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0 mensageiro sideral: Galileu Galilei

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Academic year: 2021

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A Co n s t r u ç ã o d eu m a No v a Ciê n c ia

0 mensageiro sideral: Galileu Galilei

A consolidação do sistema heliocêntrico deixava um problema sério a ser resolvido: como explicar os movimentos dos cor­ pos, tanto na superfície da Terra como no céu? Ainda não esta­ va consolidada assim uma física que sustentasse a nova astro­ nomia.

Quem muito fez para a superação do aristotelismo foi Galileu Galilei, que construiu sua obra com o objetivo de su­ perar as idéias do filósofo grego Aristóteles e formular

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propo-8 4 Br ev e His t ó r ia d a Ciê n c ia Mo d e r n a

sições diferentes para o Universo. No campo específico da físi­ ca e da astronomia, as contribuições de Galileu foram muito significativas. Ele realizou observações astronômicas e expe­ riências que deram grande impulso à construção de novas ex­ plicações sobre a natureza.

Em 1609 Galileu construiu uma luneta, a partir das infor­ mações que um aluno lhe transmitira sobre um instrumento inventado por artesãos holandeses, e voltou-a para o céu. Suas observações mostraram fenômenos até então imperceptíveis a olho nu, tais como manchas solares, crateras e montanhas na Lua, luas na órbita de Júpiter, anéis em Saturno e um novo afas­ tamento para as estrelas. Todas essas constatações contribuíram ainda mais para pôr em xeque o Universo aristotélico-ptomo- maico, pois acabavam com a idéia de perfeição do mundo celeste. Júpiter parecia ser o centro de um sistema particular, com cor­ pos girando a seu redor. Logo, isso não era um privilégio da Terra. As manchas observadas no Sol foram atribuídas por Galileu ao próprio astro, e não a imperfeições do instrumento ou a algum fenômeno situado entre a Terra e o Sol, como alegavam alguns de seus críticos. Além disso, as manchas mudavam de forma e posição, indicando uma constante modificação no Sol.

As estrelas fixas mostravam-se estar mais distantes do que até então se pensava. Elas não se situavam logo após Saturno, como se supunha na época. Esse fato revestia-se de grande im­ portância, porque respondia a um dos argumentos contrários ao sistema de Copérnico: a ausência da paralaxe prevista para as estrelas. Como as estrelas estavam muito afastadas da Terra, ficou fácil provar por que o fenômeno esperado não era per­ ceptível com os instrumentos da época.

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A perspectiva e o novo olhar de Galileu

Ao voltar sua luneta para a Lua, Galileu viu crateras e monta­ nhas. Essa forma de interpretar a superfície de nosso satélite não foi uma constatação óbvia. Na mesma época o astrônomo britânico Thomas Harriot (1560-1621) construiu uma luneta similar à de Galileu e também apontou-a para a Lua. Mas os dois não viram a mesma coisa.

As luas de Galileu e Harriot

Representações da Lua de Galileu (acima) e de Harriot (abaixo)

Os desenhos de Galileu demonstram um amplo domínio do elaro-escuro, fazendo com que tenhamos uma noção das ir­ regularidades da superfície lunar. Já o desenho de Harriot não nos possibilita ter a mesma idéia, porque exibe apenas uma mancha sem maior significado.

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Podemos nos perguntar por que os dois não viram a mes­ ma Lua? Ou, ainda, como é possível que não tenham enxerga­ do a mesma coisa? A resposta a essas perguntas nos ajudará a entender a ciência em outra dimensão, visto que foi a forma­ ção não-científica de ambos que lhes proporcionou capacida­ des diferentes de interpretar o que olhavam.

Galileu estudou desenho na Itália, onde teve formação com pintores da escola renascentista, habituando-se à perspectiva e sobretudo ao claro-escuro. Isso fez com que ele pudesse identifi­ car aquilo que viu na Lua como sombras projetadas por monta­ nhas ou crateras. Chegou mesmo a usar a geometria para medir a altura das montanhas, partindo das dimensões dessas sombras.

Já Harriot, que não tivera a mesma formação, foi incapaz de observar as irregularidades da superfície lunar próprias de um solo similar ao da Terra. Ele viu apenas borrões. Só depois de ler as descrições de Galileu e principalmente de apreciar seus desenhos, fez uma nova representação da Lua.

Embora não tivesse a técnica de Galileu, podemos ver que Harriot estava então observando a mesma Lua que ele.

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A construção de uma nova cinemática terrestre

Em relação ao movimento dos corpos terrestres, Galileu tam­ bém introduziu importantes modificações na física medieval de tradição aristotélica. Como adotava o sistema heliocéntri­ co, a teoria aristotélica de movimento dos corpos em busca de seu lugar natural foi por ele fortemente contestada.

Em seu livro Duas novas ciências foram apresentadas, a par­ tir de argumentos lógicos e descrição de experiências, novas explicações para a queda dos corpos. Galileu mostrou que cor- pos de massas diferentes, quando livres da resistência do ar, cairiam ao mesmo tempo caso abandonados da mesma altura - o contrário do que diziam os aristotélicos.

Essa nova interpretação para o movimento dos corpos ter­ restres fez com que mais um aspecto da explicação aristotélica fosse abandonado. O movimento deixava de ser uma essência dos corpos. Nenhum corpo seria mais móvel ou imóvel, mas esta­ ria em movimento ou em repouso em relação a outros corpos.

Ao mesmo tempo que procurava utilizar a experimenta­ ção para dar legitimidade a seus argumentos, Galileu buscava também - como fazia parte do projeto de uma nova ciência - apresentar esses argumentos em linguagem matemática. Numa passagem muito famosa de O ensaiador, de 1623, Galileu de­ fendia a idéia de que a natureza teria sido escrita em linguagem matemática, sendo necessário conhecer os caracteres e enten­ der a língua na qual ela se expressava. Ainda utilizando apenas a geometria, demonstrou que um corpo em queda teria um movimento com velocidade variável - que aumentaria à medi­ da que o corpo caísse.

