A
FORMAÇÃO
DO
“TOTAL
TRABALHADOR
SADIA” -
Um
estudode
caso sobre 0 processode
qualificaçãodos trabalhadores
na
SADIA
S.A. .A FORMAÇÃO
DO
“TOTAL
TRABALHADOR
SADLA' -
Um
estudode
caso sobre o processode
qualificaçãodos trabalhadores
na
SADIA
S.A.Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina,
como
requisito parcial à obtenção dotítulo de Mestre
em
Educação, soborientação do Professor Doutor Lucidio Bianchetti.
..:: \_.
‹"I~ 45 xx
4? @‹›"'_"
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE
SANTA
CATARINA
cmzvmo DE ÇIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE
Pos-czRADUAçAo
EM
EDUCAÇÃO
“A
FORMAÇÃO
DO
“TOTAL
TRABALHADOR
SADLA' -
UM
ESTUDO DE
CASO
SOBRE
O
PROCESSO DE QUALIFICAÇAO
DOS
TRABALHADORES DA
SADIA
S
A
97Dissertação
submetida
ao Colegiado
do Curso de
Mestrado
em
Educação
do
Centro
de
Ciênciasda
Educação
em
cumprimento
parcial para aobtenção
do
títulode
Mestre
em
Educação.
APROVADO
PELA
COIVIISSÃO
EXAMINADORA
em
21/07/2000Dr. Lucídio Bianchetti
(Orientado~
Á
4 ,/
'
. ~ /
,
Dr.
F
emando
Ponte
de Sousa
0{%í
OÉ
Dr.
Ari Paulo
Jantsch%
'Á/Úíz
--
HDra.
Valeska
Nahas Guimarães
(Suplente)Pro
. Dr. Lucídio BianchettiSub-Coordenador
PPGE/UFSC
Dulcinéia
da
Cruz
E Florianópolis,Santa
Catarina,julho de
2000
Muitas foram as pessoas
que
participaram e contribuíram para a concretização desta pesquisa. Estendomeus
agradecimentos a todosque
diretaou
indiretamente estiveramcomigo
nessa trajetória apoiando e incentivando paraque
eu chegasse até aqui.De
modo
especial agradeço: _ _* ao Lucidio Bianchetti, pela
amizade
e pelomodo
competente, respeitoso e sensívelcom
que
me
orientou nesta pesquisa. Obrigada, `mestre', por acreditar, desde oinicio,
no
meu
trabalho ena
minha
capacidade para realiza-lo;* aos
meus
pais, Juvenal e Lidovina, pelo apoio incondicional àminha
trajetóriaacadêmica.
O
carinho e incentivo permanentesforam
fundamentais nessa caminhada;* ao Alzumir, pelo incentivo inicial a esta pesquisa, pelo companheirismo e
generosidade dedicados durante esse tempo...
* à Arivane,
amiga
incondicional, pela possibilidade de compartilhar essa construção pessoal e especialmente pela tolerância ecompreensão
nosmomentos
dificeis;* à Cleusa, pela amizade, força e incentivo
no
decorrer desse processo; * ao Paulo, pela interlocução e pelas dicasna
construçãoda
pesquisa;* aos colegas Marcos, Gilberto, J osenei e Nadia, pela
amizade
e possibilidade de compartilhar as angústias e alegrias deum
processo intenso de aprendizado;* aos
amigos
Rosa, Angelo, Mari,Domingos
e àsminhas meninas Geovana
eRegiane pelo carinho e incentivo que
me
dedicaram;* aos trabalhadores, professoras, coordenadoras e dirigentes
da
Sadia queparticiparam das entrevistas e contribuiram para
que
essas idéias fossem parao
papel; *ao
Programa
de Pós-Graduaçãoem
Educação
daUFSC
e aos professoresdo
curso, pela oportunidade de enriquecerminha
experiência acadêmica; -* à banca
examinadora composta
pelos professores Ari Jantsch, Fernando PonteeEneida
Shiroma, pelas importantes contribuiçõesno
exame
de qualificação;i
* ao Jairo, pela ajuda nos impasses
com
a informática;* à Prefeitura Municipal de Chapecó. e ao
CNPq,
pela liberação e suportefinanceiro imprescindíveis à realização desta pesquisa.
LISTA
DE
QUADROS
E FIGURAS
... ..V
ABREVIAÇOES
E
SIGLAS
... .. viRESUMO
... .. viiABSTRACT
... _. viiiINTRODUÇÃO
... .. lCAPÍTULO
INOVAS CONFIGURAÇÕES
DO
CAPITALISMO
CONTEMPQRÁNEO
... .. 141.1
Mudanças
no
modelo
produtivo: emergênciado paradigma
flexivel ... .. 141.2
Mudanças
nos processos de trabalho e interconexões nos diferentes setores daeconomia
... .. 191.3
Novos
processos de globalização ... ._20
1.4Modemização
nas empresas brasileiras-
aautomação
seletiva ... ..25
1.5
O
processo de qualificação diante daautomação
fiexivel ... ..27
1.6
As
empresas e o processo de qualificação dos trabalhadores ... .. 33CAPÍTULO
IISADIA
S.A. -HISTÓRICO
E
SITUAÇÃO
ATUAL
... ..37
2.1 Primórdios ... ... ..
37
2.2
Ação
do
Estadocomo
foriientador da iniciativa privada ... ._43
2.3 Exportações ... ... ..46
2.4 Sadia Avícola S.A. -'
Chapecó
-SC
... ._48
2.5O
processo de 'reestruturação produtivana
Sadia S.A. ... .. 502.6
A
Qualidade Total Sadia ... .. 532.7 Qualificação dos trabalhadores da Sadia
-
Chapecó
; ... ..60
CAPÍTULO
IIIA
SADIA
S.A.NO CONTEXTO DA
GLOBALIZAÇÃO
E
DAS
NOVAS
DEMANDAS
QUALIFICACIONAIS
... .. 65Sadia
no
processo de integraçãoeconômica
global ... .. 65olitica de gerenciamento de
RH
da
Sadia ... ..67
elações de trabalho na agroindústria ... ..
