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Preparação desportiva a longo prazo no futsal: estudo realizado com grupos de níveis competitivos diferentes

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PREPARAÇÃO DESPORTIVA A LONGO PRAZO NO

FUTSAL

Estudo realizado com grupos de níveis competitivos diferentes

Dissertação de Mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário

Bruno Alexandre Mendes Soares

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AGRADECIMENTOS

A concretização deste trabalho que é o culminar de uma longa caminhada, foi conseguida pelo apoio, incentivo e colaboração de um grande número de pessoas, às quais eu gostaria de prestar os meus mais sinceros agradecimentos:

Ao Professor Doutor Nuno Leite, pela orientação, ajuda, disponibilidade e pelos seus conselhos indispensáveis para a realização deste trabalho.

Aos meus Pais e Irmão, por todo o apoio, incentivo, amor e carinho, bem como por todos os seus ensinamentos que tão importantes foram para mim durante esta longa caminhada e que fizeram de mim o homem que sou hoje.

A todos os Atletas, bem como a todas as pessoas que me ajudaram e facilitaram o contacto com os mesmos, pela sua disponibilidade e colaboração durante a recolha de dados, sem os quais este trabalho não seria possível.

A todos os Professores que fizeram parte da minha vida académica, por todos os conhecimentos transmitidos.

Aos meus Colegas de curso, companheiros de todas as horas, dos quais guardarei sempre boas lembranças.

Às Equipas médicas, de enfermagem e auxiliares de acção médica do

Hospital de S. João e I.P.O. do Porto e ao Dr. José Carlos por todos os cuidados,

disponibilidade, apoio e carinho durante um período muito duro e difícil da minha vida, pois sem eles, provavelmente não teria conseguido terminar este meu percurso académico.

Aos meus Amigos, que me acolheram num período sensível e que me apoiaram, animaram e fizeram com que eu me sentisse a viver de forma plena novamente depois de três anos de intensa luta, o que me deu um novo e forte alento para terminar este trabalho. Cláudia, Miguel, Carla, Marco, Mafalda, Domingos, Vítor, Paulinha,

Taninha, Márcia, Rita, Sónia, Sérgio e Vasco, o meu muito obrigado.

Por fim, a todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a minha formação académica e pessoal.

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INDICE GERAL

AGRADECIMENTOS --- i

INDICE GERAL --- ii

INDICE DE QUADROS --- iii

INDICE DE GRÁFICOS --- iv RESUMO --- v ABSTRACT --- vi I. INTRODUÇÃO --- 1 II. METODOLOGIA --- 9 2.1. Amostra --- 10

2.2. Procedimento para recolha de dados --- 10

2.3. Análise estatística --- 11

III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS --- 12

3.1. Actividades Prévias --- 13

3.2. Desenvolvimento Maturacional e da Performance no Futsal --- 15

3.3. Desenvolvimento de Actividades Relevantes de Treino no Futsal --- 18

IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS --- 22

V. CONCLUSÕES --- 30

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --- 34

VII. ANEXOS --- vii

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INDICE DE QUADROS

Quadro 2.1 - Análise das idades dos jogadores entrevistados --- 10

Quadro 3.1 - Valores de estatística descritiva dos anos de prática das Actividades

Prévias referenciadas --- 13

Quadro 3.2 - Valores de estatística descritiva das horas de prática das Actividades

Prévias referenciadas --- 14

Quadro 3.3 - Valores de estatística descritiva da idade de acontecimentos nas suas

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INDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 3.1 - Número médio de horas acumuladas de treino no futsal --- 17

Gráfico 3.2 - Número médio de horas acumuladas de jogos organizados pelos atletas e

pelos seus colegas --- 19

Gráfico 3.3 - Número médio de horas acumuladas de jogos organizados e

supervisionados por um treinador ou um adulto --- 19

Gráfico 3.4 - Número médio de horas acumuladas de instrução individualizada --- 20

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RESUMO

O presente estudo tem como principal objectivo a análise e caracterização da preparação desportiva a longo prazo dos jogadores de futsal portugueses. Para tal, foi realizada uma entrevista estruturada a um total de 15 atletas de níveis competitivos diferentes que constituíram a nossa amostra (5 atletas internacionais portugueses, 5 atletas da 2ª divisão nacional e 5 atletas das divisões distritais). A entrevista em questão foi uma entrevista retrospectiva, para que nos fosse possível recolher informações sobre as actividades desportivas e hábitos de prática ao longo das suas vidas. O tratamento de dados foi feito através de estatística descritiva, com o cálculo de médias e desvio-padrão, bem como na obtenção de frequências e percentagens.

Os resultados obtidos permitem-nos afirmar que os atletas internacionais se distinguem dos demais pelo seu maior comprometimento com a modalidade, o que lhes permitiu atingir um nível de performance tão elevado, o expertise. Foram estes atletas os primeiros a ter um primeiro contacto com a prática desportiva (por volta dos 7 anos de idade), bem como a especializarem-se no futsal (por volta dos 14 anos de idade). Em relação às diferentes actividades de treino relacionadas com a modalidade em questão, o futsal, os atletas internacionais destacam-se claramente dos atletas de níveis competitivos inferiores, apresentando um maior número médio de horas acumuladas de treino específico da modalidade, bem como de auto treino, de instrução individualizada e de jogos organizados pelos atletas e pelos seus colegas e jogos organizados e supervisionados por um treinador ou um adulto.

Concluímos por fim que os resultados obtidos neste estudo, podem ajudar os atletas e os treinadores de futsal a colmatar algumas lacunas existentes no treino da modalidade, fazendo com que estes se tornem mais completos, permitindo desta forma que os atletas atinjam níveis de performance cada vez mais elevados.

Palavras-chave: preparação desportiva a longo prazo; expertise; futsal; nível

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ABSTRACT

This study aims to analyze and characterize the long-term athlete development of Portuguese futsal players. To this end, a structured interview was conducted with a total of 15 athletes of different competitive levels that constituted our sample (5 Portuguese international athletes, 5 athletes of the 2nd national division and 5 athletes of district divisions). The interview in question was a retrospective interview, so that it was possible for us to collect information about the sport and practice habits throughout their lives. The data processing was done using descriptive statistics, with the mean and standard deviation calculation, as well as in obtaining frequencies and percentages.

The results obtained allow us to state that international athletes are distinguished from others by its greater commitment to the futsal, which allowed them to achieve a high level of performance, the expertise. These athletes were the first to have a first contact with the sport (around 7 years old), as well as to specialize in futsal (around 14 years old). Regarding the different training activities related to the sport in question, the futsal, the international athletes stand out clearly of the athletes below competitive levels, presenting a higher average number of accumulated hours of specific training, as well of self-workout, of individualized instruction and of games organized by athletes and his colleagues and games organized and supervised by a coach or an adult.

Finally, we conclude that the results obtained in this study, can help athletes and futsal coaches to fill some gaps in training mode, causing them to become more complete, allowing athletes to achieve ever higher levels of performance.

Keywords: long-term athlete development; expertise; futsal; competitive levels;

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I. INTRODUÇÃO

Quando olhamos para o panorama desportivo, observamos que existem atletas que apresentam níveis de performance bastante distintos. Enquanto alguns atingem níveis invejáveis e tornam-se profissionais de renome, outros não passam do nível amador. Então, deparamo-nos com algumas questões relativamente a esta enorme diferença. O que fizeram os profissionais a mais que os amadores? Será isto uma questão de talento que já nasceu com eles? Terão os profissionais treinado mais intensamente que os amadores? Estará a diferença na fase de formação dos atletas?

