CENTRO
SOCIO
ECONOMICO
' \
DEPARTAMENTO
DE
SERVIÇO
SOCIAL
'_ ¡
VIOLÊNCIA
CONTRA
CRIANÇAS
E
ADOLESCENTES:¬
. _ _ _ 1 . ' 1 ' . 1 I '
DESVENDANDO
AS
REPRESENTACOES
SOCIAIS
.. 1 Àpfovado Pelo`
DSS
Lm.__._2:/19 ____0_2:'/__3_9.:.d ÍM
¡ Venzon šistãoChefe Depto. de SérviÇ° SQÚ
GSE/UFSC
'
_ . ú
;Trabalho de conclusão de curso apresentado. ao
e
A Departamento de Serviço Social ida Universidade
. Federal- de Santa Catarina,,para afobtenção do
título de 'Assistente Social orientador pela professora Inêz Pellízzaro. ,›_~
LUCIANA
MARTENDAL
of. € -
Florianópolis,
Julho 1997
‹
Eøquøø/ø'pø1›u4øe¿eø‹ø'
ú9'anøú›24z/øzxáf.mzíuyem
z/ú'/iffâí/‹'w/, z/ezivøøfozrde
/zfúí/eraqu/Ira;/4
.‹'úú‹;¿w/gala/ø/¿
mara.
- //af/ale
ø
/if/Z/Iefirø.
'
Dedico' este límlvaiho' aos'
mau'
pais, /tntâuío'ø
Lêda.,
e
à.minha.
irmã. Ana. Lúcia.que,
no'decorrer
de
minha.
l1mj¢tø'r¡a. a.ca.dê`m¡ca.,tempra
na
fizemm
przreutes, a.po1'a.udo'-meø
incentivando'-me
em
todos' 03'momentos:
../mo
vocês!
AGRADECIMENTOS
Os meus
mais
sinceros agradecimentos a todos osque,
diretaou
~
indiretamente, contribuíram
para
a concretizaçao deste trabalho,bem
como,
àqueles
que
colaboraram, dealguma
forma,no
processo deminha
formação
profissional.
Na
impossibilidade de menciona-los, agradeçoem
especial:A
Deus,
queem
todos osmomentos
se fez presente,dando-me
força paraenfrenta-los.
À
minha
família, pela compreensão, confiança,amor
e incentivoem
mim
depositados. Esta vitória
também
pertence a vocês.` _ _
A
,professora orientadora, Inêz Pellizzaro, peloexemplo
deprofissionalismo,
bem
como
'pela "dedicação, disponibilidade e apoio
despendidos ao longo
da
elaboração deste trabalho.À
supervisora decampo,
Carmem
Lúcia
Blasi Villari, pela dedicação,amizade
e profissionalismo transmitidos ao' longodo
período de estágio.Aos
profissionaisda
Divisão de Pediatriado
Hospital Universitário e aosestagiários de Serviço Social, pela
amizade
e respeito estabelecidos durante oprocesso de estágio. _
`. _
As
amigas
de todas as horas-
Lêda,Maria
e Marli-
pelosmomentos
compartilhados juntas e pela
amizade
solidificada ao longo destes quatro anos.Às
amigas
também
especiais-
Annemarie,
Andréa, Rute,Beth
e Renilde-
Ao
gmpo
PET
-
Serviço Social, pela oportunidade de crescimentocomo
pessoa e profissional,
bem
como
aos bolsistas, pelaamizade
construída, e àstutoras Catarina Schmickler e
Vera Nogueira
pelaconfiança
e incentivoem
mim
depositados.i
APRESENTAÇÃO
... ._Capítulo 1
-
Texto
e contextoda
violênciadoméstica
contra crianças eadolescentes ... ..
1 Preliminares ... _.
2 A
Violência
doméstica
contra crianças e adolescentes: aspectos gerais2.1 Violência de pais contra filhos: produto
do
séculoXX?
... ..2.2
Desvelando
a violência doméstica contra crianças e adolescentes ... _.2.3 Violência estrutural
x
violência doméstica ... ..2.4 Lei 8.069/90: o
que
preconizao
Estatutoda
Criança dedo
Adolescente?3
O
Hospital Universitário e a realidadeda
violênciadoméstica
... ..3.1
A
Divisão de Pediatriado
Hospital Universitário e aincidência decrianças vitimizadas ... _; ... ..
3.2
Comissão
deAtendimento
à Criança Vitimizada ... ..4 .
Capítulo
2-
Violência -doméstica contra crianças e adolescentes: as`
Representações
Sociaisdos
Profissionaisda
Divisãode
_ Pediatria
do
Hospital Universitário ...- ... ..'. ... ._1 Preliminares ... ..
2
Conceituação de Representação
Social ... ..3
Aspectos metodológicos
da
pesquisa ... _; ... _.CONSIDERAÇOES
FINAIS
... ..REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
/
‹
O
presente Trabalho deConclusão
deCurso
tem
como
tema
central asRepresentações Sociais dos profissionais
da
Unidade
deIntemação
Pediátricado
HU
-
Hospital Universitário-
sobre .a violência doméstica,mais
especificamente sobre a violência perpetrada contra crianças e adolescentes. _
Atualmente,
o problema da
violência tem-'seconfigurado
em
uma
realidadecrescente, perpassando as diversas esferas
da
sociedade, sobretudo a esferado
V
privado,
em
evidência neste trabalho. Violência que, ao manifestar-seno âmbito
da
família,acabapor
usurparos
.direitos invioláveis de crianças ›e adolescentes,ao instaurar a. prática
da
barbárie, influenciada-, muitas vezes, pela realidadesocial. Frente a
essequadro
de violência, muitas crianças e/ou adolescentes sãovítimas das .piores .atro.cidades,.sendo .as conseqüênciasassustadoras.
Muitos
doscasos de vitimi-zação devido à caracterização
do
ato iviolent0,.Po1tanto,acabam
por ser
uma
constantenos
ambulatórios, postos de saúde e emergências,onde
cotidianamente
o
profissional de saúde vê-se frente a esses casos. Tal situaçãopôde
ser evidenciada ao longo de nossa prática .de estágio,em
.que alguns casosde violência doméstica
foram
constatados; frente a elesdeparamo-nos
com
diferentes posturas profissionais
com
encaminhamentos
divergentes. -Sentimos,por isso, a necessidade de
aprofundarmos
o problema, cujo eixo analítico centralé aquele consubstanciado pelas Representações Sociais elaboradas pelos
A
escolhado
estudo das representações desse tipo de violência éde
suma
importância para que, tanto os profissionais individualmente, quanto
o
HospitalUniversitário
como
instituição,possam
rever suas práticas voltadas parao
segmento
socialmais
atingido por essa violência.~
As
representações são entendidas aquicomo
mecanismos
deque
osindivíduos
lançam
mão
para encontrarum
sentido .aomundo
que os rodeia,justificando sua prática social.
