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A formação e evolução do movimento tenentista: dos primeiros levantes a sua diluição ( ).

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A formação e evolução do movimento tenentista: dos primeiros levantes a sua diluição (1922-1935).

Marcus Fernandes Marcusso

Introdução.

Este trabalho pretende abordar abordando inicialmente o surgimento do tenentismo com o levante de 18 do forte de Copacabana em 1922 e o seu desdobramento “amadurecido” em 1924 na Revolução Paulista, e posteriormente a Coluna Prestes. Por fim analisaremos a participação tenentista na Revolução de 1930 e no início do Governo Provisório.

A Coluna Prestes(1925-1927) surge como o desenvolvimento das revoluções tenentistas anteriores, com o intuito básico de fazer a propaganda armada da revolução pelo interior do país. A sua marcha foi um fenômeno de grande repercussão nacional, porém sua importância maior para esses trabalho reside no resultado desta: tornou seus líderes heróis de grande apelo popular, e mais especificamente pela longa fase de negociação entre líderes tenentista e membros da Aliança Liberal para a formação de uma frente de oposição ao governo federal. Como será visto posteriormente esta fase é crucial para o início de mudanças profundas nas idéias e atitudes dos tenentes.

A Revolução de 30 aglutinou diversas frentes de representação sob um objetivo comum, o golpe para impedir a posse de Julio Prestes, porém ao obter sucesso, ao diferenças dos diversos grupos afloram e se intensificam.

Nesse momento propõe-se uma análise mais aprofundada do papel dos tenentes nesse governo provisório através da analise comparativa de duas correntes historiográficas divergentes nesse ponto. A primeira aponta esse embate tenentismo versus oligarquia como sendo o motor das disputas políticas nessa conjuntura, e é defendida por autores como Maria Cecília Forjaz e Edgard Carone. A segunda corrente é inaugurada por Anita L. Prestes e pretendo reavaliar as proposições desta última, no sentido de reavaliar o papel dos tenentes.

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Capítulo 1: Primórdios do movimento tenentista: os levantes de 1922 e 1924.

A sucessão presidencial de Epitácio Pessoa em 1922 foi marcada pela contestação de seu governo pelas fileiras do Exército devido a episódios como o das Cartas Falsas, o fechamento do Clube Militar e a ordem de prisão do Marechal Hermes da Fonseca, que havia criticado medidas de Epitácio. Dada a insustentabilidade da situação eclodia na madrugada de cinco de julho de 1922 o levante do Forte de Copacabana. O levante foi uma tentativa de impedir a posse do presidente eleito Artur Bernardes, que haveria insultado a honra da corporação militar. Segundo Maria Cecília Forjaz e Nelson Werneck Sodré, no levante de 1922 os tenentes conspiram e agem isoladamente sem pretensão e apoio da sociedade civil, seja nas oligarquias dissidentes ou nos grupos populares.

Em 1924, após dois anos de amadurecimento político e ideológico do levante de 22, ocorreram de diversos levantes militares denominados Revoluções de 1924.A revolução paulista de cinco de julho, foi o movimento “líder”, inspirador e o que produziu as mais elaboradas formulações político-ideológicas. Dessa vez, os tenentes se manifestam em nome da coletividade nacional, propondo para ela uma sociedade democrática, embora o objetivo de derrubar Artur Bernardes se mantivesse. Essas formulações políticas podem ser encontradas em três manifestos1 proclamados na imprensa pelo “governo provisório” instaurado em São Paulo entre 9 a 27 de julho.

Segundo Boris fausto, o movimento tenentista apresentou, inicialmente, um caráter insurrecional independente dos setores civis, porém esse distanciamento diminui paulatinamente até o acordo nacional com as oligarquias dissidentes na Revolução de 30, e embora o “desencontro de caminhos permanecesse”.

Ao abordarmos a análise de Boris Fausto sobre o caráter predominantemente militares e independente dos setores civis, recorremos aos estudos de Anita Leocádia Prestes e Maria C. Forjaz. Segunda a primeira os “’tenentes’ – pela sua origem, formação e ligações - estavam muito próximos das camadas médias urbanas”2, ou melhor, os setores sociais, como o operariado e , principalmente, as camadas médias urbanas, esboçavam um caráter oposicionista as oligarquias dominantes porém não

1

Os manifestos podem se encontrados na íntegra em FORJAZ; 1977: pp-61-70.

