• Nenhum resultado encontrado

Computação simbólica em Maple no cálculo das variações

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Computação simbólica em Maple no cálculo das variações"

Copied!
92
0
0

Texto

(1)

Universidade de Aveiro 2006

Departamento de Matemática

Andreia Marques

Freitas Louro

Computação Simbólica em Maple

no Cálculo das Variações

(2)

Universidade de Aveiro 2006

Departamento de Matemática

Andreia Marques

Freitas Louro

Computação Simbólica em Maple

no Cálculo das Variações

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Matemática, realizada sob a orientação científica do Prof. Doutor Delfim Fernando Marado Torres, Professor Auxiliar do Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro.

(3)

o j´uri

presidente Prof. Doutor Vitor Manuel Carvalho das Neves

Professor Associado da Universidade de Aveiro

vogais Prof. Doutora Margarida Maria Lopes da Silva Camarinha

Professora Auxiliar da Faculdade de Ciˆencias e Tecnologia da Universidade de Coimbra

Prof. Doutor Delfim Marado Torres

(4)
(5)

agradecimentos Agrade¸co ao meu orientador, o Prof. Doutor Delfim Fernando Marado Torres, pela constante disponibilidade e por todo o apoio e motiva¸c˜ao que me deu em todos os momentos da elabora¸c˜ao desta disserta¸c˜ao. O seu apoio cient´ıfico foi indiscut´ıvel e ser sua orientanda um enorme privil´egio. Quero expressar tamb´em a minha gratid˜ao `a minha fam´ılia pela constante assistˆencia e encorajamento que me deram ao longo de toda esta ´epoca de trabalho.

(6)
(7)

Palavras-chave C´alculo das Varia¸c˜oes, equa¸c˜ao de Euler-Lagrange, Braquist´ocrona, Maple.

Resumo Ao longo desta disserta¸c˜ao vamos explorar o sistema de computa¸c˜ao

alg´ebrica Maple 9.5, com a finalidade de identificar e ilustrar as suas potencialidades e fraquezas na ´area do C´alculo das Varia¸c˜oes: uma ar´ea cl´assica da Matem´atica que estuda os m´etodos que permitem encontrar valores m´aximos e min´ımos de funcionais do tipo integral. Come¸camos por formular o problema elementar do C´alculo das Varia¸c˜oes e por apre-sentar a resolu¸c˜ao de diversos problemas solucionados pela aplica¸c˜ao das condi¸c˜oes necess´arias de Euler-Lagrange. Parte dos problemas variacionais s˜ao normalmente resolvidos por recurso a estas condi¸c˜oes, que s˜ao, em geral, equa¸c˜oes diferenciais de segunda ordem, n˜ao lineares e de dif´ıcil resolu¸c˜ao. De seguida, determinamos a funcional integral para o problema cl´assico da Braquist´ocrona e, depois de apresentarmos a formula¸c˜ao matem´atica para o mesmo, mostramos como o podemos resolver sob o ponto de vista da teoria do C´aculo das Varia¸c˜oes e do Maple. A extremal para o problema da Braquist´ocrona ser´a apresentada na forma param´etrica e ser´a calcu-lado o tempo de descida min´ımo para a curva encontrada. Finalmente, reformulamos o problema cl´assico da Braquist´ocrona restringindo a classe das fun¸c˜oes admiss´ıveis e verificamos que, apesar do problema ter cerca de trezentos anos, existem quest˜oes sobre a Braquist´ocrona para as quais parece, ainda, n˜ao haver resposta.

(8)
(9)

Keywords Calculus of Variations, Euler-Lagrange equation, Brachistochrone, Maple.

Abstract Along this dissertation we are going to explore the computer algebra system Maple 9.5, with the purpose of identify and illustrate its potentialities and weaknesses in the area of the Calculus of Variations: a classical mathe-matical area which studies the methods to get the maximum and minimum values of integral functionals. We start by formulate the elementary pro-blem of Calculus of Variations and by presenting the resolutions of some problems solved using the Euler-Lagrange necessary conditions. Most part of variational problems are usually solved with the help of this conditions, which are, in general, second order differential equations, nonlinear and hard to solve. After we determinate the integral functional for the classical Brachistochrone problem and, after we present its mathematical formula-tion, we show how we can solve it by the point of view of the Calculus of Variations and using Maple. The extremal for Brachistochrone problem will be presented in the parametric form and the minimum time of descent for such curve will be calculated. Finally, we reformulate the Brachistochrone classical problem by restricting the class of admissible curves noticing that, although the problem is three hundred years old, there are questions about Brachistochrone for which answers seems to be unknown.

(10)
(11)

Conte´

udo

Introdu¸c˜ao 1

1 C´alculo das Varia¸c˜oes 5

1.1 Introdu¸c˜ao . . . 5

1.2 Problema Elementar do C´alculo das Varia¸c˜oes . . . 7

1.3 Equa¸c˜ao de Euler-Lagrange . . . 7

1.3.1 Alguns Casos de Integrabilidade da Equa¸c˜ao de Euler-Lagrange . . . . 10

1.4 Problema Isoperim´etrico . . . 22

1.5 Algumas extens˜oes do problema elementar . . . 25

1.5.1 Problema do c´alculo das varia¸c˜oes com duas vari´aveis dependentes . . 25

1.5.2 Problema do c´alculo das varia¸c˜oes com derivadas de ordem superior . 26 1.6 Conclus˜ao . . . 31

2 O Problema da Braquist´ocrona 33 2.1 Introdu¸c˜ao . . . 33

2.2 Formula¸c˜ao do problema . . . 34

2.3 A Cicl´oide . . . 36

2.4 Solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Euler-Lagrange no caso da Braquist´ocrona . . . 38

2.4.1 Exemplos . . . 44

2.5 Conclus˜ao . . . 50

3 Variante do Problema da Braquist´ocrona 53 3.1 Introdu¸c˜ao . . . 53

3.2 Reformula¸c˜ao do problema da Braquist´ocrona . . . 54

3.3 Quest˜ao . . . 55

3.3.1 Interpola¸c˜ao racional de Thiele . . . 57

3.3.2 Exemplo . . . 58

3.4 Integra¸c˜ao da equa¸c˜ao de Euler-Lagrange . . . 60

(12)

Conclus˜ao 65

Apˆendices 69

A Fun¸c˜ao criada em Maple 69

B C´aculos Auxiliares 71

B.0.1 Polin´omio de Taylor . . . 71 B.0.2 C´alculos auxiliares relativos ao exemplo em §3.3.2 . . . 71

Bibliografia 75

(13)

Introdu¸

ao

Os tempos actuais s˜ao tempos de profunda transforma¸c˜ao tecnol´ogica originada pela r´apida evolu¸c˜ao e difus˜ao de novas tecnologias, em particular as associadas aos computa-dores e `as comunica¸c˜oes. Estas tecnologias est˜ao a alterar significativamente n˜ao apenas os processos de produ¸c˜ao de bens materiais mas tamb´em os processos de difus˜ao das ideias e, consequentemente, os modos de viver em sociedade. S˜ao novas profiss˜oes que surgem, s˜ao novas ´areas de conhecimento, novos materiais, instrumentos e formas de organiza¸c˜ao do tra-balho que se afirmam. As aplica¸c˜oes da tecnologia computacional incluem ´areas t˜ao diversas como a investiga¸c˜ao cient´ıfica, a gest˜ao das grandes empresas, o controlo dos processos de produ¸c˜ao industrial, e o seu uso como meio de divers˜ao ou como auxiliar da aprendizagem. Em todas as ´areas que tem influenciado, a Inform´atica sugeriu novos m´etodos de trabalho e ajudou `a formula¸c˜ao e resolu¸c˜ao de novos problemas.

Nestes ´ultimos anos temos visto o ”crescer”de uma matem´atica experimental, nomeada-mente, da utiliza¸c˜ao de modernas tecnologias computacionais como ferramentas activas na investiga¸c˜ao matem´atica: a ideia de que ”os verdadeiros matem´aticos n˜ao recorrem a tecnolo-gias”come¸ca a estar ultrapassada.

Claramente um dos principais factores para tal crescimento ´e o desenvolvimento, cont´ınuo, de poderosos softwares matem´aticos.

As ferramentas computacionais tˆem sido usadas para encontrar resultados de exemplos es-pec´ıficos, gerar gr´aficos, efectuar c´alculos e v´arias manipula¸c˜oes alg´ebricas, testar conjecturas e explorar caminhos que levem a efectuar demonstra¸c˜oes formais [2].

Os recursos gr´aficos, num´ericos e alg´ebricos, aliados ao conhecimento dos conceitos en-volvidos e dos pr´e-requisitos, proporcionam um conjunto de ferramentas para a formula¸c˜ao e testagem de conjecturas. Utilizar as ferramentas computacionais para testar conjecturas ´e um ”poupar tempo”para quem faz matem´atica uma vez que permite, rapidamente, pˆor de parte ideias falsas. `A medida que o computador simplifica os procedimentos alg´ebricos e favorece a visualiza¸c˜ao gr´afica, permite-nos ir mais longe, questionando e explorando para al´em do que j´a foi constru´ıdo e apreendido.

O aparecimento de novos conceitos matem´aticos e o encarar duma forma nova conceitos tradicionais poder˜ao ser estimulados pela generaliza¸c˜ao das t´ecnicas de c´alculo,

(14)

processa-mento, armazenamento e escrita de informa¸c˜ao pelos computadores. De facto, a tecnologia computacional tornou poss´ıvel o estudo de quest˜oes que seriam totalmente inabord´aveis ape-nas por processos tradicionais, estimulou nova investiga¸c˜ao, e voltou a dar importˆancia a quest˜oes j´a anteriormente estudadas mas entretanto negligenciadas. O computador tem, a-ssim, todas as condi¸c˜oes para exercer uma influˆencia decisiva na evolu¸c˜ao da Matem´atica como disciplina cient´ıfica, proporcionando o desenvolvimento de certas ´areas de investiga¸c˜ao e conduzindo ao apagamento relativo de outras [20].

Sendo ´util para o trabalho de investiga¸c˜ao matem´atica ´e tamb´em ´util ao aluno que quer aprender matem´atica. Contrariamente a uma imagem ainda prevalecente, a introdu¸c˜ao de novas tecnologias no processo de ensino/aprendizagem n˜ao tem que se traduzir necessaria-mente num ensino cem por cento computorizado. Pelo contr´ario, usado como ferramenta de trabalho ou como elemento de apoio `a aprendizagem, ele poder´a constituir mais um re-curso propiciador de novas experiˆencias e actividades, traduzindo-se num ensino mais rico e estimulante. A tecnologia computacional pode ajudar os educadores a captar a aten¸c˜ao dos alunos e a melhorar substancialmente o processo de aprendizagem pois: (i) acrescenta outra dimens˜ao - visualiza¸c˜ao - na apresenta¸c˜ao de conceitos matem´aticos; (ii) oferece aos alunos uma maior flexibilidade para explorar e descobrir ideias pr´oprias; (iii) torna acess´ıveis t´opicos mais avan¸cados.

