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PRÁTICAS DE DIVULGAÇÃO DOS ATIVOS BIOLÓGICOS PELAS COMPANHIAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA

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PRÁTICAS DE DIVULGAÇÃO DOS ATIVOS BIOLÓGICOS PELAS COMPANHIAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA

DISCLOSURE PRACTICES OF BIOLOGICAL ASSETS BY COMPANIES LISTED IN BM&FBOVESPA

Viviane Theiss1 Mara Jaqueline Santore Utzig2 Patrícia Siqueira Varela3 Ilse Maria Beuren4

Resumo

A convergência das normas internacionais de contabilidade vem exigindo maiores níveis de informação e divulgação, entre elas, a forma de reconhecimento e mensuração de ativos, como é o caso dos ativos biológicos, que com o CPC 29 passaram a ter tratamento diferenciado dos demais ativos das empresas. Este estudo objetiva identificar o cumprimento das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação dos ativos biológicos pelas empresas listadas na BM&FBovespa. Estudo descritivo foi realizado por meio de pesquisa documental e abordagem quantitativa. Os dados foram coletados nas demonstrações contábeis das empresas que apresentaram saldo nas contas de ativos biológicos no ano de 2010, compreendendo um total de 21 empresas de diferentes segmentos. Os resultados da pesquisa mostram que o índice de disclosure dos itens previstos no CPC 29 foi mais proeminente no Bloco I – Requisitos gerais de divulgação. No mapa fatorial verificou-se concentração das empresas em determinadas características de cada bloco analisado de itens de divulgação. Conclui-se que as empresas listadas na BM&FBovespa, que apresentaram no ano de 2010 saldo nas contas de ativos biológicos, de modo geral cumpriram a maioria das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação dos ativos biológicos.

Palavras-chave: Divulgação. CPC 29. Reconhecimento. Mensuração. Ativos biológicos. Abstract

The international accounting standards convergence has been requiring higher levels of information and disclosure, including a mean of recognition and measurement of assets, as is the case of biological assets, which with CPC 29 came to have a different treatment from other company assets. The goal of this study is to identify the compliance to the CPC 29 guidance regarding the biological assets disclosure practices done by companies listed in

1 Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Endereço: Rua Antônio da

Veiga, 140 – Sala D 202 - Bairro Victor Konder, CEP 89012-900 – Blumenau/SC – Brasil, E-mail: viviane_theiss@hotmail.com, Fone: (47) 3321-0565

2 Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau – FURB. Endereço: Rua Antônio da

Veiga, 140 – Sala D 202 - Bairro Victor Konder, CEP 89012-900 – Blumenau/SC – Brasil, E-mail: jaqueutzig@hotmail.com, Fone: (47) 3321-0565

3 Doutora em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP. Professora da Universidade Federal de São Paulo –

UNIFESP, Endereço: Rua Angélica, 100 - Jardim das Flores, CEP 06110-295 – Osasco/SP – Brasil, E-mail: psvarela@usp.br, Fone: (11) 3654-0768

4 Doutora em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP. Professora do Programa de Pós-Graduação em

Ciências Contábeis da Universidade Federal do Paraná – UFPR. Endereço: Av. Prefeito Lothário Meissner, 632 - Campus III - Jardim Botânico. CEP: 80210-070 – Curitiba/PR – Brasil. E-mail: ilse.beuren@gmail.com,

Telefone: (41) 3360-4398

Artigo editado por Luiz Carlos Marques dos Anjos. Recebido em 03/01/2014. Avaliado e revisões requeridas em 10/02/2014. Reformulado em 09/03/2014. Recomendado para publicação em 30/04/2014.

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BM&FBovespa. A descriptive study was conducted through desk research and quantitative approach. The data were collected in the financial statements of companies that had positive balance in the biological assets accounts in the year 2010, comprising a total of 21 companies in different segments. The survey results show that the rate of disclosure of the items set out in CPC 29 was more prominent in Block I - General requirements for disclosure. On the factor map there is a concentration of companies in certain characteristics of each analyzed block of items disclosed. It was concluded that the companies listed in BM&FBovespa, which in 2010 had positive balances in the biological assets accounts, generally met most of the guidelines of the CPC 29 with respect to the disclosure practices of biological assets.

Keywords: Disclosure. CPC 29. Recognition. Measurement. Biological assets. 1 INTRODUÇÃO

A expansão dos mercados e a globalização permitiram a atuação de empresas em vários países, com práticas contábeis diversas estabelecidas. Com isso, proprietários, gestores, investidores e analistas financeiros passaram a exigir informações mais transparentes, confiáveis e comparáveis nos seus processos de tomada de decisões, impondo às empresas a elaboração de demonstrações contábeis com base em normas e critérios uniformes e homogêneos (ANTUNES, 2007; CRUZ; SILVA; RODRIGUES, 2009).

Frente a este cenário, organismos internacionais, como o International Accouting Standards Board (IASB), responsável pela emissão das normas internacionais de contabilidade, a International Federation of Accountants (IFAC), a International Organizational of Securities Commission (IOSCO) e as Nações Unidas, organismos regionais, como a União Européia, além de organismos locais, como o Financial Accounting Standards Board (FASB), vêm incentivando a adoção das normais internacionais de contabilidade (BARBOSA NETO; DIAS; PINHEIRO, 2009).

Antunes (2007) comenta que o IASB publicou uma série de pronunciamentos e normas que passaram a ser considerados como padrões contábeis internacionais, denominados de International Financial Reporting Standards (IFRS), traduzidos no Brasil como Normas Internacionais de Relatório Financeiro. O IASB adotou como base as normas anteriormente emitidas pelo International Accounting Standards Committee (IASC), órgão sucessor do IASB, conhecidas como International Accounting Standards (IAS).

Entre as normas emitidas, destaca-se neste estudo a International Accounting Standards 41 (IAS 41) – Agriculture, que foi editada em dezembro de 2000 pelo International Accounting Standards Committee (IASC). No Brasil, a convergência ocorreu por meio do Pronunciamento Técnico CPC 29 - Ativo Biológico e Produto Agrícola. O CPC 29 tem como principal objetivo estabelecer o tratamento contábil e as respectivas divulgações relacionadas aos ativos biológicos e aos produtos agrícolas.

Fioravante et al. (2010, p. 70) afirmam que “a natureza claramente distinta dos ativos biológicos e produtos agrícolas em relação aos outros ativos de uma empresa causava um natural conflito e incerteza”. A principal diferença apontada pelos autores é que estes outros ativos não passam por transformações biológicas, em decorrência, não se pode dar o mesmo tratamento contábil às atividades industriais e às atividades agrícolas.

No Brasil, segundo Fioravante et al. (2010), os ativos biológicos sempre foram contabilizados com base no custo histórico, contudo, os aspectos evolutivos e a volatilidade dos preços de mercado provocam alterações nos preços destes ativos, de tal forma que o custo histórico passa a ser inapropriado, não refletindo o valor real atual destes ativos.

