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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Psicologia

BULLYING:

IDENTIFICANDO E ENFRENTANDO O PROBLEMA.

Marina Stevens Beeby

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Psicologia

BULLYING:

IDENTIFICANDO E ENFRENTANDO O PROBLEMA.

Marina Stevens Beeby

Trabalho de conclusão de curso como exigência parcial para

graduação no curso de Psicologia, sob orientação da Profa. Dra. Marilda Pierro de Oliveira Ribeiro

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Agradecimentos

Existe etapa de maior percepção de encerramento de TCC do que escrever os agradecimentos? Esta é a etapa em que se para e pensa sobre todo o processo. Desde aquele primeiro dia que você não sabia o que fazer e nem por onde começar, até agora em que se olha para o trabalho todo: consegui.

Primeiro começarei com a definição do tema. Gostaria de agradecer meu supervisor de seminários Sidney e as pessoas da supervisão que despertaram o tema em mim. Agradeço a Isadora e ao professor Antônio Carlos pelo material encaminhado. Se não fosse por vocês, não saberia por onde começar a pesquisa.

Gostaria de agradecer também a todas as escolas que participaram do trabalho. Sem a ajuda de vocês não existiria minha pesquisa. Espero que tenha conseguido demonstrar o verdadeiro espírito das instituições.

Agora, num âmbito mais pessoal, quero agradecer muito, mas muito mesmo à minha mãe. Você foi a minha rocha! Simplesmente a pessoa que mais segurou as pontas e me ajudou nos desafios encontrados no decorrer desse ano. Não tenho palavras para explicar o que significou pra mim todo o seu apoio e carinho.

Também quero agradecer à minha família. Minha irmã, que embora me deixe mais estressada do que já estava, sei que quer o meu bem. Minha prima, que sempre me ajuda a relaxar quando começo a “pirar” demais. Luciana, Lucia, Marcos e Déia, minha família adotiva. Sempre recebi muito acolhimento de vocês e agradeço muito por isso. Há muitos outros familiares importantes que deveria citar, porém acho que deixarei para fazer os agradecimentos pessoalmente. Por favor não se sintam esquecidos porque amo todos vocês.

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amigos do basquete, amigos da escola, amigos dos caminhos da vida. Vocês sabem que são e porque estão sendo lembrados agora.

Agradeço também à Mônica por ter aceitado tão prontamente o pedido de ser minha parecerista. Adorei a sua reação imediata de topar ler e participar dessa etapa final do processo. Obrigada.

E agora por último e não menos importante, mas para fechar com chave de ouro... Marilda. Difícil escrever. Foram tantas coisas durante esse ano. Entre crises, progressos, indecisões, correrias, uma verdadeira montanha-russa. Agradeço pela paciência, pelo comprometimento e principalmente pela disponibilidade. Não é que acabei ?!?!

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Área de conhecimento: Relações interpessoais – 7.07.05.01-1 Bullying: identificando e enfrentando o problema

Marina Stevens Beeby

Orientador: Profa. Dra. Marilda Pierro de Oliveira Ribeiro Palavras – chave: bullying; relações na escola; educação.

Resumo:

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Abstract:

This paper aims at verifying what schools in general have been doing in order to identify and deal with the bullying issue. According to Lopes Neto (2005, page 165), “Bullying involves all agressive attitudes, intentional and repeated, which occur without any apparent reason, adopted by one or several students against another collegue(s), causing pain and anguish, therefore bein carried out in a relation of unequal power”. To write this paper, I have started researching references to the topic to better get to know what this is and what it implies. I have noticed that all definitions found were similar, however, how to identify this phenomenon appeared to be difficult and complex. After the research, I started collecting data in several educational institutions in São Paulo where I interviewed coordinators and councillor of a total of 5 schools, 1 public and 4 private. All the information obtained showed that all schools are aware of the problem in one way or another, and have a policy of trying to reduce its occurence. Allthough schoolls have this awareness, it is still a challenge to efficiently discover these agressions. When concluding this work it was clear to me that bullying is a serious problem that can`t be ignored. Schools that are prepared to deal with this issue and act daily towards its prevention are on the right path to improoving human relations on the school grounds. Education is a big challenge and a very important stage in any person’s life, and bullying can transform this into a negative experience for any human being. My work comes as a new way to make readers aware of this phenomenon.

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Sumário

1- Introdução 10

1.1- Manifestações do bullying 14

1.2- Histórico 15

1.3- Tipos de envolvimento com o bullying 16

1.3.1 - Autores/Agressores 18

1.3.2 - Alvos/Vitimas 19

1.3.3 - Alvos/Autores 20

1.3.4 - Testemunhas/Espectadores 21

1.4- Conseqüências dos bullying 22

1.5- Como lidar com o bullying 23

1.6- O bullying e a Internet 26

2- Objetivo 28

2.1- Metodologia 28

2.2- Características das instituições 29

2.3- Procedimentos das entrevistas 30

3- Resultados 31

3.1- Principais características da instituição na visão dos entrevistados 31

3.2- Preocupações atuais 34

3.3- Concepção de bullying 36

3.4- Identificação de bullying 38

3.5- Casos ocorridos e medidas tomadas 40

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4- Discussão 46 5- Referências bibliográficas e sites consultados 58

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1- Introdução:

Entre os assuntos importantes que nos aparecem referentes à saúde pública, a violência tem demandado atenção pelo seu caráter crescente de incidência, com suas conseqüências significativas, tanto no âmbito individual como também no social, particularmente para os jovens, que cada vez mais morrem e se matam devido a situações violentas (Lopes Neto, 2005).

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Muitas pessoas podem afirmar serem contra a agressão, porém por estarem inseridas em um contexto violento, passam a se voltar para a violência como uma solução para determinados problemas, simplesmente porque há bloqueios culturais que o impedem de pensar em outra alternativa.

Além da influência da nossa cultura nas nossas escolhas por atos violentos, devemos refletir sobre algumas práticas educativas que também influenciam na violência e no desrespeito. Exemplo disso é a competição como motivador educacional para tentar melhorar o desempenho dos alunos. Isso faz com que os alunos se concentrem apenas em si mesmos, não se importando com a comunidade em que estão inseridos. Para alcançar um objetivo, os alunos passam por cima dos outros, acreditando que o fim justifica os meios. Toda essa competitividade faz com que o compartilhar e o cooperar com os outros sejam opções menos atraentes de aprendizado e dedicação a esse processo, do que uma competição. A descoberta de um conhecimento novo passa a ser desvalorizado e a nota é o mais importante. Também é freqüente nesse quadro o aumento de conflitos entre os alunos, além dos comentários maldosos. Todo esse enfoque na competição faz com que os ganhos tragam status para o vencedor e a avaliação (feita por outros e por si mesmo) passa a ser fator de grande influência. Toda essa situação leva a uma falta de vínculos, um estresse excessivo e a uma frustração inevitável (Taylor e Beaudoin, 2006).

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No ambiente escolar não é incomum ouvirmos falar sobre violência. Para Abramovay e Rua (2002) podemos categorizar a violência em 3 categorias principais. A primeira categoria engloba a violência contra a pessoa, estando nesta categoria ameaças, brigas, violência sexual, com uso de armas, e outros (ferimentos graves e morte). A segunda categoria se refere à violência contra a propriedade e nessa categoria estão roubos, furtos e assaltos. E a terceira categoria abrange a violência contra um patrimônio. No ambiente escolar, o tipo de violência mais comum é do tipo físico, onde há um contato. Muitas vezes, a violência dentro da escola pode ser conseqüência de algo externo à ela, como por exemplo, questões de classe social. Também é muito comum o ato violento acontecer nos arredores da escola, porém proveniente de algo que ocorreu em seu espaço.

Uma das subcategorias relacionadas à violência escolar, refere-se ao bullying. Bullying é uma palavra da língua inglesa que se refere a um “desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão, termo que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, utilizada pela literatura anglo-saxônica nos estudos sobre o problema de violência escolar” (Fante, 2005, pág 27). Por ser uma palavra com difícil tradução para outras línguas, tem sido usada como termo oficial do ato. Outras palavras também são utilizadas para se referir ao bullying, como por exemplo provocação/vitimação e intimidação, porém, nenhuma das duas consegue abranger tudo a que bullying se refere.

