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AS CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

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AS CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Thamara Alves C. Siqueira (Instituto Educacional Santa Helena) Adriana Pugliese (Universidade Federal do ABC)

RESUMO

Este relatoanalisa o registro escrito de alunos e apontaindícios de práticas dealfabetização científica (AC). Tem como estratégia uma sequência didática sobre método científico e concepções de ciência. Os alunos responderam três questões iniciais, em seguida leram textos que abordavam a temática e realizaram uma atividade prática.Como resposta à sequência, foi possível perceber o levantamento de hipóteses e construção de argumentos.Quatro meses depois as perguntas foram refeitas aos alunos.Ideias estereotipadas como a imagem do cientista se fizeram presentes, mas não permaneceram. Entende-se que os registros verbal e escrito podem indicar a presença do processo de AC e a construção do pensamento científico dos alunosrelaciona-se à concepção de ciência da professora regente.

Palavras-chave:Alfabetização científica. Concepções de Ciência. Registro escrito.

INTRODUÇÃO

A escola tem papel fundamental no fomento da divulgação científica, em uma perspectiva de desmistificar questões errôneas em torno da ciência, especialmente por meio da alfabetização científica, fazendo com que os alunos compreendam o que é, quem faz e onde se fazciência, a forma crítica subjacente a essas questões e a relação estabelecida entre ciência e sociedade.

A respeito da alfabetização científica (AC) e o ensino de Ciências, Sasseron e

Carvalho (2008, 2011) discutem sobre a importância de se proporcionar oportunidades para

que os alunos tenham um entendimento coletivo da ciência; as autoras sistematizam três eixos

estruturantes desse processo de alfabetização, de modo que os estudantes se apropriem das

diferentes vertentes que envolvem a cultura científica. Ou seja, que consigam relacionar

ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente, e sejam capazes de discutir e refletir sobre os

impactos, os fatores éticos e políticos que esses temas representam dentro da sociedade onde

estão inseridos.

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Ainda nesse discurso, Sasseron e Carvalho (2008) ressaltam a necessidade de um ensino de Ciências eficaz, não só em oferecer conceitos científicos, mas sobre a importância de permitir que situações-problema sejam vivenciadas pelos alunos, de modo a investigá-las para tentar resolvê-las, ou seja, “fazer ciência”.

Atrelado a isso, concepções errôneas de como o conhecimento científico é construído se propagam nas instituições de ensino, tanto na Educação Básica como na Superior, inclusive em cursos de formação de professores. Gil-Pérez et al. (2001) discutem sobre as limitações de uma educação científica centrada na mera transmissão de conhecimentos e, corroborando estudos de diversos autores, evidenciam que concepções epistemológicas inadequadas (e/ou incorretas) são um dos principais obstáculos aos movimentos de renovação da Educação em Ciência.Apoiando-se no estudo de Estany, do início da década de 1990, os autores ainda discutem sobre o cuidado que o professor precisa ter em não passar a ideia de que existe um método científico universal ou a ideia de uma “imagem correta” do conhecimento científico.

Uma preocupação trazida por Carvalho (2006) é que mesmo com as orientações e planejamentos pautados em pressupostos teóricos condizentes, uma dúvida presente é se os alunos entendem o que é Ciência, se conseguem aplicar o conhecimento adquirido em situações novas, se usam uma linguagem científica, ou seja, se as práticas pedagógicas pensadas e realizadas contribuem para formar um cidadão melhor.

Tentando aproximar os estudantes da cultura científica, uma ação importante é auxiliá-los para que consigam se expressar de modo claro e objetivo, que consigam construir argumentos, e defender suas ideias de modo sistematizado e legítimo, não apenas com preceitos de senso comum. Segundo Oliveira e Carvalho (2005, p. 349), “A discussão de ideias é importante para gerar, clarificar, compartilhar e distribuir ideias entre o grupo, enquanto o uso da escrita como instrumento de aprendizagem realça a construção pessoal do conhecimento”.