No cenário mundial, o Brasil é reconhecido por seu imenso território e por inúmeros produtos do agronegócio de origem agrícola, zootécnica ou agroindustrial, que contribuem fortemente com o volume de exportações brasileiras. O agronegócio brasileiro movimenta e

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contribui com parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB), responde por geração de trabalho e renda, bem como mantém, no meio rural, inúmeras famílias que vivem de renda do agronegócio (KRUGER; MAZZIONI; BOETTCHER, 2009).

Considerada a importância das atividades agrícolas no Brasil, acredita-se que a adoção do CPC 29 contribuirá para melhor determinar os critérios de reconhecimento, mensuração e evidenciação dos ativos biológicos durante sua fase evolutiva. Fioravante et al. (2010) destacam que a adoção do valor justo como critério de avaliação de ativos biológicos terá impacto significativo nas demonstrações financeiras. Com o intuito de justificar essa posição, os autores fazem uma analogia a pesquisa realizada pela Ernst & Young, ao final do exercício de 2008, sobre as demonstrações financeiras de empresas europeias produtoras de papel e celulose, em que foram obtidas evidências de que a aplicação da IAS 41 aumentou o patrimônio líquido destas empresas em quase 80%.

Contudo, Fioravante et al. (2010) alertam que um dos desafios das empresas que possuem ativos biológicos será a volatilidade inerente à mensuração destes ativos a valor justo, principalmente no que se refere à divulgação trimestral dos resultados. Os profissionais da área contábil deverão estar preparados para explicar aos investidores as oscilações do valor justo, em especial dos ativos biológicos que demandam mais tempo de maturação. Em vista do desafio de cumprir o estabelecido no CPC 29, uma das lacunas de pesquisa percebida diz respeito a evidenciação relativa a esses ativos biológicos pelas empresas brasileiras.

Diante do exposto, este estudo busca responder a seguinte questão problema: qual o grau de cumprimento das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação dos ativos biológicos pelas empresas listadas na BM&FBovespa? Neste sentido, este estudo tem por objetivo identificar o cumprimento das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação dos ativos biológicos pelas empresas listadas na BM&FBovespa.

A relevância desta pesquisa está em oferecer subsídios para o avanço de estudos relacionados ao reconhecimento, mensuração e evidenciação dos ativos biológicos. Pesquisas teóricas e empíricas podem contribuir para desvendar nuances conceituais e operacionais deste instrumento normativo da contabilidade e, assim, contribuir para a consolidação conceitual e procedimental do reconhecimento, mensuração e evidenciação desses ativos. Embora a obrigatoriedade desta norma não contemple todas as atividades agrícolas, a pesquisa pode contribuir para esclarecer sobre os conceitos e práticas de mensuração e divulgação adotados pelas empresas para os seus ativos biológicos.

Este estudo está organizado em seções, iniciando com esta introdução. Em seguida, consta o referencial teórico, que aborda sobre aspectos de disclosure contábil, reconhecimento e mensuração dos ativos biológicos e estudos anteriores relacionados com o tema deste estudo. Na quarta seção são expostos os procedimentos metodológicos da pesquisa. Na sequência, faz-se a descrição e análise dos resultados da pesquisa e apresentam-se as conclusões do estudo e recomendações para futuras pesquisas sobre o tema investigado. 2 EVIDENCIAÇÃO DOS ATIVOS BIOLÓGICOS

Estudos científicos têm enfatizado a importância do disclosure de informações contábeis, que envolvem aspectos econômicos, financeiros, sociais, ambientais, de produtividade e de gestão para os usuários das demonstrações contábeis, que possibilitam conhecer as ações passadas, acompanhar a evolução patrimonial e realizar inferências em relação ao futuro da entidade (NIYAMA; GOMES, 1996; PONTE; OLIVEIRA; CAVALCANTE, 2007).

De acordo com Hendriksen e Van Breda (1999), é interessante saber a quem deve ser divulgada a informação, qual é a finalidade da informação e quanta informação deve ser divulgada. Em um sentido mais amplo, os autores afirmam que a palavra divulgação simplesmente quer dizer veiculação de informação que, para os contadores, trata-se de

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informação financeira a respeito de uma empresa dentro de um relatório financeiro ou geralmente o relatório anual.

Com a divulgação das informações contábeis, segundo Ponte, Oliveira e Cavalcante (2007), há uma tendência de reduzir a assimetria informacional e os conflitos de agência, uma vez que melhora a transparência, a qualidade e a comparabilidade das informações contábeis. Em relação à evidenciação (disclosure) contábil, Iudícibus (2004) comenta que o disclosure contábil está ligado aos objetivos da contabilidade, por garantir informações diferenciadas para os vários tipos de usuários.

A divulgação oportuna de informação, conforme Calixto, Barbosa e Lima (2007), tende a impedir a ocorrência de surpresas que poderiam alterar a percepção a respeito do futuro de uma empresa. No entanto, Hendriksen e Van Breda (1999) ressaltam que as divulgações em relatórios financeiros devem ser compreensíveis com os que possuem conhecimentos sobre os negócios e entenda a informação, da mesma forma que essa informação deve ser relevante, oportuna, compreensível, precisa, neutra e fiel.

Neste contexto, a divulgação dos ativos biológicos, devido as suas características diferenciadas em relação aos demais ativos da empresa, deve ser apresentada de forma detalhada por grupo de ativos biológicos. Essa divulgação pode ser realizada tanto de forma dissertativa (qualitativa) como quantitativa, conforme determina a IAS 41 e o CPC 29. A norma estabelece ainda que a entidade deve apresentar:

a) a conciliação das mudanças no valor contábil de ativos biológicos entre o início e o fim do período corrente;

b) evidenciar o método e as premissas significativas aplicadas na determinação do valor justo de cada grupo de ativo biológico;

c) divulgar o total da mudança no valor justo menos a despesa de venda, incluído no resultado, referente às mudanças físicas e de preços no mercado;

d) informar se a entidade apresenta a natureza das subvenções governamentais reconhecida nas demonstrações contábeis para com seus ativos biológicos; e e) nos casos em que o valor justo não puder ser mensurado de forma confiável, deve

ser divulgado o critério que está sendo utilizado e o motivo pelo qual o valor justo não é aplicável.

Fioravante et al. (2010) advertem que em empresas brasileiras as divulgações são carentes de informações, devido ao fato de não haver norma específica sobre as práticas contábeis para ativos biológicos no Brasil. As divulgações mais frequentes são: a prática contábil aplicada ao ativo biológico e a composição do valor (geralmente dentro do ativo imobilizado); divulgações não financeiras, evidenciadas no relatório da administração. Vale destacar que a aderência ao CPC 29 para o período do estudo ainda era pouco difundida entre as organizações. Este Pronunciamento Contábil exige a apresentação da importância do ativo biológico, sua definição, a ocorrência do reconhecimento e a mensuração desses ativos.

Os ativos biológicos são ativos que possuem vida, caracterizados como, por exemplo, bovinos, suínos, carneiros, gado de leite, arbustos, videiras, árvores frutíferas, entre outros. Brito (2010) define os ativos biológicos como aqueles dotados de vida, que se modificam com o passar do tempo, pelo aspecto evolutivo, como é o caso de plantações e criações. Além disso, estão sujeitos a altas flutuações nos preços de mercado pelas influências econômicas, climáticas, doenças, pragas, entre outros.