As
representações, portanto,exercem
grandepoder na
manutenção ou
transformaçãodo
status quo, relacionado à sociedade.Daí, a importância
do
presente estudo,com
vistas à transformação das práticasadotadas pelos profissionais
que
tem
esse objetode
trabalho.Para a investigação,
adotamos
uma
metodologia qualitativa,que
privilegiaos significados evidenciados nos
depoimentos
dos profissionais, pormeio
dos~
quais
apreendemos
suas percepções, sentimentos e opinioes acercada
violênciaç
A
ii
domestica.
Este trabalho está organizado
em
dois capítulos.No
primeiro,esclareceremos
algumas
questões relativas à violência doméstica contra criançase adolescentes; para tanto, utilizar-nos-emos de
um
referencial sobre a temáticaem
evidência, objetivandouma
visãopanorâmica da
mesma.
<Serão aindaresgatados os casos de violência doméstica atendidos
na
Pediatriado
HospitalUniversitário
-
de agosto de 1995 adezembro
de 1996, períodoem
que
realizamos o estágio
-
bem como
osprogramas
desenvolvidosem
nívelNo
segundo
capítulo serão apresentadas a sistematização e análiseda
pesquisa,
em
que
se procurou evidenciar as Representações Sociais dosprofissionais
da
Unidade
de Internação Pediátrica sobre a violência doméstica,precedida de
uma
rápida conceituação sobreo
assunto,bem
como
ametodologia
utilizada
que
na norteou.Por
fim,
teceremosalgumas
contribuições sobre oproblema
evidenciadoao
longo
da
presentemonografia.
rTEXTO
'ECONTEXTO DA
VIOLÊNCLA
DOMÉSTICA
CONTRA
CRIANÇAS
E
ADOLESCENTES
1
Preliminares
O
presente ,capítulobusca
elucidaralgumas
questões relativas à violênciadoméstica;
mais
especificameínte, à violência peipetrada contra crianças eadolescentes,
conforme
mencionado na
apresentação dotrabalho.Pontuaremos,
também, algumas
considerações sobre a incidência de casos violentosna
Divisão de Pediatria
do
Hospital Universitário,bem
como
resgataremos osprogramas que
vêm
sendo desenvolvidos,em
nível institucional,com
o
intuitode prevenir esse problema.
2
Violência
doméstica
contra crianças
e adolescentes:aspectos gerais
Antes
de tecermosalgumas
considerações sobre a violência doméstica,fazem-se necessárias
algumas
referências sobre a significaçãodo termo
violência, seguido de sua etimologia.
Azevedo
e Guerra (1989, p. 46) porviolência entendem,
uma
realização determinada das relações de força, tantoem
termos de classes sociaistransgressão de normas, regras e leis, preferimos considera-la sob dois outros ângulos.
Em
primeiro lugar,como
conversão deuma
diferença e deuma
assimetria,numa
relação hierárquica de desigualdades,
com
ƒins de dominação, exploração e de. opressão [...]
Em
segundo lugar,como
a ação que trataum
serhumano
nãocomo
sujeito,
mas
comouma
coisa. _/
Em
ambos
os casos, portanto,colocamo-nos
frentea
uma
relação de poder,caracterizada' por dois
extremosxo
da dominação
e .oda
coisificação.Quanto
à sua -etimologia, a~~palavra violênciavem
do
latim violentiaque
significa “caráter violento, força”.
O
verbo violare, por sua vez, denotaum
caráter de transgressão. Tais termos'
devem
ser referidos a vis,que
significaforça, potência, violência, .emprego
da
força fisica,bem
como
abundância,quantidade.
Em
suma,
a palavra vis significa forçaem
ação,remetendo
à palavra1
violência, o caráter brutal de
uma
ação.Como
um
fenômeno
complexo, quando
nosremetemos
à palavra violência,ela imediatamente nos
vem
àimagem como
.manifestaçãoda
agressão,que
acaba por violar o direito à vida, à consciência, à integridade
do
-corpo e aosdireitos fundamentais
do
homem.
A
violência,como
privação dos direitoshumanos,
perpassa as diversasesferas
da
sociedade, manifestando-se tantono
contextodo
público,como
no
privado. -E é sobre a violência
no âmbitoprivado
(família) quennospropomos
tecer
algumas
considerações, privilegiando a violência praticada contra crianças e adolescentes..2.1' Violência
de
pais contra filhos:produto do
séculoXX?
Conforme
jámencionado,
uma
das manifestaçõesda
violênciaconfigura-se
no
seioda
família, cujosmembros,
mais
especificamente crianças e»adolescentes, tornain-se alvo constante dos ataques violentos por parte daqueles
que teriam a função
de
protegê-los contra toda e quafquerforma
de agressão.Faz-se necessário pontuar
que
essa violênciaacompanha
a trajetóriahumana
desde seus mais antigos registros e que, seja dentroou
forado âmbito
familiar, são inúmeras as formas pelas quais se expressa.Além
de diversificadosexemplos da
literaturado
séculoXIX,
em
que
a violência contra a criança édescrita
com
riqueza de pormenores,há
referênciasem
diversos períodoshistóricos sobre a
mdez com
a qual ela era tratada.Parafraseando
Guerra
(1985, p. 21),a história da criança tem sido também a história de
um
mundo
de violênciasperpelradas contra ela na forma de escravidão, abandonos, mutilações, filicídíos e
espancamentos. m
A
criança historicamente esteve sob os domíniosdo
adulto,sendo que
aestes
sempre coube
o dever de educá-la.Ao
longo dos séculos, os pais tiverampleno controle sobre seus filhos que, muitas vezes,
eram
vítimas dasmais
cruéisatrocidades.
Aos
pais era fornecido total controle sobre sua prole,mas
eles1
passaram
a abusardo poder
lhes conferido, forçando o Estado atomar
a
.
a ser limitado.
O
Estado passou a interviracentuadamente na
vida familiar,exigindo dos pais deveres e obrigações.
A
possibilidade de destituiçãodo
pátriopoder tomou-se
uma
realidade, no' caso deserem
constatadasameaças
àintegridade
da
criança provinda de seus genitores. Limitaramëse, pois, osdireitos dos pais sobre os filhos, tendo
o
Estado se organizado deforma
atomar
conhecimento
dos casos de violência perpetrados às crianças. Surgiram leisque
restringiram os direitos
patemos
sobre o corpoda
criança, procurando resgatar aintegridade física e
moral da
mesma.
