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O Presbiterianismo independente em Santa Catarina

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O PRESBITERIANISMO INDEPENDENTE

EM SANTA CATARINA

FLORIANÓPOLIS 1995

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O PRESBITERIANISMO INDEPENDENTE

EM SANTA CATARINA

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em História à Banca Examinadora da Uni­ versidade Federal de Santa Catarina, sob a orientação do Professor Doutor Rufíno Porfírio Almeida.

FLORIANÓPOLIS 1995

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eficiente e segura durante todo o processo de elaboração deste trabalho.

Às igrejas presbiterianas independentes de Santa Catarina, por permitirem o acesso às informações contidas em seus livros de registros.

A direção do jornal Q Estandarte, por facilitar o acesso a seu acervo.

A Ia Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, na pessoa do Rev. Abival Pires da Silveira, por ter colocado a minha disposição o Centro de Documentação e História “Rev. Vicente Themudo Lessa”, pertencente a essa instituição.

Ao Rev. Adão Evilásio Vieira, por oferecer-me uma farta biblio­ grafia, que serviu de base à pesquisa.

Às diversas pessoas que me forneceram preciosas informações, contribuindo para cobrir as lacunas deixadas pela documentação oficial.

Ao Vidomar, meu amigo, que prestou valiosa colaboração, reali­ zando a revisão ortográfica desta dissertação.

Aos professores do Curso, que contribuíram para o meu aperfei­ çoamento no Mestrado.

Aos amigos, que durante todo esse tempo me estimularam na rea­ lização deste trabalho.

Aos meus pais, Aurélio e Edite, pelo apoio e carinho.

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paciência durante as longas horas em que se viram privadas da minha compa­ nhia.

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LISTA DE FIGURAS... ix LISTA DE ANEXOS... ... ... ... xi LISTA DE SIGLAS... xi RESUMO... ... xii ABSTRACT... ... ... xiii INTRODUÇÃO... 1

CAPÍTULO 1 - A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL...7

1.1 As Raízes...7

1.2 As Raízes no Brasil... 14

1.2.1 Missão Calvinista Francesa... ... 15

1.2.2 Missão Holandesa...16

1.2.3 O Protestantismo de Missão... ...18

CAPÍTULO 2 - A IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE... 32

2.1 Origem...32

2.1.1 A Questão Educativa...34

2.1.2 A Questão Maçônica...39

2.1.3 A Questão das Missões Nacionais... 41

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CAPÍTULO 4 - SIMBOLOGIA E ESTRUTURA ECLESIÁSTICA DA

IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL...76

4.1 Simbologia... ...76

4.2 Estrutura Eclesiástica da Igreja... 78

4.2.1 Sistema de Governo da Igreja... 78

4.2.2 Estrutura Conciliar da Igreja... 81

4.3 Estrutura Leiga da Igreja... ...86

CAPÍTULO 5 - A IGREJA NA ATUALIDADE... 97

5.1 IPI DE FLORIANÓPOLIS... ... ...97

5.1.1 Histórico... 97

5.1.2 Pastores da Igreja...100

5.1.3 Atividades atuais da Igreja... 102

5.2 IPI DO ESTREITO...103

5.2.1 Histórico... . 103

5.2.2 Pastores da Igreja... 108

5.2.3 Atividades atuais da Igreja... 109

5.3.IPI DA COLONINHA...111

5.3.1 Histórico... 111

5.3.2 Atividades atuais da Igreja... ...115

5.4 IPI DE SÃO FRANCISCO DO SUL...117

5.4.1 Histórico... ... ... . 117

5.4.2 Pastores da Igreja...119

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5.5.3 Atividades atuais da Igreja...128

5.6 2a IPI DE JOINVILLE...130

5.6.1 Histórico... . 130

5.6.2 Pastores da Igreja... ... . 134

5.6.3 Atividades atuais da Igreja... ...135

5.7 3a IPI DE JOINVILLE... 136

5.7.1 Histórico...136

5.7.2 Pastores da Igreja... ...140

5.7.3 Atividades atuais da Igreja... .... ... ...141

CONCLUSÃO... ...144

ANEXOS... ...146

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Figura n.2 - Ashbel Green Simonton... 21

Figura n.3 - Organograma - Io Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil - 1888 ... ... ... 26

Figura n.4 - Eduardo Carlos Pereira... 33

Figura n.5 - Organograma - Io Sínodo da Igreja Presbiteriana Independente - 1908 ... ... ... ... 50

Figura n.6 - Logomarca da Igreja Presbiteriana Independente ... 77

Figura n.7 - Organograma - Estrutura Conciliar da Igreja Presbiteriana Inde­ pendente ... 83

Figura n.8 - Organograma - Estrutura Leiga da Igreja Presbiteriana Inde­ pendente ... 94

Figura n.9 - Templo da IPI de Florianópolis ... 100

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Figura n.13 - Templo da Ia IPI de Joinville ... 127

Figura n. 14 - Templo da 2a IPI de Joinville ... 134

Figura n.15 - Templo da 3a IPI de Joinville ... 140

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Anexo n.2 - Manifesto à Igreja Presbiteriana no Brasil...151

Anexo n.3 - Manifesto às Igrejas-Mães... 167

LISTA DE SIGLAS

IPI - Igreja Presbiteriana Independente

IPB - Igreja Presbiteriana do Brasil

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na. Florianópolis, 1995. 181 f. Dissertação (Mestrado em História) - Curso de

Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina.

Orientador: Prof. Dr. Rufíno Porfírio Almeida Defesa: 19/12/95

Estudo sobre o [Presbiterianismo independente] em Santa Catari­ na, procurando mostrar as suas raízes, na Reforma, no século XVI, o seu sur­ gimento no Brasil, resultado de um cisma na Igreja Presbiteriana, em 1903, e o seu estabelecimento no Estado, em 1904 e 1930. Apresenta também a estrutura eclesiástica da Igreja, além de reconstruir a história das igrejas locais e abordar as diversas atividades desenvolvidas pelas mesmas na atualidade.

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in Santa Catarina. In order to introduce the reader to the theme, we attempt to contextualize Presbyterianism by showing its origins in Europe, during the 16th century, and also its introduction in Brazil, in the 19th century. Still contextua- lizing, we analyze the schism in Brazilian Presbyterianism, in 1903, which cau- sed the creation of the Independent Presbyterian Church. Henceforth, we try to particularize the theme, presenting the introduction, in Santa Catarina (Brazil), of both the Presbyterian Church and the Independent Presbyterian Church. This study also presents ali the ecclesiastical organization on which the Brazi­ lian Independent Presbyterian Church is based, in order that the reader become better acquainted not only with the history of that church, but also with its in­ ternai organization. Finally, the study presents an overview of the independent Presbyterian churches in Santa Catarina, reconstructing the history of each one of them, as well as describing the religious and social activities they perform presently. By this we try to demonstrate that the church is not a closed ecclesi- astic organization comprised within four walls, but one which tries to face the constant challenges of the society in which it is inserted, contributing for the recuperation of human dignity.

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bem como os protagonistas dessas questões. A construção histórica se desen­ volvia dentro dessa perpectiva, desconsiderando o homem no seu cotidiano.

No entanto, de acordo com Agnes Heller, “a vida cotidiana não está fora da história, mas no centro do acontecer histórico”.1 É nesta vida coti­ diana que ocorrem as experiências vividas pelo homem. Dessa forma, o uni­ verso do historiador se descortina para um campo muito vasto de possibilida­ des de investigação. Paul Veyne afirma que “tudo o que compôs a vida cotidi­ ana de todos os homens,..., é, de direito, caça para o historiador”.2

É dentro dessa concepção histórica, a qual leva em conta toda a experiência humana, que escolhemos como objeto de estudo uma temática re­ ligiosa: O Presbiterianismo Independente em Santa Catarina.

Herbert Butterfield, em sua obra, El Cristianismo v la História. comenta que “a religião condiciona a maneira com que os homens captam os acontecimentos históricos ou se comportam nas vicissitudes históricas, seja a respeito de suas próprias vidas, seja ao estudar o passado”.3 Portanto, segundo o seu argumento, a história humana se orienta de acordo com as perspectivas religiosas de cada geração.

Acreditando ser a questão da religiosidade de grande relevância para compor o quadro da historiografia catarinense, gostaríamos de fazer um breve comentário sobre as produções acadêmicas do Curso de Mestrado em

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História da Universidade Federal de Santa Catarina que abordam esse tipo de temática.