Existem vários factores que influenciam a obtenção de elevados níveis de performance. Segundo Baker & Horton (2004), esses factores podem ser divididos em primários e secundários. Nos factores primários, que são os factores que influenciam diretamente os atletas no processo de aquisição do nível de expertise, estão incluídos a genética, o treino e os factores psicológicos, enquanto nos factores secundários estão incluídos os factores socioculturais, tais como o apoio familiar, e os factores contextuais, tais como a maturação desportiva e a competição (Baker & Horton, 2004). Contudo, mesmo os indivíduos geneticamente mais desenvolvidos, com as melhores condições de treino e com um ambiente muito favorável, não têm o sucesso garantido. Isto deve-se ao facto de que, mesmo o maior esforço combinado com as melhores condições, pode ser comprometido por uma incerteza ou alteração de comportamento ao nível de qualquer um dos factores anteriores (Baker & Horton, 2004).

Alguns estudos realizados sugerem que outro dos factores que pode influenciar o alcance do nível de expertise por parte do atleta é o seu local de nascimento (Côté, McDonald, Baker & Abernethy, 2006). De acordo com esses estudos, os atletas nascidos em cidades pequenas têm mais oportunidades para se desenvolverem e atingirem elevados níveis de performance, isto porque, nestes locais, a quantidade de prática desportiva é maior, pois apresentam menos problemas em termos de segurança e têm melhores acessos a espaços livres. Outro dos factores a favor das pequenas cidades é o facto de possibilitar aos atletas mais oportunidades de experimentar o sucesso bastante cedo, fazendo assim com que estes se motivem cada vez mais para a prática do desporto (Côté, McDonald, Baker & Abernethy, 2006).

Outro dos factores que parece ter influência na aquisição da especialização é o fenómeno chamado idade relativa (Baker, Horton, Robertson-Wilson & Wall, 2003). A

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idade relativa consiste na diferença de idade entre indivíduos nascidos no mesmo ano civil. Segundo alguns estudos, as crianças nascidas nos primeiros meses do ano competitivo, durante as sessões de detecção de talentos promovidas pelas associações desportivas, são mais facilmente identificadas como talentos ou promessas do que as crianças nascidas nos meses finais do mesmo ano competitivo. Isto faz com que as crianças nascidas primeiro, sejam recrutadas para centros desportivos de alta qualidade, estando sob a orientação de treinadores altamente qualificados, fazendo com que isto seja um factor chave para potenciar as suas futuras carreiras como profissionais (Delorme, Boiché & Raspaud, 2010).

Com o enorme desenvolvimento do desporto ao longo dos anos, o interesse e o envolvimento das crianças e dos jovens a nível desportivo foi aumentando, tornando-se numa das atividades mais motivantes e mais importantes na vida de uma grande maioria deles (Marques, 2006), sendo que, na maioria dos casos, ter um bom primeiro contacto com a prática desportiva enquanto crianças, pode ser decisivo para que o desporto passe a ser parte integrante das suas vidas.

A grande evolução do desporto e a crescente mediatização das competições desportivas, faz com que muitas vezes, nas etapas iniciais de desenvolvimento das crianças, a prática desportiva seja excessivamente centrada na preparação das competições, tornando a vitória no seu objetivo principal. Isto faz com que muitas das vezes as fases de desenvolvimento biológico e psicológico das crianças não sejam respeitadas (Marques, 2001). Durante longos anos, o treino e a competição de crianças e jovens, não era mais do que uma simples réplica dos modelos utilizados no desporto de alto rendimento. Contudo, esta mentalidade tem vindo a sofrer algumas alterações, pois deve promover-se um desenvolvimento das habilidades desportivas apropriadas para cada fase do crescimento da criança (Côté, Baker & Abernethy, 2003).

Antes que o nível de expertise seja atingido, os atletas devem passar por algumas fases preliminares, cada uma com objetivos bem delineados e explorando diferentes áreas. Balyi (2001) afirma que quatro fases devem ser respeitadas: a fase fundamental (entre os 6 e os 10 anos), a fase de treinar para treinar (entre os 10 e os 14 anos), a fase de treinar para competir (entre os 14 e os 18) e a fase de treinar para ganhar (a partir dos 18 anos de idade). Por sua vez, Côté (1999) defende que os atletas devem passar por três fases muito importantes para o seu desenvolvimento (entre os 6 e os 18 anos de idade).

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13 anos de idade), specializing years ou anos de especialização (entre os 13 e os 15 anos de idade) e investment years ou anos de investimento (a partir dos 15 anos de idade) (Côté, 1999).

Durante os anos de experienciação, cabe aos pais a responsabilidade de incutir aos seus filhos o interesse pelo desporto. Nesse sentido, é preciso proporcionar às crianças experiências de diversão e emoção através do desporto (Côté, 1999). É nesta fase que as crianças adquirem e aperfeiçoam as habilidades fundamentais para bom desempenho nos mais variados desportos, como o correr, saltar, atirar e rematar (Baker & Côté, 2003).

Os anos de especialização são marcados pela diminuição gradual do envolvimento dos atletas em várias atividades extracurriculares, passando a estar focados apenas numa ou duas modalidades desportivas especificas. Enquanto que até agora a diversão e a emoção estavam na base da experiência desportiva dos atletas, nesta fase o foco principal incide no desenvolvimento de habilidades desportivas especificas (Côté, 1999).

Por sua vez, os anos de investimento são marcados pelo compromisso do atleta em atingir o nível de elite numa única modalidade desportiva. Nesta fase, o mais importante é o desenvolvimento das características estratégicas, competitivas e das habilidades desportivas (Côté, 1999).

A quantidade e a qualidade do treino, bem como da competição, nestas fases de desenvolvimento do atleta, podem favorece-lo bastante. Assim sendo, uma boa combinação de estímulos aliados à genética, podem potenciar o alcance do nível de

expertise (Davids & Baker, 2007).

A experiência e participação em várias modalidades ou atividades desportivas durante as primeiras fases de desenvolvimento, pode favorecer o atleta, na medida em que faz com que este desenvolva uma maior variedade de capacidades motoras, possibilitando assim uma melhor preparação para um posterior alcance do nível de

expertise (Baker, Côté & Abernethy, 2003; Leite, Baker & Sampaio, 2009). Pesquisas

anteriores na modalidade de natação vêm comprovar isto mesmo. Segundo um estudo realizado por Baker, Côté & Deakin (2005), os nadadores de elite que se especializaram precocemente nesta modalidade, passaram menos anos na equipa nacional e, inclusivamente, terminaram as suas carreiras mais cedo que os nadadores que se

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especializaram mais tarde. Do mesmo modo, um outro estudo realizado por Baker & Côté (2003), sugere que a participação em outras actividades pode potenciar o desenvolvimento da capacidade de tomada de decisão, ou seja, a capacidade de perceber as informações fundamentais do ambiente de jogo, interpretar corretamente essas informações, para de seguida selecionar a resposta mais apropriada para cada momento de jogo. Essa mesma participação noutras actividades pode até substituir posteriormente, algumas das várias horas de treino específico necessárias para se tornar num especialista em desportos colectivos. Ainda de acordo com o mesmo estudo, a grande maioria dos atletas de elite em desportos colectivos, revelou ter praticado futebol e basquetebol nas suas fases iniciais de desenvolvimento. Isto permitiu-lhes desenvolver várias capacidades e habilidades que se viriam a tornar muito importantes, visto que estas modalidades têm várias características em comum com as modalidades em que estes se viriam a tornar especialistas (Baker & Côté, 2003).

