e dois adultos, além da perda total da carga transportada e da própria embarcação.

No inquérito, realizado pela Agência da C apitania dos Portos do Estado do M aranhão, em Imperatriz, foram ouvidas 04 testem unhas, elaborado laudo de exame pericial e juntada a docum entação de praxe.

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Consta que o B/M VIDA NOVA” é de propriedade de Paulo da Silva Maracaipe, inabilitado, e na ocasião do acidente, era conduzido pelo mesmo, tendo outros 19 passageiros a bordo, tendo com características principais: classificação N-2- a, comprimento 12,55m; boca: 2,60m; casco de madeira: 4,66AB; máximo de 25 passageiros e o motor Yanmar com potência de 18 HP.

Consta que o proprietário encostou o barco no porto da Fazenda Aqueri, carregando-o com a mudança do lavrador Aldemar da Silva Ribeiro, basicamente 24 sacos de arroz de 40kg e toras de madeira, além de pertences pessoais, todos espalhados aleatoriamente sobre a embarcação.

Consta que, ao reiniciar a viagem, o tempo havia mudado, passando a chover e ventar muito; mesmo assim, a viagem continuou.

Consta que o condutor não conseguia dominar o barco por causa do vento e da sua pouca estabilidade. Assim, navegaram por cerca de uma hora até chegar na cachoeira Lajeira, onde o piloto não conseguiu atravessar por causa do banzeiro e do vento forte, apesar de efetuar duas tentativas. Na terceira tentativa, o barco foi empurrado pela correnteza rio abaixo, tendo o piloto reduzido o motor, ocasião em que o banzeiro jogou o barco na margem, abarrancando-o.

Consta que o piloto esperou por cerca de uns 20 minutos para que a tempestade passasse, depois, pediu para que os passageiros empurrassem o barco para rio, contudo, o barco foi jogado novamente para o seco.

Consta que, apesar dos protestos e choros das mulheres e crianças a bordo, o piloto repetiu a faina. Tentou novamente subir o rio pelo canal próximo à margem mas, não conseguindo, abriu para o meio do rio, ocasião em que começou adentrar muita água pela proa e, estando a embarcação bastante pesada e com grande quantidade de água embarcada, veio a afundar até desaparecer sob as águas do rio Tocantins.

Consta mais que, se havia salva-vidas a bordo, os mesmos encontravam-se em local de difícil acesso, já que, quando procurados pelos passageiros não foram encontrados.

Consta ainda que o abandono da embarcação, por ocasião do seu naufrágio, era tarefa complicada, já que os bordos estavam cercados por grades de madeira e o corredor central lotado de pertences dos passageiros e redes.

O laudo de exame pericial (fls. 32) concluiu que:

"A) Acidentes pessoais - no naufrágio em tela, cinco (05) passageiros, sendo dois (02) adultos e três (03) crianças, todos vítimas de afogamento;

B) Fator humano - não se pode cogitar que a tripulação apresentasse problemas de ordem psicomotora, todos estavam em perfeito gozo de saúde, porém houve um grande erro de avaliação e até mesmo uma grande precipitação para encetar a derrota. pois as condições do tempo não eram favoráveis.

C) Fator material - a embarcação não dispunha do material de salvatagem (bóias, coletes salva-vidas), em locais de fácil acesso aos passageiros,

D) Fator operacional - o patrão da embarcação, apesar de conhecer a região e trafegar constantemente nesta área, não era habilitado.

Conclui-sc, portanto, que a causa determinante do naufrágio foi a imprudente insistência do piloto para prosseguir a viagem embora as eondiçoes do tempo nao

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serem favoráveis, e por outro lado, a carga estava mal distribuída, concorrendo, em escala, para o fato ocorrido."

No relatório (fls. 44), o encarregado do inquérito concluiu: ” 1) Fatores que contribuíram para o acidente:

A) Fator humano - o marítimo Sr. Paulo da Silva Maracaipe, condutor do B/M "VIDA NOVA”, sob o ponto de vista biológico, contribuiu sob o aspecto psicológico por fa/er uma análise precipitada das condições meteorológicas, achando que poderia seguir em frente, e pela sua insistência em seguir a viagem sem levar em consideração o pedido das pessoas para que esperasse mais algum tempo, como também a falta de iniciativa em distribuir os coletes para os passageiros, já que a viagem apresentava um perigo iminente.

B) Fator material - não contribuiu.

C) Fator operacional - contribuiu, pois o piloto da embarcação, por não ser habilitado, desconhecia as normas de segurança, assim como não se utilizou das medidas de precaução de segurança, que se faziam necessárias no momento, para evitar um mal maior, fazendo uma distribuição dos coletes salva-vidas para os passageiros.

