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O usucapião especial rural doutrina e jurisprudencia

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Academic year: 2021

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O USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA

ANDERSON BASTOS bacharelando

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Monografia apresentada ao curso de Direito, como requisito para o título de bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Acadêmico: Anderson Bastos

Orientador: Prof. Paulo Marcondes Brincas

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Banca Examinadora

Prof. Roque Silva Machado

,,\.~, Prof. ~rclO Campos

tsuplente)

I

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prestaram e pelo apoio que me ofereceram nas horas de difícil discernimento próprio.

Rendo meu agradecimento ao Professor Paulo Marcondes Brincas orientador deste trabalho pesquisatório, sempre solícito e compreensivo quanto as minhas limitações.

Rendo meu preito de reconhecimento a Professora Leilane Zavarizzi da Rosa, que me incentivou e se ofereceu primeiramente como minha orientadora e que por falta de disponibilidade horária não pode continuar na caminhada.

Minha gratidão ao Professor Carlos Araújo Leonetti pelo lecionamento da matéria deste trabalho durante a realização do curso, o qual me propiciou os primeiros conhecimentos a repeito do tema, e pelo motivo de ser o primeiro professor a incentivar a feitura dentro do assunto escolhido.

Meu agradecimento ao colega Luiz Eduardo Freysleben pela solicitude sempre ativa em suas ações.

Meu sincero agradecimento a Fabiane Patricia Marquetti, companheira de jornadas noturnas na realizão desta pesquisa, compreendendo e acalmando minhas dificuldades.

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1. INTRODUÇÃO ... 08 2. ASPECTOS GERAIS ... 11 2.1. ORIGEM HISTÓRICA ... 11 2.2. CONCEITO E FUNDAMENTO ... 14 3. REQUISITOS E CARACTERÍSTICAS ... 17 3.1. IMÓVEIS PÚBLICOS ... 17 3.2. ÁREA ... 19 3.2.1. Imóvel rural. ... 19

3.2.2. Usucapião de área de módulo rural. ... 21

3.2.3. Limite da área ... 23

3.2.4. Restrições ao usucapião rústico sobre área indispensáveis 'a segurança nacional. ... 24

3.3. CONDIÇÕES PARA LEGITIMAR-SE. ... 25

3.3.1. Domínio de outro imóve1. ... 25

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3.4. POSSE. ... 31

3.4.1. Continuidade, pacificidade e mansuetude ... 31

3.4.2. Contagem do prazo possessório anterior a Constituição ... 32

3.4.3. Acessio possessionis e sucessio possessionis ... ... 34

3.5. MORADIA PRÓPRIA OU DA FAMÍLIA ... 36

3.5.1. Conceito de família ... 36

3.5.2. Multiplicidade de residências ... 37

3.5.3. Conceito de propriedade familiar ... 38

3.5.4. Propriedade familiar, uma oportunidade para o rurícola ... .40

3.6. A QUESTÃO DO JUSTO TÍTULO E DA BOA-FÉ ... .42

3.7. A PRODUTIVIDADE RURAL ... ... .44

3.8. A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE EM RELAÇÃO AO USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL ... 46

3.9. O PROCEDIMENTO NO USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL ... 52

4. A JURISPRUDÊNCIA ... 55

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 60

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1.

INTRODUÇÃO

Nosso estudo monográfico tem como objeto de pesquisa o usucapião especial rural, instituto previsto no art. 191 da Constituição Federal, abrandado no capítulo referente à política urbana, com supedâneo na Lei n° 6.969 de 10 de dezembro de 1981, estremamente alçado à função social da propriedade.

Abordamos a expressão "usucapião" no masculino embasados nos prInCipaiS doutrinadores que discorrem sobre a matéria, que têm elucidado ser este o gênero da palavra. Entretanto, a utilização do gênero feminino não chega a pormenorizar os adeptos dessa corrente, tendo em vista a consagrada utilização, que, como notório, permite que palavras alteradas, em vários de seus aspectos e conteúdos, sejam aderidas pelo nosso vocabulário.

Notar-se-á no texto, as expressões "usucapião especial rural", "usucapião pro labore", e "usucapião rústico", pois, se guardam algumas diferenças entre si, todas traduzem a mesma idéia.

Feitas os necessários esclarecimentos, cabe-nos ponderar que Visamos, em nosso estudo, tecer breve perfil do usucapião especial rural, com ênfase nos aspectos de direito material e jurisprudencial. Dividimos a tarefa em três partes principais. Na primeira, trataremos dos aspectos gerais do instituto, retroagindo a suas origens históricas, conceituando e fundamentando a espécie usucapional sub examine.

Outros perfi lamentos também serão tratados, como a questão do justo título e da boa-fé, a indivisibilidade do módulo rural paIa fins de usucapião especial rural e a produtividade

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caracterizar a prescrição aquisitiva em comento.

Cuidamos, além disso, mesmo que de maneira perfunctória, da proibição de usucapir imóveis públicos e, ademais, do rito a ser seguido pela ação de usucapião rústico.

Propusemo-nos, com afinco, a elucidar o instituto sob a luz da função social da propriedade, tendo em vista os rumores hodiernos a respeito da questão dos "sem-terra'", discordando da maneira com que vem sendo tratado o assunto por parte das autoridades competentes.

Na terceira parte, dispomo-nos, por outro lado, a apresentar um breve ementário, o que se têm decidido nos tribunais brasileiros; tarefa, aliás, que nos afigurou particular barreira, tendo em vista a dificuldade da coleta jurisprudencial do instituto jurídico em apreço. Para tanto, apresentamos tal rol com o escopo de fornecer alguma noção do que pensam os nossos pretórios no trato desse modalidade usucapional.

Por derradeiro, cumpre-nos ressaltar que, com esta singela pesquisa, não pretendemos, de maneira alguma, liquidar as controvérsias sobre o tema, mas, unicamente, atacar alguns dos principais pontos desse instituto.

O usucapião especial rural é assunto de peculiar relevância, mormente pelas características político-sociais brasileiras, que denunciam uma desproporção alarmante na distribuição de terras.

O intento do legislador ao criar essa modalidade de usucapião foi proteger o "sem-terra" e aqueles que se invadem propriedades com o intuito de colocá-la produzir, gerando alimentos e divisas para si próprio e para o país, municiados pelo instinto natural de sobrevivência.

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Principalmente após o colapso do sistema político-econômico nacional, hoje mascarado, e a eclosão dos movimentos de luta pela terra, alcança importância ímpar o usucapião pro labore, ao lado da usucapião especial urbano, assumindo verdadeiro aspecto de instituição vanguardista na mitigação dos efeitos produzidos em nosso sistema imobiliário, pelas frustradas aventuras econômicas do governo brasileiro, ao longo de nossa história de inoperância e desleixo com as questões sociais.

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2. ASPECTOS GERAIS

2.1. ORIGEM HISTÓRICA

O usucapião, como modo de aquisição da propriedade, é um instituto antiqüíssimo, já previsto no ano 300 a.c. na Lei das XII Tábuas, ou no Código das XII Tábuas (Lex

Duodecimum Tabularum), na Tábua Sexta, inciso I1I, que se intitula "Da propriedade e da posse": "I1I - A propriedade do solo se adquire pela posse de dois anos; e das outras coisas, pela de um ano." As mulheres também eram "adquiridas" através do usucapião após o decurso temporal de um ano e interrompia-se quando a mulher dormisse durante três noites fora do domicílio conjugal. Essa posse, isto é, o usus, exercida sobre a mulher, foi uma das formas de matrimônio na antiga Roma. Posteriormente, o prazo para bens imóveis passou para dez anos entre presentes e vinte anos entre ausentes.

