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As ânforas de tipo Mañá C em Portugal

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AS

ÂNFORAS D

E TIP

O

/vIA

NA

C EM

PORTUGAL

R.R. DE ALl-o,lElDA - A.M. ARRUDA

/. Illtrodução

A investigaçâo desenvolvida na área correspondente ao actual território português, levada a

efeito em diferentes sítios arqueológicos, permitiu esboçar uma imagem que, embora à primeira yista se apresente relativamente pobre, revela, na verdade, contornos particularmente interessan -te no <lue concerne a difusão C presença das produções anfóricas ,üras púnicas c «ibero-púnicas»,

designadamente do tipo Maná C, nas suas \-aciames 1 e 2.

A informaçao acrualrnente disponível é essencialmente de carácter descritivo e explanatório, incidindo preferencialmente sobre a presença/ausência destes tipos, sendo estes parâmetros sobre ou subvalorizados em função das amostras cm estudo e dos restantes conjuntos conheci -dos para o espaço português. Assim, o quadro de que actualmente dispomos para estas import

a-ções resulta de um processo cumulativo de leituras apenas parciais e possíveis.

Até ao momento, a maioria dos trabalhos realizados sobre estas produções não contemplou o seu volume relativo no conjunto do material anfórico importado ou a sua procedência precisa, nem tão pouco a evolução de ambos, e dos próprios tipos, no decorrer dos séculos

ln

a I a.c. )Jaturalmente, temos perfeita consciência que tal só será possível mediante a análise de conjun -tOS numerosos, bem documentados no espaço e no tempo, que permitam uma quantificação pre-cisa e objectiva. Assim, e não obstante o considerável número de sítios da Idade do Ferro e

roma-nos escavado~ compreendidos no período cronológico em análise, a informação manuseável

é

deficitária e, consequentemente, limitada. No entanto, apesar das condicionantes referidas, os

dados actualmente disponíveis são, em nosso entender, suficientes, justificando a tentativa de uma primeira apreciação de conjunto.

O número de sítios portugueses em 'lue se regista a presença de ânforas de tipo Maná C

é já

significativo, sobretudo no que se refere ao grupo das C2. Pareceu-nos, por isso mesmo,

perti-nente apresentar a'lui esses materiais integrados nos respectivos contextos de recolha.

Aprovcicamos para discutir o real carácter dessas imporraçôes, pretendendo analisar-se a sua

cro-nologia e o seu âmbito comercial. Para tal, tomou-se em consideração por um lado as áreas de produção e a respectiva distribuição e. por outrO, os dados morfo-arqueológicos dos exemplares portugueses.

Tal como já referimos, temos plena consciência do facto de lidarmos com amostras distintas a \"ários níveis e dos riscos que essa situação compona em 'lualqucr análise. De facto, se algumas das ânforas aqui analisadas são provenientes de escavações arqueológicas mais ou menos exten -sas (I..omba do Canho, Conímbriga, Lisboa, Santarém, Chi banes, Castelo de Alcácer do Sal,

Castelo Velho de Santiago do Cacém, Mértola, Mesas do Castelinho, Cerro da Rocha Branca, Castelo de Castro Marim), muitos dos sítios importadores foram apenas alvo de recolhas de superfície ou de sondagens (Chôes de A1pompé, S.r..Iarcos. Oeiras, Odemira, Mérrola. Vila Velha

de Alvor, l\'lonte Molião, foz do Rio Arade, Cerro do Cavaco), o que significa uma ausência de

contextos seguros do pomo de ,"ista cronológico. Mesmo no primeiro dos casos, muitas vezes

(2)

1320 R.R. de: Almeida - A.M. Arruda

não fornecerem dados sobre o número de exemplares ou sobre O [oral da amostra, bem como sobre os contextos das suas recolhas. Nas nossas próprias escavações de Santarém e nas de Conímbriga, alguns materiais apareceram descontextualizados ou foram, muitas vezes, recupera-dos cm níveis de deposição secundária, o que dificulta a análise e a interpretação.

