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Migração de retorno no semiárido setentrional: suas características sociodemográficas e fatores de atração/retenção

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Migração de retorno no semiárido setentrional: suas características sociodemográficas e fatores de atração/retenção

Everton Barbosa da Luz

Wilson Fusco

Resumo

As variadas formas de migração e mobilidade são fatores que, através da história, tem exercido importante papel no desenvolvimento socioeconômico de um país. A importância da escolha temática consiste foi feita porque a região Nordeste vem apresentando novas configurações em sua dinâmica migratória, com diminuição da emigração e manutenção da relevância dos movimentos de retorno à origem. De acordo com o projeto de Ricardo Ojima “Migração e políticas sociais no semiárido setentrional: características sociodemográficas

e fatores de atração/retenção”, o recorte territorial a ser analisado é o semiárido setentrional,

também conhecido como “sertão norte”. A pesquisa mostrou que mesmo com as condições climáticas pouco desfavoráveis, o desejo de retornar não impediu os nordestinos do semiárido de voltarem para “casa”. Quanto no que diz respeito ao saldo de migratório dessas áreas, comparando os dados do censo demográfico de 2010, foi escolhido a categoria de migrantes de data fixa que permitiu quantificar a área estudada dos fluxos migratórios dos retornados a UF’s e municípios do semiárido setentrional.

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1 1 INTRODUÇÃO

O Nordeste apresentou, durante as últimas décadas, as mais baixas taxas de crescimento populacional dentre as regiões brasileiras, ainda que a taxa de fecundidade seja das mais altas. Como forma de equilibrar o alto número de nascimentos com a baixa capacidade de retenção de seus naturais, o Nordeste vinha perdendo parte de sua população via emigração.

Estudos recentes, no entanto, apontam tendências de arrefecimento no processo de perda de população. Por um lado, os fluxos emigratórios parecem menos intensos e, por outro, verificou-se um aumento nos movimentos de retorno (BRITO, 2012). Os motivos atribuídos a esse novo quadro, especialmente no Nordeste, estão relacionados à piora nas condições para a adequada inserção do migrante na sociedade de destino e às melhorias, sociais e econômicas, observadas na região de origem, muitas vezes associadas à política pública de transferência de renda.

A migração de retorno é um fenômeno estudado desde o clássico artigo “As leis da migração” de Ravenstein (1980), escrito no Reino Unido em 1885. De acordo com o texto, cada corrente migratória produz uma contracorrente, ambas motivadas principalmente por razões econômicas. Quase um século mais tarde, Lee (1980) retoma a discussão, refina e amplia o alcance do que chamou de “Uma teoria sobre a migração”. Assim, as conexões humanas passam a compor o instrumental de análise das migrações, ao lado do contexto econômico.

Sendo assim, a situação dessa região, justifica o desenvolvimento desta pesquisa, explicando da mesma forma o objetivo deste trabalho é investigar os fluxos migratórios de retorno às UFs e municípios do semiárido setentrional, no qual tem a pretensão de colaborar, ainda que parcialmente, com a efetivação de uma pesquisa mais ampla sobre o semiárido setentrional no que se refere, especificamente, à migração de retorno e suas características sociodemográficas.

2 MIGRAÇÃO DE RETORNO

Os movimentos de entrada ou saída de um determinado lugar ocorrem de diversas maneiras e em diferentes ritmos, praticamente desde a existência das primeiras gerações homo sapiens (WEDDERBURN, 2005). De certo modo, podem acontecer em um âmbito local, regional,

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nacional ou internacional, por algum motivo de atração ou repulsão e pelas diversas causas – desde as características predominantemente individuais até aquelas relacionadas a influências de ordem econômica, educacional, cultural, política, etc. (FIRMEZA, 2007) -, podendo ainda ser compreendido como processo social (BRITO, 2000). Não seria incorreto afirmar que a mobilidade populacional é inerente ao desenvolvimento social e econômico (BRITO, 1995).

A migração de retorno é um fenômeno estudado desde o clássico artigo “As leis da migração” de Ravenstein (1980), escrito no Reino Unido em 1885. De acordo com o texto, cada corrente migratória produz uma contracorrente, ambas motivadas principalmente por razões econômicas. Quase um século mais tarde, Lee (1980) retoma a discussão, refina e amplia o alcance do que chamou de “Uma teoria sobre a migração”. Assim, as conexões humanas passam a compor o instrumental de análise das migrações, ao lado do contexto econômico.