Após, a exigência de uma posse fundada num justo título e na boa-fé, passou a ser necessária para configurar o instituto. Uma série de leis começaram a surgir para edificar o usucapião, regulando prazos, coisas, etc. A Lei Atínia proibia o usucapião para coisas apropriadas por ladrões e receptadores, isto é, de coisas furtadas, as Leis Júlia e Pláucia obstruíam o usucapião de coisas conseguidas através de atos de violência e a Lei Scribônia que impedia o usucapião de servidões prediais.

O instituto, não podia ser invocado pelos peregrinos e nem aplicado aos imóveis provinciais, pela característica quiritária que possuía. Mas, com o decorrer do tempo, Roma começou a adquirir imensos territórios fora da Itália, habitados por esses peregrinos. E, como

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esses peregrinos necessitavam de uma proteção que defendesse a sua posse, acompanhada de boa-fé e justo título, nasceu um edito que passou a venerar a posse desses indivíduos em idênticas condições de um imóvel localizado na Itália, rezando que eles deveriam que ter um mandado reivindicatório para pedir ao magistrado que ele verificasse se o réu se encontrava nas condições mencionadas.

Justiniano, imperador romano, inovou, o instituto, quando então o usucapião ficou caracterizado como sendo um modo de aquisição e de extinção de propriedade, quando fundiu as regras da tongi temporis praescriptio com as do usucapio, que levava alguém a adquirir a propriedade após um longo exercício no tempo.

" Um acontecimento superveniente modificou essa situação. Trata-se do momento histórico da extensibilidade da prescrição, não mais como forma de aquisitiva da propriedade, mas como meio extintivo das ações. Tal inovação foi introduzida pelo Imperador Teodósio, o Jovem, que designou essa nova instituição de caráter extintivo

praescriptio tongissimi temporis" ( DINIZ, 1989: 115).

Assim, surgiram em Roma, duas instituições jurídicas sob o mesmo rótulo: a primeira destinada a extinguir todas as ações e a segunda uma modalidade de adquirir a propriedade, mas as duas partiam elementarmente da ação prolongada no tempo.

" Em razão desse ponto comum os juristas medievais procuraram estabelecer uma teoria de conjunto que Domat assim resume: ' a prescrição é uma maneira de adquirir e de perder o direito de propriedade de uma coisa ou de um direito pelo efeito do tempo'" (DOMA T apud DINIZ, 1989: 115).

Essa teoria, apresentada por Domat, ganhou importância e foi aplicada pelo Código Civil francês, filiando-se monistamente neste critério, sintonizando o usucapião e a prescrição

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outro de prescrição aquisitiva.

Deste modo, da prescrição aquisitiva ongmou-se o usucapião, que como Iremos demostrar vislumbra uma enorme importância para os anseios sociais, configurando um potencial para diminuir as diferenças econômicas atuais.

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2.2. CONCEITO E FUNDAMENTO

Conceitua-se o usucapião como uma fonna originária de aquisição da propriedade, ou de outros direitos reais suscetíveis de apropriação material, através da posse continuada, durante certo espaço de tempo, com a observação dos requisitos em lei estabelecidos.

A origem da palavra "usucapião", tem procedência do latim, usu capere, isto é, adquirir pela posse, através do uso. No latim o sinônimo é usucapio.

Muitos autores denominam o usucapião de prescrição aquisitiva, entendendo que a prescrição é um meio de extinção das ações relativas aos direitos e um meio de aquisição desses mesmos direitos.

"Lafayette, vendo no usucapIaO uma prescnçao aquisitiva, incontestavelmente um modo particular de adquirir o domínio, define-o como Modestino, Mackeldey, Muehlenbruck e Maynz, como 'modo de adquirir a propriedade pela posse continuada durante um certo lapso de tempo, com requisitos estabelecidos na lei'" (FERREIRA, 1994: 295).

Destarte, pela posse prolongada e qualificada, isto é, com observância dos ditames legais exigidos, da coisa, adquiri-se a propriedade e outros direitos reais como o usufruto, uso, habitação enfiteuse, servidões.

Não há um entendimento unânime na doutrina de ser o usucapião um modo originário ou derivado de aquisição da propriedade. Doutrinariamente, a propriedade pode ser adquirida através desses dois modos. No modo originário, a aquisição da coisa pelo adquirente é realizada diretamente, não sendo esta propriedade transmitida por qualquer outra pessoa. No

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que se adquira a propriedade.

Essa distinção se toma importante pelas consequências que traz posteriormente. Tratando-se de modo derivado, o sucessor adquire o bem com as restrições e limitações que existiam anteriormente à transmissão que marcavam o bem quando ainda estavam nas mãos do seu antecessor, porque não se pode transferir mais direitos do que se tem. Assim, colocado em dúvida algum direito do adquirente, pode este recorrer aos direitos do alienante e dos anteriores donos.

Quando o assunto é o modo originário de aquisição proprietária, a pessoa adquire a coisa sem vícios anteriores, isto é, recebe o bem sem qualquer limitação.

"Todavia, pelos princípios que presidem as mais acatadas teorias sobre aquisição da propriedade é de aceitar-se que se trata de modo originário, uma vez que a relação jurídica formada em favor do usucapiente não deriva de nenhuma relação do antecessor" (DINIZ, 1989: 116).

Por não existir um ato de transmissão voluntária da propriedade, um vínculo entre o usucapiente e algum antecessor, consideramos o usucapião um modo originário de aquisição proprietária, não guardando vícios nem limitações anteriores. Simplesmente desaparece uma propriedade e nasce outra, sem alienação, mas surge, esta última em razão da posse exercida pelo usucapiente.

o

transmitente da coisa (objeto do usucapião) não é o primitivo proprietário, mas o Poder Judiciário, que através de sentença declaratória, reconhece o direito, e confirma a situação antes de fato, agora uma situação jurídica. Perece assim a ação reivindicatória pela falta de objeto, ou seja, o bem usucapido, que não poderá mais ser reivindicado legitimamente.

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"Enfim, Limongi França assim o expressa: 'usucapião é um modo originário de adquirir a propriedade, fundada principalmente na posse continuada do objeto, de acordo com os requisitos previstos em lei'" (LIMONGI apud NADER, 1995: 12).

Existe, praticamente, uma unanimidade quando a doutrina aponta o fundamento do usucapião. O usucapião se fundamenta na estabilidade e na segurança da propriedade, estabelecendo um certo prazo, sob o qual não pairem mais dúvidas ou contestações. É a consolidação da propriedade, atribuindo a esta, antes uma situação fática, agora uma situação jurídica. Assim, estimula o legislador a paz social, atribui uma função, também social à

propriedade, e prestigia quem trabalha o bem usucapido.

"O objetivo do usucaplao é acabar com a incerteza da propriedade, assim como assegurar a paz social pelo reconhecimento da propriedade com relação àquela pessoa que de longa data é seu possuidor, nos casos juridicamente possíveis" (FERREIRA, 1994: 296).

Somente o tempo, entretanto, não vale, por si próprio, para constituir direito ao usucapião. É necessário um fato humano. Unidos, tempo e interação humana, em virtude da norma estabelecida, geram direito ao usucapião, tornando-o um fator de aquisição da propriedade.

Existe um interesse social de que o legislador se utilize da negligência do primitivo proprietário para agraciar àquele que, durante muito tempo de labor, de ação e esforço, colocou o bem nos trilhos da utilidade e do interesse social. O usucapiente, com essas qualidades não pode pagar por uma violação de um direito não reclamado. A inércia do proprietário leva à consolidação de seu prejuízo.

