E F E I T O D O H E R B I C I D A R A M R O D EM C A N T E I R O S D E S E M E A Ç Ã O D E C E B O L A (1)
ALDO ALVES, REINALDO FORSTER, engenheiros-agrônomos, Estação Experimental "Theo¬
dureto de Camargo", e HUMBERTO RIBEIRO DE CAMPOS, engenheiro-agrônomo, Seção de Olericulture, Instituto Agronômico
S I N O P S E
E x p e r i m e n t o s foram conduzidos, e m solo areno-argiloso da formação Gla-cial, e m Campinas, para estudar os efeitos da aplicação do herbicida « R a m r o d » em canteiros p a r a formação de m u d a s de cebola. F o r a m testadas as doses de 1,30, 1,95, 2,60, 3,90 e 5,20 k g / h a de ingrediente a t i v o .
E m relação ao combate às ervas m á s dicotiledôneas, apenas a dose de 1,30 k g / h a n ã o foi superior à da t e s t e m u n h a .
P a r a qualquer das doses utilizadas n ã o se verificaram sintomas visuais de fitotoxicidade nas p l a n t a s . P e q u e n o efeito residual do p r o d u t o foi constatado em todas as doses, aos 50-60 dias após a aplicação.
1 — I N T R O D U Ç Ã O
Na cultura da cebola (Allium cepa L . ) , é especialmente impor-tante que o combate às ervas daninhas aproxime-se da totalidade da população infestante, para que a produção de mudas ou o peso dos bulbos não sofram redução. As primeiras quatro semanas de cresci-mento são críticas para a produção da cultura ( 3 ) . O uso de herbi-cidas seletivos, nessa fase, que possam combater as ervas más eficien-temente, reduz o esforço humano, melhora a capacidade de trabalho e contribui para melhorar a produção.
No entanto, como a produção de cebola é uma atividade muito especializada, com áreas em cultivo nas mais diversas condições de clima e solo, o resultado da aplicação de herbicidas no combate às ervas daninhas nem sempre é satisfatório. U m produto químico pode dar excelentes resultados em determinadas condições de clima e solo, ( l ) Trabalho apresentado na V I I Reunião da Sociedade de Olericultura do Brasil, Km 47, Rio de Janeiro, de 19 a :5 de julho de 1967. Recebido para publicação em 19 de se-tembro de 1967.
mas pode- causar dano para a cultura ou falhar no combate às ervas más infestantes, em outras condições de meio ambiente.
O objetivo dos experimentos relatados neste trabalho foi o de es-tudar o efeito de uma série de doses de um herbicida, aplicado em pré-emergência em canteiros de formação de mudas de cebola, no combate às ervas daninhas, no grau de tolerância da cultura e na du-ração do efeito residual do produto no solo.
2 — M A T E R I A L E M É T O D O
Dois ensaios foram conduzidos em canteiros para a obtenção de mudas de cebola da variedade Monte Alegre IAC-3335 em solo tipo areno argiloso, da formação Glacial, na Estação Experimental «Theo-dureto de Camargo», em Campinas.
O procedimento experimental comum aos dois ensaios foi o se-guinte : delineamento em blocos ao acaso com quatro tratamentos e seis repetições; canteiros de cinco fileiras de um metro de comprimento distanciadas entre si de dez centímetros, aproveitando-se todas as li-nhas na colheita; área tratada, de cada canteiro, de meio metro qua-drado; adubação, por metro quadrado, de 15 kg de composto orgânico, 150 g de superfosfato e 30 g de cloreto de potássio; quantidade de se-mentes usada, 2,5 g por canteiro; tratamentos fitossanitários com pul-verizações semanais de uma mistura de Dithane Z-78, Malatol e espa-lhante adesivo.
Consideram-se mudas de primeira categoria aquelas com mais de seis milímetros de diâmetro; de segunda, as mudas entre três e seis milímetros; de terceira, aquelas com diâmetro abaixo de três milíme-tros; de cabeça, aquelas com bulbinho já formado.