No entanto, mesmo o trabalho de Lee sendo mais moderno e de melhor aceitação, ainda restam algumas lacunas a serem preenchidas, e cada dia mais isso vem sido percebido em relação aos países e regiões ao trocarem informações sobre os seus censos e pesquisas. É na década de 1960, com um maior aparato cientifico e tecnológico, que o tema da migração passa a ter um maior viés econômico, sendo representado de forma nítida no trabalho de Larry A. Sjaastad intitulado de “Os custos e os retornos da migração”.

A pesquisa sobre a migração humana vem tratando principalmente das forças que a afetam e de quão intensamente o fazem, mas pouco vem sendo feito no sentido de determinar o papel da migração como mecanismo de equilíbrio de economias em transformação (SJAASTAD, 1962, p.).

Com esse argumento Sjaastad inicia seu trabalho sobre retornos e os custos da migração. Ele reitera sua visão da definição do que se trata a migração, “o tratamento principalmente das forças que afetam e de quão intensamente o fazem”, em relação ao quesito atratividade. Sendo assim, para o autor, a migração seria um mecanismo de equilíbrio de economias em transformação, balanceando tanto os estados próximos quanto os longínquos, nos quais o fator econômico na busca por novos empregos para sobrevivência e melhoria de vida tem sua particularidade.

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Porém no Brasil, os estudiosos começaram a notar a importância das migrações de retorno em meados da década de 1970, mas somente a partir de 2000 a questão adquiriu um espaço importante nas publicações sobre o tema, e o Nordeste sempre foi protagonista neste assunto. Como exemplos, podem ser citados: a tese de doutorado de Lyra (2003), que abordou a importância das redes sociais da migração de retorno de São Paulo a Pernambuco; o artigo de Oliveira e Jannuzzi (2005), que investigou a motivação na migração de retorno ao Nordeste; o trabalho de Baeninger e Queiroz (2010), o qual analisou as tendências recentes na migração em direção ao Ceará, em especial a de retorno; mais recentemente, o estudo de Campos, Rigotti e Batista (2012) traz a abordagem do migrante de retorno de curto prazo, na qual o Nordeste tem o maior destaque.

2.1 Migração de retorno no Semiárido Setentrional

Tratando especificamente sobre o recorte territorial escolhido para este estudo, cita-se que o semiárido setentrional apresentou saldos negativos nos períodos 1995-2000 e 2005-2010 da ordem de 152 mil e 207 mil, respectivamente. Entretanto, nota-se uma tendência diferente na seletividade migratória, uma vez que o peso relativo das idades adultas jovens está aumentando nas últimas décadas. Isso pode estar associado ao fato de que, nos últimos trinta anos, a dinâmica migratória, nacional e regional, aponta para novidades e está a merecer explicações sobre sua nova configuração (BAENINGER, 2010; BRITO, 2012). Ou seja, novos elementos e processos passam a assumir destaque na análise dos fluxos intrarregionais, especialmente aqueles da região Nordeste (FUSCO, 2012; OJIMA et al, 2010).

Ao se observar o comportamento da população no que se refere à migração de retorno, notam-se as altas participações das Unidades da Federação do Nordeste. Os migrantes de retorno representam mais do que 40% de todos os imigrantes que chegaram aos estados entre 2005 e 2010 nas UFs do Ceará e da Paraíba. Outra consequência da migração de retorno é o efeito indireto destes indivíduos retornados (RIBEIRO, CARVALHO, WONG, 1996). A importância dos efeitos indiretos da migração deve ser levada em conta, uma vez que pode influir nos volumes de imigração de determinado recorte territorial.

Tal efeito, de forma geral, é medido pelo número de filhos de imigrantes nascidos após o movimento migratório, uma vez que este filho não seria contabilizado como retornado e

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também não teria nascido naquela região caso não houvesse ocorrido a mudança de residência de seus pais, ou de um deles. No entanto, há um tipo de efeito indireto que é muito mais expressivo, mas poucas vezes considerado. Trata-se dos migrantes que acompanham um migrante de retorno, ou seja, aqueles que são contabilizados como migrantes diretos por não estarem retornando à sua UF de nascimento.

