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A política externa dos Estados Unidos e Brasil em relação à América do sul de 2000 a 2010

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA FELIPE JHONATAN ALESSIO

A POLÍTICA EXTERNA DOS ESTADOS UNIDOS E BRASIL EM RELAÇÃO À AMÉRICA DO SUL DE 2000 A 2010: UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE

SEGURANÇA

Tubarão 2011

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA FELIPE JHONATAN ALESSIO

A POLÍTICA EXTERNA DOS ESTADOS UNIDOS E BRASIL EM RELAÇÃO À AMÉRICA DO SUL DE 2000 A 2010: UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE

SEGURANÇA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial de obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais.

Professor Orientador: Valdir Luiz Schwengber, Dr.

Tubarão 2011

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FELIPE JHONATAN ALESSIO

A POLÍTICA EXTERNA DOS ESTADOS UNIDOS E BRASIL EM RELAÇÃO À AMÉRICA DO SUL DE 2000 A 2010: UMA ANÁLISE DAS POLÍTICAS DE

SEGURANÇA

FOLHA DE APROVAÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL foi julgado adequado à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais e aprovado em sua forma final pelo curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, SC, 17 de novembro de 2011.

Banca Examinadora:

Nome do (a) orientador (a): Prof Valdir Luiz Schewengber, Dr, – UNISUL

Nome do (a) examinador (a) 1: Profa. Gisele Vargas , Msc – UNISUL

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AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus por ter me auxiliado nesta caminhada

A meus familiares e amigos que estiveram contribuindo de maneira positiva para minha formação. A minha namorada Samara por ter me auxiliado com a metodologia do trabalho, o que sabemos é uma tarefa nada fácil, e requer paciência.

Aos meus educadores, o Professor Dr. Valdir Luiz Schwengber, que não mediu esforços para me proporcionar ensinamentos, ao Professor Carlos Ghislandi pelos conhecimentos repassados com sua didática exemplar de aula, e a Professora Terezinha por estar presente com sugestões positivas a este trabalho. Deixo registrado além do meu agradecimento, o meu respeito e, sobretudo o reconhecimento e a certeza da relevância destes; porque é no educador que está a fonte primária que nos alimenta.

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“There is a growing instability along the Andean Ridge and beyond; this is a clarion call for Brazilian leadership in security cooperation. Without it, there will be greater instability throughout region, no matter what the United States might do.” (Nuñez, 2002)

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RESUMO

Esta monografia tem como objetivo analisar os aspectos divergentes das políticas de segurança do Brasil e Estados Unidos em relação à América do Sul de 2000 a 2010. Trata-se de um tema que visa identificar as divergências entre as políticas de segurança realizadas por estes dois países em relação à América do Sul durante o período destacado. Uma vez identificadas às diferenças entre essas políticas, realiza-se a análise dos interesses e reflexos desses para os dois países. Os objetivos específicos são: estabelecer um entendimento acadêmico sobre o termo segurança e securitização; destacar quais as ideologias políticas adotadas por Brasil e EUA na formação de suas políticas de segurança; identificar as ações e políticas desenvolvidas por Brasil e EUA em relação à América do Sul no período de 2000 a 2010; analisar as divergências e semelhanças entre a política desses dois países com relação à América do Sul; estabelecer recomendações na área de Política de Segurança aos governos brasileiro e estadunidense através da analise dos dados deste projeto. Esta monografia foi desenvolvida por intermédio de uma pesquisa bibliográfica e documental, e possui uma abordagem qualitativa descritiva. Encontram-se três grandes divergências em relação à política de segurança do Brasil e EUA para a América do Sul: (1) Acordos Bilaterais de livre comércio versus Área de livre comércio da região Sul-americana; (2) Utilização da dimensão militar e integração regional da defesa; e (3) Interpretações e ações sobre terrorismo.

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ABSTRACT

This monograph aims to analyze different aspects of security policies among Brazil and the United States in their relation to South America from 2000 to 2010. It is a theme that aims to identify the differences between the security policies made by these two countries in relation to South America during the period highlighted. Once identified the differences between these policies, we make an analysis and reflection of these interests for both countries. The specific objectives are: to establish an understanding of the academic terms as Economic security and securitization, which highlight the political ideologies adopted by Brazil and U.S. in shaping their security policies; identifying the actions and policies developed by the U.S. and Brazil in relation to South America in the period of 2000 to 2010; analyze differences and similarities between the politics of these two countries regarding the South America, to establish recommendations in the area of security policy to the governments of Brazil's U.S. and through the analysis of this data project. This paper has been developed through a literature review and documentary, and has a qualitative descriptive approach. There are three major differences over security policies of the U.S. and Brazil towards South America: (1) Bilateral Free Trade vs. Free Trade Area of the South American Region, (2) Use and integration of the military dimension for regional defense, and (3) interpretations and actions on the concept of terrorism.

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LISTA DE SIGLAS

EUA – ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

UNISUL – UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

MERCOSUL – MERCADO COMUM DO SUL

TIAR – TRATADO DE ASSISTÊNCIA RECIPROCA DAS AMÉRICAS URSS – UNIÃO DAS REPUBLICAS SOCIALISTAS SOVIÉTICAS NATO – NORTH ATLANTIC TREATY ORGANIZATION

PD – PRESIDENTIAL DIRECTIVE

CIC – CENTRO DE INTELIGENCIA CONJUNTA

NSSUS – NATIONAL SECURITY STRATEGY OF UNITED STATES NDS – NATIONAL SECURITY STRATEGY

ALCA – ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS ALCs – ACORDOS BILATERAIS DE LIVRE COMÉRCIO ACI – INICIATIVA ANDINA DE COMBATE AS DROGAS USSOUTHCOM – UNITED STATES SOUTHERN COMMAND DCA – DEFENSE COOPERATION AGREETIMENT

UNASUL – UNIÃO DAS NAÇÕES SUL AMERICANAS CDS – CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO

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LISTA DE TABELAS

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SUMÁRIO AGRADECIMENTO ... 4 RESUMO ... 6 ABSTRACT ... 7 LISTA DE SIGLAS ... 8 LISTA DE TABELAS ... 9 1 INTRODUÇÃO ... 12

2 DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL ... 15

2.1 A FORMAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL E O CARATER ANÁRQUICO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ... 15

2.2 GLOBALIZAÇÃO: A INTEGRAÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL E SEUS NOVOS ATORES ... 18

2.3 IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL ... 21

3ASEGURANÇANACIONALEASTEORIASDESEGURANÇAINTERNACIONAL ... 23

3.1 INSERÇÃO DO TERMO SEGURANÇA INTERNACIONAL NAS GRANDES CORRENTES TEÓRICAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS ... 24

3.2 O CONCEITO DE SEGURANÇA INTERNACIONAL NO PÓS-GUERRA FRIA ... 26

3.3 PROBLEMAS E DESAFIOS DA SEGURANÇA INTERNACIONAL ... 28

3.3.1 Dimensão político-militar... 28

3.3.2 Dimensão político-econômica ... 29

3.3.3 Dimensão político-societal ... 30

3.3.3.1 Terrorismo ... 31

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3.3.4 Dimensão político-ambiental ... 32

3.4 A AGENDA DE SEGURANÇA ... 33

3.5 SECURITIZAÇÃO: A TEORIA EM PRÁTICA ... 34

4 AS DIVERGÊNCIAS DAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA DOS EUA E DO BRASIL PARA A AMÉRICA DO SUL: DE 2000 A 2010 ... 35

4.1 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA ESTADUNIDENSE: PREOCUPAÇÕES NADA RECENTES ... 35

4.1.1 A política de segurança dos Estados Unidos para a América do Sul e as três dimensões de segurança: de 2000 a 2010 ... 41

4.1.1.1 A dimensão político-econômica: problemas e estratégias ... 41

4.1.1.2 A dimensão político-societal: problemas e estratégias ... 44

4.1.1.3 A dimensão político-militar: problemas e estratégias ... 46

4.2 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA BRASILEIRA: ASCENSÃO DE UM LÍDER REGIONAL ... 48

4.2.1 A política de segurança do Brasil para a América do Sul e as três dimensões de segurança: de 2000 a 2010 ... 51

4.2.1.1 A dimensão político-militar: problemas e estratégias ... 52

4.2.1.2 A dimensão político-econômica: problemas e estratégias ... 54

4.2.1.3 A dimensão político-societal: problemas e estratégias ... 56

4.3 AMIGOS, AMIGOS, NEGÓCIOS À PARTE: REFLEXÕES SOBRE AS DIVERGÊNCIAS ... 59

5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ... 63

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1. INTRODUÇÃO

A política internacional tem como principal ator o Estado Nacional Moderno. Os mesmos são organismos internacionais dotados de soberania, portanto define-se que o sistema internacional tem caráter anárquico, no qual os atores estão em uma constante busca pelo poder.

