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Resiliência e familias: reflexão teórica sobre laços afetivos e familiares / Resilience and families: theoretical reflection on affective and family ties

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Academic year: 2020

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Resiliência e familias: reflexão teórica sobre laços afetivos e familiares

Resilience and families: theoretical reflection on affective and family ties

DOI:10.34117/bjdv6n6-048

Recebimento dos originais: 08/05/2020 Aceitação para publicação: 02/06/2020

Joana Darc Martins Torres

Formação acadêmica: Enfermeira- Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde Instituição: Universidade Estadual do Ceará- UECE.

Endereço: Rua General Silva Júnior, 640. Fátima. Fortaleza- Ceará. E-mail: joanairaja@gmail.com

Antonia de Maria Gomes Paiva

Formação acadêmica: Enfermeira- Mestre em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde Instituição: Universidade Estadual do Ceará- UECE.

Endereço: Rua João Xerez, 607, Aldeota, Ipú - Ceará. E-mail: dymarry@yahoo.com.br

Maria Veraci Oliveira Queiroz

Formação acadêmica: Doutora em Enfermagem-Docente do Programa de Pós- Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde

Instituição: Universidade Estadual do Ceará- UECE. Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700 - Itaperi, Fortaleza – CE.

E-mail: veracioq@hotmail.com

Ana Ruth Macedo Monteiro

Formação acadêmica: Doutora em Enfermagem-Docente do Programa de Pós- Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde-

Instituição: Universidade Estadual do Ceará- UECE. . Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700.

E-mail: anaruthmacedo@yahoo.com.br.

Maria Sinara Farias

Formação acadêmica: Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde

Instituição: Universidade Estadual do Ceará- UECE.

Endereço: Avenida Comodoro Estácio Brígido, Luciano Cavalcanti. Fortaleza- Ceará. E-mail: sinarafariasbc@gmail.com

Ana Maria Martins Pereira

Formação acadêmica: Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde

Instituição: Universidade Estadual do Ceará- UECE. Docente na Faculdade Terra Nordeste- Fortaleza.

Endereço: Rua das Carnaúbas, 551. Passaré. Fortaleza- Ceará. E-mail: ana.pereira2018@outlook.com

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Maria Aline Alves Pereira

Formação acadêmica: Enfermeira. Especialista em Enfermagem Obstétrica e Neonatal Instituição: Centro Universitário – UNINTA- Sobral- CE.

Endereço: Rua Florindo Guilherme Lima, 935, Boa Vista- Ipú- Ceará E-mail: m.aline@hotmail.com.

RESUMO

O presente trabalho surgiu da compreensão de que, embora muitas famílias sejam abaladas por estressores, em muitas outras o fortalecimento emana em meio às crises. Esta evidência levou-nos ao desafio de compreender a resiliência como constructo de grupo social e não apenas individual. Objetivo do estudo: refletir sobre os conceitos de resiliência familiar, bem como entender como esse conceito pode ser determinante na ressignificação dos vínculos afetivos e familiares. Método: Estudo de abordagem qualitativa, no qual buscou-se efetivar uma reflexão acerca do constructo Resiliência, ancorados no referencial teórico psicanalítico e na visão sistêmica de Resiliência familiar. Sobretudo, a análise contemplou contextos da resiliência familiar ou malhagem de laços psíquicos, padrões organizacionais como promotores de resiliência familiar, e avaliação orientada para a prática da resiliência familiar. O conceito de resiliência familiar é construto novo e ainda restrito em termos de pesquisa no Brasil. Portanto, é relevante compreender em nosso contexto, que o grupo familiar é campo e objeto de elaboração de novos conceitos mediante a sua dinâmica, necessita de ampliação de suas modalidades de intervenção, o que poderá contribuir para mudanças positivas frente às adversidades cotidianas.

Palavras-Chave: Resiliência Familiar, Laços, adversidade.

ABSTRACT

The present work arose from the understanding that, although many families are shaken by stressors, in many others the strengthening emanates in the midst of crises. This evidence led us to the challenge of understanding resilience as a social group construct and not just an individual one. Objective of the study: to reflect on the concepts of family resilience, as well as to understand how this concept can be decisive in the redefinition of affective and family bonds. Method: Study of a qualitative approach, in which an attempt was made to reflect on the construct Resilience, anchored in the psychoanalytical theoretical framework and in the systemic view of family Resilience. Above all, the analysis included contexts of family resilience or meshing of psychic ties, organizational patterns as promoters of family resilience, and assessment oriented to the practice of family resilience.