74
olítica de qualificação dos trabalhadores
implementada
pela Sadia ... ..77
3.4.1 Treinamentos ... ... .. 82
3.5
Mudanças
tecnológicas, organizacionais e gerenciais e os impactos sobre a força de trabalho ... ... .. 863.6
As
relações escola-empresa-
a instituição de convênios ... ..90
3.6.1
Os
convênios ... .. 913.7
O
processo de escolarização dos trabalhadores da Sadia ... .. 100$~'.WP°Í~” 4›u›t×››--
"Ú?U"U3>
CAPÍTULO
IV
DISCURSOS
E PRÁTICAS
EM
4.1 Análise
do
processo de escolarização dos trabalhadoresda
Sadia ... ._4.2
O
processo de construçãodo
“Total Trabalhador Sadia”: teorias e práticasem
(des)encontro ... ._CONSIDERAÇÕES
FINAIS
... _.REFERÊNCIAS
B1BL1oGRÁFIcAs
... .. ^Amâxos
... ... ..Anexo
I-
Roteiro de questões para entrevistas ... .. 139Anexo
II - Comparativoda
estrutura administrativa após a reestruturaçao ... ..Anexo
III - Receita operacionalda
Sadia 1998/1999 ... _.Anexo IV
-O
desaño
e o privilégiode
trabalharem
equipe ... _.Anexo
V
- Estratégias para integrar os trabalhadores aos objetivosda empresa
Anexo VI
- Reconstruçãodo
processo de criação, abate e industrialização de perus-
Unidade
fabril deChapecó
-
SC
... ..QUADRO
1. Entrevistados ... ..QUADRO
2. Evolução zootécnicado
frango de cortena
Sad1`a..._QUADRO
3. Variação das vendas (ñsica e valor)-
1998
- 1999...FIGURA
1. Gente: fator-chaveno
gerenciamento ... ..QUADRO
4. Plano de cargos e salários-
operadoresde produção
4!
,e
\
ACARESC
Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa CatarinaACARPESC
Associação de Crédito e Assistência Rural aos Pescadores de Santa CatarinaBID
Banco
Interamericano deDesenvolvimento
BIRD
Banco
Interamericano Regional deDesenvolvimento
BM
Banco Mundial
BNDES
Banco
Nacional deDesenvolvimento
Econômico
e SocialccQ
círculo de controle de Qualidade'
CEA
Centro deEducação
de AdultosCEPAL
Comissão
Econômica
para aAmérica
Latina e CaribeCIDASC
Companhia
Integrada deDesenvolvimento
Agricolade
Santa CatarinaCLP
Controlador Lógico ProgramávelCPPP
Centro de Pesquisa para aPequena
PropriedadeCQS
Circulo de Qualidade SadiaDIEESE
Departamento Intersindical de Estudos e EstatísticasDORT
Doenças
Ocupacionais Resultantesdo
Trabalho lvEJA
Educação
de Jovens e Adultos lia
EMATER
Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural \EMPASC
Empresa
Catarinense de Pesquisa AgropecuáriaS.A
EPAGRI
.Empresa
Agropecuária e .Extensão Rural de Santa CatarinaFAF
Fundação
Atílio FontanaFUNDESTE
Fundação
para oDesenvolvimento do
OesteISO
International Organization for StandardizationMASP
Método
de Análise e Solução deProblemas
MFCN
Máquina
Ferramenta de ControleNumérico
PIB
ProdutoIntemo
Bruto `PNB
Produto Nacional BrutoSENAC
Serviço Nacionaldo Comércio
SENAI
Serviço Nacional da IndústriaSINE
Serviço Nacional deEmprego
TQS
Total Qualidade SadiaUNOESC
Universidadedo
Oestede
Santa CatarinaRESUMO
Esta dissertação trata de
um
Estudo deCaso do
processode
implementação e gestãoda
educação do
trabalhador desenvolvidona
SadiaSA.
de
Chapecó-SC
eda
relação destecom
as politicas gerais de qualificação explicitadas nosdocumentos
e efetivadas por estaempresa.
No
decorrer da pesquisa analisou-se o processo de formação/escolarização dos trabalhadores diantedo
conjunto de transformações tecnológicas, organizacionais e gerenciais vigentesna
empresa.A
escolarização e realizadano
seu interior por três instituições de ensino conveniadas (Secretaria deEducação
de Chapecó, SecretariaEstadual de
Educação
eFundação
Bradesco),com
propostas e práticas pedagógicasindependentes e, às vezes, conflitantes entre si.
A
partirde documentos
e depoimentos detrabalhadores, professores e dirigentes desencadeou-se tun estudo acerca dos, às vezes, conflitantes objetivos, interesses e nuanças
que
caracterizam o trabalho desenvolvido naepela escola, cujo resultado é a concretização de
uma
formação segmentada dostrabalhadores. Concluiu-se que esse processo de escolarização não apresenta
um
projetoconvergente voltado para a realidade
do
trabalhador eque
extrapoleuma
dimensãoinstrumental atribuida à educação.
Com
isto a escola acaba legitimando a filosoña do grupo Sadia e contribuindo para aconformação
dos trabalhadores às necessidadesdemandadas
pelasmudanças
estruturaisem
implementação na empresa
This dissertation
concems
aCase
Studyof
the implementationand
administration ofWorker
education developed at Sadia S.A. inChapecó,
SC
and
the relation of thisprogram
with the general training policies enacted
by
thecompany
and
explained incompany
documents.
The
research analyzed the processof
the trainingand
schooling of workers in the faceof
the set of technological, organizationaland
management
transformationsunderway
at thecompany.
The
schooling is conducted within thecompany
by
threecontracted educational institutions (the Secretariat of Education of Chapecó, the State Secretariat of Education
and
the Bradesco Foundation), with independent pedagogical proposalsand
activitieswhich
at times are conflicting.Based on documents and
statementsof
workers, teachersand
managers, a studywas
undertakenof
the at times conflicting objectives, interestsand
nuances that characterize thework
developed inand by
the school, the result ofwhich
is the establishment of asegmented
trainingof
the workers. Itwas
concluded that this schooling process does not offer a
unified program aimed
at the realityof
the workersand which
goesbeyond
the instrumental dimension attributed to education. ln this manner, the schoolwinds up
justifying the philosophyof
the SadiaGroup and
contributes to the workers' conformity to the necessities requiredby
the changesunderway
at the
company.
J
Justificativa
Através desta pesquisa objetivamos
compreender
o processo de implementação e gestão da educaçãodo
trabalhador desenvolvidona
empresa
Sadia S.A.-
Chapecó.Visando
ser coetânea ao seu tempo, estaempresa
vem
passando porum
processode
reestruturação e organização da produçãocom
a introdução de novas tecnologias, novas formas de gestão quedemandam
dos trabalhadores a construção deum
novo perfil cognitivo e atimdinal. Diante dos novos desafios, especialmente a necessidade de elevar o grau de escolarização dos trabalhadores, os dirigentesda empresa
aliam-se ao poderpúblico e criam
uma
escola,no
interior da própria empresa, para atender exclusivamente suademanda.