Quando falamos sobre BULLYING, estamos , de acordo com Olweus falando que “um aluno está a ser provocado/vitimado quando ele ou ela está exposto, repetidamente e ao longo do tempo, a ações negativas da parte de uma ou mais pessoas” (Olweus, 1991, 1993, 1994, apud Carvalhosa, Lima e Matos 2002, pág 1) . Essa ação negativa pode ser considerada como qualquer situação em que uma pessoa tente causar danos ou mal-estar a outro, sendo que este outro não é capaz de se defender, nem de motivar pessoas a ajudá-lo.

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por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder”. Lopes Neto traz um fator importante que é justamente o aspecto do bullying que se refere a esses atos como uma forma de afirmação de poder. Ou seja, para qualquer ato de violência ou de agressão ser considerado bullying deve haver uma diferença de poder entre o autor e o alvo. Essa diferença pode estar relacionada à diferença de idade, de tamanho, de desenvolvimento físico, de desenvolvimento emocional, ou simplesmente por ter um maior apoio dos outros estudantes.

As autoras Carvalhosa, Lima e Matos (2002) trazem em sua pesquisa, três critérios fundamentais para que a ação seja considerada bullying. Em primeiro lugar, a ação tem o objetivo de causar mal-estar a alguém e é também para se conseguir controlar esse alguém. Em segundo lugar, acontece de forma crônica e regular. Em terceiro lugar, os agressores, consideram suas vitimas como “um alvo fácil”, devido a diferença de poder encontrada nessa relação. As autoras também acreditam que para uma ação ser considerada bullying deve haver a diferença de poder na relação.

Martins (2005) completa dizendo que o bullying é praticado porque a partir das ações agressivas, o autor sempre recebe algum tipo de gratificação, seja ela psicológica, seja status, ou seja ganhos de objetos e dinheiro.

Fante (2005) afirma que um dos fatores que levam ao bullying é o fato de já ser comum, em uma sala de aula, haver tensões e conflitos entre os alunos. Essas tensões facilitam o surgimento de situações agressivas. Também afirma que é inegável a sua presença nas escolas, sejam elas particulares ou públicas, grandes ou pequenas, de cidades grandes ou cidades menores, séries iniciais ou finais.

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cultural, a sua experiência de vida, a leva a agir de modo violento. A agressão se torna uma solução para resolver conflitos.

Nenhuma dessas definições deve ser excluída quando pensamos o bullying. Juntas, elas apresentam tudo a que a definição de bullying implica, como por exemplo a obtenção de ganhos pelo agressor e o alvo se sentir mal com as ações. É interessante perceber que a questão do poder é trazida por esses autores como fator fundamental para a violência ser considerada bullying. Não é considerado bullying quando duas crianças de mesma idade, mesma altura e mesmo desenvolvimento brigam. Isso porque não envolveria nesse caso a diferença de poder.

1.1- Manifestações do bullying

Algumas ações podem estar presentes quando falamos de bullying. Entre elas encontramos: ofender; “zoar”; humilhar; fazer sofrer; discriminar; excluir; isolar; assediar; dominar; agredir; ferir; roubar; quebrar pertences; entre outras. Todos os autores consultados trazem uma classificação das ações envolvidas.

Para Martins (2005), o bullying pode ser:

- Direto e físico, incluindo assim o bater, o ameaçar e o roubar. - Direto e verbal, que diz respeito aos insultos e gozações.

- Indireto, manifestando-se através da exclusão do outro e das fofocas.

Na pesquisa de Carvalhos, Lima e Matos (2002), elas concluem que o bullying pode ser físico, verbal, psicológico e /ou sexual.

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1.2- Histórico

De acordo com a ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e a Adolescência), apenas recentemente começou-se a falar sobre o bullying. As pesquisas começaram a se destacar apenas a partir de 1990. As pesquisas sobre o assunto surgiram na Noruega, através dos trabalhos do professor Dan Olweus, na Universidade de Bergen, entre 1978 a 1993. Depois, em 1993, na Noruega, surgiu a Campanha Nacional Anti-bullying. Naquela época, acreditava-se que 1 em cada 7 alunos estava envolvido com o bullying.

Com esse primeiro trabalho de Olweus outros paises da Europa começaram a investir em conhecimentos relacionados ao bullying. Entre eles podemos afirmar Reino Unido, Portugal e Espanha. Nas campanhas desenvolvidas na Europa para conhecer e combater o bullying, alguns objetivos podem se destacados: os países queriam saber o porquê do bullying, como varia de lugar em lugar; também queriam conhecer as conseqüências a longo prazo; queriam avaliar as intervenções que vinham sendo feitas; e, por fim, queriam juntar diversos métodos e programas de prevenção para fazer um programa mais efetivo (www.bullying.com.br).

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Há alguns casos que já se tornaram de conhecimento mundial, como por exemplo Columbine, nos Estados Unidos, onde 2 alunos mataram 13 colegas, feriram dezenas de outros, e depois se mataram. De acordo com a polícia, esses alunos haviam sido vítimas de bullying. No Brasil também temos casos conhecidos como o de Edemar Freitas, que feriu 7 ex-colegas e depois se matou. Descobriu-se depois que era chamado de “gordinho” desde a infância (Veiga, 2004).

1.3- Tipos de envolvimento com o bullying

Há várias maneiras pelas quais uma pessoa pode estar envolvida no bullying. Antes de apresentar os dados levantados pelos autores pesquisados, acredito que cabe explicar um pouco sobre como os dados foram obtidos.

Uma das principais pesquisas utilizadas como fonte para o meu trabalho, foi a realizada pela ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e a Adolescência). Esses dados surgiram devido a um programa de combate ao comportamento agressivo, e seria necessário realizar um diagnóstico da situação. Participaram 11 escolas do município do Rio de Janeiro e a conscientização do problema era um dos objetivos. Foi aplicado um questionário com uma pequena explicação do bullying. Responderam crianças de 5ª a 8ª série, num total de 7757, com idades entre 10 a 20 anos. Os dados foram tabulados pelo IBOPE e análise foi feita pela coordenação do projeto.

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pesquisa própria. As informações foram colhidas de trabalhos ingleses, americanos, espanhóis, portugueses, entre outros.

Já os dados utilizados por Carvalhosa, Lima e Matos (2002) são resultado de um trabalho realizado pelas autoras. Foram aplicados questionários em 191 escolas nacionais, lembrando que a pesquisa foi realizada em Portugal. Totalizaram 6903 alunos, sendo 53% do sexo feminino e 47% do sexo masculino. Foram selecionados alunos de 6º, 8º e 10º anos e com idades médias de 11, 13 e 16 anos.

Os dados de Fante foram levantados a partir de 4 estudos que ela realizou no interior de São Paulo. O primeiro foi em Barretos, em 2000. Foi aplicado um questionário em 430 alunos de 5ª a 8ª série do ensino fundamental e 1º e 2º ano do ensino médio, de uma instituição particular. O segundo estudo em 2001 foi realizado em dois municípios do interior, em 5 escolas públicas e particulares. Nesse trabalho contou com uma amostra de 431 alunos, de 7 a 16 anos, e o principal objetivo era identificar o fenômeno e quantificar seus índices. Um terceiro estudo foi realizado em São José do Rio Preto, em 2002, numa escola publica com 450 alunos. Nessa pesquisa utilizou se de questionários que foram aplicados em professores, funcionários e alunos. O quarto trabalho foi realizado em 2003, numa cidade com cerca de 10 mil habitantes. Participaram da pesquisa 450 alunos de 5ª a 8ª série de uma escola pública.

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“O levantamento realizado pela ABRAPIA, em 2002, envolvendo 5875 estudantes de 5a a 8a séries, de onze escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de bullying.” (http://www.bullying.com.br ). Nessa mesma pesquisa, conclui-se que o bullying ocorre com maior freqüência entre alunos de 5ª e 6ª série, e que 59,8 % das vezes, ocorre dentro da sala de aula.

Para Lopes Neto (2005), embora a incidência em sala de aula seja alta, como o ato não ocorre no campo de visão dos adultos, professores e pais não conseguem perceber a gravidade do problema, e acabam não lidando com a questão porque os alunos não manifestam o que estão vivenciando.