O estudo da política internacional, assim como a organização do sistema internacional é atual. Levando em consideração milênios de existência de organizações humanas, o Estado é um órgão novo, de controle social e ao mesmo tempo representa os interesses nacionais de forma coesa e soberana.

Para atingir a proteção dos interesses nacionais assim como a segurança da população os países desenvolvem políticas, e por meio delas efetuam ações que possam ser realizadas seguindo um planejamento interno e externo. Essas ações, ideologias e expectativas são definidas por várias políticas nacionais, dentre estas, está a que iremos abordar no trabalho: a política externa, a qual tem por objetivo representar os interesses nacionais na esfera internacional. Esta política é desenvolvida sobre temas como: economia, meio-ambiente, integração regional, migração e imigração, políticas energéticas, segurança, e outros temas que são vitais ao país em questão.

Os Estados Unidos da América (EUA), desde sua formação como Estado-nação, nasceu com diversos problemas de segurança. A influência das potências européias nas colônias americanas era a prioridade número um no período colonial das Américas. Após a segunda guerra passa-se a lutar contra o comunismo na América Latina e outros países, definidas como uma ameaça à sociedade e ao Estado democrático americano. Por fim, após o 11 de setembro de 2001 os grupos terroristas recebem destaque como ameaça à segurança nacional.

Neste caso, as autoridades norte-americanas justificam que os mesmos possuem redes de suporte na América do Sul. Portanto há uma atenção especial ao Brasil e aos países da região na luta contra esta ameaça eminente, que está ligada diretamente ao narcotráfico.

Práticas multilaterais são comuns neste tipo de circunstâncias, nota-se que mesmo com todo poderio econômico e bélico dos Estados Unidos, o mesmo necessita de apoio da

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comunidade internacional, ou parte dela, no combate ao terrorismo e suas fontes financiadoras.

Os Estados são soberanos, não permitindo violações de territórios em busca de grupos terroristas e seus fomentadores sem sua autorização. Para evitar conflitos diplomáticos, buscam-se parcerias com os países. Com o intuito de combater estas organizações, o Brasil e os EUA desenvolvem programas que auxiliam na securitização da América do Sul.

Portanto, o tema deste relatório é a política externa dos Estados Unidos e Brasil em relação à América do Sul de 2000 a 2010: uma análise das políticas de segurança. A linha de pesquisa está situada em políticas públicas, multilateralismo e emancipação humana.

Propõe-se um estudo exaustivo sobre as divergências das políticas de segurança dos Estados Unidos e do Brasil em relação à América do Sul no período de dez anos, correspondente de 2000 a 2010. Desta forma tem-se como problema de pesquisa: Como as

políticas de segurança dos EUA e do Brasil divergem em relação à América do Sul de 2000 a 2010?

O objetivo geral desta monografia é analisar os aspectos divergentes entre as políticas de segurança do Brasil e Estados Unidos em relação à América do Sul de 2000 a 2010. Os objetivos específicos são: estabelecer um entendimento acadêmico sobre o termo segurança e securitização; destacar quais as ideologias políticas adotadas por Brasil e EUA na formação de suas políticas de segurança; identificar as ações e políticas desenvolvidas por Brasil e EUA em relação à América do Sul no período de 2000 a 2010; analisar as divergências e semelhanças entre a política desses dois países com relação a América do Sul; propor recomendações na área de Política de Segurança, acadêmica e à sociedade em geral.

Em se tratando de um tema que visa destacar a relação de política de segurança entre Brasil e Estados Unidos em relação à América do Sul, o modelo de pesquisa utilizada foi a descritiva, que visa descrever as características de determinado fenômeno, ou população ou a análise da relação entre variáveis sem manipulá-las. É uma análise sistemática das condições atuais e das necessidades geradas pelo problema.

Quanto à forma de abordagem do problema, o método de pesquisa utilizado foi o qualitativo. Compreende-se que este método analisa as percepções dos sujeitos pesquisados sobre o mundo real. Neste tipo de método, há um vínculo indissociável entre mundo real e

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sujeito, de tal maneira que não pode ser traduzido em números, podendo ainda existir múltiplas realidades ao invés de apenas uma.

O método de abordagem realizado nesta pesquisa foi o método dedutivo. Buscou-se explicar o conteúdo das premissas, mediante a um raciocínio em ordem descendente, partindo de uma análise geral para se concluir uma proposição particular.

A realização da coleta de dados elaborou-se através de pesquisa documental e bibliográfica. Define-se que a pesquisa documental é uma análise de documentos primários que não passaram por nenhum processo de tratamento analítico. São documentos governamentais, de caráter oficial, arquivos particulares, representações gráficas, livros didáticos e outros objetos que podem ser utilizados.

Já a pesquisa bibliográfica decorre de fontes secundárias, materiais que já foram publicados e receberam algum tratamento analítico. Estes materiais podem ser encontrados em revistas, periódicos científicos, relatórios de pesquisa, monografias, livros, dissertações, etc. A pesquisa bibliográfica requer competência do pesquisador em realizar a filtragem dos conteúdos e estabelecer parâmetros de análises na defesa de sua tese.

Para realização da monografia efetuou-se a seleção dos dados documentais e bibliográficos encontrados. Posteriormente as leituras seguidas de fichamentos, organização e classificação dos dados levantados para então fazer a análise dos dados e redação da monografia.

Esta monografia está organizada em quatro capítulos: (1) referente a introdução do tema e objetivos propostos; (2) esclarecimento dos principais conceitos utilizados no trabalho e a perspectiva histórica dos mesmos; (3) levantamento e análise dos dados obtidos com esta pesquisa, relacionadas as ideologias de segurança dos EUA e do Brasil e suas políticas para a América do sul; (4) conclusão e sugestões para a comunidade acadêmica e política.

Os resultados obtidos neste estudo foram apresentados e analisados em forma de monografia para a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II do curso de Relações Internacionais da UNISUL.

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2. DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL

Antes de começarmos a debater sobre as teorias existentes de formação e organização do sistema internacional, vale ressaltar a famosa frase de Robert Cox: “toda teoria é criada por alguém e para beneficio de alguém” (1970 Apud MESSARI e NOGUEIRA, 2006, p. 112), portanto a mais neutra análise das relações internacionais estará composta de tentativas para estabelecer uma verdade definitiva. Elaboramos este capítulo através da interpretação das principais teorias de Relações Internacionais1, ressaltando seus valores e ideias, porém sem apegar-se a classificar seus argumentos. Nosso trabalho é expor para o leitor as interpretações sobre o tema em questão, que possuem maior relevância no cenário acadêmico de Relações Internacionais.

