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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

MICHELLE MARIA LOUZEIRO NAZAR SAFADY

ONGs EM SÃO LUÍS/MA: alguns aspectos permeadores de sua atuação no campo educacional

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MICHELLE MARIA LOUZEIRO NAZAR SAFADY

ONGs EM SÃO LUÍS/MA: alguns aspectos permeadores de sua atuação no campo educacional

Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Mestre em defesa pública.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Fernandes Keller

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SAFADY, Michelle Maria Louzeiro Nazar

ONGs em São Luís/MA: alguns aspectos permeadores de sua atuação no campo educacional / Michelle Maria Louzeiro Nazar Safady. – 2013.

117 f.

Impresso por computador (Fotocópia). Orientador: Paulo Fernandes Keller.

Co-orientadora: Joana Aparecida Coutinho.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Maranhão, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2013.

1. Organizações Não Governamentais – Atuação – Educação – São Luis – Ma 2. Sociedade Civil 3. Engajamentos I. Título.

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MICHELLE MARIA LOUZEIRO NAZAR SAFADY

ONGs EM SÃO LUÍS/MA: alguns aspectos permeadores de sua atuação no campo educacional

Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Mestre em defesa pública.

Aprovada em: ____ / ____ / _______

BANCA EXAMINADORA

Profº. Dr. Paulo Fernandes Keller (Orientador) Doutor em Sociologia

Doutora em Ciências Sociais Universidade Federal do Maranhão

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela inspiração primeira; pelo sopro de vida; pela coragem mesmo em meio a tantas desesperanças; pela fortaleza que me concede para continuar sonhando e realizando a cada ocasião.

Ao meu amado pai Michel Nazar (in memorian) pelo investimento não só em educação, mas em mim como ser humano; pela infinita sabedoria comigo compartilhada; pelo modelo de ser humano que se eternizou em minhas frequentes lembranças e em minha alma.

A minha mãe Conceição Louzeiro pela dedicação para comigo em quase todas as cenas do roteiro da minha vida; pela simplicidade com que compartilha seus sentimentos; pela amizade que é atuante na minha construção como pessoa.

Ao meu amado Júlio não só pelo amor – que não comporta definições e barreiras – mas, sobretudo, pela presença que a todo o momento enche mais minha vida de luz e de sentido; coexistência é o que nos define.

À Gabriela Interlenghi, grande amiga e irmã que escolhi para possuir; por me mostrar o que é de fato ter alguém para se chamar de extensão da consciência e por me ajudar a perceber todos os lados de uma questão.

À Nina, por ter a maior doçura que um ser vivo pode agregar. E à Paloma por sempre me fazer sorrir.

Aos Amigos: Alexandre Fraga, Cíntia Paraíso, Filippo Pitanga, Marcelle Carvalho, Andréa Gonçalves, Sariza Caetano, Cristiana Cerqueira e a todos os colegas de caminhada.

À UFRJ, pelo fato de reconhecer meu potencial como socióloga desde o primeiro dia da graduação em Ciências Sociais até me agraciar com o titulo de dignidade acadêmica.

Aos professores – e inspirações – Elisa Reis, Yvonne Maggie, Peter Fry, Paulo Baía e Mirian Goldemberg.

À CAPES, por financiar e acreditar no meu projeto de pesquisa e na minha capacidade de formação profissional.

Ao orientador no mestrado, professor Paulo Keller, pelos conselhos e pelo apoio profissional; a toda banca examinadora pelo auxilio na construção e reconstruções do meu estudo.

Ao programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFMA, por acreditar no projeto de uma “outsider” emmeio a tantos “estabelecidos”.

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RESUMO

O chamado Terceiro Setor vem atuando cada vez mais como um dos protagonistas da formulação de políticas públicas no Brasil. No que tange ao mesmo, as Organizações Não Governamentais (ONGs) surgem, há algumas décadas, como pontos de articulação entre a sociedade civil e o governo e como porta-vozes de causas amplamente reconhecidas como problemáticas sociais. Nesses processos de interlocução, muitas vezes, as ONGs elaboram estratégias de intervenção através do nicho de atuação advindo do reconhecimento destas causas como passíveis de soluções. Desta maneira, as ONGs sublinham os seus lugares e os seus pesos no rol de agentes aptos a pensarem e a agirem no processo de tomada de decisões acerca do campo social no qual se inserem. Como as ONGs que têm como um dos seus principais pilares de atuação a questão da educação, na cidade de São Luís, refletem sobre esta causa e como articulam os perfis de seus profissionais com os seus objetivos institucionais são as perguntas norteadoras desta pesquisa acadêmica.

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ABSTRACT

The so-called Third Sector has been acting increasingly as a major actor in the formulation of public policies in Brazil. Regarding the same, non-governmental organizations (NGOs) emerge, some decades ago, as points of articulation between civil society and government spokespersons and as widely recognized as causes of social problems. In these processes of dialogue, often NGOs prepare intervention strategies through niche activity arising from the recognition of these causes as amenable to solutions. Thus, NGOs underline their seats and their weights in the list of agents able to think and act in the process of making decisions about the social field in which they operate. As NGOs who have as one of its main pillars of action the issue of education in the city of São Luis, reflect on this question and articulate as their professional profiles with their institutional objectives are the guiding questions of this academic research.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Classificação das FASFIL no que concerne à classificação das

entidades centradas na Educação – Brasil – 2005 ... 18

Quadro 02 – Comparação fontes de financiamento das associadas à ABONG em 2000, 2003 e 2007 (%) ... 19

Quadro 03 – Principais lutas políticas elencadas pelas associadas à ABONG (%) 20 Quadro 04 – Organizações Não Governamentais com premissas educacionais em São Luís ... 25

Quadro 05 – Comparações sobre fontes de financiamento das afiliadas à ABONG 37 Quadro 06 – Crescimento do número de ONGs, em números absolutos, no Brasil entre 1996 e 2005 ... 72

Quadro 07 – Sujeitos a quem as ações das ONGs são dirigidas segundo porcentagens ... 73

Quadro 08 – Evolução do salário médio nas FASFIL entre 1996 e 2005 ... 76

Quadro 09 – Comparação faixas de participação das fontes de financiamento no orçamento das organizações (%) ... 76

Quadro 10 – Informações Gerais sobre a Legião da Boa Vontade/LBV ... 99

Quadro 11 – Informações Gerais sobre a Formação ... 100

Quadro 12 – Informações Gerais sobre a Central Única das Favelas/CUFA ... 102

Quadro 13 – Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, por classes de rendimento mensal de todos os trabalhos no Maranhão ... 104 Quadro 14 – Pessoas de 10 anos ou mais de idade por nível de instrução ... 105

Quadro 15 – Dados para a realização do perfil do representante da LBV ... 106

Quadro 16 – Dados para realização do perfil do representante da Formação ... 107

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LISTA DE FIGURA

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABDL – Associação Brasileira Para Desenvolvimento de Lideranças ABONG – Associação Brasileira de ONGS

ASCAMAR – Associação de Catadores de Material Reciclável do Maranhão CDI – Comitê de Democratização da Informática

CDMP – Centro de Defesa Padre Marcos Passerini CEBs – Comunidades Eclesiais de Base

CEMPRE – Cadastro Central de Empresas

CEPROMAR – Centro Educacional e Profissionalizante do Maranhão CI – Comissão de Serviços de Infraestrutura

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CUFA – Central Única das Favelas

FASFIL – Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos FGV – Fundação Getúlio Vargas

FHC – Fernando Henrique Cardoso GESET – Gerência de Estudos Setoriais

GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMAZON – Instituto do Homem e do Meio Ambiente na Amazônia IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação LBV – Legião da Boa Vontade

