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EXCELENTÍSSIMA SENHORA SUBPROCURADORA-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS

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PROTOCOLO Nº 7683/2015

AUTOS DE INQUÉRITO POLICIAL Nº 939-95.2015.8.16.0013, DA 1ª SEÇÃO JUDICIÁRIA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA.

INDICIADO: ADRIANO DE OLIVEIRA

ASSUNTO: ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

PORTE DE ACESSÓRIO DE ARMA DE FOGO. PEQUENA QUANTIDADE. SEM CHANCE DE USO DA ARMA DE FOGO. CONDUTA MATERIALMENTE ATÍPICA. ARQUIVAMENTO. Inexiste delito de porte ilegal de acessório ou munição, no caso um carregador de pistola .380 desmuniciado, se não há a presença da arma de fogo, já que “o princípio da ofensividade em direito penal exige um mínimo de perigo concreto ao bem jurídico tutelado pela norma, não bastando a simples indicação de perigo abstrato” (STJ, AgRg no Resp 1128817/SP, Rel. Min. Haroldo Rodrigues, DJe 16.11.2010).

EXCELENTÍSSIMA SENHORA

SUBPROCURADORA-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS

I. RELATÓRIO

Os presentes autos de Inquérito Policial foram inaugurados por portaria para apurar a prática, em tese, do delito previsto no art. 14 da Lei 10.826/2003 (transporte ilegal de arma de fogo, acessório ou munição), supostamente ocorrido em 16.01.2015, neste Município de Curitiba, PR, tendo como indiciado Adriano de Oliveira. Na oportunidade, o investigado foi preso em flagrante por Policiais Militares, por guardar, no porta treco de seu automotor 01 (um) carregador de pistola .380,

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Após ultimação da instrução policial, sobreveio a promoção de arquivamento de fls. 31-verso/34, elaborada pelo Promotor de Justiça LEANDRO GARCIA ALGARTE ASSUNÇÃO contendo fundamentação dirigida ao reconhecimento da atipicidade da conduta, pois depreende-se do exame deste caderno investigatório que o indiciado transportava em seu veículo, mais precisamente no porta-trecos, 01 (um) carregador de pistola. E que esta conduta não apresenta qualquer ofensividade ao bem jurídico ou sem a possibilidade mínima de lesioná-lo. Desse modo, asseverou que acessórios e munições encontradas isoladamente (ou seja, separados da arma de fogo), e sem que possuam a mínima disponibilidade para serem de prontos utilizados, não reúnem condições de produzir qualquer danosidade real.

Exercendo controle jurisdicional de 1º grau, o Juiz de Direito Substituto Fernando Bardelli Silva Fischer proferiu a decisão de fls. 34-verso/35, discordando da promoção ministerial de arquivamento, ao argumento de que “não há necessidade de se comprovar efetiva lesão ao bem jurídico para que se configure o delito de porte ilegal de armas, munições e acessórios”. Nestes termos, determinou o encaminhamento dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça, aos fins do disposto no art. 28 do Código de Processo Penal.

Eis o relatório do autuado. 2. FUNDAMENTAÇÃO

O objeto de análise e valoração aos presentes autos, por parte desta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do disposto no art. 28 do Código de Processo Penal, direciona-se à operação de ratificação ou discordância quanto ao conteúdo do pronunciamento ministerial de fls. 31-verso/34, que promoveu o arquivamento dos autos de inquérito policial em referência, por reconhecimento da

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atipicidade da conduta descrita nos autos, pois sequer houve exposição a perigo de lesionar o bem jurídico tutelado pela norma penal incriminadora.

No caso em exame, não restaram evidenciados, sequer, meros indícios da correlação entre o descontrole da circulação de armas de fogo e munições e o respectivo uso para atingir os cidadãos nos seus bens mais tradicionais, como integridade física, vida, patrimônio e liberdades públicas. O escopo do Estatuto do Desarmamento é atacar a circulação das armas e suas munições. O indiciado foi flagrado transportando pequena quantidade de acessório (um carregador para pistola .380, de uso permitido).

