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DEUSES QUE FIZERAM O CÉU E A TERRA Jean Sendy. Deuses que Fizeram o Céu e a Terra. O Romance da Bíblia. Círculo de Leitores

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DEUSES QUE FIZERAM O CÉU E A TERRA Jean Sendy

Deuses que Fizeram o Céu e a Terra O Romance da Bíblia

Círculo de Leitores

HÁ VINTE E TRÊS MIL ANOS . . .

Há vinte e três mil anos, a Terra ainda não tinha saído da glaciação. O que se sabe desta glaciação leva a pensar que o fenómeno não

teve origem terrestre; apenas três por mil do calor ao nível do solo provêm do interior do globo; os 99,7 % restantes são-nos fornecidos pelo Sol. O fluxo solar foi portanto responsável pela insuficiência de calor. Dado que o fluxo solar é o mesmo para Vénus e para Marte, é infinitamente provável que estes planetas tivessem passado, na mesma altura, por um período de frios de igual amplitude. Há vinte e três mil anos, a Terra era idêntica ao que é hoje, tal como Marte. Vinte e três mil anos são apenas um instante fugidio, à escala de uma evolução geológica que se estende por dezenas de milhões de anos. Subsiste uma dúvida em relação a Vénus: há vinte e cinco mil anos, Vénus era talvez semelhante à Terra, possuindo uma flora e uma fauna que surgiram sensivelmente ao mesmo tempo e que atingiram um grau de evolução sensivelmente equivalente. A dúvida subsistirá enquanto o homem, segundo um processo ainda por descobrir mas cujo princípio já se conhece, não tiver dissipado as nuvens opacas sob as quais talvez se encontrem os Despojos de uma vida que chegou a atingir um estádio idêntico ao da vida terrestre no Paleolítico Superior. Conservando-nos nos limites do

plausível, podemos conjecturar que, há vinte e três mil anos, cataclismos paralelos assolaram a Terra e Vénus, enquanto Marte, por não ter oceanos a evaporar, nem atmosfera suficientemente densa para agitar as nuvens de poeiras vulcânicas, surgia como habitável a cosmonautas feitos como qualquer de nós, que vinham de demasiado longe para regressarem ao local de origem. O texto bíblico, seguido pelos livros sagrados de outras

comunidades com civilização constituída na alvorada dos tempos históricos, relata a chegada dos Celestes, que teriam começado por contornar uma Terra rodeada por nuvens opacas, passando depois a viver nela. Fizeram

determinado número de coisas no nosso planeta e partiram como chegaram . Reduzindo ao estritamente mínimo a parte romanceada, isto é, as pontes que a imaginação estabelece entre dois factos certos e isolados, vemos

edificar-se um conjunto compatível com as possibilidades concebíveis das ciências e técnicas actuais. Mas este conjunto, coerente com a descrição bíblica e com o cientificamente concebível, não foi ainda sujeito a

qualquer verificação experimental. É evidente? Não, de modo algum. Victor Bérard, helenista de grande reputação, anunciou que estava prestes a

descobrir o túmulo de Zeus. Victor Bérard conseguira sempre tudo quanto anunciara; é muito provável que, se não tivesse morrido entretanto, descobrisse o túmulo de Zeus. . . o que de nada serviria, porque nunca poderia provar que o "seu" Zeus vinha do céu e não era um homem qualquer

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que se fazia passar por deus. Nunca ninguém conseguiu explicar como é que os homens de antes dos tempos históricos deslocaram blocos de duas mil toneladas para construir Baalbek. Nunca ninguém conseguiu explicar como foram construídas as pistas rectilíneas do Peru, de cuja existência não se suspeitava e cujo traçado foi recentemente revelado por fotografias

aéreas. Nunca ninguém foi capaz de explicar uma dúzia de enigmas da mesma espécie. E nunca ninguém compreendeu o que teria levado os homens da Pré-História a edificarem coisas semelhantes. É-se pois tentado a dizer que foram edificados por seres vindos do céu os terraços de Baalbek, as pistas rectilíneas do Peru e tantos outros monumentos de que ninguém pode imaginar porquê e como os construiu a indústria humana, antes mesmo de ter inventado o bronze. Mas afirmar que os terraços de Baalbek foram