Frente às
mudanças
no processo produtivo e organizacional verificado nomundo
do
trabalho,a
“formação”do
trabalhador estaria adquirindomaior
importânciaAs
novas qualificaçõesdemandariam
um
novo
perfil cognitivo e atitudinal destes, que cada vez mais seriam requisitados a intervirno
processo solucionando problemas; ¿ administrandoimprevistos
ou
sugerindo mudanças. Neste sentido, disporde
novos conhecimentos quepermitam
lidarcom
as potencialidadesda
tecnologia ecom
as novas \formas de organização, saber ler, interpretar a realidade, lidarcom
abstrações, resolver problemas,expressar-se adequadamente,
enfim,
dominar
0 processo de trabalho (Silva Filho, 1998),seriam habilidades fundamentais ao
novo
perfil requeridodo
trabalhador. Enfatiza-se, diante disso, a necessidade da presença de trabalhadoresmelhor
qualificados paradesempenhar
funções mais complexas e eficientemente garantirmaior
produtividade.No
momento
em
que profwidas e constantesmudanças
movimentam
a sociedade capitalista, este é o discursohegemônico
editado pelos empresários'
Em
face disso, a educação estaria sendo responsabilizada pela formação
pelo desenvolvimento de novas habilidades e pelo
conhecimento
técnico dos trabalhadores,ou
seja, caberia a ela o desenvolvimentoda
capacidade produtiva neda
competitividade daeconomia
nacional (Carvalho, 1999).Sendo
assim, estariam os desígnios atribuídos a educação sendo cumpridos? Esta pesquisa busca elementos empíricos na Escola da Sadia para construir essa análise.Na
nova
dinâmica estabelecida entre capitalistas e trabalhadores, novos fatoresaparecem
como
intervenientes. Torna-se necessária a investigação decomo
as agências qualificantes preparam os trabalhadores para anova
dinâmicado
trabalho nos seus aspectos cognitivos e atitudinais,bem
como
a maneira que esses trabalhadores lidamcom
as transformações tecnológicas, organizacionais e gerenciais.Como
veremos
adiante, essas agências são escolas e/ou empresasque
assumem
a qualificação dos trabalhadores, diretaou
indiretamente, tendocomo
perspectivao
atendimento dos interessesdo
capital.Nos
últimos anos, o grande envolvimento dos empresárioscom
a educação-
bandeira que até
pouco tempo
não desfraldavam -vem
acontecendono
sentidode
responder aos desafios gerados pelo avanço tecnológico
do
setor produtivo e asnecessidades de racionalização administrativa. Segiindo eles, o conhecimento
do
trabalhador é fundamental para a viabilização de estratégias inovadoras e competitivas
na
sociedade globalizada
em
que vivemos. Portanto, tornam-se necessáriasmudanças na
gerência dos recursoshumanos
e na organizaçãodo
trabalho paramelhor
aproveitar,tambem, o
conhecimento tácito destes trabalhadorese
otimizaro
processo produtivo. 1Esse processo de transfonnação
vem
consolidandoum
novo paradigma firmado
na
valorização da ciência, da tecnologia edo
conhecimento.As
basesdo
capitalismocontemporâneo, segundo os empresários e' os teóricos que lhe
dão
sustentação, estão condicionadasl ao investimentona formação de
recursoshumanos
qualificados e que\
operem
de acordocom
a dinâmicado mercado
globalizado e competitivo (Cf. Antunes,1995, entre outros).
Assim, o presente estudo justifica-se pela necessidade de
compreendermos
as relações entre educação e trabalho considerandoque
o
setor empresarialnão
só opina,mas
ativamente se engaja
como
agente qualificante e inclusive participada
elaboração das políticas educacionaisda
rede formal.Nesse
caso, a investigaçãodo
processo educativogerenciado pela empresa Sadia S.A. permite situar os interesses subjacentes
ou
explícitosquanto às novas qualificações consideradas imprescindíveis aos trabalhadores e contribuir
com
o debate sobre as questões relacionadas à educação formal.l
Conhecimento construido pelo trabalhador no decorrer de sua experiência protissional articulado à vivência
social. Ressalte-se que até recentemente este era considerado
um
espaco de autonomia dos trabalhadores.um
reduto onde se manifestava a sua criatividade.
Com
o potencial disponibilizado por meio das novas tecnologias da informação e da comunicação, possibilitando n registro e analise de tudo o que os trabalhadores fazem ou deixam de fazer, atémesmo
esse espaço passa porum
processo de apropriação por parte do capital. Para maiores detalhes cf. Bianchetti (1998). .Muitas
outras pesquisas (Frigotto, 1998; Ferretti et al, 1994;Machado,
1995;Bianchetti, 1998;
Campos,
1997; Shiroma, 1993 entre outros)abordam
otema
da educaçãodo
trabalhador.No
entanto cada qual revela aspectosnovos
ou
singularesno
processo,demonstrando
o quanto este é dinâmico edemanda
constantes pesquisas.Convém
ressaltarque o
setor agroindustrial, na região, oestede
Santa Catarina,ocupa
centralidadeno
desenvolvimento econômico, e as pesquisas a respeito
não têm
sido suficientes para explicitar as novas relaçõesque
seengendram
entreo
processo produtivo e a educaçãodo
trabalhador.
É
neste contexto que o estudo de caso proposto se justifica e ganha relevância.Relevância do
objetode
estudoA
agroindústria Sadia S.A.Unidade de
Chapecó
SC, objeto deste estudo,desempenha
um
importante papel naeconomia
ena
política regional através daindustrialização de carnes.
Sua
relevânciano
setor industrial está centrada na capacidadede produção,
na
competitividade e na tecnologia empregada.A
Sadia destaca-secomo
uma
das primeiras agroindústrias da região a reestruturar o processo produtivo e adotar novas formas de gerenciamentodo
trabalho.' 4.'
Inicialmente os trabalhadores
da
Sadia,em
sua maioria,eram_cammn¿s5§_com
baixa escolaridade e
pouca
qualificação específica para atuarna
agroindústria. Eles eramtreinados para
desempenhar
funções nas linhas de produçãoque pressupunham
força, resistência e destreza fisicas, sendo que durante muitotempo
pouco
lhes foi exigidoem
termos
de
qualificação,no
sentidoque
está sendo veiculado e apreendido hoje.Nos
últimos anos, a tim de manter aempresa
competitiva eacompanhar
a inovaçãono que
se refere a equipamentos, os dirigentes alteraram significativamente a política de gerenciamentoda
força de trabalho.Ao
reestruturar a produção, introduzirnovas tecnologias e novas formas
de
gestão, aempresa
desencadeouuma
mobilizaçãovisando “conquistar” os operários para a
implementação
de seus objetivos: produzir mais,com
qualidade,em
menor
tempo
ecom
menos
custos. ~-A
nova
dinâmica da produçãodemanda
um
maior grau de escolarização dos trabalhadores.A
empresa, por sua vez, exigeque
os operários voltem a estudar.No
ano de1993, cerca de
60%
dos trabalhadoresda
produçãonão contavam
com
o ensinodesencadeia então o processo de educação formal desses trabalhadores
na
Escola da Sadia, objetivando eliminar o analfabetismo até oano
de 2001.2Os
trabalhadores quedesempenham
funções técnicas foram sendo formados poroutras instituições.
