A d m in is tr a ç ã o In te rn a c io n a l,
F u n c io n a m e n to e Perspectivas
da O rg a n iz a ç ã o das Nações
U nidas na O p o r tu n id a d e de
seu
O 25? aniversário da O rganização das Nações Unidas, que tão bons ser- vi5os tem prestado à humanidade, foi a oportunidade para o m ag nitico dis curso pronunciado pelo Deputado Ray- ^ u n d o Padilha, então Presidente daComissão de Relações Exteriores da
Câmara Federal, a respeito da estru tura, funcionam ento e perspectivas dessa grande Instituição, cujos o b je tivos fundam entais se podem conden- Sar na im plantação da Paz entre as fa ç õ e s e na erradicação do subde senvolvimento.
Levando-se, ainda, em consideração 'lue vários Técnicos de A dm inistração do DASP integraram a Secretaria da nos prim eiros anos, logo após a Sua constituição, perm anecendo alguns a,é hoje, ju stifica-se o Interêsse da
Revista do Serviço Público em co- laborar juntam ente com inúm eras ou- tras entidades, no sentido de
dlvul-25.<> A n iv e rs á rio
RAYMUNDO PA D ILH ADeputado Federal
gar, no lim ite das suas possibilidades, todos os trabalhos de reconhecida ca tegoria e destinação de utilidade acêr- ca da ONU. Êste é, precisamente, o caso do presente discurso-ensaio, au tên tica aula proferida no Palácio do Congresso Nacional, a 26 de junho de 1970, pelo em inente brasileiro, Depu tado Raymundo Padilha.
“ Penso, Sr. Presidente, Srs. Depu tados, que palavras de m aior expressi vidade não poderia escolher, como pó rtico dêste discurso, do que as pro feridas por Dag Ham m arskjõld, p re ci samente há dez anos passados, na sua fam osa tese sôbre a cooperação in te r nacional, através de um dos em briões do Direito das Gentes — o D ireito C onstitucional internacional. "Q ue a posteridade — diz o m aior dos Secre tário s das Nações Unidas — não nos censure a falha de não sabermos com binar a firm eza de propósitos com a
m aleabilidade dos métodos. Trabalhar nas fronteiras do desenvolvim ento so cial do homem é m argear o desconhe cido. Muito do que fazemos hoje pode ser julgado de pouca utilida de em dias futuros. Não seja isso, porém, uma es cusa para deixarmos de agir, segundo nossa m elhor compreensão, na con sci ência de nossas lim itações, mas com a fé com pleta no resultado últim o da evolução criadora em que temos a honra de cooperar” .
Foram essas as palavras do grande internacionalista.
Neste 25? aniversário das Nações Unidas, que hoje celebram os, alteia-se diante de nós o egrégio diplom ata e cidadão do m undo como o artífice máximo da elaboração de um sistema de convivência internacional em que a paz, seu objetivo supremo, decorre es- pontâneamente com o o co ro lá rio de um teorem a em que seja a unidade universal o princípio dirigente.
Nos prelúdios da Organização, em São Francisco e depois em Londres, operava-se sôbre uma experiência do Prim eiro C onflito M undial e dos êxitos e malogros da prim itiva Sociedade das Nações, que se lhe seguiu, por efeito do Pacto de Versalhes. Até então fôr- ça e fraqueza se alternavam. E não foi diferente a perspectiva neste qu ar to de século, já agora sob o influxo de novas experiências.
O problema a ser resolvido, no âm bito do nôvo organism o, seria, na o p i nião de Hammarskjõld, acom panhar a evolução do sistem a atual de coe xis tência institucional até o nível mais ele vado da cooperação constitucional. E citava com o exem plo histó rico o Mer cado Comum Europeu, em que os vín
culos preexistiam ao Tratado de Roma,
tais com o o quadro com ercial, v ia g e n s
e m igrações, m ovim entos de c a p ita
e troca de idéias, isto é, a face institu
cional do sistema, enquanto os e le m e n
tos de natureza constitucional foram
naturalm ente surgindo, em e ta p a s ex perim entais.
