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Estórias de Iracema. Maria Helena Magalhães. Ilustrações de Veridiana Magalhães

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Academic year: 2021

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Estórias de Iracema

Maria Helena Magalhães

Ilustrações de

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E

ra uma vez uma menina. Iracema era o nome dela. Icê era o apelido.

Era uma menina comum. Ou quase. Porque na vida de Iracema, algumas coisas eram bem diferentes das crianças comuns.

A primeira diferença é que ela morava numa fazenda, até perto da cidade. Mas uma fazenda. Isso até que não fazia dela uma menina tão diferente, não. Deve ter muita criança por aí que mora no campo. Na verdade, o que ela tinha de mais

diferente mesmo era não ter pai nem mãe. Quer dizer, ter, ela tinha, só que eles não moravam com ela e nem eram de carne e osso como quase todos os pais.

A mãe de Icê já tinha ido pro céu faz tempo. E era por isso que Iracema tinha a maior curiosidade com o mundo lá em cima. Ficava sempre querendo saber como era e o que é que tinha por lá. Será que as pessoas moravam em casas como as nossas? Tinha grama, jardim, árvore? Ou o

chão era de nuvem, mesmo? Tinha comida, sofá, geladeira? Iracema não cansava de perguntar isto para sua mãe, sempre que a menina precisava de um colo era só olhar para cima e lembrar, perguntar e imaginar o que a mãe lhe diria.

E se a mãe de Icê morava no céu, o pai dela morava no rio. No rio? Isso mesmo. Num rio de águas claríssimas, pertinho da casa da menina. E olhe que não era na beira do rio que ele morava, não. Sua casa era lá no fundo, mesmo, entre os peixes e as plantas aquáticas. Algumas pessoas até sabiam da história do pai de Icê, o boto mais bonito do rio. Mas a menina tinha certeza de que ele estava ali, bem perto. E sabe que ela também conversava com ele? Quando precisava dos seus conselhos, a menina ia para a beira do rio e falava, falava e pensava na vida. E sempre saía de lá com uma resposta.

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Mas enganava-se quem pensava que Icê era sozinha. Não era. Ela tinha dois amigos que moravam com ela. O Binho e a Magda. Eram companheiros e tanto. Binho era meio esquisitão. Quem olhava, não sabia se era cachorro ou lobo. Tinha pernas compridas e finas, um rabo grosso e peludo, como um lobo. Mas seu focinho era de cachorro. Não latia, só uivava. E de felicidade, sempre que Icê o convidava para passear.

Magda era uma passarinha toda emplumada. Vaidosa que só ela. Sempre com as penas penteadas, as unhas pintadas e umas roupas coloridas por

cima. Tudo combinando. E sabe que ela era assim desde pequena? Na verdade, desde que nasceu, logo depois de ter aparecido

em um ninho na varanda da casa antiga de Iracema. Assim que ela saiu do ovo, já foi logo arrumando suas penas, todas amassadas por ter ficado tanto tempo na mesma posição. Binho quase avançou em cima dela e foi preciso Icê intervir para evitar uma tragédia. Mas depois desse início meio turbulento os dois viraram grandes amigos. Na verdade, os três. Iracema, Binho e Magda. Sempre juntos e por todo o canto.

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Iracema ia vivendo muito bem com seus companheiros, mas bem que ela gostou quando se mudaram para o sítio vizinho o Lipe e a Gê. Foi a Magda quem veio lhe contar das crianças que haviam acabado de mudar para a casa amarela. Muitas vezes, Iracema ia até a porteira do sítio e ficava olhando para a casa fechada e imaginando como seria bom se crianças viessem morar nela. E não é que vieram mesmo? Quando a Magda viu o caminhão de mudança chegando, foi voando avisar a menina.

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Foi amizade à primeira vista. E a partir daquele momento eram cinco os amigos inseparáveis. Iracema, Binho, Magda, Lipe e Gê. Subindo em

árvores, comendo fruta no pé, nadando no rio, brincando de esconde-esconde. Todos os dias. Todos juntos.

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Até Gê ficar doente. Com uma febre chata, que não ia embora. Então a mãe resolveu levá-la para o hospital. Neste dia, todos foram se despedir da menina. Binho uivava para ela querendo dizer que esperava que ela ficasse boa logo. Magda piava. Lipe e Iracema mandavam muitos beijos vendo o carro partir para a cidade.

No dia seguinte, Lipe apareceu bem cedo na casa de Icê. A menina foi logo querendo saber da Gê:

– Cadê minha amiga, Lipe? Ela ainda não voltou do hospital?

Lipe disse que ela ainda teria que ficar um tempo internada, tomando um remédio de nome difícil, “química não sei o que lá”.

Iracema lembrou do tio Zé. Da doença que ele teve e do remédio que fazia cair o cabelo e de vez em quando enjoava.

– É quimioterapia, Lipe. O meu tio Zé também teve que tomar esse remédio e

seu cabelo caiu todinho. Aliás, ele ficou até mais bonito careca, sabia?