2.1 A FORMAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL E O CARÁTER ANÁRQUICO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Para Capela (2004) o sistema internacional refere-se a um padrão de atividades ou de arranjos que caracterizam o comportamento mútuo entre os Estados Soberanos2. O escritor identifica as atividades política, diplomática, legal, econômica e militar desenvolvida pelos Estados como forma de promover ordem e regulação das relações internacionais.

Segundo Castro (2006) a inserção do Estado Soberano como mecanismo central no sistema internacional data do Tratado de Paz de Westphalia de 1648. Neste ano termina a guerra entre a investidura da autoridade político-católica dos Habsburgos e as correntes protestantes dos príncipes germânicos. O sistema internacional passa a ser centrado no Estado e para o Estado. Outra conquista do tratado foi à efetivação da engrenagem político-orgânica

1 Para Nogueira e Messari (2006) destacam-se entre as correntes teóricas de Relações Internacionais: O realismo,

liberalismo, construtivismo, teoria crítica, marxismo, pós-modernos, feminismo e pós-colonialismo.

2

Os Estados Soberanos tem sido definidos através de três elementos consecutivos: o povo, o território e a soberania. Os mesmos possuem o poder de criar e aplicar direito, num território e para um povo. (BOBBIO, 2000, pg 94)

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do Estado nacional, ou seja, a autoridade papal, o sacro império romano ou até mesmo o senhorio do contrato vassalo-feudal não mais iriam constituir o cerne das relações internacionais após o Tratado de Paz de Westphalia.

O sistema internacional, apesar de possuir outros atores como as organizações internacionais e empresas transnacionais, ainda é em suma organizado de maneira estatocêntrica3. Portanto, Castro (2006) em uma interpretação de caráter realista4, leva em consideração a descrição de Thomas Hobbes sobre o “estado de natureza5” em que os Estados vivem onde a violência e desigualdade imperam alimentadas pelo interesse nacional. Hobbes revela que os Estados vivem isolados e em luta permanente, vigorando a situação de guerra entre todos.

Destaca-se que para os realistas e suas novas vertentes o sistema internacional encontra-se em anarquia, ou seja, a falta de um governo mundial capaz de ordenar as relações entre os mais diversos Estados Nacionais. A existência de muitos Estados no plano internacional, buscando realizar interesses nacionais, aproximou a noção de anarquia internacional da ideia de desordem. Porém a análise dos Estados Nacionais demonstrou haver uma hierarquia de recursos de poder militar, econômico, financeiro, tecnológico que caracterizavam os países em grandes, médias e pequenas potências. A essa hierarquia, portanto, denominou-se ordem (LESSA e OLIVEIRA, 2006).

Em geral Lessa e Oliveira (2006) afirmam que esta ordem pode ser multipolar ou bipolar. Como exemplo da ordem multipolar cita-se o Concerto de Viena do século XIX. A questão bipolar pode ser esclarecida através da Guerra Fria, onde somente duas potências possuíam capacidades de decisões em nível global. Após a queda do muro de Berlim e final da Guerra Fria, analistas sugeriram que a ordem contemporânea seria unipolar. Esta definição foi contestada, pois, os Estados Unidos apresentam domínio na área militar, porém enfrentam forte concorrência na área econômica. Portanto define-se esta nova ordem unimultipolar, no qual os EUA representam o “uni” como sendo a superpotência, e países como a Rússia, China, Japão, e Índia representam o “multi”, definidas como grandes potências.

3 Para Castro (2006) este termo é utilizado para definir a organização do sistema internacional após o tratado de

Westphalia. O Estado-nacional é o ator principal desta nova organização, pois detêm o controle em seus assuntos internos e independência perante os assuntos externos.

4

Dentre os pensadores realistas podem ser encontradas cinco premissas comuns, a “centralidade do Estado, que tem por objetivo central sua sobrevivência, a função do poder para garantir esta sobrevivência seja de maneira independente (auto-ajuda) seja por meio de alianças, e a resultante anarquia internacional”. (MESSARI E NOGUEIRA, 2006, pg23).

5 Hobbes destaca a impossibilidade de estabelecer um Leviatã no plano internacional, a falta de um soberano

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Messari e Nogueira (2006) relatam que qualquer definição de ordem mundial depende da capacidade analítica de quem está debatendo o tema. Os autores afirmam que nunca teremos uma resposta completa sobre o termo correto a ser utilizado, pois os termos em si são reducionistas e por outro lado há o fato de estarem ligados ao campo do conhecimento humano, o da Ciência Política.

Mesmo sem um termo que possa definir corretamente a ordem internacional, Castro (2006) relata que o Poder6 representa a engrenagem do sistema internacional. Poder é um conceito multifacetado e em constante mutação que permite ao Estado ter seus interesses sobrepondo-os aos demais Estados pelo uso de ameaça ou mesmo de efetivação de conflitos armados.

Os Estados são observados como autores principais da política internacional. São autores racionais, ou seja, buscam maximizar o ganho reduzindo as perdas; buscam aperfeiçoar suas políticas, posições e interesses diante do constante choque de interesses das relações internacionais. A concorrência por poder não está limitada somente aos Estados. Existem outros atores internacionais que disputam fatia do mesmo. Estes atores podem ser definidos como os entes que exercem, influenciam ou amoldam direta ou indiretamente o sistema internacional (CASTRO, 2006).

Como observado, além de o sistema internacional ter um caráter anárquico, de concorrência constante entre os Estados, os mesmos estão sujeitos a enfrentar os interesses destes novos atores internacionais. Portanto, para sobreviver a este “estado de natureza”, os países desenvolvem políticas para atingir suas metas e garantir seus interesses vitais7 (MESSARI e NOGUEIRA, 2006).

Essas políticas podem ser de caráter interno ou externo. Política interna pode ser esclarecida como as ações propostas pelo Estado dentro de seu território na tentativa de garantir a paz e o desenvolvimento de sua nação, são exemplos as políticas de segurança, educacionais, crescimento econômico, ambientais, energéticas, etc. Já a política externa de um país baseia-se na valorização do espaço ou território como forma de exercer a hegemonia mundial. É o conjunto de objetivos políticos que um determinado estado almeja alcançar nas suas relações com os demais países do mundo. Sendo assim, política externa é um

6 Bobbio (2000) define o poder em três tipologias: o econômico, o ideológico, e o político.

7 Messari e Nogueira (2006) definem através da análise da corrente ideológica realista, que o interesse vital do

Estado é sua própria sobrevivência e permanência como ator, desta maneira é possível realizar suas duas funções precisas: manter a paz dentro de suas fronteiras e a segurança de seus cidadãos perante agressões externas.

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componente estratégico para o desenvolvimento e é definida pelo chefe de governo com o auxílio do ministro do exterior, os quais procuram planejar bem suas ações para proteger os interesses nacionais de um país, buscando prosperidade econômica e social (RODRIGUES; SILVA; VARGAS 2009).

2.2 GLOBALIZAÇÃO: A INTEGRAÇÃO DA ECONOMIA MUNDIAL E SEUS NOVOS ATORES

Mesmo possuindo tal poder de decisão descrito no capítulo anterior, os Estados enfrentam competições de outros tipos de atores. Para entender melhor que tipos de atores são esses, abordar-se-á uma perspectiva histórica do conceito de globalização e seus resultados na organização do sistema internacional.