No
início dos anos 70,com
o surgimento daFUNDESTE
«- atualUNOESC
(Universidadedo
Oeste de Santa Catarina),foram
criados três cursos, dois dosquais estruturados para atender a
demanda
do
setor empresarial: Administração e Ciências Contábeis.Boa
parte dos profissionais vai trabalhar nos escritórios das agroindústrias.No
ensino secundário surgiram as escolas agrotécnicas (que garantem às empresasum
enorme
contingente de técnicos agrícolas) e os cursos de técnicoem
contabilidade e secretariado.3Na
produção, para a grande maioria dos trabalhadores, não era exigida qualificação especifica, bastava que estivessem aptos adesempenhar
uma
tarefa rotineirana
linha deproduçãof*
Apenas
uma
pequena parcela de trabalhadores vinculados a algumas áreas técnicas,como
desenho industrial, mecânica, eletromecânica, eletricidade, é que vão terformação
em
cursos programados e executados principalmente peloSENAI.
Recentemente, através
da
UNOESC,
foram
criados cursosem
nível secundáriode
segurança
do
trabalho e técnicosem
alimentos, objetivando habilitar os profissionais para obtermaior
controle de qualidade dos produtos. Estes cursosatendem demandas
especificas das agroindústrias e atualmente são coordenados pelo
SENAC.
“_
A UNOESC
também
organiza outros cursos para atender as necessidadesespecificas de qualificação dos trabalhadores dessas empresas.
Em
nível de especialização,por exemplo, estão
em
vigência cursosde
gestão empresarial e suinocultura, entre outros.Cursos de
menor
duração são solicitados pelaempresa
à universidadequando
diagnosticadas as necessidades e a equipede
recursoshumanos
não está habilitada adesenvolvê-los.
Por outro lado, quanto à qualificação dos trabalhadores
da
produção, cujo nivel de escolarização é baixo, os dirigentesda
Sadia adotaram medidas mais incisivas.Acompanhando
as tendênciasdo
empresariadoem
geral,foram
feitos investimentos naescolarização dos funcionários através
da
Éscolada
Sadia. Ligada ao departamento de2 Os dados
apresentados são de 1993, ano
em
que foi feitoum
diagnóstico do nivel de escolaridade dos trabalhadores e entrouem funcionamento a Escola da Sadia As metas traçadas pela diretoria executiva nesse ano detenninavam que até 2001 todos os trabalhadores tenham concluído o ensino fundamental. Entretanto,como veremos no decorrer da pesquisa, nem sempre as metas anuais são o que poderá
comprometer o alcance da meta geral. _ g
3
No
capítulo ll estes aspectos referentes ao suporte qualificacional, representado pela
UNOESC
e EscolasTécnicas, são detalhados. *
recursos
humanos,
a Escola foi viabilizada pormeio
de
convênioscom
as Secretarias deEducação da
Prefeitura deChapecó
edo
Govemo
do
Estado ecom
aFundação
Bradesco.À
empresa coube
a viabilizaçãodo
espaco ñsico e materiais.Os
profissionais queministram os cursos são cedidos pelos órgãos públicos e pela Fundação. Assim, atualmente estão sendo atendidos cerca de 1.200 trabalhadores
numa
estrutura de ensino supletivo(dados de
junho
de 1999).São
três níveisde
ensino: Totalidadesde Conhecimento
I e II (correspondem aoensino de 1” a 4” séries
do
ensino fundamental), 5” a 8” séries - ensino fundamental e ensinomédio. _
As
Totalidades são ministradas por professoresda
rede pública municipal e objetivam,além
do
ensinoda
leitura e escrita, proporcionar ao trabalhadorque
há anos nãoestuda revisar os conteúdos basicos, principalmente nas disciplinas de Português e
Matematica.
Os
alunos freqüentam a escola duas vezes por semana,num
periodo de duashoras por dia.
Os
horários de funcionamento da escola são organizadosconforme
a trocade turnos da. empresa. Já o ensino de 5” a 8” série é ministrado por professores
da
rede estadual pertencentes ao Centro deEducação
de Adultos(CEA),
cuja metodologia giraem
tomo
demódulos
de ensino de diferentes disciplinas.O
aluno trabalhador estuda as apostilasem
casa,podendo
consultar o professorfem caso de dúvidas e fazer as provas,tendo
que
atingirmédia
oito para “avançar” nos modulos.O
ensinomedio
é assumido peloCEA
etambém
pelaFundação
Bradesco.A
Fundação
Bradesco adota o materialdo
Telecurso2000 da Fundação
RobertoMarinho
(apostilas e fitas de video) e os alunos freqüentam aulauma
hora por diano
ensino fundamental e duas horas no ensino médio, todos os dias.
Uma
monitora orienta as atividades, articuladas a aulas gravadas.Os
trabalhadores, por sua vez,estudam
forado
períododa
jomada
de trabalho,que
na
maioria dos casos ultrapassa' as oito horas diárias, representandouma
extensão dajomada
de
trabalho.No
entanto, a realidade édinâmica
e,de
certa fonna, este estudo decaso possibilitará revelar novos elementos para a discussão
em
tomo
do
processo de-Problemática
Diante
do
processo deimplementação
e gestãoda
educaçãodo
trabalhadordesenvolvido pela
empresa
Sadia S.A.-
Chapecó,
levantamos as seguintes questões:a)
O
trabalho desenvolvidona
Escolada
Sadia contribui para “adequar” otrabalhador às
mudanças
tecnológicas, organizacionais, gerenciais e formarnele
um
novo
perfil cognitivo e atimdinalconforme
explicitado nosdocumentos da
empresa?b) Diante da política de
formação do
trabalhador desenvolvida pela empresa,qual o papel atribuido à escola?
c)
Como
os trabalhadorespercebem
as novas exigências qualificacionaisrequeridas pela empresa?
d)
Como
posicionar~se frente à apropriaçãodo
público pelo privado?Hipóteses
1.
O
processo de educaçãona empresa
está inserido nurn contexto político,econômico
e social de incorporação das exigências demercado
em
relação aos produtos por ela fabricados e comercializados.A
V
2.
Da
maneiracomo
e organizada e desenvolvida, a educação naempresa
SadiaS.A. transforma-se
em
maisum
mecanismo
de controle desta sobre ostrabalhadores. ~
3.
A
escolacumpre
um
papelmuito
importante na consolidação dafilosofia
da
empresa
e na formaçãodo novo
perfil qualificacional dos trabalhadores..Objetivo geral
Analisar
o
processo de educaçãodo
trabalhador instituído e gerenciado pela SadiaS.A.- Chapecó,
a
relação desse processocom
as políticas gerais de qualificaçãoexplicitadas e desenvolvidas pela
empresa
e a relação destacom
o 'sistema formal deObjetivos específicos
- Investigar
como
o Centro deEducação
de Adultos, Prefeitura Municipal,Fundação
Bradesco eEmpresa
se articulam para desenvolver a escolarização dostrabalhadores dentro da própria empresa. _
- Investigar o currículo e o projeto político pedagógico da escola no sentido de
perceber os aspectos intervenientes
na formação do novo
perfil cognitivo e atitudinaldo
trabalhador.- Investigar
como
as intermediações entre localde
trabalho e escola contribuemno
processo de controle
do
trabalhador.- Investigar
como
os trabalhadorespercebem
as novas exigências requeridas pelaempresa
para modernizar-se tecnológica e organizacionalmente.- Verificar de que forma a escola contribui para “adequar” o trabalhador às
mudanças
estruturaisda
empresa, influenciandona
construção de novasqualificações.