Usou-se nesses experimentos o herbicida 2-cloro-N-isopropilaceta-nilida, «Ramrod», com alto grau de especificidade para gramíneas anuais e dicotiledôneas. Formulação usada: pó molhável, com 65% de ingrediente ativo ( 2 ) .
A população de ervas daninhas na área experimental era consti-tuída principalmente de Digitaria sanguinalis L . Scop. Gramineae pim-colchão); Brachiaria píari\taginea Link. Hitchc. Gramineae (Ca-pim-marmelada); Portuiaaa olemcea L . Portulacaceae (Beldroega); Coronopus didymus. Cruciferae (Mentruz ou Mastruço); Ricbctrdia
brasiliensis R u b i a c e a e ( P o a i a b r a n c a ) ; Chenopodium ambrosioides. C h e n o p o d i a c e a e ( E r v a d e S a n t a M a r i a ) ; Amaranthus viridis L . A m a ranthaceae ( C a r u r u c o m u m ) ; Galinsoga pfflviflora L . C o m p o s i t a e ( P i -cão b r a n c o ) ; Sida acuta B u r n . M a l v a c e a e ( G u a n x u m a b r a n c a ) ; Phyl-lartthus corcovadensis. E u p h o r b i a c e a e ( O u e b r a - p e d r a ) .
Experimento 1 — N e s t e e x p e r i m e n t o e m p r e g a r a m - s e três d o s e s d o h e r b i c i d a « R a m r o d » : 1,30, 1,95 e 2,60 q u i l o s p o r hectare d o ingre-diente a t i v o . A a p l i c a ç ã o realizou-se l o g o a p ó s a s e m e a ç ã o , e m 22 de m a r ç o de 1967. D u a s c o n t a g e n s , c l a s s i f i c a ç õ e s e d e t e r m i n a ç õ e s de p e -sos das ervas m á s f o r a m realizadas aos 22 e 55 dias a p ó s a a p l i c a ç ã o d o h e r b i c i d a . A primeira c o n t a g e m realizou-se e m área de 0,20 m2 de
cada canteiro, e a s e g u n d a , na área total d o c a n t e i r o . A s capinas f o -ram realizadas d e p o i s de cada c o n t a g e m , c o m o t a m b é m duas escarifi-c a ç õ e s . P r o escarifi-c e d e u - s e à escarifi-classifiescarifi-cação das m u d a s de escarifi-c e b o l a 60 dias a p ó s o p l a n t i o .
Experimento 2 — N a s m e s m a s c o n d i ç õ e s d o e x p e r i m e n t o anterior, s o m e n t e c o m d o s e s mais elevadas d o p r o d u t o q u í m i c o : 2,60, 3,90 e 5,20 q u i l o s p o r hectare d o ingrediente a t i v o . A a p l i c a ç ã o realizou-se e m 12 de abril de 1967. O l e v a n t a m e n t o da p o p u l a ç ã o de ervas m á s foi feito aos 34 e 62 dias d e p o i s d o p l a n t i o . A s duas c o n t a g e n s foram realizadas na área total de cada c a n t e i r o . F o r a m e x e c u t a d a s duas ca-pinas e u m a escarificação n o s canteiros de c e b o l a . E f e t u o u - s e a classi-ficação das m u d a s 67 dias a p ó s a s e m e a ç ã o .
3 — R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O
D e m o n s t r o u - s e , nas c o n d i ç õ e s d o s dois ensaios, q u e o herbicida « R a m r o d » p o d e ser u s a d o na cultura de c e b o l a . C o m q u a l q u e r das d o s e s aplicadas, as m u d a s n ã o apresentaram, v i s u a l m e n t e , n e n h u m s i n t o m a de f i t o t o x i c i d a d e .
N o q u a d r o 1, apresentamse na primeira parte o s d a d o s de p r o d u -ç ã o de m u d a s de c e b o l a , resultantes d o p r i m e i r o e x p e r i m e n t o . E l a s estão classificadas e m m u d a s de primeira, s e g u n d a e t e r c e i r a ; n ú m e r o e p e s o das m u d a s para cada u m a das c a t e g o r i a s t a m b é m se e n c o n t r a m no referido q u a d r o .
