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ESPECIFICIDADE DA HIDRATAÇÃO EM SENIORES: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

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Academic year: 2021

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ESPECIFICIDADE DA HIDRATAÇÃO EM

SENIORES: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Conselho Científico do Instituto de Hidratação e Saúde

Resumo

A água é essencial para a vida e uma boa hidratação é importante para o organismo funcionar eficientemente. Os idosos têm uma necessidade de ingestão de líquidos semelhante à dos jovens adultos. Todavia, existem várias mudanças fisiológicas na sequência do processo de envelhecimento que podem afectar o equilíbrio hídrico nesta população, colocando os idosos em risco de desidratação. O mecanismo de resposta de sede diminui com a idade, a quantidade total de água no organismo também é menor em virtude da perda de massa muscular e ocorre igualmente uma diminuição da função renal. Um consumo adequado de fluidos está associado a vários resultados positivos em idosos, como menor número de quedas, menores taxas de prisão de ventre, e um risco reduzido de cancro de bexiga nos homens. Pelo contrário, a desidratação em idosos aumenta o risco de várias condições, como infecções urinárias, insuficiência renal, hipertermia sob condições de temperaturas elevadas, maior risco de quedas, confusão e delírio, estando também associada a um aumento das taxas de mortalidade em idosos hospitalizados. Vários estudos de intervenção sugerem a necessidade de cuidados especiais com a hidratação de idosos que devem ser informados sobre a grande variedade de bebidas disponíveis para além da água. Quando os idosos são dependentes, o papel dos cuidadores e dos profissionais de saúde na manutenção de um adequado balanço hídrico é imprescindível. Em Portugal o aporte hídrico proveniente de bebidas na população adulta masculina, dos 14-70 anos, é inferior ao recomendado em quase todos os grupos etários. Esta situação é particularmente grave no grupo etário dos 51-70 anos em que são ingeridos 1,58 litros face aos 1,9 litros recomendados. Este grupo necessita assim de uma estratégias de motivação específicas considerando as suas motivações de consumo.

Palavras-chave

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Introdução

A água é o maior constituinte do corpo humano e é o elemento mais importante para a manutenção da vida. É utilizado no organismo para o transporte de nutrientes e eliminação de elementos indesejáveis, actua na regulação da temperatura, na manutenção da estrutura dos tecidos e no funcionamento do metabolismo celular (incluindo a função cerebral). As recomendações de consumo de água vão de 2.5 – 3.7 litros por dia para homens adultos e 2.0-2.7 litros para mulheres adultas. As recomendações da EFSA (2.5 litros por dia para homens e 2.0 litros por dia para mulheres) são os valores mais baixos destes intervalos. Todavia, a quantidade de água que cada pessoa necessita, proveniente de alimentos e de bebidas, depende de vários factores incluindo a idade, o sexo, as condições climáticas, o vestuário e a actividade física. Em Portugal, a população adulta feminina apresenta um aporte hídrico proveniente de bebidas adequado face aos valores de referência. Todavia, no sexo masculino apenas o grupo etário de 14-18 anos parece ter um aporte hídrico proveniente de bebidas adequado (1,95 l). Esta situação é ainda mais grave no grupo etário de dos 51-70 anos, que apresenta um défice negativo, estatisticamente significativo, entre o aporte hídrico encontrado e o recomendado. As necessidades de água nos idosos não são diferentes das dos jovens adultos. Porém, existem várias alterações fisiológicas que têm lugar durante o envelhecimento que podem afectar o equilíbrio hídrico nesta população, colocando os idosos em risco de hiperidratação e, mais comummente, em desidratação. Este artigo pretende dar a conhecer as especificidades da hidratação em seniores alertando para as causas e consequências da desidratação nesta faixa etária, cada vez mais numerosa nas sociedades modernas.

Desidratação em idosos

As necessidades de água de um indivíduo podem ser definidas pela quantidade de água necessária para manter a homeostase dos compartimentos extra e intracelulares. A sede é o mecanismo fisiológico que nos conduz a ingerir líquidos e é iniciado quando o cérebro detecta um aumento na osmolaridade plasmática. A sede fisiológica resulta da desidratação e é estimulado por dois mecanismos principais: aumento da tonicidade celular (desidratação celular) e diminuição do volume de fluido extracelular (desidratação extra-celular). O primeiro é percepcionado por osmoreceptores no sistema nervoso central enquanto que o último é monitorizado por baroreceptores no compartimento vascular. Como a desidratação causa perdas de fluidos tanto do compartimento intracelular como do extracelular, acaba por existir

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redundância nos sinais para o mesmo objectivo e assim menor possibilidade de haver dificuldade em restabelecer o equilíbrio.

A desidratação é uma etiologia frequente em idosos resultando na hospitalização de numerosos pacientes, muitas vezes com resultados fatais. Aumenta o risco de infecção e, se for negligenciada, a mortalidade pode atingir mais de 50% (Warren et al, 1994). Todavia, a desidratação não é apenas um problema de pacientes de longo-termo pode, também, ocorrer em pacientes em casos mais agudos. Uma desidratação de apenas 2% do peso corporal conduz a um risco de exaustão pelo calor. A manutenção de uma boa hidratação é importante pela estreita relação entre a hidratação celular e a função celular.