Consideramos a importância da temática ao estudo do processo migratório na área do semiárido setentrional nordestino, a partir da qual se depreende que o Nordeste passou por diversas mudanças de cunho físico e social que expulsaram a população, fazendo-a migrar para outras áreas, como por exemplo, São Paulo, em busca de novas fontes de sobrevivência. Houve diversos motivos para a saída dos migrantes, entre eles a seca e a escassez de água para cultivo, criação de culturas e gado, levando à pobreza (miséria), não deixando ao Estado outra opção, a não ser criar programas que diminuíssem os impactos ocasionados no semiárido nordestino setentrional.

3 METDOLOGIA

Após realizar pesquisa bibliográfica para embasamento teórico e metodológico, foram adotados como procedimentos metodológicos: 3.1) pré-processamento do banco de dados do censo demográfico; 3.2) confecção de tabelas dos dados obtidos do censo; 3.3) recorte das áreas de estudo; 3.4) Classificação dos migrantes.

Sendo assim, de acordo com o projeto de Ricardo Ojima “Migração e políticas sociais no

semiárido setentrional: características sociodemográficas e fatores de atração/retenção”,

o recorte territorial que foi analisado é o semiárido setentrional, também conhecido como “sertão norte”. Serão considerados, portanto, os municípios do semiárido oficial nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Esse recorte inclui um total de 754 municípios localizados na porção ao norte do Rio São Francisco. De um total de 1.134 que constituem o semiárido oficial, o Semiárido Setentrional corresponde a 66,5% dos municípios do recorte maior. Em 2010, viviam nessa região cerca de 14,1 milhões de habitantes e é a região do semiárido que contém o maior número de divisões político-administrativas, ou seja, com mais municípios e Unidades da Federação (UF).

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Assim, a proposta deste trabalho foi investigar o histórico dos fluxos migratórios dos municípios do semiárido setentrional compreendendo as características particulares, causas, e contextos em que os processos ocorrem nessa região. Assim, definimos migração como um movimento de entrada ou saída de indivíduo ou grupo de indivíduos, em busca de novas condições de vida. Levando em consideração a mudança de residência permanente ou semipermanente, que pode ser entre países ou dentro de um mesmo país.

3.1 Pré-processamento do banco de dados do censo demográfico

Os dados do IBGE permitem que seja elaborado um histórico de deslocamentos dos retornados com, pelo menos, três pontos de residência diferentes espacialmente: UF de nascimento, UF de residência nos últimos dez anos antes do censo e município de residência no momento da realização do censo IBGE. Além disso, essas informações permitiram, ainda, construir o perfil socioeconômico dos migrantes de retorno, de seus filhos e cônjuges.

Para análise dos perfis socioeconômicos dos migrantes e não migrantes foi utilizado o programa SPSS com intuito de delimitação dos municípios do semiárido setentrional, buscando compreender os resultados dos quantitativos populacionais, para isso também foi utilizado o programa Excel como ferramenta de criação de gráficos e tabelas que foram de tamanha importância para compreensão do perfil sociodemográfico dos retornados.

3.2 Confecção de tabelas dos dados obtidos do censo

A função inicial da confecção de dados obtidos pelo censo demográfico do IBGE de 2010 é fornecer ferramentas para visualização da identificação das características sociodemográficas e da extração de informações contidas no censo, para uma posterior interpretação e comparação dos migrantes de data fixa e os demais migrantes, assim, o resultado desse processo é a geração de tabelas que contém informações especificas, como as dinâmicas migratórias que foram analisadas através das categorias de sexo/idade, nível de instrução e faixa de renda domiciliar per capita em salários mínimos.

3.3 Recorte da área de estudo

O recorte da área de estudo possibilitou localizar e enquadrar quais são os municípios e UF’s que estão na região do Nordeste do semiárido. Onde pode-se destacar por meio de um mapa de localização quais são os locais ao qual os retornados se destinaram.

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6 3.4 Classificação dos migrantes

Os migrantes possíveis que foram analisados são migrantes de estoque, data fixa e última etapa. O migrante de estoque está relacionado ao indivíduo que residiu em um dado momento em outro município o qual está sendo estudado, o de data-fixa é aquele migrante que exatos cinco anos antes não morava no município atual de residência (dimensão espacial e temporal) e o migrante de última etapa é o que tem residência no município atual há menos de 10 anos.