Actualmente existem muitas aplica¸c˜oes e softwares matem´aticos que a tecnologia com-putacional torna acess´ıvel para todos os n´ıveis.

Um destes softwares ´e o Maple, que tem vindo a ser desenvolvido no Canad´a desde 1981 pela Waterloo Maple Inc. e do qual existem, actualmente, v´arias vers˜oes.

O Maple faz parte de uma fam´ılia de ambientes computacionais apelidados de Sistemas de Computa¸c˜ao Alg´ebrica. A computa¸c˜ao alg´ebrica, tamb´em chamada de computa¸c˜ao simb´olica, ´e uma ´area de investiga¸c˜ao moderna, que surgiu na segunda metade do s´eculo XX. O Maple ´e uma ferramenta matem´atica muito poderosa que permite realizar uma mir´ıade de c´alculos simb´olicos. Inclui um enorme n´umero de comandos, dispon´ıveis em v´arios packages (para consultar a lista dos packages existentes, executamos o comando >?package), os quais nos permitem trabalhar em ´areas como: C´alculo, C´alculo das Varia¸c˜oes, ´Algebra Linear, Equa¸c˜oes Diferenciais, Geometria, L´ogica, Estat´ıstica, entre outras. Inclui tamb´em a sua pr´opria lin-guagem de programa¸c˜ao cuja sintaxe ´e semelhante `a do Fortran, Pascal e C e permite, ao utilizador, definir os seus pr´oprios procedimentos.

Ao longo desta disserta¸c˜ao iremos dedicar a nossa aten¸c˜ao a alguns princ´ıpios do c´alculo variacional, apresentando alguns problemas que resolveremos pelos m´etodos variacionais em conjunto com o Maple 9.5.

O C´alculo das Varia¸c˜oes ´e uma ´area cl´assica da Matem´atica cujo objectivo ´e solucionar problemas de optimalidade em espa¸cos de fun¸c˜oes, descrevendo as propriedades essenciais de tais solu¸c˜oes. Esta ´area nasceu no s´eculo dezassete; desenvolveu-se nos s´eculos dezoito

(15)

e dezanove; atingiu maturidade no s´eculo vinte; e cont´ınua extremamente activa em pleno s´eculo vinte e um. Desde o seu in´ıcio o c´alculo das varia¸c˜oes tem sido aplicado a uma mir´ıade de problemas f´ısicos, matem´aticos, econ´omicos e sociais.

Desde a Antiguidade que o Homem se tem preocupado com a determina¸c˜ao de m´aximos e m´ınimos (em geral, com as solu¸c˜oes ´optimas em certo sentido) para um variedade de problemas de natureza geom´etrica ou f´ısica; mas s´o com os m´etodos da An´alise Matem´atica desenvolvidos nos s´eculos XVII e XVIII se puderam atacar tais problemas de forma sistem´atica [1].

Do ponto de vista da matem´atica moderna, o c´alculo das varia¸c˜oes ´e parte da An´alise Funcional e tem nela o mesmo papel que a teoria de m´aximos e m´ınimos de fun¸c˜oes tem no c´alculo elementar [23]. A diferen¸ca entre os c´alculos diferencial e variacional ´e o dom´ınio dos respectivos objectos a serem maximizados ou minimizados. Enquanto o c´alculo diferencial procura n´umeros com propriedades optimizadoras, o c´alculo variacional procura fun¸c˜oes com propriedades optimizadoras.

Na sua essˆencia o objectivo do c´alculo das varia¸c˜oes ´e encontrar um caminho, uma curva ou uma superf´ıcie, para os quais uma determinada funcional tem um valor m´ınimo ou m´aximo. Os exemplos que se seguem s˜ao casos particulares do problema elementar do c´alculo das varia¸c˜oes: 1

Qual ´e a curva que liga dois pontos no plano, de comprimento m´ınimo?

Problema da Braquist´ocrona: Sendo A e B dois pontos num plano vertical, qual o caminho AM B que a part´ıcula m´ovel M atravessa em tempo m´ınimo, assumindo que a sua acelera¸c˜ao ´

e apenas devida `a gravidade?2

Qual ´e a superf´ıcie de revolu¸c˜ao de ´area m´ınima que passa por dois pontos fixos,(xa, ya)

e (xb, yb)?

No c´alculo das varia¸c˜oes minimizamos/maximizamos funcionais do tipo integral. As fun¸c˜oes integrandas dependem de fun¸c˜oes desconhecidas e suas derivadas. Como exemplo, a funcional associada ao problema elementar tem a forma

J[y(·)] = Z b

a

L(x, y(x), y0(x))dx.

Normalmente os problemas do c´alculo das varia¸c˜oes s˜ao resolvidos recorrendo `a condi¸c˜ao necess´aria de Euler-Lagrange (condi¸c˜ao de optimalidade, primeiramente obtida por Euler e, mais tarde, novamente demonstrada por Lagrange, de modo mais rigoroso).

De um modo geral, a equa¸c˜ao diferencial de Euler-Lagrange ´e uma equa¸c˜ao n˜ao-linear, de segunda ordem (ou de ordem superior, quando os problemas variacionais envolvem derivadas

1

cf. §1.2, p´agina 7.

(16)

de ordem superior a um), de dif´ıcil resolu¸c˜ao anal´ıtica. Uma forma de as simplificar consiste em obter os primeiros integrais das referidas equa¸c˜oes, isto ´e, fun¸c˜oes que s˜ao constantes ao longo de todas as solu¸c˜oes da equa¸c˜ao (no caso do problema da Braquist´ocrona, estudado no Cap´ıtulo 2, recorremos ao ”integral de energia”).

O sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple revelar-se-´a muito ´util n˜ao s´o na determina¸c˜ao das equa¸c˜oes de Euler-Lagrange mas tamb´em na resolu¸c˜ao das mesmas.

No caso do problema da Braquist´ocrona, n˜ao ´e poss´ıvel obter uma solu¸c˜ao expl´ıcita satis-fat´oria da equa¸c˜ao de Euler-Lagrange. A extremal (solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Euler-Lagrange) para o problema da Braquist´ocrona, formulado matematicamente para dois pontos quaisquer A(x0, y0) e B(x1, y1) do plano vertical, ser´a determinada na forma param´etrica.

A solu¸c˜ao deste problema mostrou que tal curva ´e um arco de cicl´oide, e n˜ao, como muitos pensavam, um segmento de recta.

O problema da Braquist´ocrona foi enunciado por Johann Bernoulli em 1696 e ´e conside-rado o embri˜ao do C´alculo Variacional. Para al´em do problema cl´assico, muitas variantes do mesmo tˆem sido colocadas e resolvidas ao longo dos tempos.

Pretende-se com esta disserta¸c˜ao, explorar o sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple 9.5, identificando e ilustrando as suas potencialidades e fraquezas na ´area do C´alculo das Varia¸c˜oes.

De notar que, ao usar uma vers˜ao anterior ou posterior `a vers˜ao 9.5 do Maple, os resulta-dos obtiresulta-dos podem n˜ao aparecer de forma idˆentica `a aqui apresentada: alguns comanresulta-dos do Maple 9.5n˜ao est˜ao dispon´ıveis em vers˜oes anteriores; em vers˜oes posteriores alguns coman-dos poder˜ao ser alteracoman-dos e ser˜ao certamente acrescentacoman-dos comancoman-dos novos.

No primeiro cap´ıtulo apresentamos alguns conceitos b´asicos da teoria do C´alculo Varia-cional. Formulamos o problema elementar do c´alculo das varia¸c˜oes e dedicamos o nosso estudo essencialmente `as condi¸c˜oes necess´arias de Euler-Lagrange, mostrando como o sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple pode ser muito ´util na abordagem destas quest˜oes.

O segundo cap´ıtulo ser´a dedicado ao problema cl´assico da Braquist´ocrona. Formulamos o problema para um caso geral e come¸camos por determinar a funcional integral para o caso da braquist´ocrona. Depois de apresentarmos a formula¸c˜ao matem´atica cl´assica do problema, resolvemo-lo usando a teoria do c´alculo das varia¸c˜oes em conjunto com o Maple. Exploramos ainda dois problemas concretos cujas solu¸c˜oes ser˜ao eficazmente obtidas recorrendo a este sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica.

Finalmente, no terceiro cap´ıtulo, reformulamos o problema cl´assico da Braquist´ocrona restringindo a classe das fun¸c˜oes admiss´ıveis. Focaremos o nosso estudo essencialmente em dois sub problemas gerados por essa restri¸c˜ao.

(17)

Cap´ıtulo 1

alculo das Varia¸

oes

1.1

Introdu¸

ao

O C´alculo das Varia¸c˜oes ´e uma ´area cl´assica da Matem´atica que estuda os m´etodos que nos permitem encontrar os valores m´aximos e m´ınimos de funcionais.

O C´alculo das Varia¸c˜oes ”nasce”por volta de 1696 com o problema da Braquist´ocrona. A partir da´ı, v´arios resultados foram encontrados por alguns dos maiores matem´aticos dos ´

ultimos 300 anos, como por exemplo: Euler, Lagrange, Legendre, Bolza, Hamilton, Bliss, Weierstrass e Jacobi. O seu estudo foi muito importante n˜ao s´o para a Matem´atica, mas tamb´em para outras ´areas, como por exemplo, F´ısica, Engenharia, Biologia e Economia. A variedade e diversidade das aplica¸c˜oes pr´aticas desta teoria ´e surpreendente.

Alguns matem´aticos preferem as datas 1728 ou 1744 para o nascimento da teoria do c´alculo das varia¸c˜oes em vez de 1697 (data em que foi publicada a solu¸c˜ao para o problema de Braquist´ocrona). Em 1728, Leonard Euler (1707-1783) tinha j´a escrito Acerca de encontrar equa¸c˜oes para curvas geod´esicas e em 1744 publicou o seu livro de referˆencia M´etodo para descobrir linhas curvas que gozam da propriedade de m´aximo e m´ınimo, ou a solu¸c˜ao do problema isoperim´etrico tomada no sentido mais amplo poss´ıvel [23].