The concept of family resilience is a new construct and still restricted in terms of research in Brazil. Therefore, it is relevant to understand in our context, that the family group is a field and object of elaboration of new concepts through its dynamics, needs to expand its intervention modalities, which can contribute to positive changes in the face of daily adversities.

Key-words: Family resilience, bonds, adversity.

1 INTRODUÇÃO

A Resiliência pode ser compreendida como a capacidade de resistir a desafios perturbadores. Muitas vezes confundida com a resistência, a Resiliência é um conceito que se faz importante na teoria, prática e na pesquisa clínica em saúde nas últimas décadas. Existem variadas definições de resiliência e difentes sentidos de sua aplicabilidade prática em várias disciplinas. Uma definição breve sobre o tema seria a de que esta condição, pode desencadear processos dinâmicos que estimulam a adaptação positiva em um contexto de adversidade. Podendo ser compreendida

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ainda como a capacidade de uma pessoa enfrentar e se adaptar, de forma flexível em situações consideradas limítrofes, e superá-las, emergindo assim fortalecidas de tais situações.

Neste contexto, a maioria dos estudos e pesquisas até o momento se concentrou na resiliência individual1. De forma marcante, a influência das relações apoiadoras a indivíduos e grupos, muitas vezes é alimentada por outras figuras que investem afetivamente no potencial criativo de um sujeito, que os encorajam a dar o máximo para que suas histórias de vida possam ser ressignificadas e reescritas. Assim, a resiliência vista de uma forma sistêmica, pode dar subsídios paraa recuperação e crescimento pessoal.

Conscientes de que crise e dasafios são próprios à condição humana, o conceito de resiliência se ancora na dinâmica do funcionamento familair e nos possibilita uma visão sistêmica de como esta estrutura conceitual pode ser trabalhada tanto na prevenção de crises, como no fortalecimento de familias vulneráveis.

A interação de influência biopsicossociais na resiliência reside no fato de que quando ampliadas as possibilidades de condições adversas, circunstâncias de pobreza, doença crônica, eventos traumáticos e perdas, reconhecem-se a interação entre natureza e criação na emergência da resiliência 1,2.

De outro modo, estressores importantes ou um acúmulo de estresse pode repercutir em mau funcionamento familiar e alterar, sobretudo a dinâmica de papéis familiares. Neste sentido, somos capazes de tolerar muito, e de mudar o os rumos de nossas história de vida,quando a resiliência emana como fator protetor do universo de significados, vivências e afetos. Mais do que tudo, quando nosso atributo usado é resistência, a adversidade testa nossos limtes de integridade, firmeza, tolerância e paciência. Mas não aprendemos nada novo ou desenvolvemos novas capacidades. Já quando a mudança envolve potencialmente transformação e crescimento pessoal e relacional que é forjado a partir da adversidade, podemos desenvolver habilidades, virtudes, aproveitando a adversidade, dando a ela um novo fim. Desta forma, a resiliência busca a superação em sua forma mais abrangente fazendo do desafio uma oportunidade única.

Nesta proposta, este artigo objetiva refletir sobre os conceitos de resiliência familiar, bem como entender como esse conceito pode ser determinante na ressignificação dos vínculos afetivos e familiares. Para ilustrar nossa conceituação teórica tomamos como referencial o Paradigma Psicanalítico3 e a visão sistêmica de Resiliência familiar1, 2.

2 CONCEITO DE RESILIÊNCIA FAMILIAR

A Resiliência é um conceito que oriundo da física e nos remete a idéia de acúmulo de energia dos materiais que são submetidos ao estresse. O cientista inglês Thomas Young (1807) foi

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quem primeiro cunhou o termo no campo da física4.

De fato, por muito tempo a Resiliência ficou restrita ao universo da resistência. No entanto, as mudanças ocorridas na pós-modernidade possibilitaram a construção de novos paradigmas, especialmente no campo das ciências humanas e da saúde: antes o olhar que se voltava para a patologia em si, toma-se hoje novo prisma refletindo as potencialidades e complexidades do ser humano.

