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O crescimento da presença indígena nos censos nacionais 1991- 2000: uma análise da região Nordeste

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O crescimento da presença indígena nos censos nacionais

1991-2000: uma análise da região Nordeste

Tomas Paoliello Pacheco de Oliveira

Palavras-chave: Censo; População Indígena; Nordeste; Território Indígena

Resumo

O presente trabalho pesquisa os dois últimos censos nacionais do IBGE

(1991 e 2000), buscando levantar hipóteses para o acelerado crescimento da população autodeclarada indígena neste período. É feito um trabalho de decomposição dos dados, por situação de domicilio, demonstrado em gráficos; em seguida, são feitas análises da distribuição espacial desta população, tanto da população indígena total, quanto da sua participação no número de habitantes, trabalhando-se com as escalas municipal, estadual e regional, e também com as situações de domicílios rural e urbana, todas apresentadas também em mapas e tabelas.

Ao final os dados censitários são comparados às quantificações da FUNAI e FUNASA. Com base nas escolhas conceituais, na recuperação do contexto histórico e nas análises efetuadas, são definidos três tipos ideais, classificatórios, para a população indígena do Nordeste, também de algum modo localizados de nos mapas. Esta proposta busca refletir a diversidade e distribuição espacial dos autodeclarados indígenas na região, indicando novas alternativas de análise quanto ao crescimento da população indígena do Nordeste e sua espacialidade.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

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O crescimento da presença indígena nos censos nacionais

1991-2000: uma análise da região Nordeste

Tomas Paoliello Pacheco de Oliveira

I. O CRESCIMENTO DA PRESENÇA INDÍGENA NOS CENSOS DE

1991 E 2000: BRASIL E REGIÃO NORDESTE

O crescimento da população indígena brasileira foi de quase 60% entre os dois últimos censos (1991 e 2000). Entretanto este crescimento não aconteceu de forma similar em todas as regiões. Nas regiões em que a presença indígena era menos visualizada, este crescimento (Tabela 1) foi bem superior (no Sudeste 81%, no Sul 64% e no Nordeste 67%), enquanto foi menor nas regiões de marcada presença indígena (no Norte 41% e no Centro-Oeste 49%). Esta diferença é mais acentuada quando observarmos os dados do percentual de população indígena frente à população total: enquanto no Norte e no Centro-Oeste essas taxas de crescimento são respectivamente de 24,8% e 37,7%, no Nordeste e no sudeste correspondem a quase o dobro (63,8% e 77,2%). Ao sentido contrário das suposições ingênuas do evolucionismo, as populações indígenas que há mais tempo sofrem os processos da colonização, nas áreas mais próximas ao litoral brasileiro, são as que tiveram crescimento maior neste último censo.

Tabela 1

População Indígena Brasileira, Total e Percentual, e seus Crescimentos, segundo as Regiões Geográficas – 1991 e 2000 Variável X Ano População residente (Pessoas) Crescimento 1991 – 2000 População residente (% da população total) Crescimento (%) Região Geográfica 1991 2000 Absoluto Relativo (%) 1991 2000 1991 – 2000 Norte 124.618 213.443 88.825 41,61 1,24 1,65 24,84 Nordeste 55.854 170.389 114.535 67,21 0,13 0,36 63,88 Sudeste 30.584 161.189 130.605 81,02 0,05 0,22 77,27 Sul 30.342 84.747 54.405 64,19 0,14 0,34 58,82 Centro-Oeste 52.750 104.360 51.610 49,45 0,56 0,9 37,77 Total Brasil 294.148 734.127 439.979 59,93 0,2 0,43 53,48 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1991/2000.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

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processo de demarcação de terras indígenas, primeiramente foram demarcadas áreas onde a ocupação indígena se apresentava de forma mais visível, como nas regiões Norte e Centro-oeste, nas quais a colonização não se fez há tanto tempo quanto nas outras grandes regiões brasileiras. Assim, 76% das terras indígenas do Brasil estão na Amazônia Legal, correspondendo a 99% da área total indígena do território nacional. Os dados do censo do IBGE do ano 2000, num panorama diverso, mostram que 23,2% dos declarados indígenas do Brasil estão na região Nordeste (outras regiões: 29% Norte, 21,9% Sudeste, 11,5% Sul, e 14,2% Centro-Oeste).

A partir da modificação do critério de definição de “raça” e “cor” no censo do IBGE a região Nordeste apresentou um crescimento acelerado surpreendente. De acordo com os censos do IBGE, em 1991 se declararam índios no Nordeste brasileiro 55.854 pessoas, e em 2000, 170.389, como mostra o Gráfico 1, num aumento de 205%, ou 114.535 indivíduos. Neste mesmo período a população total do Nordeste cresceu 12,44%.

Destes 170.389 autodeclarados indígenas em 2000, 26% são residentes em municípios onde em 1991 não havia nenhum indígena (representado no Gráfico 2). No entanto não há registros de migrações expressivas neste sentido. Portanto são pessoas que se identificam como indígenas, que antes não o faziam.

Os dados sobre a estrutura etária da população indígena do Nordeste também apontam no sentido de um crescimento expressivo e não vegetativo. Os índios de 0 a 14 anos declinaram entre 91 e 2000, de 42,8% para 29,9% do total de autodeclarados indígenas, enquanto a faixa de 15 a 64 anos aumentou de 51,9% para 63,6% do total de indígenas (IBGE, 2005). Isso demonstra não existir exclusivamente um processo de explosão demográfica da população indígena, com o crescimento acelerado do nascimento de crianças indígenas, reafirmando a tese deste crescimento acontecer através de pessoas que no censo de 1991, por diferentes razões, não se declararam como indígenas.

