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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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Academic year: 2021

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Nº 10238/12 – MJG

HABEAS CORPUS Nº 112166

PACTE: LUIZ PAULO HORTA DE SIQUEIRA

IMPTE: EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRAO E OUTRO(A/S) IMPDO: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATOR: EXMO. SR. MIN. CELSO DE MELLO

HABEAS CORPUS. CRIMES DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA, ESTELIONATO, USO DE DOCUMENTO FALSO, DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

E FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO.

TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL POR FALTA DE JUSTA CAUSA. HIPÓTESE EXCEPCIONAL NÃO

CONFIGURADA. INÉPCIA DA DENÚNCIA.

INEXISTÊNCIA. PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS E DESCREVE CRIME EM TESE. AMPLA DEFESA GARANTIDA.

ATIPICIDADE DAS CONDUTAS NÃO

EVIDENCIADA. RESPONSABILIZAÇÃO DO RÉU DECORRENTE NÃO APENAS DO CARGO DE DIRETOR MAS DA RELAÇÃO QUE TEVE COM OS FATOS. DESCRIÇÃO INDIVIDUALIZADA DA CONDUTA DO ACUSADO: EXIGÊNCIA ABRANDADA NOS CRIMES DE AUTORIA COLETIVA. PRECEDENTES DO STF. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.

- Parecer pela denegação da ordem.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, nos autos em epígrafe, diz a V.Exa. o que segue:

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Nº 10238/12 - MJG

Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado em favor de Luiz Paulo Horta de Siqueira, contra acórdão proferido pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem nos autos do HC 163.360/SP, cuja ementa possui o seguinte teor:

“PROCESSUAL PENAL. ‘HABEAS CORPUS’ SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. DENÚNCIA QUE PREENCHE OS REQUISITOS LEGAIS. CRIME DE AUTORIA COLETIVA. EXCEPCIONAL CONDIÇÃO

QUE PRESCINDE DA DESCRIÇÃO

PORMENORIZADA DA PARTICIPAÇÃO DE CADA AGENTE.

1. O trancamento da ação penal por meio do ‘habeas corpus’, é situação excepcionalíssima que demanda a demonstração inequívoca de inexistência de autoria ou materialidade ou, ainda, da evidente atipicidade da conduta.

2. Nos crimes de autoria coletiva, é prescindível a descrição minuciosa e individualizada da ação de cada acusado, bastando a narrativa das condutas delituosas e da suposta autoria, com elementos suficientes para garantir os direitos à ampla defesa e ao contraditório.

3. No caso concreto, observa-se que a peça acusatória preenche os requisitos legais do art. 41, do CPP, descrevendo, ao menos em tese, as condutas tidas por delituosas, e imputando a cada um dos acusados a participação na empreitada.

4. Entendimento contrário demandaria o aprofundado revolvimento do conteúdo probatório, defeso na via eleita.

5. Ordem denegada.”

Consta dos autos, que o paciente foi denunciado, juntamente com outras 11 pessoas, pela prática, em tese, dos crimes de denunciação caluniosa (art. 339, caput, por várias vezes), estelionato (art. 171, caput, por várias vezes), uso de documento falso (art. 304), falsificação de documento (art. 297) e quadrilha (art. 288), todos do Código Penal, na forma do artigo 69 do mesmo diploma.

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Contra o recebimento da denúncia pelo Juízo de Direito da 23ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo (Ação Penal nº 050.05.021731-1), foram impetrados, sucessivamente, habeas corpus no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e no Superior Tribunal de Justiça, que denegaram a pretensão de trancamento da persecução criminal.

Nesta via, sustentam os impetrantes a existência de falta de justa causa para o prosseguimento da ação por inépcia da denúncia, ao entendimento de que não houve a indicação de forma objetiva e pormenorizada de qual teria sido a participação do paciente nos fatos supostamente criminosos.

Alegam que o paciente só foi incluído na inicial acusatória em razão de seu cargo, em evidente imputação de responsabilidade penal objetiva.

Por estes motivos, requerem a concessão de medida liminar para que seja suspenso o andamento do Processo nº 050.05.021731-1. No mérito, postulam a concessão da ordem para trancar a ação penal.

Indeferida a medida acauteladora, prestadas as informações pelo Juízo da 23ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo, vieram os autos à esta Procuradoria Geral da República para emissão de parecer.

Eis o relato.

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Narra a denúncia oferecida pelo Ministério Público estadual contra o paciente, verbis:

"Entre 1999 e o início de 2004, nesta Capital, ... LUIZ PAULO HORTA SIQUEIRA, diretor do Departamento jurídico da mesma Seguradora (...) associaram-se com outros indivíduos não identificados, para o fim de cometer crimes.

(...)

Os três dirigentes da Porto Seguro, (...), uniram-se a CARLOS ALBERTO MANFERDINI (...) e, do outro lado da fronteira, aos advogados paraguaios, Lorenzo Almirón Armoa e Abelardo Antonio Candia Ramirez e aos sócios da W.S.N..

Todos, agindo em perfeita sintonia, participaram do plano criminoso ora descrito, que lesou segurados de veículos no Estado de São Paulo e em outros Estados do País (...).