11. As ânflra.r Maiiá C2

o

panorama que recentemente apresentámos sobre as importaçôes deste grupo

e)

não se alterou significativamente, parecendo, no entanto, relevante voltar a insistir cm algumas das par-ticularidades de que essas importações se revestem e mesmo adiantar novas leituras quanto ao significado e ao âmbito dessas importações.

Em primeiro lugar, parece importante referir 'lue as ânforas de ripo Maõá C2 (ou Classe 32 de Peacock e Williams) (-) surgem predominantemente no Sul do actual terrj[()rio português, sendo raras a Norte do Tejo. Mesmo tendo conhecimemo que os conjuntos disponíveis são dis-cintos quanto aos contextoS de recolha, e que se encontram por publicar muitos dados de es ca-vações recentes, parece possível afirmar que este tipo anfórico se concentra, predominantemen-te, na área meridional do actual território português, estando também muito bem representado no baixo vale do Tejo, onde se devem destacar, entre Outros, as centenas de exemplares de Sca//abis (Santarém)

e)

e de Alorol1 (Chões de Alpompé) (4) e os fragmentos de Olisipo (T .isboa) (5). Apesar de documentadas na Gali:t:a ('), estão aparentemente ausentes no Norte de Porrugal.

Na

região centro apenas se registam em Conímbriga, onde são muito escassas (estão referenciados apenas três fragmentos) C), levantando reservas de classificação o único exemplar do acampamento mili -tar da Lomba do Canho (').

Apesar dc tcrmos consciência que o mapa de distribuiçào apresentado pode resultar de

aspec-toS preferencialrncme relacionados com «a geografia da im'esrit,~ção», c que os argumentos ex si/enfio se revestem sempre de algum perigo, julgamos que as observações feitas sobre a l ocaliza-ção dos centros importadores de ânforas de ripo Maná C2 assumem, apesar de tudo, alguma rele-vância. Um olhar mais atento sobre a carta de distribuição das ânforas Maná C2 do território actualmente português (') permite verificar a localização litoral da grande maioria dos sítios importadores.

D

e facto, e para além

da já referida abundância no bai..-.:.o vale do Tejo, é no es tuá-rio do Sado e na costa algarvia, bem como na sudocidemal, que se concentram os referidos sítios, o (lue aponta para uma distribuição eminentemente litoral, com indícios de uma redistribuição

(I) A.M. ARRtJD,\ - R.R AL\U'JDA, As a/iforas da C/mse 32 da A/cáfOl-'a dr Jontmi", (Cal!lPanbas 1983-1991):

ConínJuriga, 37 (1998), pp. 201-231.

(-) D.P.S. PEACOCK - D.F. WIJ.J.IA~IS, A",pbom~ alld tbr rO/J/(m ecol/of}!)'. An infrodll(:tory !pide, J .ondrcs 1986. ~ Cf. SIIpra nota 1.

(") C. fAHIAO, .fioure os úlgoms do aeanljJallltllto roR/aI/O da ÚJn,ba do Cal/ho (Arg,anil). Lisboa 1989; A.o. DIOGO,

A propósito dr «1\tforo1l». r.stlldo dr alglll/s doel/n/mlos prol't!'flimln dos Coou dr Aipo. (JaN/arim): Clio, 4 (1982),

pp. 147-154; A.D. DIOGO - L. TRl:-lDADI-., Materiaü prol't:l/imlu dr Chiies dr Alponpi (Sal/lari",): COl/imbriga, 32/33 (1992-93), pp. 263-281.

~) A.D. DIOGO, As ânfoms das esra,.açõu dt f 989/93 do Tralro ROnJt1IlO dt Lisboa: Rnis/a Portllguna de Arqlle%gia, 3,1 (2000), pp. 163~179.

