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CONGRESSOS BRASILEIROS DE SISTEMAS: UM GIRO AUTO-REFLEXIVO SOBRE SEU PRÓPRIO DESENVOLVIMENTO

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CONGRESSOS BRASILEIROS DE SISTEMAS:

UM GIRO AUTO-REFLEXIVO SOBRE SEU PRÓPRIO

DESENVOLVIMENTO

Soraya Corgosinho Soares Amaral Maria José Esteves de Vasconcellos

Equipe Práticas Sistêmicas PUC - MINAS

sorayaamarall@hotmail.com estevasc@hotmail.com

Maria Otaviana Mindêllo Muschioni Equipe Práticas Sistêmicas otavianamuschioni@gmail.com

Resumo

Descreve-se um processo de conversações entre participantes dos Congressos Brasileiros de Sistemas, sobre os próprios Congressos e o desenvolvimento do “Movimento de Sistemas” no Brasil. Tratou-se de um giro autorreflexivo – na perspectiva sistêmica de 2ª Ordem – em que o sistema, concebido como pessoas conversando, tomou-se a si próprio como objeto de reflexões e conversações. Descreve-se o processo desenvolvido em três Encontros Conversacionais e o que se distinguiu como efeitos da realização de conversações em contexto colaborativo, de autonomia do sistema, usando-se a Metodologia de Atendimento Sistêmico. Nessa Metodologia – que visa solução de situação-problema identificada pelos próprios envolvidos nela –, o processo básico é a coconstrução. Distinguiu-se um sistema que conversou sobre suas relações na realização dos Congressos, buscando um melhor desenvolvimento desses, reconhecendo e assumindo como sua a responsabilidade das decisões. Os Encontros Conversacionais desencadearam mudanças percebidas pelos participantes como avanços na forma de realização dos Congressos Brasileiros de Sistemas.

Palavras-Chave: sistema determinado pelo problema; solução de situação-problema em contexto de autonomia; Metodologia de Atendimento Sistêmico.

Abstract

This paper describes a process of conversations among participants of the Brazilian Systems Congresses, regarding Congresses they themselves held and the development of the "System’s Movement” in Brazil. It was done a self-reflexive turning – in 2nd Order systemic perspective – in which the system, conceived as people in conversations, takes itself as an object of its reflections and conversations. The text briefly describes the process that has developed over three Conversational Encounters and what was distinguished as the main results of conducting Conversational Encounters in a collaborative context, of systems autonomy, using the Systemic Attendance Methodology. This methodology aims at the solution of a problem-situation, identified by themselves involved in it, and its basic process, is the co-construction. It was possible to distinguish a system whose members talked about their own relationships in achieving their Congresses, in search of better development of these, recognizing and taking the responsibility for decisions. Conducting Conversational Encounters unleashed changes that were perceived by participants themselves as important advances in the way of achieving Brazilian Systems Congresses.

Keywords: problem-determined system; solution of the problem-situation in context of autonomy; Systemic Attendance Methodology.

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Introdução

Em nossa sociedade, a realização de congressos científicos tem sido uma constante nas mais variadas áreas de atividades profissionais.

Pode-se admitir que cientistas/profissionais tenham motivações diversas para promover e participar dessas reuniões científicas. Então, cabe perguntar: Quais seriam essas motivações? O que levaria uma pessoa a dizer, depois de um congresso, “esse foi um excelente congresso”? E, de outro lado, o que faria com que as pessoas deixem de frequentar congressos? Será que apresentar um trabalho e levar um certificado seria suficientemente satisfatório para os participantes? Que mais eles esperam obter da participação em um congresso? O que gostariam de encontrar nele?

É provável que essas questões já tenham desencadeado reflexões especialmente daqueles que costumam participar de congressos em diferentes áreas ou sobre diferentes temas, tendendo a fazer comparações entre eles.

O Congresso Brasileiro de Sistemas - CBS, que este ano tem sua 10ª edição, foi idealizado pelo Prof. Dante Pinheiro Martinelli como um evento promovido pela ISSS-Brasil, o capítulo brasileiro da International Society for the Systems Sciences.

Congregando um número ainda relativamente pequeno de pesquisadores/profissionais sistêmicos, cada uma de suas sucessivas edições contou com a participação da comunidade acadêmica da universidade que ofereceu a infraestrutura para o CBS acontecer naquele ano.

Uma das autoras deste artigo, uma professora, vinha participando de todos os Congressos. No 5º CBS – 2009 e no 6º CBS – 2010, que aconteceram em Aracaju-SE e Foz do Iguaçu-PR, respectivamente, ela participou de algumas conversas informais com participantes frequentes dos CBSs, nas quais ela distinguiu preocupações deles com o desenvolvimento e a sustentabilidade do Movimento de Sistemas no Brasil, preocupações

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que ela também compartilhava. Ter uma criança que não cresce pode ser de fato preocupante para todos os que se sentirem responsáveis por ela.

Ao final do 6º CBS – 2010, ela foi convidada pelos professores que iriam organizar o 7º CBS – 2011, em Franca-SP, para fazer a Conferência de Encerramento do mesmo, convite que ela aceitou e que desencadeou muitas reflexões e conversas por e-mail, durante o ano subsequente.

