Aulas experimentais no Ensino de Ciências: uma (re)aproximação da teoria à realidade prática
Ricardo Ferreira Carrijo1(IC)*, Leandro Vasconcelos Baptista1(PQ). rfccarrijo@yahoo.com.br
1.Reitoria - CEAR: Brasil Sul, N°2800, Jardim Gonçalves, CEP: 75123-315, Anápolis - GO
Resumo: Esta proposta de intervenção visou refletir sobre os desafios da intervenção pedagógica no processo de construção do aprendizado pelo sujeito-escolar (aluno). O objetivo proposto foi elaborar e operacionalizar aulas de ciências mais atrativas, proporcionando maior interação e aprendizagem junto aos alunos, bem como introduzir, dentro das aulas de ciências, propostas de conteúdos práticos, contribuindo para uma melhor aproximação do conhecimento cotidiano ao científico. Sabemos que as dificuldades no ensino e aprendizagem da disciplina de ciências são mais agravadas em escolas de municípios que dispõem de pouco ou quase nenhum recurso para a realização de atividades experimentação, uma vez que a Ciência se constroi também a partir de uma realidade prática. Geralmente estas unidades escolares possuem escasso acesso às novas tecnologias e possuem também grande histórico social que estimula o abandono escolar. No entanto, percebemos que as aulas experimentações, além de contribuir para um ensino sobre as ciências mais contextualizado, auxilia professores e alunos à uma construção coletiva do conhecimento, possibilitando uma (re)ssignificação do Ensino de Ciências.
Palavras-chave: Educação em Ciências. Práticas Experimentais. Contextualização.
Introdução
Percebemos que o Ensino de Ciências (EC) ainda vem sendo desenvolvido de acordo com uma lógica conteudísta e dissociado, cada vez mais, de seus parâmetros históricos e filosóficos (EL-HANI, 2006), sem uma relação direta com o meio social. Esse ensino, pautado em um modelo tradicionalista, ainda é utilizado por muitos docentes em exercício, o que pode dificultar e desestimular o aprendizado e o interesse por parte dos sujeitos em formação (CARRAHER,1986).
O planejamento do EC parece ser pautado apenas em livros didáticos básicos, onde o conhecimento é “repassado” no processo de ensino-aprendizagem, evidenciando uma Ciência pronta e acabada, o que, segundo Gil-Pérez et al. (2001), pode se caracterizar enquanto uma imagem ingênua acerca do trabalho científico. Essa ação leva o sujeito em formação à um processo de memorização, distanciando-o de sua própria realidade. Entedemos que isso evidencia uma lacuna na própria formação do professor, na intenção de um EC mais contextualista (MATTHEWS, 1995), turmas com número excessivo de alunos e ausência de estrutura física adequada.
Vários especialistas, segundo Fracalanza, Amaral e Gouveia (1987), vêm propondo a substituição, no EC, de aulas meramente expositivas por aulas
experimentais, possibilitando, de acordo com Lima, Júnior e Braga (1999), uma inter-relação do sujeito ao objeto de conhecimento. Ou seja, a experimentação possibilita a união do conhecimento do aluno ao conhecimento científico, de forma a estabelecer uma visão mais adequada do trabalho científico.
Percebemos essas dificuldades são mais agravadas em escolas de municípios que dispõem de pouco, ou quase nenhum, recurso para a realização de atividades experimentais. Nessa perspectiva, o presente trabalho o desenvolvimento de aulas práticas de Ciências em duas turmas de 8º ano, na Escola Municipal Professor Zico Batista, localizada na cidade de Caldas Novas, Goiás.
Material e Métodos
O presente trabalho, que faz parte do projeto de intervenção realizado na disciplina de Estágio Supervisionado em Ciências II, da Universidade Estadual de Goiás (UEG/CEAR), foi desenvolvido no decorrer do primeiro semestre do ano letivo de 2016. As intervenções se deram em duas turmas de 8º ano, A e B, do ciclo fundamental II.
O percurso metodológico se deu a partir da inserção de aulas experimentais nas turmas descritas anteriormente, na intenção de propor uma mudança significativa no próprio Projeto Político Pedagógico da Escola, a partir dos planos de ensino da disciplina de Ciências.
Foi disponibilizada pela escola uma aula por semana em cada turma para a aplicação do projeto, onde foram trabalhadas, em ambas as turmas, os conteúdos pertinentes à base curricular de cada turma. As aulas foram desenvolvidas em dois momentos. O primeiro momento contou com uma revisão do conteúdo e o segundo com a aplicação da prática em sala de aula.
Inicialmente, o projeto foi divulgado à gestão escolar e aos alunos das turmas investigadas. Posteriormente, já em sala de aula, houveram aulas teóricas, por duas semanas, no intuito de aproximar o sujeito ao conteúdo trabalhado. Em segunda, durante a semana que seguiu posterior às aulas teóricas, houveram as aulas práticas com a participação dos alunos no processo de experimentação. Os resultados obtidos da experimentação geraram debates, junto aos alunos, sobre a impotância dos experimentos para o aprendizado no EC. Por último, os
experimentos foram expostos para toda a comunidade escolar como forma de divulgar o conhecimento produzido pelos sujeitos em formação.