Dentre as produções que enfocam a religiosidade de determinadas comunidades catarinenses, a grande maioria estão ligadas ao catolicismo, como:

- A expansão da Igreia em Santa Catarina, a reacão anti-clerical e a questão do clero nacional (1892-19201 de Ana Maria Martins Coelho Correia;

- Igreia e catolicismo popular no planalto serrano catarinense ( \ 891-19301 de Élio Cantalício Serpa;

- A sombra do campanário: o catolicismo romanizado na área de colonização italiana do médio vale do Itaiaí- Acu ( \ 892-19181 de Norberto Dallabrida; e - Cotidiano e religião: a construção de uma cultura religiosa em Nova Trento.

de Ana Maria Marques.

Na área do protestantismo, encontramos somente dois trabalhos:

- Consciência germânica e Luteranismo na comunidade alemã de Florianópo­ lis (1868-19381 de João Klug; e

- A história da Igreia Presbiteriana em Florianópolis (1898 - 19301 de Osval­ do Henrique Hack.

Klug4 faz um estudo sobre a comunidade luterana de Florianópo­ lis, procurando compreender a manifestação da consciência germânica dentro desta comunidade. O autor defende a idéia da igreja com um dos pilares de sustentação do germanismo entre os imigrantes alemães no Estado de Santa Catarina.

Já Hack5 tem como objeto de estudo a Igreja Presbiteriana em Florianópolis. O trabalho aborda a implantação do Presbiterianismo no Brasil,

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sua expansão para os estados do Sul, o estabelecimento da Igreja Presbiteriana de Florianópolis e a crise que abalou esta igreja no final da década de 20.

O presente trabalho apresenta certos pontos em comum com o trabalho de Hack. No entanto, gostaríamos de ressaltar que, enquanto sua ótica se concentra na Igreja Presbiteriana do Brasil, analisando uma comunidade de Florianópolis, o nosso enfoque se dirige para a Igreja Presbiteriana Indepen­ dente do Brasil, analisando as comunidades catarinenses.

Cremos que tanto o trabalho de Hack como o presente estudo são de grande relevância, pois são complementares, dando ao leitor uma visão ge­ ral do Presbiterianismo, quer do ramo tradicional, quer do ramo independente.

Para melhor compreender esta dissertação, apresentamo-la dividi­ da em cinco capítulos, onde expomos o seguinte:

O primeiro capítulo traz uma contextualização histórica do Presbi­ terianismo, procurando mostrar as suas origens no Calvinismo. Apresentamos também as primeiras manifestações calvinistas no Brasil, como a missão cal- vinista francesa, no século XVI, e a missão holandesa, no século XVII. Ainda neste capítulo, mostramos o estabelecimento do Presbiterianismo no Brasil, no século XIX, através de missionários norte-americanos ligados a empresas mis­ sionárias, como o Committee de Nashville e o Board de Nova York.

O segundo capítulo aborda as lutas eclesiásticas que surgiram no seio da Igreja Presbiteriana do Brasil, no período de 1888 a 1903, cujas causas estavam ligadas à questão educativa, à questão maçônica e à questão das mis­ sões nacionais, resultando num movimento separatista e conseqüente surgimen­ to da Igreja Presbiteriana Independente.

O terceiro capítulo trata da chegada da Igreja Presbiteriana em Santa Catarina, primeiramente em São Francisco do Sul (1900) e logo após em Florianópolis (1901). Além disso, este capítulo mostra também o surgimento

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da Igreja Presbiteriana Independente no Estado, resultado de dissidências lo­ cais, nessas mesmas cidades, respectivamente em 1904 e 1930.

O quarto capítulo apresenta a simbologia da Igreja e o seu signifi­ cado, bem como o sistema de governo presbiteriano e toda a estrutura eclesi­ ástica em que está montada a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.

O quinto capítulo enfoca o presbiterianismo independente em Santa Catarina na atualidade, reconstruindo primeiramente a história de cada

uma das comunidades locais e apresentando as diversas atividades desenvolvi­ das pelas mesmas, quer sejam religiosas ou sociais.

Para a elaboração desta pesquisa foram utilizadas vários tipos de fontes. Além das fontes bibliográficas, que nos permitiram apresentar uma vi­ são geral do Presbiterianismo, tivemos acesso ao acervo documental das co­ munidades presbiterianas independentes de Santa Catarina, consultando livros de atas dos Conselhos e das assembléias das igrejas. Essa documentação nos forneceu elementos importantes para a reconstrução da história de cada uma das igrejas locais.

Outra fonte de grande valor para o nosso trabalho foram os jor­ nais, tanto os seculares como os religiosos, pois preencheram muitas lacunas existentes na própria documentação das igrejas. Grande parte dos jornais por nós utilizados estão arquivados na Biblioteca Pública do Estado de Santa Ca­ tarina. Utilizamo-nos também de alguns exemplares microfilmados existentes na Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina.

Dentre os jornais pesquisados, queremos destacar O Estandarte. fundado em 1893, órgão oficial da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, cuja coleção completa está arquivada no Escritório Central da Igreja, em São Paulo.

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Também nos valemos de depoimentos informais, que contribuíram no esclarecimento de dúvidas ainda existentes, possibilitando uma melhor construção do tema.

Além das fontes já citadas, utilizamo-nos também de relatórios pastorais, de extrema importância, pois permitiram-nos apresentar as ativida­ des religiosas e sociais das igrejas locais, abordadas no quinto capítulo.

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NOTAS

1 HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. 3. ed. Rio de Janeiro : Editora Paz e Terra, 1989, p. 20.

2 VEYNE, Paul. Como se escreve a História. Lisboa : Edições 70, 1971, p. 33.

3 BUTTERFIELD, Herbert. El Cristianismo v la História. Buenos Aires : Ediciones Carlos Lohlé, 1957, p. 18.

4 KLUG, João. Consciência germânica e Luteranismo na comunidade alemã de Florianópolis (1868-1938Y Florianópolis, 1991. Dissertação (Mestrado em História) - Curso de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina.

5 HACK, Osvaldo Henrique. A história da Igreia Presbiteriana em Florianó­ polis 11898-19301 Florianópolis, 1979. Dissertação (Mestrado em Histó­ ria) - Curso de Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina.

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1.1 As Raízes

A Igreja Presbiteriana vai encontrar suas origens na Reforma, movimento ocorrido no início do século XVI, que provocou a ruptura da Igreja Católica Ocidental em duas fortes correntes, dando origem às várias organiza­ ções eclesiásticas do protestantismo, cujos ramos principais foram: o Lutera- nismo (Alemanha, Dinamarca, Suécia e Noruega), o Calvinismo (Suíça, Fran­ ça, Holanda e Escócia) e o Anglicanismo (Inglaterra).

Esse movimento não veio de surpresa. Durante a Idade Média, vozes e protestos despontavam no seio da própria Igreja, a espaços, indicando a necessidade de uma reforma, pois viam a Igreja se afastar do Cristianismo primitivo. Vozes que protestavam contra a vida irregular do clero e os erros teológicos da Igreja. São os chamados precursores da Reforma.

A Reforma teve início na Alemanha, onde Martinho Lutero, mon­ ge agostiniano, a 31 de outubro de 1517, afixou à porta da Catedral de Wi- ttenberg as célebres 95 teses, nas quais condenava a venda das indulgências1 e censurava o Papa Leão X.

O movimento reformador teve repercussão em toda Europa, ampla em alguns países, limitada em outros. Reformadores surgiram em várias partes do continente.

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Uma das grandes figuras desse movimento foi João Calvino, re­ formador francês (Figura n.l). Seu sistema teológico, basicamente formulado na sua principal obra, conhecida por Institutas2, bem como a organização eclesiástica implantada por ele em Genebra, cidade em que viveu quase a me­ tade de sua vida, deram origem ao Presbiterianismo.

Calvino nasceu na cidade de Noyon, na França, a 10 de julho de 1509, sendo seu pai Geraldo Chauvin e sua mãe Joana Lefranc.

Fez seus primeiros estudos em Noyon. Como foi destinado à car­ reira eclesiástica, seu pai obteve para ele dois benefícios eclesiásticos3, cujo objetivo era alcançar os recursos necessários para prosseguir nos estudos.

Em 1523, foi para Paris. Ali fez os estudos humanistas e iniciou os de filosofia e teologia. Foi durante esse período em Paris que começou a demonstrar simpatias pela doutrina protestante, influenciado pelo Humanismo e pelas idéias luteranas que, naquele momento, começavam a se espalhar pela França.

As mudanças de idéias que estavam ocorrendo em Calvino con­ trariavam as expectativas de seu pai, que desejava vê-lo na carreira sacerdotal. Por isso, determinou que ele fosse para Orléans e fizesse estudos de Direito.