-ç Identificar aspectos
comuns
e divergentes entre a educação na empresa e aeducação
formalno que
diz respeito à“formação do
cidadão”., t
\
Metodologia
Metodologicamente
decidimos pelo estudode
caso -empresa
Sadia S.A.,Unidade
de
Chapecó-SC
-dada
a possibilidade de assim aprofundar acompreensão do
tema
A
“educação
do
trabalhador” envolveuma
ampla
gama
de
aspectos e situações, sendo que a especificidade deste estudo poderá contribuir para oconhecimento
das particularidadesdo
processo educativo e suas relaçõescom
a reestruturação produtiva, organizacional e gerencial adotada pela empresa.No
entanto, o limite destaabordagem
metodológica estána
impossibilidade de fazer extrapolações. Por se referir aum
caso, o estudo é único, singular, e as possibilidades de generalização se restringem a contextos semelhantes(Lüdke
&
André, 1986). 'Através
do
estudo de caso toma-se possivel perceber ecompreender
aspectosdo
contexto maisamplo
manifestono
especifico. Assim, asmudanças
estruturais que seprocessam no
mundo
do
trabalho ena
produçãopodem
ser verificadastambém
nesta agroindústria,porém
sob circunstâncias particulares.A
Sadia~
Chapecó, ao destacar-se regionalmente pela introdução de novastecnologias na produção, novas fonnas de gestão e organização
do
trabalho, suscitapermanentes investigações. Esta pesquisa abrange a
compreensão do
processo deconstrução de novas qualificações dos trabalhadores.
Por
ser estauma
questãocomplexa
e exigir estudos aprofundados, faz-se necessáriauma
abordagem
que permitauma
maioraproximação
possívelda
realidade investigada.Neste
sentido, o estudo de caso abre possibilidades para a utilização de diferentes instrumentos de pesquisa que permitemexplicitar os dados empíricos necessários para o desenvolvimento
da
temática proposta.Através
do
levantamento dos elementosque
caracterizam as 'especificidadesda
empresa
em
Chapecó
-SC
é possívelmaior aproximação no
sentido de compreenderem
que
medida
o especiñcocontém
e manifesta o geral.Assim,
para desenvolver a pesquisa, inicialmente realizamosuma
revisão bibliográfica eaprofundamento
teórico a respeitodo
tema
proposto no sentido de apreendermos os diversos aspectos que permeiarn nossoobjeto de estudo
bem como
de identificarmos outras pesquisas realizadas sobre o assunto.Paralelamente as leituras, realizamos levantamento
de
dados documentais junto à.empresa, à
UNOESC,
aoCEA
e à. Prefeitura para obtenção de informações sobre oprocesso de escolarização dos trabalhadores dentro
da empresa
(criação da escola, instituição e funcionamento dos convênios, entre outros).A
pesquisa decampo
na empresa
ficou
restrita à observação na escola e entrevistascom
algtms supervisores,com
responsáveis pelo setor deRH
ecom
professores e alunosda
escola.Como
especificaremos adiante,não
foi pemritido acesso à empresa(produção), o que restringiu a coleta de dados principalmente
no
que diz respeito às relações entre o processo produtivo e a escola,uma
vezque
os alunos/trabalhadores são osmesmos.
Primeiros contatos
na
empresa
Os
primeiros contatos na empresa aconteceram atravésda
coordenadora da Escolada
Sadia aindaquando da
elaboraçãodo
projeto para seleçãodo
mestrado.Os
dadospreliminares sobre o funcionamento da escola
foram
obtidoscom
urna professora quetrabalha
com
turmas de alfabetizaçãosS
Esse contato foi facilitado por trabalharmos na mesma rede de ensino. Posteriormente este “laço” de proximidade não se mostrou suficiente para aproñindarmos o trabalho de observação e levantamento de dados.
9
No
períodoem
que
cursei as disciplinas mantive contatocom
o departamento derecursos
humanos
da
Sadia e,somente
depois deuma
certa insistência deminha
parte eresistência
da
empresa, recebi a resposta positiva para a realizaçãoda
pesquisa. Entretanto, só foi possivel estabelecerum
vínculo maiorcom
as pessoasda
escola após o término das disciplinas do mestrado,quando
retornei a Chapecó,em
abril de 1999. Inicialmente os contatos na escola foram limitados, muito formais, as pessoas manifestavam receioem
falar. Esta fase foi diñcil, as possibilidades de conseguir os
dados
para realizar a pesquisaestavam restritas.
Como
a escola está vinculada ao departamento de recursoshumanos
da empresa, percebiuma
consonância direta nacomunicação
entre a coordenadorada
escola e a chefede recursos humanos.
A
principio haviauma
certadesconfiança
de que omeu
trabalho trouxesse problemasou
gerasse conflitos.Nesse
sentido, a coordenadora deixoubem
claroque algumas
informaçõesnão
seriam fornecidas,mas
não explicitou quais. Entretanto, oconvivio, a aproximação
com
o pessoal da escolaforam
possibilitando a abertura de outrosespaços para continuar o processo de pesquisa.
A
coordenadora permitiu a analise ereprodução de
documentos da
escola, participei de reuniõescom
os professores;enfim, na
escola os espaços foram se ampliando cada vez mais.Porém,
o acesso à empresa foinegado.
Segrmdo
a chefedo
departamento de recursos hrnnanos, a Diretoria Executivaadotou
uma
posição de não permitir a realização de pesquisas nasUnidades
industriaisporque,
há
uns anos, a divulgação dos resultados deuma
pesquisa realizadanuma
dasunidades repercutiu muito mal, ate
mesmo
prejudicando os interessesdo
grupo. Assim, nãotive acesso aos setores produtivos (frigorifico), o
que
prejudicou, de certa forma, oestabelecimento de relações entre o processo de escolarização e o cotidiano dos
trabalhadores, principalmente
no
que diz respeito às questões tecnológicas, organizacionais e gerenciais.O
processo de coletade
dados junto aempresa
e a realização das entrevistas,embora
com
todas as limitações impostas, se efetivaramno
período demaio
a julho de1999.
