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FONTES ECLESIÁSTICAS PARA ESTUDO DE IMIGRAÇÃO E SOCIABILIDADE.

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Academic year: 2021

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ÁREA TEMÁTICA: ( ) COMUNICAÇÃO ( X ) CULTURA

( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO

( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE

( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA

FONTES ECLESIÁSTICAS PARA ESTUDO DE IMIGRAÇÃO E SOCIABILIDADE.

Denise Pereira1 Rosângela Zulian2 Denise Pereira3

RESUMO – O presente projeto propõe-se a salvaguardar, através de procedimentos técnicos específicos, toda a documentação provisoriamente localizada em sala anexa à Paróquia Imaculada Conceição, no Bairro de Uvaranas, desde a sua instalação na Diocese de Ponta Grossa, em XXXX até a atualidade. Além da documentação paroquial (livros de registro de matrimônio, batismo, fichas variadas), também compõem o acervo: diversas coleções de jornais internos da congregação, periódicos encadernados nacionais e estrangeiros, coleções eclesiásticas, livros, panfletos, relatórios, atas e anais de encontros nacionais, anúncios, catálogos, quadros, caixas de fotografias etc. Tal quantidade se justifica pelo fato de que a paróquia, por sua função específica, tem funcionado, ao longo dos anos, como referência e local que centraliza e recolhe todos os materiais sobre e produzidos pela comunidade, especialmente aqueles preservados pelos descendentes dos primeiros imigrantes italianos. A partir destas constatações, julgamos pertinente desenvolver o presente projeto. Como a documentação encontrada no Memorial São Francisco, na Paróquia Imaculada Conceição, é qualitativa e quantitativamente expressiva, entendemos que tal trabalho será uma excelente oportunidade de laboratório para os acadêmicos do Curso de Bacharelado em História, colocando em prática as disciplinas de “Fundos Históricos” e “Arquivos, Museus e Patrimônio Histórico I e II”. O campo de possibilidades que o trabalho com arquivos dessa natureza oferece é ilimitado, na medida que a pluralidade de materiais e temas ali encontrados fornecerá, entre outras possibilidades, fontes para monografias de graduação, pós-graduação, artigos acadêmicos e afins, bem como atendimento e suporte para a comunidade de pesquisadores em geral.

Palavras-chave: Cultura católica; memória; fontes eclesiásticas

1

Doutoranda em História, Membro da Comunidade, p.denise.p@gmail.com. 2

Doutora em História, professora adjunta do Departamento de História (universidade Estadual de Ponta Grossa)- rzulian@uepg.br

3

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Introdução

Pode-se dizer que a cidade de Ponta Grossa acumula expressivo e diversificado corpus documental, disperso entre múltiplas instituições e locais, na maior parte dos casos, inacessíveis a qualquer pesquisador. São “lugares da memória” repletos de significação e de documentação que possuem, segundo Pierre Nora4, a função de construção e preservação de uma identidade. Dessa forma, a partir desse referencial teórico e considerando as inúmeras possibilidades de transformação que podem resultar na perda de um corpus documental, foi que o projeto Fontes eclesiásticas para

estudos de imigração e sociabilidade voltou-se para o Memorial São Francisco, na Paróquia

Imaculada Conceição, entendendo-o como representante desses “lugares da memória” dentro da Igreja Católica, instituição à qual se vincula.

O sentido de trabalhar com essa documentação se explica, além do já mencionado, pela própria trajetória da religiosidade católica em terras paranaenses. No Paraná, a partir de finais do século XIX, o processo de catolização da população envolveu múltiplos conflitos: a Igreja, empenhada na conquista e delimitação do território diocesano, na entrada de novas ordens e congregações, no estabelecimento do Seminário e colégios confessionais, defrontou-se com a indiferença religiosa de parte da população e com o movimento anticlerical. Tal situação era percebida também em Ponta Grossa no mesmo período. Do ponto de vista do episcopado, o Paraná, e nele Ponta Grossa, eram vistos como terra de missão, lugar onde a civilização cristã ainda não teria chegado5.