Por outro lado, devemos observar estes números com cautela, pois historicamente as características das populações classificadas como indígenas são altamente diferenciadas entre

43790; 26% 126599;

74%

Municípios nos quais em 1991 não havia nenhum autodeclarado indígena Outros Municípios

55854

170389

1991 2000

Gráfico 1: Crescimento da População Total Autodeclarada Indígena – 1991/2000

Gráfico 2: Distribuição do Crescimento Indígena, por Classes de Municípios

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si, devido as diversidade existente, entre os vários grupos étnicos que se consideram “índios”. Assim, este crescimento foi analisado também em relação à situação de domicilio.

Enquanto no recenseamento de 1991 os indígenas em área rural (39.870) eram mais que o dobro dos indígenas em área urbana (15.991), em 2000 este quadro se inverteu. Neste sentido, no censo de 2000 existem 41.067 indígenas a mais vivendo em áreas urbanas (105.728), em relação aos indígenas em áreas rurais (64.661). No entanto, o crescimento de autodeclarados indígenas não é apenas em situação de domicilio urbana, o que será demonstrado no decorrer do trabalho, através de análises mais específicas dos dados do censo.

II. ANÁLISE DOS DADOS DO CENSO IBGE, 2000

Para efeito de uma análise mais aprofundada dos dados do censo do IBGE, e permitir uma visualização em diferentes escalas espaciais, foram determinados três grupos de municípios, classificados quanto à sua população total. A partir desta nova tabulação dos dados, a população nordestina foi dividida em três faixas aproximadamente iguais de magnitude de habitantes dos municípios: os municípios com mais de 100.000 habitantes (no

Mapa 1, em amarelo) possuem 36% do total da população do Nordeste, enquanto os

municípios com menos de 25.000 (no Mapa 1, em vermelho) e entre 25.000 e 100.000 habitantes (no Mapa 1, em laranja) possuem cada um 32% da população nordestina.

II. 1. Número Absoluto de Indígenas

Posteriormente a esta classificação, a presença indígena foi analisada em relação ao número absoluto de habitantes que se declararam indígenas. Com o objetivo de detectar, nos grupos de municípios definidos, a população indígena total, foram feitos os seguintes desdobramentos dos dados (Tabela 2). As faixas da população indígena, e o seu cruzamento com os grupos de municípios (pela população total) foram definidas com o objetivo de procurar melhor entender a espacialidade destes grupos dentro da região (Mapa 1).

Na Tabela 2 pode-se ver que existem 733 municípios sem autodeclarados indígenas. Outros 935 municípios tem menos de 250 indígenas, destes 64 têm população indígena de 1 a 4 pessoas, e 197 de 5 a 9 pessoas (no Mapa 1, os numerosos pequenos círculos, espalhados por toda a região). Este seria um contingente populacional que se declara indígena com uma presença dispersa e esparsa. Ainda que estes números possam não ser expressivos, se com a ajuda dos mapas, trabalharmos tendo como referência a totalidade da região Nordeste, podemos observar que esta presença é constante em toda a região.

Tabela 2

Distribuição da População Indígena do Nordeste, segundo os Grupos de Municípios – 2000

População Total Indígena, por Município Grupos de Municípios 0 < 250 250 - 500 500 – 1.000 1.000 – 5.000 > 5.000 Total > 100.000 0 9 9 13 13 2 46 25.000 – 100.000 46 259 30 9 11 0 355 < 25.000 687 667 9 11 11 0 1.385 Total 733 935 48 33 35 2 1.786

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Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000

No censo do IBGE, apesar ampla distribuição dos autodeclarados indígenas, percebe-se no Mapa 1 que existem algumas regiões ou municípios que concentram maior número total, além das regiões metropolitanas e grandes cidades. São 37 os municípios com mais de 1.000 autodeclarados índios no Nordeste, outros 33 municípios com entre 500 e 1000 índios, 160 com entre 100 e 500 índios, 139 com entre 50 e 100 índios, e ainda 688 com entre 1 e 50 índios. Deste grupo de 37 municípios (com mais de 1.000 autodeclarados índios), 11 são municípios com menos de 25.000 habitantes; outros 11 são municípios com entre 25.000 e 100.000 habitantes; e por fim 15 são municípios com mais de 100.000 habitantes.

População Indígena por Faixas de População Total, segundo os Municípios do Nordeste – 2000

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As capitais dos estados nordestinos e suas regiões metropolitanas aparecem como grande concentradora de indígenas no censo, assim como as grandes cidades. No entanto nestes municípios os indígenas têm sempre baixa participação na população total (menos de 1%). Salvador é o município do Nordeste com mais autodeclarados índios (18.712), seguido pelas capitais Recife - PE (5.094), Fortaleza – CE (3.314) e São Luís – MA (3.130). Estes são os maiores círculos, em amarelo presentes no Mapa 1. Também aparecem entre os municípios do Nordeste com mais índios as capitais de Sergipe, Aracaju (2.628, nono município em total de indígenas do Nordeste), de Alagoas, Maceió (1.716), do Rio Grande do Norte, Natal (1.273), e do Piauí, Teresina (999).

Nesta mesma esfera das 46 grandes cidades (todas com mais de 100.000 habitantes) do Nordeste, temos grande presença indígena, representada no Mapa 1 como círculos amarelos e laranjas, em municípios como: Feira de Santana – BA (2.151), Jaboatão dos Guararapes – PE (1.966), Olinda – PE (1.900), Lauro de Freitas – BA (905), Vitória da Conquista - BA (869), Caucaia – CE (853), Juazeiro do norte – CE (705), e Nossa Senhora do Socorro – SE (707). No entanto apenas três destes 47 municípios (Ilhéus – BA, Caucaia - CE e Maracanaú - CE) possuem terra indígena.