Euler desenvolveu um m´etodo para resolver problemas espec´ıficos e sistematizou-o num instrumento poderoso. Com este novo m´etodo ele foi capaz de estudar uma classe bas-tante generalizada de problemas. Na sua publica¸c˜ao de 1744, mostrou a primeira condi¸c˜ao necess´aria para m´ınimo, a agora chamada condi¸c˜ao necess´aria de Euler-Lagrange.1

Apesar de ser verdade que pouco tempo depois a t´ecnica de Euler foi superada pela de Lagrange, naquela ´epoca tudo isto era matem´atica completamente inovadora. Em 1755, Jean Louis Lagrange (1736-1813) enviou a Euler uma carta que mostrava como ele podia eliminar os m´etodos geom´etricos enfadonhos do seu processo. Depois de considerar o m´etodo de La-grange, Euler converteu-se instantaneamente, abandonou os seus antigos m´etodos geom´etricos

(18)

e baptizou toda esta teoria pelo nome que agora utilizamos, o C´alculo das Varia¸c˜oes, em honra ao m´etodo variacional de Lagrange.

Em 1786, Adrien Marie Legendre (1752-1833) apresentou uma disserta¸c˜ao `a Academia de Paris intitulada Sobre o m´etodo de distinguir m´aximos de m´ınimos no c´alculo das varia¸c˜oes. Legendre considerou o problema de determinar se uma extremal ´e um arco minimizante ou maximizante. Analisou a segunda varia¸c˜ao de uma funcional, motivado pelo Teorema de Tay-lor. Legendre foi capaz de mostrar a condi¸c˜ao necess´aria de segunda ordem ∂y∂2L02 ≥ 0 ao longo da curva minimizante e ∂∂y2L02 ≤ 0 ao longo da curva maximizante; o que ´e surpreendentemente semelhante ao que conhecemos do c´alculo elementar para o teste da segunda derivada.

S´o passados cinquenta anos desde a descoberta inicial de Legendre, relativa `a condi¸c˜ao necess´aria da segunda varia¸c˜ao, ´e que outro matem´atico se debru¸cou na tarefa de desenvolver esta teoria na direc¸c˜ao das condi¸c˜oes suficientes.

No in´ıcio dos anos 1870, Karl Weierstrass (1815-1897) deu `a teoria do c´alculo das varia¸c˜oes uma revis˜ao completa. Levou bastante tempo at´e estes resultados se tornarem amplamente conhecidos pelo resto da comunidade matem´atica.

Com o c´alculo das varia¸c˜oes numa posi¸c˜ao est´avel e firme, ajudado pelo trabalho rigoroso da escola de Weierstrass, tudo estava preparado para a teoria se desenvolver ainda mais no decorrer do s´eculo vinte. Com base no trabalho realizado por Weierstrass, Oskar Bolza (1875-1942) e Gilbert Bliss (1876-1951) deram ao c´alculo das varia¸c˜oes uma estrutura matem´atica rigorosa.

Em pleno s´eculo vinte e um, o c´alculo das varia¸c˜oes continua extremamente activo.

Neste cap´ıtulo vamos trabalhar com o package VariationCalculus do Maple 9.5. Este package proporciona um conjunto de fun¸c˜oes para a resolu¸c˜ao de problemas do C´alculo das Varia¸c˜oes.

Tendo em conta que a resolu¸c˜ao dos problemas variacionais passa quase obrigatoriamente pela resolu¸c˜ao das equa¸c˜oes diferenciais de Euler-Lagrange, o nosso estudo ao longo deste cap´ıtulo ser´a dedicado `a fun¸c˜ao EulerLagrange, do Maple, dispon´ıvel no referido package.

Ser˜ao estudados v´arios problemas por aplica¸c˜ao da condi¸c˜ao necess´aria de optimalidade de Euler-Lagrange, sendo sempre feita uma an´alise recorrendo ao sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple.

Come¸caremos por em §1.2 formular o problema elementar do c´alculo das varia¸c˜oes. Em §1.3 apresentaremos a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange que fornece uma condi¸c˜ao necess´aria de optimalidade de uma dada funcional [24], [15].

(19)

Euler-Lagrange.

Em §1.4 faremos uma pequena abordagem sobre o problema isoperim´etrico uma vez que o m´etodo utilizado para resolver este tipo de problemas ser´a ´util para melhor compreender a resolu¸c˜ao apresentada para o problema considerado no exemplo 1.5.2, na sec¸c˜ao §1.5.2.

Em §1.5.1 e §1.5.2 abordaremos duas extens˜oes do problema elementar do c´alculo das varia¸c˜oes. Apresentaremos dois exemplos: um que envolve uma funcional que depende de duas fun¸c˜oes; outro que envolve uma funcional que depende de derivadas de ordem dois.

1.2

Problema Elementar do C´

alculo das Varia¸

oes

O problema elementar do c´alculo das varia¸c˜oes consiste na determina¸c˜ao de um extremante - um minimizante ou um maximizante - para uma funcional integral que depende da escolha de uma fun¸c˜ao pertencente a uma determinada classe de fun¸c˜oes, em particular fun¸c˜oes cujos valores nos extremos de um dado intervalo real fechado s˜ao fixos.

Problema 1.2.1. Sejam a, b, a < b, A, B n´umeros reais e L : [a, b] × R × R −→ R uma fun¸c˜ao cont´ınua. Considera-se o problema seguinte

J[x(·)] = Z b

a

L t, x(t), x0(t)dt → min, x(a) = A, x(b) = B, (1.2.1)

onde o m´ınimo se procura no conjunto das fun¸c˜oes duas vezes continuamente diferenci´aveis no intervalo [a, b]: C2([a, b]). A este problema d´a-se o nome de Problema Elementar do C´alculo das Varia¸c˜oes.

Defini¸c˜ao 1.2.2. `A fun¸c˜ao L chamamos Lagrangeano do problema elementar do c´alculo das varia¸c˜oes.

Defini¸c˜ao 1.2.3. Diz-se que a fun¸c˜ao ˜x(·) ∈ C2([a, b]) d´a um m´ınimo fraco local `a funcional

J (1.2.1) se existe  > 0 tal que J[˜x(·)] ≤ J[x(·)] sempre que x(·) ∈ C2([a, b]), x(a) = A, x(b) = B e maxt∈[a,b]|x(t) − ˜x(t)| + maxt∈[a,b]|x0(t) − ˜x0| < .

1.3

Equa¸

ao de Euler-Lagrange

O teorema que se segue d´a uma condi¸c˜ao necess´aria de m´ınimo fraco local.

Teorema 1.3.1. Sejax(·) ∈ C2([a, b]) tal que J[x(·)] =RabL(t, x(t), x0(t))dt ´e m´ınimo. Ent˜ao

x(·) verifica a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange: ∂L ∂x(t, x(t), x0(t)) − d dt ∂L ∂x0(t, x(t), x0(t)) = 0 (1.3.1)

(20)

Demonstra¸c˜ao. Vide e.g. [24, pp. 64-65].

Defini¸c˜ao 1.3.2. `As solu¸c˜oes das equa¸c˜oes de Euler-Lagrange (1.3.1) d´a-se o nome de ex-tremais.

Desenvolvendo a derivada total da equa¸c˜ao de Euler-Lagrange obtemos,

∂L ∂x − ∂2L ∂t∂x0 − ∂2L ∂x∂x0x0− ∂2L ∂x0∂x0x00= 0.

A equa¸c˜ao de Euler-Lagrange ´e, em geral, uma equa¸c˜ao diferencial de segunda ordem, n˜ao linear e de dif´ıcil resolu¸c˜ao.

Se a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange for uma equa¸c˜ao diferencial de segunda ordem, a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao x(t, c1, c2) cont´em duas constantes arbitr´arias que s˜ao determinadas

uti-lizando as condi¸c˜oes de fronteira: x(a) = A e x(b) = B. O problema ∂L ∂x − d dt ∂L ∂x0 = 0, x(a) = A, x(b) = B

nem sempre tem solu¸c˜ao (nesse caso conclu´ımos que (1.2.1) n˜ao tem solu¸c˜ao) e, se a solu¸c˜ao existe, pode n˜ao ser ´unica (v´arios candidatos a minimizante).

Exemplo 1.3.3. Encontrar a extremal de Euler-Lagrange ˜x(·) associada `a funcional J[x(.)] =

Z 0

−1(12tx(t) − (x

0(t))2)dt

quando sujeita `as condi¸c˜oes de fronteira

x(−1) = 1 e x(0) = 0. (1.3.2)

Neste caso L(t, x, x0) = 12tx − (x0)2 e a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange toma a forma:

12t − dtd (−2x0(t)) = 0 ⇔ 12t + 2x00(t) = 0

´

E muito f´acil resolver a equa¸c˜ao diferencial anterior que, sujeita `as condi¸c˜oes (1.3.2), nos conduz `a extremal

˜

x(t) = −t3

De notar que a fun¸c˜ao ˜x(·) encontrada ´e apenas uma extremal, isto ´e, um candidato a mini-mizante ou maximini-mizante. ´E para esta extremal que a funcional em apre¸co poder´a, eventual-mente, assumir um extremo.

Como j´a foi referido, o package VariationalCalculus do Maple 9.5 proporciona um conjunto de comandos para a resolu¸c˜ao de problemas do C´alculo das Varia¸c˜oes. Para utilizar este package temos de o ”carregar”, executando o seguinte comando:

(21)

>with(VariationalCalculus):

Neste package temos dispon´ıvel a fun¸c˜ao,

EulerLagrange(L,t,x(t))

que devolve um conjunto com as equa¸c˜oes de Euler-Lagrange para uma funcional do tipo (1.2.1). L representa o Lagrangeano, t a vari´avel independente e x(t) uma fun¸c˜ao desconhecida ou uma lista de fun¸c˜oes. Esta fun¸c˜ao do Maple permite lidar com funcionais com mais de uma vari´avel dependente.

Os comandos

dsolve({ODE,ICs},x(t))

e

dsolve({sysODE,ICs},{funcs})

permitem resolver equa¸c˜oes diferenciais e sistemas de equa¸c˜oes diferenciais, respectivamente. ODE e sysODE representam a equa¸c˜ao diferencial ordin´aria e o conjunto com um sistema de equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias, respectivamente; ICs representa as condi¸c˜oes iniciais; x(t) e funcs representam a fun¸c˜ao (de uma vari´avel) a determinar e o conjunto de fun¸c˜oes a determinar, respectivamente.

O comando diff(a,x1, x2, ..., xn)devolve a derivada parcial da express˜ao a em ordem a

x1, x2,...,xn, respectivamente.

Segue ent˜ao uma an´alise do problema apresentado no exemplo 1.3.3, feita no sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple. Come¸camos por carregar o package em mem´oria e por definir o Lagrangeano L. >with(VariationalCalculus): >L:=(12*t*x(t)-diff(x(t),t)^2); L := 12 tx (t) −  d dtx (t) 2

As respectivas equa¸c˜oes de Euler-Lagrange s˜ao facilmente obtidas por interm´edio do Maple: Utilizando o comando EulerLagrange obtemos um conjunto que cont´em a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange

(22)

eqEL :=  12 t + 2 d 2 dt2x (t) 

De notar que, por defeito, quando o segundo membro da equa¸c˜ao ´e 0, o Maple devolve a equa¸c˜ao sob a forma de express˜ao.

