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Relações de gênero e relação corporal entre praticantes de axé e hip hop

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Academic year: 2021

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Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008

Relações de gênero e relação corporal entre praticantes de axé e hip hop

Rozana Aparecida Silveira; Fernando Luiz Cardoso; Samantha Sabbag. (LAGESC). Palavras-chave: Percepção corporal; Dança; Sexualidade.

ST 22 – Música e Dança: percepções sobre as práticas musicais e\ou dança e suas relações de gênero

Introdução:

A dança é uma linguagem viva que fala do ser humano. Segundo Tolkmitt (1993), o homem primitivo expressava-se por meio de uma linguagem corporal, traduzindo emoções, fantasias, idéias e sentimentos.

Dança-se por muitos motivos, ou seja, há várias classificações para a dança. Gaspari (2005) emite algumas considerando a evolução histórica dos acontecimentos sociais que envolvem o ser humano: danças étnicas (que revelam a identidade de uma nação), danças folclóricas (que evocam o sentido de coletividade de um povo), danças sociais ou de salão (utilizadas para diversão), danças teatrais ou artísticas (específicas para espetáculos).

Alguns autores já apontaram que são muitos os estereótipos adotados que podem estar provocando a inibição das pessoas a se manifestarem dançando, ou criarem seus próprios movimentos dançantes sem copiar coreografias prontas (SBORQUIA & GALLARDO, 2002, STRAZZACAPPA, 2001).

No decorrer dos tempos, a dança foi se firmando como uma prática que, além do prazer que proporciona, oferece formas de experimentar variadas possibilidades motoras e desenvolve a percepção do próprio corpo.

Perceber o próprio corpo, para Gaiarsa (1994) significa em todas as situações, reconhecer as inúmeras intenções, tanto as que vão expressas nas palavras, como as que vão incluídas no tom de voz, nos gestos, nos olhares, na expressão da boca, no jeito do corpo. A corporeidade é uma imagem que construímos em nossa mente, através dela passamos a ver o corpo humano e compreendê-lo. Cada um de nossos movimentos se origina de uma excitação interna dos nervos, provocada tanto por uma impressão sensorial imediata, quanto por uma complexa cadeia de impressões sensoriais previamente experimentadas e arquivadas na memória. De acordo com Moura (2004) podemos nos tornar conscientes de nossas opções ao selecionar movimentos apropriados às situações, investigando porque fizemos uma tal escolha. E completa, para que o movimento se torne um instrumento de expressão, é importante não apenas tornar-se ciente das várias articulações do corpo e de seu uso na criação de

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padrões espaciais e rítmicos, como também perceber o estado de espírito e a atitude interna produzidas pela ação corporal (MOURA, 2004).

As alterações do conceito corporal também ocorrem a partir da percepção das mais distintas sensações, das necessidades emocionais, das relações com o meio externo e das relações com as imagens corporais de outras pessoas. Além disso, incorpora-se à representação corporal, partes que são tocadas pelo corpo, roupas e adereços utilizados. Neste sentido, a configuração da imagem corporal se dá num constante fluir entre o meio interno do corpo e o meio externo. Schilder aborda algumas relações entre imagem corporal e qualidade de movimento. Ele acredita que temos um "desejo de ultrapassarmos as fronteiras de nosso corpo" e que os movimentos das danças nos permitem momentaneamente fazê-lo, por modificarem nossas imagens corporais.

A dança se divide em vários estilos, aqui retratamos o hip hop e o Axé. Uma cultura independente de credo, cor, raça, sexo e estado social, viram no Hip Hop uma forma de contestar as injustiças do sistema. Com vestimentas largas e movimentos simétricos e assimétricos, homens e mulheres mais se assemelham a andrógenos na forma e nos movimentos para expor sua visão de mundo. Classificamos Axé como gênero musical dançante, originário da bahia, de ritmo enérgico com elementos afro-brasileiros, com temas relativos à sensualidade e com certa ironia e malícia.

Os movimentos do hip hop se dirigem ao corpo, parecendo querer dizer mexer os quadris em círculos, mas fala ao corpo, assim como também fala à cabeça, expondo argumentos que questionam frontalmente a sociedade numa proposta cultural organizada. Não é apenas uma manifestação cultural, mas uma exaltação dos valores de um grupo social e de repúdio do ataque aos preconceituosos se vestindo com roupas largas e grandes como se quisessem se esconder nos movimentos simétricos e assimétricos na batida intensa do ritmo da música.

Os bailarinos do axé possuem estilo próprio de se vestir, pois utilizam o seu corpo no palco como instrumento de trabalho e precisam estar em forma física para mostrar os movimentos e deixar transparecer a sensualidade da dança em si. Sua vestimenta, ao contrário dos dançarinos de hip hop, é roupa colada no corpo, deixando aparecer o máximo das nuances possíveis. Homens e mulheres dançam coreografias estilizadas, fáceis de aprender com sensualidade aparente e volúpia demonstração de saúde e bem estar.

Como observa Gonçalves (1999), o sentido produzido por estes grupos é o desejo coletivo de uma exterioridade e determinados padrões ético-estéticos dominantes, e com isso, da produção de outras formas de viver, de amar, de inventar novas formas de percepção.

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Objetivo:

Este estudo objetivou comparar os níveis de percepção corporal entre praticantes dos dois estilos de dança.

