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Cópia da sentença de fl. 196 a fl. 199 proferida nos autos de recurso de marca n. 613/97 em que são requerente Colecções Philae e requerido o INPI.

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Cópias da sentença da 8.ª Vara Cível do Tribunal da Comarca de Lisboa e do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferidos no processo de registo de modelo industrial n.° 27 295.

Cópia da sentença de fl. 196 a fl. 199 proferida nos autos de recurso de marca n.° 613/97 em que são requerente Colecções Philae e requerido o INPI.

Colecções Philae, com sede na Avenida de 24 de Ju- lho, 78, 5.°, em Lisboa, veio, ao abrigo do disposto no artigo 2.° do Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro, e dos artigos 38.° e seguintes do Código da Propriedade Indus- trial, interpor o presente recurso do despacho do Ex.mo director do Serviço de Patentes do INPI que recu- sou o registo do modelo industrial n.° 27 295.

Alega, para tanto e em suma, o seguinte:

A recorrente apresentou junto do INPI o pedido de re- gisto do modelo industrial n.° 27 295, denominado «Casas Tradicionais de Portugal».

O modelo era constituído por 10 modelos de casas re- presentativas de várias regiões de Portugal.

O registo de tal modelo foi recusado, por despacho de 3 de Outubro de 1996, «por se tratarem de reproduções de casas típicas portuguesas, há muito do domínio públi- co», havendo assim «falta de novidade».

A recorrente alega, em defesa do registo recusado, que são susceptíveis de registo todos os modelos novos ou, não o sendo inteiramente, que reúnam uma de duas caracterís- ticas, a saber: que realizem combinações novas de elemen- tos conhecidos, dando ao objecto um aspecto geral distin- to, ou que apresentem disposições diferentes de elementos já usados por forma a dar ao objecto um aspecto geral distinto.

O modelo industrial da recorrente preenche a segunda hipótese anteriormente referida.

Por esse facto, preenche o requisito da novidade. Conclui pela procedência do recurso, devendo o despa- cho ser anulado e concedido o registo ao modelo.

Recebido o recurso, deu-se cumprimento ao disposto no artigo 40.° do Código da Propriedade Industrial, tendo o INPI vindo responder, alegando, para tanto e em suma, o seguinte:

Deverá manter-se o despacho de recusa uma vez que se refere a objectos decorativos que retratam casas típicas portuguesas já existentes e conhecidas há muito tempo, não apresentando novidade.

Alega ainda que, em situações semelhantes, que de- monstrou nos autos, tem vindo o INPI a recusar os regis- tos, pois é seu entendimento que o exercício de imitação do real retira ao objecto a característica da novidade exi- gida para o registo de modelos industriais.

Juntou o processo administrativo.

O tribunal é competente e inexistem excepções ou ques- tões prévias que cumpre conhecer e obstem à apreciação do mérito da causa.

Cumpre apreciar e decidir.

A questão a decidir é tão-somente a de saber se o modelo industrial n.° 27 295, da recorrente, reúne os re- quisitos legais para ser objecto de registo enquanto tal. Dispõe o artigo 139.°, n.os 1 e 2, do Código da Proprie- dade Industrial que «podem ser protegidos como modelos industriais os moldes, formas, padrões, relevos, matrizes e demais objectos que sirvam de tipo na fabricação de um

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produto industrial, definindo-lhe a forma, as dimensões, a estrutura ou a ornamentação. Nestes modelos é protegida apenas a forma sob o ponto de vista geométrico ou orna- mental».

Para que o objecto do modelo possa ser registado ne- cessita ser novo ou, não o sendo inteiramente, realize combinações novas de elementos conhecidos ou disposi- ções diferentes de elementos já usados, que dêem ao mes- mo um aspecto geral distinto - cf. artigo 141.° do Códi- go da Propriedade Industrial.

Não podem ser objecto de registo os modelos e dese- nhos desprovidos de novidade - artigo 143.°, alínea c), do Código da Propriedade Industrial -, não se considerando novo, entre outros, o utilizado de modo notório ou por qualquer forma caído no domínio público - artigo 144.°, n.° 2, alínea c), do mesmo Código.

Este o quadro legal.

O modelo industrial n.° 27 295 da recorrente e agora em apreciação é composto por 10 miniaturas com, «em mé- dia, uma base de 1 1 cm x 9 cm, uma altura de 7 cm e um peso de 450 g aproximadamente» - cf. documento a fl. 94 -, sendo denominado e comercializado sob a de- signação «casas tradicionais de Portugal» e é assegurado ao público como tendo um «incomparável grau de porme- nor» - cf. o referido documento.