MEC – Ministério da Educação

ODMs – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ONGs – Organizações Não Governamentais

ONU – Organizações das Nações Unidas OS – Organizações Sociais

OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público PIB – Produto Interno Bruto

PPP – Parceria Público – Privada

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PT – Partido dos Trabalhadores

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SUMÁRIO

Introdução ... 13

O aspecto multidimensional do estudo de ONGs ... 16

ONGs, educação e São Luís: como esta relação estrutura esta pesquisa ... 21

Procedimentos metodológicos ... 23

1 Capítulo I – As contribuições sociológicas para a elaboração de uma agenda de pesquisa acerca das ONGs ... 29

1.1 Sociedade civil e Terceiro Setor. Como o estudo do fenômeno social das ONGs perpassa por estes conceitos ... 29

1.2 “Parceria”, “Cooperação” e “Solidariedade”. De que maneira estes termos fazem parte das pesquisas sobre ONGs ... 39

1.3 Algumas contribuições da Sociologia das Organizações ... 49

1.4 Alguns estudos acadêmicos sobre a atuação das ONGs no tocante à educação 52 1.5 As ONGs como possíveis resultados do somatório dos trunfos de seus agentes 58 2 Capítulo II – Estado, educação e ONGs no Brasil: como esta relação se formatou historicamente ... 66

2.1 Um breve histórico da inserção das ONGs como interlocutoras da sociedade civil no processo de formulação de políticas públicas ... 66

2.2 Estado e ONGs: como o fenômeno das parcerias vem formando uma nova dinâmica na elaboração e no financiamento de projetos ... 77

2.3 A educação como temática priorizada pelas ONGs ... 81

3 Capítulo III – ONGs educacionais em São Luís: três estudos de caso .... 90

3.1 A trajetória de criação das entidades pesquisadas ... 90

3.2 Esboços comparativos sobre as ONGs analisadas ... 97

3.2.1 A LBV em São Luís e seus pilares na assistência social ... 97

3.2.2 A Formação e a especialização na militância educativa ... 100

3.2.3 A CUFA e o vanguardismo do movimento hip-hop ... 102

3.3 Uma análise do perfil de cada representante das ONGs elencadas nesta pesquisa ... 105

Conclusão ... 110

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ONGs EM SÃO LUÍS/MA: alguns aspectos permeadores de sua atuação no campo educacional

INTRODUÇÃO

As Organizações Não Governamentais (ONGs) vêm sendo abordadas sistematicamente como objetos de estudos acadêmicos, sobretudo, desde os anos 2000 no que concerne à América Latina. O estudo desta temática concernente às ONGs acabou por acompanhar o processo de reconhecimento da institucionalização destas entidades no Brasil (HADDAD, 2002).

Segundo Haddad (2002), o estudo científico sobre as ONGs teria como lugar hegemônico de produção o chamado mundo anglo-saxão e o autor defende a proposta de que os estudos realizados na América Latina tenham sua própria agenda de pesquisa acerca da temática mencionada e também maneiras peculiares de abordagem conceitual da mesma. Mais de uma década após esta proposta empreendida pelo autor é notável o crescimento de investigações acadêmicas sobre o assunto e a julgar pelo que temos acesso em nível de leituras sobre a temática, muitas outras áreas vêm dialogando com as Ciências Sociais a fim de efetivarem estudos sobre estas organizações.

Com o processo acima citado, o qual seja o relativo ao aumento do estudo científico sobre as organizações1 (inclusive as ONGs), há um crescente fortalecimento do papel destas entidades no país e tanto as mesmas como os projetos diversos articulados por elas vêm angariando cada vez mais destaque no processo de formulação de políticas públicas no cenário brasileiro. Conforme nos diz Elisa Reis (2003), seria válido levarmos em conta não só as relações do Estado com o mercado, mas também as relações do Estado com a chamada sociedade civil. Isto porque, segundo a referida autora, há um movimento pungente, em escala mundial, o qual cria, reconhece e preconiza as ONGs como agentes sociais relevantes para as formulações e práticas da chamada política pública.

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A própria gramática evocada frequentemente pelas ONGs e difundida seja através de mecanismos midiáticos, seja por meio de ações em parceria com os setores empresarial e político, também tornam pontuais as pesquisas voltadas para este tipo de organização. Vale destacarmos que esta gramática é uma criação social não só realizada no âmbito das organizações, mas também por outros setores. Noções como “inclusão social”, “democracia participativa”, “desenvolvimento sustentável”, “governança” ou tantas outras que poderíamos aqui citar são incorporadas – e também criadas - pela sociedade e (re)traduzidas e reiteradas, muitas vezes, por estas organizações aqui tratadas a fim de respaldarem suas intervenções em causas legitimadas socialmente como desafios institucionais ou como, simplesmente, problemas crônicos da sociedade brasileira.

Uma destas causas sociais reconhecida amplamente por diversas classes sociais como “prioritária” ou como dimensão estratégica na efetivação de “melhorias sociais” em médio prazo seria a educação. A saúde, a promoção de direitos humanos e o meio ambiente são temáticas extremamente evocadas pela sociedade civil como fontes legítimas de mobilização social seja por meio de manifestações populares, seja através da implementação de ONGs em prol por projetos de melhorias nestas áreas, mas nenhuma causa social ainda é tão fortemente defendida como “essencial” e reconhecida como fonte de aquisição e manutenção da cidadania do que a educação.

Esse tipo de argumento a favor da educação como forma de garantia da efetiva integração na sociedade e como maneira de o indivíduo garantir liberdade política, por exemplo, é difundido por diversas formas e foi em uma ocasião destas que o assunto nos chamou a atenção para que voltássemos nosso olhar como pesquisadores. Ramalho (2007) nos aponta para o fenômeno concernente à parceria entre as escolas e as ONGs. A matéria citada2, publicada na revista Nova Escola3, elencava fatores que justificavam o poder deste tipo de junção ao mencionar que as ONGs serviam como fontes de inspiração e de estímulo para as escolas, como formas de incremento de qualidade do ensino oferecido e também sublinhava quais seriam os programas de aprendizado oferecidos por algumas destas ONGs, como estas teriam modificado positivamente o ensino em determinadas escolas e como desenvolveriam práticas educacionais inovadoras sem estas serem impedidas pela demora advinda da chamada burocracia estatal (este era o mote principal da matéria).

2 A matéria aponta a importância do papel das ONGs na contribuição para melhoria da aprendizagem dos alunos. Pretende, assim, estabelecer as possíveis relações entre as ONGs e a educação por meio da abordagem da questão das parcerias.

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Este artigo nos chamou a atenção na época por utilizar argumentos vindos dos mais diversos tipos de agentes aptos a discorrerem sobre a educação no país, tais como discursos advindos do próprio governo, opiniões de gestores de escolas, professores, pedagogos e de presidentes de centros de estudos da área de educação. Todos estes indivíduos respaldavam a força e a necessidade da parceria entre escolas e organizações não governamentais. E todos discorriam sobre a fragilidade dos resultados no ensino advindos de ações unicamente do Estado; assim, a parceria entre governo e ONGs era apontada como “necessária e favorável a uma mudança estrutural da educação brasileira”.

As ONGs acharam um momento conveniente de intervenção no ensino a ser oferecido pelas escolas a partir, sobretudo, mas não unicamente, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, conseguindo respaldo para uma atuação mais frequente em formulações – e auxílio para estas – de políticas públicas. O Estado passou a dar mais respaldo a estas organizações a partir dos anos 2000 e muito frequentemente encontramos as mesmas deflagradas em discursos políticos, como o do ex-ministro da educação Fernando Haddad que, em 2007, disse que reconhecia o assunto educacional “como um problema social que demanda a articulação entre os diferentes setores da sociedade civil para ser solucionado”. A declaração, obviamente, é apenas uma pequena ilustração de como este tipo de articulação vem sendo abordada pelos organismos estatais no país através de seus discursos oficiais.

