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DESAFIOS DA ORGANIZAÇÃO DE UM DESFILE DE CONCLUSÃO DE CURSO DE MODA - RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

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DESAFIOS DA ORGANIZAÇÃO DE UM DESFILE DE CONCLUSÃO DE CURSO DE MODA - RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

Carmem Lúcia de Oliveira MARINHO, Faculdade Senac Pernambuco, Professora. carmemmarinho@yahoo.com.br.

Introdução

O Curso de capacitação Estilismo em Moda do Centro de Moda Beleza - CMB do Senac Pernambuco possui 428 horas e visa formar estilistas aptos a trabalharem em confecções ou mesmo como autônomos em seus próprios ateliês. Ele nasceu no ano de 1996 e desde o ano de 1998 possui um evento que marca a sua conclusão, um desfile de moda. De lá para cá dezessete turmas passaram por essa experiência.

A idéia de um desfile de moda marcar o final do curso de Estilismo nasceu com o objetivo de proporcionar aos seus concluintes a oportunidade de mostrarem a criatividade, o talento e as técnicas adquiridas e desenvolvidas durante o mesmo, além de proporcionar a oportunidade para os formandos de estarem, nesta ocasião, apresentando-se a imprensa local e ao mercado pernambucano de Moda. Cada evento destes, conta com um tema pré-estabelecido, que orienta toda a sua organização e as mini-coleções (um modelo conceitual e um modelo comercial) que serão desenvolvidas e apresentadas pelos alunos na ocasião.

Este artigo possui o objetivo de relatar a experiência vivenciada pela autora quando esteve à frente do planejamento, organização e produção deste evento mas especialmente nos desfiles ocorridos entre 2005 e 2007, foram eles: “Recife das Artes da Boemia e da Moda”, “Do Real ao Imaginário”, “Recortes” e “Divertcomix”.

Referencial Teórico

A organização de qualquer evento exige muito trabalho e dedicação para que, na ocasião, tudo ocorra como o pensado previamente. Para isso, a elaboração de um planejamento é decisiva e todos os seus pontos devem estar muito bem estabelecidos e concatenados. Para Sabino (2007, p.222) o desfile de moda é uma “performance considerada de grande importância no meio da moda com inúmeros profissionais

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envolvidos. Os desfiles geralmente levam muito tempo para a sua concepção e organização, mas costumam ter curta duração.”

No início, este tipo de performance era realizada com o intuito de concretizar a venda direta das criações de uma Maison de alta-costura para o seu consumidor final, pois, desta forma, o cliente poderia visualizar as roupas vestidas em modelos, que davam contorno e movimento as peças, propiciando uma melhor percepção com relação a beleza e caimento das criações. Depois, esta idéia passou a ser empregada em eventos que agregavam um público maior, mas bastante seleto de compradores de lojas, além da imprensa especializada. Foi com o crescimento da moda Preat-a-Porter1 a partir dos anos de 50 do século XX, que se começou a dar maior dimensão a esse tipo de evento, pois este já começava a atrair um público maior, tanto de compradores, como da imprensa em geral e de celebridades. Hoje, mesmo com tempo de duração tão curto, em média 15 minutos, podemos dizer que o desfile é um dos mais importantes veículos de divulgação que uma marca e ou estilista tem em mãos para apresentar suas novas propostas, pois gera uma grande repercussão e mídia espontânea na internet, em revistas e na televisão.

Existem alguns objetivos que podem permear a realização de um desfile de moda, são eles: lançar uma coleção; promover uma marca e ou estilista; divertir, quando o evento tiver cunho beneficente; e apresentar a evolução (talento, conhecimento e técnicas) alcançados pelos concluintes de cursos de moda através das coleções desenvolvidas por eles. Este último caso é o que nos interessa e de acordo com Jenkyn Jones:

O desfile de um estilista estabelecido é nitidamente diferente do desfile da coleção de um estudante. O desfile profissional dá aos compradores do varejo e a imprensa a visão prévia de uma coleção que estará disponível no mercado. É também um exercício de relações públicas que garante o estoque de fotos e matérias para as revistas e cada vez mais um espetáculo em si mesmo. O público dominante nos desfiles de faculdades, ao contrário, é formado pelo corpo docente, alunos, pais e alguns representantes dos patrocinadores e das confecções em busca de novas pessoas e idéias. Muitas faculdades consideram que a experiência da passarela é decisiva para a formação do aluno, pois a maioria vai passar por isso na futura carreira. (2005, p.185)

Desse modo, não é possível pensar na elaboração de um planejamento e organização de um desfile de conclusão de curso da mesma maneira que a de um desfile

1 “Palavra francesa que significa pronto para usar. Diz-se da roupa comprada pronta em lojas, seja

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de uma marca e ou estilista profissional. Isso significa dizer que, mesmo em se tratando de eventos dotados de essência semelhante (passarela, roupas, modelos e etc.), são particularmente distintos e devem ser trabalhados dentro das suas especificidades.