Subtraindo-se do total (1.786) de municípios do Nordeste os 733 que não tem registros indígenas no Censo, podemos concluir (Tabela 2) que em 1.053 municípios do Nordeste (ou aproximadamente 60%) existem pessoas autodeclaradas indígenas, o que demonstra uma presença bem distribuída, em toda a região. Destes, destacam-se 37 municípios2 que possuem mais de 1.000 índios e nos quais estão 91.752 pessoas, ou 53,84% da população indígena do Nordeste, dado que revela uma forte concentração desta população.

Entre estes 37 municípios, existem 22 que possuem terra indígena com 42.226 autodeclarados índios. Apenas um deles tem mais de 100.000 habitantes – Ilhéus. Nos outros 15, sem terra indígena, são 49.526 indígenas, sendo que nestes 15 municípios, apenas um não tem mais de 100.000 habitantes: Água Preta - PE. Neste sentido, mesmo observando os dados gerais, existem mais índios fora dos municípios com terra indígena do que nos municípios sem terra indígena: na região Nordeste, do total de autodeclarados indígenas, 57.149 estão nos 69 municípios com terra indígena e 113.221 em municípios sem terra indígena.

II. 2. Número Percentual de Indígenas

No Mapa 2 pode-se visualizar, através das cores dos municípios as suas faixas de população total, e através dos círculos pretos a participação percentual da população indígena na população total por município. Deve-se ressaltar que apesar do baixo número de municípios nas faixas de mais de 1% de participação na população total, a distribuição dos indígenas é bastante abrangente, capilarizada em toda a superfície da região.

Com relação à participação indígena na população total (representada no Mapa 2 pela variação do tamanho dos círculos pretos), podemos identificar, como maior círculo preto, o município da Baía da Traição, na Paraíba, com o maior percentual do Nordeste (47,7 % da sua população total se autodeclara indígena), seguido por Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão (30,22%), Marcação - PB (25,72%), Fernando Falcão – MA (17,81%), e Carnaubeira da

2

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Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Penha – PE (16,01%). São 69 (10 + 10 + 49) municípios com mais de 1% da sua população total autodeclarada indígena. Destes, dez são municípios com mais de 10% de indígenas na sua população total, outros dez entre 5 e 10% de participação indígena entre o número de habitantes e mais 49 com entre 1 e 5%, além de 988 com entre 0,01 e 1%. Todos os municípios com mais de 1% da sua população total autodeclarada indígena, com exceção de Camaçari, na Bahia, tem menos de 100.000 habitantes (são todos os círculos pretos, maiores que o mínimo, nas áreas em azul e azul claro, no Mapa 2). Dos 69 municípios com mais de

População Indígena sobre a População Total (em %), pelas Faixas de População Total, segundo os Municípios do Nordeste – 2000

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1% da população autodeclarada indígena, existem 23 municípios nos quais a população indígena é superior a 1.000 pessoas.

II. 3. Indígenas por Situação de Domicílio

Procurando diminuir a possibilidade de erros nas conclusões, foi buscada a divisão quanto à situação de domicílio (rural ou urbana, Mapas 3 e 4), decompondo a população indígena por município. Na região Nordeste, a população indígena urbana absoluta (105.713) é maior do que a rural (64.648). Porém em termos de percentual de índios na população total, os indígenas possuem maior peso nas áreas rurais, pois representam 0,43% da população total rural e nas áreas urbanas são 0,32%.

No Mapa 3 encontram-se explicitados os números totais de indígenas por município, divididos em situação de domicilio rural e urbana. Percebe-se novamente a grande concentração de indígenas nas capitais e grandes cidades. Nos 46 municípios com mais de 100.000 habitantes existem 64.076 pessoas declaradas indígenas, dos quais 96,6% vivem em área urbana. Esta população indígena urbana das grandes cidades não é reconhecida pela FUNAI e FUNASA, apesar de seu expressivo número absoluto. Em outra situação, existem também os indígenas em áreas urbanas, vivendo nas cidades pequenas e médias (abaixo de 100.000 habitantes). Estes correspondem a 43.804 pessoas, em 749 municípios e estão representados no Mapa 3 pelos numerosos pequenos semicírculos azuis.

Neste terceiro mapa confirma-se também que os municípios que têm maior percentual de indígenas nas áreas rurais, são também os maiores em presença indígena absoluta rural (os maiores semicírculos vermelhos, nos mapas 3 e 4). O grande número de pequenos semicírculos vermelhos demonstra a população indígena em municípios onde sua representatividade é bem baixa.

O percentual de indígenas na população total nas cidades é menor do que nas áreas rurais. Apenas 4 municípios (Baia da Traição – PB com 19%, Marcação – PB com 25%, Rodelas – BA com 12%, e Águas Belas – PE com 11%) possuem mais de 10% da população urbana total declarada como indígena. Em outro sentido, em outros 60 municípios têm entre 1 e 10% de participação indígena na população total urbana.

Estes indígenas urbanos, com mais de 1% de participação na população total, somados constituem-se em aproximadamente 18.000 pessoas, ou 17% de toda a população indígena urbana nordestina, ou ainda 10,5% do total dos índios do Nordeste. Do total de população indígena urbana do Nordeste, 61.897 ou 58,55% estão em áreas urbanas de grandes cidades, com mais de 100.000 habitantes.

Nos municípios de presença indígena a partir de 1% na população total urbana, também existem grupos territorializados, com características similares às descritas para os grupos territorializados nas áreas rurais. Estes casos podem ser entendidos observando-se a história de antigos aldeamentos missionários que vieram a se tornar após sua extinção no século XIX, em núcleos urbanos. Portanto, a situação de domicilio urbana, ou em grandes cidades, não significa automaticamente que estes autodeclarados indígenas não vivam agrupados, num determinado território originário comum.

