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Abordagem do tema vírus em uma escola pública de ensino médio em Fortaleza

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

JEAN DE SOUSA SILVA

ABORDAGEM DO TEMA VÍRUS EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO EM FORTALEZA

FORTALEZA 2019

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ABORDAGEM DO TEMA VÍRUS EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO EM FORTALEZA

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Ciências Biológicas. Orientadora: Profª. Dra. Erika Freitas Mota.

FORTALEZA 2019

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

S58a Silva, Jean de Sousa.

Abordagem do tema vírus em uma escola pública de ensino médio em Fortaleza / Jean de Sousa Silva. – 2019.

51 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências, Curso de Ciências Biológicas, Fortaleza, 2019.

Orientação: Profa. Dra. Erika Freitas Mota. 1. Biologia. 2. Ensino Médio. 3. Virologia. I. Título.

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JEAN DE SOUSA SILVA

ABORDAGEM DO TEMA VÍRUS EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE ENSINO MÉDIO EM FORTALEZA

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará, como requisito para a obtenção do título de Licenciado em Ciências Biológicas. Orientadora: Profª. Dra. Erika Freitas Mota.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________ Profa. Dra. Erika Freitas Mota (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________________ Profa. Dra. Raquel Crosara Maia Leite

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________________ Profa. Dra. Alana Cecília de Menezes Sobreira Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Iguatu (FECLI)/

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AGRADECIMENTOS

Queria agradecer primeiramente a Deus, esse que para alguns é uma entidade maior que rege todas as coisas e para outros apenas uma ideia, que repercute muito ativamente na vida do ser humano. Agradecer ao mesmo pelas oportunidades de crescimento pessoal e cultural. Agradecer aos meus pais Antônio e Ivoneide que sempre se esforçaram para dar o melhor que podiam aos seus filhos e sem os quais não seria possível a minha conclusão nesta etapa, se não fosse com o auxílio dos mesmos. A minha família em geral que é o meu núcleo principal de relações, onde procuro força nas dificuldades. Meus irmãos Gilcyvando e Gilvan que são exemplos nos estudos e minha irmã Girleny na capacidade de resolução de problemas. Agradecer a Tereza por seu apoio e atenção, fostes também muito importante para a conclusão dessa etapa. Agradecer aos companheiros do cafezinho, em especial ao parceiro Edson Fernandes, pelos momentos mais leves e das discussões mais profundas na estadia no curso. Agradecer a orientação da Profa. Dra. Erika Mota, aos professores e coordenação da escola onde realizei este trabalho que me receberam amistosamente. Aos grandes mestres que conheci nesta jornada acadêmica: Professor Vicente Farias, Professora Denise Hissa e Professor André Jalles . A Biologia e aos vírus que me proporcionaram e ainda proporcionarão muitas surpresas.

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“Um vírus não pede licença, afirma sua existência.” Azambuja e Guareschi

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RESUMO

É notória a importância dos conhecimentos sobre virologia para a formação do estudante da educação básica, dentre muitos fatores notáveis, tem-se a ampla gama de relevâncias que os mesmos proporcionam ao conhecimento humano, como nos serviços ecológicos prestados por esses, aplicações farmacológicas e agronômicas. Entretanto, observa-se a relação microbiologia-doenças bem recorrente na sociedade, o que pode também repercutir em sala de aula, proporcionando uma visão limitada da realidade para os estudantes. Frente a tal problemática, esse trabalho teve como principal objetivo analisar a abordagem do conteúdo referente a vírus e as concepções educacionais de professores sobre esses micro-organismos em uma escola pública de Ensino Médio. Para isso, foi feito uma entrevista semiestruturada com os docentes de Biologia da escola. Também foi feita a análise do livro didático adotado por esta instituição de ensino e utilizado pelos professores para a formulação de suas aulas. Após entrevista, destaca-se que todos os professores afirmaram utilizar o livro didático como principal fonte de pesquisa para suas aulas. Há predominância de aulas expositivas como modalidade didática e tendências em suas concepções sobre vírus com destaque dado pelos mesmos às relações vírus-saúde humana. Ainda em relação ao livro utilizado, o mesmo apresenta pontos positivos como boas imagens ilustrativas e texto adequado ao público a qual atende, mas como pontos negativos há supressão de informações importantes (ex. replicação viral).

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ABSTRACT

The importance of knowledge about virology for the education of the basic level student is notorious. Among many notable factors, there is the wide range of relevance that they provide to human knowledge, as in the ecological services provided by them, pharmacological and agronomic applications. However, there is a very recurrent microbiology-disease relationship in society, which may also have repercussions in the classroom, providing a limited view of reality for the students. Faced with this problem, this work has as the main objective to analyze the approach of the content related to viruses and the educational concepts of teachers about these microorganisms in a public high school. For this, a semi-structured interview was made with the school's Biology teachers. It was also made the analysis of the textbook adopted by this educational institution and used by the teachers for the formulation of their classes. After an interview, it is noteworthy that all teachers reported using the textbook as the main source of research for their classes. There is a predominance of lectures such as didactic modality and trends in their conceptions about viruses with emphasis given to the virus-human health relations. Still in relation to the book used, it has positive points as good illustrative images and text suitable for the audience it serves, but as negative points there is suppression of important information (e.g. viral replication).

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 − Conteúdo predominante de Biologia em meados dos anos 90... 20 Quadro 2 − Classificação dos estudos de caso... 25 Quadro 3 − Conteúdos livro Contato biologia... 39

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 − Perfil dos professores entrevistados... 29 Tabela 2 − Unidades temáticas presentes no discurso dos professores... 38

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ENEM Exame nacional do ensino médio SISU Sistema de seleção unificada EJA Ensino de Jovens e Adultos

PROUNI Programa Universidade para Todos FIES Fundo de Financiamento Estudantil PPP

PCN

Projeto Político pedagógico

Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio PCN+ Parâmetros Curriculares Nacionais Complementares

PACCE Programa de aprendizagem cooperativa de células estudantis TCTs Temas Contemporâneos Transversais

IST Infecções Sexualmente Transmissíveis BNCC Base Nacional Comum Curricular

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 11

2. REFERENCIAL TEORICO ... 14

2.1. Breve história dos vírus: estrutura, classificação e importância ... 14

2.2.Contexto escolar ... 18

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 22

3.1. Estudo de caso ... 23

3.2. Sobre o local da pesquisa ... 26

3.3. Ferramenta de pesquisa ... 27

3.4. Análise dos resultados ... 27

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 28

4.1.Sobre o perfil do entrevistado e a escola ... 28

4.2.Sobre as aulas referentes a vírus: ... 32

4.3.Concepções dos professores sobre vírus: ... 37

4.4.Análise do livro didático ... 39

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 44

REFERÊNCIAS ... 46

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1. INTRODUÇÃO

É notória a importância do estudo sobre os micro-organismos e dentre muitos fatores relevantes, tem-se a ampla gama de relações desses com os seres humanos e suas evidentes contribuições ecológicas, evolutivas, médicas dentre outras tantas (MONTAÑO et al., 2010). Assim como os demais micro-organismos, os vírus apresentam amplas contribuições ao conhecimento humano, que vão desde as variadas áreas das Ciências Biológicas, como relatado no trabalho de Leal e Zanotto (2000), em que esses autores mostram a relação de doenças virais com a evolução humana, até áreas das ciências sociais, a exemplo do trabalho de Gallo e Aspis (2011) que usam o termo biopolítica vírus, como metáfora de resistência política. Logo, conhecê-los permite-nos uma compreensão melhor sobre nós mesmos como do meio em que vivemos.

Há inúmeras importâncias atribuídas aos vírus, principalmente por sua característica de ser um parasita intracelular obrigatório e apresentar representantes que possuem tropismo pelas mais diversas formas de vidas. Apresentam grande relevância nas diversas áreas do conhecimento, como por exemplo, sua capacidade de parasitarem as plantas e com isso apresentarem grande interesse agronômico (LANZARINI et al., 2007), ou ainda de serem patógenos para humanos e animais, apresentando interesse médico e veterinário (KOTAIT et al., 2007), também poderem ser usados como registro fóssil de infecções acometidas em tempos remotos a uma população, apresentando interesse paleontológico (GENTRY et al., 1988), dentre outras. Ademais, a partir da história da microbiologia observam-se tendências e dentre estas, há a predominância de estudos sobre os micro-organismos mais acentuadamente nas áreas da saúde, apesar de serem estes uma pequena parte de um conjunto infinitamente maior.