O Direito Penal somente há de se preocupar com os bens jurídicos mais importantes e necessários à vida em sociedade. É o princípio da intervenção mínima, ou ultima ratio, responsável pela indicação dos bens de maior relevo, que merecem especial atenção do Direito Penal, bem como das condutas que devem ser descriminalizadas.

Ressalte-se que para a configuração de figura típica, necessária a lesividade em relação aos crimes previstos na Lei nº 10.826/2003, nos quais o objeto jurídico tutelado pela norma é a segurança jurídica e a paz social, o que não ocorre nos autos.

No presente caso, devem ser levadas em consideração algumas premissas, quais sejam, não há provas ou elementos indiciários mínimos de que o carregador encontrado no veículo dirigido pelo investigado seria destinado ao contrabando ou que serviria ao uso de determinado delito violento ou, ainda, que fosse com ele empregado grave ameaça. Assim, pode-se afirmar que a conduta do investigado não visava afrontar a legislação sobre porte e uso de armas em território nacional.

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ROGÉRIO GRECO1, citando Nilo Batista, apresenta quatro principais funções do princípio da lesividade, dentre elas, “proibir a incriminação de condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico”.

Sobre o tema, cabe o registro das seguintes decisões:

O Direito Penal somente deve se preocupar com os bens jurídicos mais importantes e necessários à vida em sociedade, interferindo o menos possível na vida do cidadão. É a última entre todas as medidas protetoras a ser considerada, devendo ser as perturbações mais leves objeto de outros ramos do Direito. (STJ, REsp 1228545/RS, Ministro OG FERNANDES, data de julgamento 18/04/2013).

O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes – não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social (STF, HC 98152/MG, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª T, DJ 5/6/2009, p. 587).

Se a munição não existe ou está em lugar inacessível de imediato, não há falar-se em artefato idôneo a produzir disparo, por isso, não se realizando a figura típica de porte ilegal de arma. (STJ, AgRg no Ag

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087205/GO, Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe 25/03/2011).

A Sexta Turma desta Corte firmou compreensão de que, inexiste delito de porte ilegal de munição se não há a presença da arma de fogo, já que o princípio da ofensividade em direito penal exige um mínimo de perigo concreto ao bem jurídico tutelado pela norma, não bastando a simples indicação de perigo abstrato. (STJ, AgRg no Resp 1128817/SP, Rel. Min. Haroldo Rodrigues, DJe 16.11.2010).

HABEAS CORPUS. PENAL. ART. 16 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/03). PORTE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE USO RESTRITO. AUSÊNCIA DE OFENSIVIDADE DA CONDUTA AO BEM JURÍDICO TUTELADO. ATIPICIDADE DOS FATOS. ORDEM CONCEDIDA. I - Paciente que guardava no interior de sua residência 7 (sete) cartuchos munição de uso restrito, como recordação do período em que foi sargento do Exército. II - Conduta formalmente típica, nos termos do art. 16 da Lei 10.826/03. III - Inexistência de potencialidade lesiva da munição apreendida, desacompanhada de arma de fogo. Atipicidade material dos fatos. IV - Ordem concedida. (STF, HC 96532 / RS - RIO GRANDE DO SUL, Relator (a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 06/10/2009).

Assim, a posse de munição ou acessório de arma de fogo, sem chance de uso quando não há a presença da arma de fogo, não legitima a intervenção do direito penal, sob pena de violar o princípio da ofensividade e da razoabilidade, pois não há potencialidade lesiva. O princípio da ofensividade em direito penal exige a presença de um mínimo perigo concreto ao bem jurídico tutelado pela norma, não bastando a simples indicação de perigo abstrato, ausente, portanto, qualquer risco para a incolumidade pública.

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III. CONCLUSÃO

Diante do exposto, estando fundamentado e adequado o pronunciamento do Ministério Público de 1º Grau, somos pela sua ratificação por esta Douta Procuradoria-Geral de Justiça.

Curitiba, 08 de maio de 2015.

REGINALDO ROLIM PEREIRA Procurador de Justiça

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