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ARRANJOS POPULACIONAIS DE MAMONA, CULTIVADOS EM CONSÓRCIO COM LAVOURA DE CAFÉ RECEPADO

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Academic year: 2021

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ARRANJOS POPULACIONAIS DE MAMONA, CULTIVADOS EM

CONSÓRCIO COM LAVOURA DE CAFÉ RECEPADO

Pedro Castro Neto, Professor Titular DEG-UFLA, pedrocn@ufla.br Antonio Carlos Fraga, Professor Titular DAG-UFLA, fraga@ufla.br

João Vieira Monteiro, Professor FEP-UEMG-Passos/MG Paulo Almeida Schmidt, Pesquisador DAG-UFLA

Joadylson Barra Ferreira, Eng. Agrônomo, Sec. Mun. do Café e Agricultura – Varginha/MG Hugo Prado de Castro, Eng. Agrônomo, Sec. Mun. do Café e Agricultura – Varginha/MG

Rogner Carvalho Avelar, Acadêmico de Agronomia - UFLA Renato Elisei, Acadêmico de Agronomia - UFLA

RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido na Fazenda Experimental do Município de Varginha, Minas Gerais, com a finalidade de avaliar diferentes arranjos populacionais de mamona cultivada em consorcio com lavoura de café submetido a poda baixa (recepa) para renovação da lavoura cafeeira. Os resultados mostraram que não houve diferença na brotação dos cafeeiros, que a produtividade da mamona é dependente da densidade populacional e que o plantio de mamona nas entrelinhas do café submetido a poda é uma opção viável, dando um retorno financeiro significativo ao agricultor.

PALAVRAS-CHAVE

: café, mamona, cultivo consorciado.

1 INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta, atualmente, 5,4 bilhões de covas de café. Grande parte dessas lavouras não recebeu, nos últimos anos, a adequada reposição de nutrientes ao solo, em decorrências dos baixos preços obtidos no mercado do café. Assim, muitas das lavouras, principalmente as mais velhas, entram em um processo de degradação, exigindo para sua recuperação a aplicação de podas.

A recepa é uma poda baixa, efetuada à altura de 0,4 a 1 m, sendo indicada para cafezais com fechamento adiantado, cujas plantas sofreram perda quase total da saia. É

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empregada também para a renovação de cafeeiros, cuja copa se encontra completamente deformada, esguia e com poucos ramos plagiotrópicos saindo do tronco e para lavouras atingidas por geadas severas, fenômeno com grande probabilidade de ocorrência no País. A recepa baixa é feita mais ou menos a 0,40 m de altura, com pequena recuperação da produção no segundo ano e com boa produção no terceiro ano (Matiello, 1991).

A recepa apresenta a vantagem de permitir a renovação da copa dos cafeeiros e o aproveitamento da lenha, porém, tem a desvantagem de reduzir a produção durante dois anos, ser trabalhosa, aumentar a área com necessidade de controle de ervas invasoras e exigir tratos culturais diferenciados. Por outro lado, a prática favorece os cultivos intercalares, o tratamento contra pragas de raízes e o replantio ou dobra da lavoura.

A mamona pertence à família Euphorbiaceae, que engloba vasto número de tipos de plantas nativas da região tropical, sendo a espécie Ricinus communis L. a única conhecida (Savy Filho et al., 1999; Savy Filho, 2003). É uma planta de hábito arbustivo, com diversas colorações de caule, folhas e racemos (cachos), podendo ou não possuir cera no caule e no pecíolo. Os frutos, em geral, possuem espinhos e, em alguns casos, são inermes. As sementes apresentam-se com diferentes tamanhos, formatos e grande variabilidade de coloração, e delas se extrai industrialmente um óleo de excelentes propriedades, de largo uso como insumo industrial (Rodrigues Filho, 2000).

A colheita da mamona deve ser realizada quando pelo menos 2/3 dos frutos estiverem secos, sendo feitas três a quatro colheitas para as cultivares deiscentes ou apenas uma para as variedades indeiscentes. Depois de colhidos, os frutos são levados para terreiros para completar a secagem, após o que as variedades de frutos indeiscentes devem ser descascadas mecanicamente (Savy Filho et al., 1999; Rodrigues Filho, 2000).

