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Femicídio nos estados da região Nordeste do Brasil, uma tragédia no cotidiano do machismo

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Femicídio nos estados da região Nordeste do Brasil, uma tragédiano cotidiano do machismo*

Cícera Romana do Norte1, Amanda Freitas de Oliveira1, José Vilton Costa2, Juliano dos Santos3,Taynãna César Simões4, Micaela A Rocha da Costa5 ,Lannuzia Veríssim e Oliveira6, Karina Cardoso Meira6

Resumo

Objetivo:Analisar a tendência da mortalidade por homicídios em mulheres nos estados da região Nordeste, no período de 1996 a 2012. Metodologia: Estudo ecológico de tendência temporal da mortalidade por homicídios em mulheres nos estados da região Nordeste. Os registros de óbitos e os dados populacionais, de mulheres na faixa etária de 10 a mais anos, foram extraídos do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM/DATASUS) As análises de tendência foram realizadas por meio da regressão binomial negativa.Resultados: No período de estudo evidenciou-se 5,25 óbitos/100.000 mulheres. Ainda, a menor taxa de mortalidade foi observada no ano de 1999 (3,79 óbitos/100.000) e a maior em 2011 (6,92 óbitos/100.000). Os estados de Pernambuco (8,90) e Alagoas (6,98) apresentaram as maiores taxas médias do período, enquanto que, Piauí (2,53) e Maranhão (3,15) as menores taxas. Em relação à faixa etária, em todos os estados, as maiores taxas de mortalidade foram verificadas na faixa etária de 20 a 49 anos. No tocante à tendência de mortalidade, observou-se tendência ascendente em todos os estados da região Nordeste, exceto, em Pernambuco e Sergipe que apresentaram tendência estacionária. Conclusão: O femicídio é um importante problema de saúde pública na região Nordeste, tendo em vista sua tendência ascendente e por altas taxas de mortalidades em mulheres jovens. Sinalizando a necessidade de políticas públicas voltadas para a proteção das mulheres em situação de violência. Palavras-chave: Mortalidade, Modelos Lineares Generalizados, Neoplasia do colo do útero, Estudos Ecológicos

*

Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación LatinoAmericana de Población e XX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Foz do Iguaçu/PR – Brasil, de 17 a 22 de outubro de 2016

1

Graduandas do Curso Superior de Gestão Hospitalar da Escola de Saúde da da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

2

Professor do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

3

Tecnologista Pleno do Instituto Nacional de Câncer

4Pesquisadora do Centro de Pesquisa René Rachouo da Fundação Oswaldo Cruz de Belo Horizonte

5 Assistente Social. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviços Social da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte 6

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INTRODUÇÃO

Por violência compreende-se o ato de obrigar, constranger, utilizar a superioridade física sobre o outro, ou impedir o outro de manifestar seu desejo, sob pena de ameaça, lesão, ou aniquilamento do outro ou de seus bens (PIOSIADLO et al, 2014).

No âmbito da saúde, apenas a partir da década de 1990, seguindo recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência passou a ocupar espaço de prioridade na discussão, elaboração e implementação de políticas voltadas ao seu combate (LIMA; DESLANDES, 2014).

Dentre os grupos mais vulneráveis a violência, destacam-se as mulheres, as quais experimentam, constantemente, vários tipos de agressões e abusos físicos, verbais e sexuais cometidos por parceiros ou ex-parceiros, familiares, amigos, desconhecidos, por instituições públicas e até mesmo pelo Estado (PIOSIADLO et al, 2014).

A violência contra a mulher consiste em ações praticadas em ambiente público ou privado e, nos mais distintos contextos, não obstante, é no ambiente doméstico, que, frequentemente ocorre. Usualmente, é perpetrada por homens da família que exercem relações de poder sobre as vítimas e, ao serem resguardados pelos laços afetivos, podem levar ao extremo as relações de dominações (TELES;MELO, 2003; BRASIL,2011; EDELSTEIN, 2013; COSTA; SOARES; LOPES, 2015).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência contra as mulheres, designada violência de gênero, configura-se em um problema de saúde pública (WHO, 2011). Tal violência pode apresentar-se de forma psicológica ou física, culminando com o assassinato- expressão máxima da violência contra a mulher (GARCIA; FREITAS; HOFELMANN, 2013).