Em 1528, fixou-se em Orléans e, em 1529, trocou Orléans por Bourges, com o objetivo de se aprimorar melhor no Direito. A convivência com diversos estudantes alemães luteranos, na Universidade de Bourges, bem como a figura de Melchior Wolmar, luterano refugiado na cidade e seu profes­ sor de grego, contribuíram para o fortalecimento de sua fé evangélica.

Calvino, pela segunda vez, fixou-se em Paris, dedicando-se, prin­ cipalmente, aó estudo das línguas originais das Escrituras e aos estudos teoló­ gicos.

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Figura n.l

.

Retrato de João Calvino

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Em 1532, publicou a sua primeira obra, um comentário ao livro De

Clementia, de Sêneca. Tinha então 23 anos.

De Paris, teria retomado a Orléans, com a finalidade de graduar- se em Direito, pela universidade dessa cidade.

O ano de 1534 foi decisivo na vida de Calvino. Descartando a possibilidade de que a Igreja Católica viesse a promover reformas, em maio de 1534, renunciou aos dois benefícios eclesiásticos que seu pai lhe havia conse­ guido. Com isso, renunciava formalmente o catolicismo romano.

Tomada pública a sua decisão, iniciaram-se as perseguições con­ tra ele, obrigando-o a sair da França e a refugiar-se em Basiléia4, na Suíça.

Foi em Basiléia que publicou sua famosa obra, as Institutas, em março de 1536, cujo prefácio é uma carta dirigida a Francisco I, rei da França, defendendo a posição dos humanistas e dos reformadores. Nessa obra, Calvino expõe sua teologia, cuja idéia fundamental é a doutrina da Soberania de Deus, a que dedica largo espaço e à qual as demais doutrinas estão diretamente liga­ das. A doutrina da Soberania de Deus, que procura alicerçar-se nas Escrituras, mostra que o Universo foi criado dentro de um plano eterno de Deus e que, havendo criado todas as coisas, Deus exerce governo soberano sobre todas essas coisas. A Soberania de Deus significa o controle absoluto de tudo que existe por Deus. De conformidade com essa doutrina, segue a da Predestina­ ção, que se caracteriza pela eleição eterna. A doutrina da Predestinação decla­ ra que Deus, antes da fundação do mundo, escolheu um certo número de indi­ víduos, dentre a multidão de perdidos, para a salvação. Essa escolha não foi baseada em qualquer ato previsto por parte dos escolhidos, mas baseada so­ mente na soberania divina. Conforme o Calvinismo, o autor do Universo é também autor da salvação do homem. Apesar da polêmica que, desde então,

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tem ocorrido em tomo desta doutrina, a mesma não é peculiar a Calvino. Este inspirou-se em Santo Agostinho e no apóstolo Paulo.

Em julho de 1536, Calvino foi convidado por Guilherme de Farei, reformador francês, a residir em Genebra5, transformando-a em seu centro de ação. Calvino resistiu mas, afinal, aceitou, sendo eleito professor de Teologia e pastor. Tinha então 27 anos.

Os regulamentos estabelecidos pelos reformadores, em fins desse mesmo ano, para a Igreja de Genebra, sofreram resistência por parte de de­ terminadas pessoas. Os descontentes constituíram uma facção política e religi­ osa, denominada Libertinos, contrários a severa disciplina imposta. Foram es­ ses Libertinos, através de uma ação conjunta, que conseguiram com que o go­ verno de Genebra decretasse o banimento de Calvino e de mais dois pastores, em abril de 1538.

Exilado de Genebra, Calvino vai para Estrasburgo6, a convite de Bucer, teólogo luterano residente nessa cidade. Ali permaneceu três anos (de setembro de 1538 a setembro de 1541), exercendo as atividades de pastor en­ tre os refugiados franceses que ali viviam e de professor de Teologia. Além disso, publicou novas obras e tomou parte em assembléias religiosas em algu­ mas cidades da Alemanha.

Em Genebra, a anarquia social que imperava na cidade fez com que o novo governo, em outubro de 1540, enviasse uma carta a Estrasburgo, pedindo a Calvino que voltasse, a fim de restabelecer a paz e reformar os cos­ tumes. A princípio, Calvino teve dúvidas e receios, mas, enfim, em setembro de 1541, ei-lo novamente em Genebra, onde permanecerá até sua morte.

Uma das primeiras providências de Calvino, logo após a sua che­ gada, foi a elaboração de um código eclesiástico que deveria reger a Igreja de

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Genebra. Esse conjunto de leis foi publicado em 20 de novembro de 1541, re­ cebendo o nome de “Ordenanças Eclesiásticas”.

Calvino deu à Igreja de Genebra um código eclesiástico com ca­ racterísticas democrática e republicana, procurando aproximar-se o mais pos­ sível dos princípios do governo da Igreja Cristã Primitiva. Era uma igreja cuja organização eclesiástica baseava-se nos seguintes princípios: governo próprio, igualdade do clero, participação dos leigos no governo e disciplina da igreja e direito ao povo de eleger os seus oficiais (ministros, presbíteros e diáconos). Foram esses princípios que posteriormente se desenvolveram no Presbiteria­ nismo.

O reformador francês não teve uma existência tranqüila. Seus tra­ balhos diários, principalmente como professor, pastor e escritor, as lutas cons­ tantes com adversários tenazes e os sofrimentos com freqüentes enfermidades fizeram com que sua vida fosse extremamente atribulada, mas também bastante produtiva.

A produção literária de Calvino foi rica e variada. Entre as obras publicadas por ele, temos escritos exegéticos, livros doutrinários, escritos po­ lêmicos e apologéticos, escritos litúrgicos e eclesiásticos, sermões e homilias, pequenos tratados.

Fruto dos seus esforços veio a ser o estabelecimento da Academia de Genebra, cujo objetivo era o preparo acadêmico de pastores calvinistas. Deu-se a inauguração em 5 de junho de 1559, sendo o primeiro reitor Theodo- ro de Beza7. “A Academia de Genebra foi um verdadeiro sucesso. Mais de oi- tocentos estudantes de teologia foram ali consagrados para a propagação do evangelho na França e na Alemanha, na Itália, na Espanha, na Boêmia, na Ho­ landa, na Inglaterra e na Escócia”.8 Essa academia tomou-se mais tarde uma universidade.

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O ano de 1564 assinalou o fim da laboriosa atividade de Calvino. As várias doenças, que frequentemente o afligiam, se acentuaram nesse ano, provocando a sua morte a 27 de maio de 1564, com 54 anos e dez meses.

Themudo Lessa, em sua obra, cita as seguintes palavras de Theo- doro de Beza: “Pela noite e pelo dia seguinte imenso era o pesar e a lamenta­ ção na cidade, porquanto a República perdera o seu mais sábio cidadão e a Igreja o seu pastor fiel, a Academia um mestre incomparável”.9

Genebra foi o centro de irradiação do Calvinismo. Os escritos de Calvino, que tiveram larga circulação, bem como a Academia de Genebra, para onde acorriam muitos estudantes estrangeiros, foram os responsáveis mais di­ retos pela expansão calvinista por toda a Europa.

O Calvinismo predominou na Inglaterra, na Escócia e na Holanda. Sua influência se fez sentir também na França, na Hungria, na Polônia e na Bo­ êmia.

Na Escócia, em dezembro de 1560, através da atuação de João Knox, discípulo de Calvino, que estudou na Academia de Genebra, a Igreja adotou a forma completa do governo presbiteriano, passando a chamar-se Igreja Presbiteriana. Portanto, foi nesse país que o Presbiterianismo surgiu, não apenas como sistema, mas como entidade distinta das demais igrejas reforma­ das.

Em princípios do século XVII, encontramos o Calvinismo já se espalhando pela Escócia, Inglaterra e Irlanda, que, no dizer de Antônio Gouvêa Mendonça, vão ser o grande laboratório em que se constituiu o protestantismo norte-americano.10

Na América, o protestantismo chegou com os puritanos11. Con­ trários a forma de governo existente na Inglaterra e ao sistema hierarquizado da Igreja Anglicana, os puritanos passaram a ser perseguidos, emigrando em

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grande número para o continente americano. Essa emigração começou na se­ gunda década do século XVII, sendo muito intensa entre 1628 e 1640, período que coincide com as intensas lutas político-religiosas na Inglaterra. Cansados de suas lutas pela liberdade religiosa e política em seu país, foram buscar na América novas condições de vida. Lá, na nova sociedade que estavam organi­ zando, podiam estruturar-se política e eclesiasticamente de acordo com as suas aspirações.