Outra amostra de como a relação entre educação e ONGs vem sendo priorizado pelo aparelho estatal encontra-se no próprio site oficial do Ministério da Educação. No mesmo há uma parte específica do portal em prol da mobilização social pela educação, onde existem os seguintes elementos norteadores da proposta governamental: parceiros (onde são incluídos ONGs, empresas, igrejas cristãs, organismos internacionais e sistemas de educação); comitês de mobilização; relatório de atividades das redes de instituições; agenda de eventos, dentre outras atividades estimuladas pelo chamado plano de mobilização social do Governo em nome da educação, tudo isto contido em MEC (2011).

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a percepção de como estas organizações articulariam seus projetos e parcerias com embasamento na questão educacional.

Na presente pesquisa, além do objetivo geral o qual seja a procura dos mecanismos principais de correlação entre a atuação das instituições estudadas e a prática educacional percebida por cada uma delas como ênfase de abordagem, buscamos outros objetivos específicos os quais se apresentam na construção deste estudo.

Investigar como cada ONG pesquisada concebe os mecanismos de inserção dos seus agentes em seu corpo organizacional de trabalho é um desses objetivos específicos que corroboram para a compreensão das questões centrais da pesquisa. Outro objetivo específico que do primeiro decorre é a investigação de como cada ONG organiza sua dinâmica de trabalho levando em conta que cada instituição seria um somatório de trunfos – sejam trajetórias escolares, sejam participações em movimentos sociais – de seus participantes. A tradição de pensamento que evoca a educação como, no mínimo, um direito libertador e tributário ao ser humano também será abordada na presente pesquisa como objetivo específico, assim como o fenômeno social concernente às parcerias entre Estado e ONGs.

Vale destacarmos que tanto estes objetivos gerais como os específicos e igualmente as motivações da escolha da questão central desta pesquisa serão tratados de forma mais detalhada ao longo desta introdução. Para maior clareza das pontuações aqui destacadas, separamos em três tópicos distintos os eixos que são responsáveis pelas justificativas da pesquisa, do mesmo modo que assim são para a sua consecução.

O aspecto multidimensional do estudo de ONGs

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Em relação a isso, Landim (2002, p. 27) nos diz que “[...] pode-se pensar que as ONGs formam-se como um campo de organizações, agentes, práticas, crenças e discursos, constituídos por três feixes de relações: para baixo, com as bases; horizontalmente, entre si; e, para cima, com as agências de cooperação”.

Essa proposta de reflexão consegue abarcar muitas possibilidades4 de realização de pesquisas de cunho sociológico sobre estas entidades. Tanto as relações que as mesmas desenvolvem entre si como as que articulam com os demais agentes para, por exemplo, comporem suas possibilidades de financiamentos de manutenção de suas posições no campo e de seus projetos são alguns dos possíveis desdobramentos de estudo sobre estes organismos.

A pesquisa sobre a gênese destas instituições no país e dos agentes relacionados ao processo de formação desse novo campo resultante da complexificação da realidade social são outros recortes de pesquisa profícuos e já empreendidos por autores como Coutinho (2011), Landim (2002), Haddad (2002) e Gonzalez (2004). Nesta dissertação recorreremos à produção acadêmica citada para situarmos como as ONGs ludovicenses escolhidas como objetos de análise para a pesquisa se inserem historicamente no âmbito de surgimento das ONGs como agentes sociais que se formaram em decorrência de mudanças profundas no espaço social brasileiro.

A fim de sublinharmos a importância de estudos sobre as ONGs, utilizamos os dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e intitulada “As fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil” 5 (FASFIL), realizada em 2005. A mesma foi realizada em parceria com a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG) juntamente com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Segundo a referida pesquisa IBGE (2005) existiriam, até o ano de sua realização, aproximadamente 338,2 mil organizações sem fins lucrativos no Brasil sendo as mesmas distribuídas em cinco categorias organizadas pelo instituto: privadas; que não distribuem

4 Quando sublinhamos o aspecto multidimensional do estudo de ONGs nos referimos às possibilidades variadas de abordagens de estudos sobre estas. As análises sociológicas podem se voltar para as dimensões politicas, culturais e econômicas. Esta análise pode ser segmentada ou multivariada, a critério do pesquisador.

5

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eventuais excedentes; que são voluntárias; que possuem capacidade de autogestão; e que são institucionalizadas. O estudo do IBGE fora realizado com base no Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do ano de 2005 e de acordo com o cadastro destas organizações no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).

Ressalta-se aqui que o termo “ONG” não contempla todo o universo empírico da pesquisa mencionada (que envolve fundações, associações, ONGs), tendo em vista o fato que essa conceituação não seria aceita e/ou escolhida por cada instituição pesquisada. Para a própria ABONG, essas terminologias são políticas e não fruto de qualquer outro aspecto, só para que ressaltemos isto. Segue o quadro 1 baseado nas informações da pesquisa a qual elucida a quantificação das FASFIL com atividades centradas na educação, por exemplo.

Quadro 1 Classificação das FASFIL no que concerne à classificação das entidades centradas na Educação – Brasil – 2005.

Classificação das entidades sem fins

lucrativos Número de Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos Educação e pesquisa 19.940

Educação infantil 3.154 Ensino fundamental 7.910 Ensino médio 1.448 Educação superior 2.152 Estudos e pesquisas 2.441 Educação profissional 447 Outras formas de educação / ensino 2.388

Total 39.880

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Cadastro Central de Empresas 2005.

Outros dados relevantes apontados por este levantamento feito pelo IBGE (2005) dizem respeito ao perfil técnico-profissional do pessoal ocupado nestes tipos de organizações. A média salarial nestas entidades é de 3,8 salários mínimos e as que mais empregam seriam aquelas ligadas à saúde e à educação. No que tange à distribuição por região, a Sudeste ainda concentra a maioria delas, mas o crescimento na região Nordeste foi considerável. Vale ressaltar que a pesquisa procurou, também, empreender comparativos entre os anos de 1996, 2002 e 2005, o que justifica a análise de crescimento, por exemplo, advinda do estudo relacional na série histórica acompanhada.

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instituições e 27,7% da população. No Sul, em terceiro lugar, encontram-se 22,7% das entidades e 14,6% da população. No Centro-Oeste estão 6,4% das associações e 7,1% da população. No Norte estão 4,8% das organizações e 8% dos brasileiros. A remuneração média dos trabalhadores nas associações e fundações sem fins lucrativos, segundo a mesma pesquisa, no período de 1996 a 2005 elevou-se, em termos reais, em 1,2%, passando de R$ 1.081 para R$1.094. Em relação ao tempo de “vida” destes grupos institucionais, pouco mais de um quarto das associações e fundações sem fins lucrativos (26,3%, ou 89,2 mil) foram criadas nos cinco primeiros anos desta década. As instituições mais antigas, criadas até 1980, correspondem a apenas 13,1% do total das entidades consideradas na pesquisa.

Outra pesquisa reveladora e proveitosa para a nossa pesquisa foi a realizada pela Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG) a fim de mapear o perfil das entidades a ela associadas e está contido em ABONG (2010). Os quadros 2 e 3 trazem à tona o quão amplo pode ser o campo de pesquisas voltadas para estes tipos de organizações.

Quadro 2 - Comparação das associadas à ABONG segundo o valor do orçamento por faixa e anos (%).