Tendo assim refletido, a Professora pensou em transformar a demanda que recebeu para proferir uma “Conferência de Encerramento” em uma proposta de conversação (Encontro Conversacional), aberta a todos os interessados em refletir/conversar sobre o desenvolvimento do Movimento de Sistemas no Brasil, e assim o fez em Franca, em 27 out 2011.

Essa proposta motivou um processo de conversações que vêm acontecendo uma vez ao ano, em cada um dos Congressos que se seguiram. Neste artigo, apresentam-se resumidamente o processo que se desenvolveu nos três Encontros Conversacionais já realizados e o que se distinguiu como os principais efeitos de sua realização em contexto de autonomiai, com o uso da Metodologia de Atendimento Sistêmico. Portanto, a experiência aqui relatada teve como objetivo usar essa Metodologia para abordar as dificuldades sobre as quais os congressistas vinham conversando.

A Metodologia de Atendimento Sistêmico - MAS

A Metodologia de Atendimento Sistêmico – MAS é uma metodologia que visa à solução de uma situação-problema identificada pelos próprios envolvidos nela, cujo processo básico, em todas as fases de sua aplicação, é a coconstrução. Assim, ao aplicá-la, o profissional distingue então um sistema linguístico, conversacional, constituído por todas as pessoas que estejam implicadas e/ou conversando sobre a situação-problema, considerando

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que ela não está como deveria estar ou como se gostaria que estivesse – e, portanto, interessados no encaminhamento de sua solução – chamado de sistema determinado pelo problema – SDP. Esse profissional criará um contexto de autonomia e coordenará as conversações de modo tal a viabilizar que o próprio sistema, atuando colaborativamente, mobilize os recursos de que dispõe, encaminhe a solução possível e, consequentemente, se dissolva o SDP.

A expressão “contexto de autonomia” foi introduzida por Aun (1996), parafraseando Pakman (1993), que definiu poder não como um atributo interno às pessoas, e sim como um contexto que permite que alguns membros do sistema decidam ou ponham em ação o que vai ser considerado como real, bom, adequado para todos os membros do sistema. Assim, Aun definiu autonomia como um contexto que permite que os membros do sistema definam o que é real para si próprias e assumam responsabilidade por essas escolhas, por meio de acordos consensuais.

Essa Metodologia foi criada por Aun, Esteves de Vasconcellos e Coelho (2005; 2007; 2010). Uma história do seu desenvolvimento, intitulada “Uma narrativa sobre o desenvolvimento da nossa Metodologia de Atendimento Sistêmico” (Esteves de Vasconcellos, 2010a), está publicada no Vol. 3 da obra das referidas autoras, intitulada Atendimento sistêmico de famílias e redes sociais.

Tratando-se de uma Metodologia para a abordagem de “sistemas sociais humanos”, é preciso explicitar que tais sistemas são concebidos como sistemas linguísticos: pessoas, ou seres humanos (seres vivos que vivem na linguagem), entrelaçando seu linguajar (verbal ou não verbal) com seu emocionar, o que constitui seu conversar. Assim, distinguimos um sistema social humano, quando distinguimos pessoas em interação, conversando. Podemos distinguir diferentes tipos de sistemas sociais humanos, dependendo da organização que

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distinguirmos, tomando aqui organização no sentido que Maturana e Varela (1980) dão a esse conceito, como relações entre os componentes que dão identidade ao sistema.

Durante seu desenvolvimento, essa metodologia sistêmica para solução de situação-problema, foi sucessivas vezes experimentada na EquipSIS – Equipe Sistêmica, Belo Horizonte-MG, e gradativamente aperfeiçoada. Essas sucessivas experiências têm evidenciado a possibilidade de se atingirem os objetivos a que a Metodologia se propõe, desde que aplicada por profissional que tenha assumido uma visão sistêmica de 2ª Ordem ou novo-paradigmática. Com essa visão, o profissional acredita que nossa estrutura biológica nos impede de falar de realidades objetivas e que nossa estrutura de seres vivos humanos, vivendo na linguagem, nos permite coconstruir nossas afirmações sobre a “realidade”, em espaços consensuais de intersubjetividade.

Essa Metodologia já tem sido utilizada no encaminhamento de soluções para variadas situações-problema, como se pode constatar no texto “Uso da Metodologia de Atendimento Sistêmico em diferentes contextos de prática profissional” (Coelho, 2010). Portanto, hoje a Metodologia de Atendimento Sistêmico tem sido distinguida como uma importante contribuição da EquipSIS, que possibilita a realização de práticas de atendimento de sistemas amplos – nos mais variados contextos de prática, públicos ou privados, tais como educacional, de saúde, assistencial, ambiental, empresarial –, de modo coerente ou consistente com o pensamento sistêmico novo-paradigmático, descrito por Esteves de Vasconcellos (2002).

A Metodologia de Atendimento Sistêmico se apresenta com dois aspectos fundamentais para sua aplicação, que são: a forma de constituição do SDP e a forma de coordenação dos Encontros Conversacionais.

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O cuidado com a forma de constituição do SDP possibilitará a distinção de uma “situação-problema nossa”, a qual, sendo compartilhada por todos os participantes do sistema, faz com que esses constituam o sistema linguístico – SDP.