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3. REQUISITOS E CARACTERÍSTICAS

3.1. IMÓVEIS PÚBLICOS

Anterionnente ao Código Civil, eram imprescritíveis os bens públicos de uso comum, sendo usucapíveis os de uso especial e os dominicais, com prazo de quarenta anos.

Com a vigência do Código Civil, iniciada em 10 de janeiro de 1917, estabeleceu-se,

desde então, através do seu art. 67, a imprescritibilidade dos bens públicos, qualquer que seja a sua natureza: de uso comum, de uso especial e os dominicais.

Atualmente, está disciplinado no Código Civil pátrio, que constituem bens públicos os seguinte imóveis:

I - Os de uso comum do povo, tais como os mares, rios, estradas, ruas e praças.

II - Os de uso especial, tais como os edificios ou terrenos aplicados a serviço ou estabelecimento federal, estadual ou municipal.

IH - Os dominicais, isto é, os que constituem o patrimônio da União, dos Estados, ou dos Municípios, como objeto de direito pessoal ou real de cada uma dessas entidades.

Na última categoria afinnada pelo Código Civil, encontram-se os bens dominicais, e dentro destes estão inseridas as terras devolutas.

'"terras devolutas não são todas aquelas terras pertencentes à União e aos Estados, mas apenas aquelas que lhes advieram, originariamente, da

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conquista do território brasileiro por Portugal" (BORGES, 1994: 52).

Assim, consideram-se terras devolutas aquelas que, não sendo bens próprios nem aplicadas a algum uso público federal, estadual ou municipal, não se incorporam regular e legitimamente ao domínio privado.

A Constituição Federal de 1988, promulgada no dia 5 de outubro, reza em seu artigo 191, parágrafo único, que os bens públicos não serão adquiridos por usucapião.

A questão das terras devolutas, deve, nesse particular, ser revista, talvez por lei complementar, dando a possibilidade legal para ser ela adquirida por usucapião especial rural, porque sendo considerada bem público e estando esta não cumprindo sua função social, ou seja, improdutiva, nada mais justo que assegurar àquele que, com seu esforço, coloque esta terra a produzir.

"A redação do artigo 191, parágrafo único, que trata de imóvel rural, é idêntica à do artigo 183, parágrafo 3 o, que trata de imóvel urbano, onde

não há terras devolutas. Podemos e devemos dar a lei, seja ela qual for, a interpretação mais coincidente com os anseios sociais, mas isto quando o texto nos permite, através do mecanIsmo normal de interpretação: análise gramatical, análise lógica, análise sistemática, análise sociológica"(BORGES, 1994: 164).

Ainda assim, nada impede uma interpretação que favoreça o desenvolvimento social e econômico, admitindo-se que o usucapião especial rural incida sobre terras devolutas improdutivas que ficam à mercê de um estado latifundiário, que não opta pelo avanço sustentado preferindo a pobreza e o arredio social.

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3.2. ÁREA

3.2.1. Imóvel Rural

A polêmica que envolve este instituto jurídico básico do direito agrário, e que por determinação constitucional, envolve também o usucapião especial rural, está na definição sobre o que seja imóvel rural e sua confrontação com o conceito de imóvel urbano.

Para certos indivíduos, o critério diferencial residia na destinação. Assim, sendo o imóvel destinado à simples moradia, ao comércio ou à industria, era urbano~ e se destinado à pecuária ou à agricultura, rural ou rústico.

Linha divergente é seguida por aqueles que adotam a posição toográfica ou pela situação. Deste modo, urbano é o imóvel que está situado dentro do perímetro da urbs, que para imposto territorial urbano, e rural o imóvel que está fora do perímetro urbano, pagando imposto territorial rural. " ... podem ser rurais ou rústicos e urbanos, conforme a sua situação seja dentro ou fora dos limites das cidades, vilas ou povoações" (LIMA apud FERREIRA, 1994: 171).

Importante estabelecer o conceito de imóvel rural conforme a legislação, que se tem revelado vacilante e tumultuada. Primeiramente, o Decreto n° 55.891, de 31 de março de 1965, procurou encerrar a polêmica optando pela teoria da destinação. O Estatuto da Terra em seu artigo 5°, verbis:

"Imóvel rural é o prédio rústico, de área contínua, qualquer que seja a sua localização em perímetros urbanos, suburbanos ou rurais dos municípios, que se destinem à exploração

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extrativa, agrícola,pecuária ou agroindustrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada".

A lei n° 5.172/66, posterior ao Estatuto da Terra, aprofundou a polêmica, trocando a teoria da destinação pela da localização. O Decreto-Lei n° 57/66 retirou da categoria de imóvel urbano todo aquele que comprovasse a utilização de exploração extrativista, ou seja pela destinação, retornando o conceito do Estatuto da Terra.

verbis:

Surgiu a Lei 5.868/72 que revogou o Decreto-LeiO 57/66 orientando em seu artigo 6°,

"Para fim de incidência do Imposto sobre Propriedade Territorial Rural, a que se refere o artigo 29 da Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966, considera-se imóvel rural aquele que se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal ou agroindustrial e que, independentemente de sua localização, tiver área superior a 1 (um) hectare".

Definindo o que é imóvel rural esta Lei, por exclusão, evidenciou o imóvel urbano, sendo aquele que, qualquer que seja a sua localização, destinar-se ao comércio, à industria, à recreação ou atividades tais como hospitalar, escolar, etc., incidindo sobre estes o Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana.

Atualmente, para a melhor solução da matéria, tem que se ter como requisito básico o problema da reforma agrária. Isto é, o que tem que dominar é a significação específica que a expressão "imóvel rural" tem no âmbito da reforma agrária. Assim, a definição caminha no sentido de que imóvel rural é o que se encontra topograficamente no campo. Óbvio é que, se o município tem características rurais, e o imóvel se localiza em seu perímetro urbano, este

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e cuja destinação econômica, efetiva ou potencial, tem agrariedade" ( NASCIMENTO apud FERREIRA, 1994: 173).

Recentemente, a Lei n° 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, artigo 4°, I, determinou um critério de destinação para o imóvel rural definindo-o como: " ... o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja sua localização, que se destine ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agroindustrial".

Deste modo, esta Lei veio a afirmar que o imóvel rural é todo aquele que se destine a uma atividade agrária, ou ainda, que possa se destinar a uma atividade com essa característica.

3.2.2. Usucapião de área de módulo rural

O vocábulo "módulo" já existe há muito tempo do vernáculo agrário, com o significado de quantidade equivalente a uma unidade de qualquer medida. Surgiu esta definição em nosso direito desde o Estatuto da Terra.

"Módulo rural é a quantidade mínima de terras previstas no imóvel rural para que não se transforme em minifúndio; é a quantidade fundamental da terra. A área inferior ao módulo chama-se minifúndio; a área superior é nominada de latifúndio" ( FERREIRA, 1994: 209).

Equivale, o módulo rural, à área da propriedade familiar, que é variável de região para região, como também deve estar de acordo com o tipo de exploração agrária da gleba.

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Para evitar a fonnação de minifúndios, fragmentando-se o imóvel rural, o Estatuto Terra, Lei nO 4.504/64, em seu artigo 65, veda a divisão do imóvel em áreas de dimensão inferior à do módulo da propriedade rural. Esta proibição encontra guarida na dupla função do módulo rural, quais sejam, o bem-estar do agricultor e a estabilidade econômica.

o

módulo rural deve ser fixado atendendo as seguintes características: a) uma medida de área; b) a área fixada para a propriedade familiar; c) varia de confonnidade com o tipo de exploração; d) varia de acordo com a região do País em que o imóvel rural se acha localizado; e) implica um mínimo de renda, que deve ser identificada pelo menos com o salário mínimo; f) a renda deve assegurar ao agricultor e sua família a subsistência, e por conseguinte, o progresso econômico e social; g) é uma unidade de medida agrária que limita o direito de propriedade da terra rural.