Conhecido desde a antiguidade por suas propriedades medicinais e como azeite para iluminação, o óleo de mamona deixou de ter na farmacopéia sua grande utilidade, sendo os grandes consumidores nos nossos dias as indústrias químicas e de lubrificantes (Coelho, apud Santos et al., 2001).

O óleo de mamona pode ser utilizado também como fonte de energia para motores de ciclo diesel. A diferença de propriedades entre o diesel e os óleos vegetais resulta principalmente da diversidade molecular entre esses dois grupos de substâncias, com peso molecular e densidade mais altos para os óleos vegetais. A obtenção do biodisel é feita, em

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linhas gerais, pelo processo de transesterificação com metanol ou etanol, em meio ácido ou básico, promovendo a quebra da molécula dos triglicídios, gerando uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos dos ácidos graxos correspondentes, liberando a glicerina, que é um subproduto de grande valor na industria de sabões, sabonetes e cosméticos. O peso molecular desses monoésteres é próximo ao do diesel e sua utilização como combustível em adição ao óleo diesel convencional melhora a lubricidade e o número de cetano, reduz o teor de enxofre e, conseqüentemente a poluição provocada pelos gases de escape e eleva o ponto de fulgor do combustível (Nogueira e Pikman, 2002).

Para cada 100 kg de óleo de mamona extraído, produz-se mais ou menos 130 kg de um importante subproduto, denominado torta ou farelo de mamona, que é um excelente adubo orgânico, com teor médio de macronutrientes da ordem de 4,4% de nitrogênio, 1,8% de fósforo e 1,4% de potássio (Freire, 2001).

A semente de mamona contém uma proteína tóxica, a ricina, um alcalóide relativamente inofensivo, a ricinina, e um fator alergênico (CBA - castor-bean allergen), os quais não são observados no óleo de mamona. Assim, o uso mais simples da torta de mamona é como adubo orgânico de alta qualidade, o qual tem inclusive efeito nematicida natural pela presença dos compostos citados (Freire, 2001; Savy Filho et al., 1999). A folha da mamoneira também tem sido testada como inseticida e nematicida naturais. Esses princípios devem ser desativados quando da utilização da torta para alimentação animal.

O processo de produção do biodiesel a partir de frutos ou sementes oleaginosas foi primeiramente patenteado por um brasileiro, o professor Expedito José de Sá Parente, da Universidade Federal do Ceará (Parente, 1983). Consultando o site de Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), foram encontradas mais duas patentes, concedidas no ano de 2001, mostrando variações na forma de obtenção do biodiesel, tendo sido uma requerida por Nei Hansen de Almeida e outra pela Petrobrás (PI0104107 e PI0105888, respectivamente).

Sob a coordenação do Ministério da Ciência e Tecnologia, pela sua Secretaria de Política Tecnológica e Empresarial, está sendo elaborado o Probiodiesel, cujo objetivo é o de criar as condições necessárias para se viabilizar a introdução deste combustível na matriz energética brasileira. No âmbito do Probiodiesel, definiu-se que este produto será inicialmente comercializado misturado ao óleo diesel na proporção de 5% em base de volume, cabendo à Agência Nacional do Petróleo (ANP), que participa deste grupo, a responsabilidade de

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elaborar a especificação deste combustível, garantindo a sua qualidade e preservando os interesses do consumidor brasileiro (Nogueira & Pikman, 2002).

Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo geral avaliar diferentes arranjos de plantio de mamona consorciada com café recepado.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O ensaio foi conduzido na Fazenda Experimental do Município de Varginha, Estado de Minas Gerais, utilizando diferentes arranjos para o plantio de mamona variedade AL-Guarany 2002 nas linhas e entrelinhas de uma cultura de café, variedade Mundo Novo, plantada no espaçamento de 3,0 x 1,0 m, recepada a mais ou menos 0,40 m de altura, na segunda quinzena do mês de julho de 2003.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando-se que a lavoura de café tenha uma vida útil de 25 anos, número que muitas vezes representa um valor superestimado, pode-se prever uma renovação de 4% das lavouras a cada ano, o que representa, para o Brasil, uma renovação esperada de mais ou menos 216 milhões de covas, ou cerca de 65.000 ha.

Considerando ainda que a poda baixa ou recepa permite o cultivo de mamona por dois anos consecutivos, tem-se a incorporação de 130.000 ha produzindo mamona, mantendo o agricultor no campo com renda, gerando empregos, otimizando o aproveitamento da estrutura (terreiros, secadores, máquinas e outros), sem a abertura de novas áreas agrícolas.

