Relatório Sumário da Avaliação Conjunta Anual de 2010
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUECONSELHO NACIONAL DE COMBATE AO HIV/SIDA SECRETARIADO EXECUTIVO
1. Introdução
O presente relatório faz uma avaliação do grau de implementação das actividades relativas à Coordenação e catalisação do esforço da resposta contra o HIV e SIDA, inseridas no Plano Operacional Anual (POA 2010) do transacto ano de 2010, gerido e implementado pelo Secretariado Executivo do CNCS e pelos Núcleos Provinciais de Combate ao SIDA. A avaliação do POA é condição indispensável para a realização do exercício de Avaliação Conjunta Anual entre o CNCS e os seus Parceiros, cuja materialidade consta do Memorando de Entendimento e do Código de Conduta, documentos que regem a parceria no contexto da resposta nacional.
A avaliação, cujos Termos de Referência se anexam (anexo 1), procurou dar resposta ao quadro de indicadores previamente concordados para medir os progressos alcançados, os desafios que persistem e, igualmente, informar o processo de planificação do POA do ano de 2012. Complementa o exercício a monitorização dos indicadores inscritos no Quadro de Avaliação do Desempenho (QAD)1, cujo seguimento e relatório acontecem dentro do processo de revisão periódica sob a coordenação do Ministério da Planificação e Desenvolvimento. Para verificar e medir o grau de implementação ao nível das províncias e garantir uma amostra representativa, foram seleccionadas quatro províncias (Manica, Maputo‐Província, Nampula e Zambézia).
2. Metodologia
Com base em inquéritos específicos, as equipas conduziram entrevistas aos Núcleos Provinciais, aos sectores‐chave dos governos provinciais (ex., Saúde e Educação), e, em um ou dois distritos fora da capital em cada província, ao Governo Distrital, à Direcção Distrital de Saúde e com alguns projectos. No entanto, pela fraca organização prévia das visitas, nem sempre foi possível cumprir todas as entrevistas programadas. As equipes também entrevistaram elementos‐chave da sociedade civil e das entidades económicas, embora, em todas as províncias visitadas, tais reuniões tivessem fraca assistência e representatividade.
As entrevistas foram semi‐estruturadas. Além de incluir o subconjunto de 17 indicadores endossados pelo Foro de Parceiros, os inquéritos e as entrevistas buscavam identificar e entender os obstáculos encontrados e, nalguns casos, as práticas que permitiram melhoramentos consideráveis na eficiência e eficácia das actividades ou mesmos êxitos excepcionais. Portanto, as entrevistas seguiram não somente as perguntas nos inquéritos como também permitiram fazer, com base nas observações dos inquiridos, discussões de brainstorming para melhor entender os problemas ou situações e buscar ideias boas ou ainda embrionárias para soluções. Esta combinação de investigação estruturada e não estruturada ajudou as equipas a identificar possíveis recomendações para o melhoramento ou reorientação das actividades. Posteriormente, para testar o realismo e a praticabilidade das recomendações, foram solicitadas apreciações de muitos participantes e líderes nesta luta.
1 Vide relatório de HIV e SIDA no contexto dos Assuntos Transversais – Revisão Conjunta Anual de 2010 ‐ que junto
A avaliação foi feita por uma consultoria externa, para permitir uma leitura isenta e mais crítica dos acontecimentos, mas faz‐se sempre acompanhar de uma equipa multidisciplinar, que inclui elementos do CNCS e representantes dos parceiros da resposta, tal como elucida no anexo 2. 3. Contexto da Resposta Quando o POA 2010 foi elaborado, a situação do HIV e SIDA em Moçambique mantinha‐se crítica, com índices crescentes de novas infecções na zona sul e alguma estabilização no centro e norte do país. Em 2009, foi pela primeira vez realizado o Inquérito Nacional de Prevalência, Riscos Comportamentais e Informação sobre HIV e SIDA em Moçambique (INSIDA) que apresentou uma prevalência nacional de 11.5% em pessoas dos 15 – 49 anos. O INSIDA indicou, entre outros casos que requerem atenção, que a epidemia está relativamente concentrada na população jovem, geralmente mais escolarizada e em grupos populacionais urbanos com relativa estabilidade económica.