2004 2006 2008 Até 10 mil reais 2,10 2,00 2,80 Mais de 10 mil a 50 mil 6,20 5,00 3,70 Mais de 50 mil a 100 mil 9,30 4,00 6,50 Mais de 100 mil a 150 mil 2,10 3,00 1,90 Mais de 150 mil a 200 mil 1,00 2,00 3,70 Mais de 200 mil a 500 mil 11,30 17,80 18,50 Mais de 500 mil a 1 milhão 23,70 18,80 23,10 Mais de 1 a 2 milhões 18,60 24,80 17,60 Mais de 2 a 3 milhões 9,30 6,90 6,50 Mais de 3 a 4 milhões 4,10 3,00 6,50 Mais de 4 a 6 milhões 5,20 5,00 1,90 Mais de 6 a 9 milhões 1,00 2,00 2,80 Mais de 9 a 15 milhões 3,10 3,00 0,90 Mais de 15 milhões 1,00 1,00 1,90 Sem orçamento (0,00) 2,10 2,00 1,90 Fonte: ABONG, Panorama das Associadas, 2010.

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pesquisa da ABONG (2010) com intuito de mostrar as lutas políticas realizadas por suas associações levou em conta quais destas lutas foram assinaladas pelas entidades a ela afiliadas. Então, cada associada poderia marcar mais de uma opção dentre as que podemos visualizar no quadro três. Quase metade das associadas viu na educação uma causa legítima para justificar sua intervenção na sociedade, seguida de causas como organização popular e as chamas relações de gênero.

Quadro 3 – Principais lutas políticas elencadas pelas associadas à ABONG (%).

Educação 48,9%

Organização popular 33,8% Relações de gênero 27,1% Justiça e promoção de direitos 23,8%

Meio ambiente 21,8%

Saúde 20,3%

Fortalecimento de outras ONGs 20,03%

Trabalho e renda 18,0%

Agricultura 15,0%

Economia solidária 12,8%

Arte e cultura 11,3%

Questões agrárias 8,3%

Fonte: ABONG, Panorama das Associadas, 2010.

No que tange ao quadro 2, podemos perceber que a faixa de orçamento mais acessada pelas ONGs da associação encontra-se na variação de recursos financeiros entre quinhentos mil a um milhão de reais o que foi um fator de observação interessante para nós, visto que estes tipos de entidades encontram-se sim cada vez mais organizadas como empresas privadas e apresentando logísticas altamente elaboradas para a realização de seus fins e projetos.

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contribuições da chamada Sociologia das Organizações, como no capítulo dedicado aos estudos de caso referente às ONGs aqui analisadas.

ONGs e educação em São Luís: como esta relação estrutura esta pesquisa

Já faz algum tempo que a educação vem sendo sublinhada como possibilidade de promoção tanto para o indivíduo poder se valer da chamada cidadania, quanto como elemento capaz de efetivar mudanças profundas na sociedade. E esse tipo de pensamento também é fortemente acolhido no Brasil, seja por meio da mídia, seja por parte do meio acadêmico.

No que é relativo à mídia, a matéria jornalística já mencionada em linhas gerais nesta introdução e empreendida por Ramalho (2007), acerca da relação entre ONGs e práticas educacionais, aponta a articulação entre a chamada sociedade civil organizada e o acesso à educação da seguinte maneira:

“[...] como fruto do idealismo e do engajamento da sociedade civil, é natural que as ONGs se preocupem com a formação de jovens que possam contribuir ativamente para a melhoria de serviços essenciais, como a

Educação”. “Nas escolas, elas encorajam, a mobilização social por meio de

projetos que reforçam os vínculos de professores e alunos com o mundo externo (tanto do entorno como o distante) e que estimulam uma visão

crítica da realidade”. (RAMALHO, 2007, p. 60)

E no que concerne ao meio acadêmico elencaremos a seguir algumas pesquisas as quais apontam a relevância do conceito educação – falamos, por enquanto, sobre a mesma no sentido amplo, sem ainda tecermos distinções e/ou acepções diferentes inseridas neste conceito – tanto como objeto de estudo, como elemento de acesso a melhorias sociais diversas e igualmente como possíveis bases de mudança de posição do indivíduo nas classes sociais.

Na pesquisa sobre os profissionais da educação nas ONGs brasileiras, Almeida (2006) destaca a mesma da seguinte forma:

“O conceito ‘educação’ não está restrito à escola. Esta é uma concepção a priori neste trabalho. A educação não pode, por essência, ser monopolizada, quer por pessoa, quer por instituição. Educar é atitude intrínseca à vida. [...] Não há como resistir. Ainda que se caminhe ao contrário de um dito ideal, uma vez que pela diversidade de ideias o que para uns é avançar, para outros pode ser deseducar, ainda assim, todos os seres humanos estão sempre, a

todo o momento, inevitavelmente educando a si e educando a outros”.

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Almeida (2006) sublinha, assim, a educação como inerente à vida de todo indivíduo, e igualmente reforça seu caráter “inevitável” na existência de todos. Gonzalez (2004), em seu trabalho acerca das ONGs e de suas relações com a chamada educação profissional, empreende uma análise crítica a respeito das diretrizes pedagógicas desenvolvidas pelas instituições estudadas por ela. Mas conclui seu artigo fazendo uma correlação entre ONGs, educação e a maior promoção de direitos humanos que, segundo a autora, adviria desta junção.

Gonzalez (2004) ressalta, ainda, esta relação acima citada da seguinte forma:

“[...] ressaltamos as potencialidades das ações das organizações não governamentais e alguns novos movimentos sociais a partir do

reconhecimento da ‘pessoa cidadã’ como um sujeito de direitos cujo

atendimento nem sempre é efetuado pelas esferas de poder tradicionais. Desta forma acreditamos que os indivíduos, ao estarem aptos a reclamar por seus direitos, contribuem para a possibilidade de construção de mais justa sociedade na qual possa haver a plena realização de direitos humanos”.

(GONZALEZ, 2004, p. 12).

Em trabalho realizado em parceria com cientistas sociais da África do Sul e de Bangladesh sobre as percepções das classes sociais mais economicamente favorecidas sobre pobreza e desigualdade, Elisa Reis (2000) demonstra o quão crucial e estratégica seria a questão educacional para os indivíduos mais ricos no Brasil.

Segundo os resultados de sua ampla pesquisa, Reis (2000) indica que o principal objetivo nacional em médio prazo, segundo as elites (termo utilizado pela autora), era melhorar os níveis educacionais. Nas palavras da autora “[...] A educação foi indicada como a dimensão estratégica para policy intervention”. (REIS, 2000, p. 146). O estudo também mostra que, segundo as elites, os principais obstáculos à democracia no Brasil eram o baixo nível educacional da população, assim como a educação – juntamente com a saúde e representando 15,9 % das opiniões coletadas – estaria em segundo lugar no que consiste aos principais problemas nacionais apontados pelos entrevistados.

Para Reis (2000),

“[...] nos diferentes setores da elite um peso muito grande é atribuído aos investimentos em educação, que aparecem como a grande panaceia. A educação é vista como um recurso a ser explorado pelo poder público tendo em vista dotar os setores mais pobres da população de condições para competir por um lugar melhor na estrutura social sem envolver uma ativa

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possibilidade de melhoria para os pobres sem custos diretos para os nãos

pobres”. (REIS, 2000, p. 146-147).

A prioridade conferida à questão educacional – em relação a outras ditas demandas sociais – vem sendo abordada tanto pelo setor midiático, como por algumas produções acadêmicas. Esse conjunto de opiniões de diferentes agentes sociais nos fez refletir sobre como a educação vem sendo problematizada e articulada. Ressalta-se que no capítulo segundo desta dissertação abordaremos de forma mais intensiva como a questão educacional vem sendo abordada pela mídia, pela universidade e pelas diferentes classes sociais.

