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O TRABALHO COM PROJETOS

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Academic year: 2021

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O TRABALHO COM PROJETOS

Uma forma bastante interessante de articular os aspectos anteriormente mencionados é o trabalho com projetos, mas para que esse modo de organização do planejamento não sirva como mais um modelo engessado, do tipo receita culinária ou modismo, são necessárias algumas conceituações.

Existem características bastante distintas nos Projetos de Trabalho e no Projeto Político-Pedagógico, mas esses dois tipos são, inúmeras vezes, confundidos pelos profissionais da educação. Conceituá-los e diferenciá-los é necessário para que haja mais clareza no registro das intenções educativas.

Luciana Esmeralda Ostetto também esclarece com brilhantismo que os projetos políticos pedagógicos são aqueles de amplitude, normalmente sugeridos pela direção ou coordenação das escolas e que envolvem toda a instituição, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, ou seja, um instrumento coletivo. São projetos propostos a fim de trabalhar questões sociais ou políticas importantes no que tange á formação da cidadania.

Temas nacionais ou universais bastante relevantes e interessantes podem surgir como, por exemplo, Preservação Ambiental - responsabilidade de todo cidadão. Neste tema, a direção ou coordenação da escola poderiam propor ações coletivas, como a separação do lixo, reciclagem de papéis e outros materiais pelas crianças da Educação Infantil, e até propostas mais elaboradas como métodos de despoluição dos rios para as turmas do Ensino Médio. Apesar de amplamente debatidos, os temas relacionados ao ambiente e sua relação com a qualidade de vida parecem não estar devidamente trabalhados nas escolas, haja vista os índices, ainda baixos, de reciclagem no Brasil.

Outro exemplo, como a implantação de sistema rotativo das crianças para o horário das refeições, — necessariamente não é preciso estar a mesma turma, ao mesmo tempo no refeitório —, demonstra a preocupação com a satisfação das necessidades delas em idades variadas e o respeito ao seu ritmo. Umas comem mais rápido e rejeitam determinados alimentos, outras mastigam mais devagar e apreciam esse momento. Nesse caso, incentivar a criança a experimentar alimentos diferentes e explicar a importância de mastigar bem os alimentos é fundamental, mas mantê-la sentada e imóvel até que o colega termine é tortura. Para resolver o problema do ritmo individual, a solução seria que as crianças fossem preenchendo as vagas do refeitório, independentemente de pertencer a um ou outro grupo. Esse é o caso da implantação de um projeto que envolva todas as turmas de crianças, um projeto que tem amplitude.

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O professor deve seguir outro caminho com os “projetos de trabalho”, que estão relacionados ao processo, à trajetória de cada turma. Os projetos de trabalho pertencem a cada grupo particularmente, pois se referem à sua história, aos seus interesses e necessidades específicos, daí a impossibilidade de serem iguais. Cada grupo tem o seu e, então, são muitos os projetos de trabalho dentro de uma escola. encaminhar o dia-a-dia dos diferentes grupos.O projeto é de cada grupo.

A elaboração de um projeto de trabalho parte da observação atenta do grupo. Suas preferências em brincadeiras, conversas, seus interesses por personagens de contos de fadas, gibis, desenhos, entre outras histórias. Talvez essa observação seja a maior dificuldade no desenvolvimento dos projetos, porque a rotina e o desgaste do cotidiano muitas vezes fazem com que o professor perca o olhar e a escuta sensíveis para as necessidades do grupo e passe a responder automaticamente aos questionamentos da criança.

“Por que você é Flamengo e meu pai Botafogo?

O que significa impávido colosso?

Por que os ossos doem enquanto a gente dorme?

Por que os dentes caem?

Por onde os filhos saem?

Por que os dedos murcham quando estou no banho?

Por que as ruas enchem quando está chovendo?

Quanto é mil trilhões vezes infinito?

Quem é Jesus Cristo ? Onde estão meus primos?