Igualmente, o estudo corroborou com os anteriores dados que apontavam que o HIV e SIDA têm uma face feminina. A vulnerabilidade biológica natural na mulher que a expõe mais vezes à contracção do vírus comparativamente ao seu parceiro homem é acrescida pela vulnerabilidade social, que deriva das iniquidades de género. Com efeito, a prevalência do HIV e SIDA nas mulheres é, segundo dados do INSIDA, de 13, 1%, contra 9.2% nos homens.
Até finais de 2009, contavam‐se cerca de 1.6 milhões de pessoas que vivem com HIV e SIDA no país dos quais 220.000 se encontravam em tratamento antiretroviral.
A mortalidade derivada ou associada ao HIV e SIDA registada até 2009 situava‐se em 50.000 casos. O número de crianças órfãs de pais perecidos devido à doença do SIDA estima‐se em 670.000 crianças de idade abaixo dos 17 anos (MISAU, 2010).
Os modos de transmissão mais comuns em Moçambique continuavam a apontar para comportamentos de risco como sejam as parcerias sexuais múltiplas e concomitantes, o sexo transaccional e inter‐ geracional, o baixo e inadequado uso do preservativo, especialmente nas zonas urbanas e peri‐urbanas. O baixo índice de circuncisão masculina é também apontado como um factor que, em algumas regiões do país, contribui sobremaneira para o alastramento da infecção.
Os grupos de alto risco compreendiam pessoas de alta mobilidade – camionistas, mineiros e negociantes do comércio informal ‐, trabalhadores de sexo, presidiários, casais discordantes e profissionais uniformizados, entre militares, polícias e alfandegários. Os trabalhadores das construções, bem como os garimpeiros eram outro grupo, sobretudo quando longe das suas famílias por muito tempo.
As consequências do HIV e SIDA eram e são notórios a nível dos sectores e acentuadamente na estrutura social tradicional com o desmembramento do capital social2. Tal deriva do facto de a mortalidade e morbilidade que o HIV e SIDA encerram interromper o ciclo natural de transmissão de
2Capital social como conjunto de características da organização social, tais como confiança, normas e redes de
saberes e valores pela socialização e pela pedagogia popular, dos mais velhos (pais e encarregados de educação que morrem) aos mais novos.
Foi sob esta realidade que o CNCS e os seus parceiros aprovaram o POA 2010, que dava, em grande medida, continuidade à implementação do realinhamento institucional, que surge com a descontinuidade da função de gestão de subvenções, em finais de 2008, depois de uma parte do orçamento financiado a coberto do projecto MAP ter sido transferido para dar lugar à Iniciativa de Resultados Rápidos, sob a gestão do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O realinhamento do CNCS consiste na readequação da sua função de liderança e facilitação da resposta, que se desdobra em quatro grandes áreas de intervenção, designadamente (i) Coordenação; (ii) Monitoria e Avaliação; (3) Comunicação para Transformação social e mudança de comportamento; (iv) Desenvolvimento Institucional. A resposta nacional coordenada pelo CNCS tem uma implantação formal, sob o ponto de vista de órgãos de articulação estabelecidos pelo Governo, até ao nível provincial, impondo‐se a sua presença ao nível do distrito, no quadro dos esforços de descentralização em curso. A implementação do PEN III, cuja aprovação aconteceu ainda no primeiro semestre do ano de 2010, e da Estratégia de Aceleração da Prevenção, que conhece já o seu terceiro ano de vigência, tem vindo a conhecer constrangimentos, com particular realce para os de ordem financeira, decorrentes da crise financeira mundial, que se traduz da redução do fluxo de recursos para apoiar o sector da saúde e o toda a área de luta contra o HIV e SIDA.
O fim do Projecto MAP e o anúncio da retirada de outros parceiros do Fundo Comum do CNCS, em virtude da divisão do trabalho e concordância de áreas de intervenção entre os parceiros, já está a criar uma lacuna no financiamento das actividades, sobretudo para a resposta comunitária gerida pelas organizações de base comunitária. Tal mostra a necessidade de se encontrar uma fórmula que permita optimizar os poucos recursos que existem e melhor equacionar o financiamento de organizações pequenas baseadas no distrito e comunidades mais longínquas.