No caso da nossa pesquisa, a reflexão se debruça sobre as formas de compreensão e/ou de reflexão das ONGs acerca da questão educacional e por que motivo cada uma das instituições analisadas enfatiza uma determinada prática educacional como prerrogativa de suas intervenções na sociedade.

Na cidade de São Luís a questão acadêmica se faz legítima por uma série de motivos. O primeiro deles reside no fato de buscarmos situar a presente cidade na discussão acadêmica sobre ONGs. O segundo motivo se deve ao nosso anseio por pontuarmos algumas reflexões sobre a educação na cidade, visto que inúmeras pesquisas apontam o nível educacional no estado do Maranhão como deficitário. O terceiro e último motivo para discorrermos sobre ONGs educacionais em São Luís encontra ensejo no fato de buscarmos empreender uma investigação social sobre como algumas ações da chamada sociedade civil organizada vêm sendo articuladas aqui e como se articularam com a questão educacional.

Procedimentos metodológicos

Primeiramente realizamos duas atividades de pesquisa: realizamos uma revisão da literatura a qual serviu de base para este estudo e empreendermos uma pesquisa exploratória sobre as ONGs as quais possuíam projetos apoiados na questão educacional na cidade de São Luís.

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maneira que são passíveis de serem elaborados acerca desta forma institucionalizada de se pensar e intervir na sociedade. E algumas das suas inúmeras possibilidades de abordagem teórica já foram mencionadas ao longo desta introdução.

Depois de decidirmos ter como tributário a esta pesquisa o recorte metodológico relativo às ONGs, verificamos que as entidades desta natureza as quais possuem a educação como uma de suas principais prerrogativas totalizava até o início do ano de 2012, em São Luís, o número de sete instituições.

Acerca das sete organizações citadas, convém ressaltar que nenhuma tem como objetivo único à promoção de possíveis melhorias educacionais, pois todas trabalham com a perspectiva multivariada no que condiz à formulação de seus projetos. Assim, as sete instituições buscam a inserção no campo educacional, mas também preconizam suas atuações em outros setores, como o da saúde.

Também se seguiu uma pesquisa documental sobre o material disponibilizado e apresentado por estas sete organizações em seus sites6 oficiais a fim de termos as primeiras impressões sobre os seus objetivos e sobre as demais informações necessárias a esta pesquisa, tais como ano de fundação de cada ONG, por exemplo.

Dentre as instituições que compõem o quadro atual de ONGs com alguma forma de atuação na educação, em São Luís, elencamos como amostra de nossa análise três organizações as quais poderiam nos oferecer possibilidades de tecermos comparativos mais ricos no que concerne a esta reflexão sociológica. Para ilustramos essa verificação, cabe a nós mostrarmos o quadro 4, a seguir, concernente a estas organizações situadas na cidade.

Gostaríamos de ter mais meios e qualidade de tempo para abarcarmos, em nível de pesquisa, todas as ONGs educacionais da cidade, mas não foi possível. Sendo assim, segue a explanação breve sobre as peculiaridades das organizações que foram escolhidas para fins de pesquisa.

A primeira delas é a Formação (apontada pela Revista Nova Escola, número 203, como uma ONG, em São Luís, de ampla área de atuação, inclusive na temática “educação integral” e reconhecida nacionalmente pelo meio das ONGs “educacionais”). Ela foi formada por maranhenses desde seu início e fundada por educadores que se autodenominam, logo na

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Quadro 4 Organizações Não Governamentais com premissas educacionais em São Luís.

Instituições Natureza

Jurídica Nacionalidade Fundação Ano de Contatos CDI

ONG Brasileira -

- 32226799 -

- www.cdi.org.br Centro de Defesa Padre

Marcos Passerini ONG Brasileira 1991 - 32318205 - R. 7 de setembro, Centro - www.cdmp.org.br CEPROMAR

ONG Francesa 1982

- 32438057

- R. Ipixuna, nº 100, Parque Pindorama - www.cepromar.com.br

CUFA

ONG Brasileira 1999 - 81190417 - R. Laerte Santos, s/n, Vila Fialho - http://cufamaranhao.blogspot.com Formação

ONG Brasileira 2003 - 32277203 - Rua das Limeiras, nº 14, Qd D, Renascença - www.formacao.org.br

LBV

ONG Brasileira 1982

- 32141428

- R. Ribamar Pinheiro, nº 9, Madre Deus - www.lbv.org.br

Plan

ONG Inglesa 1997

- 32358490

- Av. Colares Moreira, nº 02, sl. 1102, Ed. Planta Tower

(27)

apresentação da mesma em seu site, como “militantes” da fomentação de bases para a elaboração de políticas públicas educacionais.

A mesma, em linhas gerais, tem sua atenção voltada para projetos educacionais tanto na presente cidade como na região da Baixada Maranhense. Seus financiadores são agentes nacionais e internacionais, mas, em sua maioria, seus recursos são provenientes de parcerias com o Estado e busca, segundo ela, trabalhar em redes de organizações educacionais.

Já a segunda ONG é a Legião da Boa Vontade (LBV), uma das ONGs mais antigas da cidade, com atuação no campo educacional local desde 1982. Esta entidade teria a visão mais centrada numa base religiosa das quatro aqui elencadas. Também possui uma sede onde funciona o seu centro comunitário onde busca, segundo ela, colaborar para que os valores éticos não desapareçam do processo educativo. Das instituições aqui escolhidas, ao menos num primeiro momento, é a que mais enumera fatores filantrópicos para justificar suas intervenções nas comunidades contempladas por seus projetos.

E, por fim, a terceira ONG é a Central Única das Favelas (CUFA), instituição aqui elencada com atuação mais recente na presente capital. Tem suas raízes no movimento negro carioca e encontra respaldo para as suas ações na chamada cultura hip hop. Em nível local, a CUFA pretende, segundo seu site, promover oportunidades para jovens saírem da chamada “exclusão social”, por meio de cursos de break ou graffiti, por exemplo. Dentre as instituições contempladas por este estudo é a única até o momento que possui atuação marcante nas chamadas redes sociais, como o Twitter, assim como é a única a possuir um blog como ferramenta de divulgação de suas intervenções na cidade.

Depois de elencarmos os critérios da escolha das três instituições se seguiu a fase relativa às entrevistas informativas (ou entrevistas exploratórias) com as lideranças consideradas como interlocutoras destas entidades. Nossa concepção metodológica foi pautada tanto na pesquisa qualitativa, quanto no método do estudo de caso, e também na análise documental oriunda dos materiais das ONGs elencadas aqui.

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linhas gerais, discorrer sobre conceitos os quais perpassam pelo debate sobre a problemática abordada, como os de cidadania ou o de sociedade civil, por exemplo.

Ainda na construção do primeiro capítulo, apresentamos o debate acadêmico em torno dos pilares aqui tratados, e também as críticas que são empreendidas acerca das duas abordagens elencadas no presente estudo. Também se levou em conta a trajetória da questão educacional até a mesma ser vista com toda esta preponderância a algum tempo, da mesma forma que fora realizado um levantamento sobre as estatísticas concernentes à relação sugerida nesta dissertação. Também trazemos como enfoque neste capítulo as contribuições de noções e categorias sociais que perpassam de uma maneira ou de outra, pelo estudo de ONGs, tais como “parceria”, “cooperação” e “solidariedade”.

Já no segundo capítulo, a nossa proposta foi a de discorrermos sobre como a relação entre o Estado, as ONGs e a questão da educação se formataram historicamente no Brasil, ressalvando a questão das parcerias entre o Estado e as ONGs e como a educação passou a ser a temática priorizada por estas instituições. Analisar como a Lei 9.637/99 teve impacto sobre o aumento das parcerias entre o Estado e as ONGs também foi um elemento buscado por nós, da mesma forma que verificar de que maneira estas entidades realizaram um percurso histórico que lhes permitiu terem voz suficiente para serem consideradas interlocutoras da chamada “sociedade civil brasileira” igualmente foram aspectos que entraram no debate promovido por nós no Capítulo II.