Na década de 1970, o movimento feminista empregou pela primeira vez o termo feminicídio, de cunho político e legal, para conceituar qualquer manifestação ou exercício de relações desiguais de poder entre homens e mulheres que culmine com a morte de uma ou mais mulheres (MENEGLEL & HIRATA 2013). Segundo Meneghel e Hirakata (2011) os feminicídios podem ocorrer em diversas situações: mortes

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perpetradas por parceiros íntimos, crimes seriais, violência sexual seguida de morte, feminicídios associados ou extermínio.

Estudos epidemiológicos apontam que a distribuição de feminicídios no mundo é variável, todavia há um aumento deste tipo de violência em localidades onde a cultura patriarcal ainda perpetua (COSTA; SOARES; LOPES, 2015). No Brasil, estima-se que uma em cada cinco mulheres tenha sido vítima de violência doméstica. Acrescente-se que na última década, foram assassinadas 43,5 mil mulheres, razão está pela qual o país ocupa a sétima posição mundial em número de homicídios femininos, com uma taxa de 4,5 para cada 100 mil mulheres (MADUREIRA et al, 2014). Ademais, entre 1980 e 2010 o número de mulheres assassinadas no país aumentou 230% (BORGES, LODETTI, GIRARDI, 2014).

Por compreender a severidade desta problemática no âmbito da saúde pública e os nefastos impactos dos feminicídios para sociedade, o Estado brasileiro têm desenvolvido ações objetivando combater a violência contra as mulheres. Nessa perspectiva, destaca-se a Lei Maria da Penha, sancionada pela Lei nº 11.340/2006, que apregoa a implantação de atendimento policial especializado, em particular nas Delegacias de atendimento à mulher (DEAM), bem como o desenvolvimento de campanhas educativas para prevenção desta forma de violência (GARCIA; FREITAS; HOFELMANN, 2013).

Todavia, embora exista um aparato legal para coibir a violência familiar e doméstica contra a mulher, há uma lacuna entre a legislação e o que é posto em prática. Pois, apesar da violência contra as mulheres ser um fenômeno que se desenvolve no nível relacional e social e, seu enfrentamento exigir mudanças culturais, educativas e sociais, (MADUREIRA et al, 2014), muitas vezes os crimes relacionados as mulheres são justificados como sendo assuntos privados, favorecendo a subnotificação desses casos de violência.

Frente ao exposto, e por considerar o patriarcado- significativamente presente nos estados do Nordeste Brasileiro- como fator potencializador da violência contra as mulheres, desenvolveu-se esta pesquisa que objetivou analisar a tendência de mortalidade por homicídio em mulheres nos estados da Região Nordeste do Brasil, no período de 1996 a 2012

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MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de estudo ecológico de séries temporais sobre a tendência de mortalidade por agressão em mulheres nos estados da região Nordeste do Brasil, no período de 1996 a 2010. Escolheu-se esse período, pois um dos objetivos dessa pesquisa foi analisar a mortalidade por agressão em mulheres nos períodos antes e após a implantação da Lei Maria da Penha.

Os registros de óbito por outras causas externas de traumatismo acidental (W00 a X59), lesões autoprovocadas intencionalmente (X60 a X84), agressões (X85-Y09), evento cuja intenção é indeterminada (Y10-Y34) e intervenções legais (Y35) foram obtidos no Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM/DATASUS) para o período de 1996 a 2012 nas seguintes faixas etárias: 10-14, 15-19,20-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69, 70-79 e 80 e mais anos. Ressalta-se que as informações demográficas também foram obtidas no site do DATASUS, e que os dados populacionais para os anos intercensitários foram estimados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Estima-se que 70% dos óbitos por agressão em mulheres sejam relacionados à desigualdade de gênero, no entanto o uso de todos os óbitos como uma aproximação dos casos de femicídio, não superestimam a mortalidade por esse evento. Tendo em vista a compensação da subnotificação ou diagnóstico mal definido de agressões em mulheres, sobretudo, nas regiões mais pobres do país (MENEGHEL & HIRATA ,2011)

Considerando a alta proporção de registros do SIM classificados como evento cuja intenção é indeterminada, realizou-se a correção dos óbitos. Para isso, foram considerados os óbitos por causas externas com as seguintes classificações: W00 a X59 (outras causas externas de traumatismo acidental); X60 a X84 (lesões autoprovocadas intencionalmente); X85-Y09 (agressões)+Y10-Y34 (evento cuja a intenção é indeterminada) e Y35 (intervenções legais) (GARCIA; FREITAS; HOFELMANN, 2015).