As extremais s˜ao obtidas resolvendo esta equa¸c˜ao diferencial com as condi¸c˜oes iniciais dadas. Recorremos ao comando Maple dsolve:

>dsolve({op(eqEL),x(-1)=1,x(0)=0},x(t));

x (t) = −t3

O comando op foi utilizado para extrair o elemento do conjunto eqEL.

1.3.1 Alguns Casos de Integrabilidade da Equa¸c˜ao de Euler-Lagrange Em alguns casos particulares a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange admite integrais, isto ´e, fun¸c˜oes Φ(t, x(t), x0(t)) que s˜ao constantes ao longo de todas as solu¸c˜oes x(t), t ∈ [a, b], da equa¸c˜ao

de Euler-Lagrange. Isto d´a a possibilidade de procurar a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial Φ(t, x(t), x0(t)) = const, permitindo, desta forma, reduzir a ordem da equa¸c˜ao e assim

sim-plificar o problema.

Tal como Krasnov, [12], consideramos os seguintes cinco casos:

1o

Caso: A fun¸c˜ao L n˜ao depende de x0(t), isto ´e, L = L(t, x(t)). Ent˜ao a equa¸c˜ao de

Euler-Lagrange (1.3.1) reduz-se neste caso a: ∂L

∂x(t, x(t)) = 0.

Como esta equa¸c˜ao n˜ao depende de constantes indeterminadas, ser´a compat´ıvel com as condi¸c˜oes de fronteira x(a) = A e x(b) = B, apenas em casos excepcionais.

Recorrendo ao sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple, ao aplicarmos a fun¸c˜ao EulerLagrange ao Lagrangeano L(t, x(t)), obtemos a equa¸c˜ao anterior.

>EulerLagrange(L(t,x(t)),t,x(t));

{D2(L) (t, x (t))}

Em Maple, o operador D representa o operador diferencial. Por interm´edio do comando D(L)obtemos a derivada da fun¸c˜ao L. Se L for uma fun¸c˜ao de n argumentos, D[i](L) devolve a derivada parcial de L em ordem ao i-´esimo argumento. Ent˜ao, D2(L) (t, x (t)) representa a

(23)

Exemplo 1.3.4. Determinar as extremais da funcional

J[x(t)] = Z 3

1 (3t − x(t))x(t)dt

sujeitas `as condi¸c˜oes de fronteira x(1) = 1 e x(3) = 9.

Recorrendo ao sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple:

>g:=(3*t-x(t))*x(t);

g := (3 t − x (t)) x (t) >eqEL:=EulerLagrange(g,t,x(t));

eqEL := {−2 x (t) + 3 t}

Como esta equa¸c˜ao n˜ao ´e diferencial, vamos resolvˆe-la usando o comando solve.

>sol:=solve({op(eqEL)}, {x(t)}); sol :=  x (t) = 3 2t  >subs(t=1,sol);  x (1) = 3 2 

A extremal x(t) = 32t n˜ao satisfaz a condi¸c˜ao de fronteira x(1) = 1, logo este problema variacional n˜ao tem solu¸c˜ao.

2o

Caso: A fun¸c˜ao L ´e linear em rela¸c˜ao a x0(t), isto ´e, L(t, x(t), x0(t)) = M (t, x(t)) +

N (t, x(t))x0(t). A equa¸c˜ao de Euler-Lagrange ser´a ent˜ao da forma

∂L ∂x − d dt ∂L ∂x0 = 0 ⇔∂M∂x +∂N ∂xx 0 d dt(N ) = 0 ⇔∂M∂x (t, x(t)) −∂N∂t (t, x(t)) = 0, (1.3.3)

isto ´e, uma equa¸c˜ao n˜ao diferencial que fornece, como no caso precedente, uma rela¸c˜ao que s´o excepcionalmente satisfar´a as condi¸c˜oes de fronteira.

Atrav´es do Maple:

(24)

L := M (t, x (t)) + N (t, x (t)) d dtx (t) >eqEL:=EulerLagrange(L,t,x(t));

eqEL := {D2(M ) (t, x (t)) − D1(N ) (t, x (t))} .

A equa¸c˜ao devolvida pelo Maple ´e equivalente `a equa¸c˜ao (1.3.3). Se a tentarmos resolver atrav´es do comando dsolve (resolve equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias) ´e-nos devolvida uma mensagem de erro uma vez que se trata de uma equa¸c˜ao n˜ao diferencial.

>dsolve(eqEL,x(t));

Error, (inODEtools/inf o)N otanODEw.r.t.x(t)

Como vimos no Exemplo 1.3.4, devemos recorrer n˜ao ao comando dsolve doMaple mas sim ao comando solve.

Exemplo 1.3.5. Determinar, para a funcional

J[x(t)] = Z 1

0

(ex(t)+ tx0(t))dt,

as extremais sujeitas `as condi¸c˜oes de fronteira x(0) = 0 e x(1) = α, α > 0.

O Lagrangeano ´e da forma M (t, x(t)) + N (t, x(t))x0(t), com M (t, x) = ex e N (t, x) = t.

Sendo ∂M∂x = ex e ∂N∂t = 1, ent˜ao a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange reduz-se, neste caso, a

ex(t)− 1 = 0 Recorrendo ao Maple, >eqEL:=EulerLagrange(exp(x(t))+t*diff(x(t),t),t,x(t)); eqEL :=nex(t)− 1o >solve(eqEL,x(t)); {x (t) = 0}

A extremal x(t) = 0 n˜ao satisfaz a condi¸c˜ao de fronteira x(1) = α (α 6= 0), logo este problema variacional n˜ao tem solu¸c˜ao.

(25)

3o

Caso: A fun¸c˜ao L n˜ao depende explicitamente de x(t), isto ´e, L = L(t, x0(t)). Ent˜ao ∂L

∂x(t, x0(t)) = 0 e a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange tem a forma

d dt  ∂L ∂x0(t, x0(t))  = 0 (1.3.4)

pelo que admite o integral de momento ∂L

∂x0 t, x0(t)



= const (1.3.5)

Ao aplicar o comando EulerLagrange a uma fun¸c˜ao L(t, x0(t)) verificamos que o Maple

devolve a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange e o integral de momento, descritos acima. De notar que, nas equa¸c˜oes dos integrais de momento e dos integrais de energia (este ´ultimos ser˜ao abordados no quarto caso, p´agina 17), as vari´aveis, Ki, devolvidas representam constantes de

integra¸c˜ao arbitr´arias. >EulerLagrange(L(t,diff(x(t),t)),t,x(t));  − (D1,2) (L)  t, d dtx (t)  − (D2,2) (L)  t, d dtx (t)  d2 dt2x (t) , D2(L)  t, d dtx (t)  = K1  Na nossa nota¸c˜ao, (D1,2) (L)  t, d dtx (t)  + (D2,2) (L)  t, d dtx (t)  d2 dt2x (t) = 0

´e equivalente a escrevermos ∂2L ∂t∂x0(t, x

0(t)) + ∂2L

∂x02(t, x

0(t))x00(t) = 0

que ´e a forma desenvolvida da equa¸c˜ao (1.3.4).

D2(L) t,dtdx (t)= K1 ´e o integral de momento (1.3.5).

Exemplo 1.3.6. Determinar as extremais da funcional

J[x(t)] = Z 2

1

x0(t)(1 + t2x0(t))dt

sujeitas `as condi¸c˜oes x(1) = 3 e x(2) = 5.

O comando EulerLagrange devolve um conjunto, neste caso, com dois elementos. Tendo em conta que num conjunto n˜ao importa a ordem de ocorrˆencia dos elementos, n˜ao devemos assumir que os conjuntos devolvidos pelo Maple obede¸cam ou mantenham determinada ordem. De maneira a identificarmos de imediato a ordem dos elementos devolvidos podemos, atrav´es do comando convert, obter uma lista - uma sequˆencia ordenada de elementos entre parˆenteses rectos:

(26)

>eqEL:=convert(EulerLagrange(diff(x(t),t)*(1+t^2*diff(x(t),t)),t,x(t)),list); eqEL :=  −4 t d dtx (t) − 2 t 2d2 dt2x (t) , 1 + 2 t 2 d dtx (t) = K1 

O Maple devolveu uma lista. O primeiro elemento da lista ´e a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange abaixo designada por eqEL[1]; o segundo elemento ´e o integral de momento, abaixo designa-do por eqEL[2]. Aplicandesigna-do o comandesigna-do dsolve `a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange encontramos facilmente a extremal.

>dsolve({eqEL[1],x(1)=3,x(2)=5},x(t));

x (t) = 7 − 41 t

Aplicando o comando dsolve ao integral de momento, nada ´e devolvido.

>dsolve({eqEL[2],x(1)=3,x(2)=5},x(t));

O Maple fica provavelmente ”baralhado”a avaliar e a determinar as constantes. Em vez de introduzir as condi¸c˜oes iniciais no comando dsolve, vamos avali´a-las mais tarde.

>sol:=dsolve(eqEL[2],x(t));

sol := x (t) = −−

1

2+ 12K1

t + C1

Substituindo os valores de t e x(t), respeitantes `as condi¸c˜oes iniciais, na solu¸c˜ao geral, sol, obtemos duas equa¸c˜oes com duas inc´ognitas.

>sol1:=subs({x(t)=3,t=1},sol); sol1 := 3 = 1 2 − 1 2K1+ C1 >sol2:=subs({x(t)=5,t=2},sol); sol2 := 5 = 1 4 − 1 4K1+ C1

Resolvemos o sistema de equa¸c˜oes por interm´edio do comando solve.

>const:=solve({sol1,sol2},{K[1],_C1});

const := { C1 = 7, K1 = 9}

Finalmente, substituimos o valor das constantes na solu¸c˜ao geral, sol, e obtemos a extremal pretendida.

(27)

>subs({op(const)},sol);

x (t) = 7 − 41t

Notamos que se derivarmos em ordem a t o integral de momento obtemos a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange. Para vermos isto com o Maple utilizamos o comando diff

>diff(eqEL[2],t);

4 td

dtx (t) + 2 t

2 d2

dt2x (t) = 0

Podemos dizer que do ponto de vista matem´atico a dificuldade de determinar as extremais por interm´edio da equa¸c˜ao de Euler-Lagrange ou do integral ´e a mesma, mas do ponto de vista do Maple n˜ao: embora equivalentes, o Maple n˜ao resolve da mesma forma a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange e o integral de momento. Embora o processo utilizando o integral de momento envolva mais c´alculos, obtivemos, como esperado, a mesma solu¸c˜ao.