No âmbito da temática da Preparação Desportiva a Longo Prazo (PDLP), várias foram as teorias avançadas por alguns investigadores. Uma das teorias mais abordadas é a teoria da Prática Deliberada, desenvolvida por Ericsson, Krampe & Tesch-Romer (1993; Ericsson & Charness, 1994). De acordo com esta teoria, não é simplesmente o tipo de treino que leva ao expertise, mas sim a correcta combinação das várias formas específicas da sua prática. A Prática Deliberada visa o desenvolvimento da performance através dum treino específico, composto por actividades pouco agradáveis de realizar, exigindo elevados índices de esforço e concentração e que não leva ao sucesso imediato, tanto a nível social como a nível financeiro, levando por vezes à desmotivação devido à sua monotonia (Ericsson, Krampe & Tesch-Romer, 1993; Baker, Côté & Abernethy, 2003; Baker, Côté & Deakin, 2005).

No estudo realizado por Ericsson et al. (1993), muitas das suas conclusões tiveram como base uma regra denominada de Regra dos 10 Anos. Esta regra diz que, para que o nível de expertise seja alcançado, são necessários, no mínimo, 10 anos de prática com elevados níveis de treino. Esta regra foi aplicada com sucesso em vários domínios, mais precisamente na música, na matemática, na natação, nas corridas de fundo e no ténis (Baker, 2003). O elevado número de anos de treino, combinado com o facto de que estes devem acontecer nos períodos cruciais de desenvolvimento do atleta, pode levar a que este atinja a especialização precocemente.

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Apesar de existirem alguns estudos empíricos que apoiam a especialização precoce, também existem aspectos negativos inerentes a ela que podem afectar o atleta. Segundo alguns autores, a limitação de habilidades e actividades realizadas durante a especialização precoce no desporto, pode limitar o desenvolvimento global das habilidades motoras do atleta. Isto pode levar a que o seu envolvimento na actividade física seja afetado a longo prazo, diminuindo a probabilidade de participação em actividades físicas alternativas (Wiersma, 2000; Baker, 2003). Para além disto, a especialização precoce pode trazer também algumas consequências negativas ao atleta a nível social e psicológico, pois uma elevada carga horária ao nível do treino, pode fazer com que o atleta fique com pouco tempo para se desenvolver socialmente, levando por vezes ao isolamento (Wiersma, 2000).

O atleta pode ter também problemas a nível físico devido à especialização precoce, isto porque elevadas cargas de treino durante os períodos cruciais de desenvolvimento podem ser prejudiciais, levando por vezes a microtraumas em tendões e músculos, sendo a zona do joelho a mais afetada de acordo com alguns estudos (Baker, 2003; Côté, Baker & Abernethy, 2007; Malina, 2010). Isto remete-nos para um fenómeno denominado de overtraining. O overtraining ocorre quando existe um desequilíbrio entre o treino e a recuperação (Smith, 2003).

Contudo, segundo alguns autores, o precoce abandono desportivo é, talvez, a consequência mais negativa associada à especialização precoce. Isto deve-se ao facto de que, devido às elevadas cargas de treino e tendo em conta que a agradabilidade da prática por vezes é bastante pequena (Ericsson et al., 1993), os atletas tendem a ficar desmotivados, apresentando baixos níveis de diversão e falta de prazer na prática das actividades (Baker, 2003).

Tendo em conta estas consequências negativas inerentes à especialização precoce, vários estudos foram realizados neste âmbito chegando à conclusão que a especialização precoce não é uma componente essencial para que o atleta atinja o nível de expertise. Em sentido contrário, são cada vez mais os autores que defendem que a experiência e participação em várias modalidades ou atividades desportivas durante as primeiras fases de desenvolvimento, são muito benéficas para o desenvolvimento do atleta (Baker et al. 2003; Baker & Côté, 2003; Leite, Baker & Sampaio, 2009), como aliás já foi referido anteriormente.

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Num estudo realizado por Baker, Côté & Abernethy (2003) no âmbito dos desportos colectivos com bola, os atletas especialistas nestes desportos identificaram as actividades que mais contribuem para o desenvolvimento das suas habilidades a nível perceptual, a nível da tomada de decisão, a nível de execução técnica e a nível da aptidão física. Para o desenvolvimento das habilidades perceptuais, os atletas identificaram a competição, o treino audiovisual, o treino organizado e o visionamento de jogos na televisão como sendo as actividades com uma maior contribuição para este efeito. No que toca ao desenvolvimento das habilidades a nível de tomada de decisão, os atletas identificaram a competição, o treino audiovisual e o treino organizado como as actividades mais importantes. As instruções individuais por parte do treinador, o treino individual, o treino organizado e o jogo com os amigos foram as actividades identificadas pelos atletas como as que mais contribuem para o desenvolvimento das suas habilidades a nível da execução técnica. Por ultimo, a nível da sua aptidão física, os atletas referiram que o treino aeróbio, a competição, o treino organizado e o treino de musculação são as actividades que mais contribuem para o seu desenvolvimento (Baker, Côté & Abernethy, 2003).

Assim, uma boa combinação do treino estruturado com a prática deliberada, permite aos atletas desenvolverem-se da melhor forma desportivamente, bem como promover o desenvolvimento das suas habilidades, potenciando desta forma o alcance do nível de expertise (Baker, Côté & Abernethy, 2003; Berry, Abernethy & Côté, 2008).

Entre os vários desportos colectivos, há um que se tem desenvolvido bastante nos últimos anos, ganhando cada vez mais importância tanto a nível nacional como a nível mundial. Falamos da modalidade de Futsal.

O Futsal é uma variante do futebol, contudo, com características muito específicas. É uma modalidade praticada num pavilhão, em que as equipas apresentam apenas cinco jogadores em campo (um guarda-redes e quatro jogadores de campo). Esta modalidade exige um grande esforço físico, pois não existem períodos em que um jogador que esteja em campo não esteja a correr, exigindo também uma enorme capacidade de concentração por parte dos atletas, porque o facto de ser praticado num espaço bastante reduzido, faz com que a mínima falha de um dos elementos da equipa possa dar origem a uma situação de golo para a equipa adversaria.

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Num estudo anterior realizado por Serrano, Santos, Sampaio & Leite (2013), chegou-se à conclusão de que os jogadores de futsal de elite portugueses, são jogadores que iniciaram a sua prática desportiva entre os 6 e os 10 anos de idade, comprometendo-se com o futsal numa idade muito próxima dos 14 anos, especializando-comprometendo-se na modalidade de forma progressiva ao longo das etapas de desenvolvimento. Ao mesmo tempo que a especialização no futsal vai acontecendo, o seu comprometimento com as outras modalidades vai diminuindo, acontecendo isto até aos 18 anos de idade.

Devido ao gradual aumento da visibilidade que a modalidade de Futsal tem apresentado, sendo neste momento uma modalidade com cada vez mais adeptos e seguidores, e devido à escassez de estudos no que a esta modalidade diz respeito, decidimos avançar com este trabalho para aprofundarmos e percebermos melhor como é realizada a preparação desportiva a longo prazo no Futsal em Portugal. Para tal, teremos como principais objectivos: tentar perceber o desenvolvimento desportivo dos jogadores de futsal portugueses, tendo em conta o nível de performance que estes conseguiram atingir; perceber o que os diferenciou; e entender o que podemos fazer futuramente ao nível do treino desportivo e da escola, para que possamos aumentar a qualidade e potenciar ao máximo os futuros atletas. Então, iremos fazê-lo através da análise de três elementos importantes para o seu desenvolvimento como futsalistas: as actividades prévias, o desenvolvimento maturacional e da performance no futsal e por ultimo, o desenvolvimento de atividades relevantes para o treino no futsal.

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II. METODOLOGIA

2.1. Amostra

Para o nosso estudo, foram seleccionados 15 jogadores portugueses de futsal do sexo masculino. Estes jogadores foram seleccionados de acordo com alguns critérios, de modo a que pudéssemos ter uma clara perceção da evolução das suas carreiras. Assim sendo, os critérios foram os seguintes: terem, em média, 30 ou mais anos de idade; serem de nacionalidade portuguesa; não poderem ser seleccionados mais que 2 jogadores da mesma equipa; estarem ainda no activo.