1.3.1 - Autores / Agressores:

São aqueles que freqüentemente implicam com os outros, ou que batem, ou que lhes causam mal-estar, sem uma razão aparente. Acredita-se que há fatores individuais e fatores de estrutura familiar que interferem para que alguém se torne um autor de bullying (Carvalhos, Lima e Matos, 2002, Lopes Neto, 2005). A família tende a ser pouco afetiva, agressiva e ao mesmo tempo permissiva. Quanto a características pessoais, os autores tendem a não se relacionar bem com a escola e os estudos, aceitam a violência, são hiperativos e tem tendências a depressão (Carvalhos, Lima e Matos 2002).

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Todos esses pontos levantados quanto a características pessoais e das famílias dos autores acabam por tirar a parte que cabe à escola no surgimento do bullying. Seria importante repensar o papel da escola no surgimento da violência nesses espaços.

Há uma diferença nas definições de agressor entre Lopes Neto (2005) e Carvalhosa, Lima e Matos (2002). Lopes Neto afirma que o autor é tipicamente popular e mantêm muitos amigos que são cúmplices e co-autores de bullying, enquanto Carvalhosa, Lima e Matos afirmam que os autores são isolados, com poucos amigos. É de se questionar se o que Lopes Neto refere como “tendo muitos amigos”, não seria os alunos se aproximarem do autor de bullying, justamente para não se tornar a próxima vitima.

Acredita-se que, quanto mais cedo alguém apresenta comportamentos agressivos, mais difícil será para essa pessoa abandonar essas posturas. Ou seja, se alguém apresenta comportamentos violentos antes da puberdade, é mais provável que ele se torne um delinqüente, ou bandido, do que alguém que se envolveu com a violência após a puberdade (Lopes Neto, 2005).

Martins (2005), também afirma que comportamentos anti-sociais surgidos na infância tendem a permanecer com mais freqüência na fase adulta, do que aqueles comportamentos anti-sociais desenvolvidos na adolescência. Acredita que é possível que esses comportamentos anti-sociais sejam abandonados com a ajuda de um parceiro não-agressivo. Esses comportamentos surgiriam na vida de uma pessoa de forma diferente em cada fase de desenvolvimento. Enquanto a criança agiria agressivamente devido a questões familiares, de auto-controle e problemas neuro-cognitivos, o adolescente adotaria essas atitudes por influencia de amigos e por seguir valores não convencionais.

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É aquele aluno exposto com grande freqüência e por um tempo à ações que lhes causem mal-estar, por parte de outro (s) aluno(s). É um aluno geralmente inseguro, deprimido, com baixa sociabilidade e que sofre rejeição dos colegas, gerando nele uma aversão à escola (Carvalhosa, Lima e Matos, 2002). Segundo Lopes Neto, (2005, pág 167) “Sua auto-estima pode estar tão comprometida que acredita ser merecedor dos maus-tratos sofridos”. É um aluno com poucos amigos, não conseguindo cessar as ações sozinho, nem pedir auxilio a outros. Tem tendências a depressão e não gosta da escola. As famílias dos alvos são excessivamente protetoras, tratam o filho como uma criança e ao mesmo tempo o consideram a ovelha negra da família.

As vítimas de bullying não costumam manifestar os maus-tratos que vivenciam por vergonha, por medo de receber punições e também por não acreditar que as pessoas responsáveis pela turma como a professora, a diretora e outros funcionários do colégio possam de fato ajudar de alguma maneira. Eles apenas falam quando sentem que serão ajudados e acolhidos de fato (Lopes Neto, 2005).

A rejeição às diferenças é uma das justificativas aos atos de bullying. O agressor se utiliza das diferenças entre ele e a vítima para explicar o porque das agressões, porém, não necessariamente isso é real (Lopes Neto, 2005).

Fante (2005) categoriza as vitimas em três tipos distintos. A vítima típica, que seria a acima descrita; a vítima provocadora que atrairia reações agressivas dos outros, e não saberia como se proteger; e, a vítima agressora que será descrita a seguir.

1.3.3 - Alvos/Autores:

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acredita-se que praticam o bullying justamente para esconder essas características. Tendem a pensar em suicídio e com freqüência apresentam distúrbios psiquiátricos.

De acordo com Carvalhos, Lima e Matos (2002), a porcentagem de agressores que também são alvos é de 3%, uma quantidade significativamente menor que a de Lopes Neto. Esses alunos são os que não conseguem formar muitas amizades e geralmente não gostam da escola. Também sofrem violência em casa e rejeição pelos pais. Tendem a ser de níveis sócio-econômicos mais baixos.

Essa diferença de porcentagem encontrada nas pesquisas pode ser explicada pela localização, visto que a pesquisa de Lopes Neto foi realizada apenas no município do Rio de Janeiro, enquanto a pesquisa de Carvalhosa, Lima e Matos foi realizada em escolas nacionais de 6 distritos. Essa é a única explicação que me ocorre porque o número de alunos que responderam ao questionário é relativamente próximo e as séries pesquisadas são também parecidas, conforme mencionei anteriormente.

1.3.4 - Testemunhas / Espectadores:

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ataques, possa diminuir a freqüência desse fenômeno, porque o autor não sente o apoio necessário para manter as ações (Lopes Neto 2005, http://www.bullying.com.br ).

1.4 - Conseqüências do bullying

A violência no ambiente escolar pode gerar graves conseqüências. Ela compromete a identidade da escola como um lugar de socialização positiva e provedor de conhecimento. Os alunos podem deixar de se concentrar nos estudos devido ao nervosismo gerado pelos atos violentos, além de possivelmente pararem de freqüentar o colégio. Também pode fazer com que professores se afastem de determinadas instituições, buscando um lugar mais seguro para trabalhar (Abramovay e Rua, 2002).

De acordo com Lopes Neto (2005), devido aos atos de bullying, autores, alvos e vitimas podem enfrentar conseqüências físicas e emocionais, que podem levar a dificuldades acadêmicas, sociais, emocionais e legais. Alvos, autores e alvos/autores tendem a abusar de drogas legais e ilegais, álcool e cigarro. Também pode-se enfrentar problemas financeiros e sociais, pela necessidade de se buscar serviços diversos para auxiliar o aluno, como médicos, educadores e psicólogos.

Com as vitimas, pode se desencadear depressão e baixa auto-estima (Lopes Neto, 2005). O agressor pode permanecer com comportamentos anti-sociais ao longo da vida e perder oportunidades por falta de estabilidade, além de se envolver em condutas criminosas (Martins, 2005). Em entrevista à revista Época, o psicólogo Marco Antonio de Tomazzo afirma que: “quem é chamado de baleia ou frangueiro na infância nunca esquece” (Veiga, 2004).

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desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante orientará inconscientemente o seu comportamento, mais para evitar novos traumas do que para buscar sua auto-superação”. É preocupante pensar que algo vivenciado na infância possa afetar a vida de uma pessoa para sempre.

É importante ressaltar que as atitudes de bullying trazem sérias conseqüências para o ambiente escolar, porque os alunos deixam de se sentir seguros nos mesmos, sentindo medo e ansiedade sempre que estiverem na instituição de ensino.

1.5 - Como lidar com o bullying.

De acordo com Lopes Neto (2005), “a prevenção contra futuros incidentes pode ser obtida com orientações sobre medidas de proteção a serem adotadas: ignorar os apelidos, fazer amizades com colegas não-agressivos, evitar locais de maior risco e informar ao professor ou funcionário sobre o bullying sofrido”. Também afirma que os pais devem ser informados da questão e estimulados a procurar ajuda caso necessitem. Acredito que essa abordagem de prevenção possa ser efetiva num contexto mais micro, ou seja, de estimular um aluno. Para um contexto mais macro, como por exemplo uma escola, talvez essas ações não sejam suficientes.

Há diversas maneiras de se começar a intervir contra o bullying de forma mais voltada para a instituição, mas para isso todos devem se envolver: tanto professores, alunos, pais e funcionários, lembrando-se que uma intervenção não necessariamente serve para todas as instituições. Enquanto todos os envolvidos, diretamente e indiretamente com a instituição, não se comprometerem, os resultados não serão os mais eficientes possíveis.

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seu próprio programa, focando as suas prioridades. Por último, a cooperação de todos (professores, funcionários, pais, alunos) é fundamental para que a estratégia funcione.