2

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detinha força política suficiente, e é nesse sentido que Anita Prestes coloca os tenentes como vanguarda política de oposição, que

...ao expressar principalmente os anseios de liberdade e de maior participação política das camadas médias urbanas, revela-se na verdade, um movimento que nem era militarista no sentido de defender os interesses estritamente corporativos dos militares -, nem poderá estar isolado da sociedade. 5

Em proposta que converge Anita Prestes, Maria Cecília Forjaz defende a tese de que a idéia de caracterizar como predominantemente militares os levantes de 24 e até o próprio tenentismo era encontrado no seio da oligarquia dominante, ou seja, reduzir os levantes a quarteladas sem propósito político ou representativo, a elite procurou descaracterizar o movimento enquanto meio de expressão de reivindicações coletivas.

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CAPÍTULO 2: A Coluna Prestes e a Aliança Liberal

Diante do recrudescimento de ação repressiva das tropas legalistas, os revolucionários paulistas retiram-se para o interior, rumo ao sul do país. No Paraná, os tenentes encontram forças militares rebeldes vindas do Rio Grande do Sul, e após a reunião entre seus respectivos líderes firma-se o acordo de união de forças e progressão de marcha. Estava formada a Coluna Prestes. A marcha da Coluna por dois anos alcançando a marca de 25 mil km é realmente um ato heróico, e sua evolução e descrição muito interessantes 7, porém o que se pretende nesse trabalho é apontar as principais características políticas da coluna, principalmente após o término de sua marcha.

O principal objetivo da Coluna Prestes foi à propaganda armada da revolução, ainda sob o ideário liberal conservador, os revolucionários marchavam pelo país derrotando as forças legalistas e sempre com o discurso de derrubar Artur Bernardes, adquirindo, assim, enorme prestígio popular frente às massas urbanas insatisfeitas.

Com o intuito de exposição das “idéias” da Coluna se baseará em uma entrevista cedida por Luis Carlos Prestes em 1978 para jornalistas franceses, que se encontra no livro A Coluna Prestes, de Nelson Werneck Sodré. Ao ser indagado sobre a atividade política e social desenvolvida pela Coluna, Prestes afirma: “ o nosso objetivo era derrubar o governo. Do ponto de vista político e social estávamos praticamente desamparados. Por isso fizemos muito pouco. 8

E fala da sua relação com a Aliança Liberal:

Todos os chefes da Coluna adquiriram grande prestígio. O meu nome foi utilizado pelos políticos com uma bandeira de luta em favor das grandes modificações no país posteriormente, aproximava-se a campanha eleitoral de 1930. Nessa campanha, apresentou-se um candidato de oposição, Getúlio Vargas. Ele levantou a bandeira do tenentismo e obteve o apoio da maioria dos quadros do movimento10

E por fim, a Revolução de 30:

5

IBIDEM. Pg. 90-91

7

Para ver detalhes da marcha da Coluna ver (PRESTES:1990) e (SODRÉ: 1978).

8

Sodré, Nelson. A Coluna Prestes. Pg. 79.

10

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O que posso dizer do movimento de 1930, apesar de alguns chamarem de revolução, para mim foi um movimento popular, porque se desenvolveu em todo país, foi feito com as bandeiras da Coluna, embora, eu, pessoalmente estivesse contra a candidatura de Vargas, pois adotei a posição do Partido Comunista (...) Via nela [a candidatura de Vargas], em Antônio Carlos, João Pessoa, seus aliados, nada mais do que grandes proprietários de terra, que representavam as mesmas classes que estavam no poder no país. Estava convencido que a chamada “Revolução do Vargas” não iria modificar em nada o Brasil. 11

A Aliança Liberal foi formada pelos Partidos Republicanos Mineiro, Gaúcho e Paraibano, unidos em oposição ao governo, lança a candidatura de Getúlio Vargas para presidente e de João Pessoa para vice. Em relação à plataforma da Aliança, Maria Cecília Forjaz constata que a diferença em relação à de Júlio Prestes é mínima, fato facilmente explicado pela origem oligárquica e conservados de seus chefes. Então porque a Aliança conseguiu o apoio popular entusiástico das camadas médias urbanas, maiores representantes “conscientes” da população?