Os 15 jogadores seleccionados foram então divididos em 3 grupos diferentes, tendo em conta o seu nível de performance. Assim sendo, temos 5 jogadores profissionais e internacionais A portugueses, 5 jogadores não profissionais pertencentes a equipas da 2ª divisão nacional portuguesa e por último, 5 jogadores amadores pertencentes a equipas que competem nos campeonatos distritais.

Quadro 2.1 – Análise das idades dos jogadores entrevistados.

Níveis

Competitivos Mais Novo Mais Velho Média DP Internacionais (n=5) 27 37 32.6 3.38 2ª Divisão (n=5) 29 34 30.6 1.74 Distritais (n=5) 28 35 32 2.68

2.2. Procedimentos para a recolha de dados

Para a recolha de dados foi realizada uma entrevista estruturada a cada um dos atletas, entrevista essa que foi igual para todos e baseada num trabalho originalmente realizado com ginastas (Beamer, Côté & Ericsson, 1999). Com isto, pretendíamos obter o máximo de informações sobre as actividades em que os atletas estiveram envolvidos durante a sua vida desportiva, antes e após a sua especialização na modalidade de Futsal. Todas as entrevistas foram realizadas num ambiente calmo e o mais agradável possível e tiveram uma duração de uma a uma hora e meia.

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A entrevista foi dividida em 3 grandes grupos de questões, cada um com um foco muito específico. No primeiro grupo tivemos como foco as actividades prévias do atleta antes da especialização no Futsal, para tentarmos perceber quais as actividades praticadas pelos atletas e qual o seu grau de envolvimento nessas mesmas actividades. No segundo grupo procuramos perceber o desenvolvimento maturacional e da performance no futsal por parte do atleta, através de questões relacionadas com a idade em que o atleta experimentou pela primeira vez certos acontecimentos relacionados com o futsal, bem como sobre o seu percurso na modalidade. Por ultimo, no terceiro grupo direccionamos a nossa atenção para o desenvolvimento de actividades relevantes para o treino no futsal, em que os atletas tinham que identificar as actividades relacionadas com a modalidade e nas quais estiveram envolvidos, tanto no período competitivo como não competitivo, sendo que, depois de listadas essas actividades, os atletas teriam que referir qual o seu grau de envolvimento nas mesmas ao longo dos anos, para que um valor médio pudesse ser calculado.

Durante a entrevista utilizamos quadros sistematizados para o registo das actividades em que os atletas estiveram envolvidos e posteriormente, avaliamo-las de acordo com diferentes parâmetros associados às mesmas.

2.3. Análise estatística

Tendo em conta o tamanho da nossa amostra e o facto de que os dados no nosso estudo foram obtidos e expressos em escalas ordinais e nominais, expressamos a nossa caracterização fundamentalmente em estatísticas descritivas, através do cálculo da média e do desvio-padrão, bem como na obtenção de frequências e percentagens.

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III. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Neste ponto do nosso trabalho, iremos fazer a apresentação dos resultados obtidos através das entrevistas realizadas. Para tal, iremos apresentar esses mesmos resultados de acordo com os três pontos distintos da entrevista: 1) Actividades prévias; 2) Desenvolvimento maturacional e da performance no desporto principal – Futsal; 3) Desenvolvimento de actividades relevantes de treino no desporto principal – Futsal.

3.1. Actividades prévias

No quadro abaixo, estão representadas as actividades que os atletas referenciaram como sendo as actividades por eles praticadas na sua infância e juventude, sendo que em alguns casos, essas actividades foram mantidas ao longo das suas vidas.

Quadro 3.1 – Valores de estatística descritiva dos anos de prática das Actividades Prévias referenciadas.

Actividades

Internacionais (n=5) 2ª Divisão (n=5) Distrital (n=5)

Média de Anos DP Média de Anos DP Média de Anos DP Desporto na TV 5 26.6 3.5 5 23.8 2.4 5 24.6 3 Futebol de rua 5 10 1.5 5 12.6 8.4 5 6.8 2.7 Futebol de 11 3 3.8 3.1 4 6 3.2 4 5.8 4.6 Leitura 0 0 0 2 9.8 12 4 16.8 9.5 Convívio social 2 9 11.2 0 0 0 3 10.8 9.2 Internet 1 3.4 6.8 1 3.2 6.4 2 6.6 8.4 Praia 2 10.2 12.5 0 0 0 1 4.6 9.2 Jogos de vídeo 0 0 0 2 9.2 11.3 1 4.2 8.4 Cinema 2 5.8 7.6 0 0 0 1 2.8 5.6 Pesca 1 2.2 4.4 0 0 0 1 3.2 6.4 Música 1 3.8 7.6 0 0 0 0 0 0 Caça 0 0 0 0 0 0 1 2.8 5.6 Futvolei 0 0 0 1 2.2 4.4 0 0 0 Viajar 1 1.8 3.6 0 0 0 0 0 0 Basebol 1 0.8 1.6 0 0 0 0 0 0

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Em relação aos anos de prática, podemos salientar o facto de os atletas internacionais portugueses serem o grupo com um maior número de anos a ver desporto na TV (26.6), sendo seguidos pelos atletas das divisões distritais (24.6) e pelos atletas da 2ª divisão nacional (23.8). Já no que toca à prática de futebol de rua, são os atletas da 2ª divisão nacional que aparecem com o maior número de anos de prática (12.6), sendo seguidos pelos internacionais portugueses (10) e pelos atletas das divisões distritais (6.8).

No quadro que se segue, estão representadas as horas despendidas pelos atletas na prática das suas actividades prévias.

Quadro 3.2 – Valores de estatística descritiva das horas de prática das Actividades Prévias referenciadas.

Actividades

Internacionais (n=5) 2ª Divisão (n=5) Distrital (n=5)

Horas Média DP Horas Média DP Horas Média DP Desporto na TV 28288 5657.6 701.1 34320 6864 1615.2 71916 14383.2 8776.5 Futebol de rua 12480 2496 1921.9 10088 2017.6 629.5 6656 1331.2 856.1 Futebol de 11 2418 483.6 445.1 6123 1224.6 643 5655 1131 997.1 Leitura 0 0 0 7813 1562.6 2965.4 14456 2891.2 1922.9 Convívio social 22152 4430.4 7957.9 0 0 0 35984 7196.8 5916.6 Internet 4420 884 1768 11648 2329.6 4659.2 57200 11440 8474.6 Praia 5054.6 1010.9 1320.1 0 0 0 2990 598 1196 Jogos de vídeo 0 0 0 25844 5168.8 7156.6 5460 1092 2184 Cinema 2149.4 429.9 776 0 0 0 2704 540.8 1081.6 Pesca 286 57.2 114.4 0 0 0 554.9 111 221.9 Música 2964 592.8 1185.6 0 0 0 0 0 0 Caça 0 0 0 0 0 0 4670.8 934.2 1868.3 Futvolei 0 0 0 1144 228.8 457.6 0 0 0 Basebol 416 83.2 166.4 0 0 0 0 0 0

Através da análise do quadro anterior, podemos observar que os atletas das divisões distritais são, por larga margem, os que despendem em média mais horas a ver desporto na TV (14383.2), seguindo-se os da 2ª Divisão Nacional (6864) e os Internacionais Portugueses (5657.6). Já no que toca à prática de futebol de rua, podemos observar que são os atletas internacionais que apresentam um maior número médio de

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horas de prática (2496), seguindo-se os atletas da 2ª Divisão (2017.6) e os atletas das divisões distritais (1331.2).

Podemos também observar que existem quatro actividades que foram referidas apenas por um grupo. Estamos a falar da música e do basebol, referidas apenas pelos internacionais, do futvolei referido apenas pelo grupo da 2ª Divisão e da caça referida apenas pelo grupo das divisões distritais.