De acordo com Fioravante et al. (2010), qualquer que seja a atividade, os ativos biológicos apresentam características comuns, sendo elas:

a) capacidade de mudança, particularidade encontrada nos animais e plantas;

b) gerenciamento de mudança, que facilita a transformação biológica, que promove condições necessárias para que o processo ocorra (nível de nutrientes, umidade, temperatura, fertilidade, luz); e

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c) mensuração da mudança, que se refere à mudança da qualidade e quantidade causada pela transformação biológica ou colheita.

A transformação biológica, conforme a IAS 41, compreende “o processo de crescimento, degeneração, produção e procriação que causam mudanças qualitativas e quantitativas no ativo biológico”. Fioravante et al. (2010) destacam que o ativo biológico é algo que ainda está em transformação biológica, ou seja, que ainda não está completamente pronto para a colheita ou transformação. Os autores citam como exemplos, as árvores recém-plantadas ou as que possuem três anos de vida, bezerras que ainda se tornarão vacas leiteiras ou até o gado para o corte.

Em decorrência da natureza distinta deste tipo de ativo em comparação aos outros ativos da empresa, houve a necessidade de determinar regras específicas para o tratamento contábil dos ativos biológicos e produtos agrícolas. Neste sentido, o IASC introduziu no cenário internacional da contabilidade padrões e normas específicas aplicáveis à atividade agrícola. A IAS 41 é a norma internacional que trata do ativo biológico e o produto agrícola. No Brasil, este assunto é apresentado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis no CPC 29 – Ativo biológico e produto agrícola, obrigando o seu uso para as companhias abertas a partir do exercício de 2010.

O CPC 29, em seu item 10, estabelece os procedimentos que a entidade deve adotar para reconhecer um ativo biológico. O reconhecimento deve ocorrer quando e somente quando a entidade controlar o ativo como resultado de eventos passados, quando for provável que os benefícios econômicos futuros com o ativo fluirão para a entidade e o valor justo ou o custo do ativo puder ser mensurado com confiança.

No que se refere aos ativos biológicos, a principal alteração introduzida pela IAS 41 refere-se à mensuração pelo valor justo dos ativos biológicos e dos produtos agrícolas no momento da colheita, diminuídos os custos estimados para a venda. A norma prevê que os ativos biológicos sejam mensurados pelo valor justo em todo o processo de transformação biológica e o produto agrícola somente no momento da colheita, que servirá por base para o custo dos inventários (RECH et al., 2006).

A literatura contábil, segundo Martins (2006), de maneira geral aborda como opção de avaliação e mensuração de ativos, valores de entrada e valores de saída. Para Hendriksen e Van Breda (1999), os valores de entrada representam os custos de aquisição de ativos e os valores de saída tratam dos valores de vendas, ambos podendo ser retirados de mercados passados, correntes ou futuros.

Diante das opções de avaliação de ativos, Domingues (2009) observa que geralmente não se utiliza apenas um único critério de mensuração de ativo, tendo-se a opção pelo custo histórico, valor justo, entre outros, pois, a uniformidade de critérios poderá distorcer o real valor do ativo. Hendriksen e Van Breda (1999) ressaltam que a utilização de uma única opção de avaliação não seria capaz de atender, igualmente bem, a todas as finalidades do ativo.

De acordo com Brito (2010), o valor justo tem sido apresentado como medida de avaliação de ativos específicos, como os biológicos, dotados de vida por estarem sujeitos a transformações biológicas, não sendo o custo histórico capaz de refletir fielmente todos os ganhos ou perdas de valor. Fioravante et al. (2010) mencionam que os ativos biológicos devem ser mensurados no seu reconhecimento inicial e pela data do balanço com o seu valor justo menos as despesas necessárias para a venda. Em outras palavras, os autores afirmam que os ativos biológicos são mensurados a valor justo no momento do reconhecimento inicial e ao final dos períodos que são reportados.

Para que seja determinado o valor justo de um ativo biológico, inicialmente é necessário visualizar o mercado ativo. Fioravante et al. (2010), ao citarem a IAS 41, informam que o valor de mercado ativo é aquele em que um ativo pode ser negociado, um passivo liquidado entre partes interessadas, independentes entre si e conhecedoras do negócio,

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sem intervenções que pressionem a liquidação.

Desta forma, a partir da aprovação da IAS 41 e a elaboração das demonstrações contábeis com o reconhecimento dos ativos biológicos ao seu justo valor, é possível demonstrar de forma justa e verdadeira a variação patrimonial que ocorre durante determinado período, ainda que não ocorra a realização financeira. Isso torna a contabilidade ainda mais útil ao tomador de decisões (RECH et al., 2006).

A avaliação a valor justo poderá impactar significativamente, de um período para o outro, o patrimônio líquido das entidades, devido às oscilações constantes do valor dos ativos biológicos, tanto pelo mercado quanto por condições climáticas. Além do impacto do valor justo, Fioravante et al. (2010) destacam que podem ocorrer diferentes maneiras de análises das demonstrações financeiras pelos seus usuários, assim como diferentes formas de estrutura de controles internos das empresas. A ausência de profissionais qualificados também pode ter implicações na economia de aspectos tributários da entidade, além da aplicação da norma de forma restrita em certas atividades que envolvem os ativos biológicos.

Alguns cuidados que os profissionais da área contábil devem ter em relação aos ativos biológicos são destacados por Wanderley, Silva e Leal (2012), como segue: saber quando reconhecer e mensurar o valor justo, reconhecer quando há ganhos e perdas provenientes da mudança no valor justo, descrever detalhadamente os grupos de ativos biológicos, evidenciar os métodos e premissas significativas aplicadas na determinação do valor justo, critérios utilizados para divulgações, e a forma como devem apresentar as conciliações da empresa.

Fioravante et al. (2010, p. 84) advertem que “as empresas deverão administrar de forma muito cuidadosa as expectativas de seus acionistas, quanto à distribuição de dividendos”. Os autores salientam que isso é especialmente importante quando a empresa possui ativos biológicos com maturação de longo tempo. “Nesses casos, a entrada de caixa se dará em anos subsequentes, sendo que, dependendo do valor justo do ativo biológico, a receita estará sendo reconhecida em períodos anteriores a entrada desse fluxo de caixa”. Portanto, o cuidado deve ser no sentido de não pagar dividendos sobre resultados não realizados.

Apesar das controvérsias e críticas realizadas sobre a utilização do valor justo devido à sua subjetividade, Rech et al. (2006) observam que a IAS 41vêm suprir lacunas existentes na área contábil, principalmente ao permitir que as demonstrações contábeis possam ser comparáveis entre entidades do mesmo setor, bem como de aumentar a sua utilidade frente as necessidades dos usuários. De forma análoga, essa observação se aplica no Brasil ao CPC 29. Para Barros et al. (2012), a pesquisa sobre ativos biológicos fortalece novas sistemáticas de precificação dos ativos e impulsiona o mercado do agronegócio, fortalecer e testar a convergência das Normas Internacionais de Contabilidade e fomenta a literatura dos ativos biológicos.