Em primeiro lugar, aponta-se a posição subordinada em termos políticos e ideológicos das camadas médias urbanas em relação às oligarquias dominantes. Essa subordinação é explicada pela própria formação da Primeira República, em termos culturais e sociais de um modo mais abrangente, e em termos políticos e sociais mais especificamente. Em segundo lugar, aponta-se o uso do enorme prestígio popular adquirido pelos tenentes nas revoluções de 22 e 24, e principalmente na Coluna Prestes por parte dos chefes aliancistas com o intuito de propagandear a candidatura de Getúlio e da Aliança.

O que se deve ressaltar é o período de delicada negociação que ocorre entre os líderes tenentistas e os chefes aliancistas no período de 1927-1930. Se por um lado os tenentes viam com ressalvas a aliança com seus antigos inimigos (compunham a aliança inimigos memoráveis da Coluna, como Borges de Medeiros, e o maior de todos, Artur Bernardes), e no caso de Luis Carlos Prestes havia uma recusa vigorosa. Por outro lado, a “velha guarda” da Aliança via, também, com ressalvas a união com revolucionários, sempre temendo o recurso das armas.

A conjuntura de visível impasse foi se amenizando na medida em que a “ala jovem”14 da Aliança composta por elementos que adotavam uma perspectiva mais revolucionária para as mudanças no país, como Lindolfo Collor e Osvaldo Aranha, foram se aproximando de líderes tenentistas menos convictos da completa

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impossibilidade de acordo defendida por Luis Carlos Prestes como João Alberto, Juarez Távora e até Siqueira Campos. No entanto, como Anita Prestes relata, com uma riqueza documental inédita15, a posição de Prestes perante a adesão era irredutível e, portanto, conseqüente rompimento com o movimento tenentista, como o Manifesto de maio de 1930 somada a derrota eleitoral da Aliança nas eleições de março de 1930, foram fatores que aceleraram as negociações para a deflagração da Revolução armada.

Na deflagração do golpe já se percebe em certo aleijamento dos tenentes, uma vez que a efetiva chefia militar por conta do general Góes Monteiro este, por sua vez submetido a Osvaldo Aranha e a Getúlio Vargas. Como constata o brasilianista Jordan Young: “Os tenentes foram mais importantes na preparação do clima psicológico da opinião do país, do que no planejamento militar e nos poucos combates que realmente ocorreram.” 17

14

Estes chegaram a ser chamado de tenentes civis

15

Ver capítulo X de A Coluna Prestes (1990).

17

(7)

CAPÍTULO 3: Tenentismo pós-30: o início do declínio?

Neste capítulo, propõe-se uma tentativa de análise comparativa das correntes historiográficas que divergem sobre o momento em que se observa o apogeu e o início da crise do movimento tenentista. Essa análise se fará através da exposição, em termos gerais, das proposições das correntes. Vale lembrar que embora haja divergências, muitas vezes essas correntes convergem e se completam, dessa forma nos prendemos às suas principais divergências.

Antes de apresentar as correntes, faz-se necessário uma breve e geral abordagem acerca do contexto político em que as proposições serão inseridas. Com a vitória na Revolução de outubro de 1930 após a deposição de Washington Luis pela junta militar. Getúlio Vargas assume provisoriamente a governo federal em novembro, como descreve Edgard Carone:

... o novo poder exerce discricionariamente em toda a sua plenitude as funções e atribuições e não só de poder executivo: como também do legislativo, até que, eleita a Assembléia constituída, estabeleça este reorganização constitucional do país19

A escolha de ministérios e de governos estaduais é marcada pela tentativa de equilibrar as correntes antagônicas que outrora se uniram por um objetivo em comum.

A primeira corrente defende que o movimento tenentista atingiu seu auge nos dois primeiros anos do governo provisório de Getúlio Vargas e conheceu seu declínio após a Revolução Constitucionalista de 1932. Tal corrente defende que no intervalo de 30 e 32 o tenentismo, ao figurar como força política forte perante o sociedade e fortalecida na sua posição de conservação do estado ditatorial, enquanto necessário para a organização nacional e rompendo com as estruturas e instituições compostas da República Velha choca-se com as concepções oligárquicas de rápido restabelecimento constitucionalista e manutenção do Federalismo.