Nesse
periodo, as criançaspassaram
a serencaradas
como
cidadãosem
fonnação.Mesmo,
porém,
com
o
caráter interventivodo
Estadono
séculoXIX,
'aproblemática
da
violência doméstica passou a ser discutidacom
mais ênfaseno
|
1
seculo seguinte, por diversos
ramos do
conhecimento, constituindo-seum
dosgrandes
desafios
da pós-modemidade.
Aos
poucos
foram
surgindo contribuiçõescientíficas ao assunto,
fazendocom
que
a temática chegasse aoconhecimento
de'toda a sociedade. '
Constatamos, portanto,
que
esse tipo defenômeno
não
éum
produtoespecífico
do
séculoXX,
porém
foi nesse séculoque
ele setomou
alvo dedenúncias,
além
de ter mobilizado o Estado e a sociedade civilno
seu combate.~
Verificamos, porém, que
a sociedade,em
seus diversos segmentos, aindanao
seconscientizou por
completo
das conseqüências que a violênciapode
.acarretar àscrianças e adolescentes. Pelo -contrário, ela, muitas vezes, participa de
um
amplo
violência desse tipo. Tal atitude faz
com
que
a violência se perpetue, adentrandonovos
séculos.2.2
Desvelando
a violênciadoméstica
contra crianças e .adolescentesConforme
anteriormentemencionado, impera
em
nossa sociedadeum
verdadeiro
“complô”
contra a criança e o adolescente,que
encobre os casos deviolência impostos a eles,
no
universo familiar,com
o propósito de perpetuar aimagem
da
famíliacomo
espaço “sagrado”,como
locus privilegiado de proteçãoa seus
membros. Sabemos, porém, que
a instituição familiar atravessauma
intensa crise, passando a
não
garantir defonna
segura a integridade fisicaou
moral, de crianças e adolescentes, mostrando, muitas.,vezes,
uma
facemais
cruel,Y .
do que
sagrada; logo, a família jánão pode mais
ser consideradao
centro deproteção para seus
membros,
pois viola muitas vezes os direitos fundamentaisque
lhes são próprios.Para
melhor
compreendermos
a violência doméstica contra crianças eadolescentes, tomaremos'
como
base ,conceitual para definição dessefenômeno
oque
se segue: ”'-\
todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis, contra crianças e/ou adolescentes que
-
sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima- implica de
um
lado,numa
transgressão do poder/deverde proteção do adulto e, de outro,numa
coisificação da infância, isto é,numa
negação do direito que crianças eadolescentes têm de ser tratados
como
sujeitos e pessoasem
condição peculiar dedesenvolvimento (Azevedo, 1995, p. 36).
v
\
v
A
autora opta por essa terminologia por ser a maisadequada
para definir ofenômeno
aquiem
evidência.Não
podemos, no
entanto, deixar de lembrarque
há
diferentes tenninologiasempregadas
erroneamente sobreo
assunto,como
abuso-vitimização; disciplina-castigo; maus-tratos-agressão.
Segundo
Azevedo
(1995), a díade disciplina-castigo é a
mais
antiga e tradicionalno
campo
da
educação
infantil,porém
tal terminologia acaba sendo falha, por contar apenasparte
da
verdade dos fatos,uma
vezque
descarta .as agressões sexuais enão
explicita a gravidade das formas de disciplina,
bem
como
de castigo.Com
relação às expressõesmaus-tratos
e agressão, elas igualmente sãoinadequadas por colocarem o
problema da
violênciaem
termos estritamentemorais,
remetendo-o
auma
questão debondade ou
maldade. Agressão,segundo
a
mesma
autora,vem
a serum
termo psicológicoque
padece
da
limitaçãode
_
fm
~
não
ser especificamentehumano.
Mesmo
com
essas restriçoes,no
entanto,o
termo
maus-tratos éum
dosmais
utilizados.A
forma
abuso-vitimização(com
sua atribuição doméstica) constituio
termo
mais
apropriado,na
medida
em
que
designa dois pólos extremos de Lunarelação pautada
no
poder: o pólomais
forte representado pelo adulto (abuso) e omais
fraco, pelos“menores”
.(vitimização); logo, tais termos,segundo
Azevedo
( 1995), indicam as
duas
facesda
mesma
moeda
epodem
ser aplicadospara
designar várias
modalidades
do
fenômeno
que nos
preocupa. _' V
H
m. |
1 \ A _/
Quando,
porem, nos referimos a violencia praticada contra crianças esão os termos violência e/ou violência
doméstica
contra crianças eadolescentes, devido ao fato de esses termos
remeterem
auma
relaçãoassimétrica (hierárquica),
com
fins
dedominação,
opressão e exploração.Vista a conceituação de violência doméstica contra crianças e adolescentes,
deteremo-nos
na
tipologiado
fenômeno
em
evidência.É
de nossoconhecimento que
o autoritarismo dispensado às crianças eadolescentes, adota diferentes “roupagens”.
Às
vezes, manifesta-seem
sua facemais
aguda,quando
os atinge pormeio do
emprego
da
violência fisicaou
semanifesta sutilmente por
meio
da
violência psicológica. “Segundo
Guerra
(1985, p. 15), a violência .praticada pelos pais contra osfilhos,
com
fins
disciplinadoresou
com
outros objetivos,assume
três .facetasprincipais2
F
ísica: quando a coação se processa através de maus-tratos corporais (espancamentos,queimaduras etc. ), ou negligência
em
termos de cuidados básicos (alimentação,segurança etc. ); ' ~
Sexual: quando a coação se exerce tendo
em
vista obter a participaçãoem
práticaseróticas;
Psicológica' quando a coação é feita através de ameaças, humilhações, privação
emocional.
Reforçando
essa conceituação, acrescentamos à questão da negligência'o
fato de ela representar
uma
omissão
dos pais e/ou de outros responsáveisem
prover as necessidades fisicas e emocionais de
uma
criança.A
violência física, é(como
fraturas,hematomas
etc) enquanto a sexual e a psicológica são de difícilf
identificação, devido à sutileza
do
ato violento.O
quehá
decomum
a essas formas de violência é o fato de lesarem osdireitos fundamentais
da
criança. ' `Percebemos,
_pois,que
.a violên_cia-implic_a.noção
de. controle,em
que
uma
pessoa
submete
a outra (relação agressor-agredido), seja por intermédioda
forçafisica
ou
por constrangimento psicológico.A
violência doméstica,porém,
.não .éum
fenômeno
isolado, particular; elainterage
com uma
série de fatores, -dentro deum
contexto de violência estruturalque
será analisado a seguir.2.3 Violência estrutural
x
violênciadoméstica
Entendemos
por violência estrutural ç aquela gerada pelas própriascontradições
do
capitalismo, eque
divide a sociedadeem
classes,em
que
uma
acumula
riqueza às custasda
exploraçãoda mão-de-obra da
outra.Essa
relaçãode
dominação
“violenta”_, intrínseca ao capitalismo, reproduzo
próprio sistema;por isso, estrutural.