2) Que, em conseqüência, houve o desaparecimento da C/M "FLOR DO MEARIM", perda total da carga do Sr. Aldenor da Silva Ribeiro, e de seus dois filhos menores, conforme consta às fls. n°s 16 e 17, perda dos pertences da Sr* Lucilene Alves da Silva, conforme consta às fls. n°s 21 e 22, perda de pertences da Sr* Raimunda Ferreira da Rocha, conforme às fls. 25 e 26; e

3) É possível responsável direto pelo acidente o Sr. Paulo da Silva Maracaipe." Intimado, o indiciado apresentou defesa prévia, refutando as acusações do relatório.

Por sua vez, a Douta Procuradoria, cm uniformidade de entendimento com o relatório, representou em face do proprietário e piloto inabilitado da barco "VIDA NOVA", com fulcro no art. 14, letra "a” (naufrágio) da Lei n° 2.180/54.

Citado, o representado, que não possui antecedentes no Tribunal, foi defendido por advogado legalmente constituído.

A defesa (fls. 84) alega que: "Em tendo havido o sinistro envolvendo a referida embarcação, naquele dia fatídico de 24 de abril de 1995, o representado,ora contestante da acusação que atribui a digna Procuradora Especial da Marinha, não tinha o condutor da referida embarcação qualquer previsibilidade do ocorrido, pois, ao zarpar rumo ao seu destino, coisa que fazia rotineiramente e com regularidade, detinha o inteiro controle do barco, e este se encontrava em perfeitas condições de navegabilidade em águas fluviais, autorizado pela Capitania dos Portos Imperatriz, MA, com registro, vistoriamento e demais formalidades legais para o transporte de cargas e passageiros, conforme constante da ficha da embarcação da Diretoria de Portos e Costas Capitania dos Portos de Imperatriz, MA (fls. 28/29) do processo.

O corrido o afundam ento da em barcação sinistrada, os procedimentos administrativos e legais da referida Capitania foram devidamente providenciados, tendo então o responsável pela Capitania nomeado dois peritos para levantarem as circunstâncias do acidente e apontar o possível responsável, culminando, os peritos, em apontar o condutor e proprietário do barco como único responsável, alinhando, no laudo pericial, cinco (05) variantes caracte rizadoras do acidente, como sendo:

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A) Existência de vítimas fatais.

B ) Falta de contribuição da tripulação da embarcação, tendo em vista que todos gozavam de perfeita saúde, diante das condições adversas do tempo.

C) Fator material - falta de materiais de salvamento à vista e de fácil acesso. D) Falta de habilitação legal do condutor, para navegar ou trafegar com a embarcação.

Analisando-se primeiramente a primeira hipótese apontada pelos peritos, realmente houve vítimas fatais, circunstância esta constatada desde o acidente, pois a embarcação soçobrou totalmente, vitimando principalmente os inaptos com a natação e crianças (duas).

Quanto ao segundo fator apontado pelos peritos, o fator humano, este não pode ser cogitado, pois em nada mudaria a realidade dos fatos, se os passageiros tivessem ou não gozando de boa saúde, pois o fato deu-se em circunstâncias alheias à vontade de todos, configurando-se uma condição de força maior (a tempestade). Portanto, força da natureza, para a qual ninguém, nem condutor, nem tripulantes, tinha previsibilidade, uma vez que, ao partirem, estava fazendo tempo bom; com se diz na Marinha, estava um "mar de almirante" com perfeitas condições navegabilidade.

Quanto ao fator material apontado e bem como operacional, não podem ser cogitados nestas circunstâncias, pois o material de salvamento não existia; o que houve foi esquecimento ou descaso da própria tripulação em não exigir tais equipamentos; talvez pela costumeira assiduidade nas viagens ribeirinhas, acharam desnecessários tais equipamentos.

Quanto à falta de habilitação ventilada no laudo pericial, tal exigência não cabia ao condutor, pois o mesmo registrou a embarcação na repartição competente, e tal não lhe fora exigida, tendo-se, portanto, como autorizado para ofício, e, em mais, tais fatores não haveriam de contribuir para caracterização do evento, uma vez que ficou provado que o naufrágio se deu não por imperícia do condutor, mas por fatores estranhos à sua qualificação.

Veja-se que, pelo apurado, até agora não configurou falta de condições de navegação da embarcação, pois esta, totalmente vistoriada e registrada no órgão competente, detinha todas condições de operacionalidade e o acidente não ocorreu por deficiência do barco, por excesso de carga ou por manobras indevidas ou perigosas do condutor, mas sim, pela existência de uma força superior à do barco, que impossibilitava ao condutor de manter a embarcação no seu rumo e emergida.

Aqui, o que prevaleceria? A possibilidade do tempo, a ocasionalidade ou a intencionalidade do condutor em provocar um acidente de proporções tão desastrosas, com perda de cinco vidas humanas, bens materiais e a própria embarcação? Quando se constata que ao partirem rumo ao destino, fazia tempo favorável e sem qualquer possibilidade de tempestade?