Os
entrevistadosPara a efetivação
da
pesquisatambém
realizamos entrevistascom
pessoas dos diversos segmentos envolvidosno
processo de escolarização/qualificação dos trabalhadores.Foram
realizadas37
entrevistas.No
quadro lpodemos
visualizarquem
¿N°
CategoriaFunção
Trabalhadores Trabalhadoras 16O4
Operadoresde
produçãoó Operadorasde
produção -ÍO8
Professoras .Ensino fundamental e
médio
(ligadas aos diferentes convênios).Coordenadoras
O3 . _
dos
convemos
~
_ Secretaria de
Educaçao do
Estado; Secretaria de iEducação do
Município eFundação
Bradesco.i
Coordenadora
da lO2
escola da Sadia
Integradora entre a
empresa
e as instituições conveniadas.Gerência de
RH
l01 Gerência das políticas de qualificação.
03 Supervisores -
Seção
de frangos; - incubatório; - “demitido”.Total -
37
entrevistadosDentre os critérios de seleção dos trabalhadores entrevistados,
mapeamos
pessoasque
estudam na
Escola da Sadia (ensino fundamentalou
médio), queestudam na
escola regular etambém
pessoas que nãopossuem
escolaridade básica e não estão estudando.Em
meio
ao processo de entrevistas nosdeparamos
com
a necessidade de entrevistar alguns trabalhadores demitidos visto que as demissõestêm
sidouma
constantena empresa
enormalmente
os demitidos são funcionárioscom
muitos anos de trabalho na empresa.Esses critérios foram estabelecidos
com
vistas a obter depoimentos de trabalhadores queestudam na
rede formal,no
ensino supletivo (tendoem
vista as diferenças cuniculares) e os resistentes à escolarização.Nessa
perspectiva, toma-se possivel a manifestação de diferentes olhares sobre o processo de escolarização desenvolvido na/pela escolada
SadiaS. A. - Chapecó.7
Quanto
aos demais entrevistados o critério foi a predisposiçãoem
conceder aentrevista.
Nesse
sentido, consultamos as professoras, coordenadoras e tivemosboa
recepção. Deve-se acrescentar queuma
das principais dificuldades foi a resistência à gravação das entrevistas, fato que provavelmente está relacionado ao receio dealguma
represália por parte dos chefes
ou
medo
de
comprometer-secom
as infonnações prestadas.6
Na
classificação “operador de produção” estão incluidos balanceiros e trabalhadores da manutenção, entre
outros. Dos vinte trabalhadores entrevistados, doze estudam na escola da Sadia. cinco na escola formal, três
não estudam sendo que
um
foi demitido.7
O
roteiro das entrevistas consta no anexo I.
Processo
de
entrevistasPara a realização das entrevistas
procuramos
recolher omáximo
de infonnaçõessobre a
empresa
e o processo de escolarização.Também
dedicamos certotempo
para observar 0 funcionamento da escola e estabeleceruma
aproximação
com
as pessoas. Isso,de certa forma-, facilitou a realização das entrevistas (antes disso havia muita resistência a
conversas).
A
maioria das entrevistasnão
foi gravada. Vários entrevistados, aoserem
consultados,não
aceitaram a gravação.Nas
conversascom
trabalhadores percebemosque
a presençado
gravador intimidava e limitavamuito
o diálogo. Assim, procuramos registraro
máximo
de infomiações e alguns aspectos subjetivos das entrevistas; entretantoavaliamos que “falas” significativas de
algumas
entrevistas se perderam, tornando-se necessária a retomada de alguns contatos.O
contatocom
os primeiros entrevistados possibilitou a indicação de outros, o quedinamizou
o processo e proporcionou a obtenção de dados muito interessantes.Um
aspectoa destacar é que as entrevistas realizadas
com
os trabalhadores dentro da escola,em
horários pós-prova, foram muito limitadas e praticamente todos os entrevistadosconcordaram
com
a lógica daempresa
de que a escolarização éopommidade
de crescimento pessoal. Poucos fizeramuma
leitura diferenciadado
pro/cesso. Porém, as entrevistas realizadas forado
espaçoda empresa foram
muito significativas, as pessoas sesentiam
mais
a vontade para falar, atémesmo
porque setomava
possivel estabelecerum
certo vínculo deconfiança
antesda
entrevista propriamente dita.O
fato de visitar os trabalhadoresem
suas casastambém
contribuiu paraaumentar
essaconfiança
e possibilitaruma
conversa mais solta, desprovida de receios.Observando
a escolaridade dos entrevistados constatamos que os supervisores, ochefe de departamento e a coordenadora
da
escolapossuem
especialização na area deatuação, enquanto que a grande maioria dos trabalhadores matriculados na escola da Sadia freqüenta o ensino fundamental. J á a maioria absoluta dos professores entrevistados possui
formação ou
estão cursando licenciaturas. _'
Em
suma, o processo de entrevistas foi muito importante para obtermos informações sobre a qualificação dos trabalhadores, evidenciando diferentes olhares dosenvolvidos sobre as
mudanças
instituídas na Sadia S.A.-
Chapecó, especialmente nos ultimos sete anos, após a criação da escola.Estrutura
da
dissertaçãoO
caminho
percorrido neste estudo foi se mateiializando da seguinte maneira:No
primeiro capítulo, intitulado"Novas
configuraçõesdo
capitalismocontemporâneo",
procuramos
evidenciar e desenvolver discussões referentes aos elementosteóricos preponderantes
na
literaturaenvolvendo
asmudanças
estruturais configuradasno
modo
deprodução
capitalista,bem como
as transformações tecnológicas, organizacionais egerenciais verificadas
no
mundo
do
trabalho nas últimas décadas.Também
discutimos questões fundamentais para o desenvolvimentodo
tema
de pesquisano
que se refere ao processo de qualificação dos trabalhadores diante dasmudanças
anteriormentemencionadas.
No
segundo
capitulo,"A
Sadia S.A. - Histórico e situação atual",buscamos
resgatar e analisar a história da
empresa
situando fatores/agentes e outros aspectos intervenientesno
processo de expansãodo
grupo empresarial.Também
procedemos
aum
resgate
da
história especiñca daUnidade
industrial deChapecó
- SC, objeto deinvestigação desta pesquisa, procurando situar as
mudanças
tecnológicas e, especialmente,as organizacionais e gerenciais. Esta foi a unidade piloto na implementação dos programas de qualidade total e atendimento das
normas
para o recebimento da certificação internacionalâxdaISO
9002.Assim
sendo,procuramos
evidenciar as novasdemandas
qualificacionais requeridas aos trabalhadorescomo
condição para a implementação dasmudanças
estruturais. _,O
processo de integraçãoeconômica
globalda
Sadia e a construçãodo novo
perñl qualificacional requerido dos trabalhadores é analisadono
capítulo terceiro,"A
Sadia S.A.no
contexto da globalização -Novas
demandas
qualificacionais".Tendo
em
vista que aescolarização
compõe
a qualificação dos trabalhadores, pormeio
dos dados da pesquisaempírica procuramos analisar o processo de escolarização requisitado a partir do processo
de reestruturação
da
empresa. Para isso, centramos o estudo na Escola da Sadia ebuscamos
analisar as muitas relações/contradições imbricadasno
processo de escolarização dostrabalhadores. Poremeio de dados documentais e
depoimentos
de trabalhadores, dirigentes, professores,desencadeamos
uma
reflexão acerca dos diferentes objetivos/interesses quenorteiam o trabalho desenvolvido na escola urna vez que esta e formada por três instituições de ensino, cujos convênios
mantêm
distintas propostas pedagógicas.No
último capítulo, "Discursos e práticasem
(des)encontro", procuramos analisaro processo de
mudanças
desencadeadona
empresa, articulando-ocom
a escolarização dostrabalhadores. Desse
modo, buscamos
apreender e analisar os encontros e desencontros entre oque
aparece nas propostas - tanto por parteda empresa
como
por parte dasinstituições encarregadas da escolarização dos trabalhadores - e o que se evidencia na
prática.