El, el, el, Gabriel; el, el, el...el

Por que o fogo queima?

Por que a lua é branca?

Por que a terra roda?

Por que deitar agora?

Por que as cobras matam?

Por que o vidro embaça?

Por que você se pinta?

Por que o tempo passa?

Por que que a gente espirra?

Por que as unhas crescem?

Por que o sangue corre?

Por que que a gente morre?

Do que é feita a nuvem?

Do que é feita a neve?

Como é que se escreve Réveillon ? El, el, el, Gabriel...”

Adriana Calcanhotto

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Como na música Gabriel, de Adriana Calcanhotto, quantas perguntas são instigantes para a criança e que poderiam facilmente se transformar em um projeto de trabalho, mas, no final, caem no buraco negro da rotina e acabam sem um merecido encaminhamento para a busca das respostas.

Qualquer um desses questionamentos citados na letra da música poderia se transformar em um riquíssimo ponto de partida para o trabalho com projetos. Os projetos de trabalho possuem como vantagem satisfazer a curiosidade e interesses infantis em qualquer faixa etária, em qualquer grupo de crianças, de qualquer contexto social, pois, ao tomar como referência algo que a criança queira desvendar, o trabalho tem condições de atender à diversidade dos grupos.

De acordo com Ostetto, um projeto de trabalho possui uma estrutura que procura garantir a reflexão necessária ao planejamento. Essa estrutura se apóia nos seguintes elementos:

I- Nome;

II- Justificativa;

III- Objetivos;

IV- Assuntos, atividades, situações significativas;

V- Fontes de consulta, recursos;

VI- Tempo previsto.

Todavia, não basta colocar esses elementos no papel. A maneira como um planejamento é registrado não garante a intencionalidade no trabalho pedagógico. Cada um dos itens deve ser atentamente analisado para que todos se relacionem com coerência e tenham significado para a criança.

A identidade do grupo visivelmente estampada no projeto é condição para que ele não se torne simplesmente mais uma receita de planejamento, na qual as etapas são cumpridas uma a uma, sempre da mesma maneira, mudando apenas alguns poucos componentes do recheio. Qualquer tipo de identificação exige a relação de características, ou, pelo menos, das mais importantes. Para delinear a identidade do grupo, é necessário que o professor observe, escute, fale, envolva-se, pense, vibre, emocione-se e, principalmente, registre tudo isso. Assim, é óbvio que não se pode determinar os temas para os projetos no inicio do ano letivo. Afinal, o professor ainda não conheceu ninguém, ainda não registrou uma linha, ainda não sabe qual é o ritmo do grupo, ainda não sabe como bate seu coração...

Registrar cotidianamente, disciplinadamente, revela, como numa fotografia, detalhes de um determinado grupo que, no extremo dinamismo do dia, na rotina desgastante e no corre corre cotidiano, passam despercebidos. O registro é o resultado da avaliação e da reflexão sobre o trabalho realizado e vai dar as pistas para o encaminhamento do projeto, pendendo para um ou outro assunto. A leitura e releitura desses registros, a avaliação dos resultados obtidos apontam para o profissional os novos rumos a trilhar com as crianças.

Elementos da estrutura de um projeto

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I- Nome

O nome deve dar uma noção do que será desenvolvido no projeto. É o assunto central a ser estudado.

II- Justificativa

É o motivo pelo qual o professor encaminhou o projeto para um determinado tema. A justificativa se constrói a partir dos registros e mostra que tipo de sinal o grupo deu para que a escolha tenha recaído nesse assunto específico. Justificar as escolhas é contar as variadas experiências que levaram as crianças a se interessarem por um elemento específico entre tantos outros existentes no mesmo ambiente e, por esse motivo, é possível enxergar a identidade do grupo neste tópico.