3 PESQUISAS ANTERIORES SOBRE ATIVOS BIOLÓGICOS

Pesquisas anteriores relacionadas ao tema pesquisado podem contribuir para esclarecer pontos específicos sobre o reconhecimento, mensuração e evidenciação de ativos biológicos, bem como servir de base para esta pesquisa. Rech et al. (2006) analisaram a aplicação da norma internacional IAS 41 às empresas do setor de pecuária de corte, limitando-se à análise dos aspectos relacionados com o valor justo dos ativos biológicos. Os resultados revelaram que o critério de valor justo é aplicável ao setor, tendo em vista o grande volume de compradores e vendedores dispostos à comercialização a qualquer momento.

Em outro estudo, Rech et al. (2007) objetivaram analisar os efeitos da utilização do valor justo para reconhecimento e mensuração dos ativos biológicos como origem de ativos ou passivos de impostos diferidos na atividade pecuária, utilizando como campo de estudo empresas rurais do Estado do Mato Grosso. Os resultados da pesquisa indicaram que no valor dos passivos decorrentes de impostos diferidos e seu reconhecimento aumenta a transparência nas demonstrações financeiras, por apresentar de maneira ampla os seus efeitos sobre o

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No estudo de Kruger, Mazzioni e Boettcher. (2009) enfatizou-se a contabilidade rural e como ela pode contribuir para o planejamento e controle das atividades desenvolvidas no meio rural. O objetivo foi demonstrar as principais características dos produtores rurais do município de Águas de Chapecó (SC) e como eles se utilizam da contabilidade. Os resultados apontam para a necessidade de maiores controles contábeis, desde a separação dos gastos pessoais, bem como, a falta de conhecimento a respeito dos resultados de cada atividade desenvolvida.

Brito (2010) estudou a subjetividade encontrada na aplicação do valor justo para mensuração dos ativos biológicos na atividade de pecuária bovina no Brasil, considerando os aspectos e as regras determinadas pelo CPC 29. Os resultados apontaram que é possível aplicar o valor justo na atividade agropecuária. Porém, é ressaltado que em algumas fases da vida do animal, principalmente quando não existem valores de mercado disponíveis, ocorre uma preponderada subjetividade.

Plais (2010) avaliou as alterações ocorridas na nova metodologia de contabilização dos ativos biológicos e dos derivativos (futuros) e verificou se estas alterações têm efeitos, de maneira geral, sobre os principais indicadores utilizados nas análises econômico-financeiras, feitas por instituições financeiras para fins de financiamento de empresas do setor de commodities agrícolas. A autora observou que existe uma tentativa de se traduzir melhor a realidade econômico-financeira da empresa, uma vez que existem regras mais claras sobre o que a empresa é obrigada a contabilizar, gerando resultados diferentes daqueles obtidos por meio da metodologia anterior. As análises econômico-financeiras com base nos indicadores da nova metodologia poderão trazer novas informações, que serão levadas em consideração para a concessão de financiamentos para empresas do segmento de commodities agrícolas.

Barros et al. (2012) analisaram o impacto do valor justo na mensuração dos ativos biológicos das empresas listadas na BM&FBovespa, nos exercícios de 2008 a 2010, por meio da verificação de notas explicativas dessas empresas. Concluíram que a aplicação do CPC 29 apresenta impacto na evidenciação contábil, porém as informações sobre os ativos biológicos disponibilizadas nas notas explicativas em geral são superficiais e insuficientes para a compreensão da real situação da empresa, que compromete a tomada de decisão dos usuários dessas informações.

Wanderley, Silva e Leal (2012) avaliaram o grau de observância das disposições contidas no Pronunciamento Técnico CPC 29, em relação aos ativos biológicos e produtos agrícolas de três grandes empresas do agronegócio brasileiro na área de alimentos e atividades frigoríficas: JBS, Brasil Foods e Marfrig Group. Observaram que as empresas Marfrig e JBS optaram pela evidenciação parcial exigida pelo CPC 29. A empresa BRF avaliou em 2010 os possíveis impactos dos novos pronunciamentos emitidos em 2009 pelo CPC. Concluíram que é perceptível a necessidade de uma postura mais atuante por parte das empresas, quanto aos aspectos exigidos pelo CPC 29, referente ao tratamento contábil e divulgações.

Rech et al. (2007) analisaram modelos para estimar as taxas de desconto aplicáveis na mensuração dos ativos biológicos a valor justo. Os resultados do estudo demonstraram que as taxas obtidas com base nas teorias de precificação de ativos possuem maior capacidade de refletir as condições econômicas de risco e retorno esperado pelos participantes do mercado, premissa fundamental do valor do dinheiro no tempo, além de refletir o custo de oportunidade, caso seja possível elaborar uma carteira com ativos concorrentes.

4 MÉTODO E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

O delineamento desta pesquisa caracteriza-se como sendo um estudo descritivo, realizado por meio de pesquisa documental, com abordagem quantitativa. A pesquisa descritiva, de acordo com Gil (2002, p. 42), “[...] tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de

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relações entre variáveis”. Neste estudo, busca-se descrever a conformidade do disclosure com as orientações do CPC 29 das empresas que apresentaram saldo nas contas de ativos biológicos nas demonstrações contábeis de 2010.

A pesquisa documental se materializou com a investigação dos enunciados das notas explicativas das empresas pesquisadas’. De acordo com Raupp e Beuren (2004, p. 90), “[...] utiliza-se com certa frequência a pesquisa documental, sobretudo quando se deseja analisar o comportamento de determinado setor da economia, como os aspetos relacionados à situação patrimonial, econômica e financeira”.

Em relação à abordagem do problema, trata-se de uma pesquisa quantitativa. Segundo Richardson (1989, p. 30), abordagem quantitativa “[...] caracteriza-se pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento dessas através de técnicas estatísticas”.

A população desta pesquisa compreendeu as 380 empresas, excluídas as financeiras, listadas na BM&FBovespa. Para a definição da amostra, buscou-se na Economática® empresas que apresentavam saldo nas contas de ativos biológicos de curto ou longo prazo no balanço patrimonial encerrado em 31 de dezembro de 2010. Optou-se por analisar as demonstrações contábeis de 2010 em virtude da obrigatoriedade da adoção dos CPCs ser a partir daquele ano. No Quadro 1 apresenta-se a amostra das 21 empresas por segmento econômico.

Quadro 1 - Amostra da pesquisa por segmento econômico

Empresas Segmento

Ecodiesel Exploração e/ou Refino

Cia Ferro Ligas da Bahia Ferbasa Siderurgia

Duratex S.A Madeira

Celulose Irani Papel e Celulose

Fibria Celulose S.A Papel e Celulose

Klabin S.A Papel e Celulose

Suzano Holding S.A Papel e Celulose

Suzano Papel S.A Papel e Celulose

Randon S.A Implementos e Participações Material Rodoviário

WLM Industria e Comércio S.A Material de Transporte

Trevisa Investimentos S.A Transporte Hidroviário

Rasip Agro Pastoril S.A Agricultura

SLC Agrícola S.A Agricultura

JBS S.A Carnes e Derivados

Marfrig Alimentos S.A Carnes e Derivados

Minerva S.A Carnes e Derivados

Fabrica de tecidos Renaux Fios e Tecidos

Karsten S.A Fios e Tecidos

Cia estatal de energia Elétrica CEEE-D Energia Elétrica

ITAÚSA – Investimentos Itaú S.A Bancos

Battistella Adem. Participações S.A Holdings Diversificadas

Fonte: Elaboração própria.