E no terceiro capítulo, de cunho preponderantemente comparativo já que este método fora escolhido por nós, empreendemos o estudo de caso das três ONGs aqui abordadas, procurando investigar sociologicamente as seguintes questões: as peculiaridades de cada uma das instituições; discorrer sobre seus principais projetos sociais em execução, no momento desta pesquisa, e verificar como cada ONG percebe tanto a educação como o papel da instituição nas Políticas Públicas locais; pontuar as diferentes formas de organização do trabalho de cada instituição. Buscamos apreender de onde surgiram as demandas sociais que propiciaram a criação de ONGs educacionais em São Luís. Pontuamos, também, como cada uma das ONGs escolhidas surgiu, elencando o momento histórico que perpassou pela sua criação, assim como discorremos sobre a proposta educacional de cada uma das instituições.

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e, posteriormente, de parceria e cooperação entre os mesmos; análise da formação de ONGs educacionais específicas na cidade de São Luís; comparação entre os perfis das entidades abarcadas por nosso estudo; comparação dos perfis acadêmicos e militantes dos principais agentes destas instituições; análise da questão educacional segundo a visão destes agentes e em relação destes com a perspectiva preponderante da entidade da qual fazem parte.

Vale também ressaltar que o método de estudo de caso foi elencado por nós visto que procuramos entender um fenômeno mais geral – o qual seja a inserção e a importância das ONGs educacionais7 – a partir da análise de situações (leia-se ONGs em São Luís) mais específicas. Isto é sublinhado, igualmente, por Ponte (2006) o qual nos diz que

“[...] é uma investigação que se assume como particularista, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir a que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de certo fenómeno de interesse” (PONTE, 2006, p. 2).

7

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Capítulo I – As contribuições sociológicas para a elaboração de uma agenda de pesquisa acerca das ONGs.

1.1. Sociedade civil e Terceiro Setor. Como o estudo do fenômeno social das ONGs perpassa por estes conceitos.

Quando se inicia um estudo sobre Organizações Não Governamentais percebe-se que inúmeros são os fenômenos sociais – da mesma forma que as diferentes terminologias – que perpassam pela formação de uma agenda de pesquisa referente às ONGs. Sociedade civil, Terceiro Setor, mercado da solidariedade e inclusão social são apenas algumas das muitas noções as quais aparecem com frequência em pesquisas acadêmicas voltadas para a análise do fenômeno social referente à institucionalização das ONGs.

Não é nosso objetivo nos aprofundarmos nas noções acima citadas, porém, é plausível a reflexão sobre as mesmas para que possamos situar melhor boa parte da discussão em torno desses agentes sociais denominadas comumente como ONGs.

A definição que escolhemos como respaldo teórico para falarmos sobre ONGs advém da análise do seu primeiro uso, realizado pela Organização das Nações Unidas em 1950. A mesma nos diz, resumidamente, que são todas as organizações da sociedade civil que não estivessem vinculadas a um governo. Porém, é relevante observamos o debate suscitado pela declaração apresentada pela ONU8.

Segundo Campos (1999), é quase um consenso dizer que a definição apresentada é muito limitada. Para o autor, não basta dizermos aquilo que cada ONG é como, por exemplo, uma instituição privada e que não foi criada pelo governo e que não busca lucros, pois isto é uma conceituação demasiadamente elástica. Também é fácil dizer o que uma ONG não é; porém, se faz complexa a aceitação de uma única definição universal e definitiva para o

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termo, visto que devemos atentar para os momentos de criação de cada entidade e para os objetivos específicos de cada uma destas instituições.

Conseguimos notar que a pluralidade talvez seja a marca destes tipos de organizações e, sendo assim, é impossível limitarmos as mesmas numa única conceituação. A heterogeneidade destas entidades se faz presente nas suas diferentes estruturas organizacionais, nos seus diferentes objetivos, na composição dos indivíduos que delas fazem parte e na evolução histórica de cada uma. Ainda que certas ONGs se definam como atuantes, marcadamente, na área educacional, ainda sim cabem diferenças estruturais pungentes entre elas.

Por estes motivos, preferimos sublinhar neste estudo que as ONGs são organizações oriundas de iniciativas da sociedade civil que buscam realizar intervenções as mais diversas possíveis em diferentes segmentos de públicos-alvo para atingirem objetivos peculiares a cada entidade.

É válido que se ressalte que a discussão teórica em torno do conceito de sociedade civil é vasta e já pensada como questão clássica. Para além de tomadas de decisões, buscamos salientar através dos enfoques a serem abordados que fenômenos sociais como os movimentos sociais em busca de igualdade – em sentido amplo – e de efetiva participação na chamada comunidade política transcendem diversos fatores na constituição da sociedade civil.

De antemão podemos mencionar dois marcos históricos acerca do estudo da noção de sociedade civil. Estes seriam os rearranjos societários congregados pelo capitalismo, igualmente como os movimentos sociais que buscavam uma inserção mais holística, digamos assim, no âmbito da participação política. Estas pontuações históricas sublinharam a relevância do conceito abordado, em como geraram reflexões difusas sobre o mesmo.

Koslinski (2007) empreende em seu trabalho um vasto resgate histórico acerca do debate em torno do conceito de sociedade civil e sugere alguns pontos de diferenciação no que tange às mudanças ocorridas nas atribuições a este conceito. Segundo esta autora, até meados do século XVIII o conceito de sociedade civil não era distinguido do conceito de sociedade política.

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Também segundo a referida autora, é somente a partir de meados do século XVIII que passa a existir, por parte das reflexões teóricas, uma diferenciação entre o que é sociedade civil e o que é esfera do Estado. A autora ressalta que essa mudança no pensamento social passa a notar a sociedade civil da seguinte forma:

“[...] em geral, é caracterizada como a esfera regulada pelo mercado, sob o controle privado ou voluntariamente organizada ou como a esfera que compreende instituições de mercado, associações voluntárias e a esfera pública. Não havia uma separação entre a esfera de mercado e a da

sociedade”. (KOSLINSKI, 2007, p. 39).

Já Keane (1998) elenca o pensamento de Tocqueville no resgate histórico sobre o tratamento do conceito de sociedade civil que, igualmente, empreende. Para Keane (1998), a reflexão de Tocqueville difere da dos demais pensadores do século XVIII e XIX devido ao fato do referido autor fazer alusão a três diferentes esferas de ação e não a penas duas esferas como os demais autores.

Segundo Keane (1998), Alexis de Tocqueville avalia que as três esferas de ação seriam: o Estado – que seria congregado pelas instituições políticas formais e pelo exército –; a sociedade civil a qual seria formada pelas atividades e pelos interesses econômicos; e a sociedade política a qual compreenderia os partidos políticos, a opinião pública, associações civis (como, por exemplo, igrejas e sociedades literárias), organizações profissionais, comerciais e recreativas.

Se evocarmos o pensamento de Karl Marx para pontuarmos o conceito de sociedade civil, encontraremos a seguinte ponderação em “A Ideologia Alemã”:

“[...] a sociedade civil compreende o conjunto das relações materiais dos indivíduos dentro de um estágio determinado de desenvolvimento das forças produtivas; [...] compreende o conjunto da vida comercial e industrial de um estágio e ultrapassa, por isso mesmo, o Estado e a nação, embora deva, por outro lado, afirmar-se no exterior como nacionalidade e organizar-se no

interior como Estado”. (MARX, 2002, p. 33).

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espaço concreto –o “palco” – onde a história se desenvolveria não se fechando somente aos grandes acontecimentos políticos, por exemplo.