Velloso (1991), ao analisar a conjuntura
do
país,afinna
que
um
dos fatoresque agravam
essequadro
vem
a ser a elevada desigualdadena
repartição .dosbens, sendo
poucos
os quedetêm
osmeios
de produção./O sistema capitalistainstaurado, acaba por produzir
um
sistemaintemo
de apartação social,em
que
verificamos
a existência de duas classes distintas.Buarque
(1991)complementa,
,
dizendo
que
encontramos, deum
lado,uma
ampla
parcela populacionalque
“sobrevive”
em
níveis de pobreza extremos e, de outro,uma
minoriaque
vivecom
osmais
sofisticados padrões deconsumo.
Vítimas desse sistema excludentee opressor, muitos brasileiros
acabam
não
tendocomo
gerar recursos paraatender convenientemente suas necessidades de sobrevivência, situação
agravada por elevados índices de
desemprego
e sub-emprego.O
apertheidsocial,
segundo
Buarque
(1991), fruto deste agravamento, evidenciadosobretudo a partir dos anos
90
no
govemo
Collor, ocasiãoem
que
o capitalismobrasileiro se revestiu
com
aroupagem
neo-liberal, acentua aindamais
adesigualdade social. Bussanello (1996, p. 08), ao analisar o neoliberalismo,
/É .
enfatiza que este,
como
ideologia autoritária,instala a “lei da selva” como forma de sobrevivência
humana
e que determinaa
supremacia da liberdade individual sobre a necessidade coletiva.
Essa
“leida
selva” reforçao
capitalismo selvageml instaurado,mostrando
que o
neoliberalismo
nada mais
édo
que o capitalismo travestido deum
novo modelo
econômico
7 sendo omercado
o ande defmidor das re as./O 1 individualismo ea estratificação produzidos pelo capitalismo
ganham
força.com
essenovo
modelo
de sociedade, instaurando amáxima
“cada
um
por si eDeus
por todos”.O
neoliberalismo ataca eminimiza
a responsabilidadedo
Estado -em relação àsquestões sociais;
o
tãosonhado
Estado deBem-Estar
e julgado _e “jogado às-z
1
O
capitalismo no Brasil e' considerado “selvagem”, dado o elevado grau de -expoliaçãoque produz, tanto em
relação ao homem, quanto à natureza. '
traças”.
Com
a criseque
se iniciou nos anos 70,do
modelo
econômico
adotadono
período ditatorial, o neoliberalismoacumulou
forças 'usando-acomo
“pódio”para apregoar sua supremacia.
Nessa
investida, omodelo
neoliberal se fortalece,sendo que,
como
jáexpusemos,
o capitalismo acaba por perpetuar o caos socialpautado
no
individualismo.Mesmo
sendo
esseum
modelo
aindaem
fase deimplementação, seus efeitos já
podem
ser percebidos: constatamoso
“enxugamento” do
Estado,2 as privatizações, odesemprego
e anão
priorizaçãodas políticas sociais, deixando-as sob a responsabilidade
da
própria sociedadecivil.
Geradas
pela violência estrutural, presenciamos hoje,no
Brasil,uma
violência generalizada que,
segundo
Meyer
(1988, p. 14), estácontida
num
“capitalismo selvagem”,em
que se atropelam os direitos humanos,principalmente o direitoà vida, que se expressa
em
desemprego, fome, enfermidade, falta de abrigo e a frustração permanente das aspirações mais legítimas das pessoas.Excluídas pelo sistema, muitas pessoas
acabam
por canalizar suasfrustrações, relativas ao seu
modo
de vida, para a própria família,sendo que
ascrianças e adolescentes
tomam-se
alvos freqüentes dessas fiustrações.Parafraseando
Tobon
apud
Meyer
(1986, p. 14),a
criseeconômica
é0
desencadeador fundamental
da
violência, ea
família o seu reprodutorfundamental.
Em
nossa visão, portanto, a violência imposta pelas relações de/_
.
2
Para os neoliberais, a crise instaurada no país é fi'uto da excessiva intervenção do Estado.
produção
- também
chamada
de violência estrutural- contribui, e muito, para areprodução
da
violênciano
âmbito doméstico.»
Cabe
salientannos,porém, que
a violêncianão
se restringesomente
aouniverso familiar,
mas
também
se faz presente nas diversas esferasda
sociedade.Há, atualmente,
uma
acentuada“onda”
de violênciana
sociedade,rompendo
oslaços de solidariedade e criando
uma
culturaque
procura incentivar a práticada
barbárie. Esse
fenômeno
está presente nas diversas classes sociais, derrubandoo
mito de
que
essa éuma
realidade exclusiva das classesmenos
favorecidas. Talmito é perpetuado devido ao fato de as classes subalternizadas, ao
serem
atingidas pela violência,
tomarem-se
alvo freqüente de denúncias, enquanto asde alto
poder
aquisitivo,em
mesma
situação,buscarem
atendimento particular,pagando
por serviçosmédicos
privados emantendo
discrição frente a essescasos de violência.
De
acordocom
Lesnik-Oberstein (1985), a práticada
violência domésticacontra crianças e adolescentes
também
pode
ser associada ao uso abusivo deálcool e/ou de outras drogas que, ingeridas
em
excessivas doses,podem
levar àperda
da
auto-crítica,além
de desencadearuma
série decomportamentos
agressivos. Outro fator a destacannos,
na
relação violenta entre pais e filhos,segundo Krynski
( 1985), é a própria questão cultural.Há
paisque
acham
corretobater nos filhos, pois essa foi a
educação que
receberam; logo, eladeve
serreproduzida
com
os filhos.Como
agravanteda
violência estrutural e,conseqüentemente,
da
violência doméstica, acrescentamos a permissividadeda
f
×
Z
z
sociedade que, muitas vezes, de acordo
com
Meyer
(1988, p. 14), torna-seindiferente» e até cúmplice de fatos lastimáveis. Para proteger a criança e o
adolescente dessas manifestações violentas, portanto,
encontramos
uma
ampla
legislação
que
se colocaem
prol dos seus direitos; dentre elas destaca-seo
Estatuto
da
Criança edo
Adolescente- ECA.
2.4 Lei 8.069/90: 0
que
preconiza o Estatutoda
Criança
edo
Adolescente?
.