Segundo Maria Cecília Forjaz é “o embate tenentismo-oligarquia que constituía o núcleo central do processo político nessa conjuntura histórica eclode logo depois da vitória revolucionária e constitui uma continuidade dos conflitos anteriores a luta

19

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armada no contexto da Aliança Liberal”.21 Esse embate vai figurar o cenário político nacional e se intensificar em determinados Estados, como São Paulo, que segundo Edgard Carone é “onde a organização e iniciativa levam suas oligarquias as reagirem mais consistentemente contra as formas de domínio tenentista”.22

A conjuntura política definida por tais autores insere a figura de Getúlio Vargas, enquanto “presidente provisório”, entre o embate de tais forças, agindo como um elemento mediador, no sentido de administrar as pressões destas partes que se uniram por um objetivo em comum, a Revolução de 30, mas que sempre demonstraram posições antagônicas.

A fundação do Clube Três de Outubro em fevereiro de 1931, que segundo Michael Conniff, “veio a ser a mais importante organização tenentista”23 em que um momento do fortalecimento da política constitucionalista, “ o que conferiu os Clube Três de Outubro o status de contrapeso político, com ímpeto suficiente para contestar o equilíbrio foi quase um ano” 24 , até a adesão da Revolução Constitucionalista de 1924. Maria Cecília Forjaz, também ressalta a importância do Clube como um “... núcleo tenentista relativamente coeso e atuado politicamente coeso (...) ou seja, o tenentismo reconstituiu sua unidade muito abalada pela perda de suas maiores lideranças nos anos 20: Luis Carlos Prestes e Siqueira Campos.”25

A Segunda corrente que pretendemos abordar tem como seu principal expoente Anita Leocadia Prestes, que através da formulação de uma tese bastante original inaugura uma nova perspectiva para o estudo do tema ao definir a Coluna Prestes como o momento de auge do movimento tenentista e a defecção de Luis Carlos Prestes como ponto inicial da crise tenentista.

Segundo Anita Prestes, a Coluna representou o episódio culminante “pela duração, invencibilidade e repercussão no país”.27 A própria sobrevivência da Coluna, em marcha pelo país por dois anos sem ser derrotada pelas tropas legalistas, fazendo a propaganda armada da Revolução e contribuindo assim, “... para que, durante vários

21

FORJAZ, Maria Cecília. Tenentismo e Forças Armadas na Revolução de 30. Pg. 96.

22

CARONE, Edgard. A República Nova (1930-1937). Pg 302.

23

CONIFF, Michael. Os tenentes no poder. Pg.135

24

IBIDEM. Pg. 134.

25

FORJAZ, Maria Cecília. Tenentismo e Forças Armadas. Pg. 98.

27

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anos, fosse mantido um clima revolucionário propício à germinação das condições que levaram à vitória na Revolução de 30”.28

A marcha da Coluna pelo interior do Brasil, invencível e heróica, tornou os líderes tenentistas, especialmente Prestes, verdadeiros ícones de bravura nacional, este imenso prestígio adquirido na Coluna foi fundamental para a vitória da Revolução de 30, segundo Anita Prestes.

A Coluna Prestes, pela sua importância enquanto movimento militar, político, social e, em certa medida, popular, exerceu uma influência decisiva para que se formasse uma ampla frente – ainda que bastante desestruturada – das forças de oposição, capaz de levar ao colapso a República Velha, o que, afinal, viria a acontecer com a vitória da chamada Revolução de 30.29

Nesse sentido contesta-se até a autonomia política dos tenentes, uma vez que eles jamais tiveram um programa político coeso e bem definido, como detesta John Wirth. “A grande fraqueza do programa tenentista parece ter sido que ele não inclua uma concepção de prioridades e que ele não distinguia até objetivos para alcançá-los”.31

Essa situação é característica do tenentismo às vésperas da adesão com a Aliança Liberal e logo após a defecção de Luis C. Prestes, momento que é considerado por Anita Prestes a crise do movimento tenentista, uma vez que torna o movimento acéfalo e faz com que os ideais liberais até então defendidos pelos tenentes fossem abandonados “...em troca da adesão ás concepções autoritárias, centralizadoras e corporativas em voga no início dos anos 30, momento em que a morte do liberalismo se anunciava em escala mundial”32

A participação do tenentismo na Revolução de 30 já se mostra subordinada ao grupo varguista principalmente na figura do chefe militar da revolução Góes Monteiro, ex-legalista ferrenho recém convertido à revolução, e o “tenente civil” Osvaldo Aranha. Estes conseguiram controlar os tenentes de modo eficaz e iniciar com sucesso o integração destes na burocracia civil e militar, ainda em formação.