NOVAS
CONFIGURAÇOES
PO
CAPITALISMO
CONTEMPORANEO
1.1
Mudanças
no
modelo
produtivo:
emergência
do paradigma
flexívelVivemos
num
periodo histórico de significativas transformações nas relações produtivas ena
forma
de organização dasempresas
que
imprimem
uma
nova
configuração ao sistema capitalista.A
emergência deum
novo paradigma
produtivo, ancoradoprincipalmente
no
desenvolvimento tecnológico e informacional eem
novas relaçõesno
ambiente de trabalho, firma-se no sentido de continuar garantindo
uma
sobrevida aocapitalismo.
As
constantes crises deacumulação
vivenciadas pelo esgotamento demercados,8 pelo
modelo
de produção taylorista/fordista, pelaqueda da
taxa de lucro,refletem a necessidade de o grande capital reestruturar-se para manter-se hegemônico.
Como
añrma
Ianni (1992, p.47),1 .
o capital dissolve, recobre ou recria formas de vida e trabalho, de ser e pensar,
\
em
âmbito local, regional, nacional e intemacional. Simboliza urna especie de revolução burguesa permanente, ainda que desigual e contraditória, progressiva e regressiva, democrática e autoritária. _Assim, a necessidade de reprodução
do
capital, diante da crise sistêmica, culminacom
um
novo paradigma
tecnológico,novo
padrão industrial flexivel ecom
a coexistênciade diferentes
modelos
de produção.A
ciênciaavança
nas diferentes ãreas - biotecnologia,microeletrônica, robótica - e desencadeiam-se transformações profundas, tanto nos
processos produtivos quanto
na
organização e gestãodo
trabalho. Essasmudanças
atingemtodas as atividades
humanas
em
praticamente todos os paises(DIEESE
&
SINE, 1997). _A
década de 70vem
demarcar, porum
lado, a crisedo
modelo
produtivo taylorista/fordistae a estagnaçãoeconômica
e, por outro, 0 impulsotomado
pelo grandecapital no sentido de se reorganizar para enfrentar esta estagnação, a competitividade e a
8
Nessa crise sistêmica pontuamos, entre outros, aspectos como a crescente queda nas taxas de lucro,
resistências dos trabalhadores as atividades repetitivas, o protecionismo dos Estados Nacionais,
retomada do
crescimento econômico.Essa
reorganização implicouno
desenvolvimento dealtemativas à estagnação
do
modelo
deprodução
em
série e à saturação dos mercados.Nesse
momento,
em
alguns países, verificavam-se possiveis alternativasem
que aprodução de bens diversificados e
melhor
elaboradoscomeçava
a ganhar espaço.Empresas
menores, que investiam na diversificação -
empregando
tecnologia flexível e mão-de-obraqualificada -,
começavam
a tomar-se competitivas, pressagiando novosmodelos
deorganização da produção
no
sistema capitalista..Para a melhor
compreensão
desse processo, citamos a experiência da “TerceiraItália”, estudada pelos teóricos Piore e Sabel (apud Antunes, 1995), pioneiros na
apresentação da tese da “especialização flexível”.
Segtmdo
estes autores,uma
novaforma
produtiva e articulada; a união entre desenvolvimento tecnológico e a desconcentração produtiva, baseadaem
empresas pequenas e médias, “artesanais”, fazcom
que onovo
modelo
recupereuma
concepção de trabalho que, sendomais
flexível, estaria isenta daalienação intrínseca à
acumulação
de base fordista.Um
processo artesanal, mais desconcentrado e tecnologicamente desenvolvido, produzindo paraum
mercado
maislocalizado e regional, seria
um
dos responsaveis pelas profundasmudanças
instauradasno
modelo
de produção, concebidascomo
altemativas ao sistema fordista.Ao
considerarem que omodelo
de produção flexível constitui-senum
paradigmaalternativo para a produção capitalista, Piore e Sabel
argumentam
que suas caracteristicaspossibilitam alterações constantes na produção
-`com
baixos custos na reconversão dos equipamentos - eacompanhamento
dasdemandas
do
mercado. Entretanto, alguns autores,de
modo
geral, criticam Piore e Sabel pela impossibilidade de generalizaçãodo modelo
por eles apresentado.9Harvey
(1998), por sua vez, enfatizaque
“as novas formas flexiveis ainda não sãohegemônicas
mas
podem
representar apassagem
paraum
regime de acumulaçãointeiramente novo, associado a
um
sistema de regulamentação política e socialbem
distinto” (p. l40).O
autortambém
argumenta
que
aacumulação
flexívelse apoia na flexibilidade dos processos de traballio, dos mercados de trabalho,
dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores
da produção inteiramente novos, novas maneiras de fomecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de
inovação comercial, tecnológica e organizacional (Idem).