Para se começar a intervir, primeiro a escola precisa ter um diagnóstico institucional. Qual é a situação daquele ambiente quando falamos em bullying. Fante (2005) traz a questão da dificuldade em se identificar o bullying, uma vez que pode ser apenas uma brincadeira para uns, e violência para outros. A partir disso, pode-se pensar em estratégias e parcerias. Lopes Neto (2005) afirma que também deve-se pensar as características sociais, econômicas e culturais dessa população.

“Os professores devem lidar e resolver efetivamente os casos de bullying, enquanto as escolas devem aperfeiçoas suas técnicas de intervenção e buscar a cooperação de outras instituições, como os centros de saúde, conselhos tutelares e redes de apoio social” (Lopes Neto, 2005, pág 170). Nesse trecho, verificamos como é importante o professor se mostrar aberto às testemunhas e vítimas para que eles se manifestem. Esse é um passo fundamental para se acabar com o bullying nas escolas. Entre as ações a serem tomadas, devemos pensar na conscientização dos grupos de que o bullying não é aceitável e de que deve haver um trabalho preventivo em relação a ele.

Precisamos conseguir reconhecer os sinais das vítimas de bullying. Entre eles encontramos: não querer ir a aula, começar a tirar notas baixas, apresentar descuido com suas coisas (perde objetos e chega com a roupa rasgada), apresenta manifestações de baixa auto-estima e evita falar sobre o que está acontecendo (Veiga, 2004).

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atitude atenta do professor pode levar os autores a perceber que não é permitido cometer tais atos agressivos e assim criar um ambiente mais adequado para o aprendizado.

Taylor e Beaudoin (2006) afirmam que para o combate ao bullying ser eficiente, deve considerar a importância do respeito, apreciação e tolerância, entre os aprendizados a serem passados para os alunos. Questões como o vínculo, a diversidade e a colaboração devem ser trabalhadas para que o programa seja eficiente. Já Fante (2005) acredita que o fundamental é que os alunos aprendam sobre tolerância e solidariedade, e que se estimule comportamentos de diálogo, respeito e cooperação. O foco estaria na cooperação e no solidarismo.

Os métodos a serem utilizados para se combaterem o bullying devem ser pensados, criticados e repensados. Deve-se usar estratégias que não excluam os autores do ambiente escolar, mas que também deixem claro a eles que as ações violentas não serão permitidas. É difícil pensar em combate a outros tipos de violência se a sociedade não conseguir erradicar essa subcategoria.

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Essas sugestões são de simples aplicação e são utilizados por instituições que já possuem programas de combate à violência.

1.6 - Bullying e a Internet

Acredito que caiba aqui, colocar um pouco a questão do bullying na era da internet. Um ponto importante que não pode ser esquecido quando falamos em bullying é a questão do cyberbullying mencionado anteriormente. O que isso implica? Implica em atos de bullying sendo cometidos com o uso da internet, ou seja, a agilidade desse meio de comunicação se torna uma imensa fonte de bullying. Para percebermos isso não é muito difícil, basta entrarmos no orkut ( www.orkut.com ) e veremos uma quantidade enorme de comunidades “tirando sarro” de alguém, ou explicitando o ódio sentido pela aquela pessoa. Se olharmos mais de perto, iremos descobrir blogs, fotologs e muitos sites sendo utilizados com o mesmo propósito: caçoar de alguém, desrespeitar alguém.

Conversando com pessoas conhecidas, tomei conhecimento de casos graves, como por exemplo jovens que criaram um site divulgando a “amiga” como garota de programa, como também casos em que uma garota que usa a senha do MSN (www.msn.com) da amiga para se passar por ela e assim praticar atos de bullying, fazendo-se passar pela amiga. As alternativas são inúmeras e as conseqüências podem ser intensificadas porque a difamação da imagem de alguém ocorre mais rapidamente e pode atingir patamares nacionais e internacionais, fazendo com que a vítima possa ser reconhecida na rua. Por outro lado, a internet também gera provas contra o autor, fazendo com que o caso seja levado ao tribunal mais facilmente.

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pessoas contando casos ou reportagens que saíram na mídia, ou mesmo campanhas contra o bullying, explicando os tipos e as conseqüências. É muita informação importante a um click do mouse. Se entrarmos em um site de buscas (www.google.com. www.terra.com.br, www.uol.com.br) e digitarmos bullying, teremos acesso a muitos sites nacionais e internacionais sobre o assunto. As explicações sobre o problema são feitas de forma clara e fáceis de serem compreendidas. Há espaço para perguntas e respostas, além de dicas para identificar. Os sites incentivam os leitores a acabar com o bullying. Entrando no site http://bullying.co.uk/, as crianças podem montar o seu pôster sobre o assunto. O pôster pode entrar para o mural do site e ser visto pelos visitantes.

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2- Objetivo:

Refletindo sobre os estudos e a conclusão encontrada na pesquisa bibliográfica realizada, me pareceu que a intervenção contra o bullying ainda está em seu começo, tanto pela falta de estudos realizados relativos ao assunto, assim como pela falta de divulgação da informação por parte da mídia. Recentemente têm sido mais freqüentes os espaços abertos para se debater o problema, porém o mesmo está longe de ser resolvido. A impressão que essa pesquisa me deixou foi a de que a informação contida nos textos pesquisados era a mesma, apenas o modo de apresentá-las era diferente. Então, será que o assunto está esgotado, ou simplesmente empacado?

Uma questão que me surgiu durante a minha busca pela informação referente ao bullying foi o quanto é difícil se identificar um aluno que sofre bullying, ou mesmo um autor de bullying. Será que a sociedade está preparada para identificar o que é considerado diversão e o que é considerado agressão? Como as escolas agem para prevenir, combater e erradicar o bullying de seus espaços? Será que elas percebem e reconhecem as agressões? Esse problema está em foco nas instituições escolares? Com o meu trabalho, tenho por objetivo pesquisar como as escolas tem percebido e lidado com o bullying, mas principalmente quais são os critérios que têm sido utilizados nas escolas para identificar o fenômeno “bullying”.

2.1 - Metodologia:

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comprometimento com a pesquisa. Também foi encaminhada a todas elas uma carta de apresentação (anexo 1). Além desses cuidados, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética da PUC-SP para aprovação, o que foi conseguido. Depois da aprovação das instituições e do Comitê, foram selecionadas cinco dessas escolas contactadas, uma escola pública, para termos um visão de como o segmento publico lida com a questão, duas escolas com base curriculares internacionais para percebermos se esse segmento esta mais preparado ou não, por ter uma base internacional, e duas escolas particulares com bases religiosas distintas, sendo uma judaica e a outra católica. As datas e horários para as entrevistas foram marcadas conforme a disponibilidade de cada uma, para assim facilitar a participação das mesmas. É importante ressaltar que em uma das instituições foram feitas duas entrevistas, com os dois coordenadores da escola, e nessa instituição, não foi possível gravar a entrevistada.

2.2- Características das instituições:

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2.3 – Procedimentos das entrevistas:

O instrumento escolhido para a pesquisa foi a entrevista semi-dirigida. Com ela, os entrevistados tinham a liberdade para falar abertamente sobre os temas que iam sendo abordados sobre a escola, sem ficarem limitados a questões fixas e pré-determinadas. Foram entrevistados os orientadores ou coordenadores pedagógicos das instituições. Antes da entrevista com os orientadores/coordenadores das escolas definitivas, foi feito um teste piloto com uma amiga da área para adaptar o questionário com o objetivo de torná-lo mais eficiente. As entrevistas foram realizadas dentro das escolas, em horário de aula, portanto pude ver as escolas em funcionamento habitual. Os entrevistados tinham salas particulares onde as entrevistas puderam ser feitas. A participação dos sujeitos entrevistados na rotina escolar me ficou muito clara porque na maioria das escolas, algum funcionário entrava na sala para perguntar algo. Para realizar as entrevistas nas instituições com base internacional, o roteiro (apresentado no anexo 2) foi traduzido para o inglês, mas apenas uma pediu para que de fato a entrevista fosse feita em inglês.

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3 - Resultados:

Para analisar os resultados da pesquisa realizada, optei por uma abordagem qualitativa, visto que apenas realizei a entrevista em cinco escolas, não obtendo assim dados suficientes para uma análise quantitativa. A vantagem da análise qualitativa é que fica possível destrinchar o que os entrevistados falaram e assim poder aproveitar todas as nuances dos seus discursos, podendo assim analisar mais profundamente o conteúdo. Para proteger a identidade das escolas, elas serão chamadas de escolas A, B, C, D e E.

