Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro de Pesquisa Agroflorestal de Rondônia Ministério da Agricultura e do Abastecimento
COMUNICADO
TÉCNICO
Nº 201, ago./01, p.1-4
Alternativas de manejo de plantas daninhas para a cultura do café em
Rondônia
1Rogério Sebastião Corrêa da Costa2
Júlio César Freitas Santos2
Francisco das Chagas Leônidas2
Introdução
A cafeicultura é uma das principais atividades agrícolas do estado de Rondônia. O Estado produz 80% do café da região Norte e é o segundo produtor brasileiro de café do tipo robusta. A área estimada é de 200.000 ha. Dentre as limitações da exploração cafeeira, destaca-se a intensidade da competição das plantas daninhas a partir do terceiro ano (Sampaio,1983). A cultura do café em Rondônia, devido as condições climáticas peculiares da região exige maior número de mão-de-obra para as operações de capina, tratamento fitossanitário e colheita. O estabelecimento de ‘sementeiras’ e dificuldade de mão-de-obra, são pontos cruciais que devem nortear a definição de um sistema de manejo eficaz para o controle das invasoras no cultivo do café. As perdas de produção devido ao não controle de plantas daninhas na cultura do café, podem chegar a 60% (Blanco et al., 1978). As plantas daninhas, todavia, até atingirem o ponto de concorrência, podem ser benéficas, sombreando o solo, evitando a erosão e aumentando o teor de matéria orgânica, porém durante o período seco o cafezal deverá permanecer completamente livre de invasoras, época de floração do cafeeiro. O plantio de leguminosas nas entrelinhas dos cafeeiros, em algumas regiões, tem trazido alguns benefícios para o solo e para as plantas, através da fixação de nitrogênio, fornecimento de cobertura morta, retenção da umidade e inibição do crescimento das invasoras. Assim sendo, o manejo eficiente e econômico das plantas daninhas, se constitui fator imprescindível para a viabilização da cafeicultura no Estado e região. O objetivo deste trabalho foi estudar diferentes sistemas de manejo, visando definir o melhor sistema compatível com a região.
Material e métodos
O experimento foi instalado em dezembro de 1994, numa propriedade rural, localizada no Município de Ouro Preto do Oeste. O clima segundo Köppen, é tropical chuvoso tipo Aw, cujas características se apresentam por total pluviométrico anual, oscilando entre elevado e moderadamente elevado e com nítido período de estiagem (Bastos & Diniz, 1982). A média anual de precipitação é de 2.230 mm, com umidade relativa do ar de 82% e temperatura média anual de 25,6oC. A altitude média é de 240 m e o
solo é do tipo Podzólico Vermelho-escuro com as seguintes características químicas: P = 10 mg/kg; K - 0,39 cmol/kg; Ca + Mg - 3,78 cmol/kg; Ca - 2,88 cmol/kg; Al - 0,00 cmol/kg; pH 5,8 e matéria orgânica – 13,2 g/kg. O ensaio ocupou uma área de 0,6 ha e a cultivar utilizada foi a Conilon da espécie Coffea canephora. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com oito tratamentos _______
1 Publicação financiada pelo FUNCAFÉ – Fundo de Defesa da Economia Cafeeira.
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CT/201, EMBRAPA-CPAF Rondônia, ago./01, p. 2-4
em quatro repetições, sendo o espaçamento entre as covas de 4 m x 4 m, com uma planta/cova. Não foi efetuada correção e adubação do solo e foram realizadas medidas preventivas e curativas de controle fitossanitário. Foi determinada a taxa de incidência e o nº espécies invasora, após a aplicação do devido controle, através da avaliação de duas amostras de 1m2/por repetição. O sistema de colheita
foi manual, com a realização da pratica da derriça no pano. O herbicida utilizado foi o Gramocil (diuron + paraquat), na dosagem de 1,6 litros por hectare. Os tratamentos testados foram os seguintes:
1. Cobertura morta (casca de café) nas ruas/capina manual nas linhas de cafeeiros. 2. Cobertura morta (casca de café) nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros. 3. Leguminosa perene (Arachis pintoi) nas ruas/capina manual nas linhas de cafeeiros. 4. Leguminosa perene (A. pintoi) nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros. 5. Roçada baixa nas ruas/capina manual nas linhas de cafeeiros.
6. Roçada baixa nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros. 7. Capina química da área total do cafezal .
8. Capina manual da área total do cafezal.
Resultados e discussões
No Quadro 1 são apresentados os resultados médios de produção de café em coco, durante quatro anos e não indicaram diferenças estatísticas entre os tratamentos (P<= 0,05). Apesar de não haver detectado diferenças estatísticas, observa-se que a cobertura morta com palha de café nas entrelinhas, combinado com capina química nas linhas dos cafeeiros, produziu 17% acima da testemunha, concordando com Costa et al.(1999), em Presidente Médici, RO, onde utilizaram a casca de café nas ruas do cafezal e proporcionou aumento de 80% sobre a testemunha. Observa-se também, que a menor produção foi obtida com o tratamento com A. pintoi nas entrelinhas com capina manual na linhas, que produziu 10% abaixo da testemunha.