UM POUCO DE HISTÓRIA Três instrum entos modelaram, P°r assim dizer, a Carta de São Francisco- O prim eiro dêles foi a Carta do Atl tico, de agôsto de 1941, subscrita Pe Ias duas grandes nações democráticas. Estados Unidos e G rã -B re ta n h a , c0
êste elenco de princípios: nen*lU ^ 0 conquista te rrito ria l; alterações te rritó rio s sujeitos à livre determ na
l í> 0 S "
ção de cada povo, bem assim colha dos respectivos governos; aces^ so de vencidos e vencedores às ma térias-prim as do mundo in te iro j P na colaboração no plano econôm c ^ paz, com em ancipação do mêdo e m iséria; proscrição da fôrça como ^ bitro dos conflitos. O segundo ,nS ^ mento inspirador da Carta das ções Unidas foi a C o n f e r ê n c ia ^ Dumbarton Oaks, em W a s h i n g t o n ,
agôsto a outubro de 1944, no se delinearam os planos para ^ coligação defensiva, que teria, no ^
selho de Segurança, rép lica do tigo Convenent da Sociedade das ^
ções, a posição-chave, da q ual " , ticip arla m perm anentemente e " ^
legiadam ente os Q uatro G r a n d e s ^ reunidos: Estados Unidos,
nha, Rússia e China N a c i o n a l i s t a , ^ quais se agregaria, p o s te r io r m e n te .^
França. Em Yalta, encontro de _ reiro de 1945 a que estiveram Pr e n^a tes os Estados Unidos, a Grã-Breta e a União Soviética, foram d et
vãmente escolhidos os Cinco G ran des com o membros efetivos do Con selho de Segurança, cada um dêles com dire ito de veto. No mesmo ins tante, foram estabelecidas as três in i ciativas — veto, rendição in co n d icio nal do inim igo comum e ocupação quadrizonal — que mais aguda reper cussão teriam para a po lítica in te r nacional, dentro e fora do quadro das Nações Unidas, com o veremos adiante.
Êsses foram efetivam ente os três modelos da Carta de São Francisco.
Mas, em realidade, o p rin c ip io de se- 9urança coletiva com o base do en tendimento internacional surgiu muito antes, ou seja, em 1826, com Simão Bolívar, no Congresso do Panamá. Foi a|i que pela prim eira vez, nos fastos do Direito das Gentes, se deu o passo fundamental. As norm as de “ paz im- Perial" e de “ po lítica de poder” eram renegadas sòlidam ente por Bolívar, a ,ifn de que pudesse explorar as últim as Possibilidades de um sistem a ju ríd ico , destinado à solução pacífica de tõdas as controvérsias interam erlcanas.
Esta genial concepção se antecipa va de quase um século ao advento da Liga das Nações, fundada em 1920.
A CARTA DE SAO FRANCISCO E OS PACTOS REGIONAIS Dêste modo, em bora regional na aspiração e na form a, a an fictlon ia bolivariana continha todos os Ingre dientes da universalidade.
Na órb ita regional, deve-lhe as mais nobres Inspirações a União Pan-Ame- r|cana, instituída em 1890. Q uarenta e nove anos depois, a D eclaração do ^anamá (1939) consignava a de term i nação dos 21 Estados A m ericanos de Se ajudarem reciprocam ente e de se
unirem contra a violação da indepen dência de cada um dêles por qualquer estado não am ericano. Seriam os mesmos princípios do Ato de Cha- pultepec, de m arço de 1945, prece dendo de apenas três meses a assi natura da Carta de São Francisco.
Em ambos os instrum entos, como no Tratado do Rio de Janeiro, de 1947, tais com prom issos de seguran ça mútua buscaram sempre harm oni zar-se com as prescrições da Carta, mesmo antes de sua elaboração de finitiva.
Neste retrospecto histórico, convém lem brar as vicissltudes por que pas sou o sistem a regional quando êsse problem a fo i colocado na ordem do dia das discussões de São Francisco. Para a União Soviética, a soberania do Conselho de Segurança — onde lhe assistia o côm odo dire ito de veto — era, por assim dizer, absoluta. E por conseguinte, todos os pactos regio nais, com o os do Panamá e de Cha- pultepec, estarlam am eaçados no seu ob jetivo essencial de mútua defesa. M olotov, m inistro do exte rior soviéti co, liderava essa corrente an ti-regio nal. A delegação am ericana, chefiada por Edward Stettinius, estava perigo samente dividida nessa questão. E seu pró prio chefe hesitava no rumo a tomar.