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Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Em outro sentido, 83% (aproximadamente 87 mil pessoas) da população indígena urbana do Nordeste brasileiro encontra-se em municípios nos quais os indígenas representam menos de 1% do total de habitantes. Esta circunstância reforça o quadro de invisibilidade destes índios urbanos, principalmente os que vivem nas grandes cidades. Esta situação de localização abarca grande numero de indígenas, o que demonstra ser importante o estudo mais detalhado, que leve em consideração aspectos históricos locais, para determinar quem comporia este contingente populacional autodeclarado indígena.

População Indígena Total por Situação de Domicilio, segundo os Municípios do Nordeste – 2000

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Mapa 4

População Indígena sobre a População Total (em %), por Situação de Domicilio segundo os Municípios do Nordeste – 2000

O Mapa 4 mostra a distribuição da população indígena percentual sobre a população total, por situação de domicilio (rural e urbana) por municípios. Os maiores semicírculos vermelhos representam as áreas onde vivem grupos indígenas com marcante presença na população rural do município, em sua maioria estão organizados, buscando garantir seus direitos e são mais amplamente reconhecidos pelo restante da sociedade. São 17 municípios que têm mais de 10% da população rural indígena, e somente um - Santo Amaro do Maranhão – não possui terra indígena. Outros 69 municípios têm entre 1 e 10% de presença na população total rural.

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muitos casos a população indígena apresenta uma característica de fluxos constantes entre áreas urbanas e rurais. Portanto não se pode isolar conceitual e analiticamente os indígenas apenas pela definição municipal do perímetro urbano.

Destes 86 (17 + 69) municípios com mais de 1% de presença indígena nas áreas rurais, mais da metade (45) possuem terra indígena. São 62.320 autodeclarados indígenas nestes municípios, sendo 12.792 em situação de domicilio urbana e 49.528 em áreas rurais.

Deste modo, estes grupos se mantêm como grupo étnico, enquanto coletividade com claras fronteiras e barreiras étnicas frente à população total. Este grupo populacional pode ser comparado com os números da FUNAI: 63.673 índios em 69 terras indígenas do Nordeste, ou pelo total de índios reconhecidos pela FUNAI no Nordeste: 77.585. F No entanto se levarmos em consideração que em 41 destes municípios não tem reconhecimento oficial da presença de povos indígenas pode-se observar a grande demanda não atendida pelo reconhecimento indígena no Nordeste.

Os mapas permitem também analisar a localização dos indígenas em relação à rede hidrográfica nordestina. Esta é de suma importância no processo de ocupação e colonização do Nordeste, devido ao seu clima quente e seco, e em muitas áreas semi-árido. Antes da conquista colonial portuguesa, a distribuição espacial indígena já considerava prioritariamente os rios. Neste sentido é de extrema importância na região o rio São Francisco. Nas áreas próximas as suas margens estão a maior parte das terras indígenas já reconhecidas do Nordeste. As grandes cidades nordestinas, na sua imensa maioria localizam-se no litoral, com exceção de poucos municípios às margens dos principais rios da região.

III. COMPARAÇÃO ENTRE DIFERENTES FONTES

Cada quantificação segue objetivos diferenciados, procurando responder diferentes perguntas. Neste sentido, metodologicamente é importante na pesquisa a comparação das diversas fontes existentes, buscando suas especificidades e finalidades. Desta maneira o trabalho busca obter respostas diferentes das apresentadas nas quantificações analisadas.

Os números apresentados pelos censos do IBGE foram comparados com outros censos, de diferentes fontes. No caso foram utilizados também dados da FUNAI, órgão indigenista oficial do governo federal, de 2007, e da FUNASA, responsável pela prestação dos serviços públicos de saúde para os indígenas, também de 2007 (Tabela 3). Estes dois outros censos empregam divisões de áreas distintas do censo do IBGE em 2000 (operam principalmente por povos indígenas), e seu universo de pesquisa são os municípios com reconhecimento oficial da presença indígena. A diferença encontrada entre os números da FUNAI (77.585), da FUNASA (130.397) e do IBGE (170.389) quanto ao total de índios no Nordeste é bastante significativa.

Os dados da FUNASA são os mais atualizados e quantificam indígenas em 69 municípios do Nordeste, portanto um universo bem reduzido, frente ao censo do IBGE (o qual pesquisa nos 1786 municípios do Nordeste). No entanto, considerando apenas estes municípios a totalização da FUNASA (130.397) é bem superior à do IBGE: são 57.149 autodeclarados indígenas, que equivalem a 2,32% dos habitantes totais nestes 69 municípios. Destes 14.909 estão em área urbana e 42.242 em área rural. Este último número é muito próximo do somado na variável “rural específica”, do IBGE, que será mais bem detalhada a seguir.

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Estes indígenas considerados pela FUNASA já possuem um reconhecimento oficial, mesmo que em alguns casos o processo de demarcação de suas terras esteja muito atrasado. Nos 69 municípios com índios nesta quantificação, excetuando-se nove municípios3, todos possuem um número maior de indígenas do que apresentado no Censo IBGE, 2000. Destes 69 municípios com indígenas identificados pela FUNASA, 36 têm mais de 1000 índios, 9 municípios têm entre 500 e 1000 indígenas, 17 entre 100 e 500, 4 entre 50 e 100, e ainda 3 municípios entre 1 e 50 índios (Tabela 4).

Tabela 3

Índios do Nordeste, por órgãos do Governo Federal, segundo as Unidades da Federação

Total de Índios Unidade da Federação

IBGE FUNASA FUNAI

ano 2000 2007 20074

Maranhão 27.571 24.477 18.371

Piauí 2.664 0 0

Ceará 12.198 11.044 5.365

Rio Grande do Norte 3.168 0 0

Paraíba 10.088 13.505 7.575 Pernambuco 34.669 43.218 23.256 Alagoas 9.074 8.516 5.993 Sergipe 6.717 364 310 Bahia 64.240 29.273 16.715 Total Nordeste 170.389 130.397 77.585

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. FUNASA 2007, e FUNAI 2007.