Para a análise da evidenciação foi elaborado um construto, conforme Quadro 2, com o intuito de verificar a conformidade do disclosure com as orientações do CPC 29. Para cada um dos itens, foi atribuído valor 1 (um) se a empresa apresentava a informação, 0 (zero) para o caso de não apresentar a divulgação e nenhuma pontuação para as situações em que a empresa não era obrigada a evidenciar. O índice de disclosure obrigatório dos ativos biológicos obteve-se ao calcular a proporção de informação apresentada pelas empresas em relação ao total considerado obrigatório conforme o CPC 29.

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Quadro 2 – Constructo da pesquisa

BLOCO I – Dados gerais de divulgação de ativos biológicos Referencias Item CPC

1

Evidenciar ganho ou a perda do período corrente em relação ao valor inicial

do ativo biológico. CPC 29 Item 40

2

Descrever cada grupo de ativos biológicos, distinguindo entre consumíveis e de produção ou entre maduros e imaturos, informando a base para realizar tais distinções. CPC 29, Fioravante et al. (2010) Item 41, 42 e 43

3 Informar o total de ativos biológicos cuja titularidade legal seja restrita. CPC 29 Item 49 (a)

4

Informar o montante de ativos biológicos dados como garantia de

exigibilidades. CPC 29 Item 49 (a)

5

Divulgar o montante de compromissos relacionados com o desenvolvimento

ou aquisição de ativos biológicos. CPC 29 Item 49 (b)

6

Explicitar as estratégias de administração de riscos financeiros relacionadas

com a atividade agrícola. CPC 29 Item 49 (c)

7

Descrever a natureza e o total da receita ou despesas relacionadas à

exposição aos riscos climáticos, de doenças e outros riscos naturais. CPC 29 Item 53

BLOCO II - Caso não tenha sido realizada a descrição detalhada de cada grupo do ativo biológico, as demonstrações contábeis devem divulgar

8 A natureza das atividades envolvendo cada grupo de ativos biológicos. CPC 29 Item 46 (a)

9

As mensurações ou estimativas não-financeiras de quantidades físicas, de cada grupo de ativos biológicos no final do período.

CPC 29, Fioravante et

al. (2010) Item 46 (b)

BLOCO III - Apresentar a conciliação das mudanças no valor contábil de ativos biológicos entre o início e o fim do período corrente

10 Aumento devido às compras. CPC 29 Item 50 (d)

11

Reduções atribuíveis às vendas e aos ativos biológicos classificados como

mantidos para venda. CPC 29 Item 50 (c)

12 Reduções devidas às colheitas. CPC 29 Item 50 (d)

13 Aumento resultante de combinação de negócios. CPC 29 Item 50 (e)

14

Diferenças cambiais líquidas decorrentes de conversão das demonstrações

contábeis para outra moeda. CPC 29 Item 50 (f)

BLOCO IV - Do valor justo

15

Evidenciar o método aplicado na determinação do valor justo de cada grupo de produto agrícola no momento da colheita e de cada grupo de ativos

biológicos. CPC 29 Item 47

16

Divulgar o total da mudança no valor justo menos a despesa de venda,

incluído no resultado, referente às mudanças físicas e de preços no mercado. CPC 29 Item 51

BLOCO V - Divulgações adicionais cujo valor justo não pode ser mensurado de forma confiável

17

Se a entidade mensura ativos biológicos pelo custo, menos qualquer depreciação e perda no valor recuperável acumuladas, informar que ativos

biológicos são esses. CPC 29 Item 54 (a)

18

Divulgar uma explicação da razão pela qual o valor justo não pode ser

mensurado de forma confiável. CPC 29 Item 55 (b)

BLOCO VI - Subvenções governamentais

19

Informar se a entidade apresenta a natureza das subvenções governamentais

reconhecida nas demonstrações contábeis para com seus ativos biológicos. CPC 29 Item 57 (a)

20

Descrever as reduções significativas esperadas no nível de subvenções

governamentais. CPC 29 Item 57 (c)

Fonte: Elaborado com base no CPC 29 (2009) e Fioravante et al. (2010).

Após a análise das empresas por bloco de disclosure, efetuou-se a análise das componentes principais. Para Mingoti (2005, p. 59), esta tem o “[...] objetivo principal de explicar a estrutura de variância e covariância de um vetor aleatório, composto de p-variáveis aleatório, através da construção de combinações lineares das variáveis originais. Estas combinações lineares são chamadas de componentes principais”.

(10)

R eCon t: R eg is tro Con táb il Uf a l M a ce /AL , Vo l. 5 , 3 , p.4 1 -58 , set /dez .

informações mais evidenciadas sobre ativos biológicos nas empresas pesquisadas, qual é a combinação ou padrões de informações divulgadas de acordo com as orientações do CPC 29. Motivados pelos estudos de Brito (2010), Fioravante et al. (2010), Plais (2010), Barro et al. (2012), Wanderley, Silva e Leal (2012), que analisaram o reconhecimento, mensuração e divulgação desses ativos, e encontrar possibilidade de melhoria por parte do tratamento contábil e divulgações.

Pela ACP é possível realizar uma análise fatorial dos pressupostos evidenciados pelas empresas, conforme Mingoti (2005) e Fávero et al. (2009), o que permite utilizar a análise da rotação de fatores. Neste estudo, os pressupostos são: se as empresas divulgam dados gerais dos ativos biológicos (Bloco I); a natureza, mensuração ou estimativas não financeiras de cada grupo de ativos biológicos (Bloco II); se as empresas apresentam a conciliação das mudanças de valor contábil (Bloco III); se evidenciam o valor justo mensurado (Bloco IV); e divulgam alguma informação adicional (Bloco V).

Corrar, Paulo e Dias Filho (2007, p. 88) explicam que a rotação de fatores “[...] é possível, pois as cargas fatoriais podem ser representadas como pontos entre eixos [...]. Esses eixos podem ser girados sem alterar a distancia entre os pontos. Todavia, as coordenadas do ponto em rotação aos eixos são alteradas, ou seja, as cargas fatoriais [...] são alteradas”. Para gerar o mapa fatorial foi utilizado o software LHStat – Análise Estatística de Dados, versão 2.1, com a finalidade de representar no mapa cada bloco de disclosure

5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para verificar o cumprimento das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação de informações sobre ativos biológicos em empresas listadas na BM&FBOVESPA, e melhor analisar a evidenciação dos ativos biológicos, os itens de disclosure foram divididos em seis blocos, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Cumprimento das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação de informações

sobre ativos biológicos

Itens de divulgação de informações do CPC 29 sobre ativos biológicos Valores

1 0

BLOCO I – Dados gerais de divulgação de ativos biológicos Obs % Obs %

1

Evidenciar ganho ou a perda do período corrente em relação ao valor inicial

do ativo biológico. 20 95% 1 5%

2

Descrever cada grupo de ativos biológicos, distinguindo entre consumíveis e de produção ou entre maduros e imaturos informando a base para realizar tais distinções.