4. Indicadores de medição da implementação e Metas
O POA comporta um volume de actividades por área cuja implementação acontece ao longo do ano. Para ajudar a medir o nível de realização das actividades projectadas, na fase de desenvolvimento da metodologia da ACA foram seleccionados indicadores representativos por área em função da prioridade das actividades a que os mesmos se referiam. Os progressos alcançados, bem como os desafios encontrados são apresentados e analisados no quadro abaixo
MATRIZ DE AVALIACÃO DE DESEMPENHO DO SECTOR DE HIV e SIDA DO POA 2010 Área 1. Coordenação, Apoio e Capacitação aos Implementadores Melhorar a coordenação efectiva da resposta nacional a epidemia Actividades Principais
Indicadores Metas Grau de
cumprimento Comentários 1.1. CNCS como um Único Órgão de Coordenação 1 # De encontros de coordenação para resposta multissectorial de combate ao HIV e SIDA Realizar pelo menos 1 encontro provincial de coordenação multi‐ sectorial no âmbito da EAP e do PEN III Meta atingida Apesar de o indicador ter sido cumprido, torna‐se necessário reactivar os encontros do Grupo de Referência da Prevenção, interrompido com a mudança de Ministro no sector da saúde. Igualmente, é de recomendar que as reuniões do Conselho Directivo do CNCS sejam mais regulares e se intensifique o papel de Advocacia sobre a resposta nacional exercido por este órgão.
5 # Planos provinciais elaborados, e comissões distritais de combate ao HIV e SIDA revitalizadas Províncias com planos e comissões distritais Revitalizados Meta atingida Os planos provinciais são um imperativo para a monitoria dos esforços do s Governos provinciais, tendo sido cumprido o indicador a 100%. Relativamente às comissões distritais, ainda que este trabalho esteja em progresso, impõe‐ se a padronização dos termos de Referência do seu funcionamento e composição. Igualmente necessário e a capacitação contínua destes actores para que cumpram as suas responsabilidades com zelo e competência. A descentralização da resposta já é um exercício em curso com o desenvolvimento de planos distritais que se traduzem na integração do HIV e SIDA nos PESODS, incluindo a integração desta matéria nos Conselhos Distritais. Área 2. Comunicação Coordenar e fortalecer as actividades de comunicação para a mudança de comportamento Actividades Principais
No Indicadores Metas
2.1. Fortalecido o papel do CNCS na coordenação da implementação da estratégia de comunicação 22 % De grupos de comunicação com o seu papel reactivado e reforçado Pelo menos 40% de grupos De comunicação com o seu Papel reactivado e reforçado A meta foi atingida e ultrapassada. A avaliação constatou progressos em 70% dos grupos. Presentemente impõe‐se uma sistematização do funcionamento dos grupos, maior circulação de informação sobre as suas realizações junto dos parceiros a todos os níveis. 24 Proposta da campanha de ATS aprovada e realizada, # de spots e artigos produzidos e divulgados Campanha realizada e pelo menos 12 S spots radiofónicos, televisivos e artigos produzidos e divulgados Meta não atingida A campanha e os materiais de comunicação que a apoiam foram desenvolvidos. A campanha não foi realizada, todavia, devido, à exiguidade de testes no armazém do CMAM em 2010, estando planificada para 2011. 2.3 Acções de Marketing institucional reforçadas 31 Website actualizado e em funcionamento Website actualizado e em funcionamento Meta atingida. Foi redesenhado e actualizado, mas falta o seu lançamento oficial e formal. Igualmente, impõe‐ se a necessidade de constante actualização da informação e maior veiculação de artigos sobre Moçambique. Área 3. Monitoria e Avaliação Garantir a implementação do Plano Integrado de Monitoria e Avaliação nas suas 12 componentes Actividades Principais Indicadores Metas
