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Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia – São Paulo, SP Endereço para correspondência:
Leopoldo Soares Piegas — Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 – 12
oandar – Ibirapuera – São Paulo, SP – CEP 04012-909
P ARTE 1: T ERAPIA DE REPERFUSÃO
L EOPOLDO S OARES P IEGAS
1, J OÃO M ANOEL R OSSI N ETO
1, L UIZ A LBERTO M ATTOS
1Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2009;19(2):162-74 RSCESP (72594)-1775
Pronto restabelecimento da normalidade do fluxo sanguíneo na artéria relacionada ao infarto é essencial para o salvamento do miocárdio e a redução da mortalidade em pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST.
Em hospital com intervenção coronária percutânea disponível no tempo desejado e com equipe altamente treinada, esse modo de tratamento é o recomendado, com tempo porta-balão de 90 minutos. Também nesses hospitais, a terapia fibrinolítica pode ser preferível nos pacientes com até três horas do início da dor e o tempo da intervenção coronária percutânea estimada for significativamente superior a 90 minutos. Hoje em dia a decisão mais difícil de tomar com paciente com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST na sala de emergência em um hospital sem intervenção coronária percutânea é sua transferência para um centro especializado, ao invés de instituir a terapia fibrinolítica. Nesse caso, se a transferência resultar em tempo total de retardo relativo à intervenção coronária percutânea (tempo porta-balão menos tempo porta-agulha) superior a 90 minutos, o paciente terá maior benefício com a terapia fibrinolítica imediata até 30 minutos da apresentação clínica. A diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia de 2008 de Intervenção Coronária Percutânea recomenda expectativa de realizar intervenção coronária percutânea primária em até 90 minutos e com disponibilidade logística, reconhecida e ativa, de um sistema de transporte (aéreo ou rodoviário) com retardo de deslocamento entre o centro diagnóstico e o intervencionista inferior a 120 minutos.
Independen-temente do método, as diretrizes recomendam que todos os pacientes com até 12 horas do início dos sintomas sejam tratados com terapia de reperfusão.
Descritores: Infarto do miocárdio. Fibrinolíticos. Angioplastia transluminal percutânea coronária. Reperfusão miocárdica.
ST-
SEGMENTELEVATIONACUTEMYOCARDIALINFARCTION:
APPROACHANDMANAGEMENTINTHEEMERGENCYROOM
P
ART1: R
EPERFUSIONTHERAPYPrompt restoration of normal blood flow in the infarct-related artery is essential for myocardial salvage and mortality reduction in patients with ST-segment elevation acute myocardial infarction. In hospitals with percutaneous coronary intervention available at the desired time and with a highly trained staff, this mode of treatment is recommended, with a door-to-balloon time of 90 minutes. Also in these hospitals, thrombolytic therapy may be preferred in patients who present within three hours of symptoms onset and in whom the door-to-balloon time will be significantly greater than 90 minutes. Nowadays, the hardest decision to make with ST-segment elevation acute myocardial infarction patients in the emergency room of a hospital without percutaneous coronary intervention is whether to transfer them to a specialized center rather than institute thrombolytic therapy.
In this case, if the transfer results in a percutaneous coronary intervention-related delay (door-to-balloon time minus door-to- needle time) exceeding 90 minutes, patients may derive greater benefit from immediate thrombolytic therapy within 30 minutes of clinical presentation. The 2008 Brazilian Society of Cardiology Guideline for Percutaneous Coronary Intervention recommends that primary percutaneous coronary intervention should be performed within 90 minutes and with recognized and activate logistical availability of a transport system (air or road) with a travel delay of less than 120 minutes between diagnostic and interventional centers. Regardless of the method used, the guidelines recommend that all patients should be treated with reperfusion therapy within 12 hours of symptoms onset.
Key words: Myocardial infarction. Fibrinolytic agents. Angioplasty,
transluminal, percutaneous coronary. Myocardial reperfusion.
INTRODUÇÃO
Nenhuma área na terapêutica cardiológica sofreu mudan- ça tão radical nas últimas décadas quanto a do tratamento do infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST. De uma base conceitual preconizada nos anos 70 de reduzir o consumo de oxigênio pelo miocárdio em ris- co passamos para o de aumentar o aporte sanguíneo para a zona de infarto, aporte esse conseguido com a recanalização precoce da artéria responsável pelo infarto. Inicialmente atin- giu-se esse objetivo, marco na ocasião, com a introdução, por cateterismo da artéria coronária, de um fármaco com ação fibrinolítica, a estreptoquinase. Posteriormente, foi utilizada a circulação periférica venosa, e, a seguir, outros agentes fi- brinolíticos também se mostraram eficazes, vários até mais.