Sucede, entretanto, que nos Esta dos Unidos a po lítica externa não po de ser planejada e executada sem uma participação sempre ativa do Congres so e, especialm ente, do Senado ame ricano. Êste se achava representado na Conferência de São Francisco pe lo Senador A rthu r Vandenberg, Presi dente da Comissão de Relações Exte riores daquela casa do parlamento.
Coube a êste enérgico representante comandar, na Conferência, a batalha pela adequação dos pactos regionais — tinha-se em vista exclusivam ente o sistema interam ericano — aos p rin cí pios de Dumbarton Oaks, de que emergia o poderoso Conselho de Se gurança. Sabe-se hoje que Vandenberg foi lúcidam ente advertido nessa sua posição por dois em inentes am erica nos a quem os Estados do continen te centro-sul ficariam devendo um grande e inolvidável triun fo . Eram êles Nelson Rockefeller, então Secretário Assistente para os Negócios Latino- Am ericanos, e Adolpho Berle, antigo em baixador em nosso País. Êsses es tadistas recordaram para seus o p o si tores, enquistados na delegação de seu pais e através de Vandenberg, que a posição norte-am ericana estaria ir- remediàvelm ente com prom etida se de nunciasse os com prom issos assumi dos em Chapultepec com as dem ais repúblicas do hem isfério. O caso foi im ediatam ente levado ao Presidente Truman pelo Secretário de Estado. E afinal convertido em proposição v ito riosa, m ediante a qual ficou bem evi denciado o direito de autodefesa, nos sistemas regionais, inclusive pela ado ção de providências m ilitares.
Após o Tratado de Assistência Mú tua assinado no Rio de Janeiro em 1947, a Nona C onferência dos Esta dos Am ericanos, realizada na Colôm bia, em A bril de 1948 — três anos de pois da Carta de São Francisco — , fundava a Organização dos Estados Am ericanos, a nova versão da União Pan-Am ericana (a qual aliás continua com o órgão central e permanente) e Intim am ente vinculada aos princípios dessa Carta. Para alguns m estres uni versitários dos Estados Unidos, o Pac
to de Bogotá “ é o mais completo e mais adiantado instrum ento jurídico de solução pa cifica já con ceb ido” .
Ainda aqui temos o reflexo do Pen" sarnento de Bolívar na enunciação dos propósitos de segurança coletiva. sâ0 aí regulados os meios de solução Pa c lfic a de disputas entre os estados membros, assim com o de mediação, arbitragem e recurso legal à aut0 dade das Nações Unidas, através e sua Côrte Internacional de Justiça- Não se excluem , por outro lado, aS questões relacionadas com o reco nhecim ento de governos de facto,
aquisição de te rritó rio s pela fôrça 0 ® propagação de doutrinas que con zam à agressão.
Nos 22 anos de sua vigência, a ° r ganização dos Estados Americano atuou em várias regiões onde s presença con ciliad ora foi s o l'c ,n. Destacaríam os a prim eira de suas tervenções, o co rrid a em 1955, P solução de um con flito entre a C °s ^
Rica e a Nicarágua, e a última, 1965, quando uma crise interna e São Dom ingos ameaçava o Pa,s,...e se transform ar em mais um sa com unista em nosso hem isfério.