Por ser um conceito oriundo das ciências exatas, parece não haver consenso de uma definição mais concreta sobre a Resiliência no campo das ciências humanas, decerto, pelo fato da complexidade da própria existência humana, o termo requer alguns cuidados. Não é clara nem tampouco precisa quanto na física ou na engenharia (e nem poderia ser), consideradas a complexidade e a multiplicidade de fatores e variáveis que devem ser levados em conta no estudo dos fenômenos humanos5.

Os conteúdos científicos que se voltam para a produção do construto Resiliência, buscam defini-la como um conceito que ao mesmo tempo social, tem características que se voltam para o comportamento humano. Contudo, as evidências de estudos mais amplos trazem o desafio de compreendê-la como constructo de grupo social e não apenas individual. Neste sentido, as pesquisas ora se debruçam sobre o constructo, ora se voltam para as aplicabilidades do mesmo. Se a literatura e os estudos sobre a resiliência em crianças e adultos são consideravelmente vastos, a resiliência nas famílias é um processo relativamente novo e ainda pouco investigado6.

Mas o que seria uma família resiliênte? Quais atributos a elas são requeridos? Para alguns autores, famílias resilientes apresentam elevados padrões de flexibilidade, vínculo familiar e sentido de coesão entre os seus membros (sendo que os mecanismos para ativar a resiliência são: reduzir as exigências familiares, aumentar as capacidades da família e alterar as apreciações cognitivas e significados familiares7). Estes processos denominam-se poder regenerativo ou processos de recuperação8.

Partindo do pressuposto acima, entende-se que: “o olhar que se volta para a resiliência na família deve procurar identificar e programar os processos-chave que possibilitem que as famílias não só lidem mais eficientemente com situações de crise ou estresse permanente, mas saiam delas fortalecidas, não importando se a fonte de estresse é interna ou externa à família” 9. Desta forma, entendemos que não há uma tipologia de traços que dizem ser ou não uma família resiliente, mas sim uma unidade funcional de componente familiar estaria relacionada a este processo, possibilitando a resiliência em todos os membros. De fato, quando é possível o manejo de crises familiares, e seu enfrentamento se dá de forma positiva, esta experiência é socialmente construída no grupo familiar Essa construção social dá-se, em primeira instância, no âmbito familiar, uma vez que é a família a

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primeira instituição a desempenhar o papel de transmitir os valores culturais e sociais ao indivíduo.

3 RESILIÊNCIA FAMILIAR OU MALHAGEM DE LAÇOS PSIQUÍCOS:

As famílias estão em constante mudança nas últimas décadas. A concepção de família se alarga para ser remodelada (de forma fluída) e se distância dos padrões até outrora concebidos. A variedade de rearranjos familiares se faz mais importante do que nunca. É relevante compreender o grupo familiar como campo e objeto de elaboração de novos conceitos que mediante a sua dinâmica, necessita de ampliação de suas modalidades de intervenção.

O conceito de resiliência familiar é construto novo e ainda restrito em termos de pesquisa no Brasil. Sendo ela objeto das pesquisas de campo da psicologia e das terapias familiares. Pesquisadores salientam que este processo deve ser considerado um fenômeno complexo, visto que é contínuo ao longo do tempo e composto por fatores individuais - traços de personalidade e características físicas - e ambientais, de acordo com o meio social em que a pessoa se insere10.

A noção da resiliência familiar propriamente dita é aquela que concerne aos membros individuais da família como recursos potenciais para a resiliência individual. Na resiliência familiar foca-se no risco e resiliência na família como unidade funcional1 Assim, percebe-se que resiliência

familiar relaciona-se com elementos protetores ao risco, enquanto a resiliência na família diz respeito à dinâmica familiar que já está organizada e arregimentada pela transmissão psíquica inter ou transgeracional.

É importante ressaltar que a resiliência familiar envolve mais do que a simples administração de situações de adversidades e sobrevivência12, pois sua estrutura pode também ser uma valiosa forma de nortear esforços e intervenções no campo da prevenção da saúde, com o intuito de apoiar e fortalecer as famílias vulneráveis em crise13. Assim, a forma como uma família enfrenta e lida com uma situação adversa fará com que os seus membros e sua unidade sejam influenciados em suas adaptações imediatas e em longo prazo. Neste sentido, a resiliência familiar tem efeito duradouro e prolongado, podendo gerar implicações no curso do desenvolvimento do grupo.