(...)

A empresa W.S.N., dentre outras empresas de investigação privada, prestou serviços por anos seguidos ao Departamento de Sinistros da Porto Seguro, dirigido por NELSON PEIXOTO (...). No início dos golpes era a W.S.N. a responsável por levar àquele departamento os contratos vindos do Paraguai. Depois, JOEL REBELATO DE MELLO, representando a Porto Seguro, autorizado por NELSON PEIXOTO E LUIZ PAULO HORTA DE SIQUEIRA, passou a estabelecer contato direto com as fontes paraguaias que obtinham os contratos (...).

LUIZ PAULO HORTA DA SIQUEIRA analisava e aprovava os documentos obtidos no País vizinho, considerando-os aptos a instruir requerimentos de instauração de inquéritos policiais e era quem autorizava as viagens feitas pelo subordinado JOEL REBELATO e também a CARLOS ALBERTO MANFREDINI (...).

CARLOS ALBERTO MANFREDINI, aderiu à conduta criminosa dos dirigentes da empresa Porto Seguro, que contrataram, com a colaboração da empresa W.S.N., passou a utilizar o mesmo 'modus operandi" nas Seguradoras Itannover Internacional S.A (...); Unibanco (...) e Finasa Seguradora S/A (...), para as quais também passou a advogar.

(...)

O advogado CARLOS ALBERTO MANFREDINI e JOEL REBELATO DE MELLO passaram, com a concordância de LUIZ HORTA DE SIQUEIRA,

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previamente conluiados e com identidade de propósitos, pelo menos desde o ano de 1999 até 2002, de forma continuada, a dar causa à instauração de inquérito policial contra os segurados de veículos, produto de furto ou roubo, imputando-lhes o crime de estelionato na modalidade de 'fraude para o pagamento do valor de seguro' que sabiam não haver ocorrido (...).

(...)

Com a instauração dos inquéritos e o indiciamento dos segurados conseguia a PORTO SEGURO revestir o ato de não pagamento da indenização de uma aparência legal.

Os inquéritos policiais - alguns deles anexados à presente e outros trazidos como 'prova emprestada' anexados ao PAC-GECEP - mostram que os segurados, além de não receberem a indenização contratada, eram indiciados em inquérito policial, depois de sofrer pressão e constrangimentos para renunciar ao direito à indenização, quer em suas residências onde eram alcançados por 'sindicantes' da Porto Seguro, quer na própria Seguradora, nas dependências do Departamento de Sinistros, quer no Distrito Policial, onde o escrivão GERALDO os interrogava com ameaças. Por fim, os dirigentes da Porto Seguro, mesmo cientes dos arquivamentos de muitos inquéritos policiais, mantinham a decisão de não pagar a indenização, o que obrigava os segurados a procurar a via cível para cobrá-la. Por outro lado, segurados que chegaram a receber a indenização, eram chamados ao Distrito Policial para devolver o valor, sob pena de responderem a inquérito policial (...).

(...)

Desta forma, denunciam os representantes do Ministério Público, ... LUIZ PAULO HORTA DE SIQUEIRA, como incurso no art. 339, caput, (várias vezes); 171, caput, (várias vezes); ambos na formar do art. 71, arts. 304 c/c o art. 298 (três) vezes; arts. 304 c/c o art. 297, e art. 288, todos na forma do art. 69, do mesmo Codex; ...".

Da análise desse excerto, tem-se que a peça inaugural ofereceu exposição que descreve satisfatoriamente a prática de fatos que, em princípio, amoldam-se às figuras típicas dos delitos de denunciação caluniosa, estelionato, uso de documento falso, falsificação de documento e formação de quadrilha, especificando as circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução, que revelam palpáveis indícios da autoria atribuída ao

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paciente, ao mesmo tempo em que permitem o exercício do contraditório e da ampla defesa, justificando a instauração da persecutio criminis.

A esse respeito, irretocável a conclusão da Corte a quo, cuja precisão merece ser esposada:

“A inicial acusatória descreve de forma bastante clara a atuação de cada denunciado, bem como a do ora paciente, este na qualidade de Diretor do Departamento Jurídico da Seguradora Porto Seguro, como integrantes de uma quadrilha organizada para a prática de crimes contra os segurados de veículos.

Percorrendo o texto da denúncia, vislumbra-se a ocorrência de um universo de fatos e condutas interligadas e inter-relacionadas logicamente, demonstrando a existência de uma verdadeira sociedade para a prática de delitos contra titulares de seguro contra roubo e furto de automóveis.

O período em que os crimes foram perpetrados também restou bem delineado na inicial, isto é, quando as promotorias criminais receberam inquéritos policiais resultantes da empreitada criminosa (1999 a 2004). Restou consignado que o ora paciente, entre 1999 e 2002, deu causa à instauração dos referidos inquéritos contra os segurados de veículos.

Conforme se depreende da denúncia, cada integrante da quadrilha tinha uma tarefa específica na organização criminosa, afastando a alegação de imputação de responsabilidade objetiva, como sugere o impetrante. Cada um, em maior ou menor grau, de modo mais específico ou genericamente, lograram atuar para o resultado final.