Por fim, o migrante de data fixa é um tipo de categoria que permite a análise de movimento mais recente, através do quesito que há no censo a partir do qual foi possível mensurar os movimentos migratórios desde onde residiam há exatamente cinco anos antes da data de referência do censo demográfico. Comparando, assim, o lugar de residência em uma data fixa anterior (cinco anos) com o lugar de residência atual, pode-se obter um indicador de saldo migratório de uma determinada região.

4 RESULTADOS

No que diz respeito aos migrantes de retorno e seu perfil sociodemográfico é abordado as diferentes formas de migração e movimentos populacionais que estão conectados com a história e possui papel de suma importância no quesito desenvolvimento socioeconômico de um país, região ou território. Tentando ser mais específico, Rigotti e Baptista reduziram sua pesquisa a um determinado enfoque, que é a migração de retorno, um importante acontecimento na dinâmica migracional brasileira nas últimas décadas.

Para eles, entendesse a definição por migrante de retorno como “aquela pessoa que deixou o seu local de origem, residiu em algum tempo em outra região e depois regressou ao seu lugar de nascimento”. E para o Brasil, a história migratória tem na década de 80 um momento importante referente as tendências das redistribuições espaciais da população, uma diminuição nos fluxos migratórios para o Sudeste, também configurando uma nova etapa da realidade do desenvolvimento socioeconômico do país, no que diz respeito a inserção dos migrantes nos principais centros urbanos.

Logo, no semiárido setentrional (figura 1) o “sertão norte” foi o recorte estudado. Foram considerados, portanto, “sertão norte”. Serão considerados, portanto, os municípios do

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semiárido oficial nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Esse recorte inclui um total de 754 municípios localizados na porção ao norte do Rio São Francisco. De um total de 1.134 que constituem o semiárido oficial, o Semiárido Setentrional corresponde a 66,5% dos municípios. Em 2010, viviam nessa região cerca de 14,1 milhões de habitantes e é a região do semiárido que contém o maior número de divisões político-administrativas, ou seja, com mais municípios e Unidades da Federação.

FIGURA 1 – Municípios do semiárido setentrional selecionados para a pesquisa

Fonte: IBGE, Malha Digital Municipal

Com o intuito de investigar os fatores de atração e repulsão das políticas sociais na região tem se desenvolvido, foram feitas as análises com os três tipos de migrantes, salientando que a escolha do migrante de data fixa é mais interessante para o projeto, pois permite com exatidão falar sobre o saldo migratório por sexo e idade para os quinquênios anteriores aos respectivos censos.

Como foi citado há pouco, o migrante de data fixa é aquele que se refere ao indivíduo que habita há menos que cinco anos da data de referência do censo demográfico. E é por meio

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dele que se consegue trazer uma análise em relação aos fluxos populacionais, destacando a origem e o destino dos movimentos em um período de tempo bem definido.

De acordo com a figura 2, observou-se que a pirâmide etária dos migrantes de data fixa não apresenta população com menos de 5 anos, pois é condição para ser considerado migrante de data fixa ter 5 anos ou mais. Já na figura 2, que é referente aos demais residentes, se contabilizou 1.143.038 crianças nos municípios estudados.

Figura 2. Municípios da região do Semiárido Setentrional. Distribuição de migrantes

data-fixa por sexo e idade. 2010.

Fonte: Censo demográfico. 2010.

Continuando a análise comparativa, de acordo com o censo de 2010, há uma maior concentração de migrantes de data fixa na faixa etária de 25 a 29 anos, mostrando que o migrante do sexo feminino está em maior em número em relação ao do sexo masculino. Porém, a partir da faixa etária dos 35 aos 39, tanto nos migrantes de data fixa quanto nos demais, há uma queda no grupo.

No entanto, a figura 3 que representa os demais migrantes apresentou uma maior elevação da população nas faixas etárias inicias, tendo assim seu ápice na faixa de 10 a 14 anos.

8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 0 a 4 10 a 14 20 a 24 30 a 34 40 a 44 50 a 54 60 a 64 70 a 74 80 a mais

Migrante de Data fixa

Feminino Masculino

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Figura 3. Municípios da região do Semiárido Setentrional. Distribuição dos demais

residentes por sexo e idade. 2010.

Fonte: Censo Demográfico. 2010.

Mesmo observando as diferenças entre os migrantes de data fixa e os demais residentes, acreditou-se que essas diferenças pudessem ser explicadas através dos efeitos indiretos que os indivíduos causaram a se movimentarem. Por isso, este projeto foi vinculado com o histórico de migrações intrarregionais e inter-regionais no semiárido setentrional, com o propósito de busca pelas explicações possíveis que uma Unidade de Federação atraiu/expulsou mais migrantes para outros lugares, tendo em vista as diversas variáveis e as diferenças que o ser humano possui.