É também a partir de estratégias e práticas de argumentação em sala de aula que professores e alunos exercitam a AC.Assim, entende-se por argumentação todo e qualquer discurso apresentado por aluno ou professor, que expressem suas ideias em sala de aula, apresentando argumentos que justifiquem ações e conclusões a que tenham chegado, explicando determinado resultado sobre o assunto discutido(SASSERON; CARVALHO, 2008).

Nas aulas de ciências, frequentemente observa-se o relato de justificativas sobre

posicionamento e opiniões, prática essa que contribui de modo significativo para o processo

de alfabetização científica dos alunos, assim como se verifica que indícios do processo de AC

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podem acontecer mediante o discurso escrito dos estudantes(PUGLIESE; SASSERON;

MARANDINO, 2012). Tishman e Perkins (1997) colocam que a formulação escrita de argumentos auxilia no processo de reflexão sobre as discussões de classe, o que não seria possível apenas com discussões orais (apud RUIZ-PRIMO et al., 2010).

Bargalló e Prat (2010) estudaram a argumentação a partir da leitura de textos e, Ruiz- Primo et al. (2010) analisaram textos construídos pelos alunos a partir do uso da argumentação em instrumentos de avaliação, defendendo que esta é uma atividade fundamental em pesquisas científicas.

Nesse contexto, o trabalho ora apresentado teve por objetivo analisar os registros escritos de estudantes de Ensino Fundamental de modo a indicar dados sobre suas concepções de Ciência e indícios que remetam a uma prática pedagógica voltada à alfabetização científica.

METODOLOGIA

Historicamente, a área de educação tem tradição na realização de pesquisas de cunho qualitativo, muitas vezes guiadas pelas inquietações profissionais da prática docente que eventualmente conduzem as pesquisas por esse caminho. Por exemplo, a constatação de um problema cotidiano de uma classe ou grupo de alunos no viés de ensino-aprendizagem pode ser a motivação de um professor para procurar soluções e alternativas nas pesquisas em Educação.

Além de enfatizar mais o processo que o produto e se preocupar em retratar a perspectiva dos participantes (LÜDKE; ANDRÉ, 2013), a pesquisa qualitativa estabelece possibilidades interessantes e desafiadoras (DUARTE, 2002). Para Lüdke e André (2013), as mudanças ocorridas com os estudos na área de Educação mostram que poucos fenômenos podem ser analisados de modo individualizado, de modo analítico. Ou seja, em uma abordagem qualitativa, em especial no contexto educacional, o objeto estudado deve ser analisado de forma holística, de modo a perceber a totalidade na qual está inserido.

É nesse âmbito que o presente relato de experiência docente aborda, de modo

qualitativo, uma atividade pedagógica ocorrida em uma escola da rede particular do município

de Guarulhos, região da Grande São Paulo, com 30alunos de duas turmas do 6º ano do Ensino

Fundamental (14 meninos e 16meninas).

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A partir do planejamento de uma sequência didática de quatro aulas que prezava abordar concepções de Ciência e práticas científicas, foram levantadas três questões referentes ao estudo da Ciência: O que é Ciência? Quem faz Ciência? Onde se faz Ciência?

Na primeira aula, as perguntas foram realizadas como forma de introdução da disciplina de Ciências e deveriam ser respondidas por escrito.Na segunda aula, após o término das respostas escritas pelos alunos, os mesmos leram e discutiram sobre dois textos retirados

da rede mundial de computadores: “O que é

ciência?”(http://www.coladaweb.com/curiosidades/o-que-e-ciencia) e “Método científico”

(http://escolakids.uol.com.br/metodo-cientifico.htm), os quais traziam informações sobre o conceito de ciência e de método científico.

Na terceira aula aconteceu uma atividade experimental intituladaO que tem aí?

1

.A professora entregava aos alunos uma caixa lacrada com um objeto misterioso para que os mesmos, manipulando a caixa, levantassem hipóteses sobre o que estaria no interior da mesma.