18 95% 3 14%

3 Informar o total de ativos biológicos cuja titularidade legal seja restrita. 8 100% - -

4

Informar o montante de ativos biológicos dados como garantia de

exigibilidades. 8 100% - -

5

Divulgar o montante de compromissos relacionados com o desenvolvimento

ou aquisição de ativos biológicos. 9 43% 12 57%

6

Explicitar as estratégias de administração de riscos financeiros relacionadas

com a atividade agrícola. 13 62% 8 38%

7

Descrever a natureza e o total da receita ou despesas relacionadas à

exposição aos riscos climáticos, de doenças e outros riscos naturais. 7 33% 14 67%

BLOCO II - Caso não tenha sido realizada a descrição detalhada de cada grupo do ativo biológico, as demonstrações contábeis devem divulgar

8 A natureza das atividades envolvendo cada grupo de ativos biológicos. 3 100% - -

9

As mensurações ou estimativas não-financeiras de quantidade físicas, de

cada grupo de ativos biológicos no final do período. 2 67% 1 33%

BLOCO III - Apresentar a conciliação das mudanças no valor contábil de ativos biológicos entre o início e o fim do período corrente

10 Aumento devido às compras. 5 24% 16 76%

11

Reduções atribuíveis às vendas e aos ativos biológicos classificados como

(11)

R eCon t: R eg is tro Con táb il Uf a l M a ce /AL , Vo l. 5 , 3 , p.4 1 -58 , set /dez .

12 Reduções devidas às colheitas. 13 62% 8 38%

13 Aumento resultante de combinação de negócios. 3 14% 18 86%

14

Diferenças cambiais líquidas decorrentes de conversão das demonstrações

contábeis para outra moeda. 4 19% 17 81%

BLOCO IV - Do valor justo

15

Evidenciar o método aplicado na determinação do valor justo de cada grupo de produto agrícola no momento da colheita e de cada grupo de ativos biológicos.

21 100% - -

16

Divulgar o total da mudança no valor justo menos a despesa de venda,

incluído no resultado, referente às mudanças físicas e de preços no mercado. 5 24% 16 76%

BLOCO V - Divulgações adicionais cujo valor justo não pode ser mensurado de forma confiável

17

Se a entidade mensura ativos biológicos pelo custo, menos qualquer depreciação e perda no valor recuperável acumuladas, informar que ativos biológicos são esses.

3 100% - -

18

Divulgar uma explicação da razão pela qual o valor justo não pode ser

mensurado de forma confiável. 3 100% - -

BLOCO VI - Subvenções governamentais

19

Informar se a entidade apresenta a natureza das subvenções governamentais

reconhecida nas demonstrações contábeis para com seus ativos biológicos. - - 21 100%

20

Descrever as reduções significativas esperadas no nível de subvenções

governamentais. - - - -

Fonte: Elaboração própria.

De maneira geral, a Tabela 1 demonstra que das 21 empresas que possuem ativos biológicos registrados em suas demonstrações contábeis, as exigências impostas pelo CPC 29 quanto à divulgação de informações sobre estes ativos vem sendo cumpridas parcialmente.

O Bloco I refere-se às exigências gerais de divulgação dos ativos biológicos, em que 95% das empresas evidenciaram nas notas explicativas os ganhos e/ou as perdas do período corrente em relação ao valor inicial do ativo biológico, descrevendo cada grupo de ativos separadamente. A única empresa que mantém em seu balanço patrimonial ativos biológicos, mas que não atende a estes dois requisitos de evidenciação é a Randon S.A Implementos e Participações, mencionando em notas explicativas apenas que possui reflorestamento.

A ausência da divulgação pode decorrer do fato de ser uma variação de ganho e perda ao valor inicial dos seus ativos biológicos, anterior a obrigatoriedade de divulgação estabelecida pelo CPC 29. Isso sugere que as informações anteriores ao pronunciamento não representavam a realidade da empresa, prejudicando os usuários das informações contábeis, até mesmo pode ter comprometido possíveis interesses de investimentos na empresa. Por outro lado, a evidenciação dos elementos do Bloco I exige mais controles contábeis, como já observado nos estudos de Kruger, Mazzioni e Boettcher (2009).

Quanto à descrição detalhada de cada grupo dos ativos biológicos, constatou-se que três empresas analisadas não divulgaram esta informação (Ecodiesel, Karsten S.A e Cia Estatal de Energia Elétrica CEEE-D). Contudo, atenderam a outra exigência destacada no Bloco II, no item 8, divulgando a natureza das atividades que envolvem cada grupo de ativo biológico. Wanderley, Silva e Leal (2012) descrevem que toda empresa que apresenta ativos biológicos deve fornecer uma descrição de cada item, sob a forma quantitativa ou dissertativa. Cabe destacar que a não divulgação dessas informações impede o usuário da informação contábil de acompanhar a evolução patrimonial da empresa, conforme Niyama e Gomes (1996) e Ponte, Oliveira e Cavalcante (2007).

De acordo com o CPC 29, empresas que possuem ativos biológicos com titularidade legal restrita devem divulgar nas demonstrações contábeis o valor total desses ativos, bem como o montante que foi dado como garantia de exigibilidades e os compromissos relacionados ao desenvolvimento ou aquisição de ativos biológicos. Das 21 empresas analisadas oito apresentaram ativos com esta característica, atendendo aos requisitos de

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R eCon t: R eg is tro Con táb il Uf a l M a ce /AL , Vo l. 5 , 3 , p.4 1 -58 , set /dez .

divulgação. Possivelmente as demais empresas não possuem ativos biológicos com essas características ou não aplicaram o que determinam o IAS 41 e do CPC 29.

Quanto às estratégias de administração de riscos financeiros relacionados à atividade agrícola, observa-se a sua evidenciação em 62% das empresas, destacando-se como principal estratégia na administração de riscos o seguro para cobertura de possíveis sinistros. As empresas Klabin S.A, Ferbasa e Fibria Celulose, em função da natureza de suas atividades e da distribuição das florestas em diversas áreas distintas, concluíram tecnicamente pela não contratação de seguros, desenvolvendo técnicas operacionais como estratégias. O ativo biológico mais presente nas empresas refere-se à florestas e reflorestamento.

Com relação à divulgação de receitas e despesas relacionadas à exposição aos riscos climáticos, de doenças e outros riscos naturais, apenas 33% das empresas adotaram este procedimento. Estes resultados não coadunam com o exposto por Rech et al. (2006), Rech et al. (2007), Antunes (2007) e Cruz (2009), sobre a importância da homogeneidade das demonstrações contábeis, com vistas à possibilitar sua comparabilidade, bem como a confiabilidade e oportunidade das informações.