Não, o que houve realmente foi uma fatalidade lastimável, onde o condutor e os demais passageiros não dispunham de meios para visualizar ou adivinhar a tormenta que se seguiu após terem zarpado do porto de Estreito - MA. Foram, portanto, todos colhidos pela tempestade já em viagem, tendo o condutor, na primeira tempestade, mostrado habilidade e conduzido o barco ao barranco do rio, esperando a tempesta passar, o que ocorreu, e somente aí, com anuência de todos os tripulantes, prosseguiu

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viagem, sendo que, novamente em plena viagem e em local sem aportagem, sofreram o castigo da natureza, circunstância esta alheia a vontade de todos.

C aso seria totalm ente diferente, se pelo con trário tivesse o condutor proprietário da em barcação iniciado viagem em condições adversas, não recom endáveis, o que seria pela própria tripulação não recom endado, como se constata pelo depoim ento do Sr. Aldcnor, que as condições eram boas, e que as tormentas se deram em pleno curso da viagem, portanto incidentais.

Não se pode responsabilizar uma pessoa por uma fatalidade, por uma ocorrência motivada por forças naturais e poderosas com o ocorreu com o afundamento do barco "VIDA NOVA", colhido por tempestade tropical com um na região Tocantins.

Ninguém deve ser punido por tais circunstâncias, quando está caracterizado que não houve im prudência, negligência ou imperícia, pois somente seria imprudente, e ter contribuído para o acidente, se tivesse /arpado em meio à tormenta, se o tempo estivesse, no mom ento da partida, em condições impróprias para navegabilidade. Não estava, fazia ’’céu lim po”, pelo depoim ento do condutor (fls. 47), navegando por cerca de cinco horas sem qualquer incidente, até aportar para o em barque do Sr. Aldenor, família e seus pertences (arroz e outras coisas), pois o mesmo em preendia mudança. 0 barco ainda não tinha atingido o limite máximo de carga, que era de 7,9 toneladas conforme aferido pela Capitania onde efetivara o registro, portanto estava dentro do regulamento.

Condutor, apesar de não habilitado, tinha prática de 10 anos de convívio com o ofício, conhecia a região em que operava a em barcação, e pelo fato de não ser habilitado não pode ser penalizado pelo ocorrido, não contribuiu para tanto, não agiu imprudentemente, negligentem ente ou com imperícia, pelo contrário, procurou por todos os meios salvar a embarcação, e com isso, evitar o acidente, mas não teve forças para dom inar a natureza, não pôde mudar o destino.

Não aceita a imputação que lhe faz a Douta Procuradoria Especial da Marinha, ao responsabilizá-lo pelo sinistro e pelas mortes, pois bem poderia ter morrido juntam ente com os dem ais.”

Na fase de instrução a Capitania informou, como requerido pela PEM, que a em barcação sinistrada não possuía seguro obrigatório.

Em alegações finais, m anifestou-se a PEM.

De tudo o que consta nos presentes autos, verifica-se que o naufrágio do 'VIDA NOVA” deveu-se à conjugação dos seguintes fatores: condições adversas do tempo e do rio, excesso de confiança do condutor inabilitado da em barcação, e a má peação da carga transportada e a falta de coletes salva-vidas ao alcance dos passageiros.

Restou provado, pela unanimidade da prova testemunhal que, apesar das condições m etereológicas adversas o piloto, ora representado, contrariando inclusive o pedido dos passageiros, insistiu no prosseguimento da viagem , embora pudesse, de forma segura, interrompê-la, evitando o acidente.

E mais, também ficou dem onstrado através de prova testemunhal que a carga transportada não obedecia a qualquer critério de peação. pelo contrário, foi aleatoriamente distribuída, gerando, inclusive, a dificuldade das pessoas saírem da em barcação ou alcançarem os coletes salva-vidas, já que os mesmos não estavam em local de fácil acesso.

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Do exposto, é de ser considerada integralmente procedente a representação, responzabilizando-se o representado, diante de sua imprudência.

Assim,

A C O R D A M os Juizes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: naufrágio com danos materiais e o desaparecimento de cinco passageiros; b) quanto à causa determinante: condições adversas de tempo e rio, excesso de confiança de condutor inabilitado, má peação da carga transportada e coletes salva-vidas em local de difícil acesso; c) decisão: julgar o acidente da navegação, previsto no art. 14, letra "a” da Lei n° 2.180/54, como decorrente da imprudência do representado, condenando-o à pena de multa de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) e custas. Oficiar à DPC quanto à inexistência do seguro obrigatório, descumprindo o previsto na Lei n° 8.374. P.C.R Rio de Janeiro, RJ, em 23 de outubro de 1997. M ARCELO DAVID GONÇALVES, Juiz-Relator - MARIO AUGUSTO DE CAMARGO OZÓRIO, Vice-Almirante (RRm), Juiz-Presidente.

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