Na quarta aula, os alunos discutiram entre si as hipóteses levantadas, trocando suas informações para que fosse feito o fechamento da sequência de atividades propostas. Vale ressaltar que, depois de realizadas as discussões em pequenos grupos, a professora utilizou a lousa para compartilhar as hipóteses levantadas por cada grupo, de modo a conduzir o fechamento da discussão da atividade.

Por volta de quatro meses depois, as três questões levantadas no início do ano letivo foram feitas novamente aos alunos, com o intuito de estabelecer um comparativo das respostas e concepções dos estudantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como dito anteriormente, foram analisadas as respostas escritas de 30 alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, referente às questões mencionadas anteriormente. Para a pergunta “O que é Ciência” destacam-se as respostas

2

:

1 Atividade retirada do material didático do sistema Anglo de ensino. MARTINS, José Manoel. Ensino Fundamental, 6º Ano: Ciências: Caderno 1. São Paulo: SOMOS Sistema de Ensino, 2016, p. 226.

2 Ressalta-se que se tentou manter a fidedignidade ao registro escrito dos alunos, inclusive a erros gramaticais ou de ortografia. Algumas adaptações foram feitas somente quando se percebia um comprometimento na compreensão do discurso.

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Para mim ciências é onde entramos no mundo de estudos naturais, experimentos estudamos a natureza, coisas que não se vê a olho nu e muitas coisas mais. (Aluna A).

Ciências é um modo de descobrir coisas no mundo por exemplos: em pessoas, animais, plantas etc.(Aluno B).

Ciências é aprender sobre a natureza, o corpo humano, doenças, elaborar, experimento e etc. (Aluna C).

Ciências é tudo o que está ao nosso redor, tudo o que vemos é perfeitamente científico, acredito que água, vento, sol, lua, estrela, nuvem animais humanos, frutas, é tudo ciências. (Aluna D).

Ciência é um tipo de estudo, que estuda todo tipo de tecnologia e vida.(Aluno E).

Observa-se em muitos excertos das repostas dos alunos que a Ciência faz parte do estudo do corpo e da natureza. No entanto, corpo e natureza parecem ser assuntos que não fazem parte do cotidiano dos alunos, algo distante, como se eles mesmos não fizessem parte desse contexto.

Já para a perguntasobre quem faz ciência, percebe-se que apesar dos alunos responderem “os seres humanos” ou “qualquer pessoa”, o cientista ainda aparece como um ser superior ou diferenciado dos demais, com uma bagagem maior de estudo e capacidade intelectual.

Os cientistas, nós e estudiosos de ciência.(Aluno E).

Os cientista[s][é] quem [têm] vontade de estudar ciências.(Aluna C).

Quem faz ciência é os seres humanos que trabalham com cientista ou outra pessoa qualquer. (Aluno B).

Eu acho que não tem uma pessoa certa para fazer ciências, porque com muito estudo qualquer pessoa pode fazer ciências não só grandes cientistas.

(AlunaA).

E quem faz a ciência é cientista[...] eles estudam por exemplo animais, seres humanos e outros exemplos. (Aluno F).

Sobre onde se faz ciência, observa-se que a grande maioria dos alunos caracteriza o

laboratório como o lugar onde a ciência acontece, apesar de citar que em outros lugares a

ciência poderia acontecer.

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Nas faculdades; nas escolas; nos laboratórios. (AlunaC).

Em laboratórios e em nossa casa sem nós percebemos. (Aluno E).

Em um laboratório.(Aluno G).

Ciências começa na sala de aula, onde todos começam a aprender partes do corpo para pessoas que já sabem um pouco mais desse tipo de coisa utilizam os laboratórios mas eu acho que tudo começa aqui Na Escola.(AlunaA).

Na minha opinião pode-se fazer ciência em todo lugar más é mais comum em laboratório. (AlunaH).

Nas escolas, nos laboratórios, em casa, etc. (AlunaI).