Admite a recorrente que o seu modelo não é novo - cf. artigo 41.° das alegações de recurso -, só que, ale- ga, «a forma, a dimensão e a ornamentação que lhes foi dada, ainda que resultando da combinação de elementos já usados, lhes atribuem um aspecto geral distinto dos demais».

Ora, com o devido respeito e salvo melhor opinião, não tem razão a recorrente.

Em primeiro lugar, porque não é o facto de apresentar dimensões reduzidas das casas tradicionais existentes nas diversas regiões do País que lhes confere um aspecto dis- tinto.

A reprodução pode ser e é muitas vezes uma miniatu- rização, sendo tanto mais valiosa para o mercado quanto maior número de pormenores conseguir reproduzir.

Em segundo lugar, não há uma casa tradicional tipo em cada região, há tantas casas tradicionais quantas a imagi- nação dos seus proprietários consiga dentro do mesmo con- junto de características próprias.

É assim que, reunidos os elementos típicos, sejam de materiais usados, cores ou formas, os pormenores de cons- trução são livres, sendo a porta do lado esquerdo ou do lado direito, a chaminé à frente ou de lado, a janela no

1.° andar ou no rés-do-chão, etc., etc.

Não é a alteração destes elementos e a sua combinação diferente que determina, no caso, a distinção, pois todas as combinações são possíveis, mantendo o modelo real as características de casa típica e tradicional, se for verificada a existência dos elementos que lhes confere a propriedade de tradicional.

Ora, como é do conhecimento geral, o reconhecimento de uma casa tradicional de determinada região é feito pelo homem médio, mediante a identificação de determinadas características comuns, sendo indiferente no processo de conhecimento a alteração e modificação de pormenores. Pretendendo a recorrente conferir aos seus modelos um elevado grau de pormenor, é credível que tenha deposita- do nos mesmos grande fidelidade de reprodução da reali- dade.

Aliás, face à reconhecida credibilidade que a recorren- te goza no mercado, só assim se explica ter comercializa-

do os produtos sob a denominação «casas tradicionais de Portugal».

A cópia da realidade - e no caso a realidade não é esta ou aquela casa em concreto, mas sim a casa com os elementos típicos identificadores de determinada região - não é susceptível de protecção legal já que é desprovida de novidade, pelo que bem andou o INPI ao recusar o registo, tendo aplicado correctamente a lei no caso con- creto.

Pelo exposto, julgo improcedente o recurso e, conse- quentemente, mantenho o despacho recorrido.

Custas pela recorrente. Registe e notifique.

Oportunamente e após dactilografia cumpra o disposto no artigo 44.° do Código da Propriedade Industrial.

Lisboa, 2 de Setembro de 1998 (ac. serviço). - O Juiz de Direito, Raul Esteves.

Acordam neste Tribunal da Relação de Lisboa: Colecções Philae em 30 de Junho de 1997 interpôs recurso do despacho do Instituto Nacional da Propriedade Industrial de 3 de Outubro de 1996 que recusou o registo do modelo industrial n.° 27 295. «Casas Tradicionais de Portugal», por falta de novidade, nos termos dos arti- gos 158.°, n.° 1, alínea a), e 143.°, alínea c), do Código da Propriedade Industrial.

Para o efeito, alega e conclui que o modelo em causa é novo porque apresenta aspecto geral distinto de outros modelos. Pede a revogação do despacho de recusa e que seja concedido o registo do referido modelo.

Notificado, veio o INPI reiterar o fundamento da sua recusa - falta de novidade porque o modelo refere-se a objectos decorativos que retratam casas típicas portugue- sas já existentes e conhecidas há muito tempo.

Foi julgado improcedente o recurso com fundamento na falta de novidade.

