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Curso/Disciplina: Crimes contra a Fé Pública. Aula: Crimes Contra Fé Pública - 02 Professor (a): Marcelo Uzêda Monitor (a): Amanda Ibiapina

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Curso/Disciplina: Crimes contra a Fé Pública.

Aula: Crimes Contra Fé Pública - 02 Professor (a): Marcelo Uzêda Monitor (a): Amanda Ibiapina

Nº da aula 02

Aula: 16/12/2016.

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS

Alguns conceitos iniciais serão trabalhados antes de se falar das falsidades documentais.

1. CONCEITO DE DOCUMENTO

- Existe um conceito restritivo que diz que documento só pode ser escrito - o legislador, volta e meia, dá essa indicação de que o documento seria o escrito; e também existe um conceito mais extensivo de documento que abrange qualquer tipo de objeto que registre informações, que seja apto a registrar informações e que possa manter/armazenar essas informações de forma permanente, não perpétua, pois, às vezes, o documento pode ser deteriorado (Ex. pedaço de couro, onde se pode registrar sinais, signos, palavras, expressões, desenhos – isso pode ser considerado documento, segundo a visão extensiva).

Retomando: documentos são objetos próprios à comunicação do pensamento, por palavras ou

“sinais representativos de palavras”, ideogramas, ilustrações que tenham essa representação.

- O conteúdo deve ter relevância jurídica. Para ser documento, para ser objeto desses crimes, o conteúdo tem que ter relevância jurídica, ou seja, aptidão para embasar uma pretensão jurídica ou fazer

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prova de fato juridicamente relevante. É necessário que esse documento tenha aptidão para criar direitos, para discutir a existência de algum direito, etc. Ex. A propriedade de um imóvel é documentada pela escritura de aquisição, de compra-e-venda do imóvel, mas se sabe que a propriedade é assegurada com o registro – o ato jurídico é feito com a lavratura da escritura em cartório da venda do imóvel. É necessário o registro desse documento, dessa escritura, no RGI. Então, o documento, que é a escritura feita em cartório, tem relevância jurídica para comprovar a propriedade daquele imóvel.

- É necessário que seja possível identificar o autor do documento. O documento, para ser objeto de discussões, na esfera criminal, tem que ter uma identificação do autor. A relevância jurídica, de certa forma, também decorre dessa autoria – um documento apócrifo não tem validade jurídica, a princípio, pois não possui a identificação do seu autor. O documento apócrifo é aquele cujo autor não está identificado – isso, de certa forma, prejudica a relevância do documento.

Fazendo um paralelo com o processo penal, existe a chamada “denúncia anônima” ou apócrifa ou notitia criminis inqualificada. O Delegado não pode instaurar inquérito policial com base unicamente em documento apócrifo. O Delegado, quando tem uma notícia-crime apócrifa, cuja autoria é indeterminada, deve confirmar, corroborar aquelas informações e, depois de confirmada a procedência das informações, é que pode instaurar inquérito policial. O Delegado não pode se precipitar procedendo à instauração de um inquérito com base, unicamente, na notitia criminis inqualificada (ou apócrifa ou anônima).

Em suma, é necessário que seja possível identificar o autor do documento, ainda que não haja certeza, mas seja possível identificar através de uma assinatura, sinais indicativos de autoria.

- De forma geral, esses crimes exigem três pressupostos objetivos:

a) a modificação da verdade sobre um determinado fato ou relação jurídica – a verdade tem que ser alterada;

b) a imitatio veri (aparência de verdadeiro) – se a falsidade é grosseira, não há crime – o documento grosseiramente falsificado não pode caracterizar esses crimes. Houve um caso muito comentado na mídia em que o sujeito andava com uma carteira de identidade falsa com uma foto do Jack Nicholson; na ocasião, discutiu-se se era uma falsificação grosseira ou não; o fato é que o sujeito utilizou o documento várias vezes; se ele consegue usar o documento várias vezes e, por falta de atenção, as pessoas não olham direito a foto, se o documento tem aparência de verdade (imitatio veri), isso pode ter relevância penal; agora, se num primeiro olhar, a falsificação é grosseira (os aspectos externos do documento, a fotografia correspondente, etc.), se num primeiro golpe de olhar, percebe-se que a falsificação é grosseira, o fato é atípico, pelo menos para esse tipo de crime, dada a falta de aptidão do objeto.