Metodologia

Para se fazer este relato foi necessária a realização de uma pesquisa através dos arquivos dos quatro desfiles de conclusão do curso de Estilismo em Moda do Centro de Moda e Beleza do Senac- PE citados anteriormente. Nestes foram analisados os planejamentos dos respectivos eventos, os materiais usados nas suas produções, toda a parte visual que englobou convites, apresentações no PowerPoint e cenários, além das fotos, vídeos e anotações feitas do dia-a-dia do trabalho de organização dos mesmos.

Resultados

Antes de ficar a frente da organização dos desfiles do Curso de Estilismo, a referida autora já havia colaborado em outros três destes eventos, portanto, já tinha tido a mostra da complexidade desta operação. A sua complexidade está baseada em alguns fatores, como por exemplo, no fato deles serem organizados por professores que dispõem de um orçamento limitado e que, ao mesmo tempo, possuem um compromisso com a instituição promotora de fazer algo de qualidade. Contudo, nada parece ser mais complicado que lidar com os alunos na posição em que se enxergam dentro deste processo, como “estilistas/clientes”. Até hoje, os formandos deste curso fazem parte de grupos heterogêneos na idade, na formação, na classe social e, em geral, são possuidores de egos bastante inflados e contam com uma imagem distorcida do que seja um profissional da moda, o vêem como um artista envolto em uma áurea de glamour. Para muitos, o desfile de conclusão é algo decisivo em suas vidas profissionais e o objetivo mais importante que os levara a fazer o curso. Este pensamento voltado única e exclusivamente para o evento sempre comprometeu claramente os desempenhos destes estudantes e, por conseguinte, o resultado das suas participações no referido desfile.

A primeira medida ao assumir a responsabilidade de organizar tal evento foi o de analisar os pontos positivos e negativos daqueles desfiles que ocorreram anteriormente. A partir daí, foi traçada uma metodologia que envolvia desde a reformulação do seu planejamento a modificação das estratégias de comunicação com os alunos e com o promotor do desfile, o Centro de Moda e Beleza – CMB.

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Desse momento em diante, os alunos, ao longo de todo o curso, passaram a ser trabalhados no sentido de que o desfile não era “um fim”, mas apenas uma etapa importante a ser cumprida dentro do curso. Eles deveriam entender que o mais importante, inclusive para o sucesso do referido evento, era que eles adquirissem todas as competências necessárias para se tornarem bons estilistas. Também se passou a pontuar com bastante ênfase o fato de ser este um evento coletivo e que todos deveriam pensar na coletividade e não apenas em atender os seus anseios/sonhos particulares, pois atitudes egoístas poderiam comprometer o resultado. Por fim, foi importante enfatizar junto a cada um deles que este evento deveria ser pensado como o primeiro de muitos na caminhada em busca do reconhecimento de seu talento individual.

Seguindo o percurso dos eventos ocorridos anteriormente, o primeiro passo na construção do desfile continuou a ser uma conversa inicial com a turma ocorrida nos primeiros dias do curso. Contudo, esta conversa passou a ter um cunho didático, no qual o desfile era apresentado e todas as informações e regras referentes a ele eram pontuadas, deixando todos cientes do que ele significava e de quem estava em seu comando. Como também já ocorria nas outras edições, era neste momento que era proposta uma primeira tempestade de idéias relacionadas à temática macro que o evento iria abordar, contudo, agora, a palavra final nesta escolha era da professora/organizadora. Este era o ponto de partida paraque os alunos desenvolvessem as suas mini-coleções e para que a organização começasse a elaborar todo o evento.

O planejamento passou a ser mais detalhado e a ser compartilhado com os alunos, para que tudo tivesse bem amarrado e que todos os atores do processo pudessem dar as suas opiniões, soubessem o que iria acontecer e qual seria o seu papel em cada cena. Também muito importante para que tudo fluísse corretamente, foi o reforço dado nas aulas de produção de desfile, onde os alunos passaram a aprender desde como construir o planejamento de um evento como esses, passando pela composição de

casting2 e styling3, a formação de uma lista de entrada, organização de camarim e etc.