A medida que o protestantismo se espalhava na América, em fun­ ção das sucessivas ondas imigratórias de protestantes europeus, a sociedade americana foi assumindo um caráter eminentemente protestante, principalmen­ te de linha calvinista. Em conseqüência disso, foi-se instalando, na mentalidade dessa sociedade, a possibilidade de se construir uma civilização cristã modelo e que pudesse ir para além das fronteiras americanas , servindo de base para a empresa missionária que surge na segunda metade do século XIX.

Através dessa empresa, muitos missionários foram enviados para o Brasil, a fim de implantar aqui também uma civilização cristã, nos moldes da norte-americana.

1.2 As Raízes no Brasil

Os antecedentes históricos do Presbiterianismo no Brasil estão relacionados a três episódios: a missão calvinista francesa (século XVI), a mis­ são holandesa (século XVII) e o protestantismo de missão do século XIX.

Apesar da semelhança quanto aos princípios doutrinários defendi­ dos pelas pessoas que fizeram parte desses episódios, não há seqüência histó­ rica entre os mesmos, pois estes ocorreram em períodos diferentes, com perso­

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nagens de nacionalidades diferentes, sendo as causas que os trouxeram ao Brasil e os seus propósitos aqui também diferentes.

1.2.1 Missão Calvinista Francesa

A primeira tentativa de introduzir o protestantismo no Brasil deu- se com a chegada de uma expedição francesa no Rio de Janeiro, em 1555, sob o comando do Vice-Almirante Nicolas Durand de Villegaignon. Entre esses franceses, havia vários huguenotes12, cuja vinda ao Brasil era reflexo dos sé­ rios conflitos que estavam ocorrendo em seu país, entre católicos e protestan­ tes, na segunda metade do século XVI. Tais conflitos, além do fator religioso, tinham implicações políticas, pois as lideranças de ambos os grupos disputa­ vam o poder político francês.

Com o apoio do Almirante Gaspar de Coligny, Villegaignon pre­ tendia fundar a França Antártica, propiciando a esses huguenotes um refugio onde pudessem praticar livremente sua religião. Villegaignon também recebeu apoio de João Calvino, que enviou doi pastores, contribuindo para o estabele­ cimento de uma igreja cristã reformada na Baía da Guanabara.

O primeiro culto protestante no Brasil realizou-se a 10 de março de 1557, tendo como dirigente o pastor calvinista Pierre Richier. E, a 21 de março de 1557, foi organizada a Igreja, sendo celebrada a Santa Ceia, partici­ pando dela o próprio Villegaignon.

No entanto, divergências religiosas começaram a surgir entre Vi­ llegaignon e os pastores calvinistas locais, provocadas pelo ex-frade Jean Coin- tac, que fazia parte da expedição e que aparentemente aderira a igreja reforma­ da. Em vista disso, o Governador passou a perseguir a Igreja e, para escapar dessa perseguição, os huguenotes abandonaram a Ilha de Serigipe, aguardando

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em terra firme a passagem de um navio que os levasse de volta à Europa, o que veio a ocorrer em janeiro de 1558.

A falta de compromisso de Villegaignon para com a Igreja Cristã Reformada, instalada na Baía da Guanabara, prejudicou os objetivos religiosos do pequeno grupo. Isso, aliado a posterior expulsão de Villegaignon pelos portugueses, fez com que o projeto protestante de se estabelecer no continente americano fracassasse. Porém, coube a esses huguenotes o mérito de terem organizado na América, especificamente no Brasil, a primeira igreja protestan­ te, de linha calvinista, apesar de sua curta duração.

1.2.2 Missão Holandesa

A segunda tentativa de introduzir o protestantismo no Brasil foi mais séria e duradoura, tendo início em 1630, quando os holandeses se estabe­ leceram em Pernambuco.

Os holandeses consideravam a invasão na América do Sul como um prolongamento da luta contra o domínio político da Espanha que, naquele momento, submetia tanto a Holanda como Portugal. Essa luta tinha, além dis­ so, profundas implicações religiosas, pois era também uma luta contra o cato­ licismo intolerante do rei Filipe II.

Além dos fatores político e religioso, havia também o econômico, pois a invasão do Nordeste brasileiro foi promovida pela Cia. das índias Oci­ dentais13, visando o comércio do açúcar.

Para governar a área ocupada, os dirigentes dessa companhia no­ mearam João Maurício de Nassau-Siegen14, conde alemão, de 32 anos de

ida-Com a invasão dos holandeses, chegaram vários ministros evan­ gélicos da Holanda15. Esses ministros desenvolveram um trabalho não só entre

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os holandeses, mas também entre os elementos da terra (portugueses, africanos e indígenas), procurando difundir a nova crença entre os mesmos.

Várias igrejas reformadas foram estabelecidas em diversos pontos do Nordeste brasileiro16, fruto do largo trabalho desenvolvido pelos pastores em Pernambuco e áreas vizinhas. A primeira igreja a ser organizada foi a de Recife, tomando-se a mais ativa.

Com a organização dessas igrejas, grande parte dos templos cató­ licos foram transformados em templos reformados, principalmente em Recife, modificando-se o interior dos mesmos, removendo-se as imagens e desfazen­ do-se o altar.

Os reformados implantaram no Nordeste uma organização eclesi­ ástica calvinista completa. Cada congregação tinha o seu consistório17. Além disso, foram organizados dois presbitérios18, um no Recife e outro na Paraíba, e o Sínodo, o primeiro a ser instalado no Brasil, formado pela união de ambos os presbitérios.

Embora o Conde João Maurício de Nassau-Siegen fosse também um calvinista praticante, era tolerante em relação à Igreja Católica, na área de seu domínio. Os portugueses tinham liberdade de consciência e exercício de sua religião em suas casas ou dentro dos muros de seus templos. Sua política liberal levou-o a nomear um sacerdote católico para defender os interesses da igreja romana junto ao seu governo.

Frans Leonard Schalkwyk definiu Nassau da seguinte forma: “De maneira geral podemos dizer que Nassau era um estadista reformado que, de­ fendendo a livre pregação da Igreja Cristã Reformada por restrição moderada da igreja romana, procurava a paz religiosa e o bem-estar de todos os seus súditos”.19

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Em 1654, com a expulsão dos holandeses e a restauração do do­ mínio português sobre o Nordeste, desapareceu do Brasil Colonial a Igreja Cristã Reformada. A atuação enérgica do clero católico anulou a obra realizada pelos ministros reformados, fazendo prevalecer a religião oficial do Estado.

Os fracassos por parte de protestantes para se estabelecerem no Brasil, durante o perído colonial, estavam ligados aos fatores político, econô­ mico e religioso. A resistência portuguesa aos protestantes invasores era feita em nome da sua soberania política, de seus interesses comerciais e na defesa da fé católica.

1.2.3 O Protestantismo de Missão a) A Implantação Inicial

Após dois séculos da missão holandesa, vemos novamente a pre­ sença do Calvinismo no Brasil, através de missionários procedentes da Améri­ ca do Norte, que começaram a chegar a partir de meados do século XIX.

Um dos fatores que favoreceram a vinda dos protestantes e a im­ plantação dos seus trabalhos foi a assinatura do Tratado de Comércio entre Portugal e Inglaterra, em 1810. Este tratado garantia aos súditos ingleses em territórios portugueses a liberdade religiosa, sendo permitida a edificação de casas para o culto, sem, contudo, terem forma exterior de templos. Esse prece­ dente aberto aos ingleses foi estendido também aos outros grupos protestantes, com a Constituição do Império20, de 1824.

Dessa forma, pouco a pouco, os protestantes foram chegando e se estabelecendo no Brasil com relativa liberdade para suas práticas religiosas, de acordo com as normas legais da época.

O trabalho protestante efetivo no Brasil iniciou-se com os meto­ distas, através do Rev. Justin Spaulding, que chegou ao Rio de Janeiro, em

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1836, organizando uma igreja com 40 pessoas. Para auxiliar o Rev. Spaulding, veio, em 1837, outro missionário metodista, o Rev. Daniel P. Kidder. O traba­ lho desses dois missionários entrou em declínio com a volta dos mesmos para os Estados Unidos, não sendo muito claras as causas do término dessa primei­ ra missão metodista.

O estabelecimento definitivo dos metodistas no Brasil deu-se no ano de 1876, quando o Rev. John J. Ramson fundou, no Rio de Janeiro, uma igreja com 6 pessoas.