3.1 Plano Integrado de M&A implementado (alinhado com o Princípio dos 3 UNS) 41 Monitoria Funcional componente de HIV e SIDA integrada nos balanços do PES. Mecanismo estabelecido para monitoria do progresso. Meta atingida. Actividade cumprida integralmente, mas é necessário que a inclusão não se limite em matéria temática, mas também contemple a alocação financeira. Igualmente, os indicadores chave dos sectores para monitorar as acções do HIV e SIDA no PES deverão estar alinhados com o PEN III 42 # De visitas de supervisão realizadas e % de actores que respondem com base nos instrumentos que alimentam os indicadores do SNM&A Realizar pelo menos 4 visitas por província, e todos os actores a responder com base nos instrumentos do SNM&A Meta atingida parcialmente 50%. As visitas não foram feitas na sua plenitude. Impõe‐ se, todavia, a divulgação do Sistema de Monitoria, a sua adequação e simplificação para fácil manuseamento pelas OCBs. Igualmente há que se estudar a exigência da obrigatoriedade de fornecimento de informação para monitorização da evolução da resposta. 3.4 Inquérito e Estudos no âmbito do HIV/SIDA coordenados 45 # De pesquisas e estudos realizados; % de estudos e pesquisas monitorados Realizados 5 estudos; 30% de pesquisas e estudos monitorados Meta atingida O INSIDA e outros estudos foram assumidos como instrumentos de informação estratégica para melhor articular a resposta. Área 4. Capacitação e Desenvolvimento Institucional Reforçar a capacidade técnica e institucional para uma resposta mais efectiva a todos os níveis
Actividades Principais
No Indicadores Metas
4.1 Estrutura do CNCS com Estatuto Orgânico, Regulamento Interno e Quadro de Pessoal Adequados ao Contexto Actual 48 RH redimensionados e nível de contenção atingido Redimensionamento efectuado Meta não atingida Esta actividade é dependente da aprovação do Estatuto orgânico do CNCS, que ainda não aconteceu. 50 Regulamento interno criado e disseminado Regulamento interno criado e disseminado Meta não atingida Igualmente condicionado pelo Estatuto orgânico 4.2 Obtida maior eficácia e eficiência no funcionamento da instituição 55 Sistema de comunicação e informação criado Sistema de comunicação e informação criado Meta não atingida Ao nível dos Núcleos Provinciais esta actividade foi ensaiada na cidade e província de Maputo. Enquanto isso busca‐se melhor fluxo de informação da sede para os NPCS e vice‐versa. Área 5. Gestão e Monitoria Financeiras Garantir a orientação efectiva na utilização dos fundos destinados ao combate ao HIV‐SIDA Actividades Principais
No Indicadores Metas
5.3 Monitoria Financeira melhorada 66 % De recomendações das auditorias externas, cumpridas Pelo menos 80% das recomendações cumpridas Meta atingida Foi realizado, tendo ficado apenas situações de menor peso que têm a ver com a necessidade de corrigir desvios ao nível dos subprojectos com os respectivos implementadores 67 % De NPCS com acesso ao e‐SISTAFE e em funcionamento Pelo menos 80% dos NPCS funcionando no âmbito do e‐ SISTAFE Meta atingida Todos os NPCS funcionam integrados no E‐ sistafe
70 Relatório do MEGAS finalizado sob a coordenação da UGF Relatório elaborado Meta atingida Falta a sua aprovação formal que deverá condicionar a sua divulgação e institucionalização deste exercício. 5. Análise dos progressos e desafios principais Os progressos da resposta, a avaliar pelo desempenho do POA 2010, são assinaláveis. Mas, ao mesmo tempo, há uma série de desafios que deverão ser equacionados e confrontados no exercício de preparação e implementação do POA 2012.
