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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria Regional da República da 1ª Região

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Academic year: 2021

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Agravo de Instrumento n° 0038084-17.2014.4.01.0000/DF Agravante: União Federal

Agravado: Manoel Morais de Oliveira Neto Alexandre Relator: Des. Fed. Souza Prudente

RELATOR CONVOCADO: Juiz Federal Carlos Eduardo Castro Martins - QuintaTurma

PARECER Nº 143 /MT/PRR-1

Portadores de Necessidades Especiais. Sistema normativo que garante ampla proteção a tais pessoas. Impossibiilidade de criação de restrições à efetiva participação em concursos públicos, compreendendo não somente a reserva de vagas, mas o acesso a todas as fases do concurso em condições ao menos equivalentes à dedicada aos outros candidatos.

O presente agravo de instrumento ataca decisão liminar proferida em sede de mandado de segurança, em que o impetrante, ora agravado, postulou a concessão de medida cautelar para “figurar

como aprovado tanto na lista de classificação geral quanto na lista à parte”, reservada aos portadores de necessidades especiais – PNE.

Melhor explicitando, o impetrante daquele writ, portador de necessidades especiais em razão de ter sido acometido de poliomelite, quer ver declarada a nulidade da disposição contida no item 9.10.1 do Edital n° 01/CD, de 28 de janeiro de 2014, que abriu vagas para diversos cargos na Câmara dos Deputados.

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É que, tendo participado desse certame, concorrendo para o Cargo de Consultor da Câmara dos Deputados, Área XV (educação), de início o candidato não teve pela Administração reconhecido o direito de ser incluído como classificado nas vagas reservadas aos portadores de necessidades especiais, em razão daquela disposição editalícia.

O MM Juiz Federal da 14ª Vara do Distrito Federal concedeu a liminar, defiro a liminar “ para determinar às Autoridades

Impetradas que procedam à correção da prova do Impetrante, que se classificou em 3º lugar entre os candidatos PNEs, e que assegure sua participação no concurso também nessa classe”

.

Em síntese, o que pretende o agravado no processo de origem é a sua inclusão como classificado nas vagas reservadas aos portadores de necessidades especiais, além de classificado na lista geral do concurso.

No recurso ora sob análise, a União defende a validade da disposição do Edital do concurso,

II

O momento é de exercer opinião sobre o pedido da União de cassar a liminar concedida ao impetrante no mandado de segurança.

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Em primeiro lugar, cumpre observar que o certame já foi concluído, tendo o agravado sido aprovado em primeiro lugar na área para a qual concorreu, nas vagas reservadas aos PNE e em nono na lista geral do certame, como se pode ver na publicação do Portal de Internet do CESPE/UNB, no seguinte endereço eletrônico:

http://www.cespe.unb.br/concursos/cd_14_at/arquivos/CD_14_AT_ED_13_2014_FINAL_TAF_P ER__CIA_T__TULOS_E_DO_CONCURSO.PDF

De acordo com o Edital de abertura do Concurso, na Área XV foram previstas 4 vagas para os candidatos da lista geral de aprovados e 1 vaga para os portadores de necessidades especiais – PNE.

Em síntese, para ser efetivamente nomeado, o candidato agravado necessita da manutenção da decisão liminar, que garantiu o direito de inclusão nas vagas reservadas aos PNE.

Daí porque o requisito do periculum in mora para a concessão da medida liminar atacada pelo presente agravo se faz presente no caso.

Falta, agora, o exame da fumaça do bom direito.

Para tanto, há de se partir de um pressuposto basilar para o exame da questão jurídica que é posta nos autos.

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necessidades especiais?

Tenho que sim, uma vez que a própria Administração assim reconheceu no Edital CD n° 12, de 16 de junho de 2014, que pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico:

http://www.cespe.unb.br/concursos/cd_14_at/arquivos/CAMARA_DOS_DEPUTADOS_14_ED_ 11_2014_CAMARA_DOS_DEPUTADOS_14_PROV_FIS_PER_TIT.PDF .

Partindo-se dessa premissa, resta saber se a disposição contida no item 9.10.1 do Edital de abertura do Concurso é válida, em cotejo com o sistema protetivo dos direitos das pessoas portadoras de necessidades especiais.

De acordo com essa disposição, para cada vaga

dedicada aos candidatos não portadores de necessidades especiais, entre a primeira e segunda fases do concurso, seriam corrigidas sete provas. Para os que concorriam como portadores de necessidades especiais, cada vaga prevista correspondia à correção de duas provas:

1.10 DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA(S) PROVA(S) DISCURSIVA(S)

9.10.1 Observada a reserva de vagas para candidatos com deficiência e respeitados os empates na última colocação, serão corrigidas as provas discursivas dos candidatos aprovados nas provas objetivas e classificados conforme quadro a seguir.

Cargo /Atribuição/ Área Geral Candidatos com Deficiência Analista Legislativo

Atribuição: Consultor Legislativo Área XV

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Como o candidato havia sido classificado na primeira fase em posição que lhe assegurou o terceiro lugar dentre os candidatos que concorriam à única vaga reservada aos PNE, por conta dessa previsão editalícia não teria suas provas discursivas corrigidas.