9
\
Dessa
maneira, as diversas iniciativasou
experiências desenvolvidasno
campo
da produção,da
economia, da políticaem
buscada
superaçãoda
crise de acumulação dão inicio aum
processo que resultanuma
ampla
reestruturação produtiva, no desenvolvimentoda
produção flexivel e nas variantes resultantesda
coexistênciacom
outros modelos. Taistransformações
vão
conciliarmudanças
institucionais e organizacionais nas relações deprodução e de trabalho,
bem
como
redefinir a atuação dos estados nacionais e das instituições financeiras na regulaçãodo
processo produtivo.A
introdução de novas tecnologias de base microeletrônicamna
produçãotem
sido fundamental nesse processo de mudanças; elas possibilitam o desenvolvimento deuma
produção flexívelem
grande quantidade,com
qualidade,empregando
um
número
reduzido de trabalhadores, maior integração das funções
na
produção emudanças
nos processos de trabalho. Isso eleva sobremaneira a produtividade industrial, garantindo maior competitividade e lucratividade.As
novasmáquinas
programáveis -máquinas
ferramentascom
comando
ntunéricocomputadorizado
(MFCNC),
robôs, controlador lógico programável(CLP)
- adaptáveis aovolume
de produção e às caracteristicas especificas dasdemandas,
foram implantadasem
quase todos os setores
da
produção,mesmo
que seletivamente. Tais máquinas, basedo
novo
sistema produtivo, trouxeram a garantia demenores
riscos de investimentos,uma
vezque
a produção entraem
conformidade 'com as necessidadesdo mercado
eaumenta
a qualidade/diversidade dos produtos. `O
extraordinário desenvolvimento das forças produtivasem
razão da implantação das novas tecnologias, por mais que possibiliteenormes ganhos
de produtividade, nãorepresenta necessariamente a superação
da
crise sistêmica.A
grande competitividade leva as empresas a investirem cada vez mais recursos financeirosem
máquinas e equipamentos. lssomuda
substancialmente acomposição
orgânicado
capital pela crescente participaçãodo
capital constanteem
detrimento do capital variável.Assim,
como
afimia Marx
(1996, p.234), o capital constante “nãomuda
a magnitudedo
seu valorno
processo de produção”,ao contrário, o capital variável, entendido por força de trabalho,
“muda
de valor no processo de produção, reproduz o próprio equivalente e,além
disso, proporcionaum
excedente, a mais-valia”. Esta contradição leva a urna tendência de queda na taxamédia
dei lucro, gerando novas crises de acumulação.'O
São equipamentos que possuem microcomponentes eletrônicos que possibilitam. por meio de programações variadas e series altemativas. a alteração de uma linha deprodutos para outra. As maquinas
Com
asmudanças na
base técnicada produção surgem
tendências de as empresas investirem maisno
seuramo
de atuação e externalizarem atividadesou
serviços secundários." Verifica-se dessafonna
uma
desintegração da estrutura verticalizada dasgrandes empresas -
enxugamento da
produção ~ e a instalação de empresasmenores
subcontratadas para a realização de tais atividades
ou
serviços, descentralizando as funçõesnão estratégicas (Benko, 1996). j
Sob
outro aspecto, ainda, o avanço tecnológicoem
cursovem
eliminandoem
larga escala postos de trabalho vinculados à produção, especialmente na grande indústria.
As
funções repetitivas,do
trabalhoem
série, gradativamente vão sendo exercidas pelasmáquinas.
Cada
vez mais os trabalhadoressofrem
as conseqüências dasmudanças no
mundo
do
trabalho.Segundo
Antunes (1995, p.34),H
há
uma
processualidade contraditória que, deum
lado, reduz o operariadoindustrial e fabril, de outro, aumenta o subproletanado, o trabalho precário e o
assalariamento no setor de serviços. [ncorpora o trabalho feminino e exclui os mais jovens e os mais velhos. Há, portanto,
um
processo de maior heterogeneização, fragmentação e complexificação da classe trabalhadora.Nesse
sentido, a eliminaçãoem
grande escala de postos de trabalho, associada aosbaixos salários,
em
conseqüênciado
trabalho precário, terceirizadoou da economia
informal,
vem
restringindo osmercados
consumidores, e cresce a exclusão socialjustamente
quando
já possuimos as condições deprodução
para suprir as necessidades detoda a população
do
planeta.Entretanto, as características aqui apontadas
como
integrantesdo modelo
deprodução tlexivel certamente
nãosäo
generalizaveis.As
experiências dos diversos paísescom
a implantação das novas tecnologiasacompanham
um
processo dinâmico deadaptações, adoção de
medidas
altemativas, reações diferenciadas dos trabalhadores frente àsmudanças” bem como
um
mesclamento
com
as fonnas de produção já existentes e a H Essa extemalização de serviços ou da fabricação de componentes da produção faz proliferar a instalação de pequenas empresas subsidiárias que alimentam as empresas centrais, ou seja, acontece a terceirização de etapas da produção.'Z "As
reações dos trabalhadores frente as mudanças tecnológicas estão sendo caracterizadas como
um
movimento neoludita ou seja, 'o medo da tecnologia e a. resistência ao progressd. Enquanto
em
primeiroplano, os neoluditas começam a protestar - como os tecelões desempregados do inicio do século
XIX
aoserem substituídos pelas maquinas que lhes roubaram os empregos -,
em
background os conectados apenasmudam
de endereço e são rebatizados com @,em
seus cartões de visitas.O
neoludismo começa a virar moda,e parece inevitável, neste final de milênio,
um
contlito entre conectados e desplugados, que deverá detlagraruma revisão da revolução digital na qual estamos imersos".
coexistência de diversos modelos.
Não
há, portanto, estruturas industriais “modelos”, transponiveis a outros países e quehegemoneizam
a produção.A
difusão, implantaçãoou
uso das novas tecnologias acontece de
modo
diferenciadode
país para pais,uma
vez que as características sócio-culturaistambém
se diferenciam.Embora
existam diferenças,há
um
traçocomum
vistoque
todas as tentativas são feitas para estancar a queda na taxa de lucro.Segundo Kovács
e Castilho (1998, p.5), estamos assistindo auma
diversificaçãoda produção manifesta
na
emergência de diversosmodelos
de acordocom
as condiçõesespecificas existentes (neofordísmo/neotaylorismo, /ean production” e
modelo
~o).
Além
de' esses novosmodelos
coexistirem, eles são eprovocam
complexos
processos demudança.
Por maisque novas
necessidades sejam criadasno
mundo
da produção, osmodelos
organizativos são adaptados segundo as diferentes çulturas, apesar de existirem alguns principiosque
diferenciam os modelos.Na
/eanproduction são eliminados todos os desperdícios, trabalha-se
com
estoqueminimo
(métodojust-in-time), são desencadeados processos para obtenção
da
qualidade total, trabalhoem
equipe, flexivel e polivalente (permitindo autonomia, novas qualificações e envolvimentonas decisões relativas a produção), gestão pela cultura
da
empresa, entre outros (idemp. l5). Já
no
ímodelo antropocêntrico aposta-seem
recursoshumanos
qualificados e capazesde tirar proveito dos novos equipamentos (a inteligência
do
trabalhador é central no processo produtivo), pre/doinina a produçãoem
pequenas sériesem
setorestecnologicamente avançados e competitivos; este
modelo
está enraizado nas condições socioculturais européias (idem p. l8).Nesse
sentido, verifica-se que diferentes experiências nacionais procuramconstruir altemativas ao regime fordista, adequando-se aos
novos
parâmetros do mercado:produtividade, competitividade e qualidade.
Algumas
destas experiências,como
a sueca, aitaliana, a
alemã
e especialmente a japonesa, sãoamplamente
citadas e discutidas naliteratura pelos impactos
que têm
provocadoquando
implantadasem
outros paises e criticadasquando
simplesmente tenta-se transplantá-lassem
levarem.conta
o contextosócio-econômico, politico e cultural desses paises (Coriat, 1994; Hirata, 1993; Shiroma,
1993).
-9