Com efeito, quando se examina a execução das actividades programadas pelo POA 2010, torna‐se claro que algumas foram inviabilizadas — quiçá não intencionalmente — pela decisão de cessar o financiamento ao CNCS para alocá‐lo aos subprojectos. Além de inviabilizar certas actividades, a transferência da responsabilidade de financiamento do CNCS para outros sem criar ou identificar um agente executivo adequado para tal criou inadvertidamente uma série de problemas estratégicos e operacionais:
• Agudizou o problema de sistemas diversos;
• Desautorizou as Comissões de Avaliação de Projectos ao nível das províncias e, então, e criou obstáculos para o desenho e execução de estratégias provinciais para o combate ao HIV e SIDA, incluindo a priorização da alocação de recursos por tipo de intervenção e área geográfica;
• Eliminou a alavanca financeira que o CNCS tinha para exigir a cooperação dos subprojectos, o que minou não somente a monitoria e avaliação (M&A) mas também a capacidade do CNCS de exercer a sua função de coordenador da luta contra o HIV e SIDA; e
• Fugiu do princípio dos Três Uns (Um único Órgão de Coordenação, Um único Plano Estratégico Nacional e Um único Plano de Monitoria e Avaliação) adoptado pelo PEN III
A retirada do CNCS da gestão de subvenções, bem como o início do seu realinhamento deverão merecer esclarecimentos mais profundos ao nível dos Núcleos Provinciais de Combate ao SIDA. A capacitação destes actores inseridos no quadro do desenvolvimento institucional em curso deverá ser reforçada. Na fase actual, constatou‐se um esforço enorme ao nível das províncias do Sul e Centro do País na elaboração e implementação de planos de desenvolvimento organizacional, o que não só melhorou a interpretação do mandato e missão organizacionais, mas ao mesmo tempo permitiu maior contacto e orientação para o nível do distrito. É certo que a descentralização para o Distrito exigirá maior clarificação do figurino normativo a adoptar para a gestão da resposta multi‐sectorial, mas enquanto isso, o trabalho de activação e apoio dos comités de coordenação multi‐sectorial, que são arranjos informais e funcionais localmente, mostrou‐se uma acção estratégica bem conseguida.
Se durante muito tempo, o CNCS alimentava maioritariamente a sua base de dados através de projectos financiados pelos recursos do seu fundo comum, há agora toda a necessidade e oportunidade de divulgar o novo Sistema de Monitoria e Avaliação que se predispõe a captar todo o fluxo de informação sobre projectos e programas de combate ao SIDA em implementação no país, independentemente da fonte de financiamento. É, efectivamente, aqui onde o Sistema de Monitoria e Avaliação do CNCS logrará resultados, dando mostras de que a função de coordenação é sentida a todos os níveis.
No âmbito da comunicação, há um esforço notável de reorganização e dinamização dos grupos funcionais ao nível central, provincial e distrital. As campanhas multimédia sobre prevenção tendo como centro de atenção as parcerias sexuais múltiplas e concomitantes são disso exemplo. Este esforço deverá ser incentivado e continuado, não só por a função de comunicação ser instrumental no mandato actual do CNCS, mas sobretudo por permitir maior descentralização e discussão local dos principais factores que contribuem para o alastramento ou contenção da epidemia, numa verdadeira implementação da recomendação da moçambicanização das mensagens.
A coordenação dos esforços da resposta ao nível da base exige que os actores provenientes das organizações comunitárias da base sejam estimulados. A retirada da função de gestão de subvenções no CNCS trouxe um vazio que ainda não está resolvido nos estímulos financeiros e em toda a coordenação junto destes actores chave actuando na esfera familiar. O CNCS não deverá perder de vista a necessidade de continuar a mobilizar parceiras com vista ao desenvolvimento de capacidades para estes actores. Igualmente, não se pode perder de vista a necessidade de se encontrar um melhor figurino de financiamento para as OCBs.
6. Conclusões e sugestões: principais pontos de atenção e propostas de acções
A leitura dos indicadores e do exercício de implementação do POA ao longo do ano de 2010 mostra claramente que, a despeito de avanços significativos conseguidos, o alinhamento do CNCS nas suas novas funções ainda está numa fase primária.
Para lograr maiores progressos, é imperioso que se proceda à aprovação do estatuto orgânico o CNCS, que condiciona uma série de acções institucionais que darão sequência e progressão ao alinhamento. Igualmente e na sequência disso, atendendo que a função de gestão de subvenções já não está inserida no novo mandato da coordenação e facilitação da resposta, é de esperar que logo que o estatuto orgânico estiver aprovado, o CNCS inicie o processo de análise funcional e revisão dos seus perfis, incluindo a apresentação de cenários sobre a forma como estrutural e funcionalmente a organização se apresentará para melhor cumprir o seu mandato.