Para Lessa e Oliveira (2006) a globalização deve ser entendida como um produto da expansão cada vez mais ampliada do capitalismo e da sociedade de consumo, numa sociedade moldada pelo fetichismo da mercadoria. Esta interpretação sobre o fenômeno possui um significado ideológico dentro de termos exclusivamente econômicos, privilegiando a eficácia e a competição. No entanto destaca-se que esta fragilização das fronteiras do Estado-nação proporcionada pela expansão econômica traz consigo mudanças de caráter geográfico, político, cultural e social. Portanto faz-se necessário ampliar este conceito que privilegia as ações econômicas, já que o termo globalização é abordado constantemente na tentativa de explicar as mudanças pós-modernistas em outras áreas do conhecimento8.

Além de sua dimensão institucional, a globalização é responsável direta por forjar ao longo dos séculos, as principais estruturas do nosso mundo contemporâneo (LESSA e OLIVEIRA, 2006).

Para Mello (1999), a evolução da economia como propulsora da globalização se dá principalmente no final do século XX, esse processo é caracterizado pela intensa mudança

8

Diante do impacto deste fenômeno de interconexão internacional na sociedade, nota-se um esforço, principalmente das ciências humanas na tentativa de gerar explicações ao processo. O termo globalização é fonte de calorosas discussões na sociologia, antropologia, direito, economia, filosofia e outros. (PUC-RIO, 2011)

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estrutural da economia internacional, com a influência crescente de transações e conexões organizacionais que ultrapassam a fronteira dos Estados.

Destacam-se entre os principais componentes dessa mudança: a globalização da produção e de comércio, ou seja, a produção de bens e serviços em mais de um país e segundo uma estratégia global de vendas voltada para o mercado mundial; e a globalização das finanças, onde os mercados financeiros globais têm desempenhado um papel importante na construção das estruturas e a dinâmica da emergente ordem político-econômica. Alguns autores consideram que é na área financeira que a globalização tem sido mais intensa; e, por último, uma mudança no processo de acumulação e produção de bens e serviços (MELLO, 1999).

Para Costa e Ladwig (2009) uma característica central deste processo capitalista é a eminência de uma economia desterritorializada, ou seja, as empresas podem produzir em um país, pagar seus impostos em outro e solicitar investimentos e subsídios de um terceiro país. Nota-se que o poder econômico concentrado nestas instituições exerce influência nas ações do Estados-nacionais, portanto, é valido perguntar: estariam os Estados deixando de serem os principais autores internacionais?

Abordando esta temática, Lessa e Oliveira (2006) revelam que o Estado não está em processo de desaparecimento, ainda atua como principal ator internacional, porém para o exercício de suas políticas nacionais, se faz cada vez mais necessário a dependência de outros Estados. (LESSA, OLIVEIRA 2006).

Castro (2006) auxilia na identificação e tipologia dos atores internacionais. Três vertentes podem ser destacadas: atores estatais, não-governamentais e individuais.

No que tange os atores estatais o pesquisador afirma que são organismos que possuem os estatutos formalmente constituídos no pleno exercício da summa potestas9. Podem ser atores supraestatais, quando os Estados criam personalidades jurídicas internacionais pela cessão, delegação ou renúncia de summa potestas, como exemplo podemos citar a Organização das Nações Unidas (ONU)10 e Mercado Comum do Sul

9 Termo em latim utilizado na Idade Média para referir-se ao Soberano, sinônimo de soberania. (SANTOS,

1993).

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Organização das Nações Unidas foi fundada em 1945 por 51 países, com objetivo de manter a paz e a segurança mundial. Atualmente conta com a participação de 192 estados membros que podem expor suas opiniões através da Assembléia Geral, Conselho de Segurança e outros comitês (UNITED NATIONS, 2011a).

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(MERCOSUL)11. Podem ser atores infraestatais, quando são denominadas regiões semi-autônomas, ou podem ser atores paraestatais grupos revolucionários guerrilheiros ou fundamentalistas (CASTRO, 2006).

Já os atores não-governamentais podem ser classificados em: de segundo setor ou de terceiro setor. O primeiro abrange as grandes corporações internacionais que visam a maximização do lucro e o aumento da competitividade internacional. Já o terceiro setor, são organizações não-governamentais de atuação em nível global, é a sociedade civil organizada (CASTRO, 2006).

Por último, Castro (2006) afirma que os atores individuais podem influenciar o sistema internacional através de sua atuação e história pessoal. Em sua maioria ressaltam os direitos fundamentais do homem e a necessidade de responsabilidade social e ecológica.

Diante deste leque de atores que influenciam o sistema internacional, nota-se um movimento de cooperação internacional, no sentido dos Estados garantirem sua segurança social e organização econômica. Com esta realidade estaríamos caminhando rumo à consolidação de uma sociedade internacional?

Lessa e Oliveira (2006) relatam que a formação de um governo mundial ainda está na esfera da utopia, sendo que a instituição que mais se aproximou de um governo mundial foi a ONU, a qual foi ignorada quando os EUA decidiram invadir o Iraque em 2003.

“é um dado próprio da nova ordem internacional. Os Estados Unidos tem um papel preeminente na manutenção das estruturas hegemônicas mundiais, mas não conseguem por si só estruturar uma nova ordem, que ainda se lhes escapa. A possibilidade real de contribuir para o fortalecimento das organizações internacionais e para o direito internacional foi substituída, principalmente após o 11 de setembro, por iniciativas unilaterais, que tornam o mundo mais instável”. (LESSA e OLIVEIRA, 2006, pg 13,14)

Este papel atribuído aos Estados Unidos de manutenção do status quo12 guiará as diretrizes da formação de sua política de segurança influenciando diretamente na relação de

11 São membros do Mercosul o Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. A organização caracteriza-se por uma

União Aduaneira, e fora reconhecida como personalidade jurídica internacional em 1994 com a adesão do Protocolo de Ouro Preto ao Tratado de Assunção de 1991. Atualmente a Venezuela está em processo de adesão, e Chile, Bolívia, Colômbia, Peru e Equador são Estados associados à instituição, tendo ainda o México como estado observador. (MERCOSUR, 2011)

12

Status quo pode ser definido como “o estado das relações existentes”, refere-se ao padrão de relações que prevalece nas relações internacionais. Para os conservadores mudança significa destruição da ordem social. Geralmente os discursos desses Estados são sobre estabilidade, ordem e outros valores como o direito

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poder entre os diferentes atores internacionais citados por Castro (2006). Os Estados Unidos é símbolo do capitalismo moderno, assim como da expansão das ideologias consumistas, portanto alvo número um de organizações legais e ilegais que desafiem a organização do sistema internacional.

2.3 IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL

A globalização comercial e financeira chegou à América do Sul como grande alternativa para o crescimento e estabilidade dos países da região. Inicialmente, as propostas que reduziriam substancialmente a influência do Estado nos setores da economia eram vistas com grande esperança, uma vez que o Estado permanecia como um dos grandes obstáculos para o crescimento econômico e problemas sociais sul-americanos. Acreditava-se também que tais reformas poderiam implantar valores democráticos, diminuir a repressão do Estado e da corrupção governamental. Porém, no final da década de 1990 as reformas políticas aplicadas pelos governos não somente contribuíram para a deterioração dos direitos sociais, como também abalaram as estruturas democráticas vigentes em muitos países da região (TEICHMAN, 2002).

Desde meados dos anos de 1990, este assunto é garantia de calorosos debates para gestores e governantes. Corsi (2008) relata que de modo geral o balanço das políticas neoliberais implantadas em 1980 é negativa:

“os modelos desenvolvimentistas [políticas do Consenso de Washington13] não

alcançaram esses objetivos [industrialização e uma inserção mais autônoma na economia mundial] e fracassaram rotundamente na superação da miséria e das desigualdades sociais históricas que marcam região. Também foram, em parte, responsáveis pelo agravamento da crise da dívida externa, da dívida pública e do processo inflacionário. As políticas neoliberais, que pretendiam dar uma resposta a internacional. Desde a 2° Guerra Mundial os EUA têm domínio do status quo nas relações internacionais. (EVANS; NEWNHAN, 1998)

13 O Consenso de Washington Surgiu em 1989 a fim de procurar um modelo mais estável, aberto e liberalizado

para os países da América Latina. Trata-se de encontrar soluções ao problema da dívida externa que atrasava o desenvolvimento econômico da região latino-americana e, ao mesmo tempo estabelecer um ambiente de transparência e estabilidade econômica. O nome Consenso de Washington refere-se tanto ao Congresso de Washington e aos autos cargos de sua administração, como as instituições financeiras internacionais e, as agências econômicas do governo norte-americano (BÉJAR, 2004).