Ao aplicar a Metodologia de Atendimento Sistêmico, o profissional sistêmico coordena as conversações do sistema que se constitui em torno da situação-problema, a partir da concepção teórica do “processo da rede”ii (Speck & Attneave, 1973; Klefbeck, 1996), focando sua atenção nas relações entre os componentes do sistema e não se responsabilizando pelos conteúdos das conversações que constituem o sistema. Assim sendo, como se verá adiante, a pessoa que inicialmente distinguiu uma situação como problemática não deve ser quem vai coordenar as conversações, pois precisará compartilhar sua visão da situação com os demais membros do sistema envolvidos com a mesma.

Para viabilizar um trabalho bem sucedido com a rede socialiii constituída em torno da situação-problema, o profissional sistêmico, logo de início atua no sentido de criar um contexto adequado ao desenvolvimento das conversações, entendendo-se contexto como regras de relação que balizarão o funcionamento do sistema e as expectativas de seus participantes. O coordenador do Encontro Conversacional explicita que vai apenas coordenar as conversas de que todos participarão (contexto de autonomia), propõe que não haja retaliação ou represália em função do que for falado por quem quer que seja (contexto de segurança), convida a todos para uma participação ativa e colaborativa, dizendo que todos, em igualdade de condições, terão liberdade para falar o que pensam e compartilhar suas ideias (contexto colaborativo). Verificando que todos concordem com essas regras de convivência, ele atuará no sentido de que elas sejam mantidas e intervirá, por meio de perguntas que levem à reflexão, que questionem premissas já enrijecidas, que abram possibilidade de surgimento de ações alternativas.

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Na experiência das autoras, de realização de Encontros Conversacionais com a Metodologia de Atendimento Sistêmico, ao final do processo, o sistema geralmente chega a planejar ações concretas para solucionar a situação-problema, sendo a responsabilidade pelo encaminhamento dessas ações colaborativamente assumida por seus próprios participantes.

Descrevendo o processo de conversações sistêmicas nos Congressos Brasileiros de Sistemas

Realizaram-se até agora três Encontros Conversacionais que aconteceram no 7º CBS – 2011, em Franca-SP, no 8º CBS – 2012, em Poços de Caldas-MG e no 9º CBS – 2013, em Palmas-TO, estando ainda programada a realização de um 4º Encontro Conversacional, durante o 10º CBS, em Ribeirão Preto-SP.

1º Encontro Conversacional

Esse foi o Encontro Conversacional que aconteceu como “Conferência de Encerramento do 7º CBS”, cuja Ementa da Palestra a ser proferida pela Professora e por ela enviada à Comissão Organizadora do 7º CBS foi: “Considerando-se o tema do 7º Congresso Brasileiro de Sistemas, ‘Pensando o desenvolvimento sob uma perspectiva sistêmica’, pretende-se propor um giro autorreflexivo – próprio da perspectiva sistêmica de 2ª Ordem – para realizar, conjuntamente com os presentes, uma reflexão sobre o desenvolvimento do Movimento de Sistemas no Brasil, em especial sobre o próprio desenvolvimento dos Congressos Brasileiros de Sistemas, locus privilegiado para reflexões e conversações sistêmicas sobre Epistemologia, Teoria, Pesquisa e Práticas sistêmicas”.

Mantendo-se dentro do tema do 7º CBS e considerando que um profissional sistêmico novo-paradigmático (com visão sistêmica de 2ª Ordem) sempre pensa sua própria relação

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com o objeto que observa / estuda / quer compreender / sobre o qual pretende atuar, a realização desse giro autorreflexivo, levou-a a perguntar-se:

- Como está o nosso próprio desenvolvimento? ou seja, como está o desenvolvimento dos nossos Congressos Brasileiros de Sistemas?

- Como o sistema Movimento de Sistemas – constituído pelas conversações entre os participantes dos CBSs – está se desenvolvendo na relação com seu meio?

Explicitou então seus pressupostos sistêmicos, em sua opinião, muito bem sintetizados por Maturana (1987) e por von Foerster (1974). A afirmação de Maturana (1987, p. 53), “tudo é dito por um observador” – com constituição biológica de ser vivo determinado estruturalmente – nos leva a reconhecer que não se pode ter acesso a um mundo objetivo. O complemento proposto por Von Foerster (1974, p. 89) que, batizando a afirmação de Maturana, como “teorema nº 1 de Humberto Maturana”, acrescenta o que chama de “corolário nº 1 de Heinz von Foerster”: “tudo o que é dito é dito a outro observador” – com constituição de ser vivo dotado de linguagem – nos leva a reconhecer que constituímos o mundo na linguagem.

Como implicação desses pressupostos sistêmicos, a Professora assume que não responderá sozinha às questões sobre o conhecimento de seu objeto de interesse e que as responderá coconstruindo as afirmações/respostas, com aqueles que estejam fazendo perguntas similares, em espaços consensuais de intersubjetividade, em espaços de conversação, em contexto de autonomia.

Mantendo-se então coerente com seus pressupostos, anuncia que convidará algumas pessoas que supõe estarem também interessadas em conversar sobre as suas questões. Justifica então os convites que fará com o fato de, em algum momento, nos Congressos anteriores, ou mesmo fora deles, já ter tido conversas com essas pessoas, sobre uma ou outra

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de suas questões. Mas ressalta que supõe haver outras pessoas interessadas ou até mesmo já conversando a respeito e que essas pessoas também poderão vir a integrar o sistema linguístico que já está se constituindo como um SDP. Enfatiza que se trata de convite para que todos se sintam à vontade para aceitá-lo ou não.