Não obstante, a associação entre micro-organismo e doenças também pode repercutir em sala de aula. Sendo a escola um subconjunto da sociedade e tal visão ser presente nesta, consequentemente a mesma pode sofrer

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influências ao ponto de também ser uma potencial propagadora de tal perspectiva em detrimento das inúmeras outras abordagens de aplicações de tal conhecimento. Como observaram Oliveiros, Silveira e Araújo (2011) que citam em seu trabalho a prevalência de concepções espontâneas de estudantes do sexto ao nono ano do ensino fundamental sobre vírus, majoritariamente, como relacionadas a doenças, sendo algumas vezes, tratados como sinônimo das mesmas.

É interessante perceber que tais concepções, muitas vezes controversas, podem estar alicerçadas nas relações pessoais do dia a dia, erros conceituais em livros e/ou professores, a influência da mídia, todos estes e muitos mais podem intervir na formulação das concepções espontâneas dos indivíduos (CARRASCOSA, 2005).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) foram elaborados para orientar os professores em suas abordagens e metodologias, quanto a contextualização e a interdisciplinaridade incentivando o raciocínio, a lógica e a vontade de aprender (BRASIL, 1999). No que trata de biologia, o mesmo ainda propõe a ênfase na cognição dos estudantes, relacionando suas experiências com os diferentes valores e significados que essa ciência pode ter para os mesmos, assim fomentando uma aprendizagem mais significativa (BRASIL, 1999). Logo, uma abordagem ampla sobre um determinado assunto, proporcionaria um melhor acervo de ideias para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, estimulando-o a compreender tal assunto de forma mais completa e elaborada, não desvinculado da realidade, assim tornando-o mais significativo. Portanto, tratando-se de vírus, tal abordagem faz-se igualmente necessária. Sabendo-se das inúmeras contribuições destes micro-organismos para o conhecimento como nos aspectos ecológicos, evolutivos, médicos dentre outros, uma abordagem que contemple estes amplos aspectos torna-se necessária para que o sujeito obtenha uma visão mais completa; elaborada e abrangente sobre o conteúdo (não parcial) tendo mais subsídios para melhor desenvolver seu o seu cognitivo.

Logo, uma visão holística possibilita maiores possibilidades para compreensão e ação do sujeito sobre o meio onde vive. Tal ação consiste em

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proporcionar uma visão ampla sobre um dado assunto, relacionando-o com o dia a dia, permitindo aos mesmos compreendê-lo em de maneira mais ampla. De outra forma, conhecendo os conteúdos parcialmente, o sujeito estará exposto a “menoridade” parafraseando Kant, sendo conhecedor apenas de uma pequena fração de um todo, sujeito a interpretar o meio e os fenômenos recorrentes a tal conhecimento de forma míope e incompleta não podendo assim interferir na realidade no que tange tal assunto. Logo, uma compreensão mais abrangente de um conhecimento faz-se importante para uma aprendizagem significativa e atuante no mundo real.

A partir disso, é importante conhecer e identificar a existência de possíveis tendências pedagógicas, como os motivos que proporcionam tal fenômeno. Essa identificação pode vir a ser subsídio para a proposição de ações que venham a contornar possíveis limitações existentes na prática docente, como contribuir com outros trabalhos a respeito desta temática.

O interesse por tal temática surgiu ainda no ensino médio, quando fui apresentado formalmente à disciplina de Biologia. Devido à sistematização da disciplina e as áreas de estudos pelas quais me interessei foram biologia celular, histologia, reprodução humana e infecções sexualmente transmissíveis (IST). A existência de um “mundo” microscópico de nível celular me fascinou, a ponto de por um tempo confundir biologia com o “estudo do pequeno”.

Entretanto, tal interesse aumentou com o estudo sobre HIV-AIDS, algumas reflexões surgiram: Como poderia uma partícula de dimensões subcelulares causar efeitos tão drásticos a nível populacional? Perceber a luta dos cientistas para a obtenção de subsídios para melhor enfrentamento desta guerra que acontece em âmbito microscópico e a luta do próprio organismo por um longo período de latência da doença era empolgante, a melhor história que não encontraria nem nos melhores filmes. Posteriormente o contato com as grandes viroses tropicais que atuam em nossa localidade como Dengue e Zika, tais interrogações ficaram mais fortes. Na graduação, a partir de disciplinas como ecologia; microbiologia; imunologia dentre outras, percebi que os vírus eram bem mais influentes do que imaginava. Eles são a maior entidade biológica em quantidade, interagem com todos os níveis de vida, e que possibilitam serviços ecológicos como outras contribuições para a manutenção

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e diversificação da vida, desfazendo em mim a imagem de vilões sobre os mesmos que anteriormente me fora fomentada.

Guiado então por tal interesse, busquei relacionar minhas experiências novas a esta paixão já existente, como ao propor um grupo de estudos sobre virologia no Programa de Aprendizagem Cooperativa de Células Estudantis (PACCE) e tentar ao máximo quebrar as fronteiras entre as outras disciplinas a este ramo de conhecimento tão importante para a melhor compreensão da vida.

Frente a isso, esse trabalho teve como objetivos analisar a abordagem do conteúdo referente a vírus pelos professores em uma escola pública de Ensino Médio no município de Fortaleza-CE, verificar as concepções educacionais dos mesmos sobre esses, bem como fazer a análise do livro didático adotado pela escola e utilizado pelos docentes na elaboração de suas aulas.

2. REFERENCIAL TEORICO

Para uma melhor compreensão sobre a temática, faz-se notória a importância dos contextos históricos de tal conhecimento, a classificação do mesmo e as suas importâncias.

2.1. Breve história dos vírus: estrutura, classificação e importância

A tomada de consciência do mundo microscópico data de meados do século XVII a início do século XVIII, com os trabalhos de Anton Van Leeuvenwenhoek e Robert Hooke, com seus microscópios simples e compostos respectivamente, onde foram observados desde tecidos mortos, como de uma cortiça, a bactérias da boca. Entretanto, foi somente no século XIX em que tais conhecimentos desenvolveram-se com contribuições importantes de cientistas como Robert Koch com os postulados sobre

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mecanismos de infecção e Louis Pasteur com contribuições para a teoria da biogênese e ação microbiana das doenças (FERREIRA; SOUSA; LIMA, 2010).

Em relação aos vírus, tal percepção é ainda mais recente. Pasteur observou em seus estudos que o agente etiológico da raiva não podia ser visualizado ao microscópio. Aliado a isso, muitos cientistas perceberam que macerados de tecidos infectados quando filtrados por meio de filtros de Chamberland ainda mantinham a sua capacidade infecciosa. Entretanto, somente com o advento da microscopia eletrônica os vírus seriam finalmente observados e descritos em diferentes organismos como plantas, animais e bactérias (FERREIRA; SOUSA; LIMA, 2010).

O termo vírus é oriundo do Latim e significa veneno, pois se pensava que os efeitos patogênicos eram devido a subprodutos oriundos de bactérias isoladas por microfiltros. Os mesmos são micro-organismos intracelulares obrigatórios, ou seja, sendo passíveis de reprodução apenas no interior de uma célula, entretanto podem apresentar uma forma infectante geralmente extracelular também chamada de virion (FERREIRA; SOUSA; LIMA, 2010).

São evidentes as suas peculiaridades aos outros microrganismos. Os mesmos são acelulares formados basicamente de proteínas e material genético, podendo este último ser DNA e/ou RNA, pois alguns vírus podem conter os dois tipos de materiais genéticos concomitantemente. Alguns grupos (como do influenza vírus) podem conter ainda um envoltório lipídico oriundo das células parasitadas (FERREIRA; SOUSA; LIMA, 2010).