No período, a cidade já se configurava em centro polarizador de migrantes nacionais e estrangeiros. Em 1913, dizia Nestor Victor:

Pode-se dizer que Ponta Grossa é hoje uma cidade essencialmente cosmopolita [...] Com a facilidade de communicação que já temos, vae-se constituindo um núcleo composto de differentes origens, quer nacionaes, quer estrangeiras. Encontram-se aqui paranaenses de quase todas as localidades do Paraná, brazileiros do Sul e do Norte, allemães, syrios, italianos, suissos, franceses, polacos, hespanhóes, hollandezes6.

Do ponto de vista religioso, ao mesmo tempo em que as novas orientações da Igreja voltavam-se para o ensino da “verdadeira religião”, europeizada e dentro dos padrões romanizadores, a instituição empenhou-se na manutenção de valores religiosos tradicionais dos imigrantes europeus, visando preservá-los dos avanços do positivismo, do protestantismo e do anticlericalismo.

A imigração coincidiu com o projeto de mudança global do catolicismo e da Igreja no Brasil; os imigrantes acabaram contribuindo, seja para a afirmação da igreja tridentina e do catolicismo romanizado, seja para questionar esse projeto de homogeneização institucional.

A primeira paróquia da cidade, a Paróquia de Sant’Ana, foi confiada aos padres da Congregação do Verbo Divino, cuja missão era, além da evangelização e da pastoral paroquial, amparar os quadros imigrantes que chegavam à região. A congregação, de origem alemã, mas trazendo para Ponta Grossa padres também poloneses, assumiu, a partir de 1906 a primeira paróquia da cidade7. A medida partiu, segundo consta, dos pedidos do pároco, padre João Batista de Oliveira, e das determinações de D. José de Camargo Barros, primeiro bispo da Diocese de Curitiba,

Segundo Balhana e Westphalen

[...] tendo em vista a situação de dependência em que ficavam os imigrantes em relação [...] a toda sorte de intermediários, aos funcionários governamentais ou das companhias, além do natural desamparo provocado pelo trauma da mudança, a própria Igreja organizou também serviços regulares de atendimento

4

NORA, Pierre. Entre memória e história- a problemática dos lugares. Revista Projeto História. São Paulo: PUC (10), dezembro de 1993.

5 ZULIAN, R.W. A victoriosa rainha dos Campos Gerais. Revista de História Regional. V.3. N 2. Ponta Grossa: Ed. UEPG, inverno 1998, p. 37.

6

VICTOR, N. A terra do futuro. Curitiba: Prefeitura Municipal de Curitiba, 1996, p. 312.

7 “No ano da salvação de 1903 a Sociedade do Verbo Divino assumiu o mister paroquial em Ponta Grossa, dando início à sua atividade pastoral. Coube ao padre Aloísio Berger a honra de ser o nosso primeiro pioneiro nesse campo de atividade. No dia 24 de maio de 1903 despediu-se de São José dos Pinhais, onde havia trabalhado como coadjutor desde os começos de 1899, e viajou para Ponta Grossa, para aí ser igualmente coadjutor do vigário diocesano Pe. João Batista de Oliveira. (Crônica SVD, 1903, p. 3)”.

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moral e espiritual aos imigrantes entregues muitas vezes á exploração daqueles que visavam apenas à obtenção de maiores lucros8.

Posteriormente, em 1924, foi construída uma igreja para atendimento aos moradores do bairro de Uvaranas, em grande medida, italianos ou seus descendentes diretos, em terreno doado por Ana Rita Ribas Guimarães. Desde essa época, a documentação foi sendo preservada, seja na paróquia, seja nas famílias dos fiéis. Nesse sentido o projeto objetivou implementar ações visando salvaguardar, através de procedimentos técnicos específicos, todo esse material, que não se perdeu graças à comunidade e aos esforços dos párocos, que não desconsideraram seu valor na construção e manutenção das identidades paroquiais. Atualmente a paróquia é atendida pelos Frades Menores Capuchinhos.

Foi encontrado, em um espaço razoavelmente preservado mas não adequado para um arquivo, um considerável acervo documental, disposto em armários de madeira e estantes de ferro e madeira, que cobriam boa parte da sala.