Propõe então que essa conversação se desenvolva conforme a Metodologia de Atendimento Sistêmico, uma metodologia sistêmica novo-paradigmática de que é coautora (Esteves de Vasconcellos, 2010b).

Para que pudesse sentar-se com seus convidados e integrar com eles, em igualdade de condições, o sistema linguístico que está se constituindo – nos termos de Goolishian e Winderman (1989) um “sistema determinado pelo problema – SDP” –, convidou para coordenar esse Encontro Conversacional uma Especialista em Atendimento Sistêmico, Membro da Equipe Práticas Sistêmicas, Belo Horizonte-MG, a qual solicitou a colaboração de um pós-graduando do Grupo de Sistemas da FEA-RP/USP, para fazer um registro das conversações do sistema determinado pela situação-problema.

Constituído o SDP, a Coordenadora inicia então colocando para o SDP a pergunta: “Que você pensa sobre o desenvolvimento do Movimento de Sistemas no Brasil”?

Participaram desse Encontro Conversacional 7 (sete) dos convidados pela Professora (já que alguns dos convidados precisaram se ausentar antes do encerramento do Congresso) e mais 3 (três) pessoas da plateia que ocuparam a cadeira vazia, colocada no círculo exatamente para que qualquer pessoa da plateia pudesse ocupá-la para uma participação momentânea na conversação, em seguida deixando-a novamente vazia.

As autoras distinguiram uma conversação rica, com diversas perguntas, ideias, sugestões e propostas de ações, cujos conteúdos estão sintetizados na Figura I, adiante.

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Ao final, a Coordenadora agradeceu a participação de todos, propondo-se a enviar-lhes um relato/resumo das conversações e, para encerrar este Encontro Conversacional, solicitou: “Gostaria que cada um compartilhasse, numa palavra, como foi o Encontro para você”, tendo obtido as seguintes respostas: gratificante, especial, união, desafiador, valeu a pena, novas perspectivas, alternativas, provocativo, construtivo, possibilidades. A Coordenadora terminou, então, deixando ao sistema a pergunta: “O que cada um de nós gostaria ou poderia ainda fazer a partir de agora?”

2º Encontro Conversacional

Dando continuidade às conversações iniciadas no 7º CBS – 2011, em Franca–SP, aconteceu em Poços de Caldas–MG, por ocasião do 8º CBS - 2012, o 2º Encontro Conversacional sobre o desenvolvimento do Movimento de Sistemas no Brasil.

O artigo/relatório sobre o 1º Encontro Conversacional, intitulado “Pensando Conjuntamente o Desenvolvimento do Movimento de Sistemas no Brasil”, foi encaminhado à Comissão Organizadora do 8º CBS, e também, via e-mail, a todos que participaram das conversações no 7º CBS, convidando-os a continuarem participando das mesmas. Devido ao empenho das autoras em preservar a continuidade das conversações, a Comissão Organizadora do 8º CBS decidiu garantir um espaço, em plenária, ao final do Congresso, para que se pudesse dar sequência às conversações iniciadas no 7º CBS.

Devido à exiguidade do tempo reservado, a Professora contextualizou muito rapidamente para os presentes a atividade que iria acontecer ali. Esse 2º Encontro Conversacional também foi coordenado pela mesma Especialista em Atendimento Sistêmico que coordenou o 1º Encontro e teve como observador/relator outro pós-graduando do Grupo de Sistemas da FEA-RP/USP.

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Diante do convite a quem quisesse participar das conversações, o sistema se constituiu com 11 congressistas que se sentaram no círculo, sendo que alguns deles já haviam participado do 1º Encontro e outros participavam pela primeira vez. Além disso, um congressista, identificando-se também com a situação-problema que estava sendo abordada, participou mesmo sem sair de seu lugar na plateia.

Já apresentando em cartazes uma síntese das principais ideias e propostas de ação que emergiram no 1º Encontro Conversacional, a Coordenadora propôs o início do 2º Encontro Conversacional. Nesse Encontro, as conversações partiram do conteúdo desses cartazes, que estavam disponíveis no centro do círculo, e possibilitaram emergir novas ideias e propostas de ações.

Apesar dos fatores desfavoráveis à realização do 2º Encontro Conversacional – a saber, a sua não inserção no programa divulgado e nem no CD com os artigos apresentados no 8º CBS, a falta de divulgação adequada do mesmo e o reduzido tempo destinado à sua realização – as autoras consideraram que ele foi bem sucedido, uma vez que as conversações viabilizaram a emergência de algumas sugestões e propostas de ação – sintetizadas na Figura II – com relação à situação-problema que vem motivando essas conversações. Ao final, a Coordenadora deixou novamente a pergunta: “O que cada um de nós gostaria ou poderia ainda fazer a partir de agora?”

3º Encontro Conversacional

A encarregada de presidir a Comissão Organizadora do 9º CBS, em Palmas – TO, Juliana Mariano Alves, tendo tido notícia dos Encontros Conversacionais que aconteceram nos dois Congressos anteriores, solicitou-nos os relatórios dos mesmos.

Foram então enviados a ela, bem como a todos os participantes dos dois Encontros anteriores, os dois artigos: “Pensando conjuntamente o desenvolvimento do Movimento de

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Sistemas no Brasil - 1º Encontro Conversacional” e “Continuando a pensar conjuntamente sobre o desenvolvimento do Movimento de Sistemas no Brasil - 2º Encontro Conversacional”.