Nesta comparação entre os dados da FUNASA e do IBGE também deve se levar em consideração à diferença na data: os da FUNASA são de 2007, e os do IBGE são de 2000. Mesmo considerando um crescimento vegetativo grande (por volta de 5 % ao ano) a diferença é muito grande, mostrando a provável existência de uma grande parcela de indígenas territorializados (que vivem em terras indígenas, ou em processo de demarcação) que no censo do IBGE se autodeclararam em outras categorias de cor ou raça que não a indígena (Branca, Parda, Preta ou Amarela). A partir desta constatação pode-se observar que mesmo a população indígena quantificada pelo IBGE esteja diminuída, pois é detectado um movimento acelerado de mudança étnica nos municípios com povos indígenas reconhecidos pelo Estado.

3

Alto Alegre do Pindaré – MA, São João do Carú – MA, Aquiraz – CE, Petrolândia – PE, Água Branca – AL, Itaju do Colônia – BA, Paulo Afonso – BA, Santa Rita de Cássia – BA e Sobradinho – BA.

4

Os dados da FUNAI são os mais recentes disponíveis no seu endereço eletrônico, e são referidos a maio de 2006.

Tabela 4

Número de Municípios Abrangidos - FUNASA - por Faixas de População Indígena População Indígena > 1000 500 - 1000 100 - 500 50 - 100 1 - 50 Total

Número de Municípios 36 9 17 4 3 69

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inferior ao do IBGE, em dois estados (Paraíba e Pernambuco) o quadro se inverte, e a quantificação da FUNASA é superior. Em Pernambuco a diferença atinge 8.549 índios a mais na FUNASA. Em outra situação temos Maranhão, Ceará e Alagoas com diferenças relativamente pequenas entre os dois censos. Por outro lado, na Bahia a diferença chega a 34.967 pessoas a mais, pelo IBGE, em relação a FUNASA (Tabela 3). Em Sergipe o total divulgado pela FUNASA (364) corresponde a apenas 5,5% dos autodeclarados índios no censo do IBGE (6.717). Os estados do Rio Grande do Norte e Piauí não possuem indígenas no quadro da FUNASA.

Como visto, a FUNAI e a FUNASA não reconhecem índios nos estados do Piauí e do Rio Grande do Norte. No censo 2000 do IBGE o primeiro tem 3.168 (dos quais 999 estão na capital do estado, Teresina), e o segundo tem 2.664 (dos quais 1.273 estão na capital do estado, Natal) autodeclarados indígenas. Isto também indica que os índios das grandes cidades, aqui classificados como População Indígena Urbana (ver capítulo IV.2), e os índios dispersos (População Indígena Dispersa, ver capítulo IV.3) são desconsiderados na totalização da FUNAI e FUNASA, e constitui um contingente populacional em acelerado crescimento, baseado no fortalecimento da identidade indígena.

Existe uma grande diferença também entre os dados da FUNASA e FUNAI, apesar das duas terem o mesmo universo de pesquisa (os indígenas territorializados e reconhecidos). A primeira é muito superior à segunda (52.812 pessoas a mais). Esta diferença (Tabela 3) chega a ser o dobro, ou quase no Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia. No Maranhão, em Alagoas e em Sergipe as diferenças são menores, mas também significativas. Esta discrepância nas quantificações pode ser explicada em parte pela defasagem dos dados da FUNAI frente aos da FUNASA.

Com relação às diferenças entre IBGE e FUNAI (Tabela 3), vemos uma enorme distância numérica para o primeiro. Na Bahia temos 47.525 índios a mais no IBGE, e em Pernambuco 11.413. A menor diferença encontra-se na Paraíba, e mesmo assim é bastante significativa: 2.513 pessoas. O universo da contagem da FUNAI é mais restrito, pois equivalem às 69 terras indígenas reconhecidas no Nordeste (Tabela 5). Como explicitado na

Tabela 5 estas terras indígenas encontram-se em diferentes fases no processo de demarcação,

sendo que apenas seis estão homologadas.

Tabela 5

Terras Indígenas do Nordeste, por situação de demarcação, segundo as Unidades da Federação – 2006

Terras Indígenas – FUNAI Unidade da

Federação total homologadas regularizadas declaradas/delimitadas em estudo

Maranhão 17 2 14 0 1 Ceará 7 0 1 3 3 Paraíba 3 0 2 1 0 Pernambuco 11 0 8 1 2 Alagoas 9 0 6 1 2 Sergipe 1 1 0 0 0 Bahia 21 3 11 2 5 Total 69 6 42 8 13

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Na região Nordeste, segundo a análise de IBGE, 2005 são 79 municípios com terras indígenas, com 58.210 (rural específico + indígenas urbanos, nos municípios com terra indígena) pessoas autodeclaradas indígenas vivendo nestes municípios (IBGE, 2005). Existem 64.661 autodeclarados indígenas em situação de domicilio rural, e destes, 42.838 (ou 66,25%) foram classificados na análise do IBGE, 2005 como “rural específico” (população indígena rural em municípios com terra indígena).

O ISA (Instituto Socioambiental) também fornece dados relativos às terras indígenas e população indígena do Nordeste. Na lista de Terras Indígenas do Nordeste, publicada pelo ISA em dezembro de 2000, os resultados são de diferentes fontes (FUNAI, FUNASA e Sampaio), em anos distintos (FUNASA: todos de 1999; FUNAI: 1993, 1994, 1996, 1999, 2000; Sampaio: 1989), o que dificulta a análise em conjunto destes dados. Foram totalizados 45.308 índios vivendo em 34 terras indígenas do Nordeste. Ainda deve-se relativizar este número, pois são listadas dez terras indígenas sem registro de quantificação de população indígena local, as quais se encontram em fase de identificação no processo de demarcação. Na versão da lista disponível na página eletrônica do ISA os dados também não correspondem a uma única fonte, sendo de anos diferentes. Entre as diferentes fontes (FUNAI, FUNASA e IBGE, 2000) é a menor quantificação, mas que se aproxima do total da variável “rural especifica”, 42.838, efetuado pela publicação do IBGE, 2005.