Figura 1 – Sala Memorial em maio de 2010

Objetivos

Oportunizar, aos acadêmicos do curso de História, o contato reflexivo e empírico com materiais e fundos de arquivos dispersos, inserindo-os nos parâmetros científicos da conservação documental.

Recuperar, através de procedimentos técnicos específicos, a documentação sob a guarda da Paróquia Imaculada Conceição.

Possibilitar, aos acadêmicos do Curso de História, o acesso ao trabalho com fontes primárias.

Metodologia

O presente projeto não objetiva ações direcionadas a uma determinada comunidade externa, mas sim salvaguardar, através de procedimentos técnicos próprios, toda a documentação produzida pela Paróquia Imaculada Conceição, desde sua fundação em 1924. Encontra-se, em um espaço previamente adequado, um considerável acervo documental, disposto em estantes de madeira. Além da documentação interna da instituição, diversas coleções de jornais internos da

8BALHANA et al, p 374.

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instituição, periódicos (nacionais e estrangeiros), coleções eclesiásticas, livros, panfletos, relatórios, atas e anais de encontros nacionais, anúncios, catálogos, quadros, caixas de fotografias etc.

Serão efetuados, os seguintes procedimentos:

1. Higienização do espaço original do “Memorial São Francisco”, para impedir o aumento da contaminação existente no ambiente.

2. Transferência do mobiliário de madeira, para aço/ferro.

3. Higienização de periódicos (nacionais e estrangeiros), de revistas especializadas, de livros, da documentação interna da instituição, das diversas coleções de jornais,das coleções eclesiásticas, livros, panfletos, relatórios, atas e anais de encontros nacionais, anúncios, catálogos, quadros, caixas de fotografias.

4. Confecção de material de desinfecção, à base de pimenta e cânfora. 4. Ordenamento cronológico do material higienizado e seleção por idiomas.

5. Início da catalogação do material bibliográfico pelo sistema de classificação decimal de Dewey. 6. Aferição da catalogação em bibliotecas virtuais especializadas.

7. Início de etiquetamento do material catalogado e conferido. 8. Montagem do banco de dados no programa Winises. 9. Início da alimentação do programa.

Resultados

Em termos quantitativos, foram higienizados 800 livros (página a página, de capa a contra-capa); catalogados 250 livros; 29 coleções de periódicos foram higienizadas e ordenadas cronologicamente (aproximadamente 2500 exemplares); foram preparadas e etiquetadas pastas arquivo e pastas suspensas para ordenamento de documentos avulsos.

Mesmo num espaço de tempo relativamente curto (Agosto de 2010 a março de 2011, levando em consideração as férias dos discentes) para um trabalho dessas proporções e especificidades técnicas, as ações efetuadas no Memorial São Francisco propiciaram uma perceptível alteração nos padrões de higienização e organização do acervo. A limpeza e mudança do espaço anterior do acervo para local mais adequado, a elaboração da tipologia das fontes, sua catalogação e o início da formatação de um guia de pesquisa são ações concretas desenvolvidas no Memorial. Parte do material trabalhado está praticamente em condições de ser utilizado, como fonte de pesquisa para a história local, pela congregação e por pesquisadores da comunidade em geral.

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Conclusões

A atividade, ainda, está propiciando aos acadêmicos a oportunidade de entrar em contato direto com acervos de instituição religiosa, colocando na prática aquilo que é inerente ao ofício do historiador, ou seja, ordenar, preservar, higienizar e catalogar o material encontrado no Centro de Memória da Paróquia Imaculada Conceição em Ponta Grossa e produzir um conhecimento acadêmico a partir do tratamento e manuseio das fontes ali encontradas.

Referencias

NORA, P.. Entre memória e história- a problemática dos lugares. Revista Projeto História. São Paulo: PUC (10), dezembro de 1993.

VICTOR, N. A terra do futuro. Curitiba: Prefeitura Municipal de Curitiba, 1996.

ZULIAN, R.W. A victoriosa rainha dos Campos Gerais. Revista de História Regional. V.3. N 2. Ponta Grossa: Ed. UEPG, inverno 1998,

Referências

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