Visualizando uma ilegalidade no tratamento dispensado às pessoas portadoras de necessidades especiais, o magistrado de primeiro grau deferiu a liminar, nos seguintes termos:

2.- Porém, para os candidatos da ampla concorrência, serão corrigidas as provas discursivas na proporção de 7 candidatos por 1 vaga; na concorrência dos PNEs, serão corrigidas 2 provas discursivas por 1 vaga. A mesma proporcionalidade assegurada aos candidatos da ampla concorrência é o que pretende ver assegurada para os candidatos PNEs.

3.- Tem razão o Impetrante. Com efeito, subitem 9.10 do Edital nº 1-CD, de 28 de janeiro de 2014 (fls. 36), estabeleceu que seriam corrigidas 28 provas discursivas na classificação geral e apenas 2 para candidatos com deficiência, o que não atende a finalidade de se garantir aos portadores de deficiência a mesma proporcionalidade dos que concorrem na classificação de ampla concorrência.

4.- Portanto, sendo corrigidas 7 provas para cada 1 das quatro vagas previstas no edital (resultado de 28 provas corrigidas), é dever do examinador corrigir, também. 7 provas discursivas (redações) dos candidatos que concorrem como PNEs, pois há uma vaga disputada por essa classe de candidatos. Do contrário, estar-se-ia violando a garantia constitucional (art. 37, inciso III) e aos percentuais previstos no Decreto nº 3.298, de 1999, e na Lei nº 8.112, de 1990 (entre 5% e 20%).

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PNE pode concorrer por ambas classes (cf. Item 12.4), deve-se respeitar a vontade do candidato que quer concorrer preferentemente na classe dos PNEs.

6.- Em conclusão, o critério restritivo (2:1) deve ser afastado, para alcançar o Impetrante, que se classificou em 3º lugar entre os candidatos PNEs, pois a Banca deveria corrigir as provas dos que se classificaram até o 7º lugar.

A CF/88, em seu art 37, inciso VIII, dispõe:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;

Regulamentando tal dispositivo constitucional, assim preceituam a Lei n° 8.112/90 e o Decreto n° 3.298/99, respectivamente:

Art. 5o São requisitos básicos para investidura em cargo público:

§ 2o Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

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Art. 37. Fica assegurado à pessoa portadora de deficiência o direito de se inscrever em concurso público, em igualdade de

condições com os demais candidatos, para provimento de

cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que é portador.

§ 1o O candidato portador de deficiência, em razão da

necessária igualdade de condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no mínimo o percentual de cinco por cento em face da classificação obtida.

O Edital do concurso previu, no item 5.1, a reserva do percentual de 5% para as pessoas com necessidades especiais:

5.1 Das vagas destinadas a cada cargo/atribuição/área, na forma do subitem 1.5 deste edital que forem preenchidas pela Câmara dos Deputados, 5% serão providas na forma do § 2º do artigo 5º da Lei nº 8.112/1990, e alterações, e do Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, e alterações.

Desse cálculo, aplicada a proporcionalidade prevista na norma que rege o concurso, o resultou o quadro de vagas que dedica 5 % do total de vagas para as pessoas portadoras de necessidades especiais.

Entretanto, a despeito dessa “reserva” de vagas que atende aos preceitos normativos que compõem o sistema protetivo dos direitos das pessoas portadoras de necessidades especiais, a efetivação desses direitos ficou a meu sentir imensamente comprometida com a regra do inciso 9.10.1 do Edital, quando adotou critério diferenciador para o número de provas que devem ser corrigidas em relação aos candidatos que concorrem para a lista gerak e para a lista dos que se declaram PNE;

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PNE atende, no percentual mínimo, aos preceitos normativos. O acesso a tais vagas, por outro lado, desapega-se da proporção que foi prevista para os candidatos não PNE.

Em resumo, para os não portadores de necessidades especiais há uma maior probabilidade de inclusão no concurso, já que para cada vaga se previa a correção de sete provas discursivas.

Para os PNE, para cada vaga, a correção de apenas duas provas.

O Edital impõe uma verdadeira goleada de 7 x 2 para os não portadores de necessidades especiais, que nos faz lembrar o vexame da goleada de 7 x1 sofrida pela seleção brasileira na última Copa do Mundo de Futebol.

Tenho o convencimento, adotando esse conjunto normativo que inspirou a decisão judicial, que é mesmo caso de se garantir um tratamento aos candidatos que são portadores de necessidades especiais equivalente ao dispensado àqueles da lista geral, afastando-se a restrição que limita severa a efetiva participação das pessoas portadoras de necessidades especiais em concursos públicos.

Se a Constituição e leis do País, seguindo a trilha de pactos internacionais dos quais o Brasil é signatário, prevê a adoção de políticas afirmativas que garantam uma maior inclusão das pessoas

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com necessidades especiais, o que abrange a reserva de vagas em concursos públicos, inadmissível me parece qualquer restrição ou traamento diferenciado que venha a limitar o acesso de candidatos com essa especificidade a qualquer das fases do certame.

III

Nessas condições, opino pelo desprovimento do agravo Brasília, 04 de Setembro de 2014.

Márcio Andrade Torres

Referências

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