edificados por Celestes (cuja existência está justamente por demonstrar) é a mais evidente das falácias: a que toma o objecto a demonstrar por prova da demonstração . Na notável fotografia de Tony Saulnier 1, tirada de um avião sobrevoando as montanhas do Peru, as pistas rectilíneas (os carreiros que as atravessam servem de escala) partem de uma via de acesso direita e acabam no bordo de um planalto, como pistas de descolagem num campo de aviação. Seriam pistas dos aviões utilizados pelos deuses? Pode pensar-se que sim, mas é difícil afirmá-lo. Temos pois de nos resignar. Todos os objectos manufacturados, todos os edifícios da Terra devem ser atribuídos à mão do homem. A única prova irrefutável da permanência dos Celestes, de acordo com a descrição bíblica, deverá encontrar-se na Lua, ou em Marte. Uma ferramenta trazida da Lua e que não seja de fabrico soviético nem americano será incomensuravelmente mais probatória que Baalbek, as pistas do Peru, as estátuas da ilha de Páscoa e todos os outros enigmas reunidos. Qualquer objecto manufacturado ou qualquer obra numa cratera da Lua constituirão prova de uma passagem de seres pensantes que ali nos precederam. Quais são as possibilidades de se encontrarem provas da

passagem dos "meus " Celestes pela Lua ? Mostrei em ensaios anteriores como é provável essa verificação; neste livro limitar-me-ei pois a referi-la.

Mas o que de melhor temos a fazer, para além das presunções favoráveis que arquitectámos, é esperar uma futura exploração da Lua. Temos de determinar primeiro que condições devem satisfazer os cosmonautas para corresponderem à descrição bíblica em que se baseia a hipótese da sua realidade concreta. Se os Celestes do texto bíblico existiram, deve poder fazer-se o seu retrato-robot.

Num capítulo precedente, vimos que a física teórica é a disciplina que, trabalhando com dados já estabelecidos pelos físicos, estabelece uma

espécie de quadriculado de palavras cruzadas em que as realidades de amanhã encontram definição antes de serem descobertas. Assim, os guarks foram previstos pela teoria, porque, se não existissem determinadas experiências já realizadas se tornariam inexplicáveis. O retrato-robot dos deuses, esboçado no próximo capítulo, constitui uma teologia teórica. Se os deuses não existiram de forma tão concreta como qualquer de nós, todo um conjunto de conhecimentos da antiguidade se torna inexplicável.

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Para estabelecer um retrato-robot é evidentemente preciso trabalhar a partir de testemunhos. É menos evidente, mas mesmo assim necessário, que se tenha de afastar determinados testemunhos suspeitos. Há pessoas que, não tendo visto nada, querem tornar-se interessantes e insistem em dizer: "Asseguro-vos que ele tinha um bigode ruivo ! " . . Para o nosso

retrato-robot, é fácil distinguir das falsas as testemunhas que interessam: os únicos "deuses" que nos interessam são os que -se existiram deixaram às comunidades que os reivindicam um ensinamento revelado que dá aos sacerdotes destas comunidades conhecimentos que ultrapassam, de forma evidente, os que os homens da Pré-História podem ter adquirido pelos seus próprios meios . Os deuses dos primitivos nossos contemporâneos não nos interessam para nada, portanto. Ou os seus herdeiros perderam os

ensinamentos revelados, e o seu testemunho não tem mais valor do que o de uma criança, ou adoraram falsos deuses, charlatães que pretendiam vir do céu mas que não possuíam os conhecimentos científicos sem os quais não há cosmonáutica possível. Interessa-nos o testemunho do Egipto dos faraós, como nos interessa o de Babilónia: as duas civilizações possuíam

conhecimentos que ultrapassavam os que se encontram na alvorada dos tempos históricos. O testemunho do Egipto actual não apresenta qualquer interesse e o Islão não sabe mais do que um estudante medíocre, judeu ou cristão. Qualquer aldeão compreende este raciocínio. Na cidade, um charlatão pode facilmente fazer-se passar por médico; no campo não basta intitular-se veterinário, porque além disso é preciso saber cuidar dos animais melhor do que o farmacêutico ou do que o endireita. O único retrato-robot que nos interessa é o de deuses que se tenham comportado como cosmonautas, descritos por comunidades que extraíram um ensinamento prático da herança recebida do céu . Eis a primeira verificação: as comunidades humanas que, no alvorecer dos tempos históricos, surgiram da Pré-História com uma civilização estruturada e já digna deste nome têm todas por centro administrativo e espiritual uma cidade situada de um e outro lado do paralelo 30o, numa estreita faixa limitada pelo paralelo 29o 30, que constitui o limite sul do actual Estado de Israel (golfo de Eilath), e pelo paralelo 33o 30, que constitui o limite norte do mesmo Estado (Galileia). Não possuo qualquer explicação para esta particularidade. Devo limitar-me a observar que se encontram nesta estreita faixa (seguindo a carta de oeste para leste) as pirâmides de Gizé (no Egipto), Jerusalém, Acad, Babilónia, Ur (Caldeia), a Suméria, Persépolis, Laore (que foi capital dos Mongóis), Deli, Lassa (Tibete) e Nanquim. Devo recordar que será absurdo procurar uma explicação para qualquer identidade de climas entre Gizé, no Egipto, e Lassa, no Tibete, e que uma explicação "mística" é sempre cómoda mas apresenta o inconveniente de se aplicar tão bem a uma coisa como à sua contrária. Uma explicação "semimística", pelas