A classificação básica dos vírus é simples. Tal sistematização dar-se primeiramente pelos tipos de organismo parasitado pelos mesmos, ou seja, podendo ser classificados com vírus de animais, quando possuem tropismo por células de animais; vírus de vegetais, quando possuem tropismo por células vegetais, bacteriófagos ou fagos, quando possuem tropismo por bactérias. Há outras classificações, como a classificação de Baltimore, que classifica os vírus segundo seu material genético e sua forma de tropismo nas células parasitadas (FERREIRA; SOUSA; LIMA, 2010).

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Os vírus possuem importantes contribuições para o conhecimento humano. Tais espectros de conhecimentos perpassam áreas como evolução; ecologia, saúde, farmacologia, agronomia; bioquímica; biossociologia dentre outras. A paleovirologia é uma das aplicações da virologia para os estudos em evolução. A mesma consiste em estudar infecções virais acometidas em populações, em tempos remotos, ou seja, a procura por registros fósseis dos vírus. Os vírus endógenos são uma das maiores fontes de estudos neste campo de pesquisa, para se ter ideia, segundo Sentís (2002), os vírus endógenos ocupam cerca de dez por cento do genoma humano, apontando que houve inúmeras epidemias ocorridas em nossa espécie em tempos remotos. Logo, conhecer o que são os vírus endógenos, permite-nos um maior conhecimento sobre nós mesmos como das transformações acometidas em nossa espécie.

A evolução do herpes vírus é um exemplo interessante. Acredita-se que os mesmos transpassaram por todos os ancestrais hominídeos (Australophitecus, Homo erectus, Homo ergaster, Homo habilis até os homens modernos africanos) (SHARP, 2002; LEAL ZANOTO, 2000). Além disso, acredita-se que o ancestral comum ao ser humano e aos chimpanzés já convivia com estes vírus que por consequência, os chimpanzés atuais também possuem uma linhagem deste micro-organismo tanto labial quanto genital semelhantes geneticamente com os nossos (Luebcke et al., 2006). Isso se mostra como mais uma evidência de parentesco dos seres humanos (Homo sapiens) com os chimpanzés.

Além disso, o herpes vírus é um importante aliado para a datação do ser humano e sua forma bípede. Gentry et al. (1988) afirmam que a posição ereta humana causou um isolamento geográfico entre os herpes vírus presentes nos lábios e nos genitais, devido a isso e as diferentes mutações, ocorreu o surgimento de herpes labial e genital tal como a conhecemos hoje. Além disso, cálculos matemáticos que estimam a separação entre os dois vírus apontam cerca de oito milhões de anos, tempo bem próximo com os primeiros bípedes. Ou seja, mais uma evidência do período em que ocorreu a evolução dos nossos ancestrais da forma quadrupede para bípede.

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No que tange a ecologia, os conhecimentos viriológicos fazem-se bastante relevantes. Dentre muitos motivos pertinentes, têm-se a grande biodiversidade, as múltiplas importâncias de virioplâncton, a ação dos mesmos sendo um dos fatores de seleção natural como a importância biogeoquímica desses. Estima-se que existam em torno de 1030 partículas virais em todo ambiente aquático, tal fato faz dos vírus a entidade biológica mais abundante da biosfera. A variedade está principalmente nos bacteriófagos tanto citolíticos como lisogênicos. Estes últimos muito importantes para o ciclo do carbono, uma vez que liberam toneladas de compostos orgânicos na coluna d’água fruto da lise bacteriana. Os bacteriófagos ainda causam impacto na estrutura, diversidade e diversificação das comunidades e origem e evolução dos genomas, apesar de não se saber ao certo a magnitude com a qual acontecem tais fenômenos de influência viral em tais mudanças genômicas (BERDJEB; JACQUET, 2009).

São evidentes as aplicações dos conhecimentos sobre vírus para a farmacologia. Tais relevâncias mostram-se, por exemplo, na fagoterapia e na utilização de vírus oncolíticos. Apesar de não comumente propagadas e outros ainda em fase de estudos, mostram-se como promessas para futuras práticas terapêuticas (NALLELYT et al., 2010; RIBEIRO et al., 2018).

Na literatura, inúmeras importâncias terapêuticas dos bacteriófagos são citadas. Segundo Nallelyt et al. (2010), os fagos têm sido utilizados principalmente contra bactérias do tipo: Pseudomonas, Staphylococcus, Escherichia e Mycobacterium, resistentes a antibióticos. Ou seja, possuem grande utilidade medicamentosa contra o fenômeno das superbactérias. Ainda segundo esses mesmos autores, empresas utilizam a fagoterapia para terapia em humanos, em animais, entretanto seu uso estende-se a outras aplicações como uso em desinfetantes.

Por outro lado, as pesquisas sobre os vírus oncolíticos mostram-se extremamente relevantes aos interesses farmacológicos. Tais estudos consistem na utilização de vírus, geralmente geneticamente modificados no combate de células cancerígenas, servindo assim de tratamento alternativo ou complementar para as atuais terapias no combate a diferentes tipos de

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cânceres (RIBEIRO et al., 2018), como no estudo de Dávila (2018) que mostra a aplicação do tropismo do Zika vírus a células nervosas embrionárias para a terapia contra cânceres no sistema nervoso, que com as técnicas atuais apresentam difíceis tratamentos.

Os vírus são importantes atores nas discussões sobre compreensão da origem da vida. Algumas das hipóteses defendem que os mesmos são precedentes à célula, tendo dentre outras evidências os retrovírus, que sintetizam uma molécula de DNA a partir de uma fita de RNA, ou seja, o “simples” formando algo mais complexo. Entretanto, outras hipóteses, defendem que os vírus surgiram a partir de células várias vezes independentemente, o que justifica a capacidade deles possuírem representantes com tropismos por todos os tipos existentes de vida.

Consideráveis interesses agronômicos giram em torno dos conhecimentos sobre vírus. Sabe-se das inúmeras pragas a monoculturas relacionadas pela ação de vírus fitopatogênicos como no trabalho de Catarino et al. (2015), com vírus que infectam tomateiros. Por outro lado, existem aplicações completamente antagônicas a este contexto como a aplicação de vírus no combate de outros tipos de pragas agrícolas como insetos (MOSCARDI, 2003).

2.2. Contexto escolar

Frente ao exposto, é interessante buscar como esse assunto é tratado nas escolas, se há contextualização, como o conteúdo é apresentado nos livros didáticos. Os conteúdos dos assuntos referentes à biologia no Brasil passaram por variadas mudanças no decorrer da história. O mesmo era subdividido em botânica, zoologia e biologia geral, juntamente com conteúdos de outros campos de conhecimento como a mineralogia, geologia dentre outras, formando assim a disciplina história natural (KRASILCHIK, 2011). Segundo a mesma autora, na década de 60, três grupos de fatores fizeram “pressão” para a mudança dos currículos voltados a área biológica, estes são: o avanço das

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descobertas nesta ciência, o aumento do fomento nacional e internacional do pensamento de ser a ciência um equipamento que proporciona desenvolvimento e a criação da lei de diretrizes e bases da educação de 20 de dezembro de 1961, que descentralizava a criação dos currículos e concentrava na união tal responsabilidade. Tal organização anterior não passou mais a satisfazer ao avanço desta ciência como os conhecimentos que unificavam assuntos anteriormente distintos como botânica e zoologia, níveis de organização de molécula a comunidade, genética e bioquímica são exemplos de conteúdos pertencentes ao novo currículo (KRASILCHIK, 2011).

Na década de 70, época da ditadura militar do Brasil, o plano nacional era desenvolvimentista e modernista e apontava a ciência como fator importante para tal fato. Entretanto, na prática educacional tal importância não se mostrava devidamente contemplada, uma vez que os conhecimentos científicos eram estudados apenas em cursos técnicos como de agricultura, pecuária dentre outros, sendo que a base de alfabetização científica necessária para absorver tais conhecimentos mostrava-se ausente. Em meados dos anos 90, os programas de ensinos apresentavam conteúdos de biologia distribuídos nas três séries conforme apresentado no quadro 1. Só posteriormente no final dos anos 90 seriam criados e difundidos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (KRASILCHIK, 2011) que ainda são importantes para as ações educacionais brasileiras na atualidade.