S js-Em todo êsse longo período, ° tem a interam ericano forcejou m anter sua estreita fidelidade aoS ^ je tivos de sua criação. Agiu, tam ^ em sintonia do utrinária e prática o órgão universal, de que
deriva-otí qu0
Resta saber, entretanto, 3 ^ ^ ponto- sua estrutura Íu ríd |c0'P 0 ,ggCegU- seu m ecanismo funcional lhe a ram a e ficiên cia na solidariedade ^
lhe incum be, em face dos novos^ ^ safios totalitários, para a s s e g u r a ^
todo o continente a intangibilida m ocrática.
n o v a o r d e m i n t e r n a c i o n a l? Ainda que não o queiram os, a ela boração de uma política internacional independe infelizm ente da atuação ex clusiva de um órgão devotado à paz entre os povos, com o foi o caso da extinta Sociedade das Nações e é atualmente o da O rganização das Na- Ções Unidas. Por certo, reconhece-se nesta últim a a universalidade que fa l tava à prim eira, mas a paz in te rna cio nal e o progresso social, que se ins crevem na abertura do Estatuto de s ão Francisco, são logrados mais pe ta vontade e os Interêsses das G ran des Potências do que pelos esforços, de resto consideráveis, da Imensa c o letividade de nações e de suas o rg a nizações subsidiárias, algum as de sig nificativa im portância m undial, com o a UNESCO, o Banco internacional de desenvolvim ento Econôm ico, a O rga nização Internacional do Trabalho e a 0 r ganização M undial de Saúde.
Todavia, o problem a central reside na esfera po lítica e deriva em essên- c 'a da sem enteira de erros em que se converteu a Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945. O veto — , prlvilé - 9io de que se investiram unilateral- mente os cham ados Cinco Grandes — a rendição Incondicional e a ocupa- Ção quadrizonal da Alem anha — que ®les mesmos decretaram pela voz de ,rês de seus associados em Yalta, — tudo isso, que seriam expedientes mo mentâneos numa hora de pe rplexid a de, é hoje am plamente reconhecido como a gênese das trem endas d ifi culdades em que se debate o m undo de após-guerra. A bolchevlzação da Europa O riental e a geofagla Insaciá- V0I da Rússia S oviética foram as p ri meiras conseqüências dessa c a p itu
lação in icia l ante a sobrevivente po tên cia totalitária.
Na questão do veto residiu a maior parte dos insucessos da diplom acia das Nações Unidas, em detrim ento de sua autoridade. Ao passo que êsse privilégio, atrib uído às Cinco Grandes Potências (Estados Unidos, União So viética, França, G rã-Bretanha e Chi na), quase não fo i por quatro delas utilizado; a União Soviética aplicou-o, pelo menos mais de cem vêzes, blo queando assim algum as das mais de cisivas resoluções destinadas ao ser viço da paz e da segurança. Um re trospecto dêstes vinte e cin co anos de vida da Organização seria extrem a mente revelador das causas que en torpeceram as atividades, quer do Conselho de Segurança, quer da As- sem bléia-G eral, em alguns dos ins tantes mais agudos da crise mundial. Mas qualquer dessas causas seria me nor que o veto em desastrosas proje ções políticas.
A rendição Incondicional ainda hoje suscita com entários, que variam da dúvida ao protesto. Um de seus co ro lários — a com pleta ausência de um tratado de paz — contam ina até aqui as relações entre as nações dem ocrá tica s e as socialistas, relegando-se a paz do m undo ao arb ítrio dos vence dores, que optaram por uma prévia distribu ição de despojos, im posta aos vencidos, sem a con tra pa rtida de es- tipulações ju ríd ica s que a êsse o b ri gassem solenemente, além do mero Estatuto de Ocupação. Desavindos os vencedores, a nenhum lhe assiste contestar ao outro os direito s essen ciais que reciprocam ente se outorga ram, à margem de um tratado de paz, reclam ado pela consciência ju ríd ica
de nossos tempos. Feita, porém, abs tração dêsses nossos com prom issos com a sociedade e o dire ito interna cional, resta saber quais os proveitos que politicam ente foram recolhidos da ação unilateral. Não parece te r sido brilhante êsse inventário.
Ao m encionarm os a ocupação do te rritó rio alemão pelas quatro potên cias vitoriosas, recordam os pa rticu larmente o caso de Berlim e o ep isó dio de sua separação por uma m ura lha de ódio. Registre-se, ainda, o iso lamento da grande capital, exceção geopolítica num te rritó rio ocupado pelo inim igo, em efetivo estado de guerra, ainda não elim inado por qualquer tratado de paz e, por isso, m antido ao sabor do Estado ocupante.