Desta decisão interpôs novamente recurso a Colecções Philae, o qual foi devidamente admitido como de apelação. A recorrente ofereceu alegações, rematando com as se- guintes conclusões:

a) Encontra-se a decisão de que ora se recorre fe- rida de diversas ilegalidades;

b) Não só porque fez uma incorrecta aplicação de preceitos legais, mas também porque se absteve de analisar questões alegadas pela ora apelante na sua p. r., a saber o conceito legal de modelo in- dustrial - incluindo da novidade que lhe deve ser inerente e do objecto de protecção legal - da prova necessária à ausência de novidade do mo- delo industrial n.° 27 295, «Casas Tradicionais de Portugal»;

c) A decisão a quo considerou que o modelo indus- trial n.° 27 295 não é susceptível de protecção por não ser novo, uma vez que tinha caído no domínio público por utilizar elementos de casas tradicionais; d) Tal entendimento da decisão recorrida resulta de uma errada interpretação dos conceitos de mode- lo industrial, da novidade que aos mesmos é ine- rente e do que pode ser objecto de protecção le- gal através deste direito de propriedade industrial; e) A posição assumida na decisão recorrida esvazia, na quase totalidade, a protecção conferida pela lei a um dos tipos de modelo industrial;

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f) Nos modelos industriais o que se protege é a forma geométrica ou ornamental, sendo possível registar modelos com idêntica finalidade desde que sejam geometricamente distintos;

g) Podem ser registados modelos industriais que tenham por objecto monumentos, casas ou outros tipos de construções;

h) Existindo inúmeros registos de construções diver- sas, concedidos pelo INPI, que apoiam, de for- ma clara, a registabilidade de tais modelos. Dos quais se destaca o caso do modelo industrial n.° 27-480, «Moinho de Vento»;

i) Surge apenas como condição essencial que esses modelos de casa, moinhos e ou construções várias apresentem forma geométrica distinta de qualquer outro existente;

j) O objecto do modelo industrial n.° 27 295 não é um cliché, visto este consistir numa reprodução da realidade e aquele numa concepção puramen- te imaginária;

l) Mas mesmo um cliché de determinado monumen- to é passível de ser objecto de protecção através do registo de modelo industrial, desde que tenha uma configuração artística e possa ser alvo de reproduções através de métodos industriais; m) A Ex.ma Sr." Directora do Serviço de Patentes do

INPI, na sua «resposta» à resposta da ora apela- da, cita Ramella de forma perfeitamente desen- quadrada;

n) A opinião de Ramella, trazida à colação, respeita à impossibilidade de serem protegidas, através do registo de modelos industriais, reproduções de fenómenos da natureza, tais como acidentes geo- gráficos, rios ou vulcões, situação diversa da que está em causa no modelo industrial n.° 27 295; o) O modelo industrial n.° 27 295 é susceptível de registo, porquanto consiste numa concepção da ora apelante - não é uma reprodução de algo que exista, o que se encontra provado nos autos; p) A decisão recorrida não analisou a prova de tal

concepção;

q) As casas que constituem o seu modelo industrial n.° 27 295, «Casas Tradicionais de Portugal», encontram-se registadas, como direito de autor, a seu favor;

r) Tais casas são o resultado da sua imaginação e, como tal, distintas de quaisquer outras, são de pura fantasia, concebidas pela ora apelante, ou sob sua encomenda;

s) Logo, o modelo industrial em causa é novo, novo face ao teor do artigo 141.° do Código da Pro- priedade Industrial, visto aí não se exigir que o objecto de modelo industrial tenha que ser 100 % novo;

t) O M.mo Juiz a quo não teve em consideração a segunda parte do artigo 141.° do Código da Pro- priedade Industrial;

u) Pelo que considerou que só seria objecto de pro- tecção legal o modelo inteiramente novo, não admitindo a possibilidade de existirem modelos que não sendo inteiramente novos realizem com- binações novas ou disposições diferentes de ele- mentos já usados;

v) Desta forma, a decisão recorrida restringiu o âmbito de aplicação do artigo 141.° do Código da Propriedade Industrial, o que é ilegal;

x) Se tal fosse admitido, sempre que estivesse em causa um modelo industrial que combinasse ele- mentos arquitectónicos, mesmo da forma mais distinta possível, jamais poderia ser objecto de registo;

z) No caso sub judice o modelo industrial da ora apelante conjuga características «tradicionais» com outras formas, dimensões e ornamentações, aplicadas ao modelo considerado, o que lhe dá um aspecto geral distinto;

aa) Percorrendo manuais de arquitectura portuguesa, não se conseguem encontrar casas reais - não casas imaginárias como pretende a decisão o quo - idênticas às representadas nos 10 objec- tos constantes do modelo industrial n.° 27 295; bb) Do ponto de vista geométrico - que é o único que interessa considerar para a protecção dos mo- delos industriais - o modelo industrial n.° 27 295 é novo, visto ser uma fantasia construída a partir de características conhecidas;

cc) A decisão a quo considerou que o modelo indus- trial desta consiste numa reprodução de casas tí- picas portuguesas, o que não é verdade;