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esses diversos problemas, também fracassaram e passaram a ser cada vez mais questionadas. Não cumpriram suas promessas de garantir expressivo crescimento econômico, inserção dinâmica na economia mundial e aumento do emprego e da renda. O período entre 1990 e 2003 foi caracterizado pelo baixo crescimento, pela instabilidade e pela vulnerabilidade externa” (CORSI, 2008, pg 12).

Nesta mesma linha, segundo Kacowicz (2008), esse entusiasmo na abertura de mercados na década de 1980 e 1990 reverteu-se na desintegração social de alguns países sul-americanos, especialmente os que aderiram de maneira fiel as políticas “made in Washington”, tornando os países extremamente dependentes da mobilidade do capital internacional, exportadores de matéria prima, consumidores de manufaturados e com autonomia reduzida perante as grandes potências. O resultado é a ascensão de movimentos populistas e de governos de esquerda na Argentina, Equador, Brasil, Venezuela, Bolívia, Paraguai e mais recente o Peru. Pode-se considerar este movimento político uma reação clara à globalização e às políticas incentivadas pelo governo estadunidense.

Além dos movimentos populistas, o regionalismo chama atenção na América do Sul. Kacowicz (2008) destaca que o regionalismo emerge como nova alternativa de globalização e compensação pelo atraso com as políticas neoliberais. É uma nova opção e ao mesmo tempo está incluso no processo de globalização em si, interpretando-o como um de seus componentes. Neste caso o regionalismo busca a auto-suficiência, em contraste com a integração mundial da economia. Motivações de oposição ao neoliberalismo do Consenso de Washington podem levar os diversos países da região sul-americana à cooperar na construção de esquemas de integração regional para: um caminho para maior integração; políticas de consolidação de mercados e economias de escala; ou como um meio para promover os interesses geopolíticos. O resultado prático desse regionalismo é observado através do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL).

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3 A SEGURANÇA NACIONAL E AS TEORIAS DE SEGURANÇA INTERNACIONAL

Para entender o que representa a palavra segurança em nível nacional e internacional, Castillo (2008) relata que a preocupação com a segurança acompanha o desenvolvimento das nações desde os seus primórdios, evidências históricas confirmam sua importância através dos trabalhos clássicos mais conceituados.

A interação entre diferentes povos ou nações cria a preocupação contra hostilidades de vizinhos. A busca por medidas de segurança, formação de pactos e alianças de poderio militar para dissuadir ameaças externas podem ser notadas nos escritos de Tucídides, sobre a guerra do Peloponeso ocorrida 400 anos antes de Cristo. Instrumentos coercitivos encontram-se repetidamente na história da humanidade (CASTILLO, 2008).

O termo segurança tem sido definido como a ausência de ameaças militares de origem externa à sobrevivência ou à soberania do Estado-nação em um sistema internacional anárquico. Esta é uma análise tradicional14 da questão, pois relatam que segurança é uma condição do Estado, a ser alcançada pelo Estado, através do uso dos instrumentos militares disponíveis (AMARAL, 2010).

Para Fidler (2011), a questão de segurança nacional tem sido abordada na mesma perspectiva, a qual o Estado se organiza para prevenir uma suposta violência de outro Estado a sua população e soberania, justificando assim a necessidade e o medo que o ser humano tem de sofrer qualquer tipo de violência física. Portanto, na visão tradicional de segurança nacional os Estados se comportam conforme a própria natureza humana.

Essas ideologias tradicionais têm sido criticadas arduamente, pois possuem uma visão demasiada sobre o militarismo e desconsideram outros problemas de ordem não-militar que afetam a segurança nacional. Estes problemas podem ser compreendidos por: segurança humana, segurança social, processos migratórios, mudanças climáticas, água e outros recursos naturais, energia, crime transnacional organizado, narcotráfico, tráfico humano, tráfico de

14 Entende-se por tradicional o conceito de segurança elaborado pelos pensadores da teoria realista de relações

internacionais. A qual assume uma concepção transpersonalista, ou seja, segurança vista como um bem essencial coletivo a ser alcançada por intermédio da ação estatal-militar. Neste sentido os assuntos militares constituíram a dimensão não só essencial como praticamente exclusiva da segurança, sendo que segurança e defesa são conceitos que se aproximam muito nesta visão tradicional. (FERNANDES, 2002)

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armas, segurança da saúde, segurança econômica, terrorismo, entre outros problemas de caráter regionais (BURGESS, 2007).

Nota-se que estes problemas de segurança já existiam em vários países, como a segurança energética, questões sociais, ambientais, etc. Porém o advento da globalização traz uma gama de novos problemas de segurança, que se agravam na medida em que a integração, a facilidade de comunicação e outros fatores tecnológicos ficam a disposição da população. É o caso dos grupos terroristas, narcotraficantes, processos migratórios, tráfico de armas e outras ameaças à segurança da população e suas instituições democráticas.

3.1 INSERÇÃO DO TERMO SEGURANÇA NAS GRANDES CORRENTES TEÓRICAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Assim como há teorias que tentam definir a organização do sistema internacional, ora aproximando-se dos realistas ou do oposto liberal, procura-se da mesma maneira, entender como está situado o termo segurança dentro das teorias de Relações Internacionais.

Rudzit (2005) afirma que a divisão ideológica da teoria de segurança internacional é baseada nos conceitos de poder ou de paz. Os estudiosos a favor da abordagem sobre o poder derivam suas análises da escola realista15 e os que estudam soluções através da paz estão associados à escola idealista16.

A primeira teoria sobre segurança é apresentada somente em 1950, pelo norte-americano John Herz. Ao sintetizar as premissas teóricas fundamentais da escola realista, Herz em sua noção de “Dilema de Segurança” afirma que a sociedade internacional é anárquica, não há autoridade superior que esteja apta a regular os eternos conflitos entre unidades em interação, ou seja, os Estados (AMARAL, 2010).

15 Dividida entre autores do realismo clássico, do neo-realismo, e realismo neo-classico. Para os realistas um ator

com suficiente poder e que atinja uma posição dominante conseguiria como resultado a segurança. Neste sentido, poder é um instrumento necessário à sobrevivência do Estado (MESSARI e NOGUEIRA, 2006)

16 Oriunda do pensamento iluminista, esta escola enfatiza a noção de direito natural, cooperação entre estados,

instituições e democracia. Para os idealistas ao se reduzir as ameaças internas de um Estado, reduz-se as ameaças ao sistema internacional como um todo. Portanto a segurança do sistema passa por uma análise holística do problema, com um enfoque na questão da guerra. Uma paz duradoura proveria segurança para todos (RUDZIT, 2005).

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Desta maneira, Vasconcellos (2007) destaca que por ser um sistema internacional de caráter anárquico, as relações que ocorrem entre Estados Soberanos, não possuem nenhum Estado ou órgão que, de forma legítima, estabeleça uma ordem ou hierarquia entre os países e suas decisões políticas, julgando-os de forma coesa.

