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A LUTA PELO DIREITO A TERRA E O SURGIMENTO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA- MST

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Academic year: 2021

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Isabel Dias Fuentes2 Loiara Gund3 Natália Raquel Niedermayer4 Questões Agrária, Urbana e Ambiental

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo realizar uma abordagem histórica acerca dos conflitos agrários no Brasil, bem como, compreender o processo de luta pelo direito ao acesso a terra, enfatizando o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra- MST.

Primeiramente, se apresenta a origem dos conflitos fundiários, que encorparam o processo de industrialização que se intensificou a partir da década de 60, processo este que refletiu na agricultura brasileira através de mudanças estruturais nas relações de produção capitalista no campo, que se deram por meio da modernização no modo de produção agrícola, mudança que é chamada de Revolução Verde pelo uso intensivo de insumos agroquímicos de origem industrial, máquinas e tratores, tendo como aparato o Estado subsidiando a compra deste pacote tecnológico.

A luta pela Reforma Agrária e o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é o ponto central de discussão do segundo item, apresentando argumentos que dizem respeito ao direito de acesso a terra, preconizado nos artigos 184, 185 e 186 da Constituição Federal de 1988.

A Origem dos conflitos fundiários no Brasil

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Acadêmica do Curso de Serviço Social, Acadêmica do Núcleo Temático Questão Agrária e Serviço Social: as políticas públicas para a agricultura brasileira. oliveira.carina89@gmail.com, (45) 9961-9729.

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Acadêmica do curso de Serviço Social e bolsista do Programa de Educação Tutorial- PET Serviço Social, Acadêmica do Núcleo Temático Questão Agrária e Serviço Social: as políticas públicas para a agricultura brasileira.Pesquisadora do GEPPAS/ UNIOESTE. beldiasfuentes@hotmail.com, (45) 8406-7835.

3

Acadêmica do Curso de Serviço Social, Acadêmica do Núcleo Temático Questão Agrária e Serviço Social: as políticas públicas para a agricultura brasileira. loiaragund@hotmail.com, (45) 8421-1551

4 Acadêmica do curso de Serviço Social e bolsista do Programa de Educação Tutorial- PET Serviço Social,

Acadêmica do Núcleo Temático Questão Agrária e Serviço Social: as políticas públicas para a agricultura brasileira. Pesquisadora do GEPPAS/ UNIOESTE. natalia.niedermayer@gmail.com.

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Para compreender a origem dos conflitos fundiários e dos movimentos sociais que lutam pelo direito a terra no Brasil é necessário, inicialmente, entender o processo de industrialização a partir da II Guerra Mundial - 1945, bem como, compreender o desenvolvimento do capitalismo no campo, a partir da década de 1960, pois, é a partir da modernização da agricultura que se verifica uma intensificação dos conflitos fundiários no país.

A partir dos anos subsequentes à década de 1945 a indústria brasileira se dinamiza. As primeiras indústrias a se desenvolverem são a indústria alimentícia e a indústria têxtil, sendo ambas, dependentes da agricultura. As mudanças econômicas ocorridas após o término da Segunda Guerra Mundial fez desencadear a modernização da economia brasileira em uma totalidade. Essas transformações, segundo Graziano (1980), fizeram se refletir, principalmente: na má distribuição de terras, na vida dos pequenos agricultores, tornando-os cada vez mais dependentes do capital, mudança do padrão de exportação da produção e consumo, devastação do solo, destruição da propriedade, êxodo rural, entre outros.

Contudo, segundo Graziano (1980), é a partir da década de 1960 que inicia- se um novo momento para a agricultura brasileira. Trata- se do processo de desenvolvimento das relações capitalistas na agricultura, ou seja, o momento em que o capitalista potencializa seus anseios na agricultura/campo, incorporando um sistema econômico em direção á industrialização. Este processo é chamado de modernização da agricultura.

A modernização pode ser entendida através das transformações capitalista na base técnica da produção agrícola, que segundo Marx (1988) ocorre devido à pressão concorrencial que força os capitalistas a se manterem em constante inovação, ampliando assim as forças de produção. Contudo, como ressalta Graziano (1980), essa modernização só foi “possível graças à fundamental ação do Estado, subsidiando a aquisição de insumos, máquinas e equipamentos poupadores de mão-de-obra.” (GRAZIANO, 1980, p. 55)

A industrialização da agricultura é considerada como fator primordial para a expansão do capitalismo no campo

[...] É essa mesma expansão que transformou o colono em boia-fria, que agravou os conflitos entre grileiros e posseiros, fazendeiros e índios, e que concentrou ainda mais a propriedade da terra. (GRAZIANO, 1981, p.5)

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Graziano (1980) ressalta também que, as relações de produção capitalista no campo se desenvolvem industrializando a agricultura através de produtos da indústria como, por exemplo, adubos, máquinas, inseticida, etc. Contudo, a expansão dos negócios capitalista só se realiza através da substituição da agricultura tradicional por uma modernizada, tanto no fornecimento das máquinas quanto nas indústrias de transformação dos produtos agropecuários.