Obtidos os registros de óbitos procedeu-se a redistribuição proporcional por ano e faixa etária. Para tanto, inicialmente, calculou-se a proporção dos óbitos por agressão (X85-Y09) em relação ao total de óbitos por causas externas acidentais e intencionais W00 a X59, X60 a X84 X85-Y09, Y10-Y34 e Y35. Em seguida, essa proporção foi multiplicada pelo total de óbitos de eventos cuja intenção é indeterminada (Y10-Y34), obtendo-se a parcela proporcional que correspondia aos óbitos por agressão em relação

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ao total de óbitos por eventos cuja intenção é indeterminada. Esse valor foi finalmente somado ao total de óbitos por agressão, conforme registrado no SIM (GARCIA; FREITAS; HOFELMANN, 2015).

Corrigidos os registros de óbitos, calcularam-se as seguintes taxas de mortalidade por 100.000 mulheres, taxas anuais e segundo faixa etária para o período de 1996 a 2010. Ainda, padronizaram-se as taxas pelo método direto, utilizando como população padrão a mundial, proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (AHMAD et al.,2000).

Com vistas a identificar o impacto da mortalidade por essa causa em mulheres, calcularam-se os anos potenciais de vida perdidos para todos os capítulos da CID-10, e por agressão, a partir da fórmula abaixo, considerando como limite do tempo de vida 70 anos, tendo em vista a expectativa de vida nas mulheres brasileiras do último censo (IBGE,2010).

APVP=

Onde: L é um limite do tempo de vida, x é a idade na qual o óbito ocorre, dx é o número de óbitos com a idade x.

Em seguida, iniciaram-se as análises de tendência temporal, dessa maneira, construíram-se gráficos para as séries temporais, por meio de médias móveis trienais, e avaliou-se a tendência temporal da mortalidade por agressão, no período de 1996 a 2012, por meio da regressão binomial negativa. Destaca-se que a distribuição de Poisson, não foi o método mais adequado para essas análises, pois os dados dessa pesquisa apresentam superdispersão (variância maior que a média) (MORETIN& TOLOI ,2006).

Na análise de tendência o número de óbitos e casos novos esperados para cada ano foi a variável dependente, e o ano calendário centralizado a variável independente. A tendência é classificada em estacionária, decrescente ou ascendente de acordo com o valor do risco relativo (RR), obtido pela exponencial do coeficiente da regressão, e seu respectivo intervalo de confiança de 95% (IC95%). Foram consideradas séries com tendência estacionária quando o limite inferior do intervalo de confiança foi menor que 1 e o superior maior do que 1. As séries com tendência descendente foram aquelas que apresentaram RR, limites inferior e superior do IC95% inferiores a um. As séries ascendentes mostraram valores de RR, limites inferior e superior maior do que 1 (NELDER,1972; LATORRE,2010). Destaca-se que todas as análises foram realizadas

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no programa estatístico R versão 3.1.0 de domínio público, utilizando a biblioteca lmtest e stats.

O presente estudo não foi submetido para apreciação no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP/UFRN), pois foram utilizados dados secundários de acesso universal (SIM/DATASUS) no qual não há identificação dos sujeitos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período de estudo, ocorreram 15561 óbitos por agressão em mulheres na Região Nordeste, representando uma taxa média padronizada de 4,43 óbitos por 100.000 mulheres. Após a correção dos óbitos verificou-se um aumento de 18,5% na taxa de mortalidade (5,25 óbitos/100.000 mulheres). A menor taxa de mortalidade foi observada no ano de 1999 (3,79 óbitos/100.000) e a maior em 2011 (6,92 óbitos/100.000). As maiores taxas médias do período foram observadas nos estados de Pernambuco (8,90) e Alagoas (6,98), enquanto que as menores taxas no Piauí (2,53) e Maranhão (3,15). O mesmo foi observado na avaliação das taxas trienais no período de 1996 a 2010 (Tabela 1). Esses achados devem ser analisados com cautela, tendo em vista que as baixas taxas de mortalidade apresentadas pelos estados do Piauí e Maranhão podem refletir problemas na qualidade da informação dos óbitos.