– Isso mesmo! É quimioterapia que a Gê está tomando. É para curar uma doença... como é mesmo o nome?

– Câncer. Igualzinho o que meu tio teve. Será que o cabelo dela já caiu? Puxa, Lipe, eu queria ir até o hospital visitar minha amiga.

– Minha mãe vem me buscar mais tarde. Você quer ir junto?

Iracema queria, sim, claro! Estava com saudade da Gê.

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E também queria ver como era esse tal de hospital em que ela estava internada. Magda piou e Binho uivou. Eles também queriam visitar a amiga, mas será que os dois poderiam entrar no hospital?

Foi até fácil convencer a mãe de Lipe e Gê a dar uma carona para Magda e Binho. Difícil mesmo foi fazê-los entrar no hospital, porque logo na entrada, eles toparam com uma placa enorme:

“É EXPRESSAMENTE PROIBIDA A ENTRADA DE ANIMAIS”

E agora? Como fariam para entrar? Já pensou que decepção ter que ficar do lado de fora e não conseguir visitar a Gê? Icê e Lipe tiveram uma ideia: eles entrariam primeiro e depois, teriam de arrumar um jeito dos amigos também entrarem.

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Na recepção, uma moça bonita e bem penteada explicou que a Gê estava na quimioterapia. Se quisessem, poderiam esperar na brinquedoteca. Os dois não sabiam bem o que era, mas o nome pareceu legal.

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Devia ter alguma coisa a ver com brinquedo. E tinha mesmo: o lugar era uma sala enorme, cheia de jogos e de brinquedos de todos os tipos. O maior barato! E de todos, o mais legal era um carrinho cheio de brinquedos que estava encostado

num canto. Iracema e Lipe se olharam. E o menino perguntou:

– Você está pen sando na mesma coisa que eu?

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A menina nem precisou responder. Agora, era só convencer a Sra. Pecorato, deixá-los levar o carrinho de brinquedos para a quimioterapia. Até que não foi

difícil. No começo, Sra. Pecorato estranhou, mas no final achou boa a idéia de

distrair a menina que estava tomando a quimioterapia pela primeira vez.

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Magda foi logo reclamando:

– O quê? Vocês querem que eu entre nesse carrinho minúsculo e amasse todas as minhas penas? De jeito nenhum! Não entro, mesmo.

Binho nem deu bola para a amiga. Foi logo empurrando Magda para dentro e

dizendo para ela tratar de ficar bem quietinha, se ainda quisesse ver a Gê. Magda não gostou muito, mas pensou na amiga e resolveu colaborar. Icê correu com o carrinho. Lipe foi para

fora do hospital e levou Binho e Magda para a garagem. O ponto de encontro seria o elevador de serviço onde Icê estaria esperando pelos três. Ao saber do plano,

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No caminho, encontraram um tal de Dr. Peri, que logo quis conhecer as crianças e se ofereceu para ajudar a levar o carrinho, que parecia bem pesado. Eles agradeceram a ajuda, mas logo recusaram. Já pensou se o doutor descobrisse Binho e Magda escondidos no carrinho? Não queriam nem imaginar!

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Na sala da quimio, como todos

diziam no hospital, a Gê abriu um sorrisão quando viu a amiga e o irmão. E deu uma gargalhada quando reconheceu as orelhas de Binho e as plumas de Magda no meio dos brinquedos do carrinho. Todos tinham muitas perguntas a fazer:

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– Dói fazer quimioterapia? – Seu cabelo vai cair mesmo?

– Quanto tempo você vai ficar aqui?

– Você vai voltar para casa e brincar com a gente de novo?

Gê ia respondendo todas as perguntas, tentando se lembrar de tudo o que haviam explicado pra ela.

– Não, a quimio não dói.

– Sim, meu cabelo vai cair mesmo. Mas depois nasce tudo de novo.

– Fico uns dias por aqui, enquanto tomo a quimio. Depois, volto para casa e venho mais umas vezes tomar a quimioterapia até ficar boa.

– Não é ruim ficar no hospital, o pessoal daqui é muito legal. O chato é ficar enjoada. Mas o dr. Peri explicou que o enjôo logo passa.

Iracema e Lipe reconheceram o nome do médico:

– Então o dr. Peri é o seu médico? Nós já o conhecemos, encontramos com ele no elevador, disse Lipe todo orgulhoso.

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– E esperem só para conhecer todo mundo que trabalha aqui no hospital. O dr. Di, as enfermeiras... Vocês vão gostar! Só não pode contar para ninguém sobre a Magda e o Binho, viu?, disse Gê, dando uma piscadinha para os dois amigos.

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Adaptação e revisão Ana Carolina Carvalho

Projeto gráfico e ilustrações Veridiana Magalhães

Assessoria gráfica Antonio Kehl

Apoio:

Colégio Uirapuru - Sorocaba Colégio Santa Cruz - São Paulo

Distribuição gratuita Dedico esta série ao meu pai

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