dd) Reprodução significa cópia servil ou imitação perfeita;

ee) Na decisão recorrida não se encontra qualquer menção, em concreto, ao objecto reproduzido; ff) O modelo industrial n.° 27 295 - «Casas Tradi- cionais de Portugal» - jamais poderia consistir numa reprodução das ditas casas típicas portugue- sas, visto o seu objecto ter sido concebido por um reputado escultor inglês, o Sr. Mark Howard Cansdale Jones;

gg) As casas objecto do modelo industrial da ora apelante são verdadeiras obras de arte, fruto de criação intelectual, jamais integrando o conceito de reprodução da realidade;

hh) De acordo com o n.° 2 do artigo 142.° do Código da Propriedade Industrial é admitida a classifica- ção - e consequente protecção - enquanto mo- delo industrial de obras de escultura que possam ser alvo de «[...] reproduções feitas com fim industrial por quaisquer processos que permitam a sua fácil multiplicação [...]», sendo este o caso do modelo industrial n.° 27 295;

ii) Observando, atentamente, as diversas casas típi- cas existentes em Portugal, do Minho ao Algar- ve, tem de, forçosamente, concluir-se que o mo- delo industrial n.° 27 295 não reproduz nenhuma dessas casas;

jj) Todas as casas que integram o modelo industrial n.° 27 295 limitam-se a combinar, de forma dife- rente e perfeita, elementos característicos de di- versas casas, nunca, em hipótese alguma, de uma casa determinada;

ll) Logo, o modelo industrial o n.° 27 295 nunca foi utilizado de modo notório ou caiu no domínio público;

mm) Não existe qualquer outro modelo anterior com o qual o modelo industrial «Casas Tradicionais de Portugal» seja confundível;

nn) Tal como aconteceu no processo administrativo, a decisão a quo analisou as 10 casas constantes do modelo industrial n.° 27 295 de forma conjunta, escusando-se a aferir se cada uma dessas 10 casas poderia, ou não, ser objecto de protecção legal;

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oo) O facto de existir a possibilidade de no mesmo pedido de registo se integrarem 10 objectos, não exime o técnico - consequentemente também o autor da decisão recorrida - de analisar caso a caso cada um dos objectos para assim poder afe- rir da sua possibilidade de protecção legal; pp) No processo administrativo e nos autos não foi

feita qualquer prova da ausência de novidade do modelo industrial n.° 27 295;

qq) De acordo com o disposto na lei, será novo o modelo que antes do pedido do respectivo regis- to ainda não tenha sido divulgado dentro e fora do País, de modo a poder ser conhecido e explo- rado por peritos na especialidade;

rr) A decisão a quo não alude a que tenha sido feita prova de que fosse conhecido qualquer modelo que apresentasse um conjunto de 10 casas repre- sentativas de estilos arquitectónicos ideais de di- ferentes regiões de Portugal;

ss) Só poderia afirmar-se que as casas, que são ob- jecto do modelo industrial da ora apelante, não têm novidade se tivesse sido apresentada, no pro- cesso de registo ou aquando da tomada da deci- são a quo, alguma casa existente parecida com alguma das 10 casas objecto do modelo industrial n.° 27 295, o que não aconteceu;

tt) A alegação de falta de novidade não foi pro- vada;

uu) O INPI em situações idênticas concedeu registos de modelos industriais, nomeadamente no caso do modelo industrial n.° 27 480 - «Moinho de Vento»:

vv) Outras situações chamadas à colação pelo INPI, nos presentes autos, para além da do «Moinho de Vento» são diversas da questão subjudice, logo irrelevantes.

A decisão recorrida fez incorrecta aplicação dos arti- gos 158.°, n.° 1, alínea a), 141.° e 144.° do Código da Propriedade Industrial.

Colhidos os vistos, cumpre conhecer do recurso. Fundamentação de facto:

1 - Em 9 de Fevereiro de 1996 a recorrente apresen- tou no instituto Nacional de Propriedade Industrial o pe- dido de registo do modelo industrial n.° 27 295, «Casas Tradicionais de Portugal», representativas de 10 casas tra- dicionais de várias regiões de Portugal, conforme Ils. 63 a 65 e 95 a 115, que se dão por reproduzidas.

2 - Pedido esse que foi recusado por despacho de 3 de Outubro de 1996, publicado no Boletim da Pro- priedade Industrial, de 31 de Março de 1997, nos ter- mos dos artigos 158.°, n.° 1, 143.°, alínea c), e 144.°, alínea c), do Código da Propriedade Industrial, confor- me fls. 63 a 65.