Atualmente, é evidente a existência de múltiplos documentos que regulamentam ou orientam a atividade do professor no Brasil. Dentre outros documentos importantes tem-se: a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação (BRASIL, 1996) os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio-PCNEM (BRASIL, 1999), os Parâmetros Curriculares Nacionais Complementares - PCNEM+ (BRASIL, 2002), as orientações curriculares para o ensino médio, como a Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018). Entretanto outros fatores tornam-se também muito importantes para a determinação dos conteúdos abordados pelos docentes em inúmeras escolas brasileiras, como o foco das escolas nos vestibulares e Exame Nacional do Ensino Médio-ENEM e a influência do livro didático na formulação das aulas.

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QUADRO 1- Conteúdo predominante de Biologia em meados dos anos 90

1ª série 2ª série 3ª série

Origem da vida Taxonomia Ecologia

Características dos seres vivos Critérios de classificação Populações Citologia-estrutura Morfologia animal Relações ecológicas Metabolismo Morfologia vegetal Regiões ecológicas

Teoria celular-histórico Embriologia O homem e o ambiente

Histologia-animal e vegetal Reprodução e desenvolvimento humano

Origem Da Vida Genética

mendeliana

Características dos seres vivos Genética de populações Citologia-estrutura Evolução-teoria e mecanismos Taxonomia Critérios de classificação Morfologia animal Fonte: Krasilchik, 2011

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Sabe-se da importância da LDB para a educação brasileira. Tal documento regulariza o funcionamento das instituições formais de ensino tanto para instituições públicas como privadas segundo princípios da constituição. Para o ensino médio, a mesma define dentre outros pontos, o que se almeja do educando após a formação básica, como o domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna (BRASIL, 1996). Logo, no que tange aos assuntos referentes aos vírus, o estudante também deve ser capaz de ao término da formação básica, possuir um arcabouço intelectual satisfatório sobre estes micro-organismos, para que os proporcione uma melhor compreensão dos avanços produzidos pela ciência em tal área do conhecimento humano, seja relacionada à saúde, biotecnologia, dentre outras.

Por outro lado, os PCN (BRASIL,1999) e os PCN+ (BRASIL, 2002) mostram-se muito relevantes para a elaboração dos currículos. Os mesmos são uma referência qualificada para a orientação da atividade docente. Nestes documentos, alguns parâmetros são estabelecidos, como o ensino balizado por competências e habilidades que devem dominadas pelo educando ao final de sua formação básica.

As orientações curriculares surgiram como demanda dos PCN. As mesmas, segundo Brasil (2006), foram formadas por intenso debate dos diferentes atores educacionais em decorrência de rever questões que mereciam um maior esclarecimento, como alternativas para o desenvolvimento da prática pedagógica dos professores não existentes no documento anterior.

Entretanto, apesar dos documentos educacionais supracitados, mostrarem sua relevância, não atuam como obrigatórios na implementação de um currículo local, tal documento de cunho obrigatório seria a base nacional comum curricular para o ensino médio- BNCC (BRASIL, 2017). Esse último aponta os conhecimentos mínimos (habilidades e competências) que o estudante deve mostrar-se conhecedor após sua formação básica, não excluindo a possibilidade de acréscimos de conteúdos nos currículos locais, a depender das necessidades específicas de cada localidade.

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O Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD)

(SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA-BRASIL, 2006) também se faz crucial nas atividades didáticas. Tal programa tem como função principal a avaliação e disponibilização de obras para a ação didática do professor, como também livros pedagógicos, literários dentre outros, que venham a dar subsídios à prática educativa. Tais recursos são destinados a instituições pertencentes aos três poderes e distrito federal que mantem vínculo com o setor público, seja por pertencer ao poder público ou uma instituição filantrópica conveniada a este. Segundo Lajolo (2016), o livro didático é utilizado quase como um manual por muitos professores, condicionando o que se ensina e o como se ensina. Perante isso, pode-se concluir que o livro possui uma função maior do que mais um recurso didático e passa a ser o principal norteador dos conteúdos abordados em sala. Logo, se o mesmo apresentar uma tendência, automaticamente o professor será um propagador destas.

Além disso, nota-se também a influência dos vestibulares e exames, como Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para a seleção dos conteúdos abordados em sala pelo professor. Isto se deve ao fato das escolas adaptarem suas aulas para esse exame em busca de melhora nos seus índices. Tal fenômeno deve-se ao fato de ser o ENEM o principal portal de acesso a universidades públicas pelo Sistema de Seleção Unificada-SISU, como também acesso a bolsas em instituições particulares pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) etc. Alguns conteúdos podem ser colocados em destaque em detrimento de outros, por uma possível tendência associação com conteúdos contidos na prova do ENEM (SANTOS, 2017). Logo, tal fenômeno se configuraria como uma espécie de currículo implícito, que orientaria as práticas e conteúdos a serem trabalhados.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nessa seção, o percurso metodológico será abordado. O trabalho se caracteriza como uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso.

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3.1. Estudo de caso

É notória a importância dos estudos de casos. O mesmo que é um recurso metodológico utilizado em vários campos do saber humano, apresentando suas bases e concepções em vários autores tal como: Yin (2001), Stake (1999), dentre outros. Quando um caso, seja ele relativo a fenômenos concretos (pessoas, um grupo ou organização) ou abstratos (decisões políticas, programas ou mudanças organizacionais), possui em si só um valor fundamental como para a fomentação de novos conhecimentos, tal visão vai de contraposição a visão de que os estudos de casos seriam apenas etapas pré e pós pesquisa (apenas descritivo) (YIN, 2001).

Como afirmado por Yin (2001), existe uma dificuldade de se projetar um estudo de caso diferentemente de outros métodos. Segundo o mesmo, não se desenvolveu uma lista de trabalhos com múltiplas abrangências sobre estudo de caso, como livros textos semelhante a áreas como a Biologia e Psicologia, que fazem considerações sobre cada etapa da pesquisa desde a escolha do objeto a ser pesquisado a condições para a realização de experimentos precisas e detalhadas assim como a identificação das respostas em medidas de valores diferentes. Entretanto, este autor aponta cinco componentes fundamentais para o desenvolvimento de um projeto de estudo de caso estes são: As questões de estudos; proposições (havendo as mesmas); unidades de análise; lógica que une os dados, as proposições e os critérios de interpretação das descobertas.

Segundo Meirinhos e Osório (2010), são notórias as inclinações entre trabalhos de estudos de caso, quanto à pesquisa qualitativa ou quantitativa, tendo ainda autores que preferem abordagens quali-quantitativas. Entretanto apesar de diferenças de concepções, alguns fatores podem ser tidos como gerais nos estudos casos, como a importância do contexto, ou seja, de um caso contemporâneo e real; generalizações deste tipo de estudo; como a importância de uma teoria prévia.

As generalizações são também um ponto muito relevante nos estudos de caso, sendo umas das principais críticas dos não adeptos a este como metodologia com valor em si próprio Yin (2001). Como explicitado por Flick

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(2004), as críticas estão no fato de as generalizações qualitativas fazerem-se em contextos determinados. Entretanto, como afirmado por Stake (1999), existem dois tipos principais de generalizações que podem ser realizadas pelo estudo de caso: as que se fazem no âmbito do particular, ou seja, generalizações e inferências dentro de um caso, e as que podem ser aplicadas a outros casos por serem relevantes aos mesmos; seja este caso já existente (assim contribuindo ou modificando as inferências existentes) ou não existentes (assim servindo de base empírica para este novo caso). Tal autor, ainda afirma a importância das generalizações naturalistas que se fomentam nas experiências e implicações do investigado.