Apesar da maioria dos alunos ter a ideia que o laboratório é o espaço destinado a realização da ciência e práticas nesse escopo, no momento em que as respostas foram compartilhadas com toda a turma numa discussão coletiva, a professora levantou a questão que, sendo o laboratório o espaço destinado a isso, eles não fizeram ciência realizando a atividade da caixa em sala de aula. O argumento da professora fez com que os alunos refletissem e mudassem seu discurso, admitindo que existem outros espaços possíveis para realização de práticas científicas.

Em relação àatividade experimental sobre o método científico, muitas hipóteses foram levantadas pelos alunos numa tentativa de descobrir qual era o objeto misterioso presente na caixa; o interessante é que dentre as respostas dadas, alguns alunos repetiam as respostas dos outros. Talvez tal comportamento se explique pela imaturidade dos estudantes ou influência exercida pelo discurso de alguns alunos com histórico de rendimento escolar acima da média.

Entendemos que a atividade da “caixa misteriosa” é um importante mecanismo didático, que se apoia na experimentação como uma estratégia diferenciada no ensino de Ciências e em uma prática pedagógica voltada à AC, já que permite que diferentes hipóteses sejam levantadas, discutidas e, rejeitadas ou aceitas. Paleari (1997) relatou uma prática pedagógica utilizando a atividade da caixa preta com alunos também do 6º ano (a antiga 5ª série) do Ensino Fundamental. A autora comenta que tal atividade exemplifica passos de um método científico e trabalha a importância de ouvir e respeitar uma opinião (hipótese) contrária, sendo necessário discuti-la e testá-la antes de rejeitá-la, todas as etapas pertinentes e condizentes com o fazer científico.

Nessa perspectiva, voltamos as ideias de Gil Perez et al. (2001) sobre “[...] a

importância de (re)conhecer as visões deformadas dos professores sobre o trabalho científico,

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para a partir daí poderem consciencializar e modificar as suas próprias concepções epistemológicas acerca da natureza da ciência e da construção do conhecimento científico” (p.

125).

Apesar de parecer relativamente simples, a atividade da caixa exige boa condução do professor na discussão levantada em sala, pois alguns ranços e mitos sobre a natureza da ciência podem se manter após a realização de tal prática, inclusive àqueles relacionados às questões de gênero.

Seguindo a metodologia descrita para uma análise comparativa, quatro meses após as primeiras repostas, os estudantes mais uma vez responderam as mesmas perguntas sobre concepção da ciência feitas no início do ano. Para a pergunta “O que é Ciência”, destacam-se:

Ciência é o que fazemos para descobrir coisas, estudar coisas experimentar coisas, concluir coisas. (Aluno B).

Ciência é tudo, o estudo, do ar, da terra até de nós mesmos, dos seres vivos.

(Aluna I).

Ciência é tudo o que existe, tudo o que vemos, tudo o que tocamos, trovão, chuva, raio tudo é ciência. (Aluna D).

É o estudo de muitos modos de vida ou de tecnologia. (Aluno E).

Em relação às respostas elencadas acima, pode-se perceber que Ciência é o estudo de tudo que os estudantesconhecem e também do que desconhecem; as respostas para essa pergunta não mudaram muito em relação ao início do ano letivo.

Para a pergunta “Quem faz Ciência”, destacam-se as respostas:

Quem faz é os cientistas, mas não é só ela que faz nós também fazemos ciências e experimento. (Aluno F).

Todos podem fazer ciência. (Aluno J).

Qualquer um faz ciência, mesmo se for tão simples de uma folha caindo no chão até uma experiência com gelo seco, qualquer um faz ciência. (Aluna H).

Todos nós, não precisa ser um cientista para fazer ciência, qualquer um faz.

(Aluna D).