Hoje, como acentuava um mestre de renome, tem os diante de nós um mundo que é bipo lar m illtarm ente e m ultipolar politicam ente. E portanto “ é perdida tôda a perspectiva de ma tizes” . Resta-nos assim — e é êste o papel fundam ental das Grandes Potên cias — conceituar quanto antes a no va ordem internacional, em que pro blemas com o os da paz e do desarm a mento se integrem na ação política permanente e recíproca dos Grandes, tal com o se acham, ainda em estado de potência, no sistem a da Carta de São Francisco.
Em recente análise, o professor Henry Kissinger, da Universidade de Harvard e Assistente Especial do Pre sidente Nixon, faz algumas afirm ações que merecem nosso destaque. A cen tua, de início, que pela prim eira vez deparamos a conversão da política externa num problem a global. Um sim ples acontecim ento de ordem interna, de aparência reduzida, pode gerar
conseqüência de âm bito mundial, conclui por afirm ar que a era das su- perpotências está chegando ao fim- a razão é que, acrescenta, “ a fôr?3 já não mais se traduz automàticamen te em influê ncia” .
Por mais discutíveis que nos sejam essas im pressões, elas revelam con tudo os problem as internacionais numa perspectiva que ao analista cumpre explorar em benefício da verdade^ dos objetivos supremos da colaboraça humana no plano internacional. REPERCUSSÕES NO DIREITO
INTERNACIONAL
Segundo essas considerações, q ue podem erra r apenas quanto ao graU das mudanças, é indubitável a influên cia que a realidade política irá cendo sôbre a evolução do dlre internacional.
Os elem entos de apreciação a°
nosso dispo r nós os fom os colhêr n páginas do professor Urban G. W i ker, Jr., do State Coilege, de São Fran cisco (Politics and Power, 1964).
É um fato, diz êsse mestre, ^u 0^ m undo se acha dividido ainda em tados-nações, com objetivos confü'3 ^ tes e conseqüente luta pelo P° ’ utilizado êste nas suas várias mo 3 ^ dades de ordem m ilitar, e c o n ô m ic a ^ política, as quais se revestem da tureza física ou psicológica, tang ou intangível.
Algo, porém, mudou nesse Pan° .^ ma, áparentem ente estável e rotine ^
A origem da transform ação deve-se ^ fato de que entre nações dotadas m ísseis de hidrogênio, seu poder r e ^ tivo — com essas armas absolutas deve ser m edido mais em têrrnos '
Ponto de vista físico, os fatôres econô micos se tornaram mais im portantes do que os fatôres m ilitares. Surge daí o Paradoxo de que, por serem tão pode rosas e dotadas portanto de poder
absoluto, não mais servem essas armas como indicadores úteis da fôrça rela tiva.
Eis a razão por que as novas frentes de batalha se transferiram preferente- mente para o cam po psicológico.
A controvérsia atual gira em tôrno d°s argum entos que sustentam ou ne- 9am a tese de que o receio das armas nucleares teria elim inado a guerra.
para o Autor, um co n flito arm ado não seria apenas terrivelm ente danoso, mas insuportável econôm icam ente. Daí Por que foram surgindo novos in cen ti vos ao desenvolvim ento e utilização de meios não m ilitares para solução das controvérsias. Tais meios são: o de senvolvimento revolucionário das co municações, e o nacionalism o afro- asiático.
As com unicações intraplanetárias, através do Telstar, podem considerar- Se um salto preponderante, único na nistórla, para a com unidade de um só mundo.
O dire ito internacional deve, pois, desenvolver-se ràpidam ente para aten der no nôvo contexto às necessidades de mudanças dos estados-nações ou o 9ue lhes corresponda no m undo de amanhâ.
O nacionalism o afro-aslático serve a|ternatlvam ente com o in spira do r das lransform ações do direito , com o tam bém resultante do papel que êste de- Sempenhou nos assuntos mundiais.