Outra importante pontuação feita por Marx (2002, p. 34) é a de que a sociedade civil só se desenvolve como tal a partir da burguesia, mas adverte que “[...] a organização social resultante diretamente da produção e do comércio, e que constitui em qualquer tempo a base do Estado e do restante da superestrutura idealista, tem sido constantemente designada por esse mesmo nome”.

Segundo Johnson (1997), já no tocante ao pensamento de Gramsci, nos diz que este argumentou que o centro da chamada sociedade civil não era tão somente o indivíduo, mas também as organizações privadas, tais como as empresas. O autor ainda recorda que Gramsci afirmou que a sociedade civil e o Estado se fundem de tal forma que os limites entre ambos teriam difíceis demarcações. Existiria, assim, a necessidade de compreensão da relação mutuamente reforçadora entre os dois.

Coutinho (2011), da mesma forma, faz em seu trabalho alusão às concepções teóricas tanto de Karl Marx como de Gramsci no que é relativo à reflexão sobre a sociedade civil. A autora faz a seguinte ressalva: “Em ambos, sobressai à reflexão sobre a possibilidade (e a necessidade) de práticas anti-hegemônicas, destruidoras dos aparatos de pressão e dominação de classes”. (Coutinho, 2011, p. 78-79).

A mesma autora ainda nos chama a atenção no que condiz a algumas críticas acadêmicas feitas em relação à dicotomia entre a sociedade civil e o Estado, a qual seria tida como uma falsa contraposição entre ambos. Coutinho (2011) elenca a crítica trazida por Petras (1999) o qual pensa a sociedade civil como resultante das divisões sociais acarretadas pelo Capitalismo e que afirma a existência de conflitos no próprio cerne da sociedade civil, do mesmo modo que entre esta e o Estado.

Porém, é importante que se ressalve que Coutinho (2011) ao trazer a crítica citada de Petras (1999) – considerado como um autor com fortes críticas à ação das ONGs – também sublinha autores que creditam às ONGs e à sociedade civil a importância para que sejam mecanismos e/ou atuações cruciais para a manutenção da ordem democrática (Alvarez; Dagnino; Escobar, 2000).

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Farias (2011) em seu trabalho aborda Bendix (1996) e ressalta a principal ênfase do autor a qual seria a questão da reciprocidade de direitos e deveres no âmbito da comunidade política. Bendix (1996) se vale do conceito de cidadania para fundamentar a sua tese de que a mesma só teria valor mediante o aumento da participação dos indivíduos na comunidade política. Desta forma, somente de posse dos chamados direitos civis, políticos e dos sociais é que os cidadãos equacionariam o necessário para garantirem a igualdade e, assim, efetivarem a consecução da cidadania.

Farias (2011) também pontua outro fator relevante na obra de Bendix (1996). O referido autor salienta que, a partir do século XIX, a igualdade almejada não seria tão somente a civil, mas também aquela referente aos âmbitos político e social. A questão da chamada desigualdade passa a ser factual e debates em torno do acesso à educação, por exemplo, passam a fazer parte da política nacional devido à inserção das classes menos favorecidas nesse rol de discussões e de participação política.

Para Vieira (2001), existiria um contraponto entre as teorias de Reinhard Bendix (1996) e de Karl Marx (2002), já que para este a noção de sociedade civil abarcaria o rol de atividades – tal como de organizações e de empresas – fora do Estado. Já para Bendix (1996) a ênfase seria na cidadania (não restrita à circunscrição da lei), como outrora mencionado, o que segundo Vieira (2001, p. 34) gera os seguintes resultados: “[...] abre-se espaço para que, na esfera pública, grupos voluntários, privados e sem fins lucrativos, formem assim a denominada sociedade civil”.

Koslinski (2007) também nos alerta que o conceito de sociedade civil teria passado por um período de obscuridade (leia-se certo desuso) e somente com a discussão em torno do princípio de autoridade é que o conceito de sociedade civil teria, segundo a autora, voltado à agenda de pesquisa das Ciências Sociais.

Para Koslinski (2007), a seguinte pontuação é válida:

“[...] se a distinção defendida no século XVIII estava relacionada a uma visão da sociedade civil contra governos despóticos, o reavivar do conceito nas últimas décadas tem um paralelo: a sociedade civil é, ao menos inicialmente, usada para a compreensão de fenômenos tais como a resistência ao totalitarismo, à transição de governos burocráticos-autoritários para democracias e frente às tendências de corporativização em democracias

estabelecidas”. (KOSLINSKI, 2007, p. 42).

(35)

mais recentes, assim como no que tange ao papel que essa sociedade civil deveria desempenhar no tocante à democracia.

Há quem designe a sociedade civil como uma promessa advinda do Iluminismo e até hoje não realizada de maneira completa “[...] civil society remains a utopia, a promise that has yet to be entirely fulfilled, even if European reality today corresponds much more closely

to this plan, this utopia, than it did in the past”. (Kocka, 2004, p. 69).

Para Cohen e Arato (1994), o conceito de sociedade civil volta a estar em voga – tanto para as Ciências Sociais como para a mídia em geral – a partir dos acontecimentos no Leste Europeu. Segundo os autores, a sociedade civil fora extinta dos sistemas políticos totalitários, “nos moldes do soviético”, o que teria gerado o movimento Solidariedade o qual tinha como marco “a sociedade civil contra o Estado”.

Em relação à América Latina, o conceito de sociedade civil passa a ser evocado pelo meio acadêmico no sentido de uma necessidade de que se desenvolvesse uma sociedade civil forte e lúcida como uma forma de resposta aos regimes autoritários que limitariam essa força. A sociedade civil, na América Latina, assim, aparece como um conceito que preconizava a luta dessa sociedade tanto no que tange à chamada repressão política, quanto à exclusão socioeconômica pelas quais suas populações passavam.

Portanto, o conceito de sociedade civil vem à tona na América Latina, congregando a chamada “mobilização popular” a fim de que “novos atores sociais” ressurjam no cenário político para promoverem novas formas de intermediação da sociedade. Surge uma nova adjetivação para a sociedade civil; é a chamada sociedade civil organizada.

Para Lisboa (2003), no que concerne à América Latina, o termo sociedade civil tem seu uso difundido no que se refere às entidades as quais se diferenciam do mercado e do Estado e que atuam no sentido de oferecerem novos rumos aos modelos de desenvolvimento e às maneiras de se gerir as políticas societárias, por exemplo.

Nesse contexto de discussão sobre quais seriam “os novos papéis da sociedade civil”, surgem também as Organizações Não-Governamentais. Muito embora esse breve histórico das ONGs passe a ser tratado de forma mais aprofundada por nós no Capítulo II do presente estudo, vale à pena desde já realizarmos algumas pontuações.

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civil’, pois implicam interesses (geralmente opostos) de classes sociais, frações ou camadas de classes antagônicas”. (COUTINHO, 2011, p. 81).

E a mesma autora ainda acrescenta “[...] somente o rigor teórico pode impedir que o uso acrítico de uma noção que comporta sentidos bastante heterogêneos (‘sociedade civil’) produza resultados lamentáveis, como a reafirmação da autonomia da ‘sociedade civil’[...]”. (COUTINHO, 2011, p. 81).

Para além de uma promessa do Iluminismo ou do fato de se contrapor ou não à esfera estatal, faz-se plausível salientar que o conceito de sociedade civil tem seus usos e (re) usos baseados em interesses totalmente distintos tanto por parte de quem se vale do conceito num dado arcabouço teórico, quanto por parte daqueles que clamam para si uma fração na participação dessa sociedade civil, seja como porta-voz de um determinado movimento e/ou instituição, seja como crítico da validade e/ou extensão de seu uso.