Após os metodistas, vieram os congregacionais, através do Rev. Robert R. Kalley, médico escocês e missionário por conta própria, que chegou ao Rio de Janeiro com sua esposa Sara Kalley, em 1855, indo residir em Pe- trópolis. Lá permaneceu até 1858, quando se transferiu para o Rio, organizan­ do, nesse mesmo ano, uma igreja congregacional com 14 pessoas, a mais anti­ ga igreja protestante no Brasil com serviços religiosos em português. A maioria dos membros eram madeirenses, fruto de um trabalho anterior desse missioná­ rio na Ilha da Madeira, os quais, fugindo às perseguições religiosas desencade­ adas na ilha por parte do clero católico, buscaram refugio, a princípio, na América do Norte e, depois, no Brasil, a convite do próprio Dr. Kalley.

A atividade missionária do Dr. Kalley no Brasil21 despertou a atenção do clero católico, que contestava a legitimidade de sua propaganda. A tolerância religiosa não era tão ampla a ponto de admitir a propaganda de dou­ trinas contrárias à religião do Estado. Até então, a interpretação da Constitui­ ção do Império, no seu artigo 5o, era de que o protestantismo tratava-se de algo apenas para os estrangeiros e todos os serviços religiosos tinham de ser dirigi­ dos em língua estrangeira. Para garantir a continuação de sua obra, esse missi­ onário estabeleceu contato com três grandes juristas da época22, obtendo um parecer que dava proteção à pregação protestante. O parecer, emitido em

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1860, deu nova interpretação à Constituição, quanto ao culto protestante, esta­ belecendo o direito de uso da língua portuguesa. Dessa forma, através de bases legais, o caminho estava aberto para as outras denominações protestantes que posteriormente se estabeleceriam no Brasil.

O terceiro grupo protestante a se instalar no Brasil foram os presbiterianos, com a chegada do seu primeiro missionário, Rev. Ashbel Green Simonton23 (Figura n.2). Simonton chegou ao Brasil como missionário enviado da Missão Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos, denominada New York Board. Desembarcou na cidade do Rio de Janeiro a 12 de agosto de 1859, três séculos depois da primeira tentativa dos protestantes de introduzir o Calvinis- mo no Brasil.

O missionário Simonton teve a seu favor alguns fatores que con­ tribuíram para o início de seu trabalho:

- Em primeiro lugar, a existência, no Brasil, de outros grupos protestantes, que tomaram possível a implantação de novas denominações protestantes, sem oposição ostensiva pela sociedade;

- Em segundo lugar, a divulgação antecipada da Bíblia, desde o início do Im­ pério, através de duas sociedades bíblicas estrangeiras: a Britânica, fundada em Londres, em 1804, e a Americana, fundada em Nova York, em 1816. Aqui no Brasil, seus homens, agentes e colportores24, se embrenhavam pelo País, ven­ dendo e distribuindo Bíblias, tomando conhecidas as doutrinas protestantes e abrindo, dessa forma, o caminho para a chegada dos missionários;

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Figura n.2

Foto do Rev. Ashbel Green Simonton

Fonte: Reprodução da capa da obra Diário. 1852-1867. de Ashbel Green Si­ monton.

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- Outro fator foi o grande incentivo à imigração e a política de acolhimento aos imigrantes por parte do Governo, no Segundo Reinado. O Governo acolhia os imigrantes oferecendo-lhes o direito de praticarem a sua religião. Dessa forma, o ambiente tomou-se mais favorável para os missionários protestantes.

O trabalho inicial desse missionário deu-se entre os americanos e ingleses, dirigindo serviços religiosos a bordo dos navios ou em casas particu­ lares, sempre em língua inglesa. Durante esse período, dedicou-se ao estudo da língua portuguesa.

A obra missionária de Simonton recebeu auxílio, logo no início, de seu cunhado Rev. Alexander L. Blackford, que aqui aportou em 1860, e do Rev. Francis J. C. Schneider, em 1861.

Em maio de 1861, começou a realizar suas primeiras pregações em português, numa sala alugada na Rua Nova do Ouvidor, n° 31, fazendo es­ tudos bíblicos (domingo à tarde) e cultos públicos (quinta-feira à noite). Seu trabalho foi se desenvolvendo e, a 12 de janeiro de 1862, no Rio de Janeiro, Simonton organizou a primeira igreja presbiteriana em solo brasileiro.

O fato foi registrado por ele em seu diário da seguinte forma: “No domingo, 12, celebramos a Ceia do Senhor, recebendo por profissão de fé Henry E. Milford e Camilo Cardoso de Jesus. Assim, organizamo-nos em igreja de Jesus Cristo no Brasil”.25

A Igreja Presbiteriana do Brasil nasceu, pois, através do trabalho de um jovem pastor norte-americano que, com 26 anos de idade, escolheu as terras brasileiras como campo missionário. Vinte meses após a organização da Igreja do Rio, a mesma contava com 22 membros.

Outro trabalho de Simonton foi uma viagem missionária, de 4 me­ ses (dezembro de 1860 a março de 1861), pelo interior da Província de São Paulo, examinando as possibilidades de estender o Presbiterianismo para essa

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região. Ali havia um grande número de protestantes ingleses e alemães instala­ dos, que tendia a aumentar com a imigração, oferecendo grandes oportunida­ des para a expansão do Presbiterianismo.

Simonton não teve uma vida longa. Morreu em 1867, em São Paulo, vítima de febre amarela, com apenas 34 anos de idade.

Entre as realizações desse missionário, durante os 8 anos de tra­ balho no Brasil, destacam-se: a fundação da primeira igreja presbiteriana no Brasil (1862), a fundação do primeiro jornal protestante, a Imprensa Evangéli- ça (1864), a criação do primeiro presbitério (1865) e a fundação do primeiro

Seminário (1867).

De acordo com o propósito da Junta Missionária, que era a ex­ pansão do Presbiterianismo, iniciou-se um trabalho na capital paulista, através do missionário Blackford, que chegou na região em outubro de 1863. Ali co­ meçou a trabalhar dirigindo serviços religiosos, primeiro em inglês e depois em português. E, a 5 de março de de 1865, foi organizada a segunda igreja presbi­ teriana no Brasil, em São Paulo, com 18 pessoas. Em dezembro de 1866, a igreja já possuía 35 membros.

Partindo de São Paulo, os presbiterianos lançam-se para o interior. E, em 13 de novembro de 1865, em Brotas, no sertão paulista, foi organizada a terceira igreja presbiteriana no Brasil, pelo missionário Blackford, com 11 pes­ soas. Um ano depois, a igreja já contava com 60 membros.

Após a fundação dessas primeiras igrejas, foi organizado, a 16 de dezembro de 1865, em São Paulo, o primeiro presbitério, composto pelas igrejas do Rio, de São Paulo e de Brotas.

O ato constitutivo do presbitério foi registrado da seguinte forma:

Nós, Ashbel G. Simonton, do Presbyterio de Carlisle, Alexandre L. Blackford, do

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Presbyte-rio de Washington; e Francisco J. C. Schnei- der, do Presbyterio de Ohio,..., julgamos util e conveniente exercer o direito que nos confere a Constituição de nossa Igreja constituindo um Presbyterio sob o governo e direcção da As- sembléa Geral da Egreja Presbyteriana dos Estados Unidos da America do Norte. Portan­ to, de conformidade com a forma da dieta Egreja, de facto nos constituímos em um Pres­ byterio que será chamado pelo titulo de Pres­ byterio do Rio de Janeiro, o qual deverá estar annexo ao Synodo de Baltimore.26

Um fator que favoreceu à expansão presbiteriana no Brasil, nesse período, foi o estabelecimento, em 1869, em Campinas, da Missão da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos, denominada Committee de Nashville, com a chegada dos missionários Eduardo Lane e George Nash Morton. Os missionários que ali se instalaram irradiaram o Presbiterianismo por toda a re­ gião próxima a Campinas.

Logo depois, em 1873, essa mesma missão estabeleceu um traba­ lho missionário também no Nordeste do Brasil, em Recife. Ali se instalou o Rev. John R. Smith, pioneiro no Nordeste, organizando várias igrejas na

regi-Com o desenvolvimento do trabalho presbiteriano no Brasil, no­ vas igrejas são organizadas em diversas regiões, criando-se também novos presbitérios. E, em 6 de setembro de 1888, foi instalado o primeiro Sínodo, no Rio de Janeiro, integrando quatro presbitérios.