Método:

Pesquisa de campo caracterizada como descritiva comparativa. Participaram deste estudo 84 dançarinos. As coletas foram realizadas em dois momentos diferentes, a primeira foi no Meeting de Hip Hop da cidade de Indaiatuba-SP, onde houve competições, mostras e workshop de Hip Hop. Neste evento 24 grupos de vários estados estavam presentes e 36 dançarinos participaram da pesquisa. A segunda coleta foi realizada em uma academia na grande Florianópolis em um ensaio dos dançarinos de um grupo de Axé. Participaram dessa coleta 48 dançarinos.

Para realizar a pesquisa foi utilizado o QSH (Questionário de Sexualidade Humana), criado pelo Laboratório de Pesquisa em Gênero, Sexualidade e Corporeidade Humana (LAGESC).Este questionário possui questões relacionadas à aspectos gerais (idade, profissão, estado civil) e questões sociais (itens de consumo e grau de escolaridade), além de perguntas fechadas dividas em 7 escalas: relação com o corpo, percepção corporal, comportamento sexual, pré-disposição sexual, orientação sexual, percepção do prazer sexual e satisfação sexual.

Este trabalho está mostrando as diferenças entre os grupos de axé e hip hop apenas na relação corporal.

Os dados da pesquisa foram inseridos e analisados no programa computadorizado Statistical Package for the Social Science (SPSS for Windows) versão 15.5. Realizou-se um estudo descritivo e o Teste T de Student foi utilizado para verificar diferenças no comportamento dos participantes dos determinados estilos de dança.

Resultados:

No Questionário de Sexualidade Humana (QSH) respondido pelos dançarinos de axé e hip hop, a escala de relação corporal foi a que apresentou resultados que destacaram as diferenças culturais apresentadas pelos estilos de dança.

Em todas as variáveis os dançarinos de axé foram os que apresentaram maiores médias, exceto na variável “eu me masturbo” esse fato pode ser devido ao número de homossexuais entre os dançarinos de axé, pois entre os dançarinos de hip hop não havia nenhum, talvez por expressarem mais sua sexualidade através de gestos sensuais e das vestimentas, possuem uma facilidade maior em conseguir parceiros e não necessitem, portanto da auto-massagem erótica.

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Entretanto, as únicas variáveis que apresentaram diferenças estatisticamente significativas, foram “eu toco meu corpo de forma geral” (t = -2,718; p = 0,008) e “eu olho meu corpo inteiro no espelho” (t = -4,473; p < 0,001), nas quais o grupo do axé apresentou médias mais altas. Essa tendência de valorização corporal entre os membros do axé pode ocorrer, porque os dançarinos de hip hop possuem uma visão do mundo com orientação político cultural, estão mais preocupados com o movimento de discriminação étnico-racial e encontraram na música uma maneira de expressar essa mensgam. Enquanto os dançarinos de axé possuem uma visão mais voltada à exposição corporal, de realizar movimentos perfeitos, mostrando seu corpo, também perfeito e sempre voltados à sensualidade, costumam chamar a atenção através da forma de atuar com seu corpo. Os movimentos do axé têm muita sensualidade, onde gestos como o “dedo na boca” são mostrados como uma grande brincadeira, que não é novidade dos tempos atuais, isso nos remete ao lundu (primeiro ritmo afro-brasileiro, que herdou da África gestos como a umbigada, rebolados e outros que imitam o ato sexual). (ROBATTO; MASCARENHAS, 2002).

Considerações finais:

Todos os aspectos avaliados na percepção corporal, neste estudo, demonstram que os bailarinos de Axé conhecem mais e tocam mais o seu corpo do que os bailarinos de Hip Hop. Acreditamos que esta percepção corporal esteja relacionada com a sociedade em que vivem e com o estilo escolhido, um mais direcionado às questões sociais e outro ligado às heranças culturais africanas, no ritmo alegre e solto do som bahiano, mas ambos conhecem bem o seu corpo. O movimento Hip Hop e o Axé contribuem para o trânsito de referências artísticas e comportamentais entre os diversos setores da sociedade e nos permite enxergar o contexto sócio-cultural para além da divisão das classes. É de extrema importância ressaltar o papel que a cultura Hip Hop exerce, deixando de ser uma entidade meramente contemplável para se tornar um espaço onde se alternam as diferenças. E a importância do papel do ritmo Axé, na cultura afro-brasileira, resgatando movimentos culturais trazidos de nossos antepassados e enaltecendo a importância dos valores étnicos à nossa cultura ocidental.

Referências

GAIARSA, J.A. O corpo que se vê e o corpo que se sente. Pensando o Corpo e o Movimento. Rio de Janeiro, 131 – 135, 1994.

GASPARI,T.C. Dança. In (Coord.) DARIDO,S.C; BETTI,I.C.A. A Educação Física na escola:

implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro. Guanabara, Koogan, 2005.

GONÇALVES, Gustavo. Traçando caminhos em uma sociedade violenta: a vida de jovens

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MOURA, D.K.R. O corpo como instumento de linguagem. Fiep Bulletin, Foz do Iguaçú, v.75, p. 85, 2004.

ROBATTO, Lia; MASCARENHAS, Lúcia. Passos da Dança Bahia. Salvador: editora Casa de Palavras Memória, 2002.

SBORQUIA,S.P; GALLARDO,J.S.P. A dança na mídia e as danças na escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, V.25, p.105-108, 2002.

TOLKMITT, Valda Marcelino. Educação física, uma produção cultural do processo de

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