Ainda sobre generalizações naturalistas, Marlí (1984) defende que é inadequado perguntar se um caso é representativo de uma população, uma vez que o caso por si só se faz um objeto de estudo único e singular. Logo as semelhanças e os aspectos típicos ocorrem no indivíduo, na medida em que o pesquisador se afronta com um trabalho (estudo de caso) este compara suas experiências vividas com as experiências a este exposta e cria suas próprias bases de generalizações naturalistas, ou seja, assim desenvolvendo, significados e compreensões novas.

Devido a discussões como esta, Pattom (1990) opta por utilizar o termo extrapolação ao invés de generalização. O termo “extrapolar” refere-se à possibilidade de transferência de um conhecimento de um caso para outro devido às suas semelhanças em condições e em contexto.

A triangulação também aparece como um termo recorrente sobre estudos de caso (MEIRINHOS; OSÓRIO, 2010). Tal termo, segundo Yin (2001), trata da combinação de mais de um método de coleta de resultados para um dado objetivo, ainda segundo o mesmo, os resultados fazem-se mais confiáveis à medida que técnicas diferentes de pesquisa convergem para resultados harmônicos ou iguais.

Há classificações dos estudos de casos que seguem alguns critérios que orientam a formulação da pesquisa (MEIRINHOS; OSÓRIO, 2010). Esses critérios podem ser: quantidade de casos (sendo casos únicos ou múltiplos)

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(BOGDAN; BLIKEN,1994); exploratórios; descritivos; explanatórios (YIN, 2001) intrínsecos ou instrumentais (STAKE, 1999). O quadro 2 apresenta cada uma dessas classificações.

QUADRO 2- Classificação dos estudos de caso.

QUANTO A QUATIDADE

ÚNICOS Estuda-se apenas um caso

MÚLTIPLOS Estuda-se dois ou mais casos

QUANTO A UNIDADE DE ANÁLISE

HOLÍSTICO Possui apenas uma

unidade de análise

INCORPORADOS Possui duas ou mais unidades de análise

EXPLORATÓRIOS

Define e seleciona questões, cria hipóteses, para uma pesquisa posterior.

DESCRITIVOS Descrição de um fenômeno inserido em um dado momento histórico, em dado contexto em sua maior totalidade possível.

EXPLANATÓRIOS Estes procuram relações de efeito e causa nos fenômenos estudados, buscam os argumentos que melhor expliquem uma dada questão analisada.

INTRÍNSECOS O interesse recai exclusivamente sobre um caso em particular ou sobre seu estudo em maior totalidade possível, não importando-se com relações à outros casos e problemáticas mais gerais.

INSTRUMENTAIS OU COLECTIVOS

O caso possui um interesse em parte secundário, pois o mesmo é tratado como um meio de se refletir questões maiores, questões estas que podem ser aplicadas também em outros casos.

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Portanto, o atual trabalho classifica-se de acordo com a quantidade em único, quanto à unidade de análise em incorporado, uma vez que possui dois objetos de análise (temático e temático frequencial), caracteriza-se por estudo intrínseco uma vez que trata o objeto de análise como um universo de pesquisa como relevante em si próprio.

3.2. Sobre o local da pesquisa

A escola onde foi realizada a pesquisa mostra-se como um importante caso. A mesma está situada em uma região periférica de Fortaleza, atende a um grande número de estudantes do bairro como das regiões circunvizinhas. Esses estudantes apresentam majoritariamente baixo poder aquisitivo, perfil este, que se mostra muito comum nas escolas Brasileiras.

Tal instituição de ensino funciona nos três períodos, matutino, vespertino e noturno, sendo neste último composto por aulas de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). É notório também ressaltar a diferença dos públicos existente em cada período, fator este que também se mostrou necessário para a análise deste trabalho.

A mesma apresenta importantes equipamentos físicos pedagógicos tais quais: Quadra de esportes, biblioteca, laboratório de informática e de ciências. Logo, passíveis de utilização pelos professores em suas abordagens pedagógicas.

Quanto à disciplina de biologia, a mesma apresenta três professores. Estes profissionais lecionam em turnos diferentes e estão alocados um para cada período de funcionamento da escola. Este fato fez-se importante para este trabalho, uma vez que os mesmos lecionam em todas as séries do ensino médio no turno em que trabalham na instituição. Portanto, eles têm uma maior liberdade para elaborarem a sequência como os conteúdos a serem abordados durante todo o ensino médio. No caso deste trabalho, há uma preocupação com os assuntos referentes aos vírus ao longo dessa etapa de formação.

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3.3. Ferramenta de pesquisa

Foi solicitado aos professores que respondessem a uma entrevista semiestruturada para qual se elaborou um roteiro (Apêndice). A escolha desta ferramenta fez-se importante para uma maior fluidez das entrevistas e melhor garantia da coleta de dados, dada a possibilidade de intervenção do entrevistador para conduzir as perguntas pré-estabelecidas. Esse roteiro de entrevista foi composto basicamente por dois tipos de questões: fechadas e abertas (BARDIN, 2011). As da primeira categoria tiveram a importância de caracterizar os profissionais docentes e descrever suas experiências como professores. Já nas perguntas da segunda categoria, desejou-se conhecer a estruturação de suas aulas referentes ao tema vírus, as suas concepções sobre esses, como a relação dos mesmos com o livro didático utilizado na escola. Este último, necessário para a etapa posterior do trabalho (análise dos conteúdos do livro didático utilizado nas aulas referentes a vírus). Além disso, tiveram a finalidade de garantir uma maior liberdade aos professores de expressarem suas visões e opiniões ao longo da entrevista, não limitando os mesmos a respostas monossilábicas ou a itens objetivos.

3.4. Análise dos resultados

Para a análise da entrevista como do livro didático utilizou-se como base metodológica a análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Segundo o autor, esse método consiste em um conjunto de medidas sistemáticas que proporcionam um novo horizonte de análise sobre um discurso; texto; matérias jornalísticas dentre outros, dando assim subsídios para inferências que não seriam possíveis sem o tratamento analítico do pesquisador, para isso foi preciso o uso de categorizações.

As categorizações atenderam alguns pressupostos apontados por Bardin (2011). Tais pressupostos segundo o mesmo autor, apesar da não existência de uma regra fixa para todos os tipos de classificações, são bem consolidados para uma classificação que leve a resultados válidos. Os principais pontos são: homogeneidade, exaustividade, objetividade e a exclusividade. A homogeneidade trata da característica de separar o objeto de

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análise em grupos, segundo critérios bem definidos, para não haver confusão entre os mesmos. Já a exaustividade trata da importância de se analisar a totalidade do objeto estudado e a objetividade relaciona-se ao fato de que diferentes ferramentas analíticas devem remeter aos mesmos resultados (sob a pena de não validação, pois um resultado contradiria o outro). Leva-se ainda em conta a exclusividade que é a não classificação aleatória de um conteúdo em mais de uma categoria.

A partir desta classificação foram utilizados indicadores para a análise final. São estes: indicadores temáticos e temáticos-frequenciais (BARDIN, 2011). O primeiro método visa saber com que área de conhecimento o assunto vírus foi relacionado (no caso tanto no discurso quanto no livro analisado). Já o segundo, visa perceber a frequência com que o assunto vírus aparece relacionado com dada categorização. Após a etapa de coleta de dados, os mesmos foram discutidos fazendo relações com informações presentes na literatura educacional e relacionadas ao tema.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Sobre o perfil do entrevistado e a escola

Foram entrevistados os três professores de biologia da instituição escolhida para aplicar o estudo de caso. Os profissionais foram denominados no texto por professor A; professor B e professor C. Os mesmos responderam a um questionário incialmente com perguntas fechadas quanto a faixa etária, escolaridade, tempo de trabalho na instituição, adoção do livro nas aulas e séries lecionadas e as respostas estão apresentadas na tabela 1.