Na programação do 9º CBS, que aconteceu em Palmas – TO, 22-24 out 2013, foi reservado um espaço, no segundo dia do Congresso, de 16 às 18h, intitulado “Conversas Sistêmicas”, sob coordenação da Professora. De início, a Professora propôs uma ampliação do rótulo do espaço que lhe foi reservado, de “Conversas Sistêmicas” para “Conversas sobre Conversas Sistêmicas”.

Em seguida, considerando o tema do 9º CBS, “Pensar a compreensão de sistemas”, começou compartilhando a sua própria compreensão de sistemas, apontando a multiplicidade atual de usos da noção de sistemas, alguns usos ainda muito reificantes (coisificantes) e outros já refletindo uma concepção sistêmica novo-paradigmática ou de 2ª Ordem.

Ressaltou que, segundo essa concepção sistêmica novo-paradigmática, nenhum método, técnica, instrumento, índice, modelo ou prática é sistêmico em si mesmo eque quem é sistêmico é o profissional e é ele quem pode distinguir sistemas e agir de modo que ele mesmo ou outros podem distinguir e adjetivar como sistêmico.

Tomando como seu foco de interesse os sistemas sociais humanos, apresentou as principais ideias contidas em seu texto “Sobre seres humanos e sistemas sociais humanos” (Esteves de Vasconcellos, 2010c), as quais estão conforme Maturana e Varela (1980) e Maturana e Rezepka (2000).

Partindo dessas ideias, a Professora se propôs um exercício de distinguir o CBS como um sistema social. Considerou que Maturana (1988) define sistema socialivcomo o tipo de sistema humano em que nosso linguajar se entrelaça com a emoção de aceitação do outro como legítimo em nosso espaço de convivência, proporcionando uma convivência prazerosa.

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Levantou então como hipótese: será que não temos nos reunido em nossos CBSs pelo prazer de conviver e pelo desejo de manter esse espaço de convivência e troca no nosso sistema CBS?

Lembrou então que, mesmo em sistemas desse tipo – a família, por exemplo –, podem acontecer divergências, conflitos, insatisfações, situações que costumam ser identificadas como crises do sistema, em que seus membros consideram que algo não está como deveria ou como gostariam que estivesse. Nessas situações, o sistema costuma pedir ajuda ou seus membros percebem que precisam conversar para construírem, juntos, o melhor encaminhamento dessas situações, de modo a evitar que o sistema se desintegre e viabilizar a continuidade das conversações prazerosas.

Nesses casos, distingue-se outro tipo de sistema, que tem sido denominado de sistema constituído em torno da situação-problema (Sistema Determinado pelo Problema – SDP). E tem-se utilizado a Metodologia de Atendimento Sistêmico.

Considerando a presença, neste 9º CBS, de muitas pessoas que não estiveram nos Congressos anteriores, a Professora compartilhou sua própria narrativa sobre algumas conversas que aconteceram no 1º e no 2º Encontros Conversacionais e apresentou alguns quadros com as ideias/propostas que emergiram naquelas conversações.

Feito isso, ela colocou, para todos os presentes, a pergunta: “Faz sentido para vocês continuarmos a refletir e conversar sobre o desenvolvimento do Movimento de Sistemas no Brasil e construir juntos propostas para os próximos Congressos?" Informou haver duas Especialistas em Atendimento Sistêmico disponíveis para coordenar e cocoordenar as conversações e o pós-graduando que registrou o 1º Encontro também disponível para registrá-las. Muitos dos presentes manifestaram então interesse em continuar conversando.

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Finalizando sua fala, a Professora, lembrando que existe uma revolução científica em curso, citou von Glasersfeld (1991, p. 18) que, no artigo “Adeus à objetividade”, disse: “das revoluções científicas (...) ocorridas no decorrer dos últimos cem anos, até hoje, somente poucos tomaram plena consciência de toda sua extensão...”

E deixou um convite à reflexão: “Sou um dentre os poucos que estão tendo oportunidade de refletir sobre a extensão do processo de revolução científica que está em curso... que vou fazer dessa oportunidade?... vou me engajar como revolucionário... COMO?”

Assumindo então a Coordenação do 3º Encontro Conversacional, a Coordenadora convidou a que se sentassem no círculo todos os interessados em participar das conversações sobre novas ideias/propostas sobre o desenvolvimento do Movimento de Sistemas e – de como os CBSs vêm se constituindo.

Conforme os registros do relator, 33 congressistas participaram do 3º Encontro Conversacional, em cujas conversações eles próprios distinguiram avanços no Movimento de Sistemas no Brasil e nos CBSs e enfatizaram que ideias surgidas nos Encontros anteriores vêm se tornando realidades.

Considerando que essas falas sugerem um processo de mudança qualitativa no planejamento e realização dos nossos Congressos ao longo desse tempo, pode-se relacionar alguns desses avanços a questões que foram objeto de conversações nos Encontros anteriores, como se verá na Figura III.

Além disso, distinguem-se também, no registro do 3º Encontro Conversacional, diversas outras sugestões, perguntas, questões colocadas pelos participantes, as quais foram agrupadas e apresentadas na Figura IV, adiante.

