Turma e Ano: Flex B (2013)
Matéria / Aula: Civil (Contratos) / Aula 15 Professor: Rafael da Motta Mendonça
Conteúdo: Teoria Geral dos Contratos: Princípios: Boa fé Objetiva; Fases do Contrato: Formação dos Contratos.
4. Princípios (cont.): 4.6 Boa Fé Objetiva:
Boa Fé Objetiva a) Interpretativa (113 CC)
b) Restritiva de Direitos (187 CC) Abuso de direito
c) Dever Jurídico (422 CC) Fim econômico
Fim social Costumes Boa fé Objetiva 1. Venire 2. Tu quoque 3. Adimplemento Substancial 4. Supressio / Surrectio
b) Boa Fé restritiva de direitos (art. 187 CC):
Abuso de Direito (art. 187 CC) Limites ao exercício de um direito: Fins econômicos, fins sociais, costumes e boa fé.
Teorias - concretude aos limites da boa fé:
1. Nero potest venire contra factum proprium 2. Tu quoque
3. Adimplemento Substancial 4. Supressio / Surrectio
4. Supressio / Surrectio:
Supressio é a perda de um direito devido ao seu exercício tardio.
Surrectio é o surgimento de um direito devido a uma situação jurídica consolidada no tempo.
A doutrina sustenta que supressio e surrectio são duas pontas de uma mesma corda, sempre caminhando juntas.
O exemplo mais clássico de supressio e surrectio é do condômino que já utiliza de forma exclusiva área comum do condomínio por um determinado lapso temporal. Neste caso, o condômino não perderá o seu direito, pois o condomínio ao tolerar a utilização exclusiva da área comum por determinado tempo perdeu o seu direito devido ao seu exercício tardio (supressio). Será permitida a cobrança de uma cota condominial diferenciada a este condômino pela utilização da área comum de forma exclusiva, mas ele não perderá o seu direito, tendo em vista que este se consolidou no tempo (surrectio).
Os institutos da supressio e surrectio normalmente são aplicados no exercício de direitos potestativos que podem ser exercidos a qualquer tempo, sem prazos previamente estipulados. Observe-se que quando tivermos um prazo prescricional ou decadencial, este deverá ser respeitado, não havendo que se falar em supressio e surrectio.
* Há doutrinadores sustentando que os institutos da supressio e surrectio podem ser aplicados também no âmbito processual, como por exemplo no prazo para juntar um documento ou produzir determinada prova.
Enunciado 412 CJF: Art. 187. As diversas hipóteses de exercício inadmissível de uma situação jurídica subjetiva, tais como supressio, tu quoque, surrectio e venire contra factum proprium, são concreções da boa-fé objetiva.
Enunciado 361 CJF: Arts. 421, 422 e 475. O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.
Enunciado 362 CJF: Art. 422. A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil.
c) Boa fé Objetiva como dever jurídico (art. 422 CC):
A boa fé do art. 422 do CC impõe deveres jurídicos anexos consubstanciados em cláusulas gerais a toda relação contratual, cujo seu não cumprimento gera o inadimplemento contratual.
Diante disso, hoje é possível a inadimplência por descumprimento de uma cláusula geral que não está prevista expressamente no contrato, sendo as mesmas definidas pela doutrina e jurisprudência. Os principais deveres anexos são: segurança, lealdade, probidade, transparência, informação, cooperação.
O inadimplemento contratual por violação dos deveres anexos decorrentes da boa fé é denominado de violação positiva do contrato ou adimplemento ruim (expressão muito utilizada por Nelson Rosenvald), sendo este pautado pela responsabilidade objetiva (Enunciado 24 CJF).
Enunciado 24 CJF: Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.
Enunciado 26 CJF: Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes.
Atualmente, o dever jurídico anexo de cooperação vem sendo muito destacado. Há uma teoria aplicada exclusivamente para a violação do dever jurídico anexo de cooperação - "Duty to mitigate the loss" (mitigação do próprio prejuízo), segundo a qual o credor não pode dar causa ao próprio prejuízo, sob pena de violação do dever anexo de cooperação.
Devemos tomar cuidado, pois alguns autores enquadram o "duty to mitigate the loss" como decorrente do abuso de direito previsto no art. 187 do CC, porém esta não é a melhor orientação. Isso porque o "duty to mitigate the loss" decorre da violação do dever anexo de cooperação.
Enunciado 169 CJF: Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo.
Exemplo clássico Defensoria Pública Estadual - acordo feito com instituição financeira, em que esta deverá encaminhar boleto bancário para a casa do consumidor. A instituição não envia o boleto bancário por 3 meses e no 4º mês ela o encaminha cobrando as 4 parcelas, sendo as 3 anteriores acrescidas de juros, correção e cláusula penal. Neste caso, o banco gerou o próprio prejuízo ao não enviar os boletos, violando o dever anexo de cooperação.
