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VER PARA COMPREENDER: A SELEÇÃO DE IMAGENS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DURANTE O REGIME MILITAR BRASILEIRO

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Academic year: 2021

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VER PARA COMPREENDER: A SELEÇÃO DE IMAGENS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA DURANTE O REGIME MILITAR BRASILEIRO Juliana Ponqueli Contó (PIBIC/Fundação Araucária - UENP), Jean Carlos

Moreno (Orientador), e-mail: morenojean@bol.com.br.

Universidade Estadual do Norte do Paraná – Colegiado de História - Jacarezinho, PR.

História; Ensino de História

Palavras-chave: Ditadura Militar, Livros didáticos, Imagens Resumo:

A proposta desta pesquisa é contribuir para o debate em torno dos livros didáticos escritos durante a Ditadura Militar em nosso país, trabalhando e decodificando suas imagens, e, dessa maneira, entender as ideias a respeito do Brasil, seu povo, sua constituição étnica e seus valores que o material didático da época procurava divulgar, analisando e destacando o papel do livro didático como agente cultural e seus aspectos educativos em uma possível configuração da escola.

Introdução

Esta pesquisa procura pontuar os caminhos percorridos pela história ensinada nas salas de aula desde a sua formação como disciplina escolar até a ditadura militar que enfrentamos de 1964 a 1985. Assim, como foco principal destacar-se-á o período compreendido ao regime militar brasileiro. Igualmente, para um estudo mais satisfatório deste momento histórico foi selecionada uma coleção didática de onde foram extraídas imagens para a análise realizada neste trabalho. Tal obra foi publicada no ano de 1976, quando o país já passava por um lento processo de reabertura política.

Desta forma, se faz necessária a contextualização histórica da coleção didática para sua melhor análise e compreensão. Afirma-se, portanto que não é o principal objetivo desta pesquisa a crítica da obra didática em comparação com o sistema atual, mas sim, a compreensão de um período histórico através dos valores e do conteúdo selecionado naquele momento.

Nesse contexto, entende-se a escola como agente modificador da sociedade e, também como produto desta, sob forte influência das políticas educacionais. O período em questão é, conseqüentemente, agente de interferência nas obras estudadas. Há, além disto, intenção de mostrar a importância do livro didático como instrumento de comunicação, de produção e transmissão de conhecimento, objeto complexo, integrante da cultura escolar.

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Deseja-se, ainda, que a importância da interpretação das imagens seja compreendida, pois este método tem grande peso na construção dos registros históricos. A representação dessa memória unifica a base de formação e de sustentação do imaginário do aluno, assim, os textos e ilustrações de obras didáticas transmitem estereótipos e valores de grupos dominantes.

Percebe-se, durante a pesquisa a seleção cultural feita sob um regime autoritário, em busca da formação de valores através da iconografia presente nos livros de História. Toma-se por princípio que a imagem atrai mais os olhares, não sendo apenas um simples reflexo da realidade, mas representações uma vez que produzem estratégias e práticas que tendem a impor uma autoridade ou a justificar escolhas (CHARTIER, 1990).

Pretende-se, assim, compreender se os instrumentos iconográficos, presentes nos materiais didáticos da época, serviam para uma leitura específica, para complementar os textos ou eram entendidos apenas como mera ilustração com o objetivo de tornar as páginas dos livros mais chamativas e convincentes, em um momento em que a liberdade de expressão estava significativamente restrita em nosso país.

Espera-se, por fim, levar adiante a compreensão de que a História e seus vários registros são sempre decorrência de escolhas de seus produtores e das circunstâncias que influenciaram sua produção.

Materiais e métodos

O material utilizado como fonte para o desenvolvimento desta pesquisa foi uma coleção didática produzida no ano de 1976 quando o Brasil estava sob o governo de um regime ditatorial. A coleção selecionada foi escrita por Marlene Ordoñez e Antônio Luiz de Carvalho Silva, os livros retratam a História do Brasil, História Antiga, Medieval, bem como a História Moderna e Contemporânea.

Os frutos teórico-metodológicos correspondem à análise iconográfica abordando as imagens de Brasil encontradas nos volumes da 5ª e 6ª séries da coleção.