Para essa segunda pergunta, percebe-se uma mudança em relação às respostas do

início do ano letivo, as quais caracterizavam a figura do cientista como responsável por fazer

ciência. Acredita-se que essa mudança esteja vinculada às experiências vivenciadas no

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decorrer das aulas de ciências, onde os alunos discutiram sobre a possibilidade de outras pessoas, pessoas “comuns” poderem fazer ciência, especialmente no que tange a concepção de quem é o cientista ou que perfil ou estereótipo tem este profissional. De Meis (1998) discute que a visão estereotipada do cientista envolve a noção de que o método científico regula tudo e que a ciência é objetiva ao extremo, não sobrando espaço para a intuição ou criatividade; o autor ainda pondera que crianças e adolescentes de países desenvolvidos ou em desenvolvimento têm praticamente a mesma imagem de um cientista.

Quando a discussão sobre concepções de ciência e de quem faz ciência (cientista) passa a acontecer nas aulas de ciências, ainda no Ensino Fundamental, espera-se que haja um movimento de mudança por parte dos estudantes e um auxílio para que transcorra o processo de alfabetização científica, especialmente em relação ao eixo estruturante sobre a compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática, eixo este proposto por Sasseron e Carvalho (2008, 2011)

.

Para a pergunta “Onde se faz ciência”, destacam-se as respostas:

Em qualquer lugar. (Aluno G).

É possível fazer ciência em qualquer lugar. (Aluno J).

Em todo o lugar em casa, em laboratório, na escola, ou seja, você faz ciência a onde você quiser. (Aluna I).

Fazemos ciência em qualquer lugar desde que tenhamos os ingredientes.

(Aluno B).

Em relação à questão sobre “onde se faz ciência” é possível perceber que o discurso foi alterado quando comparado às respostas dadas no início do ano letivo. E como foi dito anteriormente no presente texto, a professora já havia levantado essa questão na época que a atividade da caixa foi realizada e os estudantes admitiram que diferentes poderiam ser os espaços para se fazer ciência; percebe-se que esse discurso dos alunos se manteve. Vale ressaltar que as aulas foram realizadas no espaço de uma sala de aula convencional, pois a escola não possui um laboratório de ciências propriamente dito.

Entendemos que a construção do pensamento científico pelos estudantes está

diretamente relacionada à concepção de natureza da ciência que possui o professor de ciências

que os acompanha. Nessa perspectiva, retoma-se a discussão de Gil Perez et al. (2001)de

como é fundamental refletir sobre as visões deformadas do trabalho científico e as

possibilidades de modificá-las.

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Acredita-se assim que a concepção de ciência do docente implicará numa ou noutra condução do ensino de Ciências, ou seja, se tal ensino se dará a partir de uma lista de conteúdos intermináveis ou em reflexões pautadas em situações de investigação como acontece nas pesquisas científicas propriamente ditas. Nesse escopo, evidencia-se a importância do registro como sistematizador das ideias discutidas e/ou levantadas.

É fundamental que o professor observe com atenção os registros produzidos pelos alunos em relação às atividades propostas, sobre o conhecimento científico. Oliveira e Carvalho (2005) afirmam que essa atenção irá permitir que o professor observe o entendimento do aluno sobre a atividade executada, suas ações e estratégias para se resolver um problema e, principalmente, em qual nível de entendimento se encontram os alunos nas explicações das atividades trabalhadas.

Assim, entende-se que o registro verbal e escrito realizado pelos estudantes de ciências do 6º ano (sujeitos do presente relato), após uma discussão e atividade vinculada à aula de ciências, pode indicar se o processo de alfabetização científica estava acontecendo. Os resultados encontrados vão ao encontro dos estudos de Sasseron e Carvalho (2010)que, acompanhando situações pedagógicas com alunos do 4º ano do Ensino Fundamental, também verificaram indícios de AC a partir de registros orais e escritos, incluindo desenhos.