A análise da variância dos resultados da produção total, em gra-mas, do peso das mudas de primeira, segunda e terceira categorias não apresentaram diferenças significativas entre os diversos tratamentos. O coeficiente de variação para a produção total em gramas foi de 18,8%. O efeito das diferentes doses do herbicida não foi estatisticamente significativo para o número total de mudas e para as suas diversas classificações, dados estes que foram transformados em y/ x para análise estatística ( 1 ) .
Somente número e peso das mudas de primeira do tratamento sem herbicida foram superiores ao dos tratamentos com herbicida. Pode-se supor que, devido a menor lotação daquele tratamento em relação aos demais, houve oportunidade para um desenvolvimento pouco maior, provocado pela menor competição entre as mudas de cebola. A con-corrência das ervas daninhas nas diversas categorias foi acentuada, muito embora a análise estatística não tivesse evidenciado.
O quadro 1 apresenta na segunda parte os resultados da produção total de mudas de cebola obtidas no segundo experimento.
A análise da variância do número total de mudas e para os três tipos, feita com os dados transformados em V x , não revelou dife-renças significativas.
O teste F, na análise da variância do peso total das mudas de ce-bola e nos três tipos, não foi significativo. Todos os tratamentos tive-ram produção maior do que a da testemunha, tratada com capinas manuais, excluindo o caso de mudas de terceira categoria, no qual a testemunha foi superior. Isso evidenciou que a concorrência das ervas daninhas em luz, água e elementos nutritivos aumentou a proporção de mudas de tipo inferior.
O quadro 2 apresenta os resultados obtidos nas duas contagens de ervas daninhas para cada experimento. Embora a população de ervas más monocotiledôneas não fosse expressiva, o produto químico desta-cou-se no combate a este grupo, no segundo experimento.
Nos dois ensaios o «Ramrod» proporcionou excelente combate às dicotiledôneas, principalmente a partir de 1,95 kg por hectare do ingre-diente ativo.
A análise estatística das ervas más dicotiledôneas encontradas após 22 dias da semeação, cujos dados foram transformados em \/ x , mos-trou diferenças altamente significativas. O tratamento «Ramrod»
(1,30 k g / h a ) , pelo teste de Dunnett a 5%, não apresentou diferença significativa quando comparado com o testemunha. O coeficiente de variação foi de 26,2%. Contudo, todos os canteiros que receberam tra-tamento com herbicida tinham menor infestação de mato do que os não tratados. A contagem efetuada aos 55 dias após a semeação da cebola foi praticamente igual para todos os tratamentos. Isso eviden-ciou que o herbicida controlou a competição das ervas más nas cinco semanas iniciais, evitando os seus efeitos adversos para a formação de mudas de cebola.
A segunda parte do quadro 2 apresenta os dados obtidos nas duas contagens, efetuadas aos 34 e 62 dias após a semeação da cebola. A análise estatística do número de dicotiledôneas encontradas na primeira contagem, cujos dados foram transformados em y x , revelou dife-renças altamente significativas. O coeficiente de variação foi de 27,6%. Pequeno efeito residual do produto químico foi demonstrado por oca-sião da segunda contagem, inclusive no tratamento com a dose maior.
O efeito da aplicação do herbicida «Ramrod» nas suas várias doses e nas duas contagens de cada experimento, no combate às diferentes espécies de ervas daninhas monocotiledôneas e dicotiledôneas, é apre-sentado nos quadros 3 e 4, respectivamente.
A formação de mudas de cebola é realizada concentradamente em áreas limitadas e em período aproximado de 60 dias. Dessa forma a ocorrência de ervas más nesse período prejudica sensivelmente o seu desenvolvimento. Daí o interesse que pode haver na aplicação de her-bicidas no combate às ervas daninhas, nessa ocasião. O herbicida a ser empregado, no entanto, deveria ter um efeito residual de pelo menos quatro a cinco semanas. Com a sua aplicação as mudas poderiam de-senvolver-se livre da concorrência das ervas daninhas, alcançando um máximo de desenvolvimento, o que é de interesse para a sua futura utilização.
