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Subsídio: de onde veio, para onde vai

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São Paulo, 4 de dezembro de 2014

Já na primeira Constituição Brasileira de 1824, sob o Império de D. Pedro I, a figura do subsídio aparece como forma de pagamento aos Deputados e Senadores. O termo subsídio traduzia exatamente seu sentido de ser uma ajuda ou auxílio pago pelo Império pelas atividades do Poder Legislativo. O subsídio devido era pago por cada Sessão de Legislatura, com valor taxado pela sessão anterior. Além do subsídio eram pagas indenizações para as despesas de ida e volta. Na primeira Constituição Republicana do Brasil, de 1891, a forma mudou pouco, tendo direito os Deputados e Senadores a ajuda de custo, além do subsídio.

Na Constituição de 1934 o subsídio e a ajuda de custo para Deputados e Senadores passaram a ser mensais, dando o caráter de salário, e fixado no último ano da legislatura anterior. A Constituição autoritária de 1937 nada trata da remuneração dos Parlamentares cujos poderes foram reduzidos e submetidos à autoridade da Presidência da República. Já em 1946, subsídio e ajuda de custo dos Parlamentares voltam a ser determinados pela nova Constituição já na redemocratização do país. São fixados no fim de cada Legislatura e o subsídio dividido em duas partes, uma fixa e outra correspondente ao comparecimento.

Na ditadura militar, a Constituição de 1967 mantém a fórmula de remuneração de Deputados e Senadores, mas agora com a redução de poderes e de representatividade dos parlamentares.

A Constituição democrática de 1988 estabeleceu as remunerações de cargos eletivos não mais por subsídio. Somente com a Emenda Constitucional nº 19 de 1998, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso que o termo subsídio reaparece como forma de remuneração. A mudança na Constituição por FHC, chamada "reforma administrativa", consistia em um conjunto de alterações guiadas pelo conceito de Estado Mínimo. Sob a alegação de modernidade, a ideia era reduzir o Estado tido como pesado e ineficiente, com sua abertura para a lógica do mercado e dos setores privados, na mesma onda que levou ao conjunto de privatizações dos anos de 1990 e que delapidaram os patrimônios nacionais e estaduais. Prevalecia a ideia de que o

desenvolvimento econômico e social deveria se dar pela regulação do mercado e não do Estado, como se o primeiro pudesse ser sensível a qualquer forma de controle social.

Dentro do conceito, predomina a proposta de redução de gasto com o funcionalismo, entendido como despesa e causa da ineficiência, sendo um dos grandes alvos do ataque neoliberal. Para reduzir tais gastos com servidores, buscou-se flexibilizar a forma de contratação, acabando com o regime jurídico único, permitindo a abertura para a administração indireta. A tese de Estado eficiente passava por todo tipo de redução de despesas em que não prevalecesse a lógica do mercado. Nesse espírito, a propósito da moralização do Estado, criou-se mecanismos de controle do teto salarial de alguns membros do poder público. É nesse aspecto que ressurge a figura do subsídio. O seu ressurgimento, no entanto, não tem como alvo o funcionalismo em geral, pois o objetivo é o controle dos chamados super salários. Por isso passa a ser a forma obrigatória de remuneração de qualquer membro de Poder, detentor de mandato eletivo, Ministros de Estado e Secretários Estaduais e Municipais. Mas o subsídio aparece pela primeira vez, desde 1824, com o conceito de ser fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória. Também não pode ultrapassar tetos específicos para a União, Estados e Municípios. Essa forma de remuneração impede que parlamentares, por exemplo, criem remunerações para si como forma de camuflar remunerações que ultrapassem o teto do funcionalismo. Da mesma forma, Emenda Constitucional 19 mudou a Constituição, permitindo que servidores organizados em carreira também possam ser remunerados por subsídio, em parcela única submetida ao teto. O foco também é o controle e fiscalização dos altos salários. Para o funcionalismo federal, o teto é o subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, hoje estabelecido em mais de R$29 mil. Para os municípios, o teto é o salário do Prefeito, que no caso de São Paulo, supera R$24 mil.