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Recusa às causas

"Salviati [defensor das idéias de Galileu] - Não me parece ser este o momento oportuno para empreender a investigação da causa da aceleração do movimento natural, a respeito da qual vários filósofos apresentaram diferentes opiniões, reduzindo- a, alguns, à aproximação do centro; outros, à redução pro­ gressiva das partes do meio ainda não atravessadas; outros, ainda, a certa extrusão do ambiente, o qual, ao fechar-se por trás do móvel, vai pressionando e projetando-o continuamen­ te. Essas fantasias e muitas outras, conviria que fossem exa­ minadas e resolvidas, e com pouco proveito. Por ora, é sufi­ ciente a nosso autor que entendamos que ele quis investigar e demonstrar algumas propriedades de um movimento acelera­ do (qualquer que seja a causa da aceleração), de tal modo que a intensidade de sua velocidade aumenta, após ter saído do repouso, com aquela simplicíssima proporção com a qual cresce a continuação do tempo - que é o mesmo que dizer que em tempos iguais se fazem acréscimos iguais de velocidade."

(Galileu, Duas novas ciências, Terceira jornada)

Galileu começou a estabelecer uma cinemática possível para um sistema planetário no qual a Terra não ocupasse mais o centro. Ele não precisava, assim, da idéia de lugar natural, pois não dese­ java explicar a causa do movimento, mas sim como ele ocorria.

Outra divergência em relação às explicações aristotélicas foi quanto à necessidade de uma causa atuante para a manu­ tenção do movimento de um corpo. A física galileana separava o movimento das mudanças que afetavam o próprio corpo,

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podendo dessa forma abandonar a concepção de que o movi­ mento necessitaria de um motor para produzi-lo e conservá-lo. Galileu novamente apresentava uma argumentação lógica, por meio de uma experiência de pensamento em que levava Simplicio - o aristotèlico com quem dialogava em toda a sua obra - a concluir que não seria necessário um agente atuando em um corpo para que ele permanecesse em movimento. Na ausência de um agente externo, o corpo poderia continuar em movimento com velocidade constante, desde que não existisse qualquer resistência a esse movimento. Além disso, o corpo deveria mover-se sobre uma trajetória circular, para que não houvesse tendência a aumentar ou diminuir sua velocidade, uma vez que sobre um círculo ele estaria sempre à mesma dis­ tância do centro - logo, a velocidade se manteria constante.

Aqui Galileu parecia estar falando do conceito que passou a ser conhecido como inércia. Não existe, no entanto, um con­ senso entre os historiadores da ciência a respeito desse assunto, embora acreditemos que se possa atribuir a ele o início da ela­ boração da idéia de inércia.

Galileu e o conceito de inércia

"E, portanto, sem obstáculos externos, um corpo pesado numa superfície esférica concêntrica como a Terra será indiferente ao repouso e aos movimentos para qualquer parte do hori­ zonte. E ele se manterá naquele estado em que foi colocado, isto é, se colocado em estado de repouso, assim se conserva­ rá; e se colocado em movimento para oeste (por exemplo), continuará nessa direção."

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Esses dois aspectos da argumentação de Galileu - a análise do movimento de queda dos corpos e o da inércia circular - foram fundamentais à construção de uma nova explicação para os fenômenos naturais, abrindo caminho para a unificação dos mundos terrestre e celestial.

Em 1633 Galileu sofreu um processo no tribunal da Inqui­ sição, em que o motivo central da acusação era a defesa do co­ pernicanismo. Após longo julgamento foi condenado à prisão domiciliar até a morte, em 1642.

-v^ e x p e r im e n t o - 0 plano inclinado de Galileu

"Salviati - Como verdadeiro homem de ciência, sua exigência é muito razoável; pois é assim que convém proceder nas ciências que aplicam as demonstrações matemáticas aos fenômenos naturais, como se ob­ serva nos casos de perspectiva, astronomia, mecânica, música e ou­ tras, as quais confirmam com experiências sensatas seus princípios, que são os fundamentos de toda a estrutura ulterior...

Numa ripa, ou melhor dito, numa viga de madeira ... foi escavada uma canaleta ... com pouco mais que um dedo de largura. No interior dessa canaleta perfeitamente retilínea ... fazíamos d escer... uma bola de bronze duríssima, perfeitamente redonda e lisa. Uma vez construí­ do o ... aparelho, ele era colocado numa posição inclinada ... e deixa­ va-se descer... a bola pela canaleta, anotando ... o tempo que empre­ gava para uma descida completa; repetindo a mesma experiência muitas vezes ... nunca se encontrava uma diferença nem mesmo da décima parte de uma batida de pulso.... fizemos descer a mesma bola apenas por uma quarta parte do comprimento total da canaleta; e, medido o tempo de queda, resultava ser sempre rigorosamente igual à

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metade do outro. Variando a seguir a experiência,... sempre ... que os espaços percorridos estavam entre si como os quadrados dos tempos ... No que diz respeito à medida de tempo, empregávamos um grande recipiente cheio de água, suspenso no alto, o qual através de um pe­ queno orifício feito no fundo, deixava cair um fino fio de água, que era recolhida num pequeno copo durante todo o tempo em que a bola descia pela canaleta ou por suas partes. As quantidades de água assim recolhidas eram pesadas com uma balança muito precisa, sendo as diferenças e proporções entre os pesos correspondentes às diferenças e proporções entre os tempos.

Referências

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