(')

J.

N ,\VEmo LóPEZ, 13.1 mmercio (ul/~1IO eJ/ dlV. [Ii': PmillIlI/m: J.Hono..~r4ias Ur.x:en/u do MIfStll, 5 (1991), i'\![ uscu

Ar'lueo[õxico a Coruna, p. 69 c fig. 13.

O

J.

AT.J\RCAo, Lu atl/pJJom: Fo"i/les d~ COllítl/lmga, 6 (1976), pp. 79-91. ~ Cf. supra nota 3, p. 72 c 75.

(F) Para o mapa de distribuição a(Jui apresentado procedeu-se à revisão e actualização do levantamento r eali-zado cm A.M. ARRuD .. \ -R.R. AL\fElD .. \, AI âl/foras

ria

C/asse 32 da Aká(Ol'/1 de Sall/orif1/ (Ctl/I/pal/vas 1983-1991), aI.

(3)

As â'iforiIJ dr tipo Maná C MI ['ar/ligai 1321

para áreas anexas, concretamente a Perunsula de lisboa, e para o imerior, no qual se enquadram as importações do Castelo Velho de Santiago do Cacém, de Odemira, de Conímbriga e da Lomba

do Canho. Ainda no que diz respeito às regiões interiores, recordamos que, para além destes

últi-mos sírios, apenas em Mesas do Castelinho (Almôdovar)

ett;)

e em Mértola (ll) se registaram exemplares de ânforas de tipo Maõâ C2, parecendo, no entanto, importante não esquecer que a

«interioridade» de Mértola é, de facto, apenas aparente, tal é a facilidade com que, através do rio Guadiana, é possível atioh,u o importante portO nuvial de M)'rtillis. Deste modo, esta cana de loca -lizações fornece outros contornos ao padrão de distribuição, começando a encontrar-se os pri

-meiros indicias de uma outra ordem de redistribuição, pela vja do Guadiana, já perceptível na car -tografia dos comemores de vinho itálico e~.

Em

tOdo o caso, recordamos que a escassez de ânforas desca forma em sírios do centro de

Ponugal, como Conímbriga ou l..omba do Canho, contrasta com a abundância registada, nestes mesmo sírios, de <'luanridades apreciáveis de outros tipos de ânforas de época republicana, con

-cretamente de exemplares de Dressd 1. Por OUtrO lado, no interior alentejano, as escavações

arqueológicas e as recolhas de superfície, em centrOS urbanos antigos, em l'lllal e mesmo nos Caslella, não forneceram, até ao momento, qualquer exemplar de ânforas de ripo Maná

e2

.

Em

Carvão, por exemplo, e apesar de estar atestada a existência de cerâmica campaniense e de ânfo -ras Dressd 1 (13), não são, ao que saibamos, conhecidos quaisquer contentores integráveis no tipo

Maná C2. A mesma situação está detectada para sítios de implantação ruraJ republicana, como

por exemplo as

vi/Jae

da Quinta do FreL\.o (Redondo) e'l) e da Courela das Antas (Vidigueira)

C

5),

e também em alguns Càsle/Ia (Castelo das Juntas e Castelinho dos Mouros)

C

G

), onde a ausência de ânforas Maná C2 contrasta, uma vez mais, com a presença de cerâmica campaniense e de ânfo -ras Dresscl 1, que, tendencialmentl:, lhes estão associadas.

O estudo das ânforas Maná C2 do território português suscita ainda um ouuo tipo de

ques-tões que importa também discutir, sobretudo porque, de uma forma ou de outra, podem relacio

-nar-se directamente com as observações anteriores. Referimo-nos, concretamente, a factores de

ordem cronológica e de área de procedência das importações portuguesas. Relativamente à cro -nologia, é obrigatório lembrar,

de

novo, que os exemplares encontrados provém ou de escavaçõ-es arqueológicas ou de recolhas de superficie. No primeiro dos casos, nem sempre as amostras foram recolhidas cm contextos primários de ocupação. Daqui resulta o facro de rcrmos lidado

com realidades distintas e de, na maioria das ve7.es, escar muito dificultada a acribwção de uma

cronologia segura para estes materiais.