Para Amaral (2010) a ocorrência da Segunda Guerra Mundial contribuiu de maneira substancial na ascensão da lógica da busca pela sobrevivência entre os Estados. E realistas como Hans Morgenthau e Kenneth Waltz tornam-se referências na teoria das relações internacionais. Vasconcellos (2007) afirma que Hans Morgenthau em conjunto com Raymond Aron compartilha da ideia de que não só o sistema internacional está em constante situação anárquica, mas também, a segurança só é obtida quando há a ameaça ou uso da força, decorrendo legitimidade ou não. Da mesma maneira, as decisões devem levar em conta o uso da razão, buscando a maximização ou manutenção do poder do Estado.

Outro pesquisador a destacar-se no campo da teoria realista é Kenneth Waltz. O mesmo afirma que se existe uma teoria das relações internacionais essa seria a de balança do poder. Entende-se através desta análise que o poder não representa um fim em si mesmo, somente um instrumento utilizado pelos Estados para assegurar sua posição no sistema internacional (AMARAL, 2010).

Desta maneira Amaral (2010) relata que em Waltz:

A meta última das unidades no sistema internacional é a maximização de sua própria segurança, independente de esta ser alcançada reforçando-se o equilíbrio de poder ou abalando-o. A segurança é o objetivo e o fim constante e a distribuição das capacidades materiais é a variável e o meio em que se altera e serve de parâmetro para o cálculo racional dos Estados auto-interessados no jogo de equilíbrio de poder. Em suma, a busca dos estados pela segurança é a determinante da estabilidade e da paz (AMARAL,2010,pg 52).

A visão realista era fortemente amparada pela bipolaridade da Guerra Fria, o Estado se reafirmava perante o reconhecimento dos inimigos e a extinção de ameaças. Entendia-se que a segurança internacional estava vinculada a utilização de forças militares, estratégias, pautadas no uso da força e centralizadas na figura do Estado (VASCONCELLOS, 2007).

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3.2 O CONCEITO DE SEGURANÇA INTERNACIONAL NO PÓS-GUERRA FRIA

Castillo (2008) observa que com o fim da Guerra fria surgiu passivamente uma nova ordem mundial, os Estados Unidos permanecem como única superpotência, acumulando poderes: militar, econômico, científico-tecnológico, cultural, e de soft power17. Frente a esses novos fenômenos, de expansão econômica e ideológica, a teoria realista, baseada no uso do poder e interesse, não condiz com a realidade transnacional que se observa.

Esta nova teoria ampliadora sobre segurança internacional, surge pouco antes do fim da bipolaridade. Podem ser observados trabalhos efetuados por teóricos nos anos 80 sobre a influência de novos fatores na manutenção da segurança internacional.

Diante de uma percepção de que as teorias clássicas teriam tornado inadequadas algumas análises de outros setores ou domínios além do militar, Richard Ullman faz uma redefinição do conceito de segurança, incluindo temas como a questão ambiental, o controle de recursos energéticos e grandes catástrofes. A mudança era apenas parcial, portanto Barry Bulzan tratou de apresentar cinco diferentes setores que poderiam ser pensados como fontes de ameaças: militar, político, econômico, societal e ambiental. A não hierarquização das questões de segurança elimina a teoria realista de high politics (de cunho militar) e low politics (focada sobre outras questões) (AMARAL, 2010).

Buzan, assim como o dinamarquês Ove Waever fazem parte da Escola de Copenhague18 e são os principais escritores a avançarem na reestruturação do campo dos estudos de Segurança Internacional. O caráter construtivista destes escritores destaca que a ideia de segurança é um conceito socialmente construído e adquire significados em contextos sociais particulares. (MUSUMECI, 2009)

Segundo Amaral (2008), analisando estes autores podemos resumir as principais ideias que informam a análise de segurança proposta pela Escola de Copenhague em três

17Termo elaborado por Joseth Nye Jr. É a capacidade de atrair aliados para atingir determinados interesses. Pode

ser traduzido como o poder brando, ou seja, é a habilidade política para influenciar direta ou indiretamente o comportamento de outros atores internacionais, utilizando de ferramentas culturais, e ideológicas. O autor cita que a utilização do soft power requer a aceitação do público em questão (audience), e muito das ferramentas utilizadas para tal não estão sobe total controle do governo. (NYE, 2004)

18A expressão foi criada em 1996 por Bill MacSweeney, serve de espaço para a integração e revisão coletiva dos

estudos efetuados individualmente, além de articular o desenvolvimento criativo no âmbito do Copenhagen Peace and Research Institute (COPRI) (AMARAL, 2008)

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pontos: (1) os setores, (2) os complexos regionais de segurança e (3) a teoria da securitização. No desenvolvimento destes temas, os nomes de Buzan e Wæver são mais uma vez cruciais: os dois primeiros pontos derivam do trabalho individual de Buzan, enquanto o último eixo se origina das reflexões metateóricas de Wæver.

Para Fernandes (2002), o conceito de segurança no pós-Guerra Fria passa a ser alimentado de novas concepções. O autor relata que estas mudanças são interpretadas por três grandes tendências: a concepção neo-realista (westfaliana); a nova tendência realista civilizacional; e a concepção pluralista-humanista.

Segundo Fernandes (2002), na concepção neo-realista (westfaliana) o Estado ainda é o referencial essencial da segurança, porém reconhece que a redução do problema de segurança à dimensão política e militar faz esquecer aspectos importantes desta temática, como a interdependência e o caráter sistêmico do conceito. Na outra abordagem realista-civilizacional destaca-se a preocupação com a segurança realista-civilizacional, neste caso refuta-se a declaração universal dos direitos do homem e outras convenções internacionais que promovem um universalismo ocidental. Os autores desta corrente criticam a tentação das intervenções ocidentais em outras civilizações, em detrimento a este messianismo ocidental, o que se quer na realidade é a preservação e renovação destes valores ocidentais. Nota-se nesta abordagem uma preocupação político-militar de segurança articulada com uma dimensão cultural civilizacional.

Já a concepção Humanista-pluralista aborda um conjunto bem heterogêneo de autores e correntes, tais como os pós-modernistas, feministas, estudos críticos, etc. Busca-se através desta corrente alargar o conceito de segurança para além do estatal, dando certo espaço aos autores não westfalianos que influenciam crescentemente nas relações internacionais. A principal crítica aos realistas refere-se a separação entre segurança nacional e segurança civil. Na teoria, os Estados deveriam fornecer um quadro de segurança para sua população, o que, as vezes, na realidade, agem discriminatoriamente contra certos grupos sociais e étnicos. Afirma-se que a maioria dos conflitos ocorre dentro dos países e não entre os países, e as baixas são em maioria entre civis e não militares. Assim estes autores relatam que a segurança e estabilidade do sistema internacional, passam por uma atuação integrada de paz, desenvolvimento econômico e democratização. (FERNANDES, 2002)

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3.3 PROBLEMAS E DESAFIOS DA SEGURANÇA INTERNACIONAL

Na análise das concepções de segurança no pós-Guerra Fria nota-se esta abrangência do conceito, ou seja a integração de outras temáticas para o grau de questões de segurança, que possuem influência nas decisões do Estado-nação e outros atores internacionais. Cada uma das correntes trabalhadas avalia e hierarquiza suas preocupações no sistema internacional e estabelece metodologias diferentes de análise.

Para melhor descrever os problemas de segurança encontrados na América do Sul faz-se necessário estabelecermos uma metodologia classificatória dos mesmos, sendo fundamental descrevê-los neste contexto sem perder o foco analítico que esta pesquisa propõe. Dentre as correntes que abordam o tema segurança internacional destaca-se a elaboração sobre o tema realizado por Barry Buzan. Em suas publicações o autor eleva as temáticas ambientais, societal, politica e econômica como questões de segurança, em conjunto com a já estabelecida dimensão militar. (STONE, 2009)

Através do conceito elaborado por Buzan, qual permite uma análise dos problemas de segurança sem a subordinação dos mesmos à dimensão militar, Fernandes (2002) faz uma (re)construção deste conceito de segurança multidimensional. O autor alega que a dimensão política defendida por Buzan aparece sempre subjacente as outras dimensões específicas, não sendo necessário, portanto, uma análise da questão política em si. Desta maneira podemos relatar que para Fernandes há quatro grandes dimensões de segurança internacional: político-militar; político-econômico; político-ambiental; e político-societal.