Uma orientação voltada para os sistemas familiares contemplam toda a atenção de rede relacional, bem como identifica os recursos potenciais para a resiliência família, ou processos- chaves os quais enfocam três domínios principais: sistemas de crença da família, padrões organizacionais e processos de comunicação14, 15 Figura 0.1

No viés da psicologia, a resiliência vem sendo pesquisada com maior freqüência na ultima década16. Explicitaremos neste sentido a noção de resiliência familiar e comunitária numa perspectiva

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Neste sentido, a resiliência familiar pode ser compreendida como a capacidade de

malhagem (filiação e desfiliação) dos laços psíquicos. Dito de outro modo, a capacidade de

desmalhar (desfiliação e remalhar, de desconstruir e reconstruir o laço, entendido como laço psíquico de filiação e afiliação). O primeiro nos liga, no nível genealógico a nossos ascendentes e nossos descendentes, o segundo nos define horizontalmente enquanto sujeitos com nossos pertencimentos3.

Decerto, a relação que nos define horizontalmente (remalhagem ou desmalhagem) funcionaria como extensão da liberdade de meu self afetivo, onde resignifico o mundo com o outros, para os outros. O emaranhado dos laços psíquicos de filiação e dos laços de afiliação forma as malhas, cujo agenciamento constitui uma malhagem.

Os principais conceitos para Benghozi3 no que tange a resiliência e desenhos de laços

são: malhagem, filiação, desmalhagem, remalhagem, transmissão psíquica genealógica, resiliência familiar e social. Suas pesquisas são importantes no sentido de que norteiam novas modalidades de intervenção clínica desenvolvidas pela psicoterapia psicanalítica de casais e famílias. Suas concepções teóricas partem do modelo epistemológico da complexidade fundamentado no desenvolvimento de uma clínica que se fundamenta no uso do ferramentas como espaçograma e genograma . Benghozi estende-se na dimensão das relações intersubjetivas, intrapsíquicas e transubjetivas no campo social – família, grupos e instituições – que compõe a complexa rede de vínculos, na qual o sujeito está inserido. Dai advém à idéia de rede, amarras e nós; derivam conceitos que ligam- conectam o sujeito, não somente aos seus diversos grupos de pertencimento, mas à sua herança genealógica (antepassados) e de transmissão (filiação).

4 CONTEXTOS DA RESILIÊNCIA FAMÍLIAR

Em um contexto de resiliência familiar é fundamental examinar a perspectiva desenvolvimental para examinar a dinâmica familiar em relação ao seu contexto social e cultural ao longo do ciclo vital multigeracional. Pois, mediante a própria dinâmica familiar, crises e adversidade variam com o tempo (ao menos espera-se) em relação a própria passagem da família pelo ciclo vital. A maioria dos estressores não é um evento único e nem tampouco de curta duração, mas um complexo que exige do sujeito resignificações nas condições de sua história de vida, com pausas, recomeços. O evento divórcio, por exemplo, é uma fase de tensões, de indecisões, desde o momento de tensões iniciais até que se efetive a separação propriamente dita até que a reorganização desta malhagem de laços familiares seja reconfigurada1

A avaliação dos eventos estressores é essencial para explorar a postura de cada membro da família mediante aquela situação. De fato, alguns irão responder ao evento estressor de uma forma mais proativa, enquanto outros não. Assim, a resiliência familiar envolve vários caminhos de

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adaptação que se consolidam com o tempo, até que outro estressor surja e novamente seja necessária uma readequação1, 2 .

Dentro da perspectiva de ciclo vital familiar, a estrutura familiar se concentra em torno das transições do ciclo de vida natural ao quão são eventos importantes: o nascimento do primeiro filho, eventos inesperados como morte, perda ou divórcio1, 2. Assim, a forma como a família antecipa um evento estressor tanto suaviza a vivência do mesmo, como possibilita enfrentá-lo de forma mais organizada dentro do que lhe possível. O estresse é aumentado quando os estressores atuais são crônicos, doenças crônicas em que a sobrecarga psíquica demanda demais de cuidadores que por vezes se anulam para cuidar do doente, ou quando há reativação de lembranças ou traumas inconscientes de emoções dolorosas com experiências passadas. Neste caso, concordamos em afirmar que particularidade do laço é a de ser o suporte da transmissão psíquica consciente e inconsciente. No nível genealógico, distinguimos a transmissão intergeracional e a transmissão transgeracional. Na primeira, o patrimônio psíquico familiar é recebido por uma geração, memorizado, historicizado, transformado, elaborado e transmitido à nova geração3.