O Bloco II refere-se à obrigatoriedade de informações caso a empresa não tenha divulgado descrição detalhada dos seus ativos biológicos. As empresas Ecodiesel, Karsten S.A e Cia Estatal de Energia Elétrica CEEE-D apresentaram esta informação por não terem atendido ao item 2 do Bloco I. Quanto à mensuração ou estimativas não-financeiras, das três empresas citadas que possuem a obrigatoriedade de divulgação, a Ecodiesel não apresentou tal informação. Essa postura não está alinhada com o disclosure desejado das empresas, conforme propõem Hendriksen e Van Breda (1999) e Iudícibus (2004), e com a divulgação não oportuna de informações conforme descrito por Calixto, Barbosa e Lima (2007). Fato também descrito por Barros et al. (2012), em que a divulgação dos ativos biológicos, pela inexistência de dados que contribuam para análise dos critérios utilizados no reconhecimento, mensuração e evidenciação de seus ativos biológicos, compromete a tomada de decisão dos usuários dessas informações.

No que concerne ao Bloco III - Informações relacionadas à conciliação das mudanças de valor contábil dos ativos biológicos, observou-se que: 62% das empresas pesquisadas apresentaram reduções nos ativos biológicos decorrentes de colheitas; 33% reduções decorrentes de venda; 14% tiveram aumento resultante de combinações de negócios (Ecodiesel, Duratex e Itausa); 19% divulgaram as diferenças cambiais decorrentes da conversão das demonstrações contábeis; e 24% divulgaram aumento dos ativos biológicos decorrente de compras efetuadas entre o início e fim do período corrente. Essas constataações revelam o cumprimento do estabelecido no IAS 41 e no CPC 29 pelas empresas pesquisadas. Esses proedimentos estão em consonância com o preconizado por Martins (2006), Domingues (2009) e Brito (2010), no que tange à avaliação de ativos, mesmo que representando reduções. Com relação ao Bloco IV - Critério de avaliação dos ativos biológicos, em 100% das empresas foi aplicado o valor justo com o uso da metodologia de mensuração do fluxo de caixa descontado, com base em premissas estabelecidas pelas próprias empresas. As empresas Suzano Holding e Suzano Papel adotaram o método do Income Approach, baseado no fluxo de caixa futuro descontado a valor presente. Mudanças no valor justo decorrentes de mudanças físicas e de preços de mercados dos ativos biológicos foram divulgadas por cinco empresas, representando 24% da amostra. Nos estudos de Rech et al. (2006), Rech et al. (2007), Fioravante et al. (2010), Brito (2010) e Plais (2010) já é destacado que os profissionais da área contábil estão preparados para reconhecer, mensurar e explicar as oscilações do valor justo de ativos biológicos.

Quanto aos critérios de mensuração e avaliação dos ativos biológicos, as evidências da pesquisa são de que as empresas SLC Agrícola, JBS, Karsten e Itausa. A SLC Agrícola utilizou-se do valor justo, para avaliar as plantações de café, mensurado pela projeção de

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R eCon t: R eg is tro Con táb il Uf a l M a ce /AL , Vo l. 5 , 3 , p.4 1 -58 , set /dez .

fluxo de caixa futuro; e para as plantações de soja, milho, algodão e trigo, utilizaram o custo histórico até a data da pré-colheita, quando então tais ativos foram valorizados pelo valor justo. Essa é uma forma de detalhar ainda mais os critérios de avaliação a valor justo de ativos biológicos. Plais (2010) argumenta que a existência de regras mais claras sobre o que a empresa deve contabilizar, tende a gerar resultados distintos daqueles obtidos por meio da metodologia anterior, possivelmente até resultados melhores

De acordo com o que dispõe o Bloco V - Divulgações adicionais cujo valor justo não pode ser mensurado de forma confiável, as empresas JBS, Karsten e Itausa divulgaram que não avaliaram parte de seus ativos biológicos a valor justo. A principal justificativa para tal foi a inexistência de mercado ativo, comprovando a constatação de Brito (2010) e Fioravante (2010) em suas pesquisas.

No que se refere ao Bloco VI - subvenções governamentais, constatou-se que não houve divulgação desse item nas notas explicativas de 2010 das empresas pesquisadas. É possível que as empresas pesquisadas não tenham subvenções governamentais, e por isso não se tem identificado qualquer evidenciação relacionada a esse item. Quando determinados procedimentos previstos nos CPCs não ocorrem nas empresas, elas não precisam divulgar isso, entendendo-se assim que as empresas, neste caso, não deixam de cumprir com o seu disclosure obrigatório, segundo Iudícibus (2004).

Para uma análise conjunta da evidenciação dos ativos biológicos nas empresas analisadas, efetuou-se a Análise das Componentes Principais (ACP), que por sua vez gerou um mapa fatorial. Fundamentado em Mingoti (2005) e Fávero et al. (2009), ao analisar as componentes de maior evidenciação, foi gerada a matriz das componentes principais, separada por blocos e eixos, que representam os fatores. Os dados coletados em todos os casos mostraram-se homogênios, portanto, adequados para a aplicação de análise fatorial (KMO > 0,5), e para o teste de esfericidade de Bartlett, com rejeição de hipótese nula.

Tabela 2 – Matriz das componentes principais

Matriz das componentes

Blocos

Eixos do mapa fatorial

Eixo 1 Eixo 2 Eixo 3

I -0,73523 -0,18939 -0,06103

II 0,806991 -0,27636 0,027699

III -0,41903 0,394609 0,752729

IV -0,15544 0,690048 -0,65683

V 0,584677 0,609558 0,24987

Fonte: Elaboração própria.

De acordo com a Tabela 3, os fatores encontrados na Matriz das componentes principais que apresentaram maior disclosure para o Eixo 1 foram os Blocos I e II. No CPC 29, o Bloco I compreende os itens 40 a 43, 49 e 53, com representatividade negativa em relação aos demais resultados. Para o Bloco II, que informa a respeito do item 46 do mesmo CPC, ocorre representatividade positiva, que trata especificamente sobre o que a empresa deve divulgar no período, seja em relação ao valor inicial do ativo biológico, seja decorrente da mudança no valor justo, menos as despesas de vendas dos ativos biológicos.

Para o Eixo 2, há destaque representativo e positivo para os Blocos IV e V, que no CPC 29 correspondem aos itens 47 e 51 para o primeiro bloco e itens 54 e 55 para o segundo bloco. Nesses itens propõe divulgação sobre o método aplicado na determinação do valor justo e divulgações adicionais para as empresas, cujo valor justo não pode ser mensurado de forma confiável. O preconizado vai ao encontro das informações qualitativas encontradas nas notas explicativas do ano de 2010 das empresas pesquisadas. Os resultados também corroboram os dos estudos de Rech et al. (2006), Rech et al. (2007), Fioravante et al. (2010) e Brito (2010).

(14)

R eCon t: R eg is tro Con táb il Uf a l M a ce /AL , Vo l. 5 , 3 , p.4 1 -58 , set /dez .

Finalmente, as características do Eixo 3 estão com realce positivo para o Bloco III, específico do item 50 do CPC 29, que aborda sobre a apresentação e conciliação das mudanças no valor contábil de ativos biológicos entre o início e o fim do período corrente. Este resultado está alinhado com as descrições de Hendriksen e Van Breda (1999) e Iudícibus (2004), em virtude das consequências das alterações de fatos contábeis previstos no CPC 29.