Exemplo 1.3.7. Determinar as extremais da funcional

J[x(t)] = Z 2 1 r 1 + x0(t)2 t dt

sujeitas `as condi¸c˜oes x(1) = 0 e x(2) = 1.

>eqEL:=convert(EulerLagrange(sqrt(1+diff(x(t),t)^2)/t,t,x(t)),list); eqEL :=    d dtx (t) 2 d2 dt2x (t)  1 + dtdx (t)2 3 2 t + d dtx (t) q 1 + dtdx (t)2t2 − d2 dt2x (t) q 1 + dtdx (t)2t , d dtx (t) q 1 + dtdx (t)2t = K1    >dsolve({eqEL[1],x(1)=0,x(2)=1},{x(t)}); x (t) = −p−t2+ 5 + 2

Aplicando o comando dsolve `a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange encontr´amos facilmente a extremal. Recorrendo ao integral de momento,

>sol:=dsolve(eqEL[2],x(t)):

>sol1:=subs({x(t)=0,t=1},sol):

>sol2:=subs({x(t)=1,t=2},sol):

(28)

const :=C1 = 2, K1 = RootOf 5 Z2− 1, 0.4472135955



Vamos converter estas solu¸c˜oes expressas como ”RootOf”, na forma de radical. Passamos ent˜ao a ter o conjunto de solu¸c˜oes const1.

>const1:=seq(convert(const[i],radical),i=1..2); const1 :=  K1 = 1 5 √ 5, C1 = 2  >simplify(subs(const1,sol)); x (t) = q − (t2− 5)−1t2 − 5 q − (t2− 5)−1+ 2

Esta extremal tem um aspecto diferente da extremal obtida acima. No entanto, para os valores em que t est´a definido neste problema (1 ≤ t ≤ 2) verificamos que as extremais s˜ao equivalentes. >x1:=-(-t^2+5)^(1/2)+2; x1:= − p −t2+ 5 + 2 >x2:=(-1/(t^2-5))^(1/2)*t^2-5*(-1/(t^2-5))^(1/2)+2; x2 := q − (t2− 5)−1t2− 5q− (t2− 5)−1+ 2

>simplify(x1-x2) assuming t>=1 and t<=2;

0

Exemplo 1.3.8. (Problema sem solu¸c˜ao) Determinar as extremais da funcional

J[x(t)] = Z 1

0

t2x0(t)2dt

sujeitas `as condi¸c˜oes x(0) = 0 e x(1) = 1.

>L:=t^2*diff(x(t),t)^2:

(29)

eqEL :=  −4 tdtdx (t) − 2 t2d 2 dt2x (t) , 2 t 2 d dtx (t) = K1  >dsolve({eqEL[1],x(0)=0,x(1)=1},{x(t)});

Aplicando o comando dsolve `a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange, introduzindo as condi¸c˜oes de fronteira verificamos que nada ´e devolvido. Optando por avaliar as condi¸c˜oes de fronteira num passo seguinte, obtemos uma solu¸c˜ao geral, x(t):

>sol:=dsolve(eqEL[1],x(t));

sol := x (t) = C1 +

C2

t

Concluimos que esta extremal n˜ao satisfaz a condi¸c˜ao x(0) = 0, logo este problema n˜ao tem solu¸c˜ao.

4o Caso: A fun¸c˜ao L n˜ao depende explicitamente de t, isto ´e, L = L(x(t), x0(t)). Ao

multiplicarmos a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange ∂L ∂x x(t), x0(t)  −dtd  ∂L ∂x0 x(t), x0(t)  = 0 ⇔ ∂L∂x(x(t), x0(t)) − x0(t) ∂2L ∂x∂x0(x(t), x0(t)) − x00(t) ∂2L ∂x0∂x0(x(t), x0(t)) = 0 (1.3.6) por x0(t), obtemos d dt  L(x(t), x0(t)) − x0(t)∂L ∂x0(x(t), x0(t))  = 0

A equa¸c˜ao de Euler-Lagrange admite ent˜ao o integral de energia

L x(t), x0(t)− x0(t)∂L

∂x0 x(t), x

0(t)= const (1.3.7)

Recorrendo ao sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple, aplicando a fun¸c˜ao EulerLagrange ao Lagrangeano L (x(t), x0(t)) obtemos: >EulerLagrange(L(x(t),diff(x(t),t)),t,x(t));  D1(L)  x (t) , d dtx (t)  − (D1,2) (L)  x (t) , d dtx (t)  d dtx (t) − (D2,2) (L)  x (t) , d dtx (t)  d2 dt2x (t) , L  x (t) , d dtx (t)  −  d dtx (t)  D2(L)  x (t) , d dtx (t)  = K1  onde D1(L)  x (t) , d dtx (t)  −(D1,2) (L)  x (t) , d dtx (t)  d dtx (t)−(D2,2) (L)  x (t) , d dtx (t)  d2 dt2x (t)

(30)

representa a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange (1.3.6) e L  x (t) , d dtx (t)  −  d dtx (t)  D2(L)  x (t) , d dtx (t)  = K1

representa o integral de energia (1.3.7).

Exemplo 1.3.9. Determinar as extremais da funcional

J[x(t)] = Z 1

0

x0(t)x2(t) + x0(t)2x(t)dt

sujeitas `as condi¸c˜oes x(0) = 1 e x(1) = 4.

>L:=diff(x(t),t)*x(t)^2+diff(x(t),t)^2*x(t); L :=  d dtx (t)  (x (t))2+  d dtx (t) 2 x (t) >eqEL:=convert(EulerLagrange(L,t,x(t)),list); eqEL := " −  d dtx (t) 2 − 2  d2 dt2x (t)  x (t) ,  d dtx (t)  (x (t))2+  d dtx (t) 2 x (t) −  d dtx (t)   (x (t))2+ 2  d dtx (t)  x (t)  = K1  >dsolve({eqEL[1],x(0)=1,x(1)=4},x(t)); x (t) = (7 t + 1)23 (1.3.8)

Utilizando agora o integral de energia:

>simplify(eqEL[2]); −  d dtx (t) 2 x (t) = K1 >sol:=dsolve(eqEL[2],x(t)):

O comando dsolve devolve, neste caso, seis solu¸c˜oes: quatro s˜ao imagin´arias, logo n˜ao s˜ao consideradas; as restantes verificamos, atrav´es do procedimento seguinte, que s˜ao iguais.

(31)

x (t) = −14 12 tK1 2− 12 C 1 K12 2 3 K1 >sol[4]; x (t) = −14 −12 tK1 2+ 12 C 1K12 2 3 K1 >simplify(rhs(sol[1])^3-rhs(sol[4])^3); 0

Consideramos apenas uma delas, por exemplo sol[1], e resolvendo pelo processo j´a anteri-ormente aplicado, >eq1:=subs({x(t)=1,t=0},sol[1]); eq1 := 1 = −1 4 −12 C1K12 2 3 K1 >eq2:=subs({x(t)=4,t=1},sol[1]); eq2 := 4 = −14 12 K1 2− 12 C 1 K12 2 3 K1

Executando o comando solve, imediatamente abaixo, nada nos ´e devolvido. Obteremos apenas uma solu¸c˜ao aproximada para o problema pois, ao recorrermos, alternativamente, ao comando fsolve, ser˜ao atribu´ıdos valores decimais `as constantes C1 e K1.

>const:=solve({eq1,eq2},{K[1],_C1}); const := >const:=fsolve({eq1,eq2},{K[1],_C1}); const := {K1 = −21.77777778, C1 = −0.1428571429} >subs(const,sol[1]); x (t) = 0.01147959184 (5691.259260 t + 813.0370374)23 (1.3.9) Verificamos facilmente recorrendo ao comando plot do Maple que (1.3.8) e (1.3.9) repre-sentam a mesma fun¸c˜ao.

(32)

>x1:=(7*t+1)^(2/3): >x2:=0.1147959184e-1*(5691.259260*t+813.0370374)^(2/3): >plot([x1,x2],t=0..1,color=[blue,red]); 0,6 0,4 2,5 0,2 0 3 3,5 1,5 t 1 0,8 4 2 1 5o

Caso: A fun¸c˜ao L depende apenas de x0(t), isto ´e, L = L(x0(t)). Ent˜ao a equa¸c˜ao de

Euler-Lagrange reduz-se a

∂2L

∂x0∂x0x00= 0 (1.3.10)

e as extremais ser˜ao as rectas

x = c1t + c2

para quaisquer n´umeros c1 e c2.

Se aplicamos o comando EulerLagrange a uma fun¸c˜ao L(x0(t)), definida em Maple por

>L(diff(x(t),t): >eqEL:=convert(EulerLagrange(L(diff(x(t),t)),t,x(t)),list); eqEL :=  −D(2)(L)  d dtx (t)  d2 dt2x (t) , D (L)  d dtx (t)  = K1, L  d dtx (t)  −  d dtx (t)  D (L)  d dtx (t)  = K2 

(33)

este, al´em da equa¸c˜ao de Euler-Lagrange,  D(2)(L)  d dtx (t)  d2 dt2x (t) = 0 devolve ainda:

i) D (L) dtdx (t) = K1, isto ´e, o integral de momento ∂x∂L0(x0(t)) = K1, pois a fun¸c˜ao L n˜ao depende explicitamente de x(t),

ii) L dtdx (t) dtdx (t)D (L) dtdx (t) = K2, isto ´e, o integral de energia L(x0(t)) −

x0(t)∂L

∂x0(x0(t)) = K2, pois a fun¸c˜ao n˜ao depende explicitamente de t.

Ao aplicarmos o comando dsolve `a equa¸c˜ao diferencial de Euler-Lagrange, com as condi¸c˜oes de fronteira arbitr´arias x(a) = A e x(b) = B, obtemos a recta que passa pelos pontos (a, A) e (b, B) >dsolve({eqEL[1],x(a)=A,x(b)=B},x(t)); x (t) = (−B + A) t −b + a + −Ab + aB −b + a Exemplo 1.3.10. Determinar as extremais da funcional

J[x(t)] = Z b a p 1 + x0(t)2dt x(a) = A, x(b) = B

Este problema equivale ao estabelecimento do caminho mais curto entre os pontos (a, A) e (b, B). >f:=sqrt(1+diff(x(t),t)^2): >eqEL:=convert(EulerLagrange(f,t,x(t)),list); eqEL :=    d dtx (t) 2 d2 dt2x (t)  1 + dtdx (t)23/2 − d2 dt2x (t) q 1 + dtdx (t)2 , d dtx (t) q 1 + dtdx (t)2 = K1, s 1 +  d dtx (t) 2 − d dtx (t) 2 q 1 + dtdx (t)2 = K2   A extremal ser´a, como esperado, a recta que passa por esses pontos.