Quando o módulo rural da região for superior a 50 (cinquenta) hectares, considerando a sua característica de indivisibilidade, admite-se o usucapião rural, desde que preenchidos os demais requisitos do artigo 191 Constituição Federal.

Nesse sentido, já decidiu o Egrégio Supremo Tribunal Federal pela indivisibilidade do módulo rural, com base no Estatuto da Terra, em seu artigo 65.

"Estatuto da Terra - art. 65 - Divisão da gleba. 1) Ex vi dos arts. 65, da Lei 4.504/64, e 11, do Dec.-Lei 57/66, é inadmissível a divisão da gleba em quinhões menores do que os módulos, ainda que para fazer cessar o condomínio entre os co-proprietários.

2) O fim da lei, no caso, é o de evitar a proliferação de minifúndios anti econômicos, e deve preponderar sobre a literalidade do dispositivo. (Ementa ao ac. de 17-5-1974, no RE 78.048-SP, la. T. do STF, ReI. Min. Aliomar Baleeiro, RTJ, 73:860)" (FERREIRA, 1994: 211).

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No mesmo sentido decidiu sobre a indivisibilidade do módulo rural o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, e a ementa do acórdão é a seguinte:

3.2.3. Limite da área

"Estatuto da Terra - Módulo -Área mínima. Ação divisória e demarcatória. A proibição de desmembramento do imóvel em áreas de tamanho inferior ao quociente da área total pelo número de módulos constantes do certificado de cadastro, só se aplica aos casos de transferência da propriedade por ato entre vivos ou por direito hereditário, excluída a divisão do condomínio. Aplicação dos arts. 65 da Lei 4.504/64, e 11 do Dec.-Iei 57/66

(RTJ, 52:331)" (BORGES, 1994: 151).

O limite da área para a possibilidade de usucapião especial rural é imposta pela Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988, tendo como teto máximo a quantia de 50 (cinquenta) hectares, traçado pelo artigo 191 do referido diploma legal.

Surge a possibilidade de, sendo o módulo rural do local onde estiver o imóvel situado superior a quantia exigida pela Constituição, usucapir ruricolamente, fração de terra maior que 50 (cinquenta) hectares, tendo em vista a indivisibilidade do módulo rural, já afirmado pelo Supremo Tribunal Federal com objetivo de evitar a formação de minifúndios, e em consequência o empobrecimento econômico do agricultor.

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3.2.4. Restrições ao usucapião rústico sobre áreas indispensáveis à segurança nacional

São insusetíveis de usucapião os imóveis de uso das Forças Armadas ou destinados a seus fins e serviços, e os terrenos de marinha e seus acrescidos, essenciais à execução da política de segurança nacional, assim como quaisquer outras terras públicas não-devolutas.

Também não incindirá sobre áreas de interesse ecológico, consideradas como tais as reservas biológicas ou florestais e os parques nacionais, estaduais ou municipais.

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3.3. CONDIÇÕES PARA LEGITIMAR-SE

Qualquer pessoa habilitada pelo texto constitucional a adquirir por usucapião deve possuir o imóvel como seu, dispondo da coisa com intenção de dono e com o direito de defendê-la contra turbações de terceiros.

O artigo 191 da Constituição traz todos os requisitos necessários para a obtenção da área posta em questão para aquisição da propriedade através do usucapião especial rural. Dentre eles, não ser proprietário de outro imóvel, ânimo de dono, prazo de cinco anos ininterruptos, sem oposição, área em zona rural, não superior a cinquenta hectares, produtividade da área a ser usucapida, moradia própria ou familiar.

3.3.l. Domínio de outro imóvel

O artigo 191 da Constituição Federal de 1988, traz uma causa impeditiva da prescrição aquisitiva rural especial, qual seja, o domínio, pelo usucapiente de outro imóvel urbano ou rural.

Ao dispor essa proibição, acertou o legislador, pOIS está se cuidando de um fundamento essencial ao instituto.

É uma forma aventada para a solução do problema rural, ou seja, uma pequena reforma agrária, denominada por alguns de usucapião de solo rural e por outros de usucapião pro labore.

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onde semear, onde cultivar, enfim, onde trabalhar e morar com sua família, e não favorecer àqueles que dispõem de outras terras.

Ressalte-se, entretanto, que a propriedade de outro imóvel em decorrência de direito sucessório não é causa obstativa à concretização do usucapião desde que se proceda à renúncia da herança.

A imposição constitucional da vedação de o prescribente ser proprietário de outro imóvel, rural ou urbano, recai somente durante o lapso prescricional, isto é sobre o qüinqüídio aquisitivo. Nada obsta, por exemplo, que o adquirente tenha outro imóvel depois de decorrido o prazo legal de 5 (cinco) anos.

"Entendemos não ocorrer qualquer empecilho, pois não se exige que ele nunca tenha sido proprietário, mas apenas que não o seja, no momento de postular judicialmente o seu direito. É o que se conclui, da forma pela qual se expressa a lei" (NADER, 1995: 41).

3.3.2. Cônjuge possuidor de outro imóvel

Poderá ainda, ocorrer o usucapião especial rural quando este for requerido por um possuidor, cujo cônjuge tiver algum imóvel em seu nome. Com propriedade no assunto, N. NADER (1995: 41 e 42) doutrina:

"Ressalte-se, em primeiro lugar, que ambos deverão, necessariamente, participar da ação, qualquer que seja o regime de bens entre eles. Se o regime for o da comunhão universal, em que todos os bens, presente e futuros se comunicam, será curialmente impossível o usucapião em tela,

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mesmos. Sendo o da separação, não se dando a comunicação dos bens presentes e futuros, e continuando cada cônjuge proprietário exclusivo do que é seu, entendemos não haver impedimento ao mesmo. Se for o da comunhão parcial, importa saber, inicialmente, se o imóvel existente em nome do cônjuge está ou não excluído da comunhão. Não estando, 'tol1itur quaestio'. Estando excluído, será também, em princípio improcedente o usucapião, pois a área usucapida se comunicará ao outro cônjuge, de acordo com a regra da comunhão de aquestos, vigente neste regime, e seria assim violado um dos princípio basilares da Lei n° 6.969/81, que é o de permitir o usucaplao especial só a quem não tem propriedade imóvel".

Assim segundo esse ensinamento, surge a possibilidade do usucapião especial rural, quando o cônjuge, por exemplo, tiver outro imóvel, rural ou urbano, e o regime de casamento adotado entre ambos for o da separação, no qual os bens futuros e os presentes não se comunicam, e sendo deste modo, fica garantido a prescrição aquisitiva especial rural ao cônjuge que não disponha de outro bem imóvel.

3.3.3. A possibilidade de usucapir mais de uma vez

Ao tratar do usucapião especial rural, a Carta Magna, deixou em aberto a possibilidade de se ver reconhecido o direito à prescrição mais de uma vez. Mas, é de se lembrar que na modalidade de usucapião especial urbano a Lex Mater, em seu artigo 183, parágrafo 2°, dispôs o não reconhecimento mais de uma vez ao mesmo possuidor.

o

artigo 19 I, que trata da espécie rural, não traz nenhuma vedação ao seu exercício por mais de uma vez.

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Assim, toma-se possível o reconhecimento do usucapião especial rural se acontecido o fato supra citado, uma vez que o legislador deixou de infonnar a sua impossibilidade.

3.3.4. A situação do estrangeiro

A expressão utilizada pela Constituição Federal para detenninar qual tipo de pessoa que pode beneficiar-se com o usucapião especial rural é a seguinte: "Aquele que ... ". Daí decorre que os beneficiários podem ser qualquer pessoa fisica, nacional ou estrangeira.