Quadro 1. Rendimento médio em kg/ha de café em coco. Ouro Preto, Rondônia. 2001.
Tratamento Rendimento médio em kg/ha de café em coco
1996 1997 1998 1999 Média % 1 2 3 4 5 6 7 8 3.013 2.660 2.518 2.994 3.179 2.588 2.901 3.062 5.947 7.124 4.987 5.147 4.408 5.634 5.082 4.977 4.129 5.250 3.629 3.300 4.522 4.101 4.921 4.016 3.427 4.605 3.916 5.343 5.335 5.125 5.371 4.767 4.185 4.911 3.775 4.196 4.361 4.362 4.588 4.205 99 117 90 100 104 104 109 100 Média 2875 5413 4233 4770 4323 PROB F 0,1906 0,5098 0,3612 0,6420 0,8845 CV 23,77 % 22,72% 26,18% 32,84% 17,38%
Tratamentos: 1 - casca de café nas ruas/capina manual nas linhas de cafeeiros; 2 - casca de café nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros; 3 - Arachis pintoi nas ruas/capina manual nas linhas de cafeeiros; 4 - A. pintoi nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros; 5 - roçada baixa nas ruas/capina manual nas linhas de cafeeiros; 6 - roçada baixa nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros; 7 - capina química da área total do cafezal; 8 - capina manual da área total do cafezal.
Comparando os tratamentos combinados ou não com capina manual e química nas linhas, observou-se que o tratamento com herbicida foi mais eficiente no rendimento do cafeeiro, que os com capina manual. Possivelmente a capina manual danificou as raízes das plantas. Lorenzi & Almeida (1978), evidenciaram que a capina à enxada, quer a cada 45 dias, quer com maior freqüência, de forma a
manter o terreno sempre limpo de ervas, não é benéfico para o cafeeiro, reduzindo as produções ao nível da testemunha não capinada. Além disso, na avaliação de ocorrência de invasoras (Figura 1) a capina química controlou mais eficientemente que a capina manual, tanto no controle combinado como no controle individual.
Avaliando-se as combinações de controle, verificou-se que a menor incidência de plantas daninhas (Figura 1), ocorreu quando combinou-se a cobertura morta + capina química e a leguminosa A. pintoi + capina manual. Entretanto, verificou-se que apesar da leguminosa diminuir a ocorrência de invasoras, possivelmente a mesma competiu com o cafeeiro, afetando o rendimento do tratamento. Costa et al.(1999), em um ensaio em Presidente Médici, RO, verificou que a utilização da leguminosa Arachis pintoi nas ruas do cafezal competiu com o cafeeiro, apresentando rendimento médio semelhante à testemunha.
Observou-se que o roço, tanto aliado à capina manual como à química, apresentou a maior ocorrência de invasoras, entretanto, o rendimento foi maior do que com o uso de leguminosas, que apresentou uma das menores ocorrências de invasoras. A roçada baixa demostrou ser uma prática de manejo interessante, pelo sombreamento do solo, evitando a incidência direta dos raios solares, amenizando os efeitos da erosão na época das chuvas e possivelmente, aumentando o teor de matéria orgânica do solo, pela decomposição de raízes e parte aéreas e consequentemente com efeitos diretos sobre a manutenção da umidade e conservação do solo, enquanto as leguminosas por permanecerem vivas durante todo o ano, estejam competindo por água no período seco, época de floração do café, e nutrientes durante todo o ano.
0 50 100 150 200 250 300 Nº de plantas daninhas/ 8 m ² 1 2 3 4 5 6 7 8 Tratam entos
Conclusões
Mesmo sem detectar diferenças estatísticas entre os tratamentos verificou-se que:
A utilização da palha de café como cobertura morta nas ruas do cafezal, aliada ao herbicida, inibiu o desenvolvimento de plantas daninhas e contribuiu para o aumento da produtividade.
A utilização da leguminosa Arachis pintoi, aliada a capina manual, apesar de evitar a incidência das invasoras, competiu possivelmente por água e nutrientes com o cafeeiro, não funcionando como uma planta "companheira" e sim como uma invasora.
A roçada baixa demonstrou ser uma prática de manejo interessante, apesar de apresentar a maior incidência de plantas daninhas, também apresentou um dos maiores rendimentos.
Fig. 1. Ocorrência média (1998/99) de plantas daninhas no cafezal em Ouro Preto do Oeste, Rondônia. (1 - casca de café nas ruas/capina
manual nas linhas de cafeeiros; 2 - casca de café nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros; 3 - Arachis pintoi nas ruas/capina manual nas linhas de cafeeiros; 4 - A. pintoi nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros; 5 - roçada baixa nas ruas/capina manual nas linhas de cafeeiros; 6 - roçada baixa nas ruas/capina química nas linhas de cafeeiros; 7 - capina química da área total do cafezal; 8 - capina manual da área total do cafezal).
COMUNICADO TÉCNICO
CT/201 EMBRAPA-CPAF Rondônia, ago./01, p.4-4
Referências bibliográficas
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