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O artigo/relatório desse 3º Encontro Conversacional, intitulado “Continuando as conversações sobre o Movimento de Sistemas no Brasil e já distinguindo efeitos do 1º e 2º Encontros Conversacionais - 3º Encontro Conversacional”, foi encaminhado a todos os participantes dos três Encontros Conversacionais.

Distinguindo ideias / propostas de ações que emergiram nos Encontros Conversacionais

Os principais conteúdos distinguidos pelas autoras nos registros das conversações, feitos pelos relatores, estão apresentados nas figuras abaixo.

Figura I

Ideias/propostas de ação que emergiram no 1º. Encontro Conversacional

1- Quanto ao desenvolvimento dos próximos Congressos: • Repensar a divulgação do Congresso

• Localizar e convidar mais pessoas interessadas, de diferentes áreas do conhecimento • Identificar e convidar representantes das “diferentes tradições do pensamento sistêmico” • Fazer parcerias com instituições

• Pensar em formas de angariar recursos

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2- Quanto ao formato dos Congressos:

• Oferecer minicursos para profissionais interessados em atualização • Incluir mais palestras / plenárias

• Promover “mesas de conversação” entre especialistas, a partir de uma pergunta ou questão polêmica

Figura II

Ideias/propostas de ação que emergiram no 2º Encontro Conversacional

1- Quanto a ações já realizadas para ampliar âmbito de influência do CBS:

• Mobilização de 10 alunos de graduação da Uni-FACEF, presentes a este 8º CBS • Apresentação, nesse 8º CBS, de 7 artigos de pós-graduandos da FEA-USP/RP

2– Quanto à continuidade dessas reflexões/conversações:

• Aplicar ao próprio “grupo” a Metodologia dos Sistemas Viáveis - VSM, que muitos utilizam com outros grupos

• Realizar o Encontro Conversacional antes do CBS e manter essa oportunidade de reflexão do “grupo” sobre seu próprio processo de desenvolvimento

• Divulgar esses Encontros Conversacionais e incentivar uma maior participação neles

3- Quanto a ações a serem desenvolvidas para os próximos CBSs:

• Continuar incentivando a participação dos alunos, arregimentando alunos, criando-se grupos de estudo e ressaltando a oportunidade para troca de experiências nos CBSs

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empresarial, repensando-se, para isso a “linguagem do congresso”

• Divulgar o CBS para todas as áreas/disciplinas do conhecimento para as quais o conhecimento de sistemas possa ser relevante, ampliar a interdisciplinaridade característica do CBS

• Oferecer minicursos sobre sistemas, como atividade pré-congresso

• Repensar sobre o CBS: o tempo de duração; dias diferentes para públicos diferentes; Organizadores de um CBS se responsabilizarem por compartilhar informações com os organizadores do próximo

• Cuidar da divulgação do CBS, pensar em multiplicadores

• Usar meios virtuais de comunicação, e-mails regulares para os participantes já vinculados

Figura III

Mudanças distinguidas pelos participantes do 3º Encontro Conversacional, relacionadas às ideias/propostas anteriormente sugeridas

Ideias/propostas de ação sugeridas no 1º e 2º Encontros Conversacionais

Mudanças percebidas no 9º CBS, pelos participantes do 3º Enc. Conversacional 1. Repensar o tempo de duração do

Congresso

2. Não deixar o Encontro para o último momento do CBS, como aconteceu no 7º e no 8º CBS

3. Oferecer minicursos durante o Congresso

4. Repensar a distribuição de participantes pelas salas (desestimulante apresentar para plateia reduzida)

5. Pensar mais espaços de discussão (momentos de troca são fundamentais), mesas sobre questões polêmicas, debates entre ideias que se opõem, explorar/ fortalecer vínculos existentes

6. Ampliar a diversidade de

áreas/disciplinas do conhecimento; mais tradições do Pensamento

1. O CBS passou de 2 para 3 dias e saiu da 6a-feira

2. O Encontro aconteceu no 2º dia do Congresso

3. Aconteceu minicurso pré-congresso, aberto ao público sobre Pensamento Sistêmico

4. Reduziu-se o número de salas simultâneas, mais participantes em cada uma, mais tempo para cada apresentação

5. Aconteceram mais plenárias, discussões mais ricas, maior participação da plateia, maior vinculação dos congressistas à programação do CBS

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Sistêmico (correntes, metodologias)

7. Envolver a comunidade profissional, além da academia

áreas/disciplinas; houve maior

número de participantes e

participantes novos (não só da comunidade acadêmica que sediou o CBS)

7. Participaram profissionais não diretamente ligados à academia

Figura IV

Sugestões/perguntas/questões que emergiram no 3º Encontro Conversacional

1-Com relação à ampliação da divulgação e consequente participação: • O que motiva as pessoas a virem ao Congresso?

• Que dificuldades as pessoas têm para participar? • Como as pessoas ficam sabendo do Congresso? • Que outros eventos poderiam concorrer com o CBS?

• O nome do Congresso seria ambíguo? O que as pessoas entendem por sistemas? • Como divulgar o Congresso nas instituições públicas ou privadas?no meio empresarial? • Como cada um poderia participar ativamente da divulgação?

• Como as Comissões Organizadoras poderiam se abrir a sugestões de temas/assuntos importantes para discussão?

• Como lidar com os vieses decorrentes da área/disciplina da Comissão Organizadora? • Como divulgar minicursos/pré-congresso, como forma de divulgação do CBS?