3.2. Desenvolvimento maturacional e da performance no Futsal

Aqui poderemos analisar as respostas dos atletas entrevistados a um grupo de questões que tinha como objectivos principais, procurar saber as suas idades aquando da sua primeira experiência em certas situações específicas durante a sua carreira no futsal, bem como alguns aspectos importantes relacionados com o treino específico do futsal.

No quadro que se segue, serão apresentados os valores médios das idades dos atletas de cada grupo para cada uma das questões apresentadas durante a entrevista, relacionadas com alguns momentos importantes na sua experiência no futsal.

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Quadro 3.3 – Valores de estatística descritiva da idade de acontecimentos nas suas carreiras desportivas.

Questão

Internacionais Média DP 2ª Divisão Média DP Distrital Média DP

Primeiro contacto com o Futsal. 5 7.6 2 5 12.2 4.8 5 13.6 6.1

Primeiro treino de Futsal não supervisionado por um adulto. 5 7.6 2 5 12.8 4 5 13.6 6.1

Primeiro treino de Futsal, supervisionado por um adulto. 5 9.6 2.9 5 16.4 1 5 18.8 5.3

Primeira participação numa equipa organizada ao nível escolar. 4 10 3.7 5 12.2 1.7 5 12.2 3.1

Reconhecido como um dos cinco melhores jogadores da equipa ao nível escolar. 4 10 3.7 5 12.2 1.7 5 12.6 2.6

Reconhecido como o melhor jogador da equipa ao nível escolar. 3 11.7 2.9 4 12.7 1.6 3 14.3 3.1

Primeira participação numa competição regional. 5 10.2 3.5 4 14.7 5 4 19 4.2

Reconhecido como um dos cinco melhores jogadores da competição regional. 2 12.5 4.5 2 18.5 3.5 2 18.5 0.5

Reconhecido como melhor jogador numa competição regional. 0 0 0 1 26 0 1 20 0

Primeira participação numa selecção distrital. 2 14.5 3.5 2 14.5 2.5 0 0 0

Reconhecido como um dos cinco melhores jogadores da selecção distrital. 2 14.5 3.5 1 17 0 0 0 0

Reconhecido como melhor jogador da selecção distrital. 1 18 0 0 0 0 0 0 0

Primeira participação num jogo da 1ª Divisão Nacional. 5 18.6 0.8 5 19.8 3 0 0 0

Reconhecido como um dos cinco melhores jogadores da 1ª Divisão Nacional. 2 27 2 0 0 0 0 0 0

Reconhecido como melhor jogador da 1ª Divisão Nacional. 1 29 0 0 0 0 0 0 0

Primeira participação na Selecção Nacional. 5 24.6 3.1 0 0 0 0 0 0

Reconhecido como um dos cinco melhores jogadores nacionais. 2 26.5 1.5 0 0 0 0 0 0

Primeira participação num evento internacional (Jogos Olímpicos, Mundial ou Europeu). 4 28.5 1.7 0 0 0 0 0 0

Quando surgiu pela primeira vez a ideia de ser um atleta de elite. 5 15 3.6 5 16.6 4.7 0 0 0

Quando participou numa sessão regular de treino de uma equipa pela primeira vez. 5 15 3.7 5 14.6 4.6 5 18.8 5.3

Quando decidiu que ia ser um atleta de elite. 5 19.6 2.1 5 19.6 3.3 0 0 0

Quando todo o tempo livre começou a ser despendido no treino da modalidade. 4 20.2 1.8 4 19.5 2.3 2 21.5 4.5

Quando participou no primeiro campo de treino durante as férias. 1 7 0 2 15.5 3.5 0 0 0

Quando teve que se deslocar pela primeira vez para poder treinar regularmente. 5 17.8 1.7 5 17.6 4.5 5 21.4 3.8

Quando estabeleceu pela 1ª vez uma relação estável e duradoura com um treinador. 5 16.6 1.4 5 16.4 4.8 5 22.4 4.4

Quando pensou atingir (ou já ter atingido) o seu máximo potencial na carreira desportiva. 5 28.8 1.3 5 27 2.1 5 28.6 2.6

Quando pensa retirar-se das competições oficiais. 5 36.6 2.3 5 33 0.9 5 35.2 1.2

Quando começou a jogar com os amigos. 5 7 2.2 5 9.2 2.6 5 11 3.6

Quando começou a jogar numa competição organizada. 5 8.6 1.8 5 12 3.2 5 12.4 2.3

Quando começou a treinar especificamente para uma modalidade. 5 12.2 6.1 5 13.2 4 5 14 2.6

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Quando analisamos o quadro anterior, tornam-se evidentes várias diferenças significativas em termos da idade em que os atletas dos diferentes níveis competitivos experimentaram pela primeira vez determinadas situações, algo que iremos analisar e discutir mais à frente neste trabalho.

Analisando agora as questões mais direccionadas para o treino específico no futsal, podemos verificar alguns números interessantes no que respeita ao número de horas de treino para a modalidade específica, ou seja, o futsal. É possível observar que os atletas internacionais são claramente os que, em média, mais horas de treino têm acumuladas ao longo das suas carreiras (8351.5; DP – 4227.3), seguindo-se os atletas da 2ª Divisão (4116.8; DP – 826.3) e aparecendo por fim os atletas das divisões distritais (2683.2; DP – 975), números estes que podemos comprovar no gráfico que se segue.

Gráfico 3.1 – Número médio de horas acumuladas de treino no futsal.

Esta enorme diferença de horas de treino específico entre os diferentes grupos, pode ter sido um importante factor, senão mesmo determinante, para que os atletas internacionais tenham alcançado a tão desejada presença na Selecção Nacional.

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000

Internacionais 2ª Divisão Distritais

Horas de Treino

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3.3. Desenvolvimento de actividades relevantes de treino no Futsal

Neste grupo de questões, procuramos saber o grau de envolvimento dos atletas em diversas actividades de treino, desde a visualização de jogos de futsal na tv, até ao seu treino específico na modalidade, bem como o auto treino.

A primeira questão era sobre o seu envolvimento indirecto na modalidade, envolvimento esse que podia ir desde a visualização de jogos na tv, até à assistência de jogos ao vivo, bem como na leitura de livros sobre a modalidade. Aqui podemos verificar que os atletas internacionais apresentam uma média de 2287.8 horas de envolvimento indirecto (DP – 932.3). Por sua vez, os atletas da 2ª Divisão apresentam uma média de 2261.8 horas (DP – 653.3) e os atletas da distrital apresentam uma média de 2669.1 horas (DP – 1688.6). É evidente a proximidade dos valores apresentados nos diferentes níveis competitivos. Contudo, podemos verificar que são os atletas que actuam nas divisões distritais, que apresentam um número médio mais elevado de horas de envolvimento indirecto na modalidade.

A próxima actividade a ser analisada foi a participação dos atletas em jogos organizados com regras supervisionados por eles e pelos seus colegas, ou seja, os chamados jogos de rua. Aqui podemos observar que são os jogadores internacionais que apresentam um maior número médio de horas de prática com 2496 horas (DP – 1921.9), seguindo-se os jogadores da 2ª Divisão com 2017.6 horas (DP – 629.5) e os jogadores das divisões distritais com 1331.2 (DP – 856.1), como podemos ver no gráfico abaixo.

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Gráfico 3.2 – Número médio de horas acumuladas de jogos organizados pelos atletas e pelos seus colegas.

De seguida, analisamos o número médio de horas em que os atletas estiveram envolvidos em jogos organizados e supervisionados por um treinador ou um adulto. Podemos observar que, nesta actividade, os atletas internacionais apresentam um número médio de 857.9 horas (DP – 244.2), os da 2ª Divisão 589.3 horas (DP – 70.4) e os das distritais 498.3 horas (DP – 147.64), como podemos comprovar no gráfico que se segue.