c) o risco de dano a terceiro, à ordem econômica ou moral (cenário mais genérico, que diz respeito à confiança nas relações). Como determinados documentos foram eleitos para registrar fatos e/ou informações relevantes, deve haver confiança, fé, nesses documentos. A partir do momento em que os documentos perdem a credibilidade, as relações sociais serão duramente atingidas pelo descrédito, pela falta de confiança. Ainda que não haja efetivo dano, mas havendo risco de dano a terceiros, à ordem pública, à ordem econômica, às relações sociais, etc., isso é suficiente para aperfeiçoar o tipo penal.

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CRIMES EM ESPÉCIE 2. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 297, CP)

- Conforme visto no crime de moeda falsa, pode-se produzir a moeda (contrafação), assim como se pode produzir o documento, mas também é possível alterá-lo. Ambos os casos caracterizam a falsidade material.

- Documento público, essencialmente, é aquele emanado de um funcionário público, no exercício de suas atribuições. A cópia de documento público autenticada é equiparada a documento público.

Residualmente, por exclusão, o que não entra no conceito de documento público é documento particular.

◙ Elemento Subjetivo

O elemento subjetivo é o dolo; não existe falsificação culposa. Há exigência, portanto, da consciência e vontade de falsificar ou alterar um documento.

◙ Consumação

O crime se consuma com a contrafação (falsificação total ou parcial) ou a alteração do documento.

Não se exige, no artigo 297 do CP, o efetivo uso.

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Existe uma questão interessante, até pela jurisprudência: no momento em que a pessoa falsifica um documento, consuma-se o delito; mesmo que o documento não seja usado, desde que possua potencialidade para afetar a verdade dessa relação e/ou, de alguma forma, prejudicar direito, criar direito, ou seja, a pretensão será afetada pela falsificação, ainda que o documento não seja usado, a falsificação ou alteração já consuma o delito, pois, nesse momento, há risco para a fé pública.

Por isso, a jurisprudência dos Tribunais Superiores tem afirmado que se a pessoa falsifica e usa o documento, responde pelo falso (art. 297, no presente caso) e o uso é um pós-fato impunível (um exaurimento do crime).

A questão, portanto, é saber por qual crime o agente responde:

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Esse é o entendimento tranquilo dos Tribunais Superiores: o sujeito que falsifica e ele mesmo usa o documento falso expõe a fé pública a risco no momento da falsificação, sendo o uso posterior, pelo próprio falsificador, mero exaurimento da figura típica, não há uma nova lesão ao bem jurídico tutelado.

Na verdade, há um único risco de lesão, já consumado com a falsificação e, quando o agente utiliza esse mesmo documento, está exaurindo sua potencialidade lesiva.

Não obstante, essa consequência, essa circunstância, pode ser utilizada para elevar a pena-base, já que o agente falsificou E usou, efetivamente, o documento; o risco foi maior em razão de seu comportamento, apesar de a lesão ao bem jurídico ter sido única, o que justifica uma maior reprovabilidade e, consequentemente, uma pena-base um pouco acima do mínimo legal.

Saliente-se que entendimento contrário, em que o agente passe a responder não só pela falsificação, como também pelo uso de documento falso, constitui um inadmissível bis in idem.

ATENÇÃO! Responde pelo art. 304 do CP aquele que não fez a fraude, aquele que não falsificou o documento. Se uma pessoa falsifica e outra usa o documento, esta última pessoa responde nos termos do art. 304 do CP; já o falsificador responde pelo crime de falso (art. 297, no caso ora em estudo).