"correntes telúricas", que conhecemos demasiado mal para que lhes possamos atribuir qualquer influência, conduz ao absurdo flagrante de termos de

encontrar uma identificação entre as opiniões hoje professadas em Lassa, em Persépolis, em Jerusalém e no Cairo. Será suficiente o mero acaso para exPlicar e justificar este "alinhamento" das civilizações primitivas, é difícil de admitir, mas, à falta de explicação mais sólida, fiquemo-nos

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pelo dilema: "Acaso ou indicação simbolizada de um conhecimento herdado dos deuses. " As civilizações atrás indicadas têm por característica comum o atribuírem a deuses, bípedes e mamíferos, vindos do céu, os conhecimentos cuja origem os nossos etnologistas não conseguem explicar, por não ser possível que homens pré-históricos os tenham podido adquirir pelos próprios meios. E portanto sobre o testemunho daquelas civilizações que nos

basearemos para fazer o retrato-robot dos Celestes da nossa hipótese. O primeiro traço notável do retrato-robot é o facto de os Celestes terem sido pouco numerosos. A leitura de cada um dos Mitos deixa-nos a impressão de que eram entre trinta e quarenta. No texto bíblico, os cabalistas contam quarenta e nove "nomes divinos", alguns dos quais duplicados, o que nos reconduz sempre ao referido número total. Estes deuses formavam casais cuja vida familiar só excepcionalmente é descrita, e em geral as descrições são embelezadas. Trinta a quarenta pessoas são os efectivos da tripulação prevista pelos projectos, ainda utópicos, de uma cosmonáutica humana, quando verdadeiros cientistas se divertem a meter a sua colherada no

assunto. Trinta a quarenta bípedes chegados do céu é um conceito em que de certo modo o Mito se aproxima da ciência. Mas continuemos. Imaginemos quinze a vinte casais humanos descobrindo um planeta povoado de bípedes feitos à nossa imagem, mas tão primitivos como os nossos antepassados de há vinte e três mil anos. Não conhecem o arco; nem sequer inventaram ainda o propulsor de zagaias. O problema mais urgente para os cosmonautas é o da habitação. Os indígenas primitivos são aproximadamente um milhão, fortes e habituados a viver em condições duras, inteligentes apesar do seu

primitivismo, artistas, supersticiosos, mas tendo já ultrapassado a simples magia de caça . . . Imaginem que qualquer de nós é um dos trinta ou

quarenta celestes. Que faríamos? Começaríamos, evidentemente, por recolher algumas amostras destes bípedes "surgidos do solo", atraindo-os com

missangas ou com uma lata de conserva. Entre estas amostras escolheríamos os mais espertos, que "moldaríamos à nossa imagem " , como os colonizadores "moldam" os criados e a mão-de-obra. Faríamos desfilar perante os indígenas os bichos e as aves locais, "para saber como o indígena lhes chama " , aprendendo assim os primeiros rudimentos da sua língua. Foi isto exactamente o que fizeram os Elohim do texto bíblico, como se pode verificar no capítulo II, versículo 19, do Génesis. Uma vez estabelecida a comunicação, dedicar-nos-íamos a moldar estes indígenas para deles fazermos artesãos mais ou menos especializados. Far-lhe-íamos construir uma muralha que encerrasse um grande parque e faríamos deles jardineiros e guardas . . . guardas na medida em que existissem eventuais depredadores dos quais fosse preciso proteger o jardim. "Adorai Elohim [o Senhor dos Celestes) tomou o homem e instalou-o no jardim do Éden, para o cultivar e guardar", diz-nos o Génesis (II,15). Poderia continuar a localizar, passo a passo, as referências do retrato-robot, o que em breve se tornaria

fastidioso, sem convencer ninguém. Simplifiquemos, pois: ou crêem no que digo, ou leiam este _ capítulo até final, guardando depois o meu livro e pegando numa Bíblia para nela verificarem, lendo os nove primeiros capítulos do Génesis únicos que para o caso interessam -, que relatam a chegada, a permanência, os grandes trabalhos e a partida dos Celestes. Prefiro que verifiquem, mas entendo que a verificação é mais fácil na