Outra perspectiva de contagem dos indígenas foi esta apresentada na publicação de 2005 do IBGE. No livro “Tendências Demográficas: uma análise dos indígenas com base nos resultados da amostra dos Censos Demográficos 1991 e 2000” é promovida uma nova variável na análise dos dados de população indígena, quanto à sua localização e situação de domicilio. Além da divisão entre rural e urbano, foi acrescentada uma subdivisão da população rural indígena, denominada “rural específico”. Esta corresponde “ao conjunto de pessoas indígenas residentes nas áreas rurais dos municípios com terras indígenas” (IBGE 2005: 16), e foram contabilizadas em 304 mil pessoas, dentre as 350 mil que se autodeclaram indígenas em áreas rurais e as 734 mil, no total do Brasil (urbano + rural). Assim, ao buscar fatores envolvidos no expressivo crescimento de indígenas entre 1991 e 2000, o IBGE conclui que a maior parte deste foi determinada pelo “aumento da proporção de indígenas urbanizados que optaram pela categoria indígena no Censo Demográfico 2000 e que, anteriormente, se classificavam em outras categorias” (IBGE, 2005: 35).

No Nordeste (IBGE 2005: 16), são 42 mil índios classificados como em situação de domicílio rural específico, dos 64 mil autodeclarados indígenas em áreas rurais, dentre os 170 mil, do total da região (urbano + rural). Este número (42.000) pode ser comparado com os 45.308 índios vivendo em terras indígenas no Nordeste, segundo o ISA, com os 63.673 índios em terras indígenas do Nordeste, de acordo com a FUNAI, e com os 130.397 índios atendidos pela FUNASA. Assim, com o acréscimo da variável “rural específico”, o IBGE procura entender o grande crescimento na população indígena brasileira. Esta variável deveria corresponder, de maneira geral, aos índios em terras indígenas, mas não alcança o número total da FUNAI, e também não avança na definição de quem são, e onde estão os novos indígenas, que estariam justamente fora dessa nova categoria. Neste sentido, o trabalho propõe uma divisão alternativa para a análise do crescimento da população indígena do Nordeste.

(15)

IV. PROPOSTA DE TIPOLOGIA PARA ESPACIALIZAÇÃO DOS

ÍNDIOS DO NORDESTE

Considerando as análises feitas no trabalho, foram estabelecidos três principais tipos ideais (caracterizadores) da população indígena no Nordeste. No entanto estes tipos não podem ser exatamente recortados nos dados dos censos, pois não contemplam a totalidade da diversidade da população autodeclarada indígena no censo, mas foram utilizados, pois nos ajudam a melhor entender a espacialidade dos indígenas no Nordeste, representando tendências encontradas nas análises dos censos do IBGE: População Indígena

Territorializada, vivendo em reservas demarcadas pelo governo federal (através da FUNAI),

ou em processo de reivindicação de seu território; População Indígena Urbana, vivendo, desagregados ou não, nas grandes cidades (com mais de 100.000 habitantes), provenientes, em sua maioria, de fluxos migratórios em direção aos centros urbanos (êxodo rural);

População Indígena Dispersa, ou Espraiada, com pequena participação na população total,

mas presente em grande número de municípios. IV. 1. População Indígena Territorializada

Estes são os indígenas que se localizam, enquanto etnias, agrupados em áreas específicas. Portanto possuem uma relação de pertencimento ao seu território, mesmo que este já se encontre reduzido ou transformado, pelo processo de colonização.

Por conseguinte são grupos territorializados que vivem em reservas demarcadas pelo governo, ou estão em processo de reivindicação da demarcação de terras. Seus territórios correspondem aos aldeamentos missionários criados há pelo menos 300 anos, e eles são descendentes dos índios das missões, possuindo fortes vínculos com seus territórios. Pelo uso comunal do território e das suas condições de autosustentação, se torna essencial a estes grupos étnicos a garantia de autonomia e plena gestão de seu território, o que é garantido pela constituição.

A quantificação deste tipo ideal pode ser dimensionada em 57.149 autodeclarados índios, os quais vivem nas 69 terras indígenas do Nordeste (Tabela 5 e Figura 1). Este número pode ser comparado ao total de índios reconhecidos pela FUNAI no Nordeste: 77.585. Portanto esse tipo ideal é mais abrangente em relação à variável “rural específica” do IBGE, que totalizou 42 mil índios, pois não exclui os índios territorializados em área urbana.

Nas somas da FUNASA (2007) são 130.397 indígenas, que vivem em terras indígenas, demarcadas ou não. Portanto pode-se supor que dentre os indígenas territorializados muitos não se declararam indígenas no Censo 2000. Apesar deste ser o grupo mais facilmente reconhecido como indígena (tem características mais fortemente reconhecidas historicamente como indígenas), e com maior sucesso nos processos de reivindicação de território, ainda existem diversos casos com problemas fundiários e mesmo de grupos reconhecidos, mas sem terras demarcadas.

IV. 2. População Indígena Urbana

Este segundo tipo ideal reúne os indígenas que vivem nas grandes cidades. Embora se declarem indígenas nos censos, estão em situação diferente do primeiro tipo delimitado. Existem casos em que os autodeclarados indígenas não estão agrupados espacialmente, e também casos nos quais estão localizados em certos bairros ou distritos com maioria indígena.