Estudos mostram que a fala e escrita são modalidades complementares no processo de aprendizagem: a escrita evidencia a construção pessoal do conhecimento e a fala é consistente com o pensamento socioconstrutivista (RIVARD; STRAW, 2000 apud SASSERON; CARVALHO, 2010). Para Oliveira e Carvalho (2005) “O registro escrito é um importante instrumento da aprendizagem na construção pessoal do conhecimento. O uso da escrita é importante para retenção de conhecimentos científicos desde que a discussão entre os alunos tenha ocorrido” (p. 350).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O relato das etapas da atividade descrita neste texto, além de ser uma tentativa de

perceber a organização e construção do pensamento e ideias dos alunos de uma determinada

realidade escolar, especialmente ao longo da nova etapa e dinâmica pedagógica que se

constitui o 6º ano do Ensino Fundamental, revela um momento reflexivo também à professora

que conduziu a atividade.

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Ao compararmos as experiências vividas nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os alunos chegam ao 6º ano com muitas expectativas e relativas mudanças em sua rotina.

Além de ser uma proposta do próprio material didático utilizado pela escola, a atividade da caixa possibilita uma aproximação com questões envolvidas na prática do que se constitui

“fazer ciência”. Atrelado a isso, a atividade permitiu que concepções sobre ciência (o que é, quem faz e onde se faz) fossem discutidas em sala de aula e momentos de reflexões fossem vivenciados pelo grupo, de modo a contribuir para o processo de alfabetização científica dos estudantes.

Ressalta-se que mesmo atividades simples e objetivas podem fomentar um processo de ensino-aprendizagem no viés da alfabetização científica, levando os alunos a discutir e pesquisar temas de modo a relacioná-los com questões que envolvam a sociedade e o ambiente. Nesse contexto, o(a) professor(a) assume um papel de criar situações que levem os estudantes a perceber e aplicar variados talentos e ideias na construção do conhecimento.

Entendemos que as dificuldades para a elaboração de um texto escrito, ou seja, na construção de um registro (escrito), deve ser trabalhada por professores das diferentes áreas e não apenas ficar a cargo dos profissionais das áreas de linguagem. Nesse escopo, as aulas de ciências aparecem como uma seara e os dados apresentados nesse texto mostram um exercício de sistematização de ideias, tanto individual como coletivamente, além da organização oral e escrita de tais ideias, numa tentativa de realizar práticas do “fazer ciência”, fomentando mais uma vez práticas que visem à AC.

REFERÊNCIAS

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Alambique: Didáctica de las Ciencias Experimentales, n. 63, pp. 39-49, 2010.

CARVALHO, A. M. P. Uma metodologia de pesquisa para estudar. In: SANTOS, F. M. T.;

GRECA, I. M. (Orgs.). A pesquisa em ensino de ciências no Brasil e suas metodologias.

Ijuí: Unijuí, 2006, p.13-48.

DE MEIS, L. A visão da ciência por crianças e adolescentes. In: Ciência e Educação: o

conflito humano-tecnológico. Rio de Janeiro: Ed. do autor, 1998, p. 146-159.

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DUARTE, R. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 115, mar. 2002.

GIL-PÉREZ et al. Por uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência &

Educação, v. 7, n. 2, p. 125-153, 2001.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. 2 ed.

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OLIVEIRA, C. M. A.; CARVALHO, A. M. P.Escrevendo em aulas de ciências. Ciência &

Educação, v. 11, n. 3, p. 347-366, 2005.

PALEARI, L. M. Caixa preta: uma atividade prática desenvolvida com alunos da 5ª série, como suporte à introdução de modelo molecular e discussão sobre os passos da metodologia científica. Ensino em Re-vista, v. 6, n. 1, p. 117-121, jun./jul.1997/1998.

PUGLIESE, A. SASSERON, L. H. MARANDINO, M. A presença da alfabetização científica em textos produzidos por graduandos em Ciências Biológicas. VII Seminário Ibérico/ III Seminário Ibero-americano CTS no ensino das Ciências. Ciência, Tecnologia e Sociedade no futuro do ensino das ciências. Espanha, 2012.

RUIZ-PRIMO, M.A., LI, M., TSAI, S.P.; SCHNEIDER, J.Testing one premise of scientific inquiry in science classrooms: examining students’ scientific explanations and student learning. JournalofResearch in Science Teaching, v. 47, n. 5, p. 583-608, 2010.

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