Desta forma, ao fazermos este breve resgate teórico e reflexivo do conceito de sociedade civil, notamos que seria uma tarefa impossível suscitar quaisquer problemáticas acadêmicas sobre ONGs no Brasil sem perpassarmos pela noção de sociedade civil e, consequentemente, pelos movimentos sociais e eventos políticos responsáveis por sua configuração no país. Da mesma maneira, o conceito de Terceiro Setor apresenta grande peso em estudos sobre as instituições aqui tratadas e é sobre o que discorreremos a seguir.

Antes de qualquer coisa, ressalta-se aqui que o conceito abordado em seguida o qual seja o de Terceiro Setor suscita debates teóricos dos mais diversos; sendo assim, mostraremos a seguir algumas das diferentes formas de argumentações acerca do conceito citado.

Em entrevista à ABDL - Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças, em julho de 2003, Lester Salamon apresentou sua visão sobre o chamado Terceiro Setor:

“[...] é um conjunto muito amplo de organizações autônomas de caráter privado que não distribuem lucros para seus membros. Nessas organizações as pessoas são livres para escolher se participarão ou não, ou seja, são organizações voluntárias. Elas também não são ligadas aos governos. Isso inclui hospitais, educação, organizações não governamentais voltadas para o desenvolvimento e os direitos humanos.”

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têm que tomar a iniciativa em suas próprias mãos e começar a agir por conta

própria” (ABDL, 2003).

Já Lisboa (2003) possui uma visão distinta do autor anterior o que fica claro quando ressalta que

“[...] o Terceiro Setor compreende qualquer forma de atuação de organizações privadas sem fins lucrativos dirigidas a finalidades públicas. [...] assim, somam-se dentro dele atividades extremamente heterogêneas e até contraditórias: voluntariado, formas tradicionais de ajuda mútua, cooperativas, associações civis, ONGs, ações de filantropia empresarial e movimentos sociais. [...] a grande diversidade do que se descreve traz divergências, confusões e debilidades conceituais, metodológicas e

operacionais” (LISBOA, 2003, p. 253).

Por comportar tantas formas dos cidadãos buscarem algum tipo de intervenção na sociedade, o termo Terceiro Setor vem sendo chamado para embasar e delimitar os mais diversos tipos de atividades congregadas pelos mais diferentes tipos de agentes sociais. Há quem sugira que seja tanto uma terceira forma de sistema – o que o diferenciaria do Estado e do mercado – como quem diga que o Terceiro Setor é um “trajeto novo” que vem sendo aberto e formatado tão somente pelos cidadãos.

Ainda que o nosso objetivo neste estudo seja o de salientarmos como uma variedade de conceitos está fortemente imbrincada com os estudos referentes às ONGs, há o desejo de discorrermos brevemente sobre o assunto abordado.

Quando recorremos ao material midiático, constantemente o mesmo faz alusão à tese que o Terceiro Setor é o “caminho” para que dois objetivos sejam conquistados: o que preconiza e que só com uma forte organização da chamada sociedade civil é que a mesma passaria ter voz nos debates acerca dos problemas sociais e das politicas públicas as quais os solucionariam; e que através das iniciativas oriundas do Terceiro Setor – pensado como formado por aqueles que vivenciam ou conhecem os problemas – os cidadãos conseguiriam de forma independente de outros setores se organizarem em prol de questões públicas (leia-se “questões que são responsabilidades de todos”).

Este tipo de abordagem, a nosso modo de ver, negligenciaria alguns fatores. O primeiro deles seria o referente ao próprio peso do conceito de associação civil e de toda tradição Rousseauniana9 – só para citarmos um pensador – a qual sublinhava que o espaço

9

(38)

público teria limites que transcenderiam o aparelho estatal. Também por esse motivo existem autores que nos dizem que as associações civis seriam formas originais de sociabilidade sendo, assim, o Primeiro Setor não o Terceiro Setor.

Outro fator deixado de lado por parte desse pensamento é o fenômeno relativo às parcerias e aos mecanismos de cooperação. Este assunto será abordado mais profundamente no próximo tópico deste capítulo, porém, se faz relevante desde já mencionarmos alguns aspectos. Tanto empresas privadas como o Estado cada vez mais participam tanto do processo de constituição, como do auxílio de financiamento de projetos de organismos pertencentes ao Terceiro Setor. Isto já era uma tradição no que tange os Estados Unidos e hoje, marcadamente, também no Brasil. Só para ilustrarmos este argumento, vale a pena ressaltarmos com o quadro 5, o que a ABONG nos mostra sobre as parcerias efetivadas por suas afiliadas.

Quadro 5 - Comparações sobre fontes de financiamento das afiliadas à ABONG.

Comparação fontes de financiamento acessadas

entre 2001 e 2008 (%) 2001 a 2004 2004 a 2008

Cooperação e solidariedade internacional 50,50 50,00

Recursos públicos federais 37,13 17,50

Doações de indivíduos 26,24 29,60

Empresas, institutos e fundações empresariais 37,13 43,00 Comercialização de produtos e serviços 27,72 25,90

Recursos públicos municipais 25,74 32,40

Contribuições associativas 11,39 30,50

Agências multilaterais e bilaterais 10,89 1,80

Recursos públicos estaduais 26,73 41,70

Fonte: ABONG, Panorama das Afiliadas, 2010.

(39)

É valido mencionarmos a reflexão proposta por Lisboa (2003) acerca do fato de devermos estar atentos à dimensão politica por tantas vezes deixada de lado pela discussão sobre o Terceiro Setor. O referido autor nos diz que:

“[...] é preocupante a pseudodespolitização que impera no discurso das entidades civis surgidas ao longo dos anos noventa, encobrindo sua integração ideológica às politicas neoliberais; de positivo, constatamos que estamos superando as visões Maniqueístas: não cabe mais pensar o social apenas a partir do mercado ou do Estado, não ficamos mais aprisionados ao falso dilema de revolução ou reforma; o fracasso do socialismo real indica isso com toda clareza bem como o fracasso social do capitalismo e a insuficiência da regulação pelo mercado” (LISBOA, 2003, p. 257).

Outra critica ao uso desenfreado da terminologia Terceiro Setor e da dimensão politico-ideológico que, por vezes, é diminuída por quem faz uso da mesma é apontada por Coutinho (2011). A referida autora nos diz

“[...] a função social da ideologia do Terceiro Setor não consiste em oferecer aos sujeitos um conhecimento cientificamente adequado das estruturas do capitalismo e muito menos das particularidades das relações sociais em tempos de neoliberalismo, mas possui grande eficácia ao reforçar o processo

de constituição dos dominados como ‘carentes’ e ‘excluídos’ [...]”

(COUTINHO, 2001, p. 40).

Landim (2002) também nos oferecem importantes pontuações sobre o chamado Terceiro Setor, já que esta autora propõe uma reflexão acerca da função deste termo dentro da discussão sobre ONGs. A mesma nos diz que o termo “Terceiro Setor” não só nasceu nos Estados Unidos como acabou sendo disseminado para os outros países trazendo consigo as nuances e os matizes da cultura cívica do seu país de origem.

Landim (2002) ainda aponta que essa herança do chamado individualismo liberal norte-americano para com o Terceiro Setor fez com que o ideário associativo não só fosse perpetrado aos demais países, como resultou no acolhimento deste termo por um seguimento bem especifico: o nicho da filantropia empresarial10. Segundo a autora, o termo Terceiro Setor trás em sua tradição a ideia de colaboração fazendo um contraponto com a história associativista de nosso país, onde a ideia de conflito fora, sim, mais marcante e imersa em situações as quais se encaixariam em lutas politicas.

Imagem

Figura 1  –  Respostas Estratégicas

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