Tendo em vista os efeitos das várias doses sobre a redução da população de ervas más, em condições em que as capinas manuais e cul-tivo foram reduzidos ou praticamente eliminados, pode-se concluir que o «Ramrod» nas doses 2,6 até 3,9 kg por hectare do ingrediente ativo deu excelentes resultados. Nessas doses a toxicidade residual desapa-receu após oito semanas, dando lugar ao resurgimento das ervas más.
4 — CONCLUSÕES
As seguintes conclusões podem ser tiradas, nas condições dos dois experimentos:
1. O herbicida «Ramrod» demonstrou que pode ser usado para combater as ervas infestantes em canteiros de semeação, para a forma-ção de mudas de cebola. Em todas as doses aplicadas, as mudas não apresentaram, visualmente, nenhum sintoma de fitotoxicidade.
2. Não houve diferença significativa entre o tratamento 1,30 kg por hectare do ingrediente ativo e o tratamento testemunha, no com-bate às ervas más dicotiledôneas encontradas após 22 dias da semeação.
3. Houve diferenças altamente significativas entre os tratamen-tos que continham 1,95, 2,60, 3,90 e 5,20 kg por hectare do ingrediente ativo e o tratamento testemunha, no combate às ervas más dicotiledô neas, após 22 e 34 dias da semeação.
o K Q
4 . P e q u e n o efeito r e s i d u a l do p r o d u t o q u í m i c o foi o b s e r v a d o por ocasião da s e g u n d a c o n t a g e m , c o m q u a l q u e r d a s doses a p l i c a d a s .
5 . D o r e s u l t a d o o b t i d o com as v á r i a s doses a p l i c a d a s no com-b a t e às e r v a s m á s , pode-se concluir q u e o « R a m r o d » n a s doses de 1,95 a t é 3,90 k g p o r h e c t a r e do i n g r e d i e n t e a t i v o p o d e ser r e c o m e n d a d o , p r i n c i p a l m e n t e p a r a a fase inicial da c u l t u r a .
T H E E F F E C T OF RAMROD H E R B I C I D E ON O N I O N S E E D L I N G D E V E L O P M E N T
SUMMARY
Two experiments to determine the effect of various rates of Ramrod herbi-cide on the development of onion seedlings were conducted on sandy-clay soil type, of Glacial formation, at the «Theodureto de Camargo» Experiment Station, Cam-pinas. The results may be summarized as follows:
1 — Ramrod herbicide as pre-emergence application may be used for weed control on onion seedling formation. No apparent damage was noted with the application of the different rates of the herbicide.
2 — The comparison between Ramrod at 1.30 kg per hectare a. i. with the check treatment revealed no significant difference in the control of dicotyledoneous species that were found 22 days after sowing.
3 — The comparison of Ramrod at 1.95 and 2.60 kg per hectare a.i. of expe-riment 1, and 2.60, 3.90 and 5.20 kg per hectare a.i. of expeexpe-riment 2 with the check treatment, showed highly significant differences in the control of dicotyledoneous species after 22 and 34 days.
4 — After 8 weeks no residual effect was observed from any rate of application of Ramrod. There was a regrowth of weeds after that period.
5 — Based on these experiments Ramrod at 1.95 up to 3.90 kg per hectare a.i., depending on soil type, could be recommended for weed control in onion seedbeds.
LITERATURA CITADA
1. ABRAMTDES, E. As técnicas especiais e os planejamentos mais adequados na: pesquisas agronômicas de campo- Campinas, Instituto Agronômico, 1S64. 10p
(Boletim 147)
2. MONSANTO TECHNICAL DATA SHEET. St. Louis, Missouri, Monsanto Agricultural Chemicals Division, 1965. 4p. (Bulletin AD 291)
3. SHADBOLT, C. A. & HOLM, L. G. Some quantitative aspects of weed com-petition in vegetable crops. Weeds 4(2) :111-123, 1956.