A capacitação dos actores e a descentralização das acções de coordenação e facilitação da resposta até ao nível do distrito, permitindo maior inserção da transversalidade do HIV e SIDA nos PESODS, entre outros instrumentos de planificação e priorização localmente usuais, constitui um desafio que o CNCS deverá levar avante para uma progressão geográfica da resposta a todos os níveis.
A componente de monitoria e avaliação deverá orientar‐se para de forma objectiva acompanhar e documentar os desenvolvimentos da resposta ao HIV e SIDA no país, permitindo em cada ano uma leitura sobre o estágio da epidemia e da resposta.
A implementação do PEN III e da estratégia de Aceleração da Prevenção, em como o acompanhamento circunstancial dos desafios que as organizações enfrentam no terreno, deverá permitir ao CNCS encontrar melhores abordagens de facilitação e catalisação da resposta, trazendo‐se sempre à atenção das lideranças e do Conselho Directivo do CNCS matérias críticas e de grande relevância sob o ponto de vista de tomada de decisões, de orientação estratégica e de toda a advocacia a ser feita a vários níveis sobre a importância do envolvimento de todos na luta contra o HIV e SIDA. A comunicação e advocacia deverão continuar de forma estratégica a impulsionar maior conhecimento sobre as abordagens de resposta ao HIV e SIDA, trazendo ao conhecimento da população menagens de esperança, mas apelativas sobre comportamentos adequados em matéria da sexualidade, bem como de não discriminação e estigmatização de PVHS. 7. Recomendações a. Coordenação, Apoio e Capacitação Com vista a reforçar a área de coordenação da resposta a todos os níveis, urge a necessidade: • Reactivar e/ou criar (onde não exista ) Grupo Técnico de Apoio a Resposta Nacional e Provincial. • Garantir uma regularidade dos encontros do Conselho Directivo, nos quais se deve assegurar que haja tomada de decisões à volta das deliberações saídas dos consensos técnicos de coordenação, como exemplo do Fórum de Parceiros, que suportem o acompanhamento do progresso e análise da Resposta Nacional;
• Padronizar e/ou harmonizar os Termos de Referência que irão reger o funcionamento das comissões Distritais, capacitar continuamente as áreas de suporte do PENIII (coordenação, comunicação, M&A, procurment, gestão e na área financeira) contribuindo deste modo para garantir uma resposta integrada a nível distrital e provincial;
• Continuar com o processo de integração do HIV e SIDA nos PESODS e orçamentação, seguindo a orientação já emanada pelo Ministério de Planificação e Desenvolvimento ‐ MPD;
• Garantir a existência de um documento de obrigatoriedade de submissão de informação e alimentação do Sistema de Informação da Resposta Nacional de Moçambique – SIRNM e reforço dos grupos de coordenação.
b. Comunicação
De modo a garantir uma coordenação e fortalecimento das actividades de Comunicação para mudança de comportamento há necessidade de:
• Sistematizar o Grupo Técnico de comunicação a todos níveis;
• Melhorar e reestruturar a efectivação da campanha do ATS, garantindo uma coordenação e cometimento entre os actores chave de modo a que esta se realize; • Realizar o lançamento formal, oficial, actualização e alimentação constante do website; c. Monitoria e Avaliação Com vista ao garante da implementação do Plano Integrado e Orçamentado de Monitoria e Avaliação nas suas 12 componentes recomenda‐se: • Acoplar a parte temática à alocação financeira clara e efectiva para a Monitoria e Avaliação; • Alinhar os indicadores dos sectores e implementadores chave aos indicadores do Sistema de
M&A do PENIII ;
• Lançar oficialmente e divulgar o Sistema de Monitoria e Avaliação do PENIII (SM&A do PENIII); • Actualizar urgentemente a Agenda Nacional de Pesquisas, com definição clara e periodicidade
de realização de estudos e pesquisas que suportam a análise e entendimento da dinâmica da epidemia no nosso país, para a tomada de decisão tendo como base evidências. • Aprovar e disseminar do MEGAS. d. Capacitação e Desenvolvimento Institucional Para o reforço da capacidade técnica e institucional para uma mais efectiva a todos níveis recomenda‐ se:
• Definir e aprovar urgentemente o Estatuto Orgânico e Regulamento Interno do CNCS, sua disseminação e implementação;
• Estabelecer um sistema unificado de comunicação interna.