Apesar de lecionarem na mesma escola, é evidente a existência de públicos completamente distintos os quais tais professores atendem. Os três professores lecionam em todas as séries do ensino médio no turno em que trabalham. Entretanto, o perfil dos estudantes em cada período do dia é muito variável, principalmente nas turmas do professor C, que leciona no período noturno. Nesse turno, funcionam turmas da educação para jovens e adultos

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(EJA) que apresentam uma série de fatores que dificultam as atividades didáticas, como uma ampla faixa de idades entre os alunos cursantes, como a existência de uma falta de ritmo de estudos por parte dos educandos bem recorrentes, uma vez que os mesmos podem estar concluindo uma etapa do estudo que começaram a muito tempo atrás, cabendo ao professor adequar-se a tais dificuldades (FERRARI; AMARAL, 2005). Além disso, segundo os mesmos autores, é crescente o número de jovens que integram o EJA, entretanto, estes tendem a ter os estudos como segunda jornada pós trabalho o que geralmente prejudica o desempenho destes em sala.

Tabela 1- Perfil dos professores entrevistados.

Faixa etária Escolaridade Tempo de trabalho na instituiçã o Utiliza o livro adotado pela escola Séries lecionadas Turno lecionado Professor A 30-34 anos Graduação em farmácia. licenciatura em química. especialização em uso racional de medicamentos(cu rsando) Entre 5 e 9 anos Sim 1°,2° e 3° vespertino Professor B 25-29 anos Química licenciatura plena Entre 1 e 4 anos Sim 1°,2°,3° Matutino Professor C 35-40 anos Licenciatura plena em ciências biológicas Mestrado em educação (cursando) Entre 1 e 4 anos Sim (depende ndo do assunto) 1°,2° e 3° ano do ensino médio Noturno

Fonte: Própria. Caracterização dos professores entrevistados quanto alguns parâmetros (faixa etária, escolaridade, tempo de instituição, livro adotado, séries lecionadas e turno)

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Sobre os livros didáticos, todos os professores entrevistados afirmaram utilizar de forma sistemática ou fazer a utilização do livro adotado na escola assim expressos pelos mesmos nos discursos abaixo:

Todos acabam tendo livro né. O livro é fornecido pela escola então assim, a gente pede para que eles fazem pequenos resumos e aplicação dos exercícios, estão embora se faça anotações do quadro(...)a interpretação dos textos que o livro traz e os exercícios (..) é indispensável. (...)na correção vai se aprofundando na temática. O livro adotado pela escola ele tem uma sistemática bem recomendada né diferente de outras coleções que eu já trabalhei onde eu tive que... remodelava todo a sequência de Capítulos para acabar tendo uma lógica e facilitar o aprendizado deles (Professor A). [sic]

Na maioria das vezes eu sigo o cronograma do livro mas em alguns casos não (...) no livro do primeiro ano, Eles não falam necessariamente de vírus, eles falam de que... falam das células ,de uma célula eucariótica, eles falam um pouco de DNA, um pouco de RNA ,(...) citoplasma ,aí eu puxo um pouco (...)isso é muito importante para o ensino posterior ao vírus então ,eu gosto sempre de dar uma pequena introdução no primeiro ano por mais que esse assunto não tem no livro do primeiro ano eu gosto de inserir ele no Livro 1 (Professor B). [sic]

olha após exposição do conteúdo, eu peço para os alunos dê uma lida no livro texto que trata do assunto(...) no final sempre tem um exerciciozinho(...) então é Leitura e exercício (Professor C). [sic]

Percebe-se a importância dada pelos professores entrevistados ao livro didático. Eles relataram utilizar este recurso nas aulas referentes à virologia. O uso é feito de forma sistemática pelo professor A; e pelo professor B, entretanto o segundo professor relata acrescentar alguns conteúdos, antecipando ou introduzindo um conhecimento futuro, a exemplo dos vírus que no livro aparece apenas no segundo ano do ensino médio e o mesmo julga importante antecipar alguns pontos ainda no primeiro ano do ensino médio como uma forma de introdução. Já o professor C afirmou que se faz necessária a supressão de alguns conhecimentos como os que envolvem matemática, dentre outros motivos, pela falta de tempo ou por motivos didáticos ou ainda devido ao público que atende que é bem variado por ser de turmas de EJA. Percebe-se, portanto, que o professor C seleciona assuntos que considera com maior

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prioridade em detrimento de outros de menor prioridade. Devido a isso, em alguns momentos pode-se deixar de tratar determinados capítulos ou tratá-los com maior superficialidade enquanto outros são tratados com mais atenção e mais profundamente. Ferrari e Amaral (2005) analisaram que apesar das progressivas mudanças nos perfis dos estudantes do EJA, uma vez que cada vez mais jovens integram-se neste programa de ensino, as dificuldades ainda são existentes, devido, por exemplo, à dupla jornada desses indivíduos que exercem muitas vezes atividades remuneradas no contra turno, e geralmente não se adequam a rotinas escolares, apresentando devido a isso um déficit no rendimento escolar. Tal fato exige uma adequação do professor quanto aos modos didáticos.

O livro didático é um recurso didático muito importante para o profissional docente. O mesmo apesar de sua difícil definição quanto a seus limites de uso, proporcionam um importante material de apoio a atividade do professor, que muitas vezes só possuem esse livro como recurso didático, como uma fonte de leitura qualificada e organizada sobre um determinado assunto, que nem sempre é existente em outros meios de informação.

Além disso, o livro didático proporciona benefícios próprios que são inalcançáveis por meio de outros recursos. Como na fala de Romanatto (2004): “A leitura torna indispensável um esforço para compreender, o que é altamente disciplinador e educativo”. Além disso, o mesmo autor ainda ressalta o estímulo à imaginação e à criatividade, uma vez que o leitor tem a liberdade de explorar mais texto lendo nas entrelinhas.

No Brasil, a preocupação em termos oficiais com o livro data-se de 1938 pelo Decreto-Lei 1006 (FRANCO, 1992). Entretanto com o processo de escolarização, o mesmo foi cada vez mais destaque a ponto de ser fomentado o decreto 91 54/85 que implementou o Programa Nacional do Livro e do Material Didático -PNLD que é o mecanismo regulamentador do livro didático.

Entretanto, o livro didático não deveria ser o principal recurso utilizado, nem direcionar a estrutura curricular. Tal relevância mostra-se na influência dos livros didáticos, que estimularam ou até determinam para a formulação de

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vários currículos em diversas escolas (LAJOLO, 1996). Quando deveria ser o contrário, os currículos balizando o professor na escolha do melhor livro didático que contemplasse as necessidades específicas de determinada região, assim relacionando-se melhor com a mesma.

Além disso, nota-se o uso sistemático do livro como um fenômeno recorrente (LAJOLO, 1996). Esse fato que consiste no uso progressivo e integral do livro texto adotado pela escola faz-se em parte um problema, uma vez que o livro não contempla todos os assuntos necessários à prática pedagógica e ainda pode reduzir a autonomia e criticidade do professor de poder relacionar os conteúdos com fenômenos específicos de determinada comunidade escolar, com os objetivos estabelecidos pela escola em seu projeto político pedagógico (PPP), como nas relações com os conhecimentos prévios dos estudantes. Outro fator importante, é que os livros didáticos utilizados, geralmente não foram escritos e publicados primeiramente nas regiões utilizadas (no caso específico na região Nordeste brasileira) havendo obviamente uma falta de relação mais proximal com os problemas específicos demandados por cada localidade.