Dessa forma, todos tomavam ciência do que e como iria acontecer todo o processo. Uma outra estratégia foi mostrar aos alunos os desfiles anteriores e pedir para que eles apontassem as suas falhas, que, em sua maioria, tinham sido cometidas pelos próprios alunos, que antes tinham muita liberdade de ação (roupas com pouca originalidade e

2 Grupo de modelos que formam um desfile, catálogo, comercial e editorial.

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ousadia, mal costuradas, escolha de modelos amadores só porque eram amigos, além das desavenças e estrelismos que tiveram influência clara sobre o resultado final), mas algumas vezes pela produção, e todos estes erros eram colocados em debate. Mini-palestras foram implementadas antes de cada etapa do processo (ex: da determinação da ordem de entrada e modelos e da apresentação dos sapatos), além de lembretes impressos que passaram a ser entregues aos alunos sempre que necessário (ex: com dados relativos a todas as ações deles no dia do evento). Todas estas inovações, sem exceção, funcionaram muito bem, pois evitaram a desinformação, os maus entendidos e os conflitos, revertendo em bons resultados.

Para que o desfile ficasse mais profissional foi decisivo persuadir o CMB da necessidade da contratação de um cenógrafo e de uma iluminação profissionais, além de um cinegrafista que tivesse uma linguagem moderna, o que forneceu um aspecto diferenciado ao evento e uma boa repercussão junto ao seu público interno e externo.

Outra modificação importante aconteceu no procedimento da escolha dos modelos profissionais que dariam vida ao desfile – o casting. Os alunos passaram a ser indicados por meio de sorteio para compor uma comissão de escolha junto à organização do evento, fazendo com que eles participassem deste momento importante. Algumas das etapas mais delicadas no que concernia a relação com os alunos, como a definição da ordem de estrada do desfile e a definição de modelos e sapatos para cada criação, ficavam de total responsabilidade da professora/organizadora, pois se ficassem a cargo dos alunos, nunca se iria chegar a uma conclusão racional (ordem de entrada por grau de interesse, modelos com físico adequado a cada roupa e etc.). Isso porque todos gostariam de abrir ou fechar o desfile e de ter os modelos mais magros, bonitos e de andar perfeito vestindo as suas peças, além dos sapatos que imaginaram para compor os seus looks, portanto, era nesse momento que o coletivo era colocado de lado e que os egos ficavam mais inflados. Mesmo que eles tivessem sido muito bem instruídos para estes momentos, se as escolhas não os agradassem, alguns conflitos ainda ocorriam e os rebeldes eram convidados a pensar de maneira mais profissional, tática que funcionou de maneira eficaz.

Era, principalmente, no dia e hora do desfile que os alunos deveriam mostrar o grau de comprometimento que assumiram com o curso, com evento, com os colegas e com eles mesmo. Todos eram incentivados a cumprir horários e a ajudar na organização como um todo, o que funcionou nessas quatro edições do desfile de conclusão.

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Considerações Finais

As experiências vivenciadas pela autora e descritas neste trabalho servirão de parâmetro, tanto para professores de moda, como para profissionais da área de eventos que virão a trabalhar na organização deste tipo de desfile.

Aqui foi possível constatar o quanto é difícil lidar com o aluno de moda neste momento e que um planejamento bem amarrado, muita informação e a liderança do organizador são decisivos para o seu sucesso. Este líder deverá estar preparado para lidar não com um estilista/cliente, mas com um grupo de futuros profissionais da moda ainda inexperientes na área, mas que pensam serem pessoas diferenciadas da maioria dos seres humanos por serem criadores de moda. Estes, além disso, estão cheios de sonhos e idealizações alimentadas pela grande indústria que gira em torno da moda em todo o mundo, que, “aparentemente”, só está envolta em beleza, luxo e glamour. Chamá-los a realidade é a principal missão na busca de um desfile de qualidade.

Agradecimentos

Agradeço aos meus professores do Curso de Relações Públicas da Universidade Católica de Pernambuco por terem transmitido o valor de um planejamento bem elaborado, seja para um evento, seja para um plano de comunicação coorporativa. À Flávia Zimmerle que idealizou os primeiros desfiles do Curso de Estilismo e que me ensinou bastante sobre eles. À professora Alba Valéria, a estagiária Clarice Adobatti e demais professores e funcionários do Senac pela grande ajuda que me deram nos eventos e a Helena Amaral, atual Gerente do Centro de Moda e Beleza, que sempre acreditou e, por isso, materializou os meus planejamentos de desfile.

Referências

ANHESIN, Célia M.J. e QUEIROZ, Fernanda. Terminologia do Vestuário. São Paulo: Editora Escola Senai - Centro Nacional de Tecnologia em Vestuário, 1996.

JONES, Sue Jenkyn. Fashion Design – manual do estilista. trad. Iara Biderman. São Paulo: Cosac Naify, 2005.

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