Resultados e Discussão

Como resultado principal houve um mapeamento da coleção didática, todas as imagens foram devidamente coletadas e algumas analisadas. Para um estudo mais efetivo as figuras foram separadas em quatro grupos principais: Imagens históricas, Imagens fotográficas, Imagens encomendadas e Dados informativos. Livro 5ª série – História do Brasil 6ª série – História do Brasil 7ª série – História Geral (Antiga e Medieval) 8ª série – História Geral (Moderna e Contemporânea

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Imagens Históricas 6 27 3 42 Imagens Fotográficas 6 26 25 20 Imagens Encomendadas 60 50 42 43

Total: 72 Total: 103 Total: 70 Total: 105 Conclusões

A oportunidade de se estudar obras referentes ao passado, sob a forma de livro didático, deu-nos uma maior dimensão e compreensão dos processos de construção do conhecimento de um povo. É sob a ótica do conhecimento formal que diversas gerações firmam seus compromissos éticos, morais e afinidades para com aquilo que se estabeleceu como correto ou incorreto. Compreende-se, hoje, que a história presente na maioria dos livros didáticos foi escrita com viés dos vencedores. Assim, também, a análise iconográfica desta coleção didática mostrou-nos como esta escrita pode ajudá-los a reforçar seu poder e aumentar sua influência.

O problema que se coloca então, é que pertencemos a uma geração dos grandes “vultos” históricos, pois se assim não fosse, não poderíamos discutir tais pontuações e não teríamos espaço para escrever nossas opiniões livremente, ou pelo menos colocá-las em discussão.

Os livros analisados foram, sem dúvida, importantes instrumentos na educação e formação de algumas gerações. Não é possível, no entanto, atribuir a eles apenas deméritos, visto que estas gerações foram também responsáveis pela retomada da consciência histórica, formação acadêmica atual e, com certeza, responsáveis por alguns dos processos históricos mais conturbados de nossa história recente. São homens e mulheres formados através destes livros que hoje estão em posições diversas da base social deste país, desde trabalhadores, empresários e representantes nas três esferas governamentais.

O livro didático cumpriu então com suas funções? Foi ele eficiente no “controle” da opinião e na formação de gerações capazes apenas de aprender um conteúdo sem criticá-lo e sem refletir sobre o que se tratou na obra? Com certeza não. Finalmente, ainda que a coleção não oferecesse todas as ferramentas necessárias à formação crítica, prevaleceu à capacidade humana de pensar, refletir e atuar sempre através dos caminhos do progresso e da evolução social.

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Ao Prof. Jean Carlos Moreno, incentivador, guia e mestre sempre atento e aplicado na minha formação profissional e amigo sincero em todos os momentos. A Fundação Araucária pelo estímulo e importante ajuda financeira, a Universidade pela ajuda na realização deste trabalho.

Referências

BITTENCOURT. Circe Maria Fernandes. (Org.). O Saber Histórico na Sala de Aula. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 1998.

CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

CERRI, Luis Fernando. Ensino de História e Nação na Propaganda do “Milagre Econômico”. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 22, nº 43, pp. 195-224. 2002.

CHARTIER, Roger. A História Cultural entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.

DE CERTEAU. Michel. A escrita da História. Tradução Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

FERRO, Marc. Comment on raconte l’histoire aux enfants. 4 Ed. Paris: Éditions Payot, 1992, p. 7. Tradução livre.

FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira de História. Rio de Janeiro: Record, vol. 24, nº 47. 2004. FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da História ensinada. Campinas, SP: Papirus, 1993.

FONSECA, Thais N. de Lima e. História e Ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

GASPARELLO, Arlette Medeiros. Construtores de identidades: a pedagogia da nação nos livros didáticos da escola secundária brasileira. São Paulo: Iglu, 2004.

PAIVA, Eduardo França. História & Imagens. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

PESAVENTO, S. J. História & História Cultural. 2ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

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SIMAN, L. M. de C. & FONSECA, T. N. de L. e. (orgs.) Inaugurando a História e construindo a nação; discursos e imagens no ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

Referências

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