4.2. Sobre as aulas referentes a vírus:

Há a prevalência de aulas expositivas a respeito do tema virologia como prática didática dos professores entrevistados. Entretanto outras modalidades didáticas também foram citadas, como pode ser visto na transcrição das entrevistas:

[...] o que seriamente se trabalha com eles, ainda mais quando são temas para se fazer uma reflexão do cotidiano deles são pequenos seminários né...então assim, a aula geralmente é expositiva né. Usa-se imagens para eles verem, e aí Usa-se pede uma análiUsa-se crítica deles [...] pequenos seminários é onde eles vão trazer dados de amostras sobre as infecções sexuais. (PROFESSOR A). [sic]

Eu por exemplo... eu gosto muito de utilizar algumas imagens, tem um vídeo no YouTube que eu não lembro agora, mas eu tenho salvo no meu computador, em que ele mostra todo o processo de como ele entra dentro de uma célula eucarionte faz todo... e ele modifica essa célula para o que, para fazer os seus metabolismos e assim seguir. Outro método que às vezes eu uso o que (...) eu penso em usar, é

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que realmente essa eu não (...) utilizei ,que é a utilização de jogos, onde esses jogos mostram o passo a passo de como é o desenvolvimento do vírus dentro de uma célula. (PROFESSOR B). [sic]

Aula expositiva, na minha aula para este assunto aula expositiva, não tem como falar.... até porque eu tenho que expor aquele conteúdo inicialmente né. Eu já tentei utilizar outros recursos (...) como por exemplo (...) foi aula expositiva associada com uma outra disciplina (...) pedimos para elaborar ao final ...foi uma sequência didática né ,teve uma exposição, teve um documentário e ao final Eu pedi para que os alunos elaborassem um cartaz de divulgação entendeu não funcionou muito bem mas foi uma tentativa.(PROFESSOR C) [sic] Sabe-se a importância das modalidades didáticas para uma melhor prática pedagógica que se mostra dentre outros aspectos na necessidade de tornar as aulas mais atrativas ao estudante, como na adequação da atuação didática aos objetivos esperados para o fim de uma dada atividade. Karas, Hermel e Gullich (2018) mostram a tendência de variação nas modalidades didáticas por parte dos professores em seus relatos de experiências apresentados em congressos, sobre aulas referentes a vírus, nas quais se valorizam as tecnologias de informação e comunicação, tendo em maior parte interesse por aprofundamento do conteúdo, logo apostando em aulas mais dinâmicas, integrando o estudante no processo de ensino aprendizado.

Além disso, desde as habilidades de competências estabelecidas nos PCN (BRASIL,1999), as modalidades didáticas já eram anunciadas como relevantes. Segundo os mesmos, para competências como representação e comunicação, investigação e compreensão e contextualização sociocultural, faz-se imprescindível o uso de outras modalidades didáticas além das aulas tradicionais expositivas, uma vez que o estudante para obter tais faculdades necessita passar de um estado passional inativo, a um estado participativo. Este estado participativo antagoniza o ensino bancário citado por Freire (1996) em que o professor é o ator principal no processo de ensino aprendizado, “aquele que professa”, cabendo o aluno a absorver o que o professor passa de forma passiva.

Outros tipos de críticas também são recorrentes a ausência de novas abordagens pelo professor. Estas críticas valem-se de argumentos do campo da psicologia do aprendizado como expresso por Meira (1998), nem todas as

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pessoas aprendem da mesma forma e com os mesmos estímulos. Logo, cabe ao professor reconhecer a pluralidade das pessoas e adaptar seu método didático a esta condição.

Há diversos fatores que podem vir a dificultar a efetivação dos planos didáticos do professor. Assim como nos fatos relatados no discurso do Professor C, quanto ao ensino no EJA, outros problemas são também recorrentes nas escolas brasileiras, dentre os quais se tem a falta de tempo dos professores para elaboração de aulas mais atrativas, como o temor de perda de controle da turma (KRASILCHIK, 2011). Entretanto, segundo a mesma autora, uma boa dinâmica na aula ajuda no melhor envolvimento e interesse dos estudantes para o aprendizado.

Quanto aos recursos didáticos, os professores como anteriormente falado, utilizam o livro didático como o principal recurso frente ao número de atividades feitas a partir do mesmo, que vão desde guia para elaboração das atividades, orientador de atividades e exercícios para os educandos. Também foram citados o Datashow (slides) e o uso de imagens como fatores cruciais para o aprendizado mais significativo do aluno no que refere ao assunto vírus.

Além do livro, a gente utiliza né os slides, Power Point (PROFESSOR A). [sic]

Fora esse do vídeo eu gosto muito... utilizo imagens, porque é complicado você só escrever no quadro e desenhar porque muitas vezes você desenha uma coisa, pode até ficar bonitinho no quadro mas quando o aluno for transcrever isso no papel não fica tão bonitinho. Então é interessante que sempre …utilizar imagens para mostrar as características do vírus e como é que eles vão agir nessas células entendeu (PROFESSOR B). [sic]

Olha como(..) como os vírus é um negócio extremamente complicado e ele se torna... se você não falar bem deles... eles se tornam algo abstrato né, porque você não consegue visualizar então ele é abstrato na cabeça do aluno. Então, eu utilizo Geralmente só o pincel, quadro branco; já está lá, o livro didático ..e essa aula de vírus eu especificamente dou com a utilização do Datashow, porque para desenhar demora muito tempo na aula. E para aproximar e falar da existência deles, que eles existem, eu utilizo o data show, não se figura ai eles acreditam mais (PROFESSOR C). [sic]

Os recursos didáticos também possuem grande relevância no processo educacional. Os mesmos caracterizam-se por instrumentos utilizados pelos

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professores para a elaboração e execução de suas aulas, ou seja, auxiliam no processo de ensino-aprendizado. Esses podem proporcionar uma melhor e maior participação por parte dos alunos, um auxílio para a motivação dos mesmos em querer aprender (CASTOLDI; POLINARSKI, 2009).

Por outro lado, é importante o professor dominar tal recurso ao ponto de saber onde, como, dentre outros fatores tal recurso irá agregar os objetivos de ensino aprendizado pensado com a prática pedagógica. Assim como o Professor B reconhece a importância dos jogos didáticos, Fortuna (2013) fala da importância dos mesmos no processo educativo, estimulando a concentração, criatividade, responsabilidade individual dentre outros benefícios em um ambiente simbólico, sendo os recursos didáticos excelentes em auxiliar o professor se bem utilizado.

Rosadas (2012) propôs o Jogo: “Quem Sou Eu? Jogo dos Vírus”. Nesse, o estudante a partir de dicas dadas pelo articulador do jogo, tem que descobrir de qual vírus se trata. Esse jogo é realizado em grupos, logo estimula a cooperação e a colaboração entre os indivíduos envolvidos. Apesar desse jogo originalmente ter sido formulado para turmas de ensino superior, pode ser utilizado, com algumas modificações, como um recurso interessante para o ensino sobre vírus no ensino médio.

Em relação aos temas transversais, apesar de alguns dos professores entrevistados demostrarem não conhecerem o conceito presente desde os PCN+ (BRASIL, 1999) à BNCC (BRASIL, 2018), sendo na BNCC esses temas denominados de temas contemporâneos transversais (TCTs); nem as temáticas sugeridas pelos mesmos, verificou-se a presença no discurso dos entrevistados de temáticas relacionadas à temática sobre vírus, tais como: meio ambiente, orientação sexual e saúde humana.

Os temas transversais mostram-se um fator necessário, complementar às disciplinas convencionais assim apresentados desde os PCNEM (BRASIL, 1999). De forma semelhante atualmente na BNCC, os mesmos foram igualmente assegurados, sendo assim expressos por Brasil (2019):

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36 Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) buscam uma contextualização do que é ensinado, trazendo temas que sejam de interesse dos estudantes e de relevância para seu desenvolvimento como cidadão. O grande objetivo é que o estudante não termine sua educação formal tendo visto apenas conteúdos abstratos e descontextualizados, mas que também reconheça e aprenda sobre os temas que são relevantes para sua atuação na sociedade. (...) o transversal pode ser definido como aquilo que atravessa. Portanto, TCTs, no contexto educacional, são aqueles assuntos que não pertencem a uma área do conhecimento em particular, mas que atravessam todas elas, pois delas fazem parte e a trazem para a realidade do estudante.