Resultados e Discussão
A aplicação do projeto nos possibilitou olhar com “outros olhos” o modo de ensinar/aprender Ciências, diferente da visão tradicional-reprodutiva-positivista de ensino, através de uma relação indissociável entre teoria e prática. Isso nos remete a compreender que o processo de ensino-aprendizagem não pode ser atrelado apenas à concepção de Ciência experimental de forma impositiva, mas desafiando para motivar os alunos na busca e um conhecimento contextualizado e problematizado no EC.
Para Baptista, Azevedo e Goldschmidt (2016), a construção do conhecimento a partir da experimentação pode contribuir de forma significativa no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, ainda para os autores, esse processo não deve ser pautado apenas na manipulação de determinados reagentes ou materiais, mas voltado para uma maior contextualização da construção da Ciência ao longo do tempo, evidenciando seus aspectos históricos e sociais e (re)aproximando o sujeito à Ciência e à realidade.
O projeto possibilitou aos alunos pensar e discutir sobre os conceitos/conteúdos relacionados às aulas práticas, onde a mediação, por parte do pesquisador, direcionou o processo de ensino-aprendizagem através de questionamentos críticos e (re)construtivos. O interesse demonstrado pelos alunos evidenciou, ao professor regente, uma importância da experimentação para o desenvolvimento do interesse e criatividade dos alunos.
Para Freire (2001), a criatividade e a curiosidade dos sujeitos levam o professor a percorrer diferentes caminhos que permitam maiores colaborações na mediação do conhecimento, descobrindo algumas especificidades do ato de ensinar. Para além da construção de uma mediação, Possobom, Okada e Diniz (2007), aponta a experimentação enquanto um catalizador no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos escolares, auxiliando na fixação de conteúdos novos e (re)aproximando o sujeito à realidade social.
Assim, acreditamos que a aplicação das aulas experimentais despertou nos alunos um certo prazer em aprender Ciências, desmistificando-a como estudo puramente teórico e que está ao alcance de todos. Para Matthews (1995), é preciso humanizar as Ciências, evidenciando que essa construção é fruto do pensamento humano.
De acordo com Baptista, Azevedo e Goldschmidt (2016), essa busca por novos caminhos de mediação do conhceimento científico possibilitam, além de uma maior interação do aluno, uma possibilidade de o próprio professor (re)pensar e (re)elaborar sua prática docente de forma a romper os obstáculos da profissão.
Considerações Finais
Percebemos que tanto os alunos, quanto o professor, ganha no processo de experimentação no EC. Pudemos deixar de lado a mesmice da teoria, buscando evidenciar, em conjunto, a prática da construção científica. Assim, entendemos também que, tornando publicas nossas reflexões, tentamos possibilitar a cooperação e o desenvolvimento de conhecimentos práticos relativos à construção de uma nova prática pedagógica que possa vir a se tornar uma cultura formativa em rede que contribua, tanto com a formação dos alunos quanto com a formação do próprio professor.
Com a aplicação do projeto e interesse dos alunos e comunidade escolar, o mesmo passou a fazer parte integrante do Projeto Político Pedagógico e do Plano de Desenvolvimento da Escola na unidade escolar, tendo como ponto de partida a restruturação dos planos de aulas da disciplina de Ciências por parte do professor regente, buscando uma contemplação, sempre que possível, de aulas práticas para os sujeitos em formação.
Agradecimentos
À diretora da escola campo, Selma Carolina Mendes, por ter aberto as portas de sua instituição de ensino para que pudesse ser realizado o estágio. Ao professor de Estágio Celso Pinto e ao professor Leandro Vasconcelos Baptista pelas orientação deste projeto.
Referências
BAPTISTA, L. V.; AZEVEDO, R. B.; GOLDSCHMIDT, A. I. Tríade basilar: uso das estratégias, a inclusão da história e filosofia da biologia e a confecção de material didático. Amazônia: Revista de
Educação em Ciências e Matemáticas, v. 12, n. 23, 2016.
CARRAHER, D. W. et al. Caminhos e descaminhos no ensino de ciências. São Paulo: Ciência e
Cultura, v. 37, n. 6, jun. 1986.
EL-HANI, C. N. Notas sobre o ensino de história e filosofia da ciência na educação científica de nível superior. In: SILVA, C. C. (org.) Estudos de história e filosofia das ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Editora Livraria da Física, p. 3-21, 2006.
FRACALANZA, H.; AMARAL, I. A.; GOUVEIA, M. S. F. O ensino de Ciências no Primeiro Grau. São Paulo: Atual, 1987. 124 p.
FREIRE, P. Carta de Paulo Freire aos professores. Estudos Avançados, São Paulo, v. 15, n. 42, p. 2, maio/ago. 2001.
GIL-PÉREZ, D. et al. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação
(Bauru), v. 7, n. 2, p. 125-153, 2001.
LIMA, M. E. C. C.; JÚNIOR, O. G. A.; BRAGA, S. A. M. Aprender ciências – um mundo de materiais. Belo Horizonte: Ed. UFMG. 1999.
MATTHEWS, M. R. História e Ensino de Ciências: a tendência atual de reaproximação. Cad. Cat.
Ens. Fís., v. 12, n. 3, p. 164-214, dez. 1995.
POSSOBOM, C. C. F.; OKADA, F. K.; DINIZ, R. E. S. Atividades práticas de laboratório no ensino de biologia e ciências: relato de uma experiência. In: GARCIA, W. G.; GUEDES, A. M. (Orgs.). Núcleos