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tradução de Edouard Dhorme, onde o plural "Elohim" não é traduzido

abusivamente por um "Deus", mas reproduzido tal qual é, o mesmo sucedendo a "Eloah" (singular de "Elohim"). Dhorme tem a honestidade de considerar "Iavé Elohim" como o "Senhor dos Elohim do texto hebraico, em vez de aceitar o absurdo e linguisticamente indefensável "Eterno Deus" das Bíblias usuais, que ignoram o que qualquer voltairiano relativamente instruído sabe. O texto hebraico nada diz da cosmonave (a "descrição do carro" faz parte do ensino "cabalista" , espécie de ensino do terceiro ciclo da Tradição). O texto hebraico da Bíblia, que constitui o primeiro ciclo da Tradição, diz simplesmente que o espírito dos Elohim contorna a Terra; é depois que os Elohim trazem consigo a luz e, uma vez recebida esta, substituem o cáos pela ordem, instalando-se entre nós. Os textos em sanscrito atendem a um "ovo imenso" de onde teriam desembarcado os Celestes. Foi este "ovo imenso" que, entre as diversas formas de ligação interstelar consideradas pelos astrofísicos citados por Walter Sullivan em Nous ne Sommes pas Seuls dans l'Univers, me confirmou a maior probabilidade de uma astronave suficientemente ampla para permitir a sucessão e várias gerações durante a viagem. Viagem a uma velocidade suficiente para tornar sensível a dilatação do tempo de bordo em relação ao tempo próprio do sistema planetário de origem. Aqui temos um exemplo das diferenças entre um retrato-robot e um retrato retocado: o retrato-robot de um homem de ombros largos não pode ser aceite se o indivíduo que se pretende retratar passou por uma abertura estreita. Se o sistema planetário de origem dos nossos Celestes não tivesse envelhecido vários séculos durante a sua viagem, eles teriam regressado logo após as primeiras dificuldades de colonização . . . Ora a impressão que se desprende de todos os Livros Sagrados é a de que os "deuses", embora muito desiludidos com os homens, continuaram na Terra por não terem para onde ir. A hipótese de um "ovo" de três quilómetros de diâmetro, proveniente de uma civilização desenvolvida em que alguns milhares de técnicos se ocupam da partida de trinta

cosmonautas, é coerente com a dificuldade que os deuses têm em regressar . . . e com o facto de terem abandonado o seu "ovo" no sistema solar (como veremos mais adiante), regressando numa cosmonave cuja partida foi comandada do interior, à falta de uma infra-estrutura de lançamento a cargo dos primitivos nossos avós . Lyman Spitzer, chefe do observatório da Universidade de Princeton, calculou as possibilidades de uma cosmonave a bordo da qual pudessem nascer, viver e morrer numerosas gerações. Freeman J. Dyson, do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, e Edward Purcell participaram nos debates sobre estes cálculos. É preciso ler (e reler) o

capítulo xvI do livro de Sullivan intitulado Poderão Vir Ver-nos, para verificar os problemas a resolver antes que a cosmonáutica interstelar esteja ao alcance dos homens. Mas é preciso lê-lo também para verificar a seriedade com que o problema é encarado nos Estados Unidos. Por que razão faz em França figura de lunático quem encara seriamente as viagens no cosmo? Por determinado número de razões, sem dúvida muito simples. Em França, um cientista apaixonado pelos problemas do espaço é convidado para jantar; na altura do café, a dona da casa organiza à sua volta um círculo de não cientistas cheios de admiração e ele executará o seu número. Mas fará um número de divulgador. Não é um investigador no domínio da pesquisa