Ainda segundo Anita Prestes, deve-se reavaliar o papel de mediador exercido por Getúlio Vargas, uma vez que nesses termos:

28

IBIDEM. Pg. 315.

29

IBIDEM. Pg. 394.

31

WIRTH, John. O Tenentismo na Revolução de 30. Pg. 43.

(10)

Retira-se de Vargas, portanto, qualquer traço de ação baseada em projeto político

próprio – formulado pelo grupo civil e militar que se forma em torno de sua liderança – para

apresentá-lo eqüidistante das forças em conflito, a fazer concessões de menor ou maior monta ora os grupos oligárquicos ora aos combativos ‘tenentes’30

E mais, Getúlio Vargas soube usar com eficiência a notoriedade que ganhava a dicotomia oligarquia versus tenentismo, como constata Vavy Pacheco Borges esta dicotomia “encheu as páginas dos jornais da época”34, para se afastar da grande efervescência política no instável início do Governo Provisório. Com esse afastamento Vargas trilhou, com a submissa colaboração dos tenentes, o caminho para sua consolidação no poder com a vitória adquirida na Assembléia Constituinte de 1934 e, principalmente, para a implantação do seu projeto de governo autoritário, centralizador, corporativista e nacionalista em 1937 com o Estado Novo.

30 PRESTES, Anita Leocadia. Tenentismo pós-30: continuidade ou ruptura? Pg. 54. 34

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Conclusão

No momento de finalizar pretendo tecer uma breve análise acerca da questão levantada por Anita Prestes “o que teria predominado no pós-30: a continuidade ou a ruptura no processo evolutivo do tenentismo?. Não se pretende aqui chegar a uma resposta definitiva, e sim abordar a questão sob duas perspectivas diferentes a partir da definição do conceito de tenentismo.

O primeiro, defendido por Anita Prestes, vislumbra os tenentes como “jovens militares que de armas na mão, se bateram com grande desprendimento, durante toda a década de 1920, pelos ideais de liberdade e de ‘representação e justiça’”35 e tendo como seu principal expoente Luís Carlos Prestes. Como já foi mostrado o líder máximo da Coluna rompe com o movimento e as alianças e novas posições ideológicas mudam as características principais do movimento, tornando-o subalterno ao grupo varguista no poder e adeptos do projeto autoritário, centralizador, corporativo e nacionalista, em torno do qual se articulara este grupo desde 30. Assim o movimento perde suas características básicas do momento em que a autora define como sendo o auge do movimento, e opta pelo predomínio da ruptura no processo evolutivo do tenentismo.

Entretanto se considerarmos a posição de Edgard Carone admitindo que “...no pó-30 o conceito de tenentismo tornou-se mais vago e abstrato, englobando elementos centristas e conservadores – revolucionários do Exército e oligárquicos –, liberais e erquedizantes”36. Antes ainda na própria Revolução de 30 o tenentismo é acrescido de elementos do alto oficialato, como o chefe militar da Revolução Góes Monteiro, e de elementos civis da ala jovem “radical” da Aliança Liberal, como os “tenentes civis” Osvaldo Aranha e Lindolfo Collor.

Dessa forma, nessa perspectiva, ao legitimar a validade desse conceito, algo que Anita não faz, pode-se dizer que o movimento tenentista prosseguiu, em partes, no pós-30, embora tenha sofrido mudanças significativas, tendo predominado a continuidade no processo evolutivo do tenentismo.

Por fim cabe ressaltar que em ambas ao “respostas” o elemento central que define a opção escolhida esta intimamente ligado as já citadas propostas de definição do auge do movimento tenentista.

35

PRESTES, Anita L. O Tenentismo pós-30.Pg.88

36

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Bibliografia

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