A partir do Censo de 2010 foi possível traçar o perfil dos migrantes retornados do semiárido setentrional. Os dados permitiram observar que esses indivíduos são, na maioria das vezes, mais novos do que os não retornados, resultado que se equipara aos resultados tidos para outras regiões, onde a migração é dotada por pessoas mais velhas, embora com baixo nível de instrução (tabela 1). 6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 0 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54 55 a 59 60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 80 a mais

Demais Residentes

Feminino Masculino

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Tabela 1: Nível de instrução dos Migrante de Data Fixa do Brasil, 2010.

Nível de instrução Demais migrantes (%) Migrantes data fixa (%)

Sem instrução e fundamental incompleto 72,4 63,8

Fundamental completo e médio incompleto 11,9 14,8

Médio completo e superior incompleto 12,7 17,2

Superior completo 2,6 4,3

Não determinado 0,3 0,3

Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2010.

Como observa-se os dados acima em forma de tabela, constata-se a que no ano do censo a migração de retorno do semiárido foi uma sinalização de que a migração, para boa parte dos retornados, teve um bom êxito, visto que durante seu movimento o migrante de retorno adquiriu maior escolaridade, retornando mais preparado ao mercado de trabalho em sua terra natal. Desta maneira, ele volta com melhor condição de vida, podendo prosperar no seu lugar de origem. Trazendo assim transformações no espaço ao qual o mesmo era inserido antes do seu último movimento.

Podendo reafirmar que, embora o perfil dos migrantes retornados do Nordeste seja envolvido às idades relativamente menos avançadas, os fracassos quanto à concretização do emprego e da renda no local de destino, como melhoria de vida, forçaram alguns migrantes mais jovens a voltarem para seu lugar de nascimento (casa), mesmo quando ainda estavam em plena capacidade produtiva, quando poderiam estar usufruindo ganhos com a migração, porém a insegurança econômica em um novo lugar frente ao conforto que lar proporciona acarreta aos retornados as vezes a única opção de voltar, justamente pelo acumulo de mão-de-obra que lugar de destino possuí.

“Os primeiros perdem população, mas a produtividade aumenta, o que permite em princípio, uma melhora nas condições de vida (...). Já os segundos apresentam estagnação ou mesmo deterioração das condições de vida, funcionando às vezes como ‘viveiros de mão-de-obra’ (...)”.(SINGER, 1976).

Para Singer (1976), as migrações internas são como um processo global de mudanças necessárias, que acontecem para o aumento, equilíbrio ou defasagem da economia de alguns países ou regiões. Com o retorno, e a melhoria nos níveis de instrução dos migrantes de data

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fixa como observado na tabela 1, os demais migrantes acabam perdendo espaço no mercado de trabalho (tabela 2), como foi observado na questão feita pelo último censo demográfico em 2010.

Tabela 2: Percentual de migrantes que trabalharam, pelo menos 1 hora, no período de 25 à

31 de julho de 2010, ganhando em dinheiro, produtos, mercadorias ou benefícios, no Brasil.

Trabalhou no

período Demais migrantes (%) Migrante de data fixa (%)

Sim 35,7 41,3

Não 64,3 58,7

Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2010.

Por isso Cunha (2006) afirma que, o migrante que não retornou no começo deste século no Nordeste é de fato jovem, e cerca de 70% possui entre 15 e 49 anos. O migrante é rapidamente mais instrumentalizado que a média, no entanto, de acordo com Cunha (2006), isso é mais um espelho da faixa etária do migrante do que uma característica diferente em relação aos não migrantes. Ainda em relação à escolaridade, o perfil do migrante também varia de acordo com as UF’s e municípios. Os municípios do Nordeste setentrional apresentaram uma perda muito grande de pessoas com boa escolaridade, na busca pela sobrevivência e melhorias de vida, que é percebido pela distribuição por faixa de renda domiciliar per capita em salários mínimos (tabela 3), assim como os municípios dos estados de Paraíba e Alagoas.