2-Com relação ao propósito do CBS:

• Como criar espaços de construção conjunta de conhecimento? • Como viabilizar trabalhos conjuntos?

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• Como mobilizar o interesse pelo pensamento sistêmico? Realizando eventos regionais? Sugerindo leituras?

• Como viabilizar fórum de discussões pela Internet (lembrando que o que foi criado após o 8º CBS não se sustentou)?

3- Com relação a uma possível amplificação dos ganhos do Congresso

• Como vincular os sucessivos Congressos, para não serem eventos isolados, mas efetivamente parte de um “movimento”?

• Poderia haver um site para o Movimento de Sistemas no Brasil e não um site para cada CBS? • Que seria necessário para se conseguir essa vinculação entre os sucessivos CBS?

Refletindo sobre o desenvolvimento das conversações, seus efeitos e seus possíveis desdobramentos

Na experiência aqui relatada, de utilização da Metodologia de Atendimento Sistêmico, alcançou-se o objetivo proposto – de coconstruir soluções para a situação-problema distinguida pelos participantes dos CBSs –, apesar de algumas condições da aplicação da Metodologia terem sido diferentes daquelas geralmente presentes em outras experiências.

A primeira diferença que se pode distinguir refere-se ao intervalo entre os Encontros Conversacionais do sistema em torno da situação-problema, que em geral costuma ser de duas a quatro semanas, enquanto aqui se teve um ano de intervalo entre os sucessivos Encontros. Além disso, ao enviar aos participantes de cada Encontro o(s) Relatório(s) do(s) Encontro(s) anterior(es), as autoras também tiveram um comportamento não-usual no uso da Metodologia, intensificando a diferença relativa ao intervalo entre os Encontros.

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Uma segunda diferença refere-se à duração dos Encontros Conversacionais que costuma ser de 3h cada um, enquanto aqui, os Encontros tiveram durações variando entre 45min e 2 horas, o que, em todos os três, parece ter deixado uma sensação de que o sistema precisava de mais tempo para a conversação. De fato, com uma duração maior o “processo da rede” teria se desenvolvido com outras fases fundamentais, tais como a polarização e a mobilização, até chegar à abertura para a ação autônoma e a ultrapassagem da situação-problema (Esteves de Vasconcellos, 2010d), tudo isso contando com uma eficiente atuação da Coordenadora.

Outra diferença que se pode distinguir relaciona-se à forma de constituição do SDP. Em geral, o sistema tende a contar com pessoas que, por suas posições de origem, detêm poder de decisão em relação à situação-problema que motiva a constituição do SDP. No caso em pauta, seria interessante que estivessem participando das conversações as pessoas que seriam encarregadas de organizar o próximo CBS, o que poderia ter contribuído para viabilizar o encaminhamento das ações referentes às propostas surgidas nas conversações. Entretanto, neste caso, nem o 1º nem o 2º Encontros contaram com essas pessoas-chave entre seus participantes. Note-se, entretanto, que, como se descreveu acima, a Presidente do 9º CBS, mesmo sem ter participado do 2º Encontro Conversacional, procurou se inteirar do processo em curso e, além de viabilizar o 3º Encontro Conversacional, colocou em prática muitas propostas de ações sugeridas no 1º e 2º Encontros, tais como: passou de dois para três dias a duração do Congresso, realizando-o de terça a quinta-feira; ofereceu à comunidade acadêmica e demais interessados um minicurso pré-congresso sobre pensamento sistêmico; repensou a distribuição dos participantes pelas salas etc.

Ainda com relação a diferenças, destaca-se a variação nos componentes do sistema, de um para outro Encontro Conversacional, devida naturalmente à participação, em cada Encontro, dos congressistas residentes na região em que se realiza cada Congresso. A entrada

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e saída de componentes – que no caso aqui relatado se manifestou de modo mais intenso – faz parte das características desse tipo de sistema e tende a não prejudicar o seu funcionamento. Ao contrário, neste caso, as autoras distinguem que isso tem viabilizado rica oportunidade de estabelecimento de novos vínculos entre participantes e ampliação do sistema CBS.

Apesar dessas diferenças, as autoras distinguem nessa experiência, efeitos usuais da aplicação da Metodologia de Atendimento Sistêmico. Os quadros acima apresentados evidenciam que a aplicação da Metodologia desencadeou mudanças que foram percebidas pelos participantes dos Encontros Conversacionais como avanços importantes na forma de realizarem seus congressos. Além disso, os registros do 3º Encontro mostram que alguns participantes compartilharam vivências que experimentaram durante o processo, tais como, surpresa, satisfação, curiosidade, conforto, proximidade, interesse, insegurança, lembrando ainda que, ao final do 1º Encontro, os componentes do sistema usaram, para falar de sua experiência, as palavras: gratificante, especial, união, desafiador, valeu a pena, novas perspectivas, alternativas, provocativo, construtivo, possibilidades...