Cabe destacar que o Bloco VI foi excluído da análise, uma vez que nenhuma empresa apresentou situações de subvenções governamentais. Com os dados da Tabela 1 foi elaborado um mapa fatorial, conforme apresentado na Figura 1, para demonstrar a pontuação da prática de divulgação dos ativos biológicos, considerando os respectivos blocos de disclosure.

Figura 1 – Mapa fatorial da pontuação da prática de divulgação dos ativos biológicos

Fonte: Elaboração própria.

Legenda: Linha I = Bloco I – Geral. Linha II = Bloco II - Caso não tenha sido realizada a descrição detalhada de cada grupo do ativo biológico, as demonstrações contábeis devem divulgar. Linha III = Bloco III - Apresenta a conciliação das mudanças no valor contábil de ativos biológicos entre o início e o fim do período corrente. Linha IV = Bloco IV - Do valor justo. Linha V = Bloco V - Divulgações adicionais cujo valor justo não pode ser mensurado de forma confiável.

No mapa fatorial, apresentado na Figura 1, é possível verificar concentração entre as empresas por determinadas características de cada bloco em análise, com exceções, como Karsten, JBS, CEEE e Itausa, que apresentaram um maior índice de divulgação obrigatório em relação às outras empresas pesquisadas. Estas exceções decorrem principalmente pelo fato dessas empresas proporcionarem uma maior diversidade de ativos biológicos, devendo evidenciar as diversas solicitações definidas pelo CPC 29 e, consequentemente, apresentam um maior número de evidenciações preconizadas no referido Pronunciamento Contábil.

De modo geral, os resultados obtidos apontam que o Bloco I apresenta predominância entre as empresas, que apresenta uma relação inversamente proporcional ao Bloco V. Assim como o Bloco II que, da mesma forma, apresenta uma relação inversa para com os Blocos III e IV. Ou seja, quando as empresas divulgam dados gerais dos seus ativos biológicos, elas não apresentam informações adicionais desse ativos. Portanto, quando as empresas divulgam a natureza, mensuração ou estimativas não financeiras, de cada grupo de ativos biológicos, elas

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R eCon t: R eg is tro Con táb il Uf a l M a ce /AL , Vo l. 5 , 3 , p.4 1 -58 , set /dez .

não apresentam conciliações de mudanças de valor contábil ou o valor justo mensurado. Esses resultados indicam que, de modo geral, as orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação dos ativos biológicos são cumpridas pelas empresas listadas na BM&FBovespa. Tais resultados coadunam com os de Barros et al. (2012), Wanderley, Silva e Leal (2012), que analisaram o disclosure contábil, porém, encontraram dificuldades de verificar o tratamento contábil e divulgações sobre os ativos biológicos quanto aos aspectos exigidos pelo CPC 29. Os resultados também corroboram os estudos de Brito (2010), Fioravante et al. (2010), Plais (2010), Barros et al. (2012), Wanderley, Silva e Leal (2012), no que concerne à evidenciação correta dos ativos biológicos pelas empresas pesquisadas.

6 CONCLUSÃO

Este estudo objetivou identificar o cumprimento das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação dos ativos biológicos pelas empresas listadas na BM&FBovespa. Os dados foram coletados nas demonstrações contábeis das empresas que apresentaram no ano de 2010 saldo nas contas de ativos biológicos. Foram pesquisadas as notas explicativas e comparadas com o disposto no CPC 29, com o intuito de verificar a conformidade do disclosure dos ativos biológicos.

Das 21 empresas analisadas, após o cálculo do índice de disclosure dos itens de divulgação previstos no CPC 29, constatou-se que 95% delas atenderam parcialmente os requisitos de divulgação da norma, no que se refere ao Bloco I – requisitos gerais de divulgação. Isto pode ser justificado segundo Fioravente et al. (2010), que em alguns segmentos as informações requeridas pela norma são consideradas confidenciais pela administração da empresa, por isso não são divulgadas na totalidade, cabendo aos usuários, auditores e órgãos regulamentadores analisar se as divulgações efetuadas são suficientes ou não para o atendimento da norma.

No que se refere à avaliação dos ativos biológicos, todas as empresas pesquisadas adotaram o valor justo, utilizando como metodologia de mensuração o fluxo de caixa descontado. No entanto, as empresas JBS, Karsten e Itausa não avaliaram parte de seus ativos biológicos a valor justo, tendo como principal justificativa a inexistência de mercado ativo, o que coaduna com os resultados da pesquisa de Brito (2010) e Fioravante et al. (2010).

Sobre a divulgação das orientações do CPC 29 para os itens expostos no Bloco III, o qual se refere à conciliação das mudanças no valor contábil de ativos biológicos entre o início e o fim do período corrente, constatou-se o menor índice de divulgação nas notas explicativas das empresas analisadas. Ressalta-se relativamente aos itens do Bloco VI, que nenhuma das empresas pesquisadas apresentou situações de subvenções governamentais.

Por meio do mapa fatorial foi possível verificar uma concentração entre as empresas por determinadas características de cada bloco analisado de itens de divulgação. Foram exceções as empresas Karsten, JBS, CEEE e Itausa, que apresentaram um maior índice de divulgação em relação às outras empresas pesquisadas. Esta não concentração decorre do fato dessas empresas apresentarem uma diversidade maior de ativos biológicos, em que diversos itens de divulgação propostos no CPC 29 são evidenciados.

Conclui-se que as empresas listadas na BM&FBovespa, que apresentaram no ano de 2010 saldo nas contas de ativos biológicos, de modo geral, cumpriram com o padrão das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação dos ativos biológicos. Os resultados da pesquisa certamente oferecem subsídios para o avanço de estudos relacionados ao reconhecimento, mensuração e evidenciação dos ativos biológicos, na medida em que se mostram práticas contábeis relacionadas a essa categoria de ativos.

No entanto, os resultados estão limitados pelas estratégias adotadas no delineamento da pesquisa. Ressalta-se em especial o instrumento utilizado para identificar o cumprimento das orientações do CPC 29 no que tange às práticas de divulgação dos ativos biológicos.

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R eCon t: R eg is tro Con táb il Uf a l M a ce /AL , Vo l. 5 , 3 , p.4 1 -58 , set /dez .

Também por retratar evidências resultantes de um corte transversal, o que traduz resultados estáticos. Assim, recomenda-se uma análise temporal dos períodos posteriores à adoção da norma, no sentido de investigar se mudanças nas práticas contábeis podem ser constatadas durante o período de consolidação do CPC 29.

Um construto de pesquisa distinto do considerado neste estudo para analisar a aderência do disclosure pode ser elaborado à medida que a implementação da norma vai se consolidando nas empresas, o que pode implicar dissonâncias com os resultados do presente estudo. Recomenda-se ainda para estudos futuros, identificar o impacto da adoção do valor justo para a avaliação dos ativos biológicos no valor patrimonial das empresas, uma forma de analisar suas consequências devido às suas constantes oscilações no mercado.

REFERÊNCIAS

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Referências

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