A pessoa fisica estrangeira pode, à evidência, usucapir terras particulares, obedecendo aos seguintes requisitos:

a) prove a posse ininterrupta por 5 anos; b) tenha residência pennanente no território nacional (Ato Complementar n° 45, de 31-1-1969, art. l°; Lei nO 5.709, de 7-10-1971, art. 9°), durante mais de 5 anos, de fonna legalmente documentada; c) não seja proprietária; d) não esteja proibida pelas regras de exclusão da Lei n° 6.969, art. 3°; e) não seja proprietária de imóvel rural e urbano que possua como seu; f) tenha posse sem oposição; g) a área que ocupe não seja superior a 50 hectares; h) tome o imóvel rural produtivo pelo seu trabalho ou de sua família; i) tenha nele sua moradia" (OPITZ apud FERREIRA, 1994: 304).

É evidente que a pessoa jurídica não pode legitimar-se na obtenção da prescrição aquisitiva rural, porque lhe faltam os requisitos. O trabalho exercido na área de terra rural, deve ser realizado pela pessoa física, por si e por sua família. É indispensável o cultivo, familiar ou pessoal, admitindo-se até um pequeno número de empregados.

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arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional".

Em consequência, os diplomas legais, avaliados anteriormente, poderão sofrer no futuro alterações pela lei que vier a regular o dispositivo vazado pela Constituição.

3.3.5. Ânimo de ser dono

Um requisito para a obtenção do reconhecimento da propriedade através do usucapião especial rural é o animus domini, isto é, a intenção de ser o dono do imóvel durante o lustro legal. A intenção de ter a coisa como sua é um requisito psíquico, que integra-se à posse.

"Excluindo-se, igualmente, toda posse que não se faça acompanhar do intuito de ter a coisa para si, como a posse direta do locatário, do credor pignoratício, do comodatário, do usufrutuário, do promitente comprador, que, embora tendo o direito à posse, que os possibilita de invocar os interditos para defendê-Ia contra terceiros, ou contra o proprietário do bem, não podem usucapir, porque sua posse advém de título que os obriga a restituir o bem, não podendo, portanto, adquirir essa coisa" (PEREIRA apud DINIZ,

1989: 120).

Sendo a posse advinda de título que obriga o possuidor à restituição da coisa, isto é, uma posse viciada com a precariedade, esta não dá ensejo à aquisição da propriedade, seja qual for a modalidade de usucapião.

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"Para usucapir deve-se possuir o bem como se lhe pertencesse. A posse direta oriunda de uma dessas causas não dá origem à aquisição da propriedade por meio de usucaplao, por ser precária, ou seja, dura enquanto durar a obrigação de restituir, e além dessa a precariedade não cessa nunca" (DINIZ, 1989:

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3.4. POSSE

3.4.1. Continuidade, pacificidade e mansuetude da posse

O artigo 191 da Constituição Federal traz no caput a descrição das características

possessórias que assegura a prescrição aquisitiva rural, ou pro-labore, sendo uma delas, o

prazo de cinco anos, de modo ininterrupto e sem que tenha existido oposição.

A posse exercida pelo prescribente deve conter características indispensáveis à manutenção do requisito objetivo do usucapião especial rural. A posse tem de ser mansa e pacífica, sendo exercida sem oposição do legítimo proprietário, contra quem se pretende ver declarada sua aquisição proprietária. Sendo a posse perturbada por quem de direito, que se mantém atento na defesa de seu domínio, fica faltando um requisito para o usucapião.

"Requer-se, ainda, a ausência de contestação à posse, não para significar que ninguém possa ter dúvida sobre a conditio do possuidor, ou ninguém

possa pô-la em dúvida, mas para assentar que a contestação a que se alude, é a de quem tenha legítimo interesse, ou seja da parte do proprietário contra quem se visa a usucapir" (PEREIRA, 1990: 105).

Para a configuração do usucapião especial rural, faz-se mister a atividade singular do possuidor e o desinteresse, isto é, a passividade do proprietário e de terceiros de direito, não opondo-se a posse do usucapiente.

Para que reste caracterizada a interrupção da lapso prescricional que se confere ao usucapião pro-labore, necessita-se, como antes afirmado, que a oposição seja justificada

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juridicamente, pOIS não encontra guarida no Direito a reclamação descabida à posse do prescribente, mantendo-se assim a decurso prescricional aquisitivo completamente inatingido. Outro ponto importante no respeito a interrupção do envólucro aprazado pela Constituição, é a oposição oferecida, pelo proprietário ou por quem de direito, fora do tempo hábil. Feita a impugnação fora do tempo, o prazo usucapional mantém-se intacto porque a propriedade já encontra-se consolidada, tendo em vista o caráter declaratório da decisão judicial.

Precisa, ainda, a posse ser exercida sem intermitência ou intervalos, isto é, de forma contínua, produzindo atos dos quais resulta o gozo, a fruição, sem omissões do possuidor.

"Contínua é a que, durante o prazo exigido em lei, não apresenta lacunas, ou seja, na sucessão ordenada e regular dos atos possessórios, eventuais intervalos entre um e outro são reduzidos, não constituindo efetivas omissões ou abandono" (PACHECO, 1993: 23).

A inobservância, o descuidado, a omissão, por quem de direito, deve ser entendida como um sinônimo de pacificidade e mansuetude possessória, conduzidas a um non facere do proprietário ou de terceiros. Diante disto, a não oposição perante a posse do usucapiente e o intuito deste de mover ações que lhe reconheçam a propriedade, isto é, com animus domini

continuatio, são fatores que, interligados, dão ensejo a aquisição, formando a essência

usucapional.

3.4.2. Contagem do prazo possessório anterior a Constituição

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já era este instituto previsto desde a Constituição de 1934.

Perdurou o instituto nas Constituições de 1937 e 1946, padecendo alterações na Emenda Constitucional na 10 de 09111/64. Em 1964, passou a ser delineado pelo Estatuto da Terra, Lei na 4.504, em seu artigo 98. A Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional na I de 1969 nada acrescentaram acerca do instituto. Com a entrada em vigor da Lei na 6.969/81, revogou-se o Estatuto da Terra, trazendo lapso usucapional rural de dez anos para cinco anos. E a última Lex legum, abordou o instituto em seu artigo 191, mantendo o prazo para aquisição proprietária do usucapião especial rural para cinco anos, aumentando a área para 50 (cinquenta hectares).

Em sendo esta modalidade um instituto já consagrado em nosso ordenamento jurídico, e, relativamente às situações anteriores a Constituição, em que o lapso prescricional de cinco anos para o usucapião pro labore, exigido pelo artigo 1

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da Lei na 6.969/81, se tiver transcorrido, a questão permanece regulada inteiramente por aquela lei, mesmo quanto às terras devolutas.

"a aquisição do direito de propriedade, através do usucapião, ocorre desde o momento em que o usucapiente preenche os requisitos para usucapir, e não da sentença judicial que o reconhece, pois esta é simplesmente declaratória, limitando-se, assim, a declarar uma situação jurídica preexistente. No que conceme às situações posteriores à Constituição, ou naquelas em que a prescríção aquisitiva estava ainda em curso quando do seu advento, aplica-se a Lei na 6.969/81, apenas no que não estiver derrogada ou modificada pelo artigo 191 e outros preceitos da Lei Maior" (NADER, 1995: 35).

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Nas situações posteriores à Constituição, e naquelas em que o lapso estiver em curso durante a sua promulgação, aplica-se a Lei n° 6.969/81 no que não contrariar o disposto no artigo 191 da Lex mater.