No

entanto, e de uma forma geral, parece possível afirmar que a grande maioria das import a-ções de ânforas desre tipo dara do século I a.c., e terá chegado ao território porruguês no contcx

-e<)

c. [7ABIÃO - A. GUERRA, AJ oCllpaçQeJ flNtigas de MrsflJ do Caslelinbo (/1lnlodôz!ar). Rr.mlltid()1 pnliminares daJ CampanbaJ de 1990-1992: Afiai das V Jornada! Arqlleológu;as da Assodaçào do! Arqlfró/ogos Por/llgllem, 2 (1994),

pp. 275-289.

(11) Exemplar inédito, mas exposto no i\-luseu de Mértola.

C~

c.

rAlllAO, O MUI/do Indígmo e a s/la RiJn/(lllizoçào na tina cé/tira do /ern'tório boje pOr!u..~/(éJ, Dissertação de

Doutotamento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, (1998), vol. 2, p. 392; 10., Xolm

as átifrmu do afOfIlpa!IJeflto romano da LMlbo do Cmlbo (Arganit), dI., p. 112; A.M. A RRUD ... -R. R. AI.MF.lD ... , As lRl/JDr

-tafõtJ de àfJho itálico para o /(rrilÓn'o arllla/mente pOT1I'1tHis. COfJt/C.;tOi, crono/c;gios II significado, ÉCOllonlit el TmitOln m

ú ai!afJlr Rnmainll (= Collection dlllu Casa dr VflaiflHf?, 65), 1999, p. 308.

C1

A.M. ARRUDA -R.R. AL.'\IUIDA, As if)Jpor!açõeJ de vmbo itálico para o lenilÔn"o actualmente PQrlf(gllês, cil., p. 325.

C

4

) Cf. slljJra nota 13, p. 322.

C~ Vc. 1-Lv-.'TAS, Inlplul/tação rurol romallo mI tomo da (élla» de S. CllcHjate (Vidigutira): ArqBe/a, 2" série, 3 (1986), p. 204.

(16) .M.S.P.S. MAnF.TRA, S"btidios para o tJllfdo do material tlIifórico dos «Cai/III/a» da ZONa de Castro Vmle: ArqB~ja, 2' série, 3 (198ú), pp. 121-131.

(4)

1322 R.R. de Almeida -A"-l. Arruda

to de um comércio de âmbito romano. É o que parece possível deduzir-se dos dados recolhidos em vários dos sítios (Castro Marim, Cerro da Rocha Branca, Mesas do Castclinho, Chibanes), tendo sido confirmado na Alcáçova de Santarém ('7), onde, à excepção de um único exemplar, as ânforas Mana C2 surgem em níveis datáveis do século 1 a.c. São contextos ou da primeira metade deste século, momento em que, para além destas, se registam unicamente importaçôcs itálicas c ânforas dos chamados tipos «ibero-púnicas>;, ou da sua segunda metade, quando os contentores itálicos, estão ainda presentes, embora em menor número, mas se registam também ânforas béticas proce -dentes dos centros do Guadalquivir

e

l)

o

De salientar no entanto que, cm qualquer destes contex-tos, as importações de Maná C2 representam, quase sempre, cerca de 50% dos conjuntos.