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espacial. Mas, para ganhar a sua vida, este cientista deverá ter uma outra especialidade, a física teórica ou a de cinzelador de caçarolas, por

exemplo. Enfim, uma especialidade séria. O espaço, para um francês médio, é o sonho de Cyrano de Bergerac. Para um francês mais evoluído será um passatempo. Um francês não tem mais possibilidades do que um egípcio de vir a ser cosmonauta num futuro previsível. Nos Estados Unidos e na URSS, um cientista apaixonado pelo espaço pode consagrar a sua vida a qualquer dos ramos da pesquisa espacial e ganhar a vida na NASA ou na sua homóloga soviética. Mas voltemos aos deuses-cosmonautas. O seu comportamento na Terra é lógico, segundo o Mito que o descreve. Podem muito bem ter vindo numa cosmonave, quer segundo o que diz o Mito, quer de acordo com o que calculam os especialistas do espaço. Mas porque teriam eles abandonado o seu planeta de origem, que estava no elevado grau de civilização que lhe invejamos? Não sei . Não sei porque duas explicações, entre si

incompatíveis, podem chegar ao mesmo resultado: a partida de quinze casais de cientistas para uma expedição sem espírito de regresso. São

incompatíveis entre si e não as posso apresentar uma a seguir à outra. A primeira é que, num sistema planetário mais próximo da Galáxia, solidificado portanto antes do nosso, a vida apareceu mais cedo, e a evolução fez surgir uma civilização cosmonáutica quando os nossos

antepassados não sabiam ainda talhar o sílex. Cosmonautas apaixonados pela aventura partiram para um sistema planetário onde tinham sólidas razões para pensar que primitivos os acolheriam como deuses. Esta primeira explicação é a mais fácil de admitir, porque faz da colonização interstelar de que teriam beneficiado os nossos antepassados um caso talvez único, mas sempre fortuito e submetido ao acaso, o que é tranquilizador. A segunda explicação é que nós não somos mais do que um elo de uma cadeia de civilização, proveniente do centro da Galáxia, de um sistema planetário da constelação do Archeiro ( " Sagitário " é o nome latino do Archeiro), de cujo arco (ou arca) seremos depositários, desde que o encontremos na

"nuvem" em que os Celestes do texto bíblico prometeram a Noé deixá-lo. Esta segunda explicação é mais difícil de admitir porque faz intervir uma noção de organização à escala da Galáxia. Confesso que a preferi, porque me parece mais lógica que a de uma colonização por mero acaso . . . Mas tenho já bastante dificuldade em admitir que "o arco na nuvem" se encontre numa cratera lunar. Por isso vos peço que esqueçam esta preferência, que não devia ter confessado aqui. Mas, já que a confessei, o mal está feito: só resta justificar-me. A constelação no centro da Galáxia assemelha-se tanto a um Archeiro como a um qualquer senhor Pires ou senhor Lopes, mas tem o nome de Archeiro desde a mais remota antiguidade. Ora não é possível levantar uma carta, mesmo rudimentar, da Galáxia sem usar telescópios, e é mesmo de excluir que sem telescópios os homens tenham podido imaginar que a Terra faz parte de um sistema planetário integrado por sua vez na Galáxia.

Uma vez mais somos conduzidos ao dilema "mero acaso" ou "ensinamento vindo do céu": ou a constelação situada no centro da Galáxia tem o nome de

Archeiro, e a "Arca da Aliança" é um arco, porque os cosmonautas, no seu "ensinamento revelado aos homens " , quiseram referir por um símbolo o conjunto dos seus conhecimentos; ou então estamos perante o resultado do mero acaso. Estamos num círculo vicioso: ou aceitamos como verdade

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histórica a descrição que a Tradição faz da permanência dos Celestes na

Terra, ou resignamo-nos a fazer do Mero Acaso um deus que produz em cadeia coincidências miraculosas. Mas não nos afastemos muito do objectivo deste capítulo, que era o de estabelecer um retrato-robot dos Celestes,

compatível quer com as ciências modernas, quer com o texto bíblico. Este retrato-robot é fácil de estabelecer com os dados que acabamos de referir: os deuses do Mito são feitos à imagem dos cosmonautas que os homens do futuro enviarão, para pousarem como deuses entre os primitivos doutro sistema planetário. Será esta a prova da sua existência ? Voltemos a Emile Guyénot e à sua Origáne des Espèces: "Nenhum dos argumentos extraídos da Anatomia e da Embriologia Comparadas tem valor de prova directa do Transformismo. Eliminadas as interpretações duvidosas ou falsas, fica uma série de deduções altamente verosímeis que, aliadas aos documentos de ordem paleontológica, constituem um conjunto que só se pode interpretar à luz da " hipótese da Evolução. Esta adquiriu, assim, um