Em suma, con clu i o prof. W hitaker, a com binação dos três fatôres — apo
calipse nuclear, revolução no dom ínio das com unicações e o nacionalism o afro-asiático — são perfeitam ente sus cetíveis de prom over a rápida evolução do dire ito Internacional. Tal desenvol vim ento acom panha as várias hipóteses de relações internacionais, a saber: o conflito, a com petição, a acom odação e a cooperação.
Nós próprios exam inamos essa ma téria por ocasião do vigésim o aniver sário das Nações Unidas, em 1965, quando proferim os no Itam arati uma conferência a pedido do ilustre em bai xador Leitão da Cunha. M ostramos ali que ainda perdura a tensão produzida a pa rtir de 1949, pela quebra do m ono pólio nuclear, até então em poder das nações ocidentais. Em São Francisco, buscava-se a todo custo a im plantação de uma lei, na qual a po lítica não fôsse a base essencial. Assim pensava, entre outros, o em inente senador Vanden- berg, aqui m encionado. Para tanto, as Nações Unidas seriam uma espécie de assembléia constituinte mundial, que, m ediante deliberação coletiva, propor cionasse ao mundo as novas tábuas da lei universal.
Ocorre, entretanto, que as relações entre os povos se estabelecem e con solidam po r instrum entos que recla mam mais do dom ínio po lítico do que da esfera do direito. Foi êsse o con di cionam ento da ação das Nações Uni das ao longo dêstes vinte e cin co anos. O nôvo direito — no testem unho de observadores argutos — vem surgindo das convenções, das declarações, das decisões, dos ditam es de várias natu rezas, que, amalgamados, elaboram lentam ente a legislação futura, como nos estratos geológicos. Existe, aliás, para êsse fim uma Comissão de Direito
Internacional, codiflcadora de todos êsses atos.
Suscitam-se, todavia, questões de doutrina. A idéia, por exemplo, de que não se constitui em lei aquilo que não tem fôrça coercitiva, teria alcançado “ certo grau de acadêm ica responsabi lidade” , enquanto, de outro lado, se invoca o clássico preceito aristotélico, segundo o qual “ a lei não tem, para e x ig ir obediência, outro poder que o costume de cum p ri-la” .
Nenhuma escola, porém, se furta a adm itir que o real problem a do direito internacional é a lim itação de seu al cance, mais que a própria ausência da forma legal, insere-se aqui o pro blema das decisões em po lítica in te r nacional, a que se refere o professor Quincy W right, da Universidade de Chicago. Tais decisões, segundo o au tor, cum pre sejam institucionalizadas em nível internacional, jam ais em nível nacional. Basta que um Estado possa vàlidam ente protestar, com fundamento no direito internacional, por ato de ou tro Estado, para que sua reivindicação extravase da área dom éstica. Assim , a conduta de qualquer nação em sua po lítica externa é, ao mesmo tempo, “ condicionada pela lei da sociedade internacional, costum eira ou conven cional, e pela po lítica bilateral, regio nal e geral, que em erge de seus res pectivos órgãos” .
Releva observar, entretanto, que ce r tas decisões nacionais repercutem no âm bito internacional, de modo cada vez mais intenso, como se tem visto u lti mamente. A tecnologia, o acréscim o de população, novos padrões de vida e de educação constam entre os fatôres de influência crescente na elaboração dos tratados. Em suma, se as nações
se encontram , por livre vontade ou, digamos, por coação m oral, cada vez mais jungidas a preceitos, ocorre tan^ bém o m ovim ento contrário, devido presença de governos nacionais, Que se fazem dia a dia mais a u t o d e t e r m j
nados e mais dinâm icam ente organ zados.
Eis porque tem os que reconhecer, com o m estre de Chicago, que a din m ica do processo cabe menos à soc e dade internacional que aos governos nacionais, durante a fase de transiÇ3 ^ das vicissitudes da po lítica para as re gras form ais do direito.