Gráfico 3.3 – Número médio de horas acumuladas de jogos organizados e supervisionados por um treinador ou um adulto.

0 500 1000 1500 2000 2500

Horas Jogos Organizados

Horas Jogos Organizados

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

Internacionais 2ª Divisão Distritais

Horas Jogos Supervisionados

Horas Jogos Supervisionados

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O próximo factor do treino que analisamos e que pensamos ser importante na evolução dos atletas, foi o número médio de horas de instrução individualizada durante as suas carreiras desportivas. Aqui foi possível observar que os atletas internacionais revelam ter, em média, 366.1 horas (DP – 118.3), os da 2ª Divisão 186.3 horas (DP – 71.7) e por sua vez, nenhum dos atletas das distritais mencionou a instrução individualizada como um factor existente no seu treino.

Gráfico 3.4 – Número médio de horas acumuladas de instrução individualizada.

De seguida, iremos analisar a próxima actividade de treino que é o auto treino. Nesta actividade, podemos verificar que os atletas internacionais revelam ter acumulado, em média, 2017.6 horas (DP – 740.1), os da 2ª Divisão 1397.1 horas (DP – 1008.4) e os das distritais 291.2 horas (DP – 407.6), sendo que neste último grupo, apenas dois atletas revelaram fazê-lo.

0 50 100 150 200 250 300 350 400

Internacionais 2ª Divisão Distrtais

Horas Instrução Individualizada

Horas Instrução Individualizada

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Gráfico 3.5 – Número médio de horas acumuladas de auto treino.

Por último, analisamos o número médio de horas acumuladas pelos atletas em competições organizadas e supervisionadas por adultos, como é o caso dos torneios de verão. Nesta actividade, os atletas internacionais revelam ter acumulado, em média, 59 horas (DP – 49.8), os da 2ª Divisão 257.5 horas (DP – 168.6) e os das distritais 231.4 (DP – 115.2). 0 500 1000 1500 2000 2500

Internacionais 2ª Divisão Distritais

Horas Auto Treino

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IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Durante o presente estudo, o nosso principal objectivo foi tentar perceber o desenvolvimento desportivo dos jogadores de futsal portugueses, tendo em conta o nível de performance que estes conseguiram atingir, através da análise de três elementos importantes para o seu desenvolvimento como futsalistas: as actividades prévias, o desenvolvimento maturacional e da performance no futsal e por ultimo, o desenvolvimento de actividades relevantes para o treino no futsal.

Através da análise das actividades prévias experimentadas pelos atletas entrevistados, podemos ver que foram referidas um total de 15 actividades, das quais 3 se destacam das demais pelo número de praticantes. São elas o futebol de rua e a visualização de desporto na tv, que foram referidas por 100% da nossa amostra, e também o futebol de 11, que foi referido por 73.3% dos atletas. Podemos também observar que existe pouca diversificação em termos de actividades desportivas, onde para além do futebol de 11, foram referidas apenas mais duas modalidades: o futvolei, praticado apenas por um atleta, e o basebol, igualmente praticado apenas por um atleta. Com base nestes últimos dados, podemos ver que o futebol de 11 é uma actividade bastante popular nos atletas de futsal, sendo praticada previamente à sua especialização na sua modalidade, podendo desta forma, transferir todos os ensinamentos e habilidades adquiridas, visto que existem bastantes semelhanças entre as duas modalidades. Isto vai de encontro ao afirmado por Baker & Côté (2003), Williams & Ford (2008) e Memmert et al. (2010), autores que defendem que o facto de os atletas experimentarem previamente uma modalidade semelhante àquela em que posteriormente se irão especializar, faz com que eles desenvolvam uma importante quantidade de capacidades e habilidades, que depois lhes serão muito uteis na sua modalidade. Contudo, não nos parece ser um factor determinante no alcance do expoente máximo em termos de performance desportiva, visto que no nosso estudo, o grupo dos jogadores internacionais é o grupo que menos experimentou o futebol de 11, ainda que por uma pequena margem (3 praticantes, contra 4 praticantes por parte dos grupos da 2ª divisão e das distritais).

No que ao número de horas de prática diz respeito, podemos observar que existe um número bastante elevado de horas de prática da actividade de futebol de rua. Nesta actividade, os atletas internacionais apresentam um total de 12480 horas de prática, os

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atletas da 2ª divisão 10088 e os atletas das distritais 6656. Através destes dados, podemos concluir que o facto de os atletas internacionais terem acumulado um maior número de horas de prática desta actividade, que pode ser considerada uma actividade de prática deliberada, pode ter sido um dos factores que os impulsionou para o alcance do topo.

Passando à análise do desenvolvimento maturacional e da performance no futsal, podemos começar por fazer referência à idade do primeiro contacto com a modalidade. Neste aspecto, podemos observar que os atletas internacionais tiveram um contacto com o futsal bastante mais cedo que os restantes (internacionais – 7.6; 2ª divisão – 12.2; distritais – 13.6), bem como um primeiro treino supervisionado por um adulto, onde as diferenças são ainda maiores (internacionais – 9.6; 2ª divisão – 16.4; distritais – 18.8). Vemos também que essas mesmas idades vão aumentando de nível para nível, sendo que os atletas que jogam ao nível distrital, foram os últimos a ter esses primeiros contactos e talvez devido a esta situação, tornar-se num jogador de elite, foi algo que nunca passou pela cabeça destes atletas. Estes números vão de encontro aos resultados obtidos nos estudos desenvolvidos por Leite, Baker & Sampaio (2009) e por Serrano, Santos, Sampaio & Leite (2013), através dos quais concluíram que os atletas de elite têm um primeiro contacto com o desporto geralmente entre os 6 e os 10 anos de idade.

Em relação à participação em competições a nível escolar e a nível regional, podemos ver uma vez mais, que foram os atletas internacionais os primeiros a fazê-lo (aos 10 anos a nível escolar e aos 10.2 a nível regional), seguindo-se os atletas da 2ª divisão (aos 12.2 anos a nível escolar e aos 14.7 a nível regional) e por último os atletas das distritais (aos 12.2 anos a nível escolar e aos 19 a nível regional).

É possível observarmos também que, tal como os atletas internacionais, todos os atletas da 2ª divisão tiveram uma primeira participação na 1ª divisão nacional relativamente cedo, estando apenas separados por cerca de 1 ano (internacionais – 18.6; 2ª divisão – 19.8). Já os atletas das distritais, nunca participaram na 1ª divisão nacional.

Em relação ao treino, observamos que os atletas internacionais foram os que começaram a treinar primeiro com regularidade, tanto para uma modalidade específica, como não especificamente para essa modalidade (ginásio). Podemos confirmar uma vez mais que as idades neste factor, também vão aumentando de nível para nível, sendo

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novamente o grupo dos atletas das divisões distritais os últimos a iniciar o treino regular.

Analisando o número médio de horas de treino específico da modalidade, vemos claramente que são os atletas internacionais que aparecem em 1º lugar, acumulando 8351.5 horas, mais ou menos o dobro dos atletas da 2ª divisão (4116.8 horas) e mais do triplo dos atletas das distritais (2683.2 horas). Isto vai de encontro ao estudo realizado por Baker et al. (2006), no qual foi concluído que os atletas de elite têm um enorme comprometimento com o treino durante as suas carreiras desportivas. Como já havíamos referido anteriormente, este pode ter sido um factor determinante para explicar os diferentes níveis de performance atingidos pelos atletas que compõem a nossa amostra.