O ato constitutivo do Sínodo assim dizia:

Nós, os membros dos Presbyterios do Rio de Janeiro, de Campinas e Oeste de Minas, e de Pernambuco, auctorizados pelas Assembléas Geraes de nossas respectivas egrejas nos Esta­

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dos Unidos, nos desligamos dellas e, juntamen­ te com as egrejas pertencentes aos Presbyterios acima mencionados, nos constituímos em um Synodo que deverá ser chamado Synodo da Egreja Presbyteriana no Brasil.27

A Igreja Presbiteriana do Brasil tornou-se, pois, autônoma das igrejas norte-americanas, ficando sob sua jurisdição eclesiástica os pastores e igrejas.

De acordo com as estatísticas do Sínodo de 1888, o Brasil conta­ va, nessa época, com 62 igrejas presbiterianas, 31 pastores (dos quais 12 já eram nacionais) e mais de 3000 membros professos (Figura n. 3).

b) A Atuação Missionária

A expansão do Presbiterianismo, em seu período inicial, deu-se, principalmente, entre a camada livre e pobre da população rural.28 Ali os mis­ sionários encontraram as condições favoráveis, devido à distância existente entre essa camada da população e os agentes da religião oficial. A presença dos sacerdotes católicos era esporádica. Estes, em sua maioria, permaneciam nas cidades ou lugares mais populosos.

Nos meios urbanos, as condições não eram propícias ao protes­ tantismo, principalmente em decorrência da proximidade física da Igreja Cató­ lica29

O método de trabalho dos missionários, nesse período, era ir de casa em casa, lendo e explicando a Bíblia.

Os primeiros cultos ocorreram nas próprias residências. Com o transcorrer do tempo, foram surgindo os salões, geralmente alugados, para as reuniões religiosas.

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Figura n° 3

Organograma do Io Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil - 1888

Fonte: RIBEIRO, Boanerges. A Igreia Presbiteriana no Brasil, da autonomia ao cisma. São Paulo: Livraria O Semador Ltda., 1987. p. 205-200.

Nos sertões, as comunidades religiosas protestantes eram essen­ cialmente leigas, sendo os serviços religiosos realizados por um dirigente leigo na ausência dos pastores.

Nas cidades, além dos cultos regulares, existia a Escola Domini­ cal, onde os fiéis estudavam a Bíblia e o Catecismo, de acordo com a faixa etária e sob a orientação de um professor.

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As primeiras comunidades protestantes eram grupos pequenos. Segundo Antônio Gouvêa Mendonça, a formação de comunidades pequenas, “deveu-se ao fato de que o protestantismo, além de ter de inserir-se em inters­ tícios do campo religioso católico, apresentou-se como uma religião ética e cognoscitivamente rigorosa, tomando bastante difícil a admissão de adeptos dados os conhecimentos religiosos exigidos e as renúncias de sua ética”.30

A educação foi uma das estratégias utilizadas pelos missionários norte-americanos, que tinham consciência do seu valor para a consolidação e expansão do protestantismo no Brasil. A falta de instrução podia ser uma bar­ reira ao aprendizado dessa nova doutrina, todo ele baseado, principalmente, na leitura da Bíblia.

A carência do sistema educacional do Império, principalmente na zona rural, aliada à discriminação e à intolerância religiosa contra as crianças protestantes nas escolas nacionais, fez com que os missionários fundassem es­ colas paroquiais junto a cada igreja presbiteriana que surgia. Essas escolas serviram de apoio ao trabalho missionário de propagação da doutrina protes­ tante.

O presbiterianismo brasileiro, nesses anos iniciais, teve como elemento integrador um periódico evangélico, intitulado Tmprensa Evangélica.

instalado a 5 de novembro de 1864, tendo como seu fundador o Rev. Simon­ ton. Segundo Boanerges Ribeiro, “a Imprensa Evangélica foi o grande integra­ dor da jovem denominação religiosa”.31 Publicava sermões e notícias de acon­ tecimentos religiosos de todo o mundo, dava apoio à luta nacional pela liber­ dade religiosa e pelos direitos civis dos acatólicos, apresentando também po­ lêmicas com jornais católicos. Apesar de ser um jornal especialmente dedicado a assuntos religiosos, era bem recebido nos círculos liberais. Esse periódico teve a duração de 28 anos, encerrando suas atividades em 2 de julho de 1892.

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Durante o período de implantação da doutrina protestante no Brasil, ocorreram oposições em quase toda a parte, principalmente por parte do clero católico. Este frequentemente exigia que fossem tomadas providências para impedir a propaganda protestante. No entanto, o Governo, respeitando os dispositivos constitucionais, dava completa proteção aos protestantes. A Constituição do Império dava garantias à liberdade de culto, com restrições quanto aos lugares do culto, à forma arquitetônica dos templos e à propaganda religiosa.

A intervenção da autoridade civil, quer do governo imperial, quer do governo provincial, reduzia a oposição aos protestantes. Quando algumas autoridades falhavam (delegados ou juizes), os pastores recorriam às autorida­ des superiores (Presidente de Província ou Ministro da Justiça).

Esses direitos e garantias, ainda que limitados, foram imprescindí­ veis aos protestantes que, em diversos momentos, tiveram de recorrer a eles.

Até aqui, o presbiterianismo brasileiro se manteve unido. No en­ tanto, divergências começaram a surgir, provocando uma violenta crise e con­ seqüente divisão, em 1903, fazendo emergir a Igreja Presbiteriana Independen­ te.

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NOTAS

1 Na Alemanha, as indulgências eram vendidas por Tetzel, frade dominicano, que anunciava o perdão dos pecados a preço de indulgências.

2 ou Instituição da Religião Cristã, sendo a Ia edição latina em 1536, e a Ia edição francesa em 1541. Foi traduzida também para o italiano, o inglês, o espanhol, o alemão e para outras línguas. A edição latina definitiva do autor é a de 1559, dividida em 4 livros, e cada livro em certo número de capítulos, num total de 80 capítulos. E, a edição francesa definitiva é a de 1560, mode­ lada pela latina de 1559.

3 A capelania de La Gesine e o curato de S. Martinho de Marteville.

4 Um dos cantões da Suíça alemã que aderiu à Reforma em 1529. Cidade re­ fugio, terra de humanistas, letrados e teólogos.

5 Genebra havia conquistado a sua independência política em 1530, com o fim do domínio dos duques de Saboya, tomando-se uma república independente, aliada à Confederação Suíça. Aderiu à Reforma graças a um trabalho desen­ volvido por reformadores franceses, anterior à chegada de Calvino. Em agosto de 1535, o governo de Genebra decretou que o culto reformado de­ veria substituir o culto católico, sendo essa decisão confirmada em maio do ano seguinte. A cidade constituiu-se em refugio dos perseguidos de outros países, como França, Itália, Inglaterra, Holanda, Espanha.

6 Cidade alemã que tinha aderido à Reforma no início do século XVI, graças a vários reformadores, servia de refugio aos protestantes perseguidos.

7 Discípulo de Calvino, sucessor e biógrafo.

8 LESSA, Vicente Themudo. Calvino 1509-1567 : sua vida e sua obra. São Paulo : Casa Editora Presbiteriana, [s.d.], p.244.

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10 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O celeste porvir : a inserção do protes­ tantismo no Brasil. São Paulo : Paulinas, 1984, p. 19.

11 Nome que se dava aos protestantes ingleses de teologia calvinista, cuja pregação se baseava em princípios morais muito rígidos e formas simples de culto.

12 Nome que se dava aos membros da Igreja Reformada na França, cuja dou­ trina se baseava no Calvinismo.

13 Criada em 1621, tendo uma diretoria composta de 19 membros.

14 Chegou ao Brasil em janeiro de 1637, permanecendo até maio de 1644.

15 Durante o período de ocupação holandesa, as igrejas reformadas foram servidas de 47 ministros.

SCHALKWIJK, Frans Leonard. Igreia e Estado no Brasil holandês 1630- 1654. Recife : Seminário Presbiteriano do Norte, 1983, p.268.

16 Ao todo, existiram, durante algum tempo, 22 igrejas reformadas em solo brasileiro.

Ibid., p.101.

17 Reunião composta pelo pastor e pelos presbíteros de uma igreja local. 18 Unidade regional eclesiástica.

19 SCHALKWIJK, Frans Leonard. Igreia e Estado no Brasil holandês 1630- 1654. Recife : Seminário Presbiteriano do Norte, 1983, p.440.

20 “A Religião Católica Romana continuará a ser a religião oficial. Todas as demais serão admitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas destinadas a esse fim, que não possuam forma exterior de Templos”.

Constituição do Império, art.5°

21 Através de cultos em português, distribuição de Bíblias pelos seus auxilia- res e publicação de artigos e traduções no Correio Mercantil.