UMA PALAVRA DE OTIMISMO Se o progresso tecn oló gico foi ca paz, como afirm a Toynbee, de exerc sôbre o mundo, inclusive e particu^ mente o Extremo Oriente, uma influen^ cia m uito mais universalizante que penetração espiritual do cristianismo^ não surpreende que o fe n ô m e n o
com plete no mundo de hoje com ^ _ as as suas transcendentes r e p e r c u s s o
na esfera política, econôm ica e socia- A sociedade internacional é, de s i m
ma, predisposta à descentralizaÇ0 ’
mas subm etida sem pre a uma lei ® uma organização. A prim eira consi òbviam ente num corp o de Pr'nC Qn. gerais apoiados no costume e na venção; a segunda é uma c o l e t i v i a
suscetível de a t u a r em d e t e r m i n a
situações.
A organização internacional se c o n ^ titu i, na hora presente, além das ^ ções Unidas com suas doze a9ênC,ti.
diplomai' diadas especializadas, das missões
cas e das entidades r e g i o n a i s se em vários países do mundo. O s M ^ g
mentos que regulam sua existência ^ reciprocidade de suas ob rigaç5eS
direitos são, com o sempre, na história, 0 esfôrço m ilenar na procura da uni dade.
No momento, o talism ã unificante da 'écnica não opera senão m ediatam ente em política. Surgem naturais obstá culos e Salvador M adariaga os define com a fórm ula consagrada de que “ as dificuldades técnicas são as objeções Políticas em uniform e” .
Contudo, a organização internacional exibe, na sua prova aos rigores da guerra fria — de que são exem plos °s casos do Congo, do Egito, da Hun- 9ria, de Cuba, da Tcheco-Eslováquia, do Vietnam e, agora, novamente, no Oriente M édio — uma capacidade qua se m ilagrosa de sobrevivência. Se pre valecerem os juízos de alguns observa dores mais objetivos, no sentido de 9ue lhe escasseiam os êxitos na ação diplom ática, será injusto ignorar-lhe Muitas realizações fecundas nos cam - Pos da ação econôm ica, social e c u l tural.
Afinal, nenhum organism o dessa es- Pécie poderia subtralr-se ao tropism o 9ue resulta de uma brutal s im p lifica ção das circunstâncias: o m undo dos dois blocos onipotentes.
Mas as Nações Unidas, m algrado todos os tropeços, vai logrando supe- rá-los afirm ando lentam ente as suas doutrinas de paz e de cooperação In ternacionais. A diai Stevenson, um dos espíritos mais agudos de sua grande pátria, nos mostra com o o organism o 'nternacional, que êle viu nascer em §3o Francisco, sobrevivia em Nova 'orque, ostentando uma adolescência 9ue resistira a todos os assaltos da Adversidade — a guerra da Coréia, ürr>a centena inqualificável de vetos so viéticos, a teo ria russa da direção exe
cutiva chamada troika (um m onstro de três cabeças), o súbito e trágico desa parecim ento de Dag Ham m arskjõld e uma im inente bancarrota financeira. Aquele tem po, 111 nações — hoje, 126 — estariam sobrecarregadas com 11 mil decisões, apenas num ano de ses são. A Carta e sua cria tu ra deram os prim eiros passos para uma jornada de m ilhares de léguas, realizando “ traba lho pioneiro nas artes da diplom acia parlam entar em nível quase universal” . Voltando a Hamm arskjõld, diríam os que as Nações Unidas constituem a com unidade universal por excelência, na qual se integram, por acôrdos espe cíficos, os organism os regionais a que vim os de nos referir. A ONU é, sem dúvida, um sistema a que se Incorpora uma estrutura institucional de coexis tência, mas, pelo menos em teoria, é no Conselho de Segurança onde se encontra o estádio constitucional.
Representam as Nações Unidas, de qualquer form a, um avanço na direção das form as mais elevadas de socie dade internacional.
A in stituição não decaiu, pois, na esperança dos povos, mas, ao revés, quando lhe fazemos a reconstituição histó rica neste jubiíeu de prata, have mos que creditar-lhe uma soma de serviços à causa da paz entre os ho mens pela dign ificaçã o das soberanias. A Câmara dos Deputados do Brasil cum pre assinalar a data para inscrevê- la com o um dos mais altos momentos da história do homem, em sua cam i nhada pelo itinerário da benevolência, da sim patia e do cord ia l entendim ento entre os povos.
Esta a palavra da liderança do Go- vêrno nesta tarde e neste solene m i
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