Sensivelmente a meio da entrevista, foi pedido aos atletas que fizessem uma divisão da sua carreira desportiva em etapas. Essa divisão foi feita em 3 etapas: iniciação, orientação e especialização. Através dos dados recolhidos, podemos observar que os atletas internacionais revelam iniciar essas etapas mais cedo que os restantes grupos, indo as médias de idade aumentando à medida que o nível competitivo vai diminuindo. Então, os atletas internacionais começam a etapa de iniciação, em média, aos 6.2 anos, enquanto que os da 2ª divisão começam aos 7.6 anos e os das distritais aos 9 anos. No que diz respeito à etapa de orientação, vemos que os atletas internacionais começam aos 9 anos, enquanto que os da 2ª divisão começam aos 9.4 anos e os das distritais aos 11.4 anos. Já em relação à etapa de especialização, os atletas internacionais revelam começar aos 13.8 anos, enquanto que os da 2ª divisão começam aos 18 anos e os das distritais aos 20 anos. Comparando estes resultados com os sugeridos pela literatura existente (Côté, 1999), vemos que existem algumas diferenças, diferenças essas que tendem a ser cada vez maiores à medida que o nível competitivo diminui.

Côté (1999) sugere que a primeira etapa (sampling years) deverá começar por volta dos 6 anos de idade e, de acordo com os nossos resultados, vemos que os atletas internacionais estão dentro do que é sugerido, iniciando aos 6.2 anos. Já os restantes grupos, não se enquadram neste padrão sugerido pela literatura, visto que os atletas da 2ª divisão revelam começar aos 7.6 anos e os das distritais apenas aos 9 anos.

Em relação ao início da segunda etapa (specializing years), Côté (1999) sugere que deverá começar aos 13 anos de idade. Neste ponto, o nosso estudo revela que todos

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os grupos iniciam esta etapa precocemente em relação ao sugerido pela literatura, principalmente o grupo de atletas internacionais que revelam começar aos 9 anos de idade, seguindo-se os atletas da 2ª divisão aos 9.4 anos e os atletas das distritais aos 11.4 anos.

Já no que diz respeito à terceira etapa (investment years), Côté (1999) sugere que esta deverá ter o seu início por volta dos 15 anos de idade. Aqui, tal como na segunda etapa, vemos que os atletas internacionais iniciam esta etapa precocemente, revelando ser aos 13.8 anos. Pelo contrário, os outros grupos revelam uma tendência para se especializarem muito tardiamente na sua modalidade específica. Os atletas da 2ª divisão revelam faze-lo aos 18 anos e os das distritais apenas aos 20 anos de idade. Estes resultados vão de encontro aos resultados obtidos num estudo realizado anteriormente, onde foi concluído que os atletas de elite tendem a comprometer-se com o futsal relativamente cedo (até aos 14 anos de idade), enquanto que os atletas de níveis inferiores só o fazem depois dos 15 anos de idade (Serrano, Santos, Sampaio & Leite, 2013).

Analisando agora os resultados obtidos em relação ao desenvolvimento de actividades relevantes para o treino no futsal, também podemos observar resultados bastante interessantes. Em relação a este tema, a literatura existente destaca uma série de actividades como sendo as mais importantes para o desenvolvimento das habilidades dos atletas a vários níveis (a nível perceptual, a nível da tomada de decisão, a nível de execução técnica e a nível da aptidão física) e são elas: a competição, o treino audiovisual, o treino organizado, o visionamento de jogos na televisão, as instruções individuais por parte do treinador e o treino individual – auto treino (Baker, Côté & Abernethy, 2003). Começamos então por analisar o envolvimento indirecto no futsal por parte dos atletas, envolvimento esse que passa pela visualização de jogos na tv, pela assistência de jogos ao vivo, bem como pela leitura de livros sobre a modalidade, entre outros. De acordo com a literatura, este tipo de envolvimento pode fazer com que o atleta desenvolva as suas habilidades tanto a nível perceptual, como a nível de tomada de decisão. Curiosamente, e apesar dos resultados obtidos estarem bastante próximos entre os diferentes grupos, vemos que são os atletas das distritais os que mais tempo acumularam neste tipo de actividades (internacionais – 2287.8 horas; 2ª divisão – 2261.8 horas; distritais – 2669.1 horas).

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Seguidamente, fazemos uma análise em relação ao número médio de horas acumuladas tanto em jogos organizados pelos atletas e pelos seus colegas, como em jogos organizados e supervisionados por um treinador ou um adulto. Em relação aos jogos organizados pelos atletas e pelos seus colegas, vemos que são os atletas internacionais que apresentam um maior número de horas acumuladas de prática (2496 horas), seguindo-se os atletas da 2ª divisão (2017.6 horas) e os das distritais (1331.2 horas). Já no que respeita aos jogos organizados e supervisionados por um treinador ou um adulto, a tendência mantém-se, sendo uma vez mais os atletas internacionais os que mais horas de prática têm acumuladas (857.9 horas), mais uma vez seguidos dos atletas da 2ª divisão (589.3 horas) e dos atletas das distritais (498.3 horas). Estes valores vão de encontro ao que é sugerido pela literatura existente, quando é afirmado que o tempo de prática em treino organizado e em competição é um factor muito importante para o melhor desenvolvimento das capacidades e habilidades dos atletas, principalmente a nível perceptual e a nível da tomada de decisão (Baker, Côté & Abernethy, 2003; Berry, Abernethy & Côté, 2008).

Passando à análise dos resultados obtidos quanto ao número médio de horas acumulados de instrução individualizada, podemos observar que são os atletas profissionais os que mais horas acumularam (366.1 horas), sendo seguidos pelos atletas da 2ª divisão (186.3 horas). Por sua vez, nenhum dos atletas das divisões distritais revelou ter acumulado qualquer hora nesta actividade específica. Pelos valores apresentamos, podemos observar uma diferença enorme entre os diferentes níveis competitivos no que à instrução individualizada diz respeito, sendo que no grupo das distritais, esta é mesmo nula. Isto leva-nos a admitir que este pode ter sido um factor bastante importante que fez com que os atletas internacionais atingissem um nível tão elevado, visto que, de acordo com a literatura existente, este tipo de actividade revela-se ser muito importante para o desenvolvimento das habilidades a nível da execução técnica dos atletas (Baker, Côté & Abernethy, 2003).

No que ao auto treino diz respeito, os atletas internacionais revelam ter acumulado um maior número médio de horas de prática (2017.6 horas), sendo seguidos pelos atletas da 2ª divisão (1397.1 horas) e pelos atletas das distritais (291.2 horas). Uma vez mais, vemos que também neste aspecto do treino, são os atletas internacionais que apresentam um maior número médio de horas acumuladas de prática, indo esse número diminuindo à medida que o nível competitivo também diminui. Tal como em

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actividades anteriores, isto leva-nos a crer que este pode também ter sido um factor bastante importante para o alcance do topo por parte dos atletas internacionais, visto que este é um factor do treino fundamental para o desenvolvimento dos atletas tanto a nível da execução técnica, como a nível da sua aptidão física (Baker, Côté & Abernethy, 2003).

Por último, fazemos uma pequena análise ao número médio de horas acumuladas pelos atletas no que à competição organizada e supervisionada por adultos (torneios de verão) diz respeito. Aqui podemos ver que os atletas internacionais revelam ter acumulado 59 horas, os da 2ª Divisão 257.5 horas e os das distritais 231.4. Nesta actividade, contrariamente ao que vinha acontecendo nas actividades analisadas anteriormente, os atletas internacionais são os que têm um menor número médio de horas acumuladas, estando os outros dois grupos bastante próximos um do outro.