3 - Os 10 modelos de casas que integram o modelo industrial em causa não são reprodução nem imitação de modelo anteriormente registado.

4 - Os referidos modelos foram executados por Mark Jones, sob encomenda da recorrente, para esta reproduzir e vender, conforme documento de fl. 261 a fl. 266.

5 - Encontra-se registada na Direcção de Serviços de Licenciamento desde 3 de Setembro de 1996 a obra inti- tulada «Casas Típicas Portuguesas» consistente em 12 ilus- trações, conforme certidão de fl. 247 a fl. 260.

6 - Os referidos modelos de casas destinam-se a de- coração.

O direito.

Importa fundamentalmente conhecer se o modelo apre- sentado pela recorrente, contendo 10 modelos de casas tradicionais representativas de cada região de Portugal, é um modelo industrial provido de novidade.

A) Anotam-se as disposições legais com relevante inte- resse para a decisão do presente recurso.

Podem ser protegidos como modelos industriais os moldes, formas, padrões, relevos, matrizes e demais ob- jectos que sirvam de tipo na fabricação de um produto industrial, definindo-lhe a forma, as dimensões, a estrutu- ra ou a ornamentação (artigo 139.°, n.° 1, do Código da Propriedade Industrial). Nestes modelos é protegida ape- nas a forma sob o ponto de vista geométrico ou ornamen- tal (n.° 2).

Mas só gozam de protecção legal os modelos novos e os que, não o sendo inteiramente, realizem combinações novas de elementos conhecidos ou disposições diferentes de elementos já usados, que dêem aos respectivos objec- tos aspecto geral distinto (artigo 141.° do Código da Pro- priedade Industrial).

Nos termos do artigo 143.°, alínea c), do Código da Propriedade Industrial, não podem ser objecto de registo os modelos desprovidos de novidade.

É novo o modelo que, antes do pedido do respectivo registo, ainda não foi divulgado dentro ou fora do País, de modo a poder ser conhecido e explorado por peritos na especialidade (artigo 144.°, n.° 1, do Código da Pro- priedade Industrial).

Não se considera novo o modelo utilizado de modo notório ou por qualquer forma caído no domínio público [artigo 144.°, n.° 2, alínea c), do Código da Propriedade Industrial].

B) As formas geométricas concebidas pela recorrente para cada um dos 10 modelos de casas aqui em causa podem ser objecto de fácil multiplicação através de pro- cessos mecânicos de modo a poderem ser industrializadas e comercializadas. Quer dizer, os 10 modelos em causa podem ser industrializados (na indústria de decoração). Certamente que foi para os rentabilizar pondo-os no mer- cado que a recorrente os elaborou. Trata-se, pois, de um modelo industrial. Aliás, as partes não discutem esta ca- racterização.

C) Importa ponderar sobre a característica da novidade do modelo industrial em causa.

Face ao disposto no citado artigo 141.° do Código da Propriedade Industrial, para que um modelo industrial mereça protecção legal através do seu registo, não carece de ser inteiramente novo. Basta que realize combinação nova de elementos cohecidos ou disposição diferente de elementos já usados de modo a que resultem objectos com aspecto geral distinto.

A recorrente «miniaturizou» as referidas 10 casas tra- dicionais portuguesas em modelos de muito reduzidas di- mensões neles concentrando os elementos tidos por mais típicos e tradicionais, ornamentando-os e dispondo-os em especial forma geométrica. A originalidade e novidade reside tão-somente na forma miniatural e na especial dis- posição concentrada dos seus elementos arquitectónicos e ornamentais. Pode afirmar-se que os 10 modelos de casas tradicionais apresentados constituem uma «configuração artística especial» dos elementos típico-tradicionais das casas portuguesas como resultado e fruto do labor imagi- nativo-artístico-criativo da recorrente. A distinção inova- dora do modelo em causa reside na combinação nova e artística de elementos conhecidos desde há muito do pú-

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blico em geral, designadamente arquitectónicos (beirados, chaminés, janelas, varandas, pelourinho, muros, paredes, telhados ...) e ornamentais (barcos, cordas, árvores, plan- tas, cães ...).

Construir um modelo copiando um objecto existente (por exemplo, uma concreta casa tradicional portuguesa) é um mero trabalho manual sem qualquer criatividade in- telectual que lhe dê carácter de novidade. Mas combinar artisticamente vários elementos conhecidos dando-lhes uma forma geométrica específica e distinta de outros modelos e de objectos reais resultando numa nova forma, é cons- truir com originalidade e novidade.