Tabela 3: Distribuição percentual dos migrantes brasileiros, por faixa de renda domiciliar

Per capita, em salários mínimos (SM), 2010. Faixa de Renda domiciliar

per capita (SM) Demais migrantes (%) Migrante de data fixa (%)

---| 0,5 62,4 56,7

0,5 ---| 1 25,0 24,4

1 ---| 3 10,6 14,4

3 –-| 5 1,2 2,4

5 --- 0,8 2,1

Fonte: IBGE – Censo Demográfico Domiciliar

Estes resultados se obtiverem porque a região do semiárido se transformou em uma região de expulsão pelas condições econômicas precárias e fraca dinâmica, levando a uma queda em 2010 como fora registrado no último censo. Mesmo com a criação das superintendências e o objetivo da dimensão demográfica, era notório a disparidade entre o quantitativo

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populacional e o desenvolvimento econômico da região, forçando ao Estado uma busca por novas formas de incentivos ou ajudas para o desenvolvimento da região.

De acordo com o artigo “Os dados censitários brasileiros sobre migrações internas: algumas sugestões para análise” do Rigotti, argumenta que o desenvolvimento de uma determinada região deve ser considerado os volumes de imigrantes, e os efeitos indiretos da migração podem impactar de maneira significante esse quantitativo.

“O impacto indireto é medido pelos filhos de imigrantes nascidos após o movimento migratório, uma vez que este filho de imigrante não seria contabilizado como migrante e tampouco teria nascido naquela região caso não houvesse ocorrido a mudança de residência de seus pais. No entanto, há um tipo de efeito indireto que é muito mais expressivo, mas poucas vezes considerado. Trata-se dos migrantes que acompanham um migrante de retorno, ou seja, aqueles que são contabilizados como migrantes diretos por não estarem retornando à sua UF de nascimento (OJIMA, 2014)

Os efeitos indiretos da migração de retorno, que são os não naturais do local de origem do migrante retornado, mas o acompanham em sua migração de retorno. São os cônjuges, filhos que nasceram durante a migração, outros parentes e não parentes que tem menos de 10 anos de residência no local de origem do retornado (Ribeiro, Carvalho, Wong, 1996).

Nos efeitos indiretos da migração de retorno, foram considerados os indivíduos que mantiveram algum vínculo social com o migrante retornado durante seus estágios de migração, e conduziram este migrante no seu retorno. Independentemente desses migrantes não se encaixarem na categoria de “retornado”, o motivo de sua migração foi causado pelos mesmos motivos macroestruturais que influenciam o retorno dos migrantes. Por isso os efeitos indiretos dos retornados são tão importantes, pois eles podem alterar de forma significativa os volumes quantitativos migratórios.

De acordo com Fusco (2014), esse tipo de efeito indireto só pode ser observado por meio do censo no caso de todos (os pais, retornados, e os filhos, migrantes diretos) residirem no mesmo domicílio do momento da coleta de dados. Ou seja, poderá haver muitos mais casos que simplesmente não foram registrados pelo fato das pessoas não mais habitarem um mesmo domicílio.

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Deste modo, para realizarmos a análise dos efeitos indiretos da migração de retorno, destacamos como elementos norteadores as relações destes migrantes com suas famílias e como elas afetam de forma econômica e numérica de acordo a respostas obtidas no censo de 2010, mais especificamente com os grupos etários extremos, os mais jovens e mais idosos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O número de filhos de imigrantes nascidos após o movimento migratório, uma vez que este filho não seria contabilizado como retornado e também não teria nascido naquela região caso não houvesse ocorrido a mudança de residência de seus pais, ou de um deles. No entanto, há um tipo de efeito indireto que é muito mais expressivo, mas poucas vezes considerado. Trata-se dos migrantes que acompanham um migrante de retorno, ou Trata-seja, aqueles que são contabilizados como migrantes diretos por não estarem retornando à sua UF de nascimento. A proposta deste trabalho foi investigar o histórico dos fluxos migratórios dos municípios do semiárido setentrional compreendendo as características particulares, causas, e contextos em que os processos ocorrem nessa região. Assim, definimos migração como um movimento de entrada ou saída de indivíduo ou grupo de indivíduos, em busca de novas condições de vida. Levando em consideração a mudança de residência permanente ou semipermanente, que pode ser entre países ou dentro de um mesmo país.

Encerra-se a análise com o discurso de que é importante estudar as causas, consequências e os motivos das migrações, bem como analisar as migrações como um processo social, e por fim, estudar as relações entre migração, o desemprego e a marginalidade.

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