O subsídio recriado em 1998, difere muito do conceito criado 174 anos antes, mantendo-se do original, apenas o nome. Como forma de remuneração, hoje não mais se limita apenas a cargos eletivos. Ao ressurgir, é composto de parcela única de salário, impedindo a criação de elementos remuneratórios variáveis ou de vencimentos que possam ser retirados de uma hora para outra, mediante uma intransigência do Executivo. Mantiveram-se para o subsídio as garantias remuneratórias da Constituição Federal de 1988 para os servidores, tanto do direito à revisão geral anual quanto do direito à irredutibilidade, contanto que não se ultrapasse o teto. Ou seja, para quem não tem pretensões de ultrapassar o teto do funcionalismo, é mecanismo de maior segurança que as formas de vencimentos compostas por gratificações que podem ser retiradas ou que não são incorporadas na aposentadoria. Segurança remuneratória foi, por exemplo, a principal motivação dos trabalhadores da Receita Federal, representados pelo Sindfisco, e que optaram pela remuneração por subsídio em 2008. Foi essa a conclusão apontada em dois debates, um organizado pelo Sindsep e outro pelo Sindlex. A proposta de implementação do subsídio em São Paulo, enfrentou e enfrenta resistências por vários aspectos. Inicialmente, frustraram-se as expectativas de reajustes lineares que recompusessem perdas. Pior, com tabelas bem menores que as atuais, e acabando com quinquênios e sexta parte, não houve qualquer entidade ou servidor que defendesse

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a proposta do governo apresentada pela primeira vez em setembro de 2013. O principal argumento do Sindsep foi justamente que o governo não poderia acabar com o único mecanismo de valorização do servidor exclusivamente por tempo.

Além das tabelas crescerem significativamente em três oportunidades (outubro, novembro e abril), o governo apresentou como contraproposta a progressão somente por tempo a cada 18 meses corridos e o fim dos limites de vagas para as promoções. As propostas passaram a ser atraentes para um conjunto cada vez maior de servidores. Em termos de projeção de valores, seja para Especialistas, seja para a Saúde, as propostas passaram a ser muito mais vantajosas ao longo do tempo como demonstra o Anexo com um comparativo entre as carreiras atuais e as novas, seja pelas regras mais simples de progressão e promoção, seja pelos valores e percentuais superiores aos padrões, gratificações e adicionais de quinquênios e sexta parte. Uma projeção comparativa entre as carreiras ao longo de 30 anos não deixa dúvidas

Não é por outro motivo que a adesão no início de carreira é grande. As argumentações de perda de direito por conta do fim de quinquênios e sexta parte não fazem qualquer sentido, especialmente para quem ingressou após 2003. Os novos servidores não levam para a aposentadoria o último salário, o quinquênio ou a sexta parte, exceto a média e a proporcionalidade do que

contribuírem. Para os aposentados também não se trata de perda de direitos, já que a maioria vai aumentar a remuneração, não há redução de valores para aqueles com remunerações acima do proposto e quem não está na ativa não pode mais obter nenhum quinquênio. O que se questiona é o não acesso destes às últimas referências das novas carreiras. Para os servidores ativos na última referência das carreiras atuais ao migrarem para as novas propostas, em qualquer caso terão porcentagem maior em quatro anos e meio de progressões e promoções do que se permanecerem nas carreiras atuais e em cinco anos obtiverem dois quinquênios. Um Especialista S13 que obtenha um quinquênio agora e outro em cinco anos, ampliará seus vencimentos em, no máximo, 10,25%. Por outro lado, se ele migrar para o Q14, em 4 anos e meio pode chegar a 37,4% sobre o valor previsto para 2014, além de levar tudo para a aposentadoria.