3.4.3. Acessio Possessionis e Sucessio Possesionis

Em 1850, a Lei n° 601, de 18 de setembro, também denominada de Lei de Terras, em seu artigo 5°, consignou a legitimação das posses mansas e pacíficas, adquiridas por ocupação primária, ou havidas do primeiro ocupante que se encontrassem cultivadas, ou com princípio de cultura, e morada habitual do respectivo posseiro, ou de quem o representasse.

Atualmente, pelo artigo 496 do Código Civil, "O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais". Esse preceptivo legal aplica-se apenas em parte ao usucapião especial rural.

"Quanto ao prazo para o usucapião, admite-se que o possuidor compute em seu favor a posse do seu antecessor. Existem duas situações distintas: ou a sucessão foi a título singular e então o novo possuidor tem uma opção entre continuar a posse do anterior ou iniciar uma posse nova; ou então ocorreu a sucessão a título universal e o sucessor é obrigado a continuar a posse do sucedido. Algumas vezes há interesse e iniciar posse nova quando a anterior estava inquinada de algum vício e o decurso de novo prazo ensejaria uma aquisição mais rápida da propriedade pelo possuidor" (WALD, 1991: 154-155).

Nas modalidades de usucapião previstas no Código Civil, para que a ação usucapional proposta pelo sucessor universal logre êxito, cabe-lhe provar a mansidão e pacificidade da

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universal.

"A acessão da posse não é admitida, salvo no caso de sucessão, onde para herdeiros pode-se computar-se a posse exercida pelo antecessor. Quanto ao usucapião rural, é indispensável que o possuidor tenha tomado a propriedade 'produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela a sua moradia'. Nesta espécie também não é possível a acessão da posse, com a única exceção atrás vista" (PACHECO, 1993: 42).

Quanto à acessão da posse, ao que nos parece, é absolutamente inadmissível no usucapião em comento, porque, não fosse assim, estar-se-ia descumprindo os requisitos da posse pessoal e para moradia. Lembre-se que, se na sucessio possessionis (sucessão universal) há uma continuidade de posse já existente, pelo que a posse do sucessor pode ser tida como pessoal, se membro da família e residente no imóvel, na acessio possessionis (sucessão singular) há soma de posses diferentes, o que inviabiliza considerá-la pessoal.

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3.5. MORADIA PRÓPRIA OU DA FAMÍLIA

3.5.1. Conceito de Família

A designação constitucional do requisito "moradia própria ou de sua família" traz a consciência de coletividade, isto é, a função principal desta imposição é de proteger o maior número de indivíduos possíveis, acarretando assim, uma melhor perspectiva social e econômica para o agricultor e os seus. Família é a menor união social dentro da sociedade. Fortalecendo esta "unidade-mãe", a Constituição pretendeu embasar, solidamente, toda a estrutura social.

Essa moradia habitual pelo prescribente, tem como fundamento um fim social perseguido pelo preceito constitucional, ao consagrar essa modalidade de usucapião, a fixação do homem, e de sua família, ao campo.

Como já dito, imprescindível que a posse do imóvel rural tenha por desiderato a "moradia" do possuidor ou de sua família.

Esse requisito é inerente ao fundamento pelo qual foi criado o instituto, visto que voltado à mitigação do problema indiscutivelmente grave dos "sem-terra", verdadeiro exército de andejos maltrapilhos que passam as noites ao relento, orvalhando, em pedaços de terra, ultrapassando cercas, e, como acontecido diante de nossas vistas, morrendo perante de tanta falta de justiça social.

Nesse contexto, há de considerar-se "família" não apenas aquela advinda do casamento civil, ou do religioso com efeitos civis, mas, também, a proveniente da união estável entre homem e mulher.

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reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento" (art. 226, § 3°).

"que somente a família de fato surgida do concubinato puro encontra-se amparada pelo supramencionado dispositivo constitucional. O concubinato será puro se se apresentar como uma união duradoura, sem casamento civil, entre homem e mulher livres e desimpedidos, isto é, não comprometidos por deveres matrimoniais ou por outra ligação concubinária" (DINIZ, 1994: 227).

Portanto, para a aquisição da propriedade pelo usucapião especial rural, o imóvel deve ser possuído pro habitatio pelo prescribente, ou por sua família, considerando-se esta como a surgida quer do casamento, quer de relação concubinária pura.

3.5.2. Multiplicidade de residências

A exigência constitucional de que o usucapiente ou sua família more no imóvel usucapiendo, não importa considerar vedada a multiplicidade de residências.

Com efeito, pode o prescribente residir concomitantemente em vários locais, desde que um deles seja o imóvel objeto do usucapião.

Destarte, nada impede que, resida no Município de Xanxerê e que pretenda o usucapir imóvel sito no Município de Chapecó. O que se proíbe é que, no exemplo, o imóvel que lhe serve de residência em Xanxerê, seja de sua propriedade. Assim, se estiver no imóvel por ato de mera tolerância do dono, nada há a obstaculizar a aquisição pelo modo sob comento.

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É necessário alertar-se sobre a expressão "moradia" usada no preceito constitucional, porque, enquanto a residência é o local em que se habita com intenção de permanecer, isto é, com ânimo definitivo, a moradia indica mera relação de fato, local em que se permanece eventualmente ausente a intenção de nele ficar. Desse modo, melhor andaria o legislador constituinte se, ao invés de ter dito "moradia", dissesse "residência", pelo aparente choque entre o elemento eventualidade ínsito naquela e os nobres objetivos do instituto.

3.5.3. Conceito de propriedade familiar

Este rótulo é retirado do Estatuto da Terra, artigo 4°,11, completando-se no artigo 6°, I,

e artigos 11 e 23 do Decreto n° 55.891, de 31 de março de 1965, e deve ser visto no âmbito da

democratização da propriedade rústica.

"O imóvel rural só pode ser entendido como propriedade familiar quando é trabalhado direta e pessoalmente pelo agricultor e sua família. O auxílio de terceiras pessoas, camponeses ou trabalhadores rurais, deve ser eventual, por exemplo, em determinados tipos de colheitas que exigem um aumento de mão-de-obra." (FERREIRA, 1994: 212).

Propriedade familiar é o imóvel rural que, pessoal e diretamente administrado e explorado pelo rurícola e sua família, garanta-lhes a subsistência, o engrandecimento social e econômico, absorvendo a força de trabalho, com área máxima fixada para cada região e modelo de exploração, e, trabalhando, eventualmente, com a ajuda de terceiros.

A disposição legal sobre a força de trabalho empregada na propriedade familiar está regrado no Decreto n° 55.891/65, rezando que o período de emprego laborativo deve

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número médio, a quantia de 1.000 (mil) jornadas de trabalho anuais.

Deste modo, a convocação de trabalho eventual fornecido por terceiros pode variar, desde que não ultrapasse os requisitos delineados pela legislação.

Outro ponto a ser analisado é a questão da dimensão desta propriedade. A área ideal para a propriedade familiar é aquela que varia conforme o módulo rural regional, obedecendo critérios de situação geográfica, o clima, as condições de aproveitamento da terra, a norma legal da região, entre outros.

A fórmula para se achar o módulo rural se fundamenta na declaração para cadastramento, sendo individualizado no Certificado expedido pelo INCRA.

Os tipos de módulo que são admitidos são nominados através da atividade rural que exercem: a) exploração hortigranjeira; b) lavoura permanente; c) lavoura temporária; d) exploração pecuária de médio ou grande porte, visto que a exploração pecuária de pequeno porte é qualificada como hortigranjeira; e) atividade florestal.