Frente a esta dinâmica social da família, constata-se que a família contemporânea vem sofrendo mudanças em sua configuração e dinâmica de papeis sociais, demonstrando-se a necessidades de novas implicações clínicas, novos modelos de cuidado, que considerem que a família não deve ser equacionada ao lar no contexto restrito. Famílias divorciadas, por exemplo, possuem laços e remalhagem próprias que ultrapassam as fronteiras geográficas, na perspectiva de que as relações de apego podem ser especialmente significativas Em todas as avaliações, é importante obter uma visão macro do sistema familiar, e de suas ligações com a comunidade, das relações apoiadoras que alimentam a resiliência e que configuram o laço, sendo que a resiliência familiar é uma clínica de remalhagem dos laços, quer dizer, uma clínica de fração dos continentes psíquicos grupais3.

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Figura: 01. Processos- Chaves na resiliência Familiar ( WALSH, 2016)

Sistemas de Crenças

1. Encontrar significado na adversidade ► Visão Relacional da resiliência ►Normalizar, contextualizar o estresse.

►Coerência: ver a crise como um desafio significativo, administrável 2. Perspectiva Positiva

► Esperança, tendência otimista, confiança na superação de dificuldades. ► Coragem e encorajamento, afirmar pontos fortes

►Iniciativa ativa e perseverança

►Aceitar o que não pode ser mudado, tolerar a incerteza. 3. Transcendência e Espiritualidade

► Valores e propósito maiores

►Espiritualidade, fé, práticas contemplativas, conexão com a comunidade

►Transformação: aprendizagem, mudança e crescimento a partir das adversidades Padrões Organizacionais

4. Flexibilidade

► Abertura à mudança: recuperar-se, reorganizar-se, adaptar-se a novas condições. ►Estabilidade para combater a perturbação; continuidade, confiança, previsibilidade ►Variedade de normas familiares: parentalidade cooperativa- equipes de cuidadores ►relação do casal: respeito mútuo, igualdade entre parceiros

5. Conectividade

►Apoio mútuo, colaboração, comprometimento ►respeitar as necessidades e diferenças individuais ► Procurar reconexões, reparar separações, lutos 6. Recursos sociais e econômicos

► Mobiliar redes de parentesco, sociais e comunitárias,

►Construir segurança financeira, equilibrar tensões trabalho- família. ►Sistemas mais amplos; apoio institucional, estrutural.

Comunicação- Solução de problemas 7. Mensagens claras e consistentes

►Esclarecer informações ambíguas, buscar a verdade. 8. Expressão emocional aberta

► Compartilhar sentimentos dolorosos, resposta empática, ►Interações prazerosas, humor, descanso.

9. Solução de problemas colaborativos ► Brainstorming criativo;

► Compartilhar tomada de decisão, reparar conflitos, negociação; ►Postura proativa: prontidão, planejamento, prevenção.

Como podemos perceber, cuidar de famílias envolve um contingente de incertezas. Conforme o quadro acima, vemos o quanto é desafiador viver no limiar da incerteza e nela se ancorar partindo para a mudança possível. Neste sentido, alguns questionamentos são pertinentes, como, por exemplo, como os profissionais de saúde vêm trabalhando a família como grupo social prioritário de

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suas ações de cuidado em saúde? Como abordar famílias que apresentam formas tão diversificadas e que são atravessadas pela violência das mais variadas formas? Os instrumentos para abordagem de famílias estão coerentes com as suas realidades de vida? Algumas inquietações são importantes quando evidenciamos ser possível um sentido positivo frente às adversidades, dentro de um contexto da existência de relações apoiadoras significativas.