Toda a trama delituosa implicava necessariamente: a) na vinculação da mesma delegacia de polícia; b) na ação da mesma empresa privada de investigação; c) na autorização

de viagens ao Paraguai em busca de provas com custos para a Porto Seguro; e d) em reiterados contatos por parte dos advogados da seguradora com o advogado privado Carlos Manfredini, importante partícipe das ações ilícitas, ligado a outros profissionais e outras seguradoras com atuação semelhante.

Segundo se extrai da inicial, o Departamento de Sinistros da Porto Seguro recusava o pagamento da indenização de alguns segurados, previamente selecionados, vítimas de furto ou roubo, sob o argumento

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de que os veículos haviam sido vendidos na Ciudade del Leste - Paraguai.

Restou devidamente descrito na denúncia que o ora paciente, e os outros diretores da Porto Seguro, se uniram a Carlos Alberto Manfredini e outros advogados paraguaios, para que estes produzissem 'provas' da venda dos veículos pelos segurados em datas anteriores às indicadas nos Boletins de Ocorrência relativos aos furtos ou roubos, de forma a vincular os segurados aos supostos envios dos carros ao Paraguai.

Essas provas fabricadas instruiriam os inquéritos policiais instaurados através de requerimento da Porto Seguro - Companhia de Seguros Gerais, contra os segurados proprietários de veículos objeto de furto ou roubo, sob a acusação da prática do crime de estelionato na modalidade de fraude para o recebimento de valor de seguro, art. 171, § 2º, V, do Código Penal.

Para a instauração dos inquéritos, Carlos Manfredini recebia relatórios produzidos pelo departamento jurídico da Porto Seguro, com indicação expressa da 27ª DP, onde os requerimentos deveriam ser protocolados. Tais relatórios eram acompanhados das provas obtidas pelas empresas de investigação privada. Na Delegacia, os Delegados denunciados deixavam de praticar atos de ofício ao se omitirem de investigar a origem das provas e a credibilidade da W.S.N..

Referidos inquéritos eram instrumento de pressão moral e psicológica sobre os segurados, conferindo aparência de oficialidade à ação criminosa de não pagamento das indenizações a que os segurados teriam direito, bem como como instrumento de coerção sobre os mesmos para reaver indenizações que a Seguradora considerasse pagas indevidamente.

O ora paciente teria sido responsável por autorizar a atuação de JOEL REBELATO, denunciado que estabelecia contato direto com as fontes paraguaias que obtinham os falsos contratos de compra e venda, tarefa antes realizada pela empresa de investigação privada W.S.N.. O paciente ainda "analisava e aprovava os documentos obtidos no País vizinho, considerando-os aptos a instruir requerimentos de instauração de inquéritos policiais e era quem autorizava as viagens feitas pelo subordinado JOEL REBELATO e também a CARLOS ALBERTO MANFREDINI". A denúncia demonstra a estreita ligação da empresa PORTO SEGURO com as fontes dos documentos obtidos no Paraguai”.

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Como se vê, sem razão a impetração ao asseverar que a peça acusatória deixou de descrever, de forma particularizada, a conduta do paciente tida por delituosa, atribuindo-lhe responsabilidade criminal apenas por sua condição de Diretor Jurídico do Grupo “Porto Seguro”. Temos que as condutas delituosas atribuídas ao paciente estão devidamente individualizadas - até em maior extensão do que ordinariamente esperado em crimes dessa natureza -, existindo na denúncia descrição suficiente dos elementos de convicção que a embasaram, atendendo aos requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal.

Ainda que assim não fosse, nos casos de crimes societários ou de autoria coletiva, essa Suprema Corte considera que, embora a denúncia não possa ser de todo genérica, é válida quando, apesar de não descrever minuciosamente as atuações individuais dos acusados, demonstrar um liame entre o agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a plausibilidade da imputação e possibilitando o exercício da ampla defesa, em conformidade com o art. 41 do CPP1.

Não há, pois, como acolher a pretensão de trancamento da ação penal formulada pelos impetrantes, não se podendo olvidar o entendimento consolidado dessa Suprema, no sentido de que o trancamento do feito, pela via estreita do habeas corpus, só é possível em situações excepcionais, desde que verificada, sem a necessidade de dilação probatória, a inequívoca improcedência do pedido veiculado na ação penal, seja pela patente inocência do acusado, atipicidade da conduta, ou extinção da punibilidade, hipóteses que não se verificam no caso dos autos.

1 HC 98157/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, Julgamento: 05/10/2010, Publicação: DJe-204; HC 95156/AM, Relator: Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, Julgamento: 06/10/2009, Publicação DJe-218.

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Por fim, saliente-se que, na fase atual, a dúvida favorece a sociedade, detentora de legítimo interesse na apuração de crime acaso praticado e na punição dos culpados, sendo, pois, imperioso prosseguir na busca da verdade real, sob pena de absolvição sem processo.

Ante o exposto, ausente o constrangimento ilegal aduzido, opinamos pela denegação da ordem.

Brasília, 01 de outubro de 2012.

MARIO JOSÉ GISI Subprocurador-Geral da República

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