e. Gestão e Monitoria Financeira
Com vista a garantir a orientação efectiva na utilização dos fundos destinados ao HIV e SIDA, recomenda‐se: • Encerrar os processos dos subprojectos; • Gestão Financeira estar mais envolvida no processo de realização do relatório do MEGAS e sua disseminação. 8. Recomendações saídas da Análise do Desempenho dos Parceiros • Com vista a uma maior contribuição de modo a alavancar uma resposta mais efectiva, que irá assegurar a implementação do PEN III, insta‐se os Parceiros e o CNCS a envidarem esforços e cometimento para que se proceda ao custeamento, aproveitando a oportunidade para identificar as lacunas de financiamento e confirmar o apoio para o financiamento da implementação do PEN III por todos os parceiros relevantes. Esta actividade deve ser realizada até ao 4º trimestre de 2011; • Os Parceiros devem apoiar a finalização do processo de actualização do quadro de M&A para o PEN III e utilizar a discussão e aprovação do PENIII, para definir a melhor forma de apoiar a M&A no país, reforçar a capacidade de M&A do CNCS, reforçar a cooperação e a clareza das principais funções e responsabilidades entre as instituições públicas na M&A (MISAU, INE, CNCS) e rever o papel do GT de M&A no âmbito do Fórum de Parceiros; • Os Parceiros devem colocar maior
ênfase na necessidade de assegurar que todos os programas e estratégias de HIV e SIDA são revisados e validados pelo CNCS – o que deverá abranger a sociedade civil e as organizações não governamentais. Os parceiros precisam de articular claramente as expectativas da revisão dos programas e estratégias de resposta ao HIV e SIDA com o CNCS e facultar os ficheiros dos programas e estratégias dos parceiros (por exemplo, numa base de dados). • Os parceiros devem fazer a indicação antecipada da disponibilidade financeira para planificação da Avaliação Conjunta, garantindo o seu envolvimento em todo processo. Prestação de Contas • Rever o Memorando de Entendimento (MdE) para garantir que o mesmo está em sintonia com o contexto actual. • Melhorar a monitoria efectiva da implementação das provisões do MdE. • Assegurar a realização de reuniões de gestão entre CNCS e os signatários em conformidade com o MdE. Harmonização da administração, relatórios técnicos e financeiros
• Todos os novos parceiros e funcionários do CNCS devem ser orientados sobre as disposições do Código de Conduta, de modo a terem consciência e clareza sobre as suas responsabilidades. Isto deve ser feito pelo CNCS (através de acompanhamento regular) e pelos Parceiros (através do PPF);
• O CNCS deve acompanhar e requisitar relatórios financeiros dos parceiros se estes não forem fornecidos;
• Um sistema de captura e monitoria das actividades da sociedade civil – tanto as ONGs internacionais e nacionais da sociedade civil – deve ser estabelecido. O mesmo deve incluir expectativas e responsabilidades claras na área de alinhamento à resposta nacional (a não ser que surgem evidências emergentes em áreas não identificadas ou claramente articuladas no âmbito do PEN III), fornecer relatórios de retroinformação e partilha transparente de informações sobre a programação, M&A, financiamento, desembolsos e planos financeiros;
• Os parceiros multilaterais devem apoiar a sociedade civil e o CNCS para garantir que estas modalidades sejam implementadas, o que incluiria desenvolver um CdC adicional ou incluir os parceiros da sociedade civil no CdC existente.