3.3.1 Dimensão político-militar

Pode ser compreendida como a dimensão central no estudo de segurança internacional, sem a abordagem desta variável corre-se o risco da retirada da credibilidade das outras dimensões estudadas, abrindo mão do que pode ser uma garantia última à

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sobrevivência dos indivíduos, populações e Estados. Desta maneira não se pode ignorar a ameaça que representa o desenvolvimento das tecnologias militares, a proliferação do armamento nuclear, e outras armas de destruição em massa. Os recursos militares ainda devem ser observados como aplicáveis a resoluções de convergências. (FERNANDES, 2002)

Para Buzan, Waever e Wilde (1998), o objeto de refêrencia da ameaça do setor militar é geralmente o Estado, apesar de considerar que há outros tipos de entidades políticas que sofrem esta ameaça. A dimensão militar coloca em risco todos os componentes do Estado, desde a sua função básica de proteção dos cidadãos até as camadas de interesses sociais e individuais. O fato de por em risco toda a organização social e política de determinado Estado e envolver o uso da força eleva esta dimensão a uma categoria especial, e conforme as circunstâncias do contexto uma categoria central na análise de segurança internacional.

Esta dimensão aproxima o conceito de segurança do conceito tradicional de defesa militar, centralizada no território estadual. Este fato não deve impedir de se dar sempre preferência as soluções negociadas e cooperativas de conflitos19. Em situações que todas as soluções alternativas se esgotaram, será então necessário adotar uma visão do tipo jogos de soma zero20, o que é errado é estender esta visão às restantes dimensões da segurança, onde a cooperação deve permanecer como método interventivo. (FERNANDES, 2002)

3.3.2 Dimensão político-econômica

Para Fernandes (2002) os maiores desafios à segurança vão acontecer nesta dimensão, o autor realiza uma análise onde:

19

Também chamadas de soluções pacíficas de conflitos internacionais podem ser elaboradas por meios diplomáticos; por meios políticos; e por meios jurídicos. (NGUYEN QUOC, DAILLIER e PELLET 2003)

20Conhecido também como teorema do Minimax,, foi desenvolvida em 1928 por John Von Neumann em seu

artigo “Zur Theorie der Gesellschaftsspiele”, o autor relata que cada um dos atores envolvidos no conflito busca adquirir o melhor resultado possível, sendo que tudo que o outro perder será convertido em ganhos para sí próprio. Portanto é racional para um ator escolher a estratégia que maximiza seu ganho mínimo ou que minimize o ganho máximo do adversário (KJELDSEN, 2001)

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As forças da globalização e o seu impacto sobre o Estado westfaliano, a inexistência de uma arquitetura econômico-financeira internacional, a possibilidade do despoletar e da propagação de crises econômico-financeiras de proporções incalculáveis, a passagem da competição econômica de meio a fim com a possibilidade de a competição resvalar para fora do terreno econômico, o crescente fosso entre o mundo desenvolvido e o resto do mundo, e a exclusão deste último dos benefícios do progresso tecnológico e social, tudo isto implica o desenvolvimento de uma rede de segurança econômica, no interesse de todo o mundo desenvolvido e não desenvolvido. (FERNADES, 2002, pg 168)

Portanto, segundo Fernandes (2002), o acompanhamento e a regulamentação do sistema econômico-financeiro mundial devem ser elaborados pelas Organizações Internacionais Governamentais (OIG). Trata-se de uma área propicia ao desenvolvimento de soluções cooperativas, sendo assim a segurança do tipo econômico só poderá ser resolvida com processos que envolvam a razoável satisfação de todas as partes em negociação.

Na análise de Buzan, Waever e Wilde (1998) as ameaças neste setor político-econômico são de difícil determinação, devido à complexidade da natureza das relações econômicas. Localizar as ameaças e como controlá-las é uma tarefa complexa, observa-se que na crise imobiliária recente havia dúvidas constante sobre qual setor ou instituição deveria receber investimentos do governo. Da mesma maneira que Fernandes, os autores reconhecem que a dimensão econômica pode ser considerada um indicador chave para análises da segurança internacional, ou seja, com segurança político-econômica é mais fácil estabelecer um processo de segurança nas outras dimensões.

3.3.3 Dimensão político-societal

A segurança societal surge cada vez mais como um problema de segurança internacional, “sem segurança societal não há bem estar de indivíduos e populações; sem o bem estar de indivíduos e populações não há Estados estáveis; e sem Estados estáveis não há estabilidade no sistema internacional”. (FERNANDES, 2002, pg 169)

Para Buzan, Waever e Wilde (1998) a dimensão societal está ligada a uma gama de identidades coletivas que podem atuar independente do Estado, é o caso das religiões e nações. Essas identidades coletivas podem ser moldadas e moldarem através do contato

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interno e externo com outras identidades. Portanto, a definição como ameaça ou não será determinada pela influência que a mesma exerce sobre os Estados e seus valores éticos e morais.

A promoção da segurança societal para Fernandes (2002) deve ser elaborada a partir de modelos de democracias pluralistas21, adaptados a diferentes especificidades culturais dessas populações e respectivas identidades nacionais. É através deste modelo de governo que o autor observa maior inclusão e aceitação da diversidade cultural.

Para adaptar o contexto de segurança societal ao estudo aqui proposto definem-se as duas principais identidades coletivas que se fazem presentes na América do Sul, e podem ser caracterizadas como ameaças da dimensão político-societal.

3.3.3.1 Terrorismo

Guerra (2008) define a palavra terrorismo como sendo oriunda da palavra terror. O terror fora utilizado para legitimar a defesa da ordem social estabelecida com a Revolução Francesa de 1789, neste contexto o termo logo foi substituído pelo vocábulo “terrorismo”, no sentido de terror empreendido de forma abusiva pelo Estado contra os movimentos revolucionários dá época.

Pode se observar nos dias atuais a ausência de um conceito definitivo sobre o que é terrorismo. Há uma dificuldade da comunidade internacional em estabelecer um entendimento ao alcance da expressão, pois terrorismo abrange a questão política, sendo assim passiva de várias interpretações. Desta maneira a Convenção de Genebra de 193722 relata que os atos terroristas são fatos criminosos dirigidos contra um Estado, cujo objetivo é

21

Democracia pluralista é um principio que está presente na formação dos Estados Democráticos de Direito, e tem por característica impor o direito da população as garantias fundamentais: livre manifestação do pensamento, liberdade de consciência, de crença religiosa, de convicção filosófica ou política; liberdade de expressão artística, científica ou de comunicação; e respeito pela dignidade da pessoa. É fundada na soberania popular, na cidadania, na dignidade da pessoa humana e no pluralismo político. (ELIAS, 2007)

22Para Ramírez (2011) a convenção de Genebra de 1937 para a prevenção e repressão do terrorismo, realizada

por intermédio da Liga das Nações, representa a primeira tentativa do Direito Internacional Publico em definir o significado desta palavra. o conceito de terrorismo fora discutido e incorporado no acordo no art 4° “atos que produzem um efeito de terror ou de intimidação sobre os habitantes de um Estado, e isso através do uso de métodos e meios que causam distúrbios sérios na ordem pública” (FLOGIA, 2006)

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provocar o terror em pessoas determinadas, em grupo de pessoas ou no público (GUERRA, 2008). Para Amaral (2008), terroristas são grupos que então envolvidos em atividades essencialmente políticas. O terrorismo, no uso contemporâneo mais amplamente aceito do termo, é fundamental e inerentemente político. É totalmente relacionado ao poder: a busca pelo poder, a conquista do poder e o uso do mesmo para alcançar a mudança política.