Às vezes, por acreditar que não seja possível perceber a direção dos passos dados pelas crianças, o professor inventa uma justificativa e a enquadra num tema que ele considera viável e imediatamente se reconhece, pelas características muito peculiares, as fôrmas moldadas que poderiam pertencer a qualquer turma, sem rosto, sem cor, sem identidade.

III- Objetivos

Os objetivos são estabelecidos tentando a conexão com os tópicos já relacionados anteriormente, quais sejam, aspectos do desenvolvimento, eixos de conhecimento de mundo, possibilidades de aprendizagem significativa, brincadeiras, interação e utilização dos vários tipos de linguagens para expressão. O professor dirige uma pergunta central a si mesmo: Para quê?

Para que trabalhar esse tema? Quais possibilidades de aprendizagem ele trará ao grupo?

IV- Assuntos, atividades, situações significativas

Este talvez seja o item que exige mais reflexão e criatividade do professor. Dele depende também o entusiasmo das crianças pelo trabalho no projeto. Algumas perguntas são necessárias para direcionar o professor:

Quais possibilidades podem surgir em assuntos relacionados ao tema?

Quais situações significativas podem ser vividas pelo grupo, dentro e fora do ambiente escolar? Quais atividades orientadas, jogos e brincadeiras podem ser propostas? Quando responde a esses questionamentos, o professor relaciona o que será utilizado para se chegar às respostas para as indagações das crianças, o que, instrumentalmente servirá para investigar os assuntos escolhidos.

Este item dá mais clareza à idéia de projetos que contemplem um trabalho com os bebês, pois há uma série de possibilidades. Com os pequenos não é possível descrever o assunto que será tratado, mas em contrapartida fica

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muito fácil expor situações significativas que possam ser criadas para a ampliação de aprendizagens.

V- Fontes de consulta, recursos

Neste item, o professor lista os materiais e espaços disponíveis para a realização das atividades, as possibilidades de visitas, passeios e eventos disponíveis e viáveis, que contribuam para o aprofundamento do assunto.

VI- Tempo previsto

O professor faz a estimativa do tempo necessário para o desenvolvimento do tema. O tempo pode ser bastante flexível, à medida que outros interesses possam surgir em torno do projeto, aprofundando as informações a ele relacionadas ou encaminhando-se para um outro projeto, alterando as estimativas iniciais. A partir dessa estimativa, o professor pode organizar-se por semana e reorganizar-se diariamente, de acordo com os acontecimentos, imprevistos e novidades que surgirem.

O projeto de trabalho com crianças de educação infantil é um tipo de trabalho cientifico e investigativo, porém sobre assuntos e vivências que são familiares a elas. As experiências das crianças, suas interações no ambiente vão gerando dúvidas as quais precisam ser respondidas para que ela conheça melhor o mundo em que vive. A partir de uma pergunta dentro do grupo, o professor procede a um levantamento dos conhecimentos das crianças sobre o assunto e sente a temperatura do interesse. Se estiver alta, levanta as hipóteses de resposta, solicita a busca de informações sobre o assunto, escolhendo com eles os meios e materiais para pesquisa.

Como nas imagens anteriores, os meios de transporte estão presentes na vida da criança. Alguns foram vistos em viagens e passeios, outros estão em sua realidade cotidiana. Por isso, não tem sentido que os livros didáticos apresentem atividades soltas e desconectas sobre esse assunto. Basta que as crianças contem suas vivências e pode-se comprovar a riqueza de informações que elas possuem.

Nesse tipo de trabalho, o professor se despe do perfil “sabe tudo”, para ser parte do grupo. O professor que gosta de responder prontamente às

interrogativas das crianças acaba por tratar os temas com superficialidade, baseado nas informações que tem sobre o assunto. É humanamente impossível que ele tenha todas as respostas para todas as dúvidas das crianças e, por isso, junto com o grupo, ele pesquisa, investiga, aprende, admira-se, entristece-se, alegra-se, enfim, vive intensamente o prazer da descoberta com seus alunos parceiros.

Referências

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