(34)

>dsolve({eqEL[1],x(a)=A,x(b)=B},x(t));

x (t) = (A − B) t

a − b +

Ba − bA a − b Exemplo 1.3.11. Determinar as extremais da funcional

Z 1 0

(x0(t)3− x0(t)2)dt

sujeitas `as condi¸c˜oes x(0) = 0 e x(1) = 1.

Obtemos a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange e os integrais de energia e de momento por in-term´edio da fun¸c˜ao EulerLagrange

>eqEL:=convert(EulerLagrange(diff(x(t),t)^3-diff(x(t),t)^2,t,x(t)),list); eqEL := " −6  d dtx (t)  d2 dt2x (t) + 2 d2 dt2x (t) , 3  d dtx (t) 2 − 2dtdx (t) = K1,  d dtx (t) 3 −  d dtx (t) 2 −  d dtx (t)  3  d dtx (t) 2 − 2dtdx (t) ! = K2 #

Aplicando o comando dsolve `a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange obtemos facilmente a extremal pretendida

>dsolve({eqEL[1],x(0)=0,x(1)=1},x(t));

x (t) = t

1.4

Problema Isoperim´

etrico

O primeiro problema deste tipo parece ter sido resolvido, na pr´atica, pela princesa fen´ıcia Dido.

Dido, depois do marido ter sido morto, fugiu para a ´Africa Mediterrˆanica, onde comprou, de um rei ing´enuo, todo o terreno que pudesse ser inclu´ıdo pela pele de um boi. Depois de cortar a pele em tiras bem finas e amarrar as pontas umas `as outras, ela encerrou uma parcela de terreno que veio a tornar-se na cidade-estado de Cartago [26]. O ”problema de Dido”pode ser colocado como se segue:

Concedida uma por¸c˜ao da costa de ´Africa como fronteira, qual a maior ´area que pode ser inclu´ıda pelo per´ımetro dado que permanece?

(35)

Considerando-se a costa como um segmento de recta [a, b] e o interior da ´area como sendo circunscrito pelo gr´afico da fun¸c˜ao y(·), y(x) ≥ 0 e y(a) = 0 = y(b), obtemos o seguinte problema: maximizar a ´area

J = Z b

a

y(x)dx

sujeita `a restri¸c˜ao do per´ımetro Z b

a

p

1 + y0(x)2dx = γ.

A solu¸c˜ao ´e um arco de circunferˆencia de comprimento γ e que passa por a e b.

De facto, nos trabalhos dos cientistas da Gr´ecia Antiga encontra-se a afirma¸c˜ao que de entre todas as figuras isoperim´etricas, isto ´e, as que tˆem o mesmo per´ımetro, o c´ırculo tem ´area m´axima.

O problema de Dido pertence `a seguinte classe de problemas:

Problema 1.4.1 (Problema Isoperim´etrico). Encontrar o minimizante (ou maximizante) da funcional

F [y(·)] = Z b

a

f (x, y(x), y0(x))dx

onde as fun¸c˜oes y(·) ∈ C2 devem satisfazer n˜ao s´o as condi¸c˜oes de fronteira

y(a) = A, y(b) = B,

como tamb´em a restri¸c˜ao isoperim´etrica

G[y(·)] = Z b

a

g(x, y(x), y0(x))dx = ξ,

com ξ um n´umero dado.

Teorema 1.4.2. Seja y(·) ∈ C2 um minimizante local para o problema isoperim´etrico 1.4.1, que n˜ao ´e extremal da funcional G[·]. Ent˜ao existe um n´umero real λ tal que y(·) ´e extremal de Euler-Lagrange do problema elementar do C´alculo das Varia¸c˜oes.

J[y(·)] = F [y(·)] + λG[y(·)] = Z b

a

[f (x, y(x), y0(x)) + λg(x, y(x), y0(x))]dx → min,

y(a) = A, y(b) = B.

Demonstra¸c˜ao. Vide e.g. [26, pp. 55-57].

`

A luz deste teorema, o problema isoperim´etrico 1.4.1 reduz-se a um problema sem restri-¸c˜oes com Lagrangeano L(x, y, y0) = f (x, y, y0) + λg(x, y, y0). Em geral, a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao

(36)

de Euler-Lagrange tem duas constantes de integra¸c˜ao mais a constante λ. As condi¸c˜oes de fronteira y(a) = A, y(b) = B e a restri¸c˜ao isoperim´etrica d˜ao trˆes condi¸c˜oes para a deter-mina¸c˜ao destas constantes.

Exemplo 1.4.3. Determinar as extremais da funcional Z 1

0

(y0)2dx

sujeitas `as condi¸c˜oes de fronteira y(0) = 0, y(1) = 1 e `a restri¸c˜ao isoperim´etrica R01xydx = 0. Como n˜ao existem extremais da funcional G[y(x)] = R01xydx, estamos nas condi¸c˜oes do teorema 1.4.2 e, de acordo com o mesmo, este problema reduz-se a um problema com Lagrangeano

L(x, y, y0) = (y0)2+ λxy Recorrendo ao sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple:

>L:=diff(y(x),x)^2+lambda*x*y(x); L :=  d dxy (x) 2 + λ xy (x) >eqEL:=convert(EulerLagrange(L,x,y(x)),list); eqEL :=  λ x − 2 d 2 dx2y (x)  >sol:=dsolve({op(eqEL),y(0)=0,y(1)=1},{y(x)}); sol := y (x) = 1 12λ x 3+  1 −121 λ  x

Utlizando a restri¸c˜ao isoperim´etrica R01xydx = 0 determinamos o valor de λ: >y:=rhs(sol); y := 1 12λ x 3+  1 − 1 12λ  x >i:=int(x*y,x=0..1)=0; i := −901 λ + 1 3 = 0 >solve(i,lambda);

(37)

30 Finalmente obtemos a extremal para o problema:

>y:=subs(lambda=30,y);

y := 5 2x

3

−32x

1.5

Algumas extens˜

oes do problema elementar

Algumas das extens˜oes do problema elementar do c´alculo das varia¸c˜oes envolvem funcionais que dependem de derivadas de ordem superior a um, que dependem de v´arias fun¸c˜oes e/ou que dependem de fun¸c˜oes de v´arias vari´aveis [12].

N˜ao ´e objectivo desta disserta¸c˜ao explorar este tipo de problemas uma vez que no segundo e terceiro cap´ıtulos iremos apenas abordar problemas com derivadas de ordem um que envolvem funcionais que dependem de uma fun¸c˜ao de uma vari´avel.

No entanto, consideramos que a apresenta¸c˜ao dos dois problemas que se seguem con-tribuem para ilustrar e identificar potencialidades e fraquezas n˜ao s´o da fun¸c˜ao EulerLagrange, dispon´ıvel no package VariationalCalculus do Maple 9.5, bem como do pr´oprio sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple.

1.5.1 Problema do c´alculo das varia¸c˜oes com duas vari´aveis dependentes No caso em que a funcional em (1.2.1) depende de n fun¸c˜oes,

J[x1(·), ..., xn(·)] = Z b a L t, x1(t), ..., xn(t), x01(t), ..., x0n(t)  dt,

a condi¸c˜ao necess´aria de Euler-Lagrange ´e um sistema de n equa¸c˜oes:

∂L ∂x1 − d dt ∂L ∂x0 1 = 0, · · · , ∂L ∂xn − d dt ∂L ∂x0 n = 0

A fun¸c˜ao EulerLagrange, dispon´ıvel no package VariationalCalculus, permite traba-lhar com funcionais que envolvem mais de uma vari´avel dependente. No exemplo que se segue exploraremos o caso particular cuja funcional depende de duas fun¸c˜oes (n = 2).

Exemplo 1.5.1. Determinar as extremais do seguinte problema

J[x(t), y(t)] = Z 1 0 (x(t) + y(t) + x0(t)2+ y0(t)2) → min, x(0) = 1, y(0) = 1, x(1) = 2, y(1) = 2.

(38)

Neste caso L(t, x, y, x0, y0) = x+y +(x0)2+(y0)2. O sistema de equa¸c˜oes de Euler-Lagrange toma a forma:     ∂L ∂x −dtd ∂x∂L0 = 0 , ∂L ∂y −dtd ∂y∂L0 = 0 , ou seja     1 − 2x00= 0 , 1 − 2y00= 0 .

Resolvendo o sistema sujeito `as condi¸c˜oes enunciadas obtemos as extremais:      x(t) = 14t2+34t + 1 , y(t) = 14t2+34t + 1 .

Segue a resolu¸c˜ao do problema recorrendo ao sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple. Come¸camos por definir o Lagrangeano L:

>L:=x(t)+y(t)+diff(x(t),t)^2+diff(y(t),t)^2: >eqEL:=convert(EulerLagrange(L,t,[x(t),y(t)]),list); eqEL := " 1 − 2 d 2 dt2x (t) , 1 − 2 d2 dt2y (t) , x (t) + y (t) −  d dtx (t) 2 −  d dty (t) 2 = K1 #

As extremais s˜ao obtidas resolvendo as duas equa¸c˜oes diferenciais conjuntamente com as condi¸c˜oes de fronteira dadas. Uma vez que temos um sistema de equa¸c˜oes diferenciais, recorremos ao comando Maple dsolve:

>dsolve({eqEL[1],eqEL[2],x(0)=1,y(0)=1,x(1)=2,y(1)=2},{x(t),y(t)});  x (t) = 1 4t 2+3 4t + 1, y (t) = 1 4t 2+3 4t + 1 

1.5.2 Problema do c´alculo das varia¸c˜oes com derivadas de ordem superior Sejam a, b, a < b, Ak, Bk, k = 0, n − 1, n´umeros reais e L : [a, b] × R1+m −→ R uma fun¸c˜ao

continuamente diferenci´avel. Consideremos o problema seguinte

J[x(·)] = Z b

a

Lt, x(t), x0(t), ..., x(m)(t)dt → min, (1.5.1) x(k)(a) = Ak, x(k)(b) = Bk, k = 0, n − 1, (1.5.2)

(39)

onde o m´ınimo se procura no conjunto das fun¸c˜oes 2n vezes continuamente diferenci´aveis no intervalo [a, b]: C2n([a, b]; R).