Se toda essa área for utilizada para o plantio de mamona para posterior transformação em biodiesel, as áreas de renovação de lavouras de café podem contribuir com 91.000 m3 de biodiesel por ano, considerando-se uma produção de apenas 700 L/ha de óleo.

O cultivo de mamona neste sistema não inviabiliza a utilização da mesma área para a produção de culturas de subsistência, podendo-se, assim, utilizar sistemas de consórcio triplo ou mesmo quádruplo.

As análises estatísticas realizadas nos dados já obtidos não mostraram diferença significativa para altura da brotação dos cafeeiros e no número de cachos por planta. Por outro lado, houve diferença significativa do número de plantas em cada tratamento, o que era esperado tendo em vista que os tratamentos apresentavam variações na densidade

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populacional da mamona. Encontrou-se diferença significativa também no número de cachos por unidade de área, sendo este maior no tratamento com duas linhas de mamona na entrelinha de café, espaçadas de 1,50m entre linhas e 1,0m entre plantas. Analisando-se a produtividade obtida nos cachos primários e secundários colhidos até o momento, obteve-se uma produtividade média de mamona em baga de 2344,2 kg/ha no tratamento com uma linha de mamona nas entrelinhas do café e de 1958,4 kg/ha no tratamento com duas linhas de mamona. Então, apesar do menor número de cachos, a utilização de apenas uma linha de mamona nas entrelinhas do café levou a uma maior produtividade de grãos.

Considerando-se um rendimento de 70% para a mamona em baga, obteve-se uma produtividade de 1371 a 1641 kg/ha de sementes de mamona. Atribuindo-se ao custo de produção da mamona a sua implantação, e condução, bem como parte da adubação referente à área total, pode-se ver claramente, aos preços praticados atualmente no mercado de mamona, que a utilização do cultivo consorciado de mamona na recuperação de áreas de café submetidos a poda baixa para totalmente os custos de recuperação e ainda permitem um retorno financeiro considerável.

4 CONCLUSÕES

A partir das observações efetuadas até o momento, pode-se concluir que a utilização de cultura intercalar de mamona não interferiu no crescimento da brotação do cafeeiro, que a produtividade de mamona em plantio intercalar é dependente do número de plantas por área e que a plantio de mamona como cultura intercalar em café após poda baixa é uma opção viável para incrementar a produção desta oleaginosa no Brasil, sem o aumento de áreas agrícolas, e contribuir significativamente para o retorno financeiro do agricultor.

5 AGRADECIMENTOS

- À Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela aprovação do projeto na categoria “Jovem Doutor”;

- Ao Governo Municipal de Varginha e à Universidade Federal de Lavras; - À ECIRTEC, pelo apoio operacional.

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, R.M.M. Ricinoquímica. In: O agronegócio da mamona no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p. 295-335.

MATTIELLO, J.B. O café, do cultivo ao consumo. São Paulo: Globo, 1991. 320 p. NOGUEIRA, L.A.H.; PIKMAN, B. Biodiesel: novas perspectivas de sustentabilidade. Conjuntura & Informação, Agencia Nacional do Petróleo, n.19. ago-out de 2002. p. 1-4. PARENTE, E.J.S. Processo de produção de combustíveis a partir de frutos ou sementes oleaginosas – biodiesel, 1980. Patente: Privilégio de Inovação, PI8007957, 14 de junho de 1983 (depósito); 08 de outubro de 1983 (concessão).

RODRIGUES FILHO, A. A cultura da mamona. Belo Horizonte: Emater-MG, 2000. 20 p. (Boletim técnico).

SANTOS, R.F.; BARROS, M.A.L.; MARQUES, F.M.; FIRMINO, P.T.; REQUIÃO, L.E.G. Análise econômica. In: O agronegócio da mamona no Brasil. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. p. 17-35.

SAVY FILHO, A. Mamona. Campinas: Instituto Agronômico, abril de 2003. 4p. (folheto) SAVY FILHO, A.; PAULO, E.M.; MARTINS, A.L.M.; GERIN, M.A.N. Variedades de mamona do Instituto Agronômico. Campinas: Instituto Agronômico, 1999. 12 p. (Boletim técnico, 183).

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