Os 10 modelos de casas apresentados não existem na realidade como casas e nem todas as casas tradicionais se assemelham ao modelo apresentado. Trata-se de modelos estereotipados criados pela recorrente configurando os ele- mentos típicos existentes de forma especial.

A concessão do registo apenas impede a reprodução e imitação do modelo concreto em miniatura apresentado pela recorrente e não também dos elementos típicos e tra- dicionais das casas regionais portuguesas. Uma coisa é o modelo concreto da recorrente e outra, bem diferente, são os elementos típicos e ornamentais que caracterizam as casas tradicionais portuguesas. Obviamente que esses ele- mentos caracterizadores das casas tradicionais portuguesas podem ser reproduzidos, copiados e imitados por tercei- ros, mas não na especial configuração artística e geomé- trica concentrada pela recorrente na sua miniatura concre- ta aqui em causa. Aliás, outros modelos industriais poderão ser desenvolvidos e criados a partir dos mesmos elemen- tos tradicionais de que os dos autos são feitos, desde que dispostos de diferente modo em termos geométricos e or- namentais. Os modelos industriais só podem prevalecer- -se dos efeitos do seu registo enquanto se mantiverem inal- teráveis, sob pena de caducidade (v. artigo 163.° do Código da Propriedade Industrial).

Diz-se na douta decisão recorrida que «não há uma casa tradicional tipo em cada região, há tantas casas tradicio- nais quantas a imaginação dos seus proprietários arranje dentro do mesmo conjunto de características próprias». Concorda-se com a afirmação. Mas por isso mesmo os 10 modelos de casas da recorrente não são cópia ou reprodu- ção da casa regional e tradicional tipo. E se cópia, imita- ção ou reprodução fossem de modelos preexistentes regis- tados ou de casas tradicionais realmente existentes, ao recorrido incumbia provar porque seria facto obstativo da pretensão da recorrente (artigo 342.°, n.° 2, do Código Comercial). O Instituto Nacional da Propriedade Industrial não logrou provar a preexistência de qualquer modelo que apresentasse um «conjunto de 10 miniaturas representati- vas de estilos arquitectónicos ideais de diferentes regiões de Portugal», na expressão da recorrente, nem da existên- cia de casas tradicionais de que as miniaturas fossem re- produção ou cópia servil.

A recorrente concentrou nesses modelos os elementos já usados, já conhecidos e já caídos no domínio público desde há muitos anos, mas de forma original na sua es- trutura arquitectónica, ornamental, decorativa, geométrica e no seu enquadramento paisagístico.

Os 10 modelos de casas criados pela recorrente e es- truturados em elementos tradicionais conhecidos são resul- tado dos possíveis frutos das muitas imaginações dos criadores artísticos. São novos do ponto de vista geomé- trico porque «fantasias construídas a partir de característi- cas conhecidas», como diz a recorrente.

As miniaturas da recorrente não são meros clichés re- produzindo a realidade concreta, mas resultam de uma concepção imaginária, criativa e artística combinando ele- mentos característicos tradicionais e de cuja aglutinação resulta um aspecto distinto dos elementos seus componen- tes e da realidade concreta.

Daqui a originalidade e a novidade do modelo indus- trial em causa.

Deste modo, acorda-se em dar provimento ao recurso. pelo que se revoga a douta decisão recorrida e, consequen- temente, o despacho de recusa, devendo ser proferido ou- tro que dê concessão do registo dos modelos em causa nestes autos.

Sem custas (INPI).

Lisboa, 15 d e Fevereiro de 2000. - J. Santos - H. Ba- rata - F. Girão.

Acta Processo n.° 6419/99.

7.ª Secção.

Aos 15 dias do mês de Fevereiro do ano de 2000, nesta cidade de Lisboa, em sessão pública do Tribunal da Rela- ção, presidida pelo Ex.mo Desembargador Sr. Dr. Hugo Barata, achando-me presente, aqui, pelo respectivo relator, o Ex.mo Juiz Desembargador Dr. Jorge Santos foi publicado o presente acórdão, por ele assinado e pelos adjuntos, os Ex.mos Juízes Desembargadores Dr. Hugo Barata e Dr. Fer- reira Girão no qual decidem dar provimento ao recurso. Para constar, lavrei a presente que vai ser assinada pelo Ex.mo Desembargador Presidente e por mim escrivã auxi- liar que a subscrevo.

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