A análise da mortalidade nos triênios de 1996 a 2010 evidenciou aumento progressivo nas taxas de mortalidade por homicídios em mulheres em todos os estados da região Nordeste, sendo as maiores taxas observadas no último triênio 2008 a 2010, exceto no estado da Paraíba. Sinalizando para não redução dos óbitos por essa causa após a implantação da Lei Maria da Penha.

No tocante às variáveis sociodemográficas, verificou-se que na região Nordeste a maior proporção dos óbitos acometeram mulheres na faixa etária de 15 a 39 anos (68,5%), solteiras (72,5%) e de raça cor preta/parda (82,91%), mesmo perfil foi verificado em todos os estados do Nordeste. Em relação ao local de ocorrência, na região Nordeste, os óbitos ocorreram com maior frequência em via pública (32,48%) seguidos pelos domicílios (26,98%). Tal achado vão ao encontro dos resultados de outros estudos brasileiros (GARCIA; FREITAS; HOFELMANN, 2013; MENEGLEL & HIRATA 2011)

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Na análise da Figura 1, que apresenta as taxas suavizadas por meio de média móvel, sinaliza-se tendência ascendente de mortalidade por agressão em todos os estados da região Nordeste, sobretudo após 2006, exceto para o estado de Pernambuco o qual aponta redução das taxas de mortalidade a partir de 2006 e o estado de Sergipe que apresenta uma tendência com várias oscilações, com redução das taxas até 2007, momento a partir do qual as mesmas começam a aumentar.

Figura 1. Taxas de mortalidade por homicídio em mulheres, suavizadas por médias móveis trienais, segundo estados da Região Nordeste, no período de 1996 a 2012.

Tabela 1. Taxas ajustadas de mortalidade por homicídio em mulheres, nos estados da região Nordeste, no período de 1996 a 2010.

Localidade Taxa trienal 1996-1998 1999-2001 2002-2004 2005-2007 2008-2010 Alagoas 5,67 5,19 5,92 7,76 8,65 Bahia 2,85 2,80 4,45 5,24 8,22 Ceará 3,31 3,70 4,02 4,44 4,76 Maranhão 2,11 2,27 2,45 2,70 3,76 Paraíba 4,29 2,92 3,07 4,20 2,55 Pernambuco 8,58 9,40 8,84 9,60 9,07 Piauí 1,54 1,87 2,57 2,95 3,05

Rio Grande do Norte 3,94 3,25 2,83 4,46 5,69

Sergipe 7,12 6,73 5,39 5,14 4,92

Nordeste 4,18 4,33 4,77 5,61 6,54

Na região Nordeste, a maior quantidade de anos potenciais de vida perdidos (APVP) foi observada no capítulo XX (2068446,50) da CID-10 representando 22,50%

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do total de APVP das causas definidas, sendo seguido pelo capítulo IX (doenças do aparelho circulatório) e capítulo II (neoplasias). No entanto, o mesmo não é verificado nos estados, pois em todos os estados as causas externas representaram o terceiro grupo de causas com a maior quantidade de APVP, sendo superado pelo capítulo II (neoplasias) e IX (doenças do aparelho circulatório). Em relação às agressões, a região Nordeste apresentou 788050,0 AVPP, correspondendo a 38,09% dos AVPP por causas externas. O estado de Alagoas apresentou a maior proporção de AVPP por agressão entre as causas externas e o do Maranhão a menor (Tabela2).

A tendência de mortalidade por agressão pela Regressão binomial negativa evidenciou tendência global ascendente para a região Nordeste todos os estados, exceto para o estado de Pernambuco (RR=0,99, IC95% 0,98-1,01) e Sergipe (RR=0,99; IC95% 0,97-1,001) que apresentaram tendência estacionária das taxas de mortalidade. Ainda, verificou-se tendência ascendente, sobretudo, nas faixas etárias mais jovens até 49 anos, exceto, no estado de Sergipe que apresentou aumento da tendência de mortalidade de nas faixas etária a partir dos 70 anos, e em Pernambuco que mostrou tendência descendente na maior parte das faixas etárias estudadas (Tabela 3).

Os achados do presente estudo sinalizam para a importância da discussão do tema femicídio na região Nordeste, tendo em vista a tendência ascendente da mortalidade por esse grupo de causa no período estudado. Ainda, evidenciou a importância dos métodos de correção dos óbitos por homicídio, tendo em vista que após esse procedimento houve aumento de 18,5% nas taxas de mortalidade.