Para problemas do c´alculo das varia¸c˜oes com derivadas de ordem superior, as equa¸c˜oes de Euler-Lagrange s˜ao generalizadas para:

∂L ∂x − d dt ∂L ∂x0 + d2 dt2 ∂L ∂x00 − ... + (−1) m dm dtm ∂L ∂x(m) = 0 (1.5.3)

Exemplo 1.5.2. Determinar as extremais do seguinte problema

J[x(t)] = Z 1 0 (x00(t))2dt → min, (1.5.4) x(0) = 0, x(1) = 0, x0(0) = 0, x0(1) = 1. (1.5.5)

Este problema envolve a derivada de ordem dois. Uma das limita¸c˜oes da fun¸c˜ao EulerLagrange ´e que s´o podemos obter as equa¸c˜oes de Euler-Lagrange para problemas com derivadas de or-dem um, ficando de fora os problemas com derivadas de oror-dem superior a um, tal como ´e o caso do problema apresentado neste exemplo. A ´unica maneira apresentada na ajuda disponi-bilizada pelo Maple 9.5 para o package VariationalCalculus, seria reduzir um problema com derivadas de ordem superior, a um equivalente apenas com derivadas de primeira ordem. No problema em m˜aos ´e poss´ıvel fazer tal redu¸c˜ao da seguinte maneira: fazemos a substi-tui¸c˜ao z = x0, impondo a condi¸c˜ao R1

0(z − x0)2dt = 0.

Tendo por base §1.4, resolvemos o problema Z 1

0

(z0(t)2+ λ(z(t) − x0(t))2)dt → min

x(0) = 0, x(1) = 0, z(0) = 0, z(1) = 1.

Trata-se de uma funcional que depende de duas fun¸c˜oes (neste caso o Lagrangeano tem duas vari´aveis dependentes x(·) e z(·)).

Recorrendo ao sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple e tendo por base o processo uti-lizado por Corless [5], vamos come¸car por definir o Lagrangeano L,

>L:=diff(z(t),t)^2+lambda*(z(t)-diff(x(t),t))^2:

(40)

eqEL :=  2 λ  d dtz (t) − d2 dt2x (t)  , −2 λ  z (t) − dtdx (t)  = K1, 2 λ  z (t) − d dtx (t)  − 2 d 2 dt2z (t) , −  d dtz (t) 2 + λ  z (t) − d dtx (t) 2 + 2  d dtx (t)  λ  z (t) − dtdx (t)  = K2 

O comando EulerLagrange devolve duas equa¸c˜oes de Euler-Lagrange e os respectivos dois integrais de energia. Tendo em conta a ordem dos elementos da lista devolvida, O Maple identifica as equa¸c˜oes de Euler-Lagrange atrav´es dos comandos eqEL[1] e eqEL[3]:

>eqEL[1]; 2 λ  d dtz (t) − d2 dt2x (t)  >eqEL[3]; 2 λ  z (t) − dtd x (t)  − 2 d 2 dt2z (t)

O operador $ no comando diff ´e utilizado para obter derivadas de ordem superior. Por exemplo,

>diff(x(t),t$3);

d3

dt3x (t)

Para resolver o sistema de equa¸c˜oes de Euler-Lagrange correctamente,      2 λ dtdz (t) − dtd22x (t)  = 0 2 λ z (t) −dtdx (t)  − 2dtd22z (t) = 0 temos de eliminar λ da seguinte maneira:

>eq:=diff(eqEL[3],t); eq := 2 λ  d dtz (t) − d2 dt2x (t)  − 2 d 3 dt3z (t) >eq1:=isolate(eq,2*lambda*((diff(z(t), t))-(diff(x(t), t$2)))));

(41)

eq1 := 2 λ  d dtz (t) − d2 dt2x (t)  = 2 d 3 dt3z (t) >eq2:=subs(eq1,eqEL[1]); eq2 := 2 d3 dt3z (t)

Efectuando a substitui¸c˜ao seguinte obtemos, finalmente, a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange 2dtd44x (t) = 0 para a funcional (1.5.4): >eq22:=subs(z(t)=diff(x(t),t),eq2); eq22:= 2 d4 dt4x (t) >sol:=dsolve(eq22,x(t)); sol := x (t) = 1 6 C1t 3+1 2 C2 t 2+ C 3t + C4 (1.5.6)

Encontrada a solu¸c˜ao geral, que denominamos por sol, as constantes C1, C2, C3 e C4

s˜ao determinadas por interm´edio das condi¸c˜oes (1.5.5). Substituindo os valores de t e x(t) respeitantes `as condi¸c˜oes x(0) = 0 e x(1) = 0 na solu¸c˜ao sol, obtemos duas equa¸c˜oes com duas inc´ognitas: >sol1:=subs({x(t)=0,t=0},sol); sol1:= 0 = C4 >sol2:=subs({x(t)=0,t=1},sol); sol2 := 0 = 1 6 C1 + 1 2 C2 + C3 + C4

Substituindo os valores de t e x0(t) respeitantes `as condi¸c˜oes x0(0) = 0 e x0(1) = 1 em sold

obtemos mais duas equa¸c˜oes com duas inc´ognitas:

>sold:=diff(sol,t); sold := d dtx (t) = 1 2 C1 t 2+ C 2 t + C3 >sol3:=subs({diff(x(t),t)=1,t=1},sold);

(42)

sol3:= 1 =

1

2 C1 + C2 + C3 >sol4:=subs({diff(x(t),t)=0,t=0},sold);

sol4:= 0 = C3

Resolvendo um sistema de quatro equa¸c˜oes (sol1, sol2, sol3, sol4 ) com quatro inc´ognitas determinamos o valor das quatro constantes:

>const:=solve({sol1,sol2,sol3,sol4},{_C1,_C2,_C3,_C4});

const := { C2 = −2, C1 = 6, C3 = 0, C4 = 0}

Ao substituir o valor dessas constantes na solu¸c˜ao geral, encontramos a extremal pretendida.

>subs(op(const),sol);

x (t) = t3− t2

Recorrendo a alguns art´ıficios, determin´amos a extremal do problema (1.5.4)-(1.5.5) que envolvia a derivada de ordem dois.

Uma vez que o Maple inclui a sua pr´opria linguagem de programa¸c˜ao, a limita¸c˜ao do package VariationalCalculus apenas permitir trabalhar directamente com problemas com derivada de ordem um, poderia ser tamb´em ultrapassada se o utilizador criar as suas pr´oprias fun¸c˜oes.

Em [22], encontramos, entre outras, a defini¸c˜ao de uma fun¸c˜ao que permite obter as equa¸c˜oes de Euler-Lagrange para funcionais do c´alculo das varia¸c˜oes de n vari´aveis de-pendentes e com derivadas at´e `a ordem m, n e m ∈ N. Esta fun¸c˜ao foi apelidada de ELnXmDX(n,m,L)e a sua defini¸c˜ao pode ser encontrada na ´ıntegra no Apˆendice A.

Resolvendo o mesmo problema, (1.5.4)-(1.5.5), e de acordo com [22], definimos, em Maple, o Lagrangeano L, n˜ao como express˜ao alg´ebrica mas por uma fun¸c˜ao:

>L:=(t,x,dx,d2x)->d2x^2;

L := (t, x, dx , d2x ) 7→ d2x2

Obtemos a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange por interm´edio da fun¸c˜ao ELnXmDX(n,m,L), para n = 1 e m = 2:

(43)

eqEL := 2 d 4 dt4x1(t) = 0 >sol:=dsolve(eqEL,x[1](t)); sol := x1(t) = 1 6 C1t 3+1 2 C2t 2+ C3 t + C4

Se repetirmos o processo aplicado a partir de (1.5.6) e tendo em conta que estamos agora a trabalhar com a vari´avel dependente x1, obtemos de novo a extremal x1(t) = t3− t2.

O problema do exemplo 1.5.1 em §1.5.1, poderia ser tamb´em facilmente resolvido atrav´es da fun¸c˜ao ELnXmDX(n,m,L), para n = 2 e m = 1.

1.6

Conclus˜

ao

Para alguns casos particulares a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange admite integrais,

Φ(t, x(t), x0(t)) = constante,

que permitem reduzir a ordem da equa¸c˜ao e simplificar o problema. De entre os cinco casos de integrabilidade que estud´amos, damos particular importˆancia a dois: integral de energia e integral de momento, uma vez que s˜ao devolvidos em conjunto com as equa¸c˜oes de Euler-Lagrange, sempre que estas os admitam, pela fun¸c˜ao EulerLagrange do Maple.

Para este tipo de problemas, o c´alculo das extremais, sob o ponto de vista do Maple, revelou-se mais simples recorrendo `a equa¸c˜ao de Euler-Lagrange do que utilizando os respec-tivos integrais. No entanto, no cap´ıtulo seguinte, s´o encontramos uma solu¸c˜ao satisfat´oria para o problema da Braquist´ocrona atrav´es da resolu¸c˜ao a partir do integral de energia.

`

A luz da abordagem feita sobre o problema isoperim´etrico, resolvemos facilmente o proble-ma com derivada de ordem um, gerado a partir de um com derivada de ordem dois. Uproble-ma vez que a fun¸c˜ao EulerLagrange do Maple s´o permite trabalhar com problemas variacionais de ordem um, a limita¸c˜ao com que nos depar´amos no problema do exemplo 1.5.2 foi ultrapassada com sucesso.

Em alternativa ao processo que utiliz´amos para resolver o referido problema, damos a conhecer uma fun¸c˜ao, criada em [22], que permite obter as equa¸c˜oes de Euler-Lagrange para funcionais de n vari´aveis dependentes e com derivadas at´e `a ordem m.

(44)
(45)

Cap´ıtulo 2

O Problema da Braquist´

ocrona

2.1

Introdu¸

ao

O primeiro e, sem d´uvida, o mais famoso problema associado ao desenvolvimento da teoria matem´atica do c´alculo das varia¸c˜oes ´e, como j´a foi referido, o problema da Braquist´ocrona:

Dados dois pontosA e B num plano vertical, qual o caminho AP B que a part´ıcula m´ovel P atravessa em tempo m´ınimo, assumindo que a sua acelera¸c˜ao ´e apenas devida `a gravidade?

Este problema foi baseado num problema semelhante estudado por Galileo Galilei (1564-1642) em 1638 no seu famoso trabalho Two New Sciences [9], [18]. Galileo descobriu que o movimento de uma part´ıcula ao longo de um segmento inclinado que une os pontos A e B demora mais tempo do que o movimento ao longo de uma linha quebrada formada por dois segmentos AC e CB, sendo C um ponto do arco de uma circunferˆencia. Tal constata¸c˜ao sugeriu-lhe naturalmente a quest˜ao da forma da linha de queda mais r´apida, a qual Galileo pensou tratar-se de um arco de circunferˆencia. No final do s´eculo XVII descobriu-se que esta dedu¸c˜ao de Galileo estava errada.