" ... no Brasil, o critério de extensão ou da área da pequena propriedade não deve adotar o modelo europeu ou o de outros continentes. Aí o que se teve em vista foi uma divisão correspondente às condições dos respectivos países, traduzidas pela superpopulação e superfície rural escassa: para atender um maior número, limitou-se a pequena propriedade a diminutos trechos de terra - em média de um a cinco hectares, exceção dos Estados Unidos e Inglaterra, onde predominam áreas maiores. No Brasil, o problema tem que ser resolvido ao prisma do povoamento necessário à formação de unidades econômicas permanentes, o que impõe, em última análise, vários tipos de critério de fixação do tamanho da pequena propriedade. Evitando áreas muito reduzidas, a não ser nas proximidades dos grandes centros, dever-se-á adotar um tipo de extensão que permita, não apenas a rotatividade das culturas,

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mas também a manutenção de uma reserva de terra virgem, incluídas, portanto, as matas, para segurança maior do futuro" (GAMA apud BORGES, 1994: 32-33).

Vê-se pois, a necessidade de estruturar-se uma política agrária capaz de resolver os problemas rurais emergentes, tanto aqueles longíquos dos grandes centros quanto aqueles cuja a proximidade faz embaraçar o conceito de imóvel rural. Como dito, imóvel rural é aquele cuja a exploração se desenvolve pela agrariedade, mas estando este nas vistas de uma cidade, deve seguir regras que equilibrem a sua exploração com o meio em que estão inseridos.

É necessário que se mantenha o agricultor no campo, fixando o homem à terra, fazendo-o produzir, e para isso é preciso atitudes eficazes, no plano político e no plano social, respeitando-se o meio ambiente, delimitando-se uma área mínima para o cultivo, e acima de tudo que se determine o progresso econômico do campesino e de seus descendentes.

3.5.4. Propriedade familiar, uma oferta de oportunidade para o rurícola

Esta oportunidade ofertada ao agricultor condiz com a obstacularização da exploração do homem pelo homem, pois se a propriedade é familiar, envolvendo, de certa maneira o conj unto familiar e a sua exploração.

Outro ponto comprende que, em sendo a propriedade de pequena dimensão, o valor desta a coloca ao dispor de um maio número de possíveis proprietários.

Atualmente, sob esse regime jurídico, uma grande percentagem de trabalhadores rurais podem tomar-se donos de um imóvel, por um preço razoável que os possibilite um desenvolvimento econômico e talvez social.

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econômicos e sociais que o campo enfrenta. As condições de desenvolvimento ainda são precárias pela falta de subsídios e apoio de uma ação governamental realmente válida que possa, se não solucionar, minimizar as questões polêmicas da agricultura de pequeno porte.

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3.6. A QUESTÃO DO JUSTO TÍTULO E DA BOA-FÉ

Justo título é todo ato formalmente adequado a transferir o domínio ou o direito real de que se trata, mas que deixa de produzir tal efeito em virtude de não ser o transmitente senhor da coisa ou do direito, ou de faltar-lhe o poder legal de alienar. É um documento hábil que possui um vício intrínseco que o toma ineficaz.

"JUSTO TÍTULO - Justo título é o ato jurídico próprio, em tese, para transferir o domínio, mas em concreto incapaz de transferí-Io por conter um vício intrínseco que impede a transferência efetiva do direito. Vale dizer, um título capaz de transferir a propriedade e que a transferiria se tivesse emanado do proprietário ou não contivesse tal vício" (SANTOS apud SANTOS, 1990: 106).

A exigência de justo título e boa-fé, não é requisito condicional ao usucapião pro labore. Nada consta no texto constitucional, mas a Lei nO 6.969/81, expressamente dispensou-os em seu artigo 10 "independentemente de justo título e boa-fé", fazendo

vislumbrar a não obrigatoriedade desses requisitos, que somente são impostos ao usucapião ordinário, previsto no Código Civil pátrio.

" ... não se exige que a posse seja de boa-fé e com justo título.

O artigo 191 da Constituição Federal é omisso quanto à boa-fé e ao justo título, mas de seus termos resulta que a posse não precisa revestir-se desses requisitos" (NADER, 1995: 39).

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ignorando o vício ou o obstáculo que impedem a aquisição do bem ou do direito possuído por ele. Advém de erro de direito ou de fato do usucapiente.

"Boa-fé é a crença do possuidor de que seu título o tornou proprietário da coisa e que sua posse é, portanto, legítima. É, em outras palavras, a certeza de que a coisa lhe pertence, embora a mesma, em verdade, seja propriedade de terceiro" (PACHECO, 1993: 26).

A dispensa de tais requisitos, apesar de não estar expressa no artigo 191 da Constituição, acha-se implicitamente contida no mesmo, porque se a norma constitucional pretendesse impô-los teria explicitado a respeito. Cabe-nos registrar a iniciativa louvável do legislador de não ter incluído como requisitos dessa modalidade de usucapião o justo título e a boa-fé. Tivesse disposto em sentido contrário, teria investido contra a própria natureza humana, porque, aterrado pela sombra da miséria, disperta no homem o imanente instinto de sobrevivência, pouco lhe interessando a presença ou não de impedimento à aquisição do imóvel. Por isso, preenchidos os requisitos do art. 191 da Constituição Federal, sena insensato cogitar, ainda, se sabia o desvalido do obstáculo à prescrição aquisitiva.

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3.7. A PRODUTIVIDADE RURAL

Como preceito constitucional, um requisito para a prescrição aquisitiva do usucapião especial rural configurar-se, é necessário que através do trabalho do agricultor ou de sua família, a área usucapienda torne-se produtiva, ou seja, trabalhando junto à terra fazendo-a gerar frutos.

O que se vIsa com esse requisito é aumentar a produção, gerando alimentos e matérias-primas que se originam da agricultura e do campo, valorizando o homem e adotando medidas de proteção ao meio ambiente.

A Constituição Federal, ao impor essa especificação, visou, principalmente o homem, a sua proteção e o seu engrandecimento. Engrandecimento social e econômico. É a libertação da miséria e da fome. É o nivelamento de oportunidades para quem queira trabalhar ordenadamente. É o respeito à dignidade intrínseca do homem. Tudo isto tendo em vista a imensidão de quantidades de terras improdutivas no país.

"Devido ao avanço das urbanizações e dos desertos, bem como ao aumento torrencial da população no mundo todo, temos que tomar a terra cada apta vez mais produtiva, para a geração presente e para as gerações futuras, tomar em produtiva a terra que, podendo sê-la, não a é, devido ao desinteresse ou incompetência do proprietário. Isto se faz substituindo o incompetente pelo que se presuma ser competente" (BORGES, 1994: 165).

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necessária para a configuração do usucapião em comento. Essa fixação é necessária para visionar o imóvel produtivo, evitando assim o emaranhamento faccioso da "produtividade".

Tem-se, deste modo, que a terra produtiva, isto é, aquela que já esta gerando alimentos e sendo trabalhada, cumprindo sua função social, enobrecendo o agricultor econômica e socialmente, não pode ser adquirida por usucapião pro labore. Assim, se for produtiva, o objeto do usucapião especial rural, a própria terra, está fora de seu próprio requisito, a improduti vidade.

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3.8. A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE EM RELAÇÃO AO USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL

Modemamente, tem trânsito livre na ciência jurídica a noção de que a posse é a mera exteriorização da propriedade, admitindo-se excepcionalmente a figura do possuidor não proprietário.

Cronologicamente, antes de se instaurar uma propriedade, a posse nasce precocemente, gerando a propriedade, isto é, posse para usucapião. Além disso, enquanto atrelada à propriedade, a posse é um fato com algum valor jurídico, mas, como conceito autônomo, a posse pode ser concebida como um direito.