Segundo MENEGHEL & HIRATA (2011), apesar dos óbitos femininos representarem 10% das mortes por agressão, este agravo se constitui um problema social pelo fato da maior parte desses óbitos estarem relacionados à questão de gênero. Tal realidade pode ser explicada pelas relações desiguais de gênero fortemente presentes na sociedade brasileira, que no seu maior grau gera o homicídio.

Os avanços obtidos no campo jurídico, através Lei Maria da Penha e seus mecanismos de prevenção da violência doméstica, não representou impactos na redução no femicídio no Brasil (GARCIA; FREITAS; HOFELMANN, 2013). Tal realidade pode ser fruto da falta de eficiência na aplicação das medidas de proteção, a ausência de recursos materiais e humanos, bem como a qualidade do serviço prestado à vítima tendo

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em vista que os profissionais (envolvidos no sistema legal), apresentam os mesmos preconceitos predominantes na sociedade (MENEGHEL & HIRATA, 2011).

Ademais, o número reduzido de serviços especializados para atender estas demandas possivelmente corroboram com a não redução do femicídio no Brasil. Em 2012, o país que conta com mais de 5000 municípios possuíam apenas 348 Delegacias especiais para o atendimento a mulher, 220 Centro de Referência de Atendimento à mulher, 122 Núcleos Atendimento à mulher em delegacias comuns e 72 casas abrigo (GARCIA; FREITAS; HOFELMANN, 2013).

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Tabela 2. Anos potenciais de vida perdido por homicídio, no sexo masculino, nos estados da região Nordeste do Brasil, no período de 1996 a 2012. Natal, 2016.

Faixa Etária

Estados

Nordeste Maranhão Piauí Ceará

Rio Grande do

Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia

10 a 14 anos 1681,733 928 5046 1768 2610 12470 3886 2204 10556 39672 15 a 19 anos 7297,457 3074 15635 26268 9434 39750 11554 5247 37418 129108 20 a 29 anos 18737,88 7689,5 30212 128843 16971,5 71344 21976,5 10146,5 73391,5 244744,5 30 a 39 anos 10538,34 3869,5 17892 61452 10756,5 40008,5 11466,5 6390 39369,5 137420,5 40 a 49 anos 3769,66 1912,5 8415 15313,5 3825 17493 4386 2881,5 16167 58216,5 50 a 59 anos 1129,092 620 2619,5 2268 1054 5301 1534,5 759,5 4696,5 17453 60 a 69 anos 292,8667 93,5 511,5 715 231 1089 209 176 1017,5 3470,5 Total 43447,03 18187 80331 236627,5 44882 187455,5 55012,5 27804,5 182616 630085

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Tabela 3. Tendência das taxas mortalidade por femicídio corrigidas, nos estados do Nordeste, no período de 1996 a 2012.

Localidade Risco Relativo IC95% Tendência

Alagoas 1,04 1,03-1,06 Ascendente Bahia 1,08 1,04-1,12 Ascendente Ceará 1,02 1,01-1,04 Ascendente Maranhão 1,05 1,03-1,07 Ascendente Paraíba 1,08 1,06-1,09 Ascendente Pernambuco 0,99 0,98-1,01 Estacionária Piauí 1,03 1,01-1,04 Ascendente Rio Grande do Norte 1,06 1,05-1,07 Ascendente Sergipe 0,99 0,97-1,001 Estacionária Nordeste 1,03 1,02-1,05 Ascendente

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CONCLUSÃO

Os achados do presente estudo assinalam o problema da violência contra as mulheres nos estados da região Nordeste, tendo em vista a tendência ascendente das mesmas na região como um todo e em sete estados, e as maiores taxas de mortalidade em mulheres jovens, em idade reprodutiva e laboral, gerando impactos sociais, econômicos, familiares para sociedade no geral.

Acredita-se que em uma sociabilidade cada vez mais marcada por diversas e desumanas manifestações da violência, falar sobre violência contra as mulheres tem sido parte fundamental da prevenção e combate a este tipo de ação. Dessa maneira, este estudo traz como contribuição, o conhecimento da realidade a respeito do feminicídio nos estados da região Nordeste, e assim, pode subsidiar a avaliação de políticas públicas implementadas.

Outrossim, os resultados desse estudo apontam para necessidade da ampliação e melhorias nas políticas públicas voltadas para a proteção das mulheres em situação de violência.

REFERÊNCIAS

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