A
conquista dos direitosda
criança edo
adolescente teve seu primeiropasso
em
1959,quando
aAssembléia
Geral dasNações
Unidas aprovou
aDeclaração
Universal dos Direitosda
Criança, enfatizando os dez pontosque
seguem: V
1
-
Direito à igualdade,sem
distinção de raçaou
nacionalidade;2
~
Direito à proteção especial para seu desenvolvimento fisico, mental esocial; -
3
-
'Direito aum
nome
e a urna nacionalidade;4
-
Direito à alimentação, àmoradia
e à assistênciamédica adequadas
para a criança e a
mãe;
A
5
-
Direito à educação e a cuidados especiais, para a criança físicaou
mentalmente
deficiente; _A ‹
_
6
-
Direito aoamor
e àcompreensão
por parte dos pais e da sociedade;7
-
Direito à educação gratuita e ao lazer; ~ .9
-
Direito de ser protegido contra todaforma
de abandono, crueldade e exploração;,`›
10
-
Direito de crescer dentro deum
espírito de solidariedade,compreensão,
amizade
e justiça entre os povos.Outro
passo importante foi a promulgação,em
5 de outubrode
1988,da
Constituição Federal
da
República Federativado
Brasil,em
que encontramos
asíntese de toda a preocupação
com
a criança e o adolescente,condensada
no
caput
do
artigo 227:É
dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,à
educação, ao lazer,à profissionalização, à cultura,
à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, alémde
coloca-los a salvo de toda forma de negligência,discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
1
là
»
Para fazer valer essas palavras,
o Congresso
Nacionalaprovou o
Estatutoda
Criança edo
Adolescente,que
setomou
a lei 8.069/90, de 13 de julho de1990. Trata-se de
uma
legislação progressista,composta
de267
artigos,que
prima
pelocumprimento
dos direitos fundamentaisda
criança edo
adolescente,como
o direito à vida e à saúde, o direito à liberdade, ao respeito e à dignidade,o
direito à convivência familiar e comunitária,
bem
como
o
direito àprofissionalização e à proteção
no
trabalho,de forma
a assegurarque
elessejam
efetivamente
cumpridos
por parteda
família,da
sociedade edo
Estado.9
Segundo
Pereira (1993, p. 52),a
nova lei protege crianças e adolescentes contra toda a forma de violência, garantindoos direitos
com
medidas específicas de proteção, sanções administrativas e penais,ações civis públicas
em
torno dos direitos individuais, difusos ou coletivos. Assegurapolíticas sociais básicas, políticas e programas de assistência social.
A
autora supra citadacomplementa
seu pensamento, enfatizandoque
aaplicação desse Estatuto exige refonnulações e transformações
em
todo oaparelho estatal voltado ao atendimento de crianças e adolescentes.
Em
síntese, oECA
foi instituídocom
o objetivomaior
de protegerintegralmente crianças e adolescentes, garantindo-lhes a condição de sujeitos
além
de remeter ao Estado e à sociedade civil, o dever de assegurar-lhes ocumprimento do
direito às condiçõesmínimas
(e dignas) de sobrevivência e àconvivência familiar e comunitária. '
Cabe
salientarmos que,-anterior ao Estatutoda
Criança edo
Adolescente,temos o
extintoCódigo
deMenores,
lei 6.697, de 10 de outubro de 1979,-que
dispunha sobre a assistência, proteção e vigilância aos menores.3
Como
esseCódigo,
porém,
jánão mais dava
as respostas exigidas pelocomplexo problema
z
em
questão, desencadeou-seum
processo de mobilização nacional,na
tentativade alterar o
Código
deMenores
em
vigência,bem
como
de suscitaruma
nova
legislação nessa área.
O ECA
foi, portanto, fruto de muita mobilizaçãode
3
Aqui, o termo “menor” ainda é empregado para se referir a crianças e adolescentes. Tal terminologia foi
25
setores
da
sociedade civil,preocupados
e envolvidoscom
essa política,o que
significou
um
avanço
em
tennos de legislação.H
O ECA
instituiu afigura
dos Conselhos,em
nível nacional, estadual emunicipal,
bem como
osConselhos
Tutelares, espaços de participaçãodemocrática
da
comunidade na
discussão, implementação,- controle eviabilização das ações
do Poder
Público voltadas às crianças e adolescentes.A
distinção básica entre eles é
que
osConselhos
Nacionais, Estaduais e Municipais dos Direitosda
Criança edo
Adolescenteformulam
a política de proteção àscrianças e adolescentes
nos
âmbitos federal, estadual e municipal,respectivamente, enquanto os
Conselhos
Tutelares fiscalizam sua aplicação._ «_Reforçando o
acima
exposto,Vian
(19/--)afirma
que
osConselhos
dosDireitos
da
Criança edo
Adolescente,segundo
o próprio Estatuto, são órgãosdeliberativos, formuladores das políticas,
além
de articuladores das inciativasde
proteção, e
da
defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Cabe-lhesigualmente propor a mobilização e a participação de toda a sociedade civil
com
relação à proteção -de crianças e adolescentes.
Os
Conselhos Tutelares, por sua~
vez,
têm
como
objetivo atuarna
garantia e prevençao dos direitos das crianças eadolescentes, prestando atendimento àqueles
que
têm
seus direitos violados.~
Com
relaçao à violência praticada contra crianças e adolescentes, citamoso
artigo 59
do
Estatuto,segundo
o qualnenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer ƒorma..de negligência,
discriminação, exploração, violência, *crueldade e opressão, punido na forma da lei
No
que
tange à violência familiar temos, ainda, o disposto nos artigos 4, 13,15, 17, 18,
70
e 130, que rezam:Art. 49:
É
dever da família, da comunidade, da sociedadeem
geral e do Poder Públicoassegurar,
com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida,à
saúde, à alimentação,
à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,à
cultura,à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária;
Art. 13:
Os
casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ouadolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuizo de outras providências legais;
Art. 15:
A
criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade-
como
pessoas humanasem
processo de desenvolvimento ecomo
sujeitos de direitoscivis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
Art. 17:
O
direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquicae moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais;
Art. 18:
É
dever de todos zelar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-osa
salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor; _ _
Art. 70:
É
dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos dacriança e do adolescente; '
Art. 130: Verificada a hipótese de maus tratos, opressão ou abuso sexual impostos
pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar,
como
medidacautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
Tais direitos, contidos
no
Estatutoda
Criança edo
Adolescente,vêm
explicitados de
forma
a preservar-lhes a integridade,além
de primar por suaconvivência social, junto à
comunidade.
São
artigos que lhes propiciamo
desenvolvimento pleno,
como
cidadãos de direito,além
de enfatizar aessencialidade
da
convivência familiarcomo
agente fundamental aodesenvolvimento de seus
membros;
cabetambém
aos pais e/ou responsáveiso
dever
de assegurar os direitos fundamentaisda
criança edo
adolescente, oraTemos,
ainda,com
relação à legislação vigente, osCódigos
Penal e Civilque contêm
artigosque
reforçam o próprioECA.