carácter de quase certeza. " Era isto que eu gostaria de ter escrito sobre a minha hipótese da realidade concreta dos Celestes do Mito. Não tenho provas directas (se existem, esperam-nos na Lua) e sou assediado por

zeladores gentis, mas ingénuos, que tomam tudo o que descortinam no céu por cosmonautas que confirmam a minha hipótese. Mas, quando se pensa

ponderadamente, a hipótese da realidade concreta dos Celestes do Mito parece-me adquirir um carácter de quase certeza. Se algum leitor considerar difícil de admitir que a "Terra Prometida" a Abraão possa ter sido, por algo mais que o mero acaso, uma "faixa simbólica " de "terras

sagradas" , só poderei recomendar-lhe a Géographie Sacrée du Monde Gteç da autoria de Jean Richer. Nesta obra poderá verificar que, traçando

"territórios zodiacais" em redor de Delfos, Sardes e Delos, os Gregos da época de Homero mostravam conhecer técnicas de nível muito superior ao da condição humana em tão longínquos milénios. Como souberam eles que Delfos e Sardes estão na mesma latitude? E é verdade que estão, embora separadas por quatrocentos e cinquenta quilómetros de terras e mares. E formam um triângulo isósceles com Delos, minúscula ilha do mar Egeu. Seiscentos quilómetros separam o monte Olimpo do monte Ida, na ilha de Creta, mas a edificação dos templos que se erguem nos dois locais nem por isso deixou de obedecer a uma relação definida entre ambos. Como podiam saber os Gregos tudo isto, no tempo de Homero? E como o terão esquecido alguns séculos mais tarde, no tempo de Ptolomeu? É Platão quem nos responde: o que os homens sabiam no tempo de Homero, aprenderam-no dos deuses; à medida que passavam os séculos, perdiam-se os ensinamentos divinos.

"No princípio, os Elohim fizeram os Céus e a Terra. A Terra era deserta e vazia. Havia trevas sobre o abismo e o espírito dos Elohim pairava sobre as águas. " Génesis, t, 1

No princípio, primeiras palavras das versões da Bíblia, é a expressão com que se pretende traduzir bereshith, primeira palavra da Bíblia no original hebraico. Não é necessariamente uma falsa tradução, mas convém saber que existem em língua hebraica cerca de cinquenta livros muito cotados (e algumas centenas de menos cotados) sobre as variações de interpretação da

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palavra bereshith. Em última análise, a significação de bereshith terá feito correr tanta tinta como as discussões sobre a existência de Deus e o significado que se pode dar à palavra "Deus". Daqui poder-se concluir que o hebraico é uma língua imprecisa e que os textos nela redigidos têm de ser classificados como contos de fadas. Mas, então, infelizmente, é-se tentado a concluir que as ciências modernas não valem mais, pois pretendem

exprimir-se numa linguagem cujo absurdo apenas nos escapa porque a usamos diariamente. Deve ler-se, a este respeito, Le Jargon des Sciences, em que o professor Etiemble, da Sorbonne, mostra que a partir do Dictionnaire des Racines Scientifigues, de Cailleux e Komorn, obra muito conceituada, a linguagem dos cientistas é ainda mais opaca do que a da Bíblia. Imaginemos que uma civilização extraterrestre se introduz em textos científicos

determinados do nosso século xx e procura saber o que é um "melómano " , para nos servirmos de um exemplo tirado de Etiemble. Etiemble mostra-nos que um "melómano" pode ser "um apreciador de mel (será um urso-castanho?), um apreciador de ovelhas (certos pastorinhos?), um apreciador de maçãs, um apreciador de negras, um apreciador de membros. Rigorosamente, trata-se de um apreciador de canto " . Como se chega a tal delírio ? Pelo facto de a raiz "mel" poder designar, na linguagem científica do nosso século xx, uma sonda, uma maçã, mel, um membro, uma ovelha, a cor negra ou o canto. O texto bíblico é expressamente o seguinte: um testamento científico,