A Metodologia de Atendimento Sistêmico, como já se apontou, é uma prática sistêmica novo-paradigmática, consistente com o pensamento sistêmico novo-paradigmático (de 2ª Ordem), fundamentada em teoria sistêmica também novo-paradigmática. Portanto, cabe-nos explicitar como as autoras compreendem teoricamente o processo sistêmico aqui descrito. Nos Encontros Conversacionais, pode-se distinguir um sistema que conversa sobre suas próprias conversas, sobre suas próprias relações. Viu-se que os membros do sistema não conversaram sobre conteúdos típicos de sessões de congressos, tais como, por exemplo, aplicabilidade da metodologia X, resultados obtidos numa experiência Y, etc. Conversaram antes sobre suas próprias relações na realização dos Congressos, em busca do melhor desenvolvimento deles, por exemplo, sobre as relações dos participantes com as Comissões

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Organizadoras e sobre a implicação de cada um na promoção de Congressos que sejam efetivamente de todos e não apenas de alguns.

Hoje está disponível uma Teoria Geral dos Sistemas Autônomos (Esteves-Vasconcellos, 2013), que nos oferece um quadro conceitual sistêmico novo-paradigmático articulado para a compreensão e descrição dos processos que acontecem nos trabalhos com sistemas amplos, redes sociais, comunidades, famílias, etc.

De acordo com essa teoria, pode-se distinguir o sistema linguístico que se constitui em torno da situação-problema, o SDP, como um sistema autônomo no domínio social humano, sendo um sistema autônomo definido como um sistema organizado como uma rede recursiva de interações entre elementos os quais, por intermédio dessas interações, transformam constantemente a maneira pela qual participam dessa mesma rede de interações. Trata-se de um sistema que constrói e reconstrói recursivamente sua forma de funcionamento.

Os trabalhos com a rede social em torno de uma situação problema, ou seja, com o SDP, quando bem sucedidos, promovem uma mudança especial, na qualidade da interação entre seus elementos, e observadores podem distinguir nessas novas conversações, um sistema chamado por Esteves-Vasconcellos (2013) de sistema de interconstituição de 2ª Ordem. Segundo o autor da Teoria Geral dos Sistemas Autônomos, a “interconstituição de segunda ordem são as conversações por intermédio das quais as pessoas se constituem reciprocamente como legítimas interlocutoras sobre suas próprias relações com base exclusivamente na condição de que estão envolvidas nas relações sobre as quais elas conversam.” (Esteves-Vasconcellos, 2014, p.16).

Nos sistemas em torno de uma situação-problema, as pessoas, ao virem constituí-lo, em geral ocupam posições fixas em relação à situação-problema identificada. Algumas estão na posição de decidir o que fazer em relação à situação-problema, outras na posição de planejar como isso será feito, outras ainda na posição de executar o que foi planejado e

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decido e, finalmente, há ainda aquelas a quem cabe receber a “solução” decidida, planejada e executada pelas demais (Esteves-Vasconcellos, 2014).

Nos sistemas sociais de interconstituição de segunda ordem – que surgem do trabalho sistêmico – também podem ser distinguidas tais posições. A diferença está em que, no sistema de interconstituição de segunda ordem: 1) estas posições não são fixas, mas há alternância entre as pessoas que ocupam, a cada momento, essas posições; 2) a definição de quem ocupa cada posição, a cada momento, não é tomada por nenhuma pessoa ou instituição (nem mesmo pelo profissional sistêmico), mas por todos os componentes do sistema em conjunto. (Esteves-Vasconcellos, 2014, p.17).

Nos Encontros Conversacionais aqui relatados, viu-se um sistema que, uma vez constituído, conversava na emoção do respeito mútuo, funcionando como um sistema autônomo, de interconstituição de 2ª Ordem, e mostrava iniciativas não só na proposição de ações, como no encaminhamento das mesmas, reconhecendo e assumindo como sua a responsabilidade das decisões sobre o modelo de Congresso por ele desejado.

Enfim, as autoras querem compartilhar sua convicção de como pode valer a pena criar espaços de conversação em que, quebrando-se o modelo tradicional de um que sabe falando para os que não sabem, podem-se criar ricos espaços para trocas de experiências, em que se desenvolvem conexões e possibilidades de apoio mútuo, reforçando-se a crença de que conversações podem possibilitar (e estão de fato possibilitando) as mudanças desejadas pelo sistema. Afinal, foi essa convicção que esteve na base da decisão que deu origem a todo esse processo – a de abrir mão de um “espaço de Conferência”, em favor de um “espaço de conversações”.

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i Note-se que aqui, como se verá adiante, utiliza-se “contexto de autonomia”, no sentido que lhe dá Aun (1996), sentido que não corresponde ao de “sistema autônomo”, na Teoria Geral dos Sistemas Autônomos (Esteves-Vasconcellos, 2013).  

ii  Ao coordenarem reuniões de “redes familiares” Speck e Attneave (1973), identificaram um processo de grupo que descreveram como uma sequência de fases que denominaram de “processo da rede”.  

iii  Note-se que aqui se está utilizando rede social como equivalente de sistema social e, por isso, falando de rede social em torno da situação-problema.  

ivLembrando que Maturana (1988) distingue sistema social de outros tipos de sistemas humanos: o sistema de trabalho, o sistema de poder etc, em que são outras as emoções que se pode distinguir entrelaçadas com o linguajar.

As autoras agradecem a valiosa colaboração de Lucas Sciencia do Prado e de Marcelo Marcos Franco, pós-graduandos na FEA-RP/SP, que, atuaram como relatores dos Encontros Conversacionais do SDP, fornecendo às autoras os registros que lhes permitiram descrever como se desenvolveu o processo de conversações, relatado neste artigo.

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