Enunciado 432 CJF: Art. 422. Em contratos de financiamento bancário, são abusivas cláusulas contratuais de repasse de custos administrativos (como análise do crédito, abertura de cadastro, emissão de fichas de compensação bancária,etc.) , seja por estarem intrinsecamente vinculadas ao exercício da atividade econômica, seja por violarem o princípio da boa fé objetiva.
Ver REsp 1073595 / MG (relatora Nancy Andrighi) - não renovação de contrato de seguro de vida renovado ininterruptamente por diversos anos - ofensa aos deveres anexos: lealdade, cooperação, proteção da segurança e boa fé objetiva.
5. Fases do Contrato: Formação do Contrato:
5.1 Tratativas:
As tratativas são negociações preliminares que antecedem a formalização da proposta ou oferta. As tratativas não possuem força vinculativa, sendo porém admitida a responsabilidade civil extracontratual - teoria da culpa provada, salvo nas hipóteses de responsabilidade objetiva.
5.2 Proposta / Oferta:
A proposta (arts. 427 e 428 CC) é individualizada, pessoal, possuindo um destinatário certo, determinado. Já a oferta (art. 429 CC) é difusa, pública, possuindo destinatários incertos, indeterminados.
Proposta e oferta estão na fase pré-contratual, sendo necessária a aceitação da outra parte (encontro de vontades - arts. 430 a 433 CC) para o ingresso na fase contratual.
É importante destacarmos o art. 111 do CC que dispõe sobre o silêncio, que poderá configurar uma anuência ou recusa. Ainda, temos o art. 428, que elenca as hipóteses em que a proposta deixa de ser obrigatória.
Obs1: Proposta:
Quem faz a proposta = Proponente (policitante) Quem recebe a proposta = Aceitante (oblato)
Obs2: Formação dos contratos entre ausentes:
Contrato entre ausentes - ocorre quando a aceitação não for imediata. O que caracteriza um contrato entre ausentes é a impossibilidade de aceitação imediata.
Em que momento há a formação do contrato entre ausentes? Teorias: 1) Teoria da Aceitação O contrato entre ausentes está formado no momento em que o oblato aceita a proposta. A teoria da aceitação não é admitida no nosso ordenamento em razão da insegurança jurídica.
2) Teoria da Expedição O contrato entre ausentes está formado no momento em que o oblato expede a aceitação. A teoria da expedição constitui a regra geral prevista no art. 434 do CC.
3) Teoria da Recepção O contrato entre ausentes está formado no momento em que o proponente recebe a aceitação. A teoria da recepção pode ser utilizada excepcionalmente, conforme previsto no art. 434, II do CC.
Obs3: Proposta e oferta são reguladas pelo princípio da vinculação, porque elas integram o futuro contrato que será celebrado. Na fase de proposta e oferta temos a responsabilidade civil extracontratual (aquiliana) - teoria da culpa provada, salvo nas hipóteses de teoria do risco.
Obs4: A formação do contrato pode se dar:
Formação paritária - é aquela em que ambos os contratantes elaboram as cláusulas contratuais.
Por adesão (art. 54 CDC - conceito de contrato de adesão) - é aquela em que apenas uma das partes elabora as cláusulas contratuais. O contrato de adesão é admitido, subsistindo mecanismos de proteção ao aderente previstos nos arts. 423 e 424 do CC. Ressalte-se que o contrato de adesão é uma espécie de formação do contrato e não uma espécie de contrato)
Obs5: A proposta vincula os sucessores ou representantes do proponente após a sua morte, mas desde que já tenha havido a aceitação, ou seja, a formação do contrato. A morte do proponente antes da aceitação faz com que a proposta caduque.
5.3 Contrato Preliminar (arts. 462 e 466 CC):
O contrato preliminar não é obrigatório, ou seja, as partes podem ou não convencioná-lo.
Obs1: Toda modalidade de promessa é espécie do gênero contrato preliminar.
Obs2: Toda espécie contratual admite a modalidade promessa. A única discussão doutrinária existente é acerca da possibilidade ou não da promessa de doação:
1. Corrente Clássica / Conservadora Não é admitida promessa de doação, porque o animus donandi (intenção de doar) não está presente no momento da celebração da promessa, mas apenas no momento de celebração da doação, o que impede a execução específica dessa promessa de doação.
2. Doutrina Contemporânea A promessa de doação é admitida, uma vez que o animus donandi já está presente no momento da celebração da promessa, sendo portanto admitida a sua execução específica. Os autores defendem inclusive a adjudicação compulsória na promessa de doação.