Logo, suas utilidades vêm da tentativa de discutir temas sociais com valores significativos para o exercício de uma melhor cidadania, utilizando de transdisciplinaridade, ou seja, o estabelecimento de ligação entre diferentes áreas do conhecimento para uma melhor compreensão de um fenômeno real. Os temas transversais presentes nos PCN são: ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual. Já na BNCC, os temas contemporâneos transversais são 15 distribuídos em seis macro áreas são estas: meio ambiente, economia, saúde, ciência e tecnologia, cidadania e civismo e multiculturalismo. Na literatura são muitos os textos sobre a importância dos temas transversais presentes nos PCN+ (BRASIL, 1999) inclusive, em críticas para seu possível desenvolvimento, como no trabalho de Bomfim et al. (2013), no qual criticam o texto dos parâmetros sobre os temas transversais, mais focados em meio ambiente e saúde, quanto ao caráter comportamentalista, em que transparece a isenção do estado e das instituições nos problemas analisados, ficando sempre muito focado no âmbito do indivíduo e não atuante na mudança do contexto. Entretanto, apesar das críticas, vê-se o interesse na transdisciplinaridade como os debates possíveis decorrentes de temáticas que fogem as fronteiras dos conteúdos abordados.

Quanto às dificuldades enfrentadas para o ensino de vírus, foi unânime a questão de “tamanho”. Devido suas dimensões microscópicas, segundo os mesmos, os alunos têm dificuldades de imaginar e aprender significativamente tal conhecimento, diferente de outros conteúdos. Entretanto, outras motivações também foram citadas, como a falta de prática de estudos dos estudantes: Na verdade a dificuldade não tá no tema, tá em fazer eles estudarem,

a dificuldade dos nossos alunos não é o tema em si é eles estudarem, mas o fato de serem indivíduos microscópios às vezes

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dificulta deles... imaginaram que é algo real, para ele é muito abstrato né , mas eles conseguem compreender, eles têm o nível de entendimento até tranquilo o que foge mais é porque é muito abstrato para eles é algo que ele não veem (PROFESSOR A). [sic]

A principal dificuldade que os meus alunos têm é que eles sempre são acostumados a estudar um assunto, onde eles podem visualizar as coisas, exemplo quando a gente está falando de reino animal a gente fala de exemplo de um réptil, eles já vão associar os animais que eles conhecem. Exemplo...crocodilo animais que eles pelo menos viram na TV .Quando a gente fala de vírus, como é um ser microscópico, eles não conseguem ver esses seres, aí o aprendizado já fica difícil ,assim como é o estudo de bactérias fungos(..) um assunto microscópico já fica mais difícil por conta da visualização deles (PROFESSOR B) [sic]

O professor C citou igualmente o tamanho do micro-organismo, como dificuldade para um aprendizado mais significativo. Tais perspectivas dos professores podem ser analisadas também segundo a literatura, como no trabalho (MEDEIROS et al., 2017) no qual os autores afirmam que entre as principais dificuldades no ensino sobre micro-organismos, está no alto nível de abstração requerido para o aprendizado significativo do aluno sobre estas temáticas. Cabendo ao professor utilizar de estratégias para contornar tal dificuldade.

4.3. Concepções dos professores sobre vírus:

Para fins de análise, foram consideradas todas as respostas (de cada entrevistado) como um único bloco de texto e em seguida, determinadas unidades temáticas, de acordo com as tendências surgidas no discurso dos professores entrevistados. Estas foram: relação doenças, relação vírus-câncer, transmissão viral, medidas profiláticas, estrutura dos vírus, vírus-meio ambiente, vírus biotecnologia. A tabela 2 apresenta as unidades temáticas e a quantidade de vezes em que os assuntos referentes a cada uma dessas foram citados, como os assuntos geradores de tais classificações no discurso dos entrevistados excluindo-se palavras ou frases com o mesmo valor semântico.

A partir de uma análise rápida, percebe-se a grande tendência existente nos resultados expressos na tabela 2. Podem ser observadas amplas categorias de análises, relacionando-se exclusivamente com saúde humana. Seja por aspectos onde o vírus é o agente etiológico da enfermidade, induz ao

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corpo desenvolver um estado patológico, fatores profiláticos como higienização e medidas adotadas para a não transmissibilidade dos vírus. Fora da relação Vírus-saúde humana, observaram-se aspectos sobre a estrutura viral, vírus e a vida que pode ter uma conotação geral como os vírus associados a biotecnologia. Karas, Hermel e Gullich (2018) mostram que apesar das diversas modalidades didáticas observadas e suas relações com as tecnologias da informação, tal fenômeno também se mostra recorrente à ampla relação das aulas com temas relacionado a saúde humana.

Tabela 2- Unidades temáticas presentes no discurso dos professores. Unidades temáticas

Professor A Professor B Professor C

Relação vírus-doença 14 9 16 Relação vírus-câncer 2 --- --- Transmissão viral 7 3 3 Vírus-higiene 3- 6 --- Estrutura dos vírus --- 2 --- Vírus-DST’s 7 3 4 Vírus-vida 1 1 1 Medidas profiláticas 9 6 3 Vírus-biotecnologia --- --- 1 Vírus-meio ambiente --- --- 1 Fonte: própria.

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4.4. Análise do livro didático

Foi notória a importância da análise do livro didático. Dentre outros motivos importantes, o fato de o mesmo ser o principal instrumento didático adotado pelos professores na escola, como em grande parte das escolas brasileiras. Essa etapa do trabalho foi fundamental para uma melhor compreensão sobre o ensino dos vírus, como os subsídios que os professores e os alunos têm para o processo de ensino aprendizagem no que tange tal material. O livro utilizado na escola é Contato Biologia que está em seu segundo ano do PNDL, logo ainda estará em atividade por mais um ano na escola. O texto segue a sistematização de conteúdos apresentadas no quadro 3.

Quadro 3-Conteúdos livro Contato Biologia

Fonte: Contato Biologia, Marcela Ogo e Leandro Godoy- São Paulo. Quinteto editorial. 2016.

1°série 2°série 3série

O que é biologia Classificação e estrutura dos seres vivos

genética

Origem da vida Plantas evolução

citologia Animais ecologia

Química das células Corpo humano Recursos naturais e biodiversidade Membrana plasmática --- --- Organelas --- --- Núcleo/divisão celular --- --- Processos energéticos --- --- Histologia animal --- --- Reprodução e embriologia --- ---

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Nota-se uma grande semelhança entre os conteúdos referente a este livro com a tendência explicada por Krasilchik (2011). Ou seja, apesar da abordagem em competências e habilidades presentes nos PCN (BRASIL, 1999), a formulação em conteúdos ainda é prevalente.

Para análise do livro, foram classificados seus trechos sobre conteúdos referentes a vírus em unidades temáticas. Para tanto, foi feita primeiramente uma análise identificando a presença da palavra vírus ou correlatas como virologia, viral dentre outras, em capítulos não específicos de vírus e identificando diretamente as unidades temáticas no capítulo em parte dedicado aos vírus. Nessa coleção, como explicitado no quadro 3, no segundo volume, existe o capítulo 2 da unidade 1, que é dividido em sua primeira parte sobre vírus e a segunda parte trata sobre bactérias, sendo quatro folhas reservadas para o primeiro assunto, tema de interesse deste trabalho.

O livro apresenta muitos pontos positivos quantos aos trechos referentes à virologia. O mesmo possui imagens ilustrativas didáticas e intuitivas como a presença de legendas. Para Martins e Gouvêa (2005), os recursos visuais nos livros proporcionam um melhor entendimento sobre os conteúdos tratados no texto, logo sendo muito relevantes. O texto é formado por uma linguagem fácil e acessível ao público a qual atende. Ademais, aborda aspectos fora da relação-vírus doença, embora que em menor quantidade. Estes últimos temas citados foram assuntos referentes à biotecnologia, com a discussão sobre terapia gênica e a ação dos antirretrovirais, como o trecho que relaciona vírus e ecologia, mostrando função dos mesmos na ciclagem de elementos orgânicos nos oceanos.

Além disso, é evidente a presença dos temas contemporâneos transversais (BRASIL, 2019) em seus textos. Dentre outros exemplos tem-se a relação das infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV-AIDS, com a macro área temática cidadania e civismo. No livro, há trecho que fala dos preconceitos existentes contra os soros positivos e que isso é decorrente da falta de conhecimento sobre como acontece a infecção pelo HIV. Também se observou a relação vírus com a macro área temática meio ambiente, mostrando a importância dos mesmos no ciclo do carbono nos oceanos. No

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