Portanto, para desenvolver esses produtos em grande escala, foi utilizado o programa denominado de Revolução Verde, que tinha como objetivo o aumento da produção e da produtividade agrícola, através do desenvolvimento de pesquisas em sementes, fertilização do solo e utilização de máquinas no campo, realizando-se através do desenvolvimento de sementes adequadas para tipos específicos de solos e climas, adaptação do solo para o plantio e desenvolvimento de máquinas. O capitalismo adapta a natureza, conforme as suas necessidades. Para uma melhor compreensão acerca da Revolução Verde, vejamos a seguinte citação de Brum

Revolução Verde foi um programa que tinha como objetivo explícito contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola no mundo, através do desenvolvimento de experiências no campo da genética vegetal para a criação e multiplicação de sementes adequadas às condições dos diferentes solos e climas e resistentes às doenças e pragas, bem como da descoberta e aplicação de técnicas agrícolas ou tratos culturais mais modernos e eficientes. (BRUM, p.44, 1987)

Com a modernização da agricultura, os pequenos agricultores se endividaram com empréstimos realizados para a compra de novos produtos agrícolas, o que fez com que muitos agricultores perdessem suas terras em decorrência da falta de pagamento. Isso se deu principalmente pelo fato de que a Revolução Verde e o apoio do Estado não se deram em toda a esfera brasileira, evidenciando, desta forma, as desigualdades regionais existentes, inclusive, até os dias atuais. Em outras palavras, pode se dizer que a Revolução Verde eliminou a forma tradicional de produção, modernizando-a, assim como, também fortaleceu o grande proprietário em detrimento do pequeno agricultor.

Nos países em que, concomitantemente à ‘Revolução Verde’, foi implantada a reforma da estrutura agrária, com redivisão e redistribuição das terras, ou se fez alguma alteração estrutural na forma de propriedade, posse e uso da terra, os resultados foram significativamente positivos, com benefícios sensíveis para a maioria da população. Porém, nos países, como o Brasil, em

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que a ‘Revolução Verde não foi acompanhada de uma reforma agrária, mas apenas um sucedâneo desta, resultaram graves consequências, tanto de ordem econômica como principalmente sociais (...) uma minoria apenas dos agricultores, aqueles que se estruturaram de forma empresarial - a nova burguesia rural - foram mais ou menos favorecidos, enquanto os mais fracos - os pequenos proprietários rurais - foram e vão sendo progressivamente marginalizados do processo. (BRUM, 1987, p.50).

A crescente presença dos grandes capitais no campo resultou no aumento da concentração fundiária. Isso ocorreu devido ao fato de que a modernização da agricultura excluiu o pequeno agricultor, que não conseguiu se adaptar aos novos moldes agrícolas, uma vez que, a modernização incentivava a produção dos chamados commodities – produtos estimulados pelo Estado e destinados à exportação - não havendo nenhuma forma de incentivo ao pequeno agricultor.

A luta pela Reforma Agrária e o surgimento do MST

A luta pelo direito a terra e pela reforma agrária não é algo recente, pelo contrário, a história nos mostra que essa é uma luta bastante antiga. No âmbito internacional essa luta remonta, principalmente, ao momento de transição do feudalismo para o modo de produção capitalista – a partir do século XVIII – pois, é a partir daí que a expressão “reforma agrária” começa a ser utilizada.

No âmbito nacional a luta pela Reforma Agrária também não é recente. Segundo Lazzaretti (2012), desde o período colonial, os escravos ao fugirem dos cativeiros apossavam-se de terras ainda virgens implantando sua própria forma de organização social e política. Datam deste período também, várias outras revoltas que reivindicavam a terra, além de diversas greves contra leis que feriam a autonomia dos trabalhadores rurais. Já no final do século XIX e início do século XX, houve vários movimentos de caráter messiânico, como por exemplo, o caso de Antônio Conselheiro, em Canudos na Bahia e do monge José Maria, no Contestado.

De forma geral, o Brasil foi palco de diversos conflitos agrários, que, segundo Lazzaretti, envolveram três principais organizações, são elas: União de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB); as Ligas Camponesas; Movimento dos

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Agricultores Sem Terra (MASTER). Esses conflitos se manteram intensos até o ano de 1964, ano em que ocorre o golpe militar, ocasionando um retrocesso na luta pela reforma agrária.

É sabido que pouco antes do golpe de 64, as reformas de base do governo de João Goulart previam uma Reforma Agrária no país, o que não ocorreu, tendo em vista que um dos principais objetivos do golpe militar era justamente impedir a Reforma Agrária. Deste modo, a partir de 1964 os movimentos sociais que lutavam pelo direito a terra passaram por um período de intensa repressão, sendo que, muitos líderes camponeses foram exilados e até mesmo assassinados tanto por militares quanto por latifundiários que agiam sob a proteção dos mesmos.