Transparência
• Há necessidade de continuar os esforços na construção de confiança entre os parceiros e o CNCS a fim de garantir maior transparência. Como a transparência é uma responsabilidade mútua, esta apenas pode ser alcançada através de discussões abertas e francas por ambas as partes e vontade de dar e receber críticas construtivas para garantir que hajam expectativas claras e bem articuladas de ambos os lados;
• Os Parceiros e CNCS precisam de desenvolver um sistema de prestação de contas referente ao financiamento fora do orçamento (ver sugestões acima sobre a sociedade civil, bem como as informações disponíveis no (odamoz.org.mz);
• A sociedade civil (ONGs nacionais e internacionais) e o CNCS precisam de desenvolver mecanismos de diálogo coerente e sistemático. A plataforma da sociedade civil e o processo de descentralização oferecem possibilidades para que isso aconteça. Código de Conduta • O Código de Conduta revisado deve ser discutido e aprovado como uma prioridade imediata. A assinatura do novo CdC apresenta a oportunidade de reorientar os Parceiros e o CNCS sobre os princípios acordados e as respectivas responsabilidades; • Os novos Parceiros e funcionários devem ser sistematicamente convidados a assinar e a serem orientados sobre as disposições do CdC. Fórum de Parceiros • O CNCS e Parceiros precisam de assumir o compromisso de tornar o FP mais relevante e mais orientado para resultados. Isto pode ser feito através da oportunidade da revisão anual. A reunião da revisão anual de 2010 devia a) rever os objectivos do FP para chegar a um acordo sobre se o mesmo ainda é relevante ou não e o que tem de ser mudado/adaptado/adicionado;
b) as lacunas, assuntos, problemas, desafios e áreas emergentes identificadas a serem desenvolvidas dentro do Plano de Acção para 2011.
• O CNCS e o FP precisam de racionalizar os grupos de trabalho (e de os reduzir se possível) em função da sua relevância, e de colocar mais responsabilidade nos líderes e Co‐líderes dos grupos de trabalho por forma a assegurar o seu funcionamento, alcance dos resultados definidos e apresentação eficaz dos seus relatórios;
• A agenda do FP deve ser estruturada em segmentos claros referentes à partilha de informação, perspectivas actuais e emergentes, questões temáticas e/ou temas actuais de relevância, assuntos para a tomada de decisões, e acções a serem cumpridas com a
definição clara de por quem e estabelecimento de prazos. Os encontros têm de ser planeados e a agenda distribuída com antecedência;
• Há necessidade de se considerar seriamente a possibilidade do FP se reunir com menos frequência, i.e. bimensal ou trimestralmente e de se a) utilizarem mais os grupos de trabalho e outros mecanismos para se fazer o trabalho e b) reduzir o número de reuniões sobre a coordenação da resposta ao HIV e SIDA em que o CNCS e os seus Parceiros precisam de gerir e participar; • Um comité técnico para rever o CdC, FP, PPF e Grupos de Trabalho devem ser criados com o CNCS e parceiros chave;
• Apoio deve ser prestado à sociedade civil (nacional e internacional) para analisar como esta pode melhorar a sua coordenação e participação no Fórum de Parceiros. Os mecanismos existentes podem ser facilitados para abordar esta questão, tal como a plataforma da sociedade civil para a operacionalização de PEN III, NAIMA etc. A sociedade civil também tem de ser questionada sobre a sua própria responsabilização em relação à resposta nacional ao SIDA; tal acção pode assumir a forma desta assinar o Código de Conduta revisado ou do desenvolvimento de um CdC específico para a sociedade civil. Pré Fórum de Parceiros • A pertinência do PPF deve ser avaliada em função das questões acima abordadas, na forma de uma avaliação conjunta depois da avaliação anual do CNCS de 2010; • Se ainda se considerar relevante, sugere‐se a realização de encontros menos frequentes (como sugerido nas recomendações para o FP), assim como uma reflexão sobre como tornar as reuniões mais relevantes, definição de resultados anuais a serem alcançados, revisão dos objectivos e redefinição dos membros do PPF;
• Considerar‐se seriamente se outros mecanismos de coordenação existentes podem absorver o papel do PPF, tal como proposto acima;
• Como acima referido, continuar a prestar o apoio já iniciado pela ONUSIDA à sociedade civil (nacional e internacional) na definição de como esta se pode melhor coordenar entre si.