5 PADRÕES ORGANIZACIONAIS E FAMILIARES COMO PROMOTORES DE RESILIÊNCIA

As famílias contemporâneas com diversas estruturas e escopos precisam organizar seus recursos, suas redes relacionais de forma dinâmica e variadas em face aos desafios que a vida apresenta. De todo modo, a resiliência é fortalecida por flexibilidade, conectividade relacional e social.

A flexibilidade envolve a abertura para a mudança adaptativa17. A capacidade de recuar diante dos problemas diz respeito a suavizar e contrabalançar as mudanças perturbadoras para restaurar a estabilidade. Frente à mudanças e crises familiares, crianças e outros membros da família, precisam da garantia de continuidade, confiança e previsibilidade em meio a turbulência, separações ou perdas1, 2. Fortalecer os rituais em família como significativos é parte desse processo, compartilhar os momentos juntos, a alimentação e datas importantes, possibilita um sentido de vínculo e pertencimento do compartilhar juntos, faz-se importante nesta construção.

Para a psicanálise a ritualização sobre o laço é essencial para construir o espaço terapêutico. O laço é ritualizado, e o ritual assegura a transmissão do mito fundador do grupo de pertencimento. O mito se define como o conjunto das crenças partilhadas pelos membros do grupo: ele define, assim, os limites fora e dentro do pertencimento grupal. Essas crenças se estruturam em torno de valores de referências.

Outro fator promotor da resiliência familiar e a conectividade relacional. A resiliência é fortalecida pelo apoio mútuo, colaboração e parceria nos momentos de crises, ao mesmo tempo, respeitando-se as diferenças individuais de cada um. A adaptação e resiliência de famílias imigrantes são estimuladas por manutenção da conexão com parentes e a comunidade com as raízes culturais18.

Bem como é também importante, as reconexões, reconciliações, aproximações e reparos das feridas. Isto nos motivará a encarar a hipótese do dilaceramento como expressão de uma desmalhagem dos continentes psíquicos individuais, familiares e comunitários e a reparação como um trabalho de remalhagem dos laços.

As redes familiares e sociais podem ser um segurança e oferecer o apoio emocional necessário. A significância dos laços afetivos vai sendo redesenhada e vai tomando dimensões de ser

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trabalhada numa ampla gama de possibilidades dentro de programas assistenciais, de reabilitação de cuidados de adultos e idosos1, 2.

A segurança financeira das famílias é um dos pontos fortes que determinam o bem-estar familiar. Pois é através desta segurança que se tem a estabilidade de uma vida mais previsível. Contudo, o desemprego persistente ou perda de um provedor podem ser devastadores. Uma tensão financeira é o fator mais significativo quando as crianças em famílias monoparentais evoluem mal19

Os processos de comunicação também estão envolvidos na promoção da resiliência familiar. A informação traduzida com clareza nas situações de crises encoraja a comunicação aberta e verdadeira ajuda no bom funcionamento familiar. O conhecimento compartilhado da verdade dolorosa, como abuso ou tortura, estimula o processo de cura, enquanto a negação deste bloqueiam o relacionamento autêntico e podem impedir a recuperação20Assim, percebe-se a convivência com o

indizível, gera ansiedades que podem ser somatizadas e virem a internalizar problemas maiores especialmente em crianças.De fato, a comunicação aberta, autêntica, a empatia, tolerância às diferenças, possibilitam o compartilhamento de sentimentos de autenticidade ou ressignificação do laço afetivo.

6 AVALIAÇÃO ORIENTADA PARA PRÁTICA DA RESILIÊNCIA

Do ponto de vista clinico, o campo da terapia familiar tem sido, nos últimos anos o foco do trabalho com famílias. Desenvolvida de forma Sistêmica, considera-se que a família como um todo maior do que a soma das partes. Assim, o processo terapêutico se aplica a casais ou famílias onde os membros possuem algum nível de relacionamento. A terapia familiar é uma terapia realizada em grupo de modo a construir e desenvolver o diálogo entre os membros familiares e assim auxiliar na resolução de problemas e na conquista de relações respeitosas, harmoniosas e saudáveis.