Para facilitar o processo de análise, separei as entrevistas em seis pontos que considero fundamentais de serem explorados. São eles: características da instituição; preocupações atuais; concepção de bullying; identificação de bullying; casos ocorridos e medidas tomadas; e combate e prevenção na escola. É importante lembrar que as entrevistas, por serem semi-dirigidas, deram amplitude para as respostas dos entrevistados, portanto, cada um respondeu às perguntas à sua maneira, variando bastante a ênfase de cada um ao responder. Isso será percebido mais adiante na análise. As respostas remetem a como aquele entrevistado percebe a sua instituição.

3.1 - Principais características da instituição na visão dos entrevistados:

Nessa categoria se encontram o que os entrevistados consideram de importante sobre as características de sua escola. Ou seja, os educadores responderam de acordo com o que consideram as características mais importantes da instituição. É uma das categorias de maior importância por mostrar um pouco como funciona a instituição e por esse motivo detalhei ao máximo para que esse propósito fosse cumprido.

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que: “Foi melhor organizada e regrada a partir de 2005”. De acordo com ele, antes a escola não tinha organização nenhuma, resultando em pixações, brigas, drogas e roubos. Conta que as salas não tinham vidro nas janelas e nem mesmo portas. “Uma instituição não funciona sem regras”. Disse também que punições devem ser aplicadas a alunos que não cumprem as regras. Depois da troca da direção, a situação começou a mudar. Hoje em dia, a escola tem biblioteca, sala de informática, teatro grego, todos em ordem, e as salas de aula agora são bem cuidadas. A escola conta com um Conselho, que toma decisões definitivas quanto a assuntos importantes da escola. Acredita que para o desempenho dos alunos melhorar deve haver o acompanhamento dos pais de forma constante.

O entrevistado da escola B, focou mais em falar sobre quais são as metas da escola na formação dos alunos, ou seja, qual é o tipo de cidadão que a escola quer formar. Afirmou que querem que os alunos se tornem pessoas atuantes na sua sociedade e não apenas cidadãos passivos. “É uma escola que reconhece e valoriza progresso acadêmico assim como progresso pessoal”. Também é uma escola que busca perceber os potenciais dos alunos e suas dificuldades de aprendizado, visto que cada aluno tem o seu ritmo. É uma escola focada em inclusão e que se preocupa com os seus alunos, além de se preocupar com a sociedade. A escola tem base curricular internacional.

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Já o entrevistado da escola D, disse que entre as principais características da escola estão que: “É uma escola comunitária”; “É mantida por uma associação de pais”; “É uma escola da comunidade judaica”. Por ser uma escola da comunidade judaica, segue assim seus princípios éticos e morais. A associação de pais cuida da parte administrativa da escola, enquanto a parte pedagógica possui a sua independência. Embora independente, os valores judaicos norteiam o trabalho pedagógico. Os educadores se preocupam em relacionar a cultura judaica com a situação brasileira e querem que os alunos se tornem críticos, responsáveis e atuantes na sociedade.

A escola E é a escola onde foram feitas duas entrevistas para poder se ter mais dados da escola, visto que não seria possível gravar a entrevista para retomar os pontos, e assim não perder o que há de importante para a pesquisa. Os entrevistados disseram que a instituição é uma escola internacional, cujo programa segue padrões internacionais. É uma escola pequena que não tem intenção em ter grandes proporções por focar em ensino de alta qualidade, individualizado. Prepara os alunos para faculdades brasileiras e internacionais. O corpo docente é composto por brasileiros e estrangeiros. A missão da escola é passada a todos os funcionários. Essa instituição também busca tornar os alunos pessoas ativas na comunidade, tendo atitudes humanas e pensando no todo. Há um programa que envolve agir pensando no bem da sociedade que pode implicar em ações dentro e fora da mesma. A escola incentiva os alunos a buscarem o conhecimento e se preocupa em torná-los pensantes, sociais, pesquisadores, comunicativos e que consigam se conhecer e se perceber.

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harmonioso. As escolas B, D e E, se mostraram preocupadas em ensinar os jovens a se tornarem participantes da vida em sociedade. Há uma ênfase não só em questões acadêmicas, mas também em questões pessoais. São escolas preocupadas com a formação de um individuo crítico, atuante em seu meio e independente.

3.2 - Preocupações atuais

Uma outra maneira de conhecermos as escolas escolhidas é descobrindo quais são as preocupações que regem o trabalho a ser realizado. O que isso implica? Implica em saber como as escolas estão percebendo as suas dinâmicas e o que estão enfrentando. Nesse tópico as informações variaram consideravelmente porque enquanto algumas falaram de questões realmente problemáticas, outras focaram em o que elas querem desenvolver no aluno.

A escola A, está se preocupando em tornar os seus alunos letrados. “Ou seja, desenvolver neles uma capacidade de leitura fluente.” Os alunos conseguem reconhecer as letras mas não compreendem o significado do texto. O coordenador enfatizou que como as pessoas não possuem mais o hábito de ler, esta habilidade está sendo deixada de lado e substituída por tv, vídeo-game, computador e interatividades do celular, “as telinhas que se tem hoje para olhar”. Quanto mais velho o aluno, mais difícil criar o hábito de leitura. Com tudo isso, o aluno não desenvolve a sua critica e é facilmente enganado. É fundamental que os professores se tornem educadores e não apenas passem o conteúdo. Os pais têm a responsabilidade de educar eticamente os seus filhos.

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decisões, ajudar os outros e principalmente desenvolvê-los para que se tornem adultos saudáveis. “Em São Paulo as crianças são roubadas de oportunidades de serem independentes. Adultos fazem tudo por elas...queremos dar uma chance, uma oportunidade para que elas sintam o poder de serem independentes.” Há também uma preocupação com a segurança do aluno, para que assim ele possa se desenvolver tranqüilamente.

A escola C afirmou se preocupar em melhorar o respeito entre todos da instituição, desde professores, funcionários e alunos. Outra questão que surgiu foi o respeito ao material, ou seja, a preservação do espaço escolar. A escola se preocupa em manter o ambiente agradável para os alunos. Com todos os problemas que surgem, primeiramente, tenta-se resolver a questão diretamente com o aluno. Se a solução não é encontrada, aí os pais são chamados. Um dos trabalhos importantes feitos na escola é tentar ajudar o aluno a se organizar para estudar. “A gente faz um trabalho de orientação de estudos, mas de orientação mesmo”. A entrevistada afirma que alguns alunos não sabem por onde começar os estudos, e portanto precisam de auxilio. Outros, no entanto, não vêem sentido no conhecimento, seja por malandragem, seja por preguiça, e essa é uma preocupação da escola. Como orientar e incentivar esse aluno.

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A grande preocupação da escola E se refere a manter o currículo sempre atualizado e os professores treinados. Além disso, há uma grande preocupação com a segurança dentro da escola, e no seu entorno. Os coordenadores afirmaram ter poucos problemas. Os que aparecem são referentes a discussões, disputas esportivas, desrespeito com professores, intrigas, fofocas, quebra de materiais, e entrar na sala sem pedir licença. Quando chega um aluno novo, há um cuidado em facilitar a adaptação dele em um novo espaço, principalmente se for um aluno de uma instituição com um sistema de ensino diferente.

Esse tópico faz com que passemos a perceber um pouco como cada escola lida com os problemas cotidianos, além de que objetivos e expectativas elas têm em relação aos seus alunos. A questão do respeito começa a aparecer como algo de extrema importância. Outra coisa que chama a atenção é que esses educadores estão de fato se mostrando preocupados com o desenvolvimento de seus alunos e como prepará-los para o seu futuro. Há um foco genuíno na inserção desse jovem na sociedade de forma que ele se sinta preparado para tal, seja respeitando os outros, sendo capaz de criticar os acontecimentos ou mesmo como lidar com situações difíceis no relacionamento diário com as pessoas.

3.3 – Concepção de bullying

Para continuar a análise dos resultados, a partir desse ponto, farei numa comparação das escolas, ao invés de uma descrição. Dessa maneira será mais fácil perceber como tem sido a percepção do bullying nas escolas, e as variações que podem ou não ocorrer nas escolas.