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22 Caetano Alberto Soares, José Tomaz Nabuco de Araújo e Urbano Sabino Pessoa de Melo.

23 Diplomou-se em 1858 pelo Seminário Teológico de Princeton e foi ordena­ do em 1859.

24 Vendedores ambulantes de Bíblias, com nível primário de instrução.

25 SIMONTON, Ashbel Green. Diário. 1852-1867. São Paulo : Casa Editora Presbiteriana, 1982, p. 176.

26 LESSA, Vicente Themudo. Annaes da Ia Egreia Presbvteriana de São Paulo (T863-1903Y São Paulo : Edição da Ia Igreja Presbiteriana Indepen­ dente de São Paulo, 1938, p. 54.

27 Ibid.,p. 314.

28 Sitiantes, parceiros e agregados de fazenda. Argumento defendido por Antônio Gouvêa Mendonça.

29 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O celeste porvir : a inserção do protes­ tantismo no Brasil. São Paulo : Paulinas, 1984, p. 161.

30 Ibid., p. 256.

31 RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e cultura brasileira: aspectos cultu­ rais da implantação do protestantismo no Brasil. São Paulo : Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 100.

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2.1 Origem

O presbiterianismo independente tem origem nas lutas eclesiásti­ cas que começaram a surgir em fins do século XIX, no seio do presbiterianis­ mo brasileiro, e que culminaram no movimento separatista de 31 de julho de

1903.

Essas lutas, travadas durante 15 anos (1888-1903), giraram em tomo de três questões: a questão educativa, ligada principalmente ao Seminá­ rio; a questão maçônica; e, a questão das missões nacionais.

O personagem central, em tomo do qual giraram essas questões, foi Eduardo Carlos Pereira1 (Figura n.4). Este, figura conhecida no meio presbiteriano, destacou-se como jornalista, como professor, como escritor e como pastor.

Como jornalista, estreou na Imprensa Evangélica (1864), da qual tomou-se colaborador assíduo. Foi o fundador de dois jornais presbiterianos: a Revista das Missões Nacionais (1887)2 e O Estandarte (1893)3. Além disso, colaborou em jomais seculares, como: o Correio Paulistano. O Estado de São Paulo e a Revista da Língua Portuguesa.

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Foto do Rev. Eduardo Carlos Pereira

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Como professor, começou aos 18 anos, exercendo o magistério durante 37 anos. Deu aulas de Língua Portuguesa e de Teologia em várias instituições, dentre as quais destacamos: o Ginásio do Estado de São Paulo, o Seminário Presbiteriano e o Seminário Presbiteriano Independente.

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Exerceu também a missão de escritor. E autor de três gramáticas: Gramática Elementar. Gramática Expositiva e Gramática Histórica. Além dis­ so, escreveu: A Maconaria e a Igreia Cristã. Q Problema Religioso da América Latina. As origens da Igreia Presbiteriana Independente do Brasil. Balanço Histórico e inúmeros opúsculos e folhetos.

Sua grande vocação, no entanto, foi como pastor. Exerceu o mi­ nistério durante 42 anos (1881 a 1923), dos quais 34 anos foram na Ia Igreja Presbiteriana de São Paulo. Possuía um grande ideal, que orientou toda a sua ação ministerial: libertar o presbiterianismo brasileiro da tutela norte- americana.

2.1.1 A Questão Educativa

Em 1888, criou-se o Sínodo da Igreja Presbiteriana no Brasil, agrupando quatro presbitérios já existentes, passando a ter jurisdição eclesiás­ tica sobre os pastores e as igrejas.

Já nesse Sínodo “aparece em primeiro plano a questão do ensino e da preparação teológica dos pastores nacionais, e que a partir de então se agravava cada vez mais a ponto de, em 1903, constituir uma das causas

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fundas da separação do presbiterianismo brasileiro”

Os primeiros pastores nacionais se formaram num pequeno Semi­ nário5 fundado pelo Rev. Simonton, no Rio, em 1867, e que teve duração efê­ mera. Com a extinção desse Seminário, os novos candidatos ao ministério for­ mavam-se sob a tutela dos missionários norte-americanos. Os candidatos estu­

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davam sob a orientação dos seus tutores, eliminando disciplinas através de exames anuais perante o presbitério do qual estavam ligados.

Instalado o Sínodo, uma de suas primeiras medidas foi o estabe­ lecimento de um Seminário Teológico, para dar formação sistemática aos futu- ros pastores. Decidiu-se que a sede do Seminário seria o Rio de Janeiro e ele­ geram-se dois professores: o Rev. Alexander L. Blackford, representando o Board de Nova York, e o Rev. John R. Smith, representando o Committee de Nashville.

Muitas divergências surgiram em tomo da localização do Seminá­ rio, principalmente entre os missionários de Nova York e os de Nashville. Nessa ocasião, o Board de Nova York mantinha, em São Paulo, a Escola Americana6 e tinha como um de seus objetivos a criação de um Curso Teológi­ co. Em função disso, a maioria de seus missionários queria que a sede do Se­ minário fosse nessa cidade. Esse projeto de educação teológica na Escola Americana, idealizado pelos missionários da Board, não tinha a aprovação do Sínodo, que queria o Seminário fora de São Paulo. Por isso, a escolha do Rio de Janeiro.

Em 1891, quando da segunda reunião do Sínodo, em São Paulo, a questão do Seminário voltou a ser discutida. Tinham-se passado três anos e o Seminário não havia sido ainda instalado. A localização do mesmo foi reestu- dada, decidindo-se agora por Campinas. Existia ali o edifício do Colégio Inter­ nacional, que se tinha transferido para Lavras, havendo uma esperança de que a Missão da Igreja do Sul dos Estados Unidos cedesse esse edifício. Em substituição ao Rev. Blackford, que havia falecido, elegeu-se o Rev. Thomas C. Porter, como professor do Seminário; confirmou-se a escolha do Rev. John R. Smith; e, elegeu-se um professor nacional, o Rev. Eduardo Carlos Pereira.

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O Seminário Sinodal iria abrir suas aulas em Io de abril de 1892. Mas a morte do presidente da Diretoria do mesmo, Rev. Eduardo Lane, e a epidemia de febre amarela, que ameaçava a região de Campinas, fez com que o Seminário fosse transferido para Nova Friburgo, iniciando suas atividades em novembro de 1892.

Não concordando com a localização do Seminário em Nova Fri­ burgo e com a ausência de pastores brasileiros como professores no mesmo, pastores e presbíteros nacionais desenvolveram um plano para a criação de um Instituto Teológico7, em São Paulo, onde as condições eram mais favoráveis. Era o Plano de Ação, publicado pela Revista das Missões Nacionais, em de­ zembro de 1892, que visava inaugurar, em fevereiro de 1893, uma classe teo­ lógica e de preparatórios, tendo como professores o Rev. Eduardo Carlos Pe­ reira, o Rev. Bento Ferraz e o presbítero Remígio de Cerqueira Leite. À frente do movimento estava o pastor da Ia Igreja Presbiteriana de São Paulo, Rev. Eduardo Carlos Pereira.

Foi nesse período que começaram a surgir as primeiras dificulda­ des eclesiásticas entre o pastor da Ia Igreja de São Paulo e os missionários li­ gados ao Colégio Protestante. Como conseqüência, surgiu, em 18 outubro de

1893, a 2a Igreja Presbiteriana de São Paulo, agregando elementos saídos da Ia Igreja, principalmente ligados à Escola Americana.

Em 1894, por ocasião da terceira reunião do Sínodo, observando- se a inconveniência de dois Seminários ao mesmo tempo, o Sínodo resolveu unificá-los. Por deliberação deste, o Seminário Sinodal passou a ter sede provi­ sória em São Paulo, devendo, contudo, ir para Campinas caso a febre amarela não reaparecesse e houvesse uma resolução favorável, por parte da Missão do Sul, quanto ao prédio do Colégio Internacional.

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A transferência do Seminário para São Paulo, mesmo que provi­ sória, significava a vitória dos nacionais. Porém, havia profundas preocupações de que o Seminário fosse vítima da política de absorção por parte do Colégio Protestante ou Mackenzie8. Temia-se de que essa absorção prejudicasse a for­ mação teológica e espiritual dos futuros pastores, pois essa instituição possuía uma maioria de alunos não protestantes.