(16)

Esta população indígena urbana é em grande parte proveniente do êxodo rural, acentuado desde meados do século passado até hoje. Como já delimitado anteriormente, nos 46 municípios com mais de 100.000 habitantes existem 64.076 pessoas declaradas indígenas. Excluindo-se desta lista os três municípios que possuem terra indígena (Ilhéus – BA, Caucaia – CE e Maranacaú - CE) o número total de indígenas desterritorializados urbanos no Nordeste é de 61.188 (Tabela 6), dos quais 97,2%, ou 59.793 vivem em área urbana.

IV. 3. População Indígena Dispersa

Este tipo classificatório é delimitado nos municípios com menos de 100.000 habitantes e sem terras indígenas. São 52.130 autodeclarados nesta situação (Tabela 6), caracterizados como População Indígena Dispersa. Destes, 41.035 estão em municípios nos quais representam menos que 1% do número de habitantes, enquanto 11.095 são localizados em municípios com presença indígena maior que 1% (Tabela 7). A decisão de classificar este contingente (11.095) também como População Indígena Dispersa foi tomada a partir do entendimento de que a situação destes índios (em relação a um reconhecimento oficial de sua identidade étnica) é mais próxima desta categoria do que dos indígenas Territorializados, que já são reconhecidos pelo Estado.

Esta população indígena foi destacada também a partir da constatação de que 688 municípios do Nordeste têm menos de 50 índios autodeclarados no censo 2000 do IBGE, os quais totalizam 11.670 indígenas. Destes, 64 municípios têm população indígena de 1 a 4 pessoas, 197 de 5 a 9 pessoas, 244 de 10 a 24 pessoas, e 183 de 25 a 49 pessoas. Ainda existem 139 municípios com entre 50 e 100 índios, totalizando 9.734 autodeclarados indígenas. Neste recorte, portanto temos 21.404 (11.670 + 9.734) indígenas que poderiam também ser definidos como População Indígena Dispersa.

Com relação à situação de domicilio, são 43.804 autodeclarados indígenas em áreas urbanas do Nordeste, em municípios com menos de 100.000 habitantes. Destes, 63,3% (ou 27.759 pessoas) encontram-se em municípios nos quais representam menos de 1% do total de habitantes em área urbana. No caso das áreas rurais, são 62.481 índios em municípios com menos de 100.000 habitantes. Destes, 13.130 pessoas (ou 21 %), vivem em áreas rurais com pequena participação (menos de 1%) na população rural total do município. Portanto, no total (urbano, 27.759 + rural 13.130) são 40.889 autodeclarados indígenas também em situação de classificação como População Indígena Dispersa.

Tabela 7

População Indígena Dispersa por Participação na População Total, segundo as Unidades da Federação

Unidades da Federação < 1% > 1% Total

Maranhão 5.735 1.653 7.388

Piauí 960 566 1.526

Ceará 3.402 1.738 5.140

Rio Grande do Norte 803 643 1.446

Paraíba 1.856 586 2.442 Pernambuco 4.370 2.779 7.149 Alagoas 1.942 0 1.942 Sergipe 2.561 683 3.244 Bahia 19.309 2.447 21.756 Nordeste 40.938 11.095 52.033

(17)

A quantificação destes tipos caracterizadores (Tabelas 6 e 7) efetuou-se a partir dos dados do Censo 2000 do IBGE, portanto constituindo uma tentativa de melhor visualização e espacialização dos tipos ideais, sem, no entanto corresponder exatamente à atual população indígena do Nordeste.

Mapa 5

Distribuição dos tipos ideais classificadores dos autodeclarados indígenas por município do Nordeste

(18)

Na Tabela 6, a População Indígena Territorializada corresponde à soma da população indígena total dos municípios com terra indígena. A População Indígena Urbana é a totalização dos autodeclarados índios nos municípios com mais de 100.000 habitantes. A População Indígena Dispersa é resultado da soma dos índios dos municípios com menos de 100.000 habitantes e sem terra indígena.

O Mapa 5 mostra a distribuição dos tipos ideais de população indígena, pelos municípios do nordeste. Os municípios analisados a seguir podem ser identificados neste mapa, com a cor indicando qual foi a sua classificação da sua população indígena: Territorializada - vermelha, Urbana - azul ou Dispersa - verde. A seguir, os municípios são divididos por unidade da federação, para facilitar a comparação dos números do IBGE com os dados da FUNASA, e da FUNAI (Tabela 3) e a localização mais exata dos tipos ideais (Mapa

5).

Tabela 6

População Indígena do Nordeste, por Tipos Ideais Caracterizadores, segundo as Unidades da Federação Unidades da Federação População Indígena Territorializada População Indígena Urbana População Indígena Dispersa Total Maranhão 15.965 4.220 7.388 27.573 Piauí 0 1.113 1.526 2.639 Ceará 2.616 4.446 5.140 12.202

Rio Grande do Norte 0 1.721 1.446 3.167

Paraíba 5.230 2.416 2.442 10.088 Pernambuco 14.672 12.850 7.149 34.671 Alagoas 5.106 2.027 1.942 9.075 Sergipe 134 3.335 3.244 6.713 Bahia 13.426 29.060 21.756 64.242 Nordeste 57.149 61.188 52.033 170.370

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS

O presente trabalho buscou através das análises de diferentes bancos de dados, comparados com os dados do Censo 2000 do IBGE em novas tabulações, entender o processo de crescimento da população indígena no Nordeste. Ao longo do caminho percorrido até as conclusões finais foram identificadas diversas informações, das quais as consideradas essenciais serão expostas a seguir:

a. o crescimento apontado pelo IBGE, entre 1991 e 2000 não resultou do crescimento

vegetativo, mas sim da mudança na autoidentificação étnica de um grande contingente populacional (Capítulo I);

b. a população indígena do Nordeste encontra-se dispersa em 60% dos 1.786

municípios da região, e ao mesmo tempo, 53,8% dessa população se concentra em 37 municípios com mais de 1000 autodeclarados indígenas (Capítulo II.1);