3.3.3.2 Narcotráfico

O narcotráfico pode ser definido como uma organização de amplitude global, responsável pela distribuição de drogas e outros materiais ilícitos. As organizações narcotraficantes interagem de forma profissional entre a produção e comercialização destes produtos ilícitos. Muitos documentos oficiais de países e artigos publicados afirmam que há uma ligação muito próxima entre o narcotráfico e o financiamento do terrorismo. (BURGESS, 2007)

Diferente das organizações terroristas, que visam à mudança política, as organizações narcotraficantes não pretendem gerar consequências públicas ou qualquer repercussão psicológica para além do ato em si de violência. Enquanto o principal objetivo dos terroristas é “mudar o sistema”, os criminosos não querem influenciar a opinião pública. Muito ao contrário disto, para o crime organizado o melhor seria passar despercebido, pois, quando mais seus “negócios” atraem a atenção pública, mais as autoridades governamentais serão pressionadas para combatê-los. (AMARAL, 2008)

3.3.4 Dimensão político-ambiental

A inclusão desta temática como questão de segurança implica repensar todo o processo de progressão econômica e social, iniciado com a revolução industrial do século

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XVIII. Ao encarar o meio ambiente como dimensão de segurança se revisa necessariamente os processos de crescimento econômico, analisando sua influência na utilização de fontes de recursos não renovaveis e a degradação constante do meio ambiente. (FERNANDES, 2002)

Construir esta coexistência harmoniosa é tarefa difícil ao ser humano e implica na quebra de diversos paradigmas23. Muito do que se discute hoje neste campo parte do princípio de ser reflexo da relação entre humanos e o restante da esfera biológica, a ameaça deste desequilíbrio coloca a existência dos seres humanos em risco, portanto se faz relevante considerar que a existência do ser humano e das diversas espécies passa por uma política de segurança ambiental. (BUZAN, WAEVER e WILDE 1998)

Na tentativa de angariar soluções, Fernandes (2002), nos relata a incapacidade do Estado westfaliano, o qual possui sua visão centrada na territorialidade, em encontrar políticas eficientes. A poluição ambiental devido ao processo de industrialização do século XX e a pressão demográfica sobre o planeta remetem a soluções internacionais cooperativas. Portanto, há uma preocupação do autor em um futuro não muito distante de evitar conflitos interestaduais sobre as questões ambientais e seus recursos.

3.4 A AGENDA DE SEGURANÇA

Amaral (2008) define a agenda de segurança como o conjunto de concepções intersubjetivas que informam aos agentes sociais e internacionais quais instituições podem se constituir como potenciais fontes de ameaça à sobrevivência ou existência um determinado objeto de referência. Nesta perspectiva a agenda é criada por um agente, de acordo com seus interesses, e em conjunto com sua política de segurança internacional e nacional. Desta maneira, expõe as necessidades e manobras para alcançar tais objetivos comuns à nação ou à instituição securitizadora. Através desta análise pode ser observada a pluralidade dos agentes sociais e internacionais, os quais possuem diferentes priorizações nos problemas de segurança nacional e internacional. Portanto a agenda de um agente nunca será a mesma de outro agente,

23Consiste em estabelecer uma quebra radical nas crenças e costumes da vida humana, passa-se a observar o

conhecimento de uma nova maneira, descrevendo os fatos através de outra visão da realidade, é um momento de ruptura com as teorias e visões tradicionais. – (FAZIO e SANTOS, 2011)

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já que os mesmos possuem necessidades diferentes. As agendas podem possuir alguns aspectos em comum, o qual se discute, portanto o surgimento de uma agenda global (HUTCHINGS, 2011). Alguns aspectos comuns de segurança internacional são levantados: a recuperação da economia mundial e sua restruturação em termos de ordem e regularização; abastecimento energético e mudanças climáticas as quais devem ser resolvidos de maneira multilateral entre os agentes, pois a aplicação de medidas unilaterais não terão os efeitos necessários para a diminuição do efeito estufa; e redução da proliferação nuclear.

3.5 SECURITIZAÇÃO: A TEORIA EM PRÁTICA

O termo securitização surge através das reflexões de Ole Waever em um documento de trabalho não publicado, feito para o Centro de Pesquisa em Paz e Conflito de Copenhague, em 1989, intitulado Security, the speech act: analysing the politics of a word. (AMARAL, 2008)

O processo de securitização é o que na teoria linguística se chama ato de discurso, no qual a própria pronúncia constitui o ato: ao dizer o termo “segurança”, um agente move o fenômeno da área simplesmente política para uma área específica mais alta e prioritária, a área da segurança (MUSUMECI, 2009). A securitização é, portanto um ato de fala: o ato de dizer segurança é capaz de declarar uma condição de emergência e constituir identidades até então inexistentes, entre elas as de inimigo e protetor. Sendo assim, a segurança não é algo real, ela não é uma coisa. São os próprios atores políticos que criam ou deixam de criar as situações políticas específicas para que a segurança se torne uma necessidade inexorável (AMARAL, 2010). Para Mesumeci (2009), este processo denominado securitização só terá sucesso quando há uma recepção bem sucedida e certa aceitação por parte do público (audience) a que se destina tal ato, não podendo nunca ser simplesmente imposto de modo unilateral por parte do agente securitizador. Além dos objetos referentes e atores securitizadores, há um terceiro tipo de unidade na análise de segurança: os atores funcionais, que afetam as dinâmicas de um setor por meio da influência que exercem nas decisões sobre a securitização.

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4 AS DIVERGÊNCIAS DAS POLÍTICAS DE SEGURANÇA DOS EUA E DO BRASIL PARA A AMÉRICA DO SUL: DE 2000 A 2010

Atualmente, para Meyer (2010) as relações entre os Estados Unidos e Brasil podem ser caracterizadas como amigável. Os Estados Unidos consideram o Brasil uma potência significativa, especialmente no seu papel como uma força estabilizadora da América Latina. Autoridades dos EUA afirmam que os Estados Unidos procuram aumentar a cooperação com governos de esquerda moderada na América Latina (como o Brasil), a fim de aliviar as tensões entre alguns países da América do Sul, e para lidar com governos populistas na região. O Brasil no governo do presidente Lula tem ajudado a destituir potenciais crises políticas na Venezuela, Equador e Bolívia, além de apoiar a Colômbia contra as organizações terroristas e traficantes de drogas. Brasil e os Estados Unidos têm trabalhado em estreita colaboração em um amplo leque de questões bilaterais e regionais, sendo que os dois países tem aumentado o nível de cooperação nos últimos anos.

Embora o Brasil e Estados Unidos compartilhem objetivos comuns para a estabilidade regional, a abordagem independente da política de segurança brasileira tem levado a disputas políticas frequentes com os Estados Unidos. Neste contexto cabe compreender as características de cada política de segurança e suas divergências, além das particularidades de cada posição, para isso se faz presente a metodologia de pesquisa de Fernandes (2002), a qual utiliza três dimensões de segurança: militar, político-econômica e, político-societal.

4.1 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA ESTADUNIDENSE: PREOCUPAÇÕES NADA RECENTES

As questões de segurança são preocupações que remetem à independência dos Estados Unidos, em 1776. O país nasceu com um caráter republicano e democrático contrapondo as monarquias oligárquicas da maior parte da Europa. Portanto, já estava em suas

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