Em Junho de 1696, Johann Bernoulli (1667-1748) publicou o problema da Braquist´ocrona como um desafio `a comunidade matem´atica. Depois de enunciar o problema, Johann Bernoulli assegurou aos seus leitores que a solu¸c˜ao para o problema era muito ´util na mecˆanica e que n˜ao era uma recta mas antes uma curva muito familiar aos Ge´ometras. O prazo para entrega de respostas imposto por Johann Bernoulli foi at´e ao fim do ano 1696, altura em que ele prometeu publicar a sua pr´opria solu¸c˜ao. No final do ano, torna a publicar o desafio juntando-lhe um problema adicional de natureza geom´etrica e prolongou o prazo de entrega at´e `a P´ascoa de 1697. Aquando do in´ıcio do desafio, Johann Bernoulli tamb´em enviou o problema privadamente ao matem´atico Leibniz (1646-1716), numa carta datada de 9 de Junho de 1696. A 16 de Junho de 1696 recebeu uma solu¸c˜ao completa como resposta. Foi na troca de correspondˆencia entre Leibniz e Johann Bernoulli que surgiu o nome Braquist´ocrona

(46)

(brachistochrone, do grego brachistos, m´ınimo, e chronos, tempo) [8]. Em Maio de 1697 foi publicada, na Acta Eruditorum, a solu¸c˜ao do problema.

Johann Bernoulli, o seu irm˜ao Jacob Bernoulli, Leibniz, Newton e l´Hˆopital sugeriram diferentes m´etodos de resolu¸c˜ao do problema que levavam ao mesmo resultado.

A curva que soluciona o problema da Braquist´ocrona ´e a cicl´oide.

Neste cap´ıtulo exibiremos uma solu¸c˜ao para o problema, n˜ao na linguagem geom´etrica de outros tempos mas sim recorrendo ao m´etodo desenvolvido por Euler e Lagrange, introduzido no cap´ıtulo anterior. Esta abordagem ser´a feita recorrendo n˜ao s´o `as ”ferramentas”do c´alculo das varia¸c˜oes mas tamb´em ao sistema de computa¸c˜ao alg´ebrica Maple 9.5, indo de encontro ao objectivo desta disserta¸c˜ao.

Come¸caremos por, em §2.2, determinar a funcional integral para o problema da Braquis-t´ocrona e por apresentar uma formula¸c˜ao matem´atica para o mesmo [6], [8].

Em §2.3 apresentaremos a defini¸c˜ao e algumas propriedades da cicl´oide, curva que solu-ciona o problema da Braquist´ocrona.

De seguida, em §2.4, determinaremos a solu¸c˜ao, na forma param´etrica, da equa¸c˜ao de Euler-Lagrange no caso da braquist´ocrona para dois pontos quaisquer, A(x0, y0) e B(x1, y1),

e calcularemos o tempo m´ınimo de descida ao longo da curva encontrada. O problema ser´a tamb´em resolvido utilizando o Maple. As principais referˆencias usadas nesta sec¸c˜ao foram [7] e [25].

Consequentemente, em §2.4.1, apresentamos a solu¸c˜ao de Euler-Lagrange no caso da braquist´ocrona para os valores espec´ıficos: A(0, 2), B(3, 1), num primeiro exemplo; A(1, 3), B(15, 1), num segundo exemplo. A an´alise destes dois problemas ´e feita utilizando o Maple e para cada um deles ser´a tamb´em calculado o tempo m´ınimo de descida e ser˜ao tra¸cadas as curvas que s˜ao solu¸c˜ao dos mesmos. No primeiro exemplo, compararemos ainda o tempo de descida da part´ıcula ao longo: da recta que passa por A e B; e do arco da circunferˆencia com centro (3, c) que passa pelos dois respectivos pontos.

2.2

Formula¸

ao do problema

O problema da Braquist´ocrona consiste em determinar, dados dois pontos A e B num plano vertical, o caminho AP B que a part´ıcula m´ovel P atravessa em tempo m´ınimo, assumindo que a sua acelera¸c˜ao ´e apenas devida `a gravidade.

(47)

uma determinada curva γ corresponde um determinado valor T - tempo necess´ario para a part´ıcula chegar de A a B. O tempo, T , depende da forma da curva. O objectivo ´e encontrar a curva que corresponde ao tempo m´ınimo.

Usando um sistema de coordenadas apropriado, consideremos (x0, y0) e (x1, y1), com

x0 < x1 e y0> y1, as coordenadas dos pontos A e B, respectivamente. Consideremos a curva

arbitr´aria descrita pela equa¸c˜ao

y = y(x), x0≤ x ≤ x1.

A part´ıcula de massa m tem velocidade inicial nula e n˜ao est´a sujeita a atrito. Sabemos, segundo a lei de conserva¸c˜ao de energia, que

1 2mv

2+ mgy = mgy

0 (2.2.1)

onde g ´e a acelera¸c˜ao da for¸ca da gravidade, v a velocidade da part´ıcula e y a sua ordenada. Ent˜ao a velocidade ´e dada por

v =p2g(y0− y)

Por outro lado

v = ds dx com

ds =p1 + (y0)2dx

onde s(t) representa o comprimento do arco percorrido entre x0 e x1.

Combinando os resultados, o tempo T necess´ario para a part´ıcula deslizar de A(x0, y0)

at´e `a posi¸c˜ao final B(x1, y1) ´e dado por

T = Z AB dx = Z x1 x0 ds v = Z x1 x0 p 1 + (y0)2 p 2g(y0− y) dx = 1 2g Z x1 x0 s 1 + (y0)2 y0− y dx.

O problema da Braquist´ocrona ´e ent˜ao formulado matematicamente como se segue:

T [y(·)] = √1 2g Z x1 x0 s 1 + (y0(x))2 y0− y(x) dx → min (2.2.2) y(x0) = y0, y(x1) = y1, y ∈ C2(x0, x1)

Mostraremos, em §2.4, que a extremal deste problema ´e um arco de uma cicl´oide (inver-tida).

(48)

2.3

A Cicl´

oide

A curva que resolve o problema da Braquist´ocrona ´e chamada de cicl´oide, nome dado por Galileo (1564-1642), que se havia interessado por outras das suas propriedades no ´ınicio de 1600.

Cicl´oide ´e a traject´oria descrita por um ponto fixo P da circunferˆencia quando esta rola, sem deslizar, sobre uma recta.

A cicl´oide foi uma curva muito estudada no s´eculo XVII. O seu modo de gera¸c˜ao e a descoberta das suas propriedades foram origem de in´umeras disputas entre os Ge´ometras da ´epoca, de tal forma que lhe chamavam a ”Helena dos Ge´ometras” [27].

Em 1634, o matem´atico francˆes Roberval prova que a ´area da cicl´oide ´e exactamente o triplo da ´area do c´ırculo gerador. Por´em, a publica¸c˜ao de uma demonstra¸c˜ao desse resultado s´o foi feita em 1644 por Torricielli, disc´ıpulo de Galileo. Em 1658, Christopher Wren publica a demonstra¸c˜ao de que o comprimento de um arco de cicl´oide ´e oito vezes o raio do c´ırculo gerador [17].

Outro problema interessante que tamb´em tem a cicl´oide como solu¸c˜ao ´e o problema da Taut´ocrona. Este facto foi descoberto e publicado por Christian Huygens (1629-1695) no Horologium oscillatorium em 1673 [27]. Huygens mostrou que se uma part´ıcula partir do repouso de um determinado ponto e deslizar, sob o efeito da gravidade, por uma cicl´oide, o tempo que a part´ıcula demora a atingir o ponto mais baixo ´e independente do ponto de partida. Isto ´e, duas part´ıculas que partam ao mesmo tempo de dois pontos diferentes A e B, alcan¸cam o ponto C ao mesmo tempo.

Portanto a cicl´oide ´e uma curva braquist´ocrona - menor tempo de descida de um ponto a outro - e uma curva taut´ocrona - igual tempo de descida de qualquer ponto at´e ao ponto de altura m´ınima; sendo estas as suas duas propriedades mais importantes.

A cicl´oide que passa pela origem (0, 0) e ´e gerada pela circunferˆencia de raio r ´e descrita, usualmente, na forma param´etrica pelo conjunto de pontos (x, y) com

(49)

     x = r(θ − sin θ) y = r(1 − cos θ) (2.3.1)

onde θ ≥ 0, pois, considerando a figura anterior, temos: x = |OT | − |P Q| = rθ − r sin θ y = |T C| − |QC| = r − cos θ

Recorrendo ao Maple, podemos obter a representa¸c˜ao da curva (2.3.1) para um valor de r, por exemplo, igual a 12.

O Maple tem dispon´ıvel a fun¸c˜ao plot que permite fazer os mais variados gr´aficos. Entre as in´umeras possibilidades, o plot permite tra¸car gr´aficos de fun¸c˜oes definidas parametrica-mente. >plot([1/2*(theta-sin(theta)),1/2*(1-cos(theta)),theta=0..infinity],-2..10,-2..2, scaling=constrained); -1 -2 10 8 6 4 2 0 2 -2 1 0

O primeiro, o segundo e o terceiro argumento do plot est˜ao entre parˆenteses rectos e representam as fun¸c˜oes reais em ordem ao parˆametro e a varia¸c˜ao desse parˆametro. O quarto e quinto argumento do plot definem os intervalos dos eixos horizontal e vertical, respecti-vamente. Todas as outras op¸c˜oes (tais como: cor, tipo de escala, t´ıtulo do gr´afico, ...) devem ser colocadas depois da especifica¸c˜ao dos intervalos dos eixos. Executando o comando >?plot[options] podemos consultar as op¸c˜oes que temos dispon´ıveis para a fun¸c˜ao plot.

Referências

Documentos relacionados

A tutora do PET zootecnia Maria Luisa Appendino Nunes Zotti, torna público as regras do processo de seleção 01/2018 de acadêmicos para o Programa de Educação Tutorial –

Na verdade, vós sois santo, ó Deus do univer- so, e tudo o que criastes proclama o vosso louvor, porque, por Jesus Cristo, vosso filho e Senhor nos- so, e pela força do espírito

Um conjunto X dotado de uma rela¸c˜ ao de ordem parcial ´e dito ser um conjunto bem-ordenado se todo subconjunto A n˜ ao vazio de X tem um elemento m´ınimo em A.. Mostre que

Mostre que todo conjunto bem-ordenado segundo uma rela¸c˜ ao parcial de ordem ´e tamb´em totalmente ordenado.. segundo a mesma

Com isso, alguns objetivo foram tra¸ cados tais como: o estudo te´ orico e a implementa¸ c˜ ao num´ erica de m´ etodos aplicados ` a resolu¸ c˜ ao de Sistemas de Equa¸ c˜ oes n˜

Such practice, known as afforestation, can lead to the loss of grassland species because of different ecosystem functioning and both direct and indirect species interference

ULTRA Desengraxante de alta performance Pisos, motores, chassi e superfícies diversas 1:50 5L.

Ambos os softs poderão produzir até mesmo animação, mas só o Livre Office converterá para arquivo Flash, a partir deste é possível convertê-lo para vídeo em