Ou seja, o problema não é o quinquênio e a sexta parte para ninguém, pois ninguém perde em valor o que já obteve e haveria mais vantagens ao longo do tempo na nova proposta, esteja no início ou no final da carreira. Portanto, dentre os motivos de resistência ao subsídio está o mito criado sobre a perda de direitos. Seria perda de direitos se o governo mantivesse a proposta original. Na proposta atual não há mais sustentação para tal argumento. Mas as maiores resistências ao subsídio estão baseadas em mitos repetidos de forma imprudente, quando não, de forma deliberada. O subsídio, somente pela mudança de paradigma, promoveu por si mesmo um clima de insegurança. No entanto, houve uma campanha deliberada de medo baseada em premissas falsas. Alegou-se que subsídio não é salário. A remuneração atual também não é chamada de salário. A Constituição não fala e nunca falou de salário para servidor. O termo é remuneração. Por subsídio ou não, remuneração e salário são sinônimos. Aliás, a Lei maior, como já vimos, garante que subsídio não pode ser reduzido e que deve ter revisão geral anual. Portanto, nesse sentido, nada muda. Mesmo assim, há quem panflete, por má fé ou irresponsabilidade, o contrário.

Aludiram também que subsídio não pode sofrer ação judicial e mais recentemente atribuíram falsamente mais uma maldade que o subsídio seria capaz de causar: a perda de precatórios. Diante de tamanha campanha difamatória, não é a toa que a resistência permanece por parte de muitos. Mas o que está em jogo de verdade, poderia ser defendido, sem se apoiar em estratégias de terror. O que de fato incomoda parte dos servidores, ativos ou aposentados, concentrados nas últimas referências é que estes já ganham valores maiores ou próximos aos oferecidos pelo governo. Além do mais, as tabelas previstas para os finais da carreira dos Especialistas preveem índices muito baixos até 2016. Nada mais legítimo do que reivindicar reajustes sobre seus salários, ainda que sejam os mais altos dentre seus pares. Pode-ser buscadar as saídas nos projetos para contemplar maior número de servidores. O que não é legítimo, porém, é barrar propostas que contemplam a grande maioria dos servidores envolvidos, pela intimidação e a partir de premissas sem qualquer fundamentação, pior, sem intenção de negociar.

É legítimo também que algumas classes profissionais queiram discutir suas especificidades, mas não é esse o debate que está posto agora. O que está em jogo é a reestruturação de carreiras, passando por uma mudança de paradigma que, ao romper com as imensas distorções existentes atualmente, as expõe. O que justifica um servidor ganhar três vezes o que ganha outro colega na mesma carreira e referência? Essa é a pergunta que precisa ser respondida de imediato. Ações judiciais servem a repor perdas. Reestruturações historicamente equalizaram a situação daqueles que não tiveram a felicidade de serem contemplados pela justiça. Os ganhos judiciais não podem ser confundidos como se o servidor tivesse o direito de ganhar mais que o seu par, e assim, de manter essa diferença. O subsídio complementar proposto é melhor que as Vantagens de Ordem Pessoal (VOPs) das reestruturações anteriores, pois não são absorvidos e são reajustáveis.

É possível fazer um debate na Prefeitura sobre o cargo largo para as políticas públicas, mas nunca de forma isolada, para uma classe profissional apenas, e ainda no momento em que o debate é outro. Usar o jogo político da Câmara e a negociação de projetos que envolvem mais de 30 mil servidores para forçar negociação de setores específicos, não é da prática sindical. O mais importante é que a cada dia, os servidores passam a ter maior reflexão sobre o jogo que é jogado, emancipando-se da condição de peça no tabuleiro para uma condição de protagonista, capaz de expor as contradições do discurso alheio, especialmente de vereadores que já não

conseguem mais tomar proveito e partido de mitos e histórias de medo que lhes vieram contar. O conhecimento, construído na coletividade, liberta. Paulo Freire disse em “Pedagogia do Oprimido” (1968): “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão (…) Somente quando os oprimidos descobrem o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua ´convivência´ com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja práxis”.

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Projeções salariais comparativas entre as carreiras atuais

e a proposta do governo de 2014 a 2044

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