A excepção é constituída por um único fragmento de bordo recolhido num nível mais anti-go, que forneceu também fragmentos de cerâmica campaniense da Classe A, concretamente da forma 27c, e que podemos datar da segunda metade do século II a.C Deve também referir-se que esta ânfora apresenta características morfológicas e de fabrico que a individualizam dos restantes exemplares recolhidos em Santarém. Ao contrário de todos os outros fragmentos, que se inte -gram no tipo 7.4.3.3. de Ramón ·forres

e

'j

,

ela é passível de se classificar no tipo 7.4.2.1. da mesma tipologia. Quanto ao fabrico, uma análise macroscópica da pasta revela características (Iue permitem considerá-la uma produção centro mediterrânea, muito possivelmente de centros olei

-ros do grupo Cartago-Tunes ("~, o que a distingue das restantes. De facto, a grande maioria dos fragmentos de Santarém apresenta pastas e características de fabrico passíveis de serem atribuí -das a ateliers ocidentais. Ainda assim, estamos cm crer que aquele fragmento se insere já numa acti -vidade comercial estritamente romana, parecendo importante, neste sentido, lembrar que em texto anterior ("I) relacionámos já o contexto arqueológico desta peça com a instalação, em 138 a.C, de efectivos militares no acampamento romano dos Chôes de Alpompé, localizado em área próXJJTla.

Também em Mesas do Castdinho, os dados disponíveis indiciam que a importação destas ânforas ocorreu, maioritariamente, no decorrer do século I a.c.

f1, c, consequentemente, terão

sido fabricadas em centros oleiros ocidentais.

A análise tipológica dos restantes materiais portugueses

e

\

cujos contextos, como já referi-mos, não existem (recolhas de superfície) ou nao sao seguros (sem indicação ou níveis revolvi

-dos), permite, contudo, confirmar, de algum modo, os dados que a estratigrafia de Santarém e de Mesas do Castelinho revelaram. Os tipos de bordos publicados nao se diferenciam do grupo das 7.4.3.3., cujo fabrico e difusão ocorreu sobrerudo no século I a.C As descrições de pastas apre -sentadas pelos diversos aurores concorrem no mesmo sentido, parecendo possível considerar que as ânforas Maná C2 do actual território português foram, maioritariamente, fabricadas em cen-tros oleiros ocidentais, sud-hispânicos ou norte africanos.

Apenas nos Chôes de Alpompé (lHoron), lugar onde Décimo Junio Bruto instalou, durante a sua campanha na Ulterior, um acampamento militar f't), e no Cerro do Cavaco (Algarve) existem

C

7

) Cf. stIpra nota 1.

C

8) AM. ARRUDA - R.R. AI.,\If-:lDA, !lJJpm1açào e [O/IJI/IJJO de I'illbo bélico lia colóma rOnlana de Sca//abis (.\'antaréw, POrlf(r,al): AclaJ Ex Haetica Amphorac. ConJerm" Aceite e VillO m la AIlt{ij,lIidad, Sevilha-Écija, (1998), no prelo; 1\.1 .... 1. ARRUDA -R.R. !\L\lUlDA, As ilJlporlaçõeJ de I'il/bo dá/im para (] tern"tón"o (Ictualmente português, cit., pp. 332-337.

C~

J.

RAMON TORR.ES, Las ánforas jft/irio-púl/icas dtl Meditemíneo ceulra'-)' occidenta/, Barcelona 1995.

el)

Tbid., pp. 258-259.

(-1) Cf. supra nota 1, p. 220. ('-j

cr

.mpra nota 10.

e

3)

cr

supra nota 1, pp. 213-214.

e

4) É hOJe praticamente segura a identificação de i.Horoll com o sítio dos Chões de Alpompé (Santarém).

(5)

As â/lforas de tipo T\-faiíá C em Porlllg(/! 1323

fragmentos de bordo, cujo perfil e características de fabrico Indicam uma outra cronologia e área

de produção. À semelhança do exemplar de Santarém, são assimiláveis aos tipos centro medite

-rrâneos, concretamente os 7.4.2.1 e 7.4.3.1., que terão sido maioritariamente produzidos na

pri-meira metade do século II a.c. (--~).