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Quanto à definição de bullying, a escola E disse que é uma ação voluntária e pré-determinada, de intimidação repetida, para causar sofrimento, “atazanar” outro aluno, sendo diferente do “sem querer”. Ainda completa dizendo que pode ser uma ação física, psíquica ou social. A escola B, definiu o bullying como sendo um ato individual ou em grupo, que faz com que o outro se sinta inseguro, desconfortável, podendo ser um olhar, um gesto físico, verbal, ou de exclusão. A definição utilizada pela escola D é de que o bullying é uma agressão que aparece de diferentes formas, a uma outra pessoa, gerando uma situação de desrespeito. A escola A também concorda com a escola D, no sentido de que o bullying é uma ação de desrespeito, e para o coordenador dessa escola (A), isso é resultado de uma má criação e de um preconceito. “O bullying é uma ignorância...de gente em quem não foi criado uma ética”. Ele ainda completa que o bullying é cruel, uma covardia, e envolve brigas, ameaças e ofensas. A escola C, além de afirmar que o bullying é uma agressão feita a uma pessoa colocou a questão de que o bullying gera conseqüências tanta para o alvo, quanto para o autor. Nesse aspecto a educadora afirma: “eu me preocupo tanto com um, quanto com o outro”. Essa escola demonstra se preocupar com os problemas que são vividos pela autor, que o levam a agir dessa maneira.

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crianças não se sentem seguras, elas não aprendem. Os potenciais delas só são alcançados quando elas se sentem seguras fisicamente e emocionalmente.

A escola C, nessa questão, começou a colocar a importância da escola intervir nos casos de bullying. A coordenadora afirma que a escola tem o papel de observar e intervir, mas que essa intervenção deve ser feita com cuidado para não expor demais a vitima e assim complicar ainda mais a situação.

Outro ponto que foi levantado pelas escolas A e E é de que provavelmente o bullying é mais intenso a partir da 7ª série. Ou seja, para a escola A, a partir da 7ª o bullying fica pior. A escola E afirmou que a partir da 6ª, 7ª séries, deve ser mais freqüente e a intensidade e a “qualidade” dos atos deve aumentar. A ação fica mais sofisticada com o tempo. Para o educador da escola D, é mais fácil trabalhar a questão com os grupos mais novos, do que com os mais velhos.

Com esse tópico, podemos perceber que não variam muito as definições utilizadas pelas escolas. Fica nítido que as escolas sabem que o bullying traz conseqüências, e devem estar preparadas para lidar com ele. Todas concordam que é um assunto grave, e não pode ser deixado de lado.

3.4 - Identificação de bullying

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D quanto a B, tem espaços para os alunos se manifestarem sem ter que “falar” diretamente com alguém, ou seja, as escolas possuem murais ou caixas para que os alunos se manifestem. Quanto ao incentivo por parte da escola para que o aluno busque ajuda, o entrevistado da escola D afirma: “não adianta falar sem dar condições para que ele busque ajuda”.

A participação dos pais nessa identificação também surgiu. As escolas A, B, C e D enfatizaram que os pais também podem auxiliar nessa função percebendo as ações do seu filho, ou seja suas mudanças de comportamento. A escola B faz reuniões com os pais para que esses assuntos possam ser trazidos com maior facilidade. A escola A ajuda os pais a tomarem ações judiciais caso seja necessário.

Um ponto também muito interessante foi a participação dos professores e coordenadores nessa função de identificação. As escolas C e D disseram que essa é uma fonte importante de informação sobre o bullying dentro da escola. As escolas B e E vão além. A escola E disse que os alunos tem tutores, professores que foram escolhidos para tal, que conseguem ter um contato maior com o aluno, facilitando a percepção de possíveis casos de bullying, entre outros problemas que o aluno possa estar enfrentando. Também professores que não sejam seus tutores estão preparados para tentar fazer tal identificação. A escola B afirmou que um dos fatores principais para que o professor ou funcionário consiga identificar um caso de bullying é que esse deve se interessar pelo aluno. Quando se tem interesse pelo aluno, você o conhece, e assim fica mais fácil perceber mudanças resultantes de ações de bullying, como mudança de atitudes e de desempenho. A comunicação aberta com os alunos também é muito importante. Esses aspectos de como identificar o bullying ficam bem evidentes quando o coordenador afirma: “...conhecendo a criança e tendo um espaço onde a criança se sinta confortável para expressar preocupações, debater preocupações e falar sobre questões... observando as crianças e vendo o que está acontecendo”.

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preocupar com a identificação do bullying indireto, ou seja, aquele que é camuflado, que pode ser um simples olhar, ou uma exclusão. Esse tipo de bullying se manifesta de forma discreta, por isso é mais difícil de se identificar.

A outra dificuldade foi trazida pela escola A, e é ainda mais grave. O coordenador disse que tem tido dificuldade em mobilizar os professores para se manifestarem ou agirem, quando percebem um ato de bullying. De acordo com ele, o problema é que os professores preferem se preocupar com outros pontos importantes, como por exemplo, um aluno que quase pôs fogo na escola, ao invés de dois garotos que briguem na aula e saiam se batendo. “Eu acho inadmissível mas normalmente as pessoas passam a mão na cabeça”. Os professores não têm levado a sério a questão do bullying, embora esteja no planejamento escolar. O coordenador acredita que talvez eles não estejam falando tudo o que tem acontecido relativo ao bullying.

Como pudemos perceber, a identificação do bullying é um dos pontos mais delicados. É muito difícil de ser feita por vários motivos que serão discutidos mais pra frente.

3.5 - Casos ocorridos e medidas tomadas

Como era esperado, todas as escolas afirmaram que já ocorreram caso de bullying na instituição. As escolas B e E afirmam que os casos não são freqüentes, que são poucos, embora já tenham ocorrido. Tanto a escola C, quanto a escola E, assumiram que já houve casos um pouco mais sérios. A escola E, trouxe um caso que ocorreu envolvendo a Internet.

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“Você mostrar pra criança que existem limites...tem que pensar com ela porque está acontecendo”; levantou o educador da escola D.

Entre as medidas a serem tomadas pela escola para resolver a questão, foi trazida a importância da conversa com os envolvidos e que a intervenção deve ser feita. A escola A disse que conversa com os autores, explica o termo e tudo que engloba. A escola C, busca conversar com a vitima e tentar melhorar a percepção que ele tem de si mesmo, para que ele perceba o seu lado bom, e assim melhorar sua auto-estima. Às vezes a escola encaminha o alvo para terapia. A escola E tem uma visão parecida nesse ponto. Essa instituição se preocupa em preparar os alunos para se não se deixarem tornar vitimas. É trabalhada essa questão com eles desde pequenos. A escola D busca refletir com todos os jovens envolvidos (autores e alvos) sobre a questão e porque está acontecendo. “Qual é o sentido daquilo?” Posteriormente pode se fazer uma intervenção mais incisiva. De acordo com o coordenador, ás vezes o problema pode ser resolvido entre os alunos que manifestam a questão; em outras deve ser feito um trabalho com o grupo todo. A escola B segue o mesmo perfil que a escola D, fazendo conversas com os alunos envolvidos para saber o que está acontecendo. Essa escola disse que é importante buscar saber mais sobre o autor para saber o que gerou essa ação. “Geralmente é reflexo de um problema que ele experienciou ou do que ele está sentindo”.

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Como pudemos perceber, a conversa é a principal ferramenta usada para lidar com os casos de bullying. É um recurso utilizado para se explicitar o problema e se buscar a melhor solução para todos os envolvidos. As escolas C e E mostraram uma abordagem interessante ao problema relativo a não deixar o alvo se sentir merecedor do que está acontecendo. Creio que isto é fundamental para que a vítima consiga lidar melhor com os ocorridos.

3.6 - Combate e prevenção na escola

Entre todas as escolas entrevistadas, nenhuma afirmou ter um programa inteiramente voltado para o combate ao bullying. Três escolas (B, D e E), de acordo suas metas, têm um programa voltado para a promoção de saúde em que o bullying seria inserido dependendo da demanda dos alunos. A escola E, chegou a promover palestras e depoimentos específicos para educar os seus alunos sobre o tema. A escola D disse que é fundamental que o professor consiga perceber a dinâmica de cada sala e assim inserir em seu conteúdo diário as questões que o grupo demanda. De acordo com o educador: “No dia a dia dos professores, ou quando a gente manda a grade curricular e as propostas dos professores e dos projetos que a gente tem aqui na escola, a gente sempre leva em consideração a dinâmica de cada turma e com isso a gente pensa que a gente dá conta aqui das questões importantes dos alunos, escutando eles.”