redigido na língua dos Celestes e em que se misturaram algumas palavras terrestres. E é isto que é preciso interpretar. É a língua dos Celestes: o final do capítulo xxxI do ëxodo precisa que a lei trazida do Sinai por Moisés vinha "escrita pelo dedo dos Elohim " : foram-lhe adicionadas palavras indígenas terrestres, e no Génesis (I1, I9) é-nos indicado que o Senhor dos Elohim fez desfilar os animais perante o homem "para ver como ele os designaria e para que todo o animal vivo tivesse por nome o que o homem lhe indicava". A única razão que concebo para tomar a sério tal texto, e que data certamente de há mais de trinta séculos, é a de que basta ler este texto, como quem lê um livro científico, para descobrir a

descrição de uma chegada de cosmonautas há cerca de vinte milénios, perfeitamente compatível com os dados científicos actuais. Conhecemos os Celestes pelo seu retrato-robot. Passemos agora aos "céus" donde teriam vindo. Uma civilização que atingiu a idade cósmica não se concebe sem um ou vários observatórios astronáuticos instalados "fora da atmosfera". Esta será, sem dúvida, uma das primeiras utilizações práticas da Lua: logo que possível, instalar-se-á numa cratera um telescópio com que se poderá observar o céu sem interposição da camada atmosférica, cuja permanente agitação dá o aspecto "estrelado" às estrelas, que são esféricas como o nosso Sol. Que os sistemas planetários são idênticos entre si como os cristais de um sal é a tese que Lloyde Motz, professor agregado de

Astronomia na Universidade de Colúmbia, sustentou em 1963 num congresso de astrofísicos. O observatório na Lua permitir-nos-á verificar a tese de

Lloyd Motz (e algumas outras), porque o seu telescópio permitirá ver o negro opaco e redondo dos planetas passando diante do disco luminoso das estrelas que possuem um sistema planetário. É provável que a existência de um sistema planetário em redor do Sol tenha sido verificada pelos nossos colonizadores, tal como nós descobriremos a existência de um sistema

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planetário em redor de uma estrela antes de lançarmos as nossas cosmonaves em sua direcção. Recordemos que o primeiro problema a resolver por uma cosmonáutica interstelar é o de propulsionar cosmonaves tanto mais amplas e portanto mais pesadas quanto maior for a distância a percorrer. Com a

distância, a dificuldade cresce pelo menos em progressão geométrica. Trata-se, pois, de um problema de energia. Os cálculos mais optimistas fazem realçar que a fusão controlada do hidrogénio (a "domesticação da energia das bombas H"), quando for realizada, será ainda insuficiente para a cosmonáutica interstelar. Mas a etapa seguinte será a da cisão do protão em três guarks. Para a ciência actual, a energia dos guarks representa um futuro longínquo . . . salvo se os homens encontrarem numa cratera lunar uma "arca da aliança" que contenha, entre outros ensinamentos, documentação sobre a física dos guarks. Uma certeza nos dá a física teórica: era

impossível que cosmonautas tivessem visitado os nossos longínquos antepassados se não dispusessem da energia subnuclear dos guarks. . . e dispor da energia dos guarks proporciona os meios energéticos para uma cosmonáutica interstelar. Mas dispor de energia não é suficiente. Há ainda o problema biológico: pode-se seriamente imaginar a partida de trinta

homens e mulheres para uma viagem de vinte anos ou de cem a bordo de uma cosmonave ? A primeira reacção é negativa. Mas depois, quando reflectimos sobre o problema . . . Há dez anos estava totalmente por demonstrar a

possibilidade de um homem se manter fechado numa cápsula em órbita terrestre; depois, a possibilidade de dois ou três homens. . . depois . . .

No ponto em que nos encontramos, os Soviéticos demonstraram, entre 1967 e 1968, a possibilidade de três homens viverem um ano em circuito fechado bebendo a própria urina e suor purificados, comendo as suas dejecções sólidas em molho de vinagrete, após a transformação destas

dejecções-estrume em salada vitaminada, por fotossíntese em luz artificial. Viverem um ano nestas condições e saírem depois como bons amigos, o que constituía uma possibilidade também totalmente por demonstrar. Levando a reflexão um pouco mais longe, conclui-se que é perfeitamente racional e mesmo razoável conceber o lançamento de quinze casais humanos, menos portanto que a população de uma aldeia, numa viagem que deve durar um ou vários séculos, na condição de os instalar numa nave espacial maior do que uma aldeia numa esfera de três quilómetros de diâmetro, por exemplo, quer dizer, com vinte e cinco quilómetros de área na superfície interna. Os que embarcarem em semelhante viagem terão certamente problemas de adaptação, mas terão de preparar os seus filhos e netos para uma vida ao ar livre,