IIL As ânforas Maná CI e/oll ((T ripo/i/anas Antigas»

Com pastas caracteristicamente centro mediterrâneas (grupo Cartago/Tunes de Ramón Torres

(?6),

encontraram-se na Alcáçova de Santarém alguns bordos de ânforas cuja classificação

exacta está, em muitos casos, dificultada pela reduzida dimensão dos fragmentos. Existem exem

-plares em que é visível o arranque da asa na parte superior do colo, sob o bordo, o que, afastando

a possibilidade de estarmos perante ânforas do tipo Maôá C1, permitiu integrá-los no grupo que

tcm vindo a ser, genericamente, dcnominado por produções «Tripoli tanas Antigas)). Outros casos

documentados cm Santarém, bem como em Chões de Alpompé (?~ e Mesas do Castelinho

(-8),

sào constirnídos apenas por fragmentos de bordo que cabem, indistintamente, em qualquer dos

dois tipos.

No entanto, tanto na Alcáçova de Santarém como nos Chões de Alpompé (?~, outros há que,

independentemente da dimensão conservada, não temos dúvidas em Integrar no tipo Maná Cl.

De facto, as características morfológicas que os bordos apresentam foram os argumentos que

pesaram nesta atribuiçào. Do ponto de vista cronológico, temos de reconhecer que os respecti

-YüS contextos arqueológiCOS não sào sufiClentcmcnte esclarecedores. Assim, se os exemplares dos

Chões de Alpompé são de superfície, os que recolhemos em Santarém foram, muitas vezes, recol

-hidos em níveis revolvidos e/ ou de enrnlhos medievais e pós medievais, havendo um único exem

-plar que foi recuperado num estrato que forneceu, maioritariamente, cerân1icas pré-romanas, mas

que não sabemos datar com precisão.

Para além destes dois sítios do Vale do Tejo e de Lisboa, onde se recolheram dois fragmen

-tOS classificados como pertencendo a este tipo, também o Cerro do Cavaco, no Algarve,

ofere-ceu à superfície um fragmento de bordo classificável como Maná Cl. Dada a ausência de contex

-tO deste achado e da informação pouco esclarecedora dos de Lisboa, nada podemos adiantar

sobre a sua cronologia relativa.

Relativamente aos exemplares duvidosos, devemos acrescentar que apenas alguns dos de

Santarém e o de Mesas do Cascelinho forneceram indicações crono-estratigráficas que importa

salientar. Em ambos os casos, os matetiais associados remetem para uma cronologia tardo-republi -cana. Em Mesas do Caste1inho, a ânfora foi recolhida na UE 41, onde K •. é nítido o crescimento de

importações romanas [ ... ]. A campanlense é abundante, particularmente o «círculQ)) da B e suas imi

-rnções

r

...

l

diminuem substancialmente os exemplares pertencentes ao «drcul{))) da A «tardim) [ ... ].Regista-se, também, um substancial aumento dos fragmentos de «paredes finas), que incluem

exemplares assimiláveis às formas Maribini TV ou VI, VITT [ ...

J

.

No que respeita às ânforas é de assi -nalar o aparecimento de produções hispânicas da Classe 67,

l

.

.

.

j, datávd do sebTUndo e terceiro

quar-comprovar que não houve, no local, qualquer ocupação de época imperial, mantendo-se, no entanto, algumas

du\-idas quanto à preexistência de um habitat indígena.

e

S) Cf. slIpra nota 19, pp. 209-211.

f'

)

Ibid., pp. 258-259.

f

)

C. FABlt\O, Sobre as ânforas do acampamento romano da J ..omba do Ctlt/ho (Arypnil), dt., pp. 105-106, fig. 14,

54 e 75.

(-~ Cf. supra nota 12, p. 279; 289, Fig. 7, n° 6.