Com base nos resultados obtidos, pensamos que através do nosso estudo, os treinadores podem perceber quais os pontos mais evidentes que fizeram com que os atletas internacionais se destacassem dos demais, podendo dessa forma tentar adaptar os seus modelos de treino de forma a potenciar ao máximo a performance dos seus atletas. Acreditamos que com estes dados, os treinadores podem colmatar algumas lacunas existentes no treino do futsal, principalmente nos escalões competitivos inferiores, tornando-se dessa forma treinadores mais completos. Isto faria também com que o treino de futsal tivesse um enorme avanço qualitativo, potenciando ao máximo os atletas e fazendo com que estes evoluam cada vez mais e melhor, o que os faria atingir níveis de performance mais elevados, melhorando também dessa forma a competitividade dos nossos campeonatos de futsal.

Já em termos escolares, mais propriamente na disciplina de Educação Física, estes resultados também podem ter um importante papel. Como pudemos verificar, os atletas internacionais tiveram um primeiro contacto com a modalidade mais cedo que os restantes atletas e, na maioria dos casos, esse contacto foi feito na escola. Acreditamos que isso possa ter contribuído para um melhor desenvolvimento desses atletas, o que os fez atingir um nível de performance tão elevado uns anos mais tarde. Tendo isto em conta, torna-se evidente que o desporto a nível escolar tem um papel muito importante na formação de atletas, porque é aqui que, muitas das vezes, se dá o primeiro contacto com as várias modalidades desportivas, fazendo com que as crianças se motivem e

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ganhem gosto pela sua prática. Aqui, o professor de educação física tem um papel preponderante, porque é ele que tem a importante missão de lhes apresentar as diferentes modalidades desportivas, deixando-os dessa forma com umas bases fundamentais tanto ao nível do conhecimento da modalidade, como ao nível das suas capacidades e habilidades, que poderão ser extremamente uteis no futuro aquando da sua especialização numa única modalidade.

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V. CONCLUSÕES

O nosso estudo permitiu-nos perceber e obter um conhecimento mais aprofundado sobre o processo de preparação desportiva a longo prazo no futsal português. Através dos resultados obtidos, foi-nos possível detectar as maiores diferenças existentes nas carreiras desportivas dos atletas dos diferentes escalões competitivos que constituem a nossa amostra, diferenças essas que permitiram aos atletas internacionais atingir o nível de performance mais elevado. Então, podemos afirmar que:

 A prática do futebol de rua e a visualização de desporto na tv, são as actividades prévias mais praticadas, sendo referenciadas por 100% da nossa amostra. No que diz respeito ao futebol de rua, observamos que são os atletas internacionais que revelam ter acumulado mais horas de prática.

 Pudemos constatar que existe pouca diversificação desportiva dentro da nossa amostra, sendo apenas referidas 3 modalidades desportivas praticadas antes da especialização no futsal, mas duas delas foram referidas apenas por 1 atleta cada.  A modalidade desportiva mais praticada antes da especialização no futsal foi o futebol de 11, tendo sido referenciada por 73.3% da nossa amostra. Este é um dado importante, porque desta forma, os atletas puderam transferir todos os ensinamentos e habilidades adquiridas para o futsal, visto que existem bastantes semelhanças entre as duas modalidades.

 Os atletas internacionais revelam ter um primeiro contacto com o desporto bastante mais cedo que os restantes atletas, sendo que este ocorre por volta dos 7 anos de idade. Já no que à especialização no futsal diz respeito, as diferenças são ainda maiores, sendo mais uma vez os atletas internacionais os primeiros a fazê-lo por volta dos 14 anos de idade.

 Os atletas internacionais revelam começar a treinar especificamente para a modalidade em questão, cerca de 1 ano antes que os atletas da 2ª divisão e cerca de 2 anos antes que os atletas das divisões distritais. Observamos também que são os atletas internacionais que acumularam, em média, mais horas de treino específico da modalidade por larga margem, apresentando cerca do dobro de horas de treino em relação aos atletas da 2ª divisão e mais do triplo em relação aos atletas das divisões distritais.

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 Em relação ao número médio de horas acumuladas tanto em jogos organizados pelos atletas e pelos seus colegas, como em jogos organizados e supervisionados por um treinador ou um adulto, observamos que são os atletas internacionais que revelam ter acumulado um maior número.

 Os atletas internacionais revelam ter acumulado um maior número médio de horas de auto treino, tornando-se num factor bastante importante na medida em que este funciona como um complemento do seu treino específico da modalidade.

 Por ultimo, em relação ao número médio de horas acumuladas de instrução individualizada, os atletas internacionais estão em primeiro lugar por larga margem, sendo que nenhum dos atletas das divisões distritais revelou ter acumulado qualquer hora nesta actividade específica.

Com isto, podemos afirmar que o maior comprometimento com a modalidade por parte dos atletas internacionais, foi o factor chave para o alcance de um nível de performance tão elevado, conseguindo assim atingir o estatuto de atletas internacionais.

Pensamos que, com base nos resultados obtidos no nosso estudo, tanto os atletas como os treinadores de futsal podem identificar e preencher algumas lacunas existentes no treino da modalidade, de modo a que exista um aumento qualitativo ao nível do treino, possibilitando desta forma o alcance de performances mais elevadas por parte dos atletas. Consequentemente, isto faria também aumentar a competitividade dos nossos campeonatos de futsal.

Os nossos resultados são também importantes para a disciplina de Educação Física, pois torna-se evidente que o início da prática desportiva nos primeiros anos da vida escolar, possibilita às crianças uma experiência em várias modalidades desportivas, fazendo com que estas possam transferir esses ensinamentos para uma futura especialização numa modalidade específica, fazendo com que sejam atletas mais capazes.

Ao longo do nosso estudo, deparamo-nos com algumas dificuldades, principalmente ao nível da entrevista utilizada para a recolha de dados. A maioria dos atletas achavam-na muito extensa, o que provocou algum desconforto principalmente na parte final da entrevista, fazendo por vezes com que estes parecessem algo desconcentrados e até ansiosos para que a entrevista finalmente chegasse ao fim. Outra

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das dificuldades relacionadas com a entrevista, prende-se no facto de ser uma entrevista baseada na retrospecção por parte dos atletas, tocando em alguns pontos bastante pormenorizados em anos já distantes das suas carreiras desportivas, o que tornou a entrevista ainda mais demorada.

Seria importante em estudos futuros sobre a preparação desportiva a longo prazo, aumentar o número da amostra e procurar explorar mais a fundo outros factores importantes para a evolução dos atletas, como é o caso dos métodos e tipos de treino aplicados, bem como a qualidade das condições à disposição dos atletas. Seria também interessante percebermos qual o apoio recebido pelos atletas ao longo das suas carreiras desportivas por parte dos seus familiares, bem como por parte dos seus treinadores e de que forma é que isso influenciou a sua motivação e comprometimento com o treino da modalidade. Para tal, seria importante incluir em estudos futuros sobre este tema, uma entrevista também direccionada aos treinadores desportivos, complementando desta forma as informações recolhidas junto dos atletas.

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VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Baker, J. (2003). Early Specialization in Youth Sport: a requirement for adult expertise? High Abilities Study, vol. 14, n1, jun, pp. 85-94.

Baker, J. & Côté, J. (2003). Sport-Specific Practice and the Development of Expert Decision-Making in Team Ball Sports. Journal of Applied Sport Psychology. Vol15, pp. 12-25.

Baker, J.; Côté, J.; Abernethy, B, (2003). Learning From the Experts: Practice Activities of Expert Decision Makers in Sport. Research Quarterly for Exercise and Sport.

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Gráfico 3.1 – Número médio de horas acumuladas de treino no futsal.
Gráfico 3.3 – Número médio de horas acumuladas de jogos organizados e supervisionados  por um treinador ou um adulto
Gráfico 3.4 – Número médio de horas acumuladas de instrução individualizada.
Gráfico 3.5 – Número médio de horas acumuladas de auto treino.

Referências

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