"A medida que a posse qualificada instaura nova situação jurídica, observa-se que a posse, portanto, não é somente o conteúdo do direito de propriedade, mas sim, e principalmente, sua causa e sua necessidade. Causa porque é sua força geradora. Necessidade porque exige sua manutenção sob pena de recair sobre aquele bem a força aquisitiva" (F ACHIN, 1988: 13).

Para a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a propriedade é um direito inviolável e sagrado. O Código Italiano e o Código Francês estatuíam que a propriedade é o direito de gozar e dispor do bem de modo absoluto. Esse conceito, com o passar do tempo, veio sofrendo progressivas implicações voltada para a questão social e econômica da propriedade.

A Revolução Francesa, retirando privilégios, cancelando direitos perpétuos, procurou dar uma característica democrática à propriedade, mas este intuito da burguesia ficou atrelada

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essa classe social sedenta pelo poder.

Hodiernamente, se traça à propriedade privada um conteúdo de limitações formais, sendo composto de restrições e induzimentos que formam o conjunto da função social da propriedade.

Doutrinariamente, a função social da propriedade corresponde a uma alteração no conceito tradicional, no tocante a sua utilização. O processo histórico conta-nos que a ocupação do agricultor sobre a terra deu-se de modo artificial, e em cada momento, a propriedade circundou-se de conceitos diferentes, dependendo das necessidades sociais e econômicas no tempo em que está inserida. O trabalho do homem sobre a terra é que legitima a sua propriedade.

" ... 0 pressuposto de confiança recíproca e boa-fé,

que se integra no moderno conceito de obrigação, encontra correspondência na função social, implícita no direito de propriedade, no sentido de consideração à solidariedade social, compreendendo os direitos do proprietário e os deveres que lhe são impostos pela política legislativa" (ESPÍNOLA apud F ACHIN, 1988: 17).

O princípio da função social da propriedade foi contemplado pela Constituição Federal, em seu artigo 186, praticamente com o mesmo ditar do Estatuto da Terra (Lei nO 4.504/64), evidenciando os dispositivos nele contidos.

Assim, preceitua o artigo 186, da Magna Carta, que a função social da propriedade é cumprida quando obedece, conjuntamente, os critérios de exigência ali estabelecidos.

O primeiro critério, disposto no inciso I, reza "aproveitamento racional e adequado", e deve ser entendido sob dois fatores importantes: o quantitativo e o qualitativo. O quantitativo

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refere-se ao aproveitamento de um certo percentual da área total aproveitável - considerando-se imprestáveis para a exploração áreas com exploração mineral, áreas ocupadas por benfeitorias, florestas ou matas de preservação permanente, e áreas áridas, acidentadas, declivosas, pedregosas, encharcadas ou erodidas ( Artigo 6° do Decreto n° 84685/80) - do imóvel, que deve ser efetivamente cultivada - regrando-se 30% (trinta por cento) para propriedade familiar e 80% (oitenta por cento) para empresa rural. O qualitativo considera a produtividade alcançada pelo agricultor - relação entre a produção total obtida na propriedade e a área cultivada - que não deve ser inferior aos índices médios de produtividade do produto de acordo com as peculiaridades de cada região.

O legislador espera que, cumprindo-se este critério, estará o agricultor obtendo resultados econômicos satisfatórios e que conduzirá não só a desfrutar de um nível de vida condizente, mas também a contribuir para o abastecimento da população em geral.

O segundo requisito que o artigo 186, alinhavado em seu inciso 11, nos traz é a "utilização adequada dos recursos naturais disponíveis do meio ambiente". O solo, os rios, os animais silvestres, as matas, além de outros produtos existentes na natureza, constituem recursos naturais que, adequadamente explorados, podem manter indefinidamente sua capacidade de produção. Isto é, a manutenção adequada dos mesmos, a não utilização de produtos químicos que venham a poluir os rios e o ar, bem como a não proliferação das queimadas, representa a implantação de um modelo de preservação do meio ambiente, com resultados importantes reflexivos na propriedade rural.

O terceiro critério revelado pela Lei Maior no InCISO

m

do citado artigo é a

"observância das disposições que regulam as relações de trabalho". O trabalhador rural equipara-se atualmente, por força constitucional do artigo 7°, ao trabalhador urbano, no que se refere aos direitos trabalhistas, evitando-se assim a exploração do homem pelo homem que

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social.

o

quarto critério imposto pela Lex legum, é uma "exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e trabalhadores", traduzido na possibilidade de progresso social e econômico dos trabalhadores e dos proprietários, obtendo reais condições de bem-estar e melhores condições salariais.

Observe-se ainda que, os requisitos devem estar interligados simultaneamente, isto é, todos devem estar sendo cumpridos ao mesmo tempo.

"Com a exigência do cumprimento da função social da propriedade, quer o legislador dar a entender que a terra é um bem destinado a produzir riquezas e um bem a serviço da comunidade (bem comum) como um todo. Deixando o proprietário de utilizá-la na sua plenitude, nada mais justo que a mesma seja destinada a quem queira fazê-lo" (LUZ, 1993:

17).

É importante que, um dos princípios basilares e informadores do Direito Agrário brasileiro, que se destaca com maior importância é o princípio da supremacia da ordem pública, e deste advém o princípio da efetivação da justiça social e da função social da propriedade. Também sabe-se que as normas de ordem pública são as que não podem ser derrogadas pela vontade particular e que proíbem ou ordenam no sentido de preservar interesses essenciais do Estado e da coletividade. Assim, este cunho de publicidade de que dispõe estas normas não deve ser abalado por normas de cunho meramente privado, isto é, a supremacia da ordem pública de predominar perante o interesse particular.

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A intenção é a fixação do homem ao campo, prestigiando aqueles que laboram a terra, retirando-a do desleixo em que foi deixada por seu proprietário e tomando-a produtiva, em beneficio próprio, de sua família, e da própria coletividade.

"Cumpre uma destacada função social, buscando diminuir as tensões e os conflitos resultantes do problema fundiário, bem como a ocupação a gerar riquezas, de vastas área vazias do território nacional. Trata-se, mesmo, de um imperativo constitucional, que impõe a valorização do trabalho e a garantia de que a propriedade desempenhe aquela função social. Não constitui uma reforma agrária, mas enquadra-se no princípio agrarista de que deve ser dono da terra rural quem a trabalha por seu próprio esforço" (NADER, 1995: 37).

o

usucapião especial rural teve por objetivo a fixação do agricultor à terra, requerendo ocupação produtiva do imóvel, devendo neste, o usucapiente, morar e trabalhar.

A função social da propriedade traduz-se na geração de riquezas, alimentos, enfim, a produção para o bem-estar comum, patrocinando o desenvolvimento econômico e social da coletividade. E, nada mais justo que a valorização de quem põe a terra produzir, gerando oportunidades, seja reconhecida por um preceito constitucional de enorme importância social. Assim, a receptividade do usucapião especial rural vem ao encontro a função social da terra a ser usucapida.

"A Constituição quer beneficiar aquele que tome a área rural, sob sua posse, produtiva por seu trabalho ou de sua família, fazendo-o com o intuito de fixá-lo ao campo, de onde tem migrado considerável parte da força de trabalho nacional, o que prejudica a produção agrícola e pecuária e acarreta o inchaço das grandes cidades" (SALLES, 1992: 229).

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Nesse prisma, resta demostrado que o usucapião pro-labore concretiza a função social da propriedade a medida que penaliza o proprietário que não cumpre a função social da sua propriedade. Embora não constitua nenhuma alteração substancial, o princípio da função social representa um avanço em prol do alargamento das instituições.

Referências

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