Os indivíduos idosos estão sujeitos a um risco mais elevado de atingirem o estado de desidratação do que os adultos mais jovens. O processo de envelhecimento está associado a várias alterações fisiológicas que podem afectar a capacidade do organismo em manter um equilíbrio de líquidos. Estas alterações incluem uma diminuição na quantidade total de água associada com a perda de massa magra (Schoeller, 1989), a diminuição da sensação de sede (Philips, e tal. 1984) e alterações na concentração plasmática de vasopressina , a qual influencia a capacidade dos rins em concentrarem urina (Stout e tal 1999; Beck, 2000; Kositzke 1990). Para além disso, os idosos poderão ter dificuldades de mobilidade quanto ao acesso a água, problemas de visão, dificuldades de deglutição, alterações cognitivas e uso de sedativos. O medo da incontinência pode levar alguns idosos a limitar o consumo de líquidos. Um baixo consumo de alimentos também diminui a quantidade de água adquirida dos alimentos e contribuir para um deficit da água. A toma de medicação como diuréticos e laxantes podem aumentar a perda de água.

Os sinais clínicos de desidratação incluem sintomas neuropsíquicos como confusão mental, problemas cognitivos (Lieberman, 2007), secura das mucosas, hipotonia do globo ocular, hipotensão ortostática e taquicardia (Sawka, 1992).

Um consumo adequado de fluidos está associado a vários resultados positivos em idosos como menor número de quedas, menores taxas de prisão de ventre e um risco reduzido de cancro de bexiga nos homens (Michaud e tal. 1999). Pelo contrário, a desidratação em idosos aumenta o risco de várias condições como infecções urinárias, hipertermia sob condições de temperaturas elevadas (Sawka, 1992), risco de quedas (Grandjean and Campbell, 2004), confusão, delírio e insuficiência renal (Mentes & Culp, 2003; Bennet e tal 2004). A desidratação

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está também associada a um aumento das taxas de mortalidade em idosos hospitalizados (Warren e tal 1994).

Sugestões práticas para induzir os idosos a beberem mais

Certos sinais podem alertar os profissionais de saúde e “cuidadores” de idosos sobre os riscos da desidratação. Há dois factores que estão envolvidos na desidratação: a diminuição do consumo de líquidos e o aumento das perdas de líquidos, uma vez que a quantidade de água é ajustada pelo mecanismo de sede e este diminui com o envelhecimento. Para além destas modificações fisiológicas, os factores de risco mais frequentes resultam das dificuldades que limitam o acesso a beber:

- diminuição do status funcional, com a diminuição da mobilidade - problemas visuais

- confusão e outras alterações cognitivas que levam a uma menor capacidade de comunicação - utilização de certos medicamentos que aumentam grandemente o risco de desidratação, tais como os diuréticos, laxantes e sedativos

- todas as patologias agudas com febre ou as que causam dificuldades em engolir ou provocam diarreia e vómitos.

É necessário informar as pessoas idosas sobre a necessidade de beberem o suficiente, mesmo quando pensam que não é necessário por causa da diminuição da sensação de sede com o envelhecimento. Eles devem beber sem ter sede. A necessidade de ingerir água aumenta com o aumento da temperatura exterior, quando a temperatura do interior das casas também aumenta pelo aquecimento das mesmas, ou quando um paciente tem febre. Neste último caso, 500 ml líquidos por cada grau de febre acima dos 38ºC é recomendado. As pessoas idosas devem ser informadas sobre a grande variedade de bebidas disponíveis para além da água: por exemplo chá, sumos de frutas, infusões, leite e sopa. Também podem ser advertidas da importância do consumo de alimentos ricos em água, tais como os vegetais frescos, fruta, queijo fresco e iogurte. Os idosos devem ser informados que devem beber regularmente, em vez de beberem uma grande quantidade de uma só vez, porque a distensão gástrica rapidamente diminui a sensação de sede. Quando os idosos são dependentes, o papel dos cuidadores e dos profissionais de saúde é extremamente importante (Ferry, 2005).

Num trabalho de intervenção de 6 meses em dois lares de idosos, verificou-se que tornando a água de beber mais disponível e visível, com o staff recordando os residentes a beberem regularmente, resultou no aumento dos participantes a experimentarem melhorias nos níveis

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de sono durante a noite, melhores níveis de equilíbrio e uma sensação geral de bem-estar. Um dos lares envolvidos no estudo reportou uma redução em 50% de quedas durante o período de estudo. A maior barreira que os participantes declararam para beber mais era o receio de mais idas à casa de banho, embora este número tenha aumento inicialmente, os valores habituais foram repostos durante o estudo (Robinson & Rosher, 2002)

Conclusões

A água é o elemento mais importante do corpo humano. O consumo voluntário de água é um comportamento chave para a manutenção de um adequado balanço hídrico. Consequentemente, beber água antes de ter sede é um bom hábito para manter um bom status de hidratação. Uma informação adequada deve ser dada regularmente, não somente aos idosos mas também às suas famílias, cuidadores e profissionais de saúde. Deve ser salientado o facto do mecanismo de sede diminuir com o envelhecimento, enquanto que as necessidades de hidratação se mantêm, tornando a manutenção da homeostase mais difícil. Todos os meios devem ser utilizados para manter um consumo de fluidos adequados. As chamadas de atenção devem ser ainda mais frequentes nos meses quentes. Em Portugal a população idosa masculina é a que apresenta maior risco uma vez que é o grupo que tem um aporte hídrico mais divergente do recomendado.

Bibliografia

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Referências

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