Mesmo
com
todas as conquistas contidasno
ECA,
a verdade éque muito
_
V
.
pouco do
que preconizao
Estatuto é realmente cumprido..O
Estatuto trazexplicitado
em
váriosdosseus
artigosque
o direito a vida é fundamental;porém
esse direito
não
se restringe à garantia de sobrevivência físicado
indivíduo,mas
busca assegurar-lhe condições psicológicas e sociais dignas,
como
acesso àeducação, assistência preventiva e curativa de saúde e alimentação, entre outros.
E
oque
constatamos atualmente éque
tais direitosnão
estão sendo cumpridos.A
prova disso são as altas taxas de mortalidade infantil;onde
os dados contidosno
Índice deDesenvolvimento
Humanof
de 1993,mostram
que, por dia,morrem
34
mil criançasno
país, de doenças emá
nutrição; milhões delasencontram-se fora
da
escola,somando
3,5 milhões de futuros analfabetos. Frenteao exposto,
chegamos
à conclusão deque
não há
fiscalização necessária parao
cumprimento do
ECA;
portanto _é' fundamentalque
a lei seja efetivamentecumprida, levando à prática os direitos das crianças e dos adolescentes,
procurando assim “estancar” o
fenômeno
da
violência4
O
IDH(Índice de Desenvolvimento Humano), publicado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, destaca os parâmetros da longevidade ou esperança de vida, educação e recursos disponíveis na América Latina, no ano de 1993. `
3
O
Hospital Universitário
ea realidade
da
violênciadoméstica
O
Hospital Universitário-
HU
éum
hospital público, federal, vinculado àUniversidade Federal de Santa Catarina, sendo diretamente subordinado à
Reitoria.
Tem
como
objetivos:I-
Sercampo
de ensino, pesquisa e extensãona
áreada
saúde e afms,em
estreita relação e sob orientação das coordenadorias edepartamentos de ensino
que
nele efetivamente atuam;II-
Prestar assistênciana
áreada
saúdeem
todos os níveisde
complexidade, de
forma
universalizada e igualitária;III
-
Prestar assistência primária, secundária e terciária à população;IV -
Oferecer ensino de graduação deMedicina
edemais
áreas de saúde,para
fonnação
de profissionais;V
-
Ser agente fornecedor de subsídios parafonnação
e treinamentode
pessoal hospitalar.
'
Em
suma,
o Hospital Universitáriotem
como
finalidade sercampo
deensino, pesquisa e de extensão,
além
de prestar assistência àcomunidade da
Grande
Florianópolis e ao Estado de Santa Catarina, deforma
universal eigualitária,
conforme
citado anteriormente, de acordocom
as diretrizesdo
SUS
-
SistemaÚnico
de Saúde.O
Hospital Universitário teve sua inauguração a 2 demaio
de 1980, apósum
período de quinze anos de lutasenvolvendo
professores e estudantes, para que sua concretização fosse possível. Constava_ inicialmentede
uma
unidade de internação de 100 leitos e, atualmente, jáhá mais de 300
leitos
em
funcionamento, distribuídos entre ClínicaMédica,
Cirúrgica, Pediatria,Ginecologia,
UTI
-
Unidade
de Tratamento Intensivo,Unidade
deTratamento
Diabético e Maternidade, tendo sido esta inaugurada
há
menos
de dois anos.Faz-se .necessário salientarmos
que
a política socialdo
HospitalUniversitário visa
promover
a saúde e educação, pelo fato de este serum
hospital-escola.
A
'
0
,
Logo
após a inauguraçãodo
Hospital Universitário,em
1980,o
ServiçoSocial foi nele implantado, sendo -
que, desde então, faz parte
da
equipemultiprofissional." Atualmente, a 'atuação
do
Serviço Socialno
HospitalUniversitário está presente nas clínicas Cirúrgica,
Masculina
e Feminina,Pediatria, Ginecologia;
Àmbulatório
(plantão _eGrupo
Interdisciplinar .deGerontologia);
Banco
de
Sangue,Emergência
e .no trabalho grupalcom
diabéticos, ostomizados e renais.
`
V
Em
nível institucional, o Serviço Social estabelececomo
objetivosde suaação profissional:
0
Atender
àsdemandas
sócio-assistenciais solicitadas pelos pacientes-do
Hospital Universitário;
_ _
0 Favorecer a integração entre os diversos profissionais
que
prestamatendimento à clientela, garantindo
uma
abordagem
globalizada àDesenvolver
pesquisasque evidenciem
fatores intervenientesno
processo saúde-doença;
0 Favorecer ao paciente condições de exercer
maior
controle sobre seuprocesso de tratamento e convivência
com
a enfermidade;Favorecer ações educativas à
comunidade
universitária e .àpopulação
atendida.
Em
síntese, a açãodo
Serviço Social,no
interiordo
Hospital Universitário,dá-se
no
planejamento eexecução
de políticas sociais específicas, viabilizadasna forma
de prestação de serviços à população usuária.3.1
A
Divisãode
Pediatriado
HospitalUniversitárioe
a incidênciade
crianças vitimizadas V
Conforme
jámencionamos, o
Serviço Social tem,como
uma
das áreas deatuação
no
Hospital Universitário, a Divisão de Pediatria. Esse setor teve suaimplantação
em
julho de 1980, capacitada, nessa época, a atenderum
número
de42
crianças,na
faixa etária de O a 14 anos. Atualmente, a internação pediátricadispõe de
30
leitos, sendoque
a faixa etária de crianças atendidas' continua amesma.
A
maioria delas, são portadoras de doenças decunho
social, destacando-se a diarréia, a desnutrição e a desidratação. Essas doenças são determinadas
por
fatores sociais
que
penneiam
a vida dos indivíduos; sãotambém
denominadas
de “sociopatias”.As
doenças respiratórias,porém,
como
bronquite ebroncopneumonia,
entre outras,também
são bastante freqüentes entre ascrianças e
também
têm
forte influência das condições de vida delas.A
Pediatria e'um
dos
poucos
setores que apresentaum
trabalhointerdisciplinar,
formado
por profissionais de Serviço Social, Medicina,Enfermagem,
Nutrição e Psicologia.A
população atendidana
Divisão de Pediatriado
Hospital Universitário écomposta
por 'pessoas de baixopoder
aquisitivo;na
sua grande maioria,extremamente
carente,que não
têm
acesso aos bens materiais básicosnecessários às
mínimas
condições de sobrevivência. ,Frente a essademanda,
oServiço Social atua na' organização de serviços prestados à população;
na
concessão de auxílios concretos;
na
articulação de recursos comunitários,além
do
atendimento direto ao paciente e à sua família.Como
estagiária de Serviço Social,mantínhamos
contatocom
as criançasinternadas e
com
seus familiares.Nessa
relação cotidiana,pudemos
perceberalguns' casos de violência domésticas '
Ao
resgatarmos onúmero
de crianças vitimizadas ali atendidas,no
períodode agosto de 1995 a
dezembro
de 1996, períodoem
que
realizamoso
estágio,deparamo-nos
com
um
universo de 17 criançasóNo
início de 1997, entre osmeses
de janeiro e março, jáforam
atendidos três casos.A
maioria das criançassão vítimas
da
negligência,chegando
ao Hospital Universitárioem
condições de5
Tais casos de violência foram “claramente” percebidos, devido à caracterização do ato violento, expresso por
meio de manchas e hematomas, entre outros. '
6 Os dados
saúde e higiene precárias.