Uma premissa básica neste processo de avaliação terapêutica se da através no manejo do estresse. A abordagem visa mediar o estresse que se reverbera na família mediante a uma crise ou situação ameaçadora. Para tanto, no contexto de avaliação desse “ sintoma familiar” a utilização de ferramentas como genograma sistêmico e a linha do tempo são valiosas ferramentas clinicas e de pesquisa para esquematizar as informações sobre os relacionamentos, rastrear padrões sistêmicos e

orientar planejamento e intervenção1,2, 21

A abordagem orientada para a Resiliência familiar prioriza a busca por influências positivas, passadas e presentes e potenciais, identificando-se modelos e mentores potenciais na rede de pertença com os membros da família, conseqüentemente se explora como o momento do sintoma

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As intervenções familiares baseadas na resiliência podem ser adaptadas a outros formatos, incluindo o trabalho com terapias de grupo em instituições, comunidades, psicoeducacionais, traumas complexos, grandes desastres, parcerias com família- escola de jovens em situação de vulnerabilidade social, sempre no sentido de objetivar: promover o autoconhecimento em nível individual e familiar; compreender a importância do diálogo e do respeito ao outro; reconhecer os padrões que geram os comportamentos; compreender a dinâmica de papéis dentro do funcionamento familiar, melhorar a comunicação e as relações entre os membros da família; aumentar a responsabilidade pessoal;favorecer mudanças construtivas de forma a harmonizar o ambiente familiar.

Dito de outro modo são as relações apoiadoras que possibilitam alimentar a resiliência familiar. O que temos sempre que estar atentos é que o conceito de resiliência familiar não deve ser mal aplicado para culpabilizar as famílias que não conseguem superar as suas adversidades,

estereotipando-as como frágeis, vulneráveis ou impossibilitadas às mudanças 1,2. Cientes de que o ser

humano não vive sozinho, ele se realiza no outro e com outro, na relação de partilha de sentimentos, apoio das mais variadas forma. As famílias vulneráveis precisam de políticas institucionais, estruturas e programas que sejam voltadas para o apoio mediante as adversidades da vida e não apenas que identifiquemos suas fragilidades.

Para a psicanálise a ritualização desta remalhagem afiliativa terapêutica, que ocorre no

encontro terapêutico, possibilita a emergência de um metagrupo terapêutico, que é mais do que a soma dos terapeutas e família em terapia. E onde ocorre o encontro com pessoas que irão resignificar suas vidas pelo encontro com o outro. Nessa disponibilidade da relação, a curiosidade empática em relação ao humano, é o que nos torna passíveis de escuta, no instante do encontro, de uma história que se conta, se sonha, se imagina e se reconta de várias formas, no presente, no processo terapêutico3. Desta feita, acredita-se que a resiliência possa ser adquirida quando o indivíduo se ocupa da sua realidade e a modifica, alterando conseqüentemente, sua história de vida e ressignificando o seu contexto social, mas sempre influenciado por interações positivas que o protegem. O domínio da resiliência depende da habilidade que cada indivíduo tem em reconhecer suas fontes de sofrimento escondidas e assim buscar as mudanças necessárias que impulsionem novas direções e sentidos para viver22.

7 SÍNTESE REFLEXIVA

Cuidados de saúde que contemplem a resiliência familiar envolvem necessariamente, mudanças na forma de perceber a família como um universo fecundo, onde as relações humanas podem e devem ser trabalhadas. Intervir em familiar significa ir para além de um atendimento

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pontual. Significar estar também disponível para adentrar neste laço, neste envolver-se com o Outro. Essa experiência só poderá ser viabilizada, com profissionais sensibilizados a tratar a família como um grupo social e de apoio e não com vistas ao indivíduo separadamente. Deste modo, profissionais que lidam com este grupo social, podem atuar na melhora dos déficits familiares, ajudar na comunicação entre os pares, e possibilitar a família intervenções voltadas para o fortalecimento dos processos chaves para a resiliência familiar. Os serviços voltados para a resiliência familiar enquanto estimulam o fortalecimento das mesmas, investem em partilhar as esperanças, as vivências, dentro deste ir e vir, inerente à vida que se renova a cada dia. Sempre alertes de que não é a forma ou o modelo de família que importa neste processo, mas como uns se importam com os outros e juntos podem possibilitar uma melhor comunicação nas relações entre os membros da família; aumentar a responsabilidade pessoal; favorecer mudanças construtivas de forma a harmonizar o ambiente familiar.

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Referências

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