A escola D colocou dois pontos importantes. O primeiro se refere a trabalhar a questão com metas a longo prazo, trazendo o assunto recorrentemente. O segundo ponto é a questão de que é fundamental que o professor se torne uma referência diária para o aluno relativa a como se portar, ou seja, como conviver com os outros.

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para lidar com as diferenças, conforme afirmaram os entrevistados das escolas B e C. A entrevistada da escola C ainda vai mais longe, afirmando que é importante que os alunos aprendam a se colocar no lugar do outro e perceber o que o outro está passando e sentindo. Tanto as escolas C e E estão envolvidas com projetos sociais, cada uma de forma diferente, o que é um grande incentivo para que os alunos lidem com pessoas diferentes. As escolas C e D reforçam que é importante criar um clima de respeito entre todos: alunos, professores, funcionários e coordenadores.

As escolas B e E inseriram em sua rotina escolar situações de rodas de conversa entre alunos e professores, que servem como um espaço onde os alunos podem expor suas duvidas, angústias e preocupações. Essas escolas, assim como a escola D, acreditam que o trabalho iniciado desde cedo, classes mais novas, facilita a prevenção.

É uma preocupação das escolas B e C que os alunos não fiquem solitários e sejam inseridos no cotidiano escolar. A escola B tem um programa de mentores, onde os alunos mais velhos ajudam os mais novos a se inserirem. Eles auxiliam nas dificuldades dos mais novos. A escola C disse que não somente os alunos tendem a ajudar, assim como os professores e coordenadores devem tentar fazer isso discretamente, como por exemplo no momento de escolher grupos de trabalhos, o professor pode intervir escolhendo os grupos anteriormente. Dessa forma, o aluno não passa pela angustia de talvez não ser escolhido, e já é inserido num grupo.

As escolas B e C ressaltaram a importância do espaço ser agradável e confiável para que os alunos possam aprender. Quando os alunos não se sentem seguros, eles não aprendem por ficaram apreensivos e tensos naquele ambiente. Para o educador da escola B: “crianças não alcançam seu potencial se não se sentirem fisicamente e emocionalmente seguras na escola”. Esse ponto evidencia como o bullying pode afetar as testemunhas.

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valorizado do que o desenvolvimento acadêmico. Esse trabalho já funciona como um meio de prevenir o bullying, porque quando um aluno tem uma atitude positiva ele é reforçado, mas quando ele tem uma atitude negativa ele deve lidar com as conseqüências de sua ação. Portanto, isso já é uma forma de mostrar as ações que não devem ser cometidas, e o que se espera dos alunos, como por exemplo o respeito. O outro ponto importante é que a escola buscou orientar os pais para prestarem atenção no que os seus filhos fazem na Internet, para possivelmente identificar casos de bullying e assim intervir. Essa ação é muito importante, visto que os casos tem aumentado cada vez mais.

Uma preocupação que me surpreendeu foi com os alunos vindos de outras escolas. Tanto as escolas com “padrões” internacionais, quanto as escolas com base nacional, revelaram que essa pode ser uma fonte de bullying. Faz parte da prevenção do bullying nas escolas B, C e E um acompanhamento dos alunos novos, para que eles não tenham problemas em se adaptar e assim não tornem alvos de bullying.

Agora voltarei minha atenção para a escola A. Nesse tópico, ficou claro que as ações de prevenção nessa escola estão numa etapa bastante inicial. Como a escola tem passado por diversas transformações e nos últimos dois, três anos é que a escola passou a ser mais “incisivo” quanto a regras, fica evidente que ela ainda não teria os recursos para ter um programa de prevenção contra o bullying. “Existe a preocupação” com o problema, tanto que faz parte das orientações aos professores para o planejamento de 2007; porém, os professores ainda precisam perceber a relevância disso e conseguir identificar o fenômeno de forma

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4 – Discussão

Agora que o leitor já teve contato com um pouco do que já foi escrito sobre o bullying e uma visão de como algumas escolas da nossa cidade percebem a questão, devo então buscar elucidar como esses dois lados da moeda se relacionam e se completam. A partir de agora irei colocar mais sobre como eu percebo a questão do bullying, e as conclusões a que tenho chegado com o meu trabalho sobre a questão.

Quando pensamos sobre o termo bullying muitas coisas surgem à mente. A definição que me pareceu mais completa de todas com as quais eu me deparei foi a de Lopes Neto (2005, pág 165), “bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro (s), causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder" (retomando o capítulo 1). Considerei essa definição a mais completa porque contêm todos os pontos levantados pelos autores pesquisados: a questão das atitudes que envolvem o bullying; o fato que elas devem ocorrer de forma repetida; também que não se percebe a razão de ocorrer; que pode variar o número de autores e alvos; a importância de que para ser considerado bullying deve prejudicar o alvo; e um ponto que me pareceu esquecido pelas escolas entrevistadas é a da relação desigual de poder. Entre as escolas entrevistadas, nenhuma, em momento algum , mencionou isso. Será que esse é um fator relevante então?

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Entras as definições de bullying trazidas pelas escolas, devemos perceber que elas reconhecem que o bullying acontece de diferentes maneiras e pode ser um gesto muito discreto. Isso é importante porque é um primeiro passo numa ação eficiente contra o problema e sua identificação. As escolas conseguiram citar exemplos de ações que se encaixam em todas as categorias trazidas por Martins (2005). As escolas trouxeram as agressões físicas, as verbais, e também conseguiram reconhecer que existem agressões mais discretas.

O bullying é trazido como um desrespeito ao próximo e de fato temos que nos preparar para combater essas ações, que como trouxeram as escolas, geram conseqüências para todos os envolvidos direta e indiretamente. As escolas se mostraram preocupadas com a questão do respeito e o lidar com as diferenças. Isso é positivo não somente para o contexto escolar, como para o resto da vida dos alunos. De acordo com Piaget (1970), a criança é social desde que nasce e portanto, quando a escola prepara o aluno para lidar com as diferenças e a respeitar, a escola estará ajudando a criança a se adaptar ao meio social ambiente, que para Piaget (1970) é o significado de educar.

Nenhuma escola colocou se o bullying acontece com maior freqüência entre os meninos ou entre as meninas, embora a pesquisa da ABRAPIA tenha afirmado que os alunos do sexo masculino estão mais envolvidos. Duas escolas expuseram que o problema aparece mais a partir do ensino fundamental dois, que é justamente a faixa etária que participou da pesquisa da ABRAPIA, que resultou nos dados alarmantes de que 40% admitiram estar envolvidos com o bullying.

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realmente aconteceram desse jeito, entre muitas outras indagações que devem ser feitas. Todo cuidado é pouco nesse ponto.

Parece-me que, para a identificação ocorrer, o primeiro passo é mobilizar o aluno para tal. Isso foi trazido por todas as escolas. Se a vítima não se manifesta, fica difícil saber se uma “brincadeirinha” é, ou não, sentida como tal. O alvo deve se sentir seguro e acolhido para comunicar os ocorridos. É muito importante que a escola crie uma relação horizontal nesse sentido, entre professores, funcionários, coordenadores e alunos, para que os alunos se sintam estimulados a conversar e se abrir. Não adianta a escola falar que está aberta para tal, se não demonstra em suas ações. O mural, as rodas de conversa, a caixa de manifestação, são ótimos exemplos de que a escola está aberta e disposta a ajudar. Essas pequenas atitudes devem ser percebidas pelo aluno como uma vontade de acolher por parte da escola, tanto que o mural da escola D tinha recados de alunos quando fiz a entrevista. Com tudo isso, fica claro que a vítima se manifestar é considerado pelas escolas como a melhor maneira de se identificar o bullying.

Outro ponto, é a participação dos autores na manifestação do bullying. Isso deve ser bem mais difícil de ocorrer porque ele deve temer as conseqüências de suas ações. Porém, talvez um trabalho na escola, como o mencionado acima, onde há canais de comunicação entre escola e aluno, o façam se manifestar sobre seus problemas e seus tormentos, fazendo, quem sabe, com que ele comece a reduzir as ações de bullying e talvez até mesmo parar.