Também
ocorreram casos de violência fisica,manifestando-se por
meio
da
agressão corporal, casos de violência sexualembora
as suspeitas levantadas a respeito, pelos profissionais,não
foram
totalmente esclarecidas.
3.2
Comissão
de
Atendimento
àCriança Vitimizada
Frente ao crescente e significativo
número
de crianças atendidasna
Divisãode Pediatria
do
Hospital Universitário,com
suspeita de negligênciaou
violênciafísica, sexual e até
mesmo
psicológica, criou-se,em
maio
de 1995,uma
~
Comissao
deAtendimento
à Criança Vitimizada,composta
por médicos,enfermeiros, assistente social e psicólogo.
Desde
sua criação, atéo
iníciode
1997, .a
Comissão
já atendeu 21 pacientes e os_encaminhou
aos órgãos.
competentes,
como
oConselho
Tutelar eSOS
Criança.H
A
criação ,desse grupo .vem ao encontroda
orientaçãodo
CEDCA
(Conselho Estadual dos Direitos
da
Criança edo
Adolescente), para atendimento\ `
-
de crianças vítimas de violência e que
tem
por objetivo:0 Manter equipe multiprofissional preparada para identificação de maus-tratos,
acompanhamento e encaminhamento às instâncias competentes, dos atendimentos
realizados na Divisão de Pediatria do Hospital Universitário; ,
'
0 Elaborar e implementar protocolos de atendimento no âmbito do Hospital
Universitário, para estudo do problema; .
` .
0 Deixar a criança, suspeita de maus tratos, na sala de observação da enfermaria
pediátrica, pelo menos 24 horas, para garantir a preservação da sua integridade
física e psicológica e adotar as providências necessárias junto às autoridades
constituídas; _
0 Sistematizar o encaminhamento das informações às autoridades legalmente
constituídas (SOS Criança, Conselho Tutelar, Juizado da Infância e Adolescência e
Promotoria de Justiça), para acompanhamento a nível domiciliar; '
0 Aprofundar,
em
nível teórico, os estudos a respeito do assunto;0 Realizar pesquisas na área; ` '
'
0 H Promover treinamentos para pessoal de saúde e da comunidade, envolvidas
com
oproblema de proteção; '
0 Manter intercâmbio
com
outras 'instituições de saúde e cyins, para troca deexperiências; .
A 0 Organizar biblioteca sobre o assunto; .
_
O Divulgar amplamente para a Instituição e comunidade usuária os órgãos existentes
para atendimento de crianças vitimizadas (Regimento Intemo, 1995).
Mesmo,
porém,
com
a atuação dessa comissão, muitos profissionais aindadesconhecem
sua existência. Tal fatopôde
ser evidenciado ao longo de nossoestágio; ao
mencionarmos
a existência dessaComissão,
nas conversas informais~
estabelecidas diariamente,
ou
ate'mesmo
nas reunioesque
contavam
com
apresença de alguns profissionais, muitos explicitavam
o
totaldesconhecimento
sobre ela. _
Percebemos,
empiricamente,que
em
alguns casos de violência doméstica aação
do
profissional de saúde muitas vezes evidenciavaum
totaldesconhecimento
da questão. Outros profissionaiscom
receio de se“envolverem” demais
com
o
problema,repassavam
o caso para outros.Enfim,
defrontamo-nos
com
alguns casos de violência doméstica e diversas posturasadotadas fiente a eles. Para
melhor compreendermos
essas questões,optamos
por realizar
uma
pesquisa junto aos profissionaisda
Pediatriado
HospitalUniversitário,
englobando
médicos, enfermeiros, nutricionista, psicólogo,assistente social e técnicos de
enfermagem,
com
o intuito de verificar quais asviolência doméstica contra crianças eiadolescentes,
ou
seja,como
concebem
essa questão. _
_
Diante disso,
propomo-nos
a trabalharmais profundamente
a questãoda
violência doméstica, visto
que
esse éum
problema
em
ascençãona
Divisão dePediatria ido Hospital Universitário, privilegiando a representação social dos
profissionais
que
nessa unidadeatuam
sobreo
assunto, pois percebíamos,em
nossa prática de estágio,
que
muitos profissionais sentiam-se inseguros frente a~
um
caso de violência doméstica,ou
entao,tomavam
atitudes diferenciadascom
relação a ele.
Assim, procuramos
conhecer ao longo de nossa pesquisa asRepresentações Sociais dos profissionais
da
Divisão de Pediatriacom
relação àviolência doméstica, mais especificamente,
com
relação à violência praticadacontra crianças e adolescentes,
configurando-se
em
objeto de estudo deste~
Trabalho de
Conclusao
de Curso.\
VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA
CONTRA
CRIANÇAS
E
ADOLESCENTES:
AS
REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS
DOS
PROFISSIONAIS
DA
DIVISÃO
DE
PEDIATRIA
DO
HOSPITAL
UNIVERSITÁRIO
1
Preliminares
Neste
capítuloprocuramos
apresentar a sistematização e análiseda
pesquisa realizada
na
Unidade
de Internação Pediátricado
HospitalUniversitário junto aos profissionais
que
ali atuam, ocasiãoem
que
se procurouconhecer as Representações Sociais deles sobre a violência doméstica contra
crianças e adolescentes. Primeiramente, apresentamos
uma
breve conceituaçãode Representações Sociais, seguida dos procedimentos metodológicos
que
nortearam a presente pesquisa. L
2
Conceituação
de Representação
Social.