Em 25 de janeiro de 1895, inaugurou-se oficialmente, em São Paulo, o Seminário Sinodal. Horas antes da inauguração, a Diretoria tinha aprovado a proposta do Rev. Eduardo Carlos Pereira, estabelecendo dois

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sos no Seminário: o Preparatório e o Teológico. “E a declaração, em ato, de que, inaceitável para ministrar ensino teológico aos futuros pastores da Igreja, a Escola que Lane dirige é também inaceitável para ministrar qualquer ensino aos futuros pastores”.9

A rivalidade entre o Colégio Protestante, através de seu diretor10, e líderes nacionais, principalmente Eduardo Carlos Pereira, prejudicou o rela­ cionamento do Sínodo com as Juntas Missionárias, colocando em risco a coo­ peração destas no Seminário: o Board retirou o seu professor do Seminário e Nashville hesitou em ceder o seu professor.

Em função das dificuldades eclesiásticas com as referidas Juntas Missionárias, os líderes nacionais lançaram um plano para construir o prédio do Seminário, através de recursos da própria Igreja brasileira. Usariam O Es­ tandarte para mobilizar a Igreja nacional.

A campanha para a construção do edifício onde seria instalada a sede do Seminário tinha à frente a Ia Igreja de São Paulo, sendo justamente a que mais contribuiu.

Em 1897, na quarta reunião do Sínodo, em São Paulo, a questão educativa voltou a ser tocada. Este concilio determinou que o Seminário tives­

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se sede definitiva em São Paulo e realizou a votação de uma moção a ser en­ caminhada às igrejas norte-americanas, da qual reproduzimos parte:

Nós, o Sínodo do Brasil, respeitosamente re­ comendamos e rogamos às Assemléias das nossas Igrejas-Mães que o auxílio que quise­ rem prestar-nos seja no sentido de ajudar-nos no grande trabalho de evangelização pelos métodos mais diretos, incluindo o trabalho da educação e preparação de um ministério, con­ forme os planos do Sínodo, e no sustento de escolas paroquiais para os filhos dos crentes.11 Foi um golpe direto contra o Mackenzie. O Sínodo queria auxílio das igrejas norte-americanas para a evangelização direta, para a formação dos pastores e para a educação das crianças da Igreja; e não para manter os gran­ des colégios dirigidos pelos missionários.

O Sínodo de 1897 assinalou o momento mais alto na carreira mi­ nisterial do Rev. Eduardo Carlos Pereira. As idéias defendidas por ele pareci­ am se concretizar, principalmente as que se relacionavam ao Seminário e à questão educativa.

Logo em seguida, a Diretoria do Seminário, sob recomendação do Sínodo, comprou um terreno em São Paulo e, em 7 de julho de 1898, deu-se o lançamento da pedra fundamental do edifício do Seminário.

Em novembro de 1898, reuniu-se a Diretoria do Seminário a fim de resolver problemas financeiros. Nessa reunião, o Rev. Eduardo apresentou um projeto de reorganização do Seminário, já proposto em uma outra reunião, no ano anterior.

O plano proposto era a transformação do Curso Preparatório Ane­ xo em colégio regular, garantindo ao Seminário um meio próprio de subsistên­ cia. Por outro lado, proporcionaria aos filhos das igrejas um meio espiritual­

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mente mais adequado do que aquele do Mackenzie. Seu grande ideal, quanto à questão educativa, resumia-se em um lema: “A educação dos filhos da Igreja pela Igreja e para a Igreja”.

Essa proposta sofreu forte oposição, recebendo votos contrários da maioria da Diretoria, deixando-se para o Sínodo decidir. Em função da re­ jeição do seu plano, o Rev. Eduardo começou a reservar-se quanto à questão

do Seminário.

No ano seguinte, em julho de 1899, o Rev. Eduardo renunciou à cadeira de professor do Seminário. E, em 7 de setembro desse mesmo ano, quando da inauguração do edifício do Seminário, ali não esteve presente.

A Direção do Seminário, após o rompimento com Eduardo Carlos Pereira, havia-se aproximado a tal ponto do Mackenzie que permitiu a esta es­ cola absorver o seu Curso Preparatório.

A Diretoria aceitou as ofertas do Mackenzie para instrução gratui­ ta, em nível de preparatórios, a todos os estudantes do Seminário que quises­ sem fazer o Curso Preparatório naquela instituição.

Vencido na questão educativa, Eduardo Carlos Pereira continuaria a sua luta, agora contra a Maçonaria.

2.1.2 A Questão Maçônica

Em fins de 1898, surgiu uma outra questão, trazendo sérias con­ seqüências para a Igreja Presbiteriana do Brasil - a incompatibilidade entre a Maçonaria e a Igreja. “Esta questão dispersou de vez a maioria compacta que, em 1894 e 1897, se pronunciara tão energicamente contra o esforço absorvente do Colégio Protestante. A questão maçônica foi o sinal da debandada”.12

Em 10 de dezembro de 1898, o médico evangélico Nicolau Soares do Couto Esher, publicou um artigo em O Estandarte. “A Maçonaria e o

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Crente”, usando o pseudônimo de Lauresto, provocando uma grande polêmica no seio da Igreja. Foram 12 artigos escritos por ele, pelos quais procurava de­ monstrar a incompatibilidade entre os princípios maçônicos e os princípios da Igreja. Vários ministros e presbíteros, bem como membros da Igreja, estavam filiados à Ordem. Por isso, foram dirigidos muitos ataques contra ele.

O debate se fazia através de O Estandarte, que, mostrando neu­ tralidade diante da questão, aceitava artigos dos dois lados. Em fins de abril de 1899, o jornal deu por encerrado o debate. No entanto, mais tarde, a questão voltaria a ser discutida em O Estandarte.

Em julho de 1899, um abaixo-assinado dirigido ao Presbitério de São Paulo, por alguns membros da Ia Igreja de São Paulo, da qual o Rev. Edu­ ardo era pastor, pedia a organização de uma nova igreja na capital. Era mais uma dissidência. Esta, organizada em 22 de setembro de 1899, com o nome de Igreja Filadelfa, agrupava elementos que eram contrários à campanha anti- maçônica.

Em 1900, por ocasião da quinta reunião do Sínodo, em Campinas, houve, do início ao fim, divergências entre este concilio e o Rev. Eduardo Carlos Pereira, principalmente em relação ao seu Plano de Reorganização do Seminário e a sua posição quanto à Maçonaria.

O Plano de Reorganização do Seminário, já apresentado em mo­ mentos anteriores à Diretoria do Seminário e levado a esse Sínodo por Eduar­ do Carlos Pereira, foi rejeitado, sendo julgado inoportuno.

A questão maçônica, levada ao Sínodo por dois concílios inferio­ res (a Sessão da Ia Igreja13 e o Presbitério de São Paulo), foi liquidada. O Sí­ nodo, recusando-se a discutir a questão que lhe fora submetida, limitou-se a votar favoravelmente ao seguinte parecer, formulado por uma comissão: “É permitido a um membro da igreja ser maçom se a sua própria consciência não

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o proíbe. O Sínodo reconhece o direito de cada membro ter a sua opinião a respeito, mas julga prejudicial à causa do Evangelho qualquer propaganda pró ou contra a Maçonaria”.14

Durante muitos anos, o Rev. Eduardo Carlos Pereira exerceu grande influência no meio presbiteriano. Suas idéias eram sempre bem aceitas. Sempre tinha do seu lado a grande maioria dos presbiterianos, inclusive muitos missionários. No entanto, seu Plano de Reorganização do Seminário, que con­ trariava a política educativa do Mackenzie, e a sua posição contrária à Maço­ naria, fez com que ficasse isolado no Sínodo de 1900. Mesmo isolado, ele não abandonaria seus ideais, sendo um deles a ampliação da luta contra a Maçona­ ria.

Em janeiro de 1901, explodia em O Estandarte uma nova fase da questão maçônica. Agora, os ataques à Maçonaria eram feitos pelo Rev. Edu­ ardo, através de uma série de artigos assinados por ele, sob o título “A Maço­ naria na Igreja”. Os ataques contrários as suas idéias se verificavam principal­ mente no jornal O Estado de São Paulo, através de artigos publicados por ma- çons.

Além da luta anti-maçônica, Eduardo Carlos Pereira tinha a con­ vicção de que era preciso conquistar a autonomia plena da Igreja nacional, em relação às missões norte-americanas, de modo que ela pudesse dirigir-se e sustentar-se sozinha.

2.1.3 A Questão das Missões Nacionais

Quando da organização do Sínodo da Igreja Presbiteriana no Brasil, em 1888, uniram-se três elementos distintos: os missionários america­ nos, da Igreja Presbiteriana do Norte dos Estados Unidos, ligados ao Board de Nova York, os missionários americanos da Igreja Presbiteriana do Sul dos Es­

Referências

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