As testemunhas também são importantes nessa função, porque elas convivem diariamente com o problema e, como já foi falado, lidam com as suas próprias conseqüências. Elas também devem ser asseguradas de que se manifestarem o que estão percebendo, isso só irá gerar aspectos positivos, ao invés dos problemas que talvez temam enfrentar. Isso porque as medidas necessárias poderão ser tomadas e elas poderão voltar a se sentirem seguras na escola.

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filho, essa identificação será feita quase que naturalmente, porque as mudanças de comportamentos serão percebidas. Mas, também não podemos esperar que todas as pessoas sejam capazes de identificar qualquer mudança que, às vezes,nem aparecem em casa. Pode até acontecer dos pais não saberem que existam tais problemas que fazem com que seus filhos experienciem tais situações.Essa é a etapa onde a escola auxilia. As escolas poderiam seguir o exemplo da escola B. Encaminhar informativos aos pais é uma ótima maneira de mostrar para eles quais são os possíveis problemas que seus filhos possam estar passando, e assim ajudá-los a identificar. Como mencionei anteriormente, há sites na internet que explicam muito bem o problema e os pais podem e, devem, ser orientados pela escola para explorarem o conteúdo. Outra opção, é a escola se dispor a fazer reuniões com os pais para que eles tomem consciência dos problemas do contexto escolar, e assim estejam aptos para ajudar na identificação.

Agora, pensando na responsabilidade da escola nessa função de identificar, no seu cotidiano, ações de bullying, ela deve primeiro reconhecer o problema e buscar o conhecimento sobre o assunto. Isso foi algo com o qual me surpreendi com o meu trabalho. As escolas demonstraram que de fato reconhecem o problema e sabem tudo a que ele implica. Esse já é um primeiro passo dado. Depois, deve ser feita uma mobilização dos professores para que eles entendam a importância disso, e esse é um empecilho enfrentado pela escola A, onde alguns professores preferem se preocupar com outros problemas, considerando sempre a questão do “mal menor”. Ou seja, o bullying não é tão grave quanto por fogo na escola, então será menos focado. Também devem ser orientados todos os funcionários sobre o problema, para que eles também saibam fazer a identificação corretamente.

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professor tem papel fundamental no desenvolvimento de uma criança ou adolescente. A relação professor-aluno, quando ocorre de forma positiva, pode levar o aluno a mudar de pensamentos e comportamentos (Thomé, 2001), e isso é importante para sensibilizar o aluno de que comportamentos como o bullying não são aceitáveis. Acho também que se aquela pessoa (professor), conhece aquele aluno, fica mais fácil perceber quando ele muda de comportamento, ou rendimento, e uma intervenção pode ser feita com maior facilidade. Porém, como ficam alunos de instituições com muitos alunos por sala? Ou então instituições com espaços enormes e muitos alunos no mesmo intervalo? A dificuldade de se conhecer e perceber todos os alunos aumenta, e fica difícil ter controle sobre o que acontece.

Tudo isso evidencia, que não podemos deixar toda a responsabilidade da identificação na mão da escola, embora ela tenha papel fundamental nessa etapa. A escola pode ajudar a resolver o problema com ações de prevenção, com exemplos de comportamento, uma cultura de ajudar o outro, entre outras ações. A comunicação com os pais é importante que seja feita constantemente, para que eles saibam o que vem acontecendo na escola, da mesma maneira que eles devem buscar saber com a escola, os acontecimentos. Os pais devem reconhecer o seu papel de educadores em conjunto com a escola.

É muito favorável ao combate ao bullying quando as escolas se preparam para lidar com todos os envolvidos. Por exemplo, temos as escolas C e E, que reforçaram a importância de um trabalho com a vítima para que se trabalhe a sua auto-estima, e ainda mais que isso, não permitir que ela se sinta, como afirmou Lopes Neto (2005), merecedora das ações de bullying. A escola B, buscando tornar seus alunos independentes e ativos, auxilia os alunos a serem confiantes e, talvez assim, não caírem na armadilha, se é que posso dizer assim, de se tornarem alvos.

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alunos possam se manifestar. Ou mesmo quando as escolas D e B criam meios mais discretos para os alvos falarem (caixa e mural). Quando a escola C afirma que eles buscam criar uma relação de confiança entre os alunos e a coordenação, eles estão buscando deixar os alunos à vontade e seguros para se manifestarem. É uma meta muito favorável à identificação do bullying.

Também é muito importante pensarmos no que ocorre com o agressor. Duas escolas enfatizaram essa preocupação. De acordo com a escola C, ele tem tantos problemas quanto o alvo e deve receber cuidados. A escola B disse também se preocupar em descobrir o que gerou no autor essas ações. Carvalhosa, Lima e Matos (2002), afirmam que os agressores assumem este papel devido a fatores individuais e também familiares. Talvez com a participação da escola no desenvolvimento de competências dos alunos, ela possa ajudá-lo a lidar melhor com os problemas familiares. O aluno deve ser estimulado a desenvolver as suas características individuais positivas, ao invés de trazer à tona as características negativas. Porém, nesse ponto, as escolas acabam assumindo muitas responsabilidades que também deveriam ser dos pais.

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os fatores que teoricamente são identificados nos alvos, como insegurança, baixa sociabilidade, família excessivamente protetora, e também não possuem os fatores do autor, como família desestruturada, hiperatividade, aceitação à violência, mas devido à situação em que se encontram, passam a agir de uma maneira que não é natural a elas, e prejudicial ao ambiente escolar, para obter os “ganhos” que o bullying traz, e se “salvar” da posição de vítima.

Entre as conseqüências de bullying apontadas pelas escolas, não encontramos algumas trazidas pelos autores pesquisados. Lopes Neto (2005) trouxe a preocupação com a tendência dos alvos e autores passarem a se envolver mais com drogas, álcool e cigarro do que os outros alunos, porém essa é uma afirmação difícil de ser feita. Talvez essa seja uma pesquisa interessante a ser feita, e ver se isso acontece de fato, e que medidas podemos tomar para reduzir isso.

Também não houve menção nas escolas, sobre conseqüências à longo prazo, como as levantadas por Fante (2005). Conforme havia mencionado anteriormente, na página 78 de seu livro, ela afirma que: “a não-superação do trauma poderá desencadear processos prejudiciais ao seu (vítima) desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante orientaráinconscientemente o seu comportamento, mais para evitar novos traumas do que para buscar sua auto-superação.” As conseqüências futuras das ações para a vítima ainda é um assunto pouco falado, e talvez seja mais um ponto que deva ser aprofundado em outros estudos, para podermos assim evidenciar ainda mais o quanto o bullying é grave.

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o suporte necessário para que o professor, preparado para tal, tome as devidas providencias, talvez este se sinta mais seguro, e mais aberto para oferecer um ensino de qualidade para seus alunos. É fundamental que a escola apóie o professor em suas atitudes de combate ao bullying, para que isso se torne mais efetivo.

Quanto à questão do bullying e a Internet, podemos perceber que ela foi colocada por duas escolas. A escola E remeteu a um caso que ocorreu fora do espaço escolar, mas que envolvia alunos da instituição, que foi um caso de cyberbullying. Portanto a escola exerceu o seu importante papel de auxiliar e intervir. Isso nos mostra que, embora os atos de bullying possam ocorrer fora de espaço escolar como, por exemplo, no seu entorno, e/ou no cyberbullying, é fundamental que a escola se mostre aberta a ajudar os pais e principalmente os alunos a lidarem com isso. Nós educadores não podemos nos esquecer que nossa obrigação não termina quando o aluno sai pela porta, da mesma maneira que a obrigação dos pais não termina quando os filhos entram pela porta da escola. Essas duas principais influências na vida de um jovem devem agir em conjunto na educação e portanto devemos valorizar a escola que auxilia na solução de conflitos externos. A outra situação em que a Internet foi mencionada, foi na escola B, onde o coordenador mencionou terem encaminhado aos pais um informativo sobre o cyberbullying. Isso é importante para passar para os pais que esse problema existe e portanto devem permanecer atentos ao problema. Não implica em pais se tornarem obcecados em ver tudo o que os filhos acessam na internet, porque como ressaltei antes, a internet tem as suas vantagens, porém que orientem aos filhos qual a melhor forma de se usar essa tecnologia.

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