surpreendente e traumatizante para eles, que encontrarão quando chegarem ao seu destino na esfera em cujo interior nasceram . Os cosmonautas nascidos no interior de uma esfera de clima invariável, organizada para o equilíbrio biológico próprio de uma espécie superior, arriscam-se a ter dificuldades quando transferidos para a superfície de uma esfera, submetidos às variações das estações, e onde terão tantas possibilidades de sofrer de agorafobia como os seus antepassados da primeira geração de cosmonautas terão sofrido de claustrofobia. O problema biológico não é menos complexo do que o da energia, mas pode ser resolvido. Remeto o leitor para o livro de Sullivan, onde, na página 259, se encontram indicações sobre os cálculos de Darol Froman, que demonstram a possibilidade de lançar a Terra numa

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viagem de oito mil milhões de anos, quando o nosso Sol, usado, estiver prestes a extinguir-se e se torne necessário colocar o nosso planeta na órbita de um novo sol a cerca de 1300 anos-luz de distância. Claro que se trata de uma fantasia matemática, mas não certamente de ficção científica: Darol Froman é antigo director técnico adjunto do Laboratório de Los

Alamos, administrado pela Universidade da Califórnia por conta da Comissão Norte-Americana da Energia Atómica. Oito mil milhões de anos de viagem, para uma distância de mil e trezentos anos-luz, é uma viagem "lenta", a uma velocidade média de seis milhões de anos por ano-luz de distância. O que é tecnicamente concebível para a Terra inteira é-o com mais forte razão para uma esfera do diâmetro de Fobos, uma das duas luas de Marte, que tem um comportamento particularmente aberrante para um corpo celeste natural, mas perfeitamente coerente para um corpo celeste colocado na órbita de Marte ao fim de longa viagem interstelar. Marte possui dois satélites: Fobos e

Deimos. Estas duas luas têm órbitas quase circulares, situadas quase no plano do equador de Marte. Fobos faz cerca de três voltas a Marte por dia marciano, a 6000 quilómetros de altitude (a distância média da Lua à Terra é de 384 000 quilómetros). O astrónomo soviético Sehklovsky pensa ter certificado que Fobos perde altitude de ano para ano, o que o ameaça de destruição num futuro bastante próximo, porque, abaixo de 4500 quilómetros de altitude, o satélite será abrangido pela gravitação de Marte e cairá

como uma pedra. Nenhuma das características atrás indicadas se verificou em qualquer corpo celeste conhecido, excepto nos satélites artificiais lançados pelo homem; nenhuma delas pode ser seriamente explicada pela astronomia teórica. Se Fobos era a cosmonave de que falei no capítulo 10, todas as características indicadas pertenceriam à ordem material das coisas. Indiquei acidentalmente nos Capiers de Cours de Moise (e mais particularmente no prefácio da reedição de 1969) algumas razões que levam a pensar que foi um satélite artificial, o Lilith da Tradição, o objecto que caiu em 1978 na Sibéria. Se é tudo assim tão claro, por que se teria

estado à minha espera para conceber a explicação que apresento? Porque ela é baseada na realidade história do Génesis, hipótese que sou hoje o único a formular, no quadro dos dados científicos actuais . . . E porque é preciso vencer sérias "blocagens psicológicas" para fazer ver que o texto bíblico pode não ser nem um texto sobrenatural à glória de Deus, nem um montão de superstições, mas sim um texto histórico sério. Schklovsky sustentou a hipótese de Fobos ser um satélite artificial . . . mas o

físico soviético nunca ligou a afirmação a qualquer tese de cosmonáutica que confirmasse o texto bíblico. O que se não sabe é o verdadeiro

diâmetro de Fobos e de Deimos. Calculam-se os seus diâmetros em função do seu brilho aparente e da sua "claridade lunar", isto é, do seu poder

reflector. Para citar Planètes et Satellites, "se Fobos e Deimos são

grandes pedregulhos, o diâmetro de Fobos é de cerca de doze quilómetros e o de Deimos de oito quilómetros. Mas se são esferas de metal "polido " , o seu diâmetro é da ordem de mil ou mil e quinhentos metros. Supondo uma esfera de metal despolido, como é próprio de naves que tenham efectuado uma viagem no espaço, chega-se à minha hipótese de um diâmetro de três quilómetros para Fobos e de dois para Deimos (supondo-os idênticos, o que está por demonstrar). Não estou no segredo dos deuses nem conheço o

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