(6)

1324 R.R. de Almc:ida - A.M. Arruda

tel do século I a.c., e da Classe 32

<

,·arianrc

Maná C-I

1

... 1»

(~. LJm exemplar de Santarém ê pro -veniente de um contexto semelhante, onde aparecem tanto ànforas yinárias italianas (tipo Drcsell),

como produções béticas antigas, da área do Guadalquhir, para além das i\fafiá C2.

IV Cone/lfSão

As questões que de lffiClUatO se nos colocam estão estritamente relacionadas com o âmbito

da difusão/recepção destes produtos anfóricos. Se para o caso das denominadas ânforas «Tripoliranas Antigas)) e dos exemplares de produção ocidental das lo.hi'iá C2 a problemática acer-ca do âmbiro e dos agentes da sua distribuição se revela, aparentemente, mais clarificada, o mesmo não podemos afirmar sobre as importações de Maná C1 e C2 de produção centro-medi

-terrânea. De fano, a escassa informação que documemc c caracterue realidades

inequivocamen-te atribuíveis aos séculos III e TI a.c., impede-nos de, neste momento, extrair conclusões categó-ricas sobre estes temas, pelo que acreditamos ser abusl\-o traçar, com clareza, uma leitura evol u-tiva da tendência destas importações. Se em Santarém existem indícios da chegada de ânforas

Maná Cl num momento anrerior à presença romana, o mesmo nào podemos, evidcnrcmcntc, afirmar sobre os exemplares deste mesmo tipo dos Chões de Alpompé e do Cerro do Canco.

Será llue estes se reportam ao abastecimento do povoado indígena que aí teria existido, ou pelo conerário corn:spondem já ao padrão de abastecimento resultante das presenças militares roma-nas da segunda metade do século II a.c.?

e

1) Para além de os dados existentes não serem

sufi-cientes para responder a esta questão e~, devemos ter em consideração que estas ânforas faziam

ainda parte do conjunto de mercadorias em circulação nesta época (n).

Relativamenre às ânforas i'vfafiâ C2 de produção centro-mediterrânea, apenas () exemplar de

Sanrarérn permitiu a atribuição de uma cronologia e âmbito concretos. Assim, lembramos '1ue foi possível confirmar uma datação da segunda metade do século TI a.c. e um contexto '1ue reflecte

uma actividade comercial eminentemente romana. Quanto aos exemplares dos Chões de i\lpompé c Cerro do Cayaco as dúvidas anteriores subsistem, apesar de nos parecer possível

estarmos perame uma SInJação cronológica e comercial semelhante à de Santarém.

No que concerne as ânforas f\hna C2 de produção ocidental, de acordo com os dados

obti-dos cm Santarém, ~-resas do Castelinho e Castro .i.\'1arim (os três sírios ljue oferecem base estrati-gráfica segura), podemos localizar a sua importação massiva e continuada ao longo do século 1 a.c. (cm Santarém sabemos lJue atinge mesmo o reinado de Augusto)

(i

4

),

estando directamente associada à distribuição/recepção dos artigos itálicos. Queremos ainda acrescentar que nestes sítios, onde f01 possível recolher espólio estratigraficamemc bem documentado e de proporções significativas, estas ânforas esr.ão scrnfsre associadas a outras de tipos ditos «ibero-púnicOS»,

nomeadamente os D e E2 de Pcllicer (" ')- presurrUvelrnente mais antigos -, como ficou expre ssi-vamente, demonstrado em Santarém, Castro Marim (36) e J\lesas do Castelhinho

e

7). No entanto,

(~ Cf. Jlrpra not.a. 10, p. 279.

e

1)

c.

EolliL-\O, O 1\1Jl1Ido IlIdíj!,mo r o mo j{,,/!/ntlí!(Pfiio IIU órra crItica do 1erritório bo)t porll~~II!s, dI., VaI. 2, p. 393.

e~ Lembramos gue os dOIS sítios nunca foram ah-o de qualquer escavação, c que os materiais resultam de

prospecções.

C,"')

c.