(19)

habitantes, e outros 51 com entre 1 e 5% de participação na população total, somando 64.152 (34.806 + 29.346) autodeclarados indígenas com mais de 1% de participação nestes 72 municípios (Capítulo II.2);

d. apesar da presença indígena nas áreas rurais ser mais expressiva numericamente,

existem também povos indígenas territorializados em situação de domicilio urbana (Capítulo

II.3);

e. nos municípios com terra indígena, a presença indígena em relação ao número de

habitantes total é de 2,3% (considerando apenas as áreas rurais é de 4,8%), bem superior à média total do Nordeste, 0,36% (Capítulo III);

f. a partir da comparação dos 69 municípios atendidos pela FUNASA com os dados

do IBGE, observa-se que existem muitos indígenas territorializados que não se autodeclararam como indígenas no Censo 2000, o que pode indicar um movimento de crescimento acelerado na mudança de reconhecimento étnico, com um provável grande aumento do número de autodeclarados indígenas nos próximos censos (Capítulo III).

Conclui-se que os indígenas nordestinos passam por um processo de acelerado crescimento populacional apoiado no fortalecimento de sua identidade. Crescimento este que acompanha a conquista de alguns grupos em serem reconhecidos e tomarem posse de seus territórios. Como demonstrado no trabalho este crescimento não é vegetativo, e, portanto, a região Nordeste surge como um local de grandes mudanças nas configurações étnicas da sua população.

No trabalho com os povos indígenas devem ser levados em consideração todo o processo de conquista colonial, o estabelecimento dos aldeamentos missionários, a imposição da tutela governamental e a discriminação sofrida por esta população. Nesta perspectiva histórica, cada grupo étnico tem sua identidade específica, moldada a partir de diferentes processos sociais e históricos. Neste sentido, a análise, principalmente no recorte municipal, dos dados dos censos 1991 e 2000 permitiu observar que o grande crescimento de autodeclarados indígena foi logicamente coerente com o contexto histórico-espacial apresentado. Com isso concluiu-se no sentido de uma postura de oposição à negativa da existência destes “novos indígenas” como resultado de um erro metodológico do IBGE (como propalado pela FUNAI), ou apenas como decorrência de um crescimento de indígenas urbanos, como proposto pelo IBGE.

A comparação com os dados da FUNASA (2007) foi também importante e demonstrou claramente que uma parcela considerável de indígenas (que vivem em terra indígena, ou em processo de demarcação) não se autodeclararam indígenas no censo do IBGE. Por conseguinte, pode-se prever que a população indígena do Nordeste seja bem maior do que a totalizada pelo IBGE, e com grande probabilidade de manter este acelerado crescimento nos próximos censos, ainda mais se levarmos em consideração o atual contexto histórico de retomada, pelos índios, de antigos territórios.

O crescimento confirma, portanto, um processo de refortalecimento da identidade indígena, frente à sociedade nacional, numa negativa ao seu desaparecimento, enquanto um conjunto de população que se reconhece diferente do restante da sociedade, e que acredita possuir vínculos com uma população autóctone.

(20)

Dentro destas mudanças de reconhecimento e identificação étnicas no Nordeste deve-se destacar a situação de invisibilidade dos aqui classificados como índios em situação de desterritorialização urbana (População Indígena Urbana) ou dispersão (População Indígena Dispersa). Nestes dois últimos tipos ideais demarcados que se encontram a fonte das divergências entre os números da FUNAI e do IBGE (são 92.804 índios a mais no censo do IBGE) quanto ao total de índios no Nordeste. Estes autodeclarados índios no censo 2000 do IBGE e não contabilizados pela FUNAI, como o trabalho indicou, correspondem a grande parte da população indígena caracterizada como urbana e dispersa, que não são reconhecidos oficialmente como indígenas e tampouco possuem território demarcado.

Estes dois tipos ideais classificadores merecem maior estudos, para além dos dados pesquisados nos censos do IBGE, que possibilite os posicionar quanto às suas etnias e seus territórios originais (quando da migração e vida fora de sua comunidade indígena de origem). Neste sentido seriam necessárias pesquisas mais específicas, que permitam a autoclassificação não somente em relação à cor ou raça, mas também quanto ao pertencimento a um grupo étnico diferenciado. Sem este recurso o Censo Nacional (apesar de avançar com a adoção da autoclassificação, que permitiu detectar um quadro de mudanças na configuração étnica da população) não consegue responder a questões essenciais para a formação de políticas públicas que atendam aos direitos destas populações não reconhecidas. Assim, teríamos um caminho mais direto para se melhor conhecer este contingente populacional autodeclarado indígena e promover políticas que garantam também a estes o direito ao reconhecimento e respeito à sua identidade étnica.

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Tendências Demográficas: uma análise dos indígenas com base nos resultados da amostra dos Censos Demográficos 1991 e 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2005.

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(21)

Páginas Eletrônicas

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE: <http://www.ibge.gov.br>

Banco de Dados Agregados – SIDRA (Sistema IBGE de Recuperação Automática), do IBGE: <http://www.sidra.ibge.gov.br>

P. WANIEZ/Philcarto: <http://philgeo.club.fr/Index.html>

Fundação Nacional do Índio - FUNAI: <http://www.funai.gov.br> acessado em 08/08/2007 Instituto Socioambiental - ISA: <http://www.socioambiental.org> acessado em 08/08/2007 JC Online – Reportagem Especial Multimídia: A RETOMADA INDÍGENA <http://www2.uol.com.br/JC/sites/indios/galeria_kambiwa.html> acessado em 08/08/2007

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