Chegou-se finalmente à reperfusão direta, mecânica, com o emprego de cateteres coronários, inicialmente apenas dila- tando-se o local obstruído para finalmente alcançarmos os melhores resultados até o momento disponíveis com a libe- ração de stent com ou sem medicamentos eluídos.
Para que chegássemos a esse ponto foram importantes os avanços conseguidos em áreas correlatas: os estudos anato- mopatológicos nos revelaram a cronologia dos fenômenos da oclusão coronária; os estudos experimentais e em huma- nos nos ensinaram o potencial de reduzir as áreas de necrose com a reabertura precoce da artéria coronária; e o grande avanço das técnicas diagnósticas, marcadores de necrose, eletrocardiografia, ecocardiografia e cineangiocoronariogra- fia, marcador de referência para a confirmação diagnóstica, avaliação do risco, conduta a ser adotada e terapêutica ideal.
SELECIONANDO A TERAPIA DE REPERFUSÃO A restauração do fluxo sanguíneo da artéria relacionada ao infarto é primordial para o salvamento do miocárdio e para a consequente redução da mortalidade em pacientes com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do seg- mento ST. Esse conceito é de extrema importância princi- palmente nas primeiras horas de evolução do infarto, quan- do a quantidade de miocárdio que pode ser salva é maior.
Entretanto, o benefício da reperfusão vai se perdendo com o progredir do tempo e por esse motivo a escolha do método e sua implementação devem ser decididos o mais rápido pos- sível.
Os dados atualmente disponíveis na literatura indicam que a intervenção coronária percutânea é preferível quando realizada no tempo desejado por um operador experiente.
No entanto, quando a intervenção coronária percutânea não está disponível no hospital, a escolha entre intervenção co-
ronária percutânea e terapia fibrinolítica pode depender do tempo de transferência para centro especializado, principal- mente se o início dos sintomas for inferior a 3 horas.
Hospital com intervenção coronária percutânea
Se a intervenção coronária percutânea estiver disponível no tempo desejado e com equipe altamente treinada, esse modo de tratamento é o recomendado, com tempo porta-ba- lão de 90 minutos. A terapia fibrinolítica pode ser preferível se o paciente se apresenta com até 3 horas do início da dor e o tempo da intervenção coronária percutânea estimado for acima de 90 minutos. Esse, porém, deve ser um fato de ocor- rência infrequente em programas especializados de interven- ção coronária percutânea
1.
Hospital sem intervenção coronária percutânea
Hoje em dia a decisão mais difícil de tomar quando um paciente se apresenta com infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST na sala de emergência em um hospital sem intervenção coronária percutânea é sua transferência para um centro especializado ao invés de insti- tuir a terapia fibrinolítica. Por causa da crítica relação entre tempo de apresentação dos sintomas e reperfusão da artéria relacionada ao infarto, essa decisão deve ser tomada o mais rápido possível ainda no pronto-socorro, seguindo os proto- colos preestabelecidos da instituição. Esses protocolos de- vem ser individualizados para cada instituição, respeitando as particularidades regionais e facilidades de transferência do paciente, minimizando o retardo do início da terapia de reperfusão. Esses protocolos, portanto, devem incluir os itens descritos a seguir.
Tempo do início dos sintomas
a. Paciente com até 3 horas de início dos sintomas: estão na porção mais importante da curva de sobrevida vs. tempo de perfusão (Figura 1). Nesse estágio precoce, existe oportuni- dade para o salvamento substancial de miocárdio e a redu- ção de mortalidade. Se existir demora na transferência ou na realização da intervenção coronária percutânea, poderá ha- ver perda dessa janela oportunística. Assim, se a transferên- cia resultar em tempo total de retardo relativo à intervenção coronária percutânea (tempo porta-balão menos tempo por- ta-agulha) superior a 90 minutos, o paciente terá maior be- nefício com a terapia fibrinolítica imediata até 30 minutos da apresentação clínica, a menos que haja contraindicação
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