[...] Do ponto de vista político eles massacraram fisicamente todas as formas de organização camponesa. (...) Foi o período de consolidação da agricultura capitalista voltada para o mercado externo, baseada em grandes extensões de terra, na mecanização agrícola, adoção dos agrotóxicos, e na expulsão dos camponeses. (MST, 2014, p. 23)

É neste período, através do presidente Marechal Castelo Branco, que é decretado o Estatuto da Terra, a primeira lei de reforma agrária no Brasil. Contudo, segundo Lazzaretti, o Estatuto da Terra não saiu do papel, sendo que, o que se verifica neste período é a promoção de uma política agrícola que priorizou a modernização das grandes propriedades, resultando na exclusão de grande parcela de trabalhadores.

Portanto, apesar de toda a repressão militar em relação aos movimentos sociais rurais, essa não impediu que as lutas pela terra continuassem a ocorrer. Ao mesmo tempo em que enfraqueceu os movimentos sociais rurais já existentes, fez surgir novos movimentos camponeses que levantavam a bandeira pela Reforma Agrária. É neste contexto que surge o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST.

O MST nasce e cresce do combate direto com as políticas autoritárias e excludentes do regime militar. (...) seu surgimento se dá basicamente pelo crescimento econômico do país, a modernização de sua base produtiva, a inserção de novas tecnologias, o desenvolvimento da sociedade de consumo de bens e produtos de massa que trouxeram também o aumento da pobreza e da miséria, e não o seu contrário, como se poderia esperar. (GOHN apud LAZZARETTI, 2012. p.83).

O MST surge com o propósito de promover um programa agrário popular que vai além da luta pelo acesso a terra, mais que isso, o MST busca mudanças estruturais na forma de usar os recursos naturais, na organização da produção, bem como nas relações sociais no

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campo. Deste modo, o projeto de reforma do movimento se insere na luta da classe trabalhadora que visa transformações nas relações sociais de produção, na qual, busca eliminar a exploração, a concentração da propriedade privada, a injustiça e as desigualdades.

Para garantir o acesso a terra o MST se pauta nos princípios da função social da terra, que diz respeito ao uso produtivo, as condições sociais dos trabalhadores(as) e a preservação do meio ambiente como estabelece os artigos 184, 185 e 186 da Constituição Federal de 1988.

O Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) apresentado em 2003, vai além da garantia do acesso à terra, pois prevê medidas para que os trabalhadores possam produzir, gerando renda, mais acima de tudo, ter acesso aos demais direitos fundamentais, como saúde, educação, energia e saneamento.

O PNRA prevê variados instrumentos que deverão ser utilizados de forma integrada e complementar, de acordo com as características de cada região e dos diversos públicos. São instrumentos de redistribuição de terras, regularização de posses e reordenamento agrário; de fornecimento dos meios indispensáveis à exploração racional da terra aos beneficiários da reforma e aos agricultores familiares; de dinamização da economia e da vida social e cultural dos territórios.(PNRA,2003)

Para tanto, são necessárias mudanças democráticas na forma de organização do Estado burguês, que em suas ações e decisões impedem que políticas públicas em favor da classe trabalhadora sejam implementadas.

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CONSIDERAÇÕES

Como bem sabemos, uma Reforma Agrária está longe de acontecer dentro do modelo de produção agrícola inserido no modo de produção capitalista, tendo em vista que este modelo não permite a redistribuição das terras pelo fato de que grandes extensões de terras e da própria produção está sob o domínio de monopólios, onde o capital procura se expandir e consequentemente há um aumento acelerado na desnacionalização da propriedade da terra, com o avança de empresas estrangeiras interessadas na produção em larga escala, ampliando

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o controle sobre todos os bens da natureza, como os minérios, a água, as florestas e as fontes de energia, centralizando o capital na mão das empresas transacionais.

Frente a todas essas contradições se apresentam os movimentos sociais do campo, que lutam por uma mudança profunda na estrutura do modelo agrícola vigente, pautando suas lutas pela democratização da terra e dos bens da natureza, uma nova organização da produção agrícola através de políticas que abarquem as propostas da Reforma Agrária.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Ed. Rideel, 1988.

BRUM, A. J. Modernização da Agricultura: trigo e soja. Ijuí: RS: Vozes,1987. GRAZIANO DA SILVA, J. O que é Questão Agrária. São Paulo: Brasiliense, 1981. MARX, Karl. O Capital Crítica da Economia Política. Trad. Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

MARÉS,Carlos. Conflitos Agrários: quem quer solução?.Disponível em : http://www.brasildefato.com.br/node/27764.

Acessado dia 05/05/14.

MULLER, G. Complexo Agroindustrial e Modernização Agrária. São Paulo: Hucitec, 1989.

NETTO,J.P. e BRAZ ,M.Economia Política: uma introdução crítica ,8.ed.-SP:Cortez,2012. PNRA, Paz, Produção e Qualidade de Vida no Meio Rural, Brasília, 2004.

Referências

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