Não
é nossa intenção aprofundar esse tema,porém
conceituá-lo, baseando-nos
em
alguns autores. Trata-se deuma
questão complexa, poisnão há
apenasuma
concepção
a respeito.Optamos,
por isso, pelaadoção do
conceitoSegundo
eles, todo indivíduo sente necessidade de interpretar, decompreender
omundo
e os fatos, para poder situar-se frente a eles.As
representaçõescontêm
elementosdo
imaginário social,que
historicamente
foram
sendo construídos, elementos das ideologiasdominantes
ein cada
época
histórica e esses elementostêm
na
basemodos
particulares de~
Ver o real,
como também
motivosou
sentimentosque
se constituemna
razaodessa elaboração.
Nas
representações, por isso,há muito
de simbólico e elascontém
contradições. ,Segundo
Moscovici
apud
Carraro (1995, p. 35), Representações Sociais sãoum
conjunto de conceitos, explicações que se originam na vida diária, no decurso dascomunicações interindividuais. São o equivalente,
em
nossa sociedade, aos mitos esistemas das sociedades tradicionais. Poder-se-ia dizer que são
a
versãocontemporânea do senso comum.
Complementando
esse conceito,Denise
Jodelet,uma
das colaboradorasdo
trabalho de Moscovici, enfatiza:
as Representações Sociais devem ser entendidas
como
o processo do indivíduo seapropriar da realidade exterior, de
um
fato novo e/ou desconhecido e então fazer aelaboração psicológica e social dessa realidade (apud Porto, 1992, p. 33).
Compreender,
portanto, as representações significa apreender o sentidodado
pelos indivíduos às suas atitudes e às razõesque
as sustentam.*
É
a partir desse conceito,embora
suscinto,que
nospropomos
a analisar asUniversitário,
no que
se refere à violência praticada contra crianças, suadetecção, notificação e outras questões
que
nortearam a pesquisa.V
3
Aspectos metodológicos
da
pesquisa
Para viabilizar esta pesquisa,
optamos
pela técnicada
entrevista qualitativaem
que,segundo Mianyo,
o pesquisadorbusca
obter informes contidosna
falados
atores sociais.A
autoracomplementa que
a pesquisa qualitativa trabalhacom
o universo de signifiçados, aspirações, valores e atitudes: correspondea
um
espaço
mais profundo das
relações, dos processos e dosfenômenos
que
não
podem
ser reduzidosà
operacionalizaçãodas
variáveis.Complementando
aautora mencionada, Selltiz
apud
Gil (1987, p. 113), afirmaque
enquanto técnica de coleta de dados,
a
entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam,pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem
como
acerca das suas explicações ou razõesarespeito das coisas precedentes. _
i
Optamos
pela entrevista,como
instrumento de pesquisa, pelo fato de elafavorecer
uma
interação entre entrevistado e entrevistador, estabelecendoum
~
diálogo
em
que
os sentimentos, as percepções e opinioespudessem
fluir.Para obtenção dos dados, utilizamo-nos de
um
roteiro de entrevista semi-estruturado, pelo qual,.
mesmo com
um
elenco de perguntas previamenteatitudes
em
relação ao objetoda
pesquisa,havendo
o diálogo entre entrevistador/ entrevistado. “V
'
r
Na
pesquisa qualitativa, pormeio
dos discursos,podemos
estarevidenciandoas representações expressas
por meio
das falas dos entrevistados.Os
dados quantitativos, porérn,também
foram' utilizadosem
um
determinado
momento
da
pesquisa,em
que
apresentamos os dados relativos àprofissão dos entrevistados e
tempo
de serviçona Unidade
Pediátrica,que não
poderiam
estar sendo qualificados. Taisdados
sóvieram
acomplementar
apesquisa
em
si, pois,segundo
Minayo
(1993),há
um
imbricamento,ou
melhor,uma
interrelação entre os dados qualitativos e os quantitativos,em
que
existeum
complemento
deambos, ou
seja, osdados
concretos são “interlaçados”com
osdetalhes, percepções elaborados
no
cotidiano, excluindo qualquerdicotomia/
. - ¬
Cabe
salientarmos que, dos .profissionaisque
poderiam
estarsendo
entrevistados, selecionamosuma
amostragem
de35%
do
universo total,composto
por45
profissionais (equivalente aos três turnos de atendimentona
Pediatria);
Optamos
por entrevistar os profissionaisdo
turno vespertino,uma
vez
que
foi nesse períodoque
realizamos nossaexperiência de estágio.Dos
entrevistados, apenas
um
faz partedo
período noturno, devido ao fato deque
eleAs
questõesque
noitearam a presente pesquisa foram:-
Quais
as Representações Sociaisque
os profissionais daUnidade
de
Intemação
Pediátricado
Hospital Universitáriotêm
a respeitoda
violência perpetrada contra a criança?
--
Como
tais profissionais se comportam- frente a talproblema?
- “Como
a Instituição Hospital Universitárioencaminha
oproblema?
f
Tenninadas
as considerações acerca dos procedimentos metodológicosque
nortearam a pesquisa, é
chegado
omomento
de iniciarmos a sistematização eanálise
da
pesquisa propriamente dita.4
Sistematização
e análisedos
dados da
pesquisa
Com
relação à profissão dos entrevistados etempo
de serviçona
Unidade
Pediátrica, apresentamos os dados
em
forma
de tabelas.- l
Tabela
1 -r Profissãodos
entrevistadosPfófissioúai Í
T
A i A' 4 - médico ' 26-
enfermeiro 3 20 - assistente social 7 - psicólogo ` 7 - nutricionista V 7 ___ - tecnico de enfermagem g 33 Total __f[_ g I ¬1oo;
GK/|›-lo-I›-1Tabela
2-
Tempo
de
serviçona
Pediatria'
do
Hospital UniversitárioTempo
de serviçoNúmero
%
- há menos de 1 ano O O - entre 1 e 2 anos 4 27 - entre 2 e 5 anos 33 _
-
entre 5 e 10 anos 13 'V `-
entre 10 e 15 anos I 20 ~ - mais de 15 anos . 7 Total E 15 I 100 ›-=bJI\)U1Verifica-se
que
a grande maioria dos entrevistados, faz parteda
equipeinterdisciplinar da Pediatria
do
Hospital Universitáriohá
um
tempo
considerável(mais de cinco anos); logo,
devem
ter presenciado algtms casos de violênciadoméstica contra crianças e adolescentes ao longo desse período.
-'
Identificação dos
casosde
violência'
Para
uma
melhor
compreensão
dosdados
obtidoscom
a pesquisa,optamos
por estrutura-los, estabelecendo categorias
que
nortearam os depoimentos:\ - -
0 Tipos de maus-tratos constatados;
0 Papel
da
família nas situações de violência;0
Causas
da violência;\
0 Atitude dos profissionais diante
da
suspeita de violência doméstica;0 Participação dos profissionais
na Comissão
deAtendimento
à CriançaVitimizada. A