P.\RIAO, O MIII/do IlId{~e1Ia r ti .rua /{fJlllaniZ'lfiio 110 rlrea ré/tíca do território h()jt por/lIgI/Ü, dt., Vol. 2, p. 393.

e

4) Cf. JIIpra nota 1, p. 217.

e

')

i\'I. PF.T.JCER CATAL-\N, l/p%g/a.r J' (rt)//o/Oft.íaJ de las ánfoTa$ premJllalla.r dr! Cuad(t!qllit'ir .rrgÚII eI Cerro

MacaretJo (Jrá/ba): Habis, 9 (1978), pp. 365-400.

~f? J\.i\r. ARRUD,\, A$ arrilJliCtl.f rir JiIIj)()Ijo{fio do Cmtl'lo rir Caslro j1!dl7iJl "O rilllN/1) rll) rolllirao oritlllJta! dos

.rim-los VaI a.C.: ACFP 4, Il, pp. 727-735.

e~

c.

rAAIA(\ O ,l.I/1lldo Illd~~tlJa r tI.rua RoIJ/(lIIizrlçâo IJO tina ré/tira do tenitório ho/r porlrlj!pis, dt., \"01. 2, p. 392 c 396.

(7)

AJ riliforas di ripo "'Iaiiá C "" POrfllgn/ 1325

e tendo em consideração o \rolume, nestes conte~tos, das importações de i'vlaiiá C2 de produçao

ocidental, pensamos que mlvez já nao se justifiquem as dúyidas quanto ao facto de elas constitu

-írem apenas mais uma forma, entre OUITas, de tipologia ibero-púnica que participa na panóplia de

mercadorias gerada pela presença dos exército romanos na Península Ibérica C~. Parece-nos, pelo

contrário, que corresponde sim a um contentor preferencial, resulrante da adopção, por parre dos

centros produtores do extremo ocidente, de um modelo anfórico, que havia sido úpico do

)ledirerrâneo central, e que esran, aparentemente, bem adaptado ao transporte de uma gama de

produtos há muito conhecida c produzida na rcgiào.

O fabrico destas ânforas na área do Estreito de Gibraltar, a partir da segunda metade do sécu

-lo I I a.c., parece, pois, corresponder a uma no\"a fase produtiva e de comércio aclàntico-medit c-rcineo, que se verifica a partir deste período e~, e no qual este tipo aparece como um dos pr in-cipais protagonistas.

r~ INd., pp. 392-393.

C"}

Cf. !lIpro nota 19, p. 294.

(8)

-1326 o R.R. de 1\lmeida -:\.:\1. Arruda I

, J

,-,

,

,

..

,

/

200 Km

(

J (

Carta de distribuição dos achados de ânforas produzidas no Ocidente, costas sud-hispânicas e norte africanas (tipo Maná C2),

no actual territõrio português. Localidades de norte para sul: Lomba do Canho, Conimbriga, Chões de Alpompê, Santarém, S. Marcos, Oeiras. Lisboa. Chi banes, Pedrão. Castelo de Alcácer do Sal, Sado (a jusante de Alcácer do Sal). Castelo Velho de Santiago do Cacém, Mértola, Cabo Sardão, Odemira, Mesas do Castelinho, Cerro da Rocha Branca, Castelo de Castro Marim, Vila Velha de Alvor, Monte

(9)

o

'

.

.'

,

f / 200 Km

Carta de disuibuição dos achados de ânforas produzidas no

Mediterrâneo Central (tipo Mafia C2), no acrual território português.

Localidades de norte para sul: Chões de Alpompé, Santarêm, Cerro

do Cavaco.

(10)

1328 R.R. d~ Almciw. • A.M. Arruda

Carta de distribuição dos achados de ánforas

produzidas no Mediterrâneo Central (tipo Maiiá Cl ou .Tripolitana Antiga·), no actual território portugues. Localidades de none para sul: Chões

Referências

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