A pena do art. 304 remete às penas dos crimes anteriores. Então, no presente exemplo, é o crime do art. 304 c/c 297 do CP: o agente responde pelo uso de documento falso com as penas do art. 297 (falsificação de documento público).

- Existe uma posição minoritária que sugere que a capitulação seja a do crime do art. 304 do CP. De acordo com essa corrente, se o agente falsifica e usa, responde pelo crime de uso, não de falso. Repise-se:

é um posicionamento minoritário que não tem respaldo na jurisprudência dos Tribunais Superiores. O argumento utilizado por essa corrente minoritária é que ninguém falsifica para guardar, falsifica para usar;

desse modo, o crime-fim seria o uso; e o falso seria o crime-meio, o crime antecedente. Essa corrente inverte a lógica, pois o perigo para o bem jurídico ocorre com a falsificação; quando ocorre o uso, trata-se de mero exaurimento da potencialidade lesiva.

◙ Concurso entre falso e estelionato

Outra polêmica importante diz respeito à aplicação da Súmula 17 do STJ:

QUANDO O FALSO SE EXAURE NO ESTELIONATO, SEM MAIS POTENCIALIDADE LESIVA, E POR ESTE ABSORVIDO. (Súmula 17, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 20/11/1990, DJ 28/11/1990, p. 13963)

Imagine que uma pessoa falsifique um cheque (equiparado a documento público, conforme será visto adiante; título ao portador transmissível por endosso). JÁ CAIU EM PROVA DE CONCURSO: um motoboy, entregador de remédios de uma drogaria, recebe um cheque de R$ 20,00 (vinte reais); o motoboy pega o cheque e entrega vinte reais para a drogaria. De posse do cheque de vinte reais, ele adultera o valor do cheque (falsidade material) e o transforma num cheque de dois mil reais, para depois sacar o montante. Isso é crime de estelionato, sendo a falsificação do cheque o meio para obtenção da

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vantagem. Mas esse cheque somente pode ser usado uma única vez; somente se pode obter vantagem por meio dele uma única vez; em razão disso, o crime de falso se exaure num único estelionato, mediante aplicação desta súmula: o crime de falso resta absorvido pelo crime de estelionato.

Se, contudo, o crime de falso tem aptidão para perpetrar outras fraudes, chega-se a conclusão diversa. Ex. O agente falsifica uma carteira de identidade, e/ou um CPF, e os utiliza para diversas fraudes, diversos estelionatos: usa o documento falso para abrir um crediário numa loja, depois em outra loja, pega empréstimo consignado, etc. Esse documento falso não esgota a potencialidade lesiva num único estelionato. Nesse caso, haverá concurso material de crimes. Em suma, se o falso não se esgota no estelionato e tem uma potencialidade lesiva, há concurso material: o agente responderá pelo estelionato e pela falsidade praticada em momento anterior. Como o falso tem potencialidade para diversos estelionatos, não ocorre a consunção: há concurso material de crimes.

Recapitulando: se o falso se esgota no estelionato e não tem mais potencialidade lesiva, será absorvido pelo princípio da consunção; se tem maior potencialidade lesiva para a prática de outros estelionatos, haverá concurso material de crimes.

◙ Parágrafo §1º - Causa de Aumento de Pena

Essa majorante é aplicável quando: a) o autor da falsificação for funcionário público; b) prevalecendo-se do cargo para a falsificação. Exemplo: o sujeito trabalha no DETRAN; trabalhando no DETRAN, ele tem acesso a espelhos de carteiras de motorista e/ou a documento de veículos; é funcionário público e trabalha numa determinada repartição, em que se vale do cargo/função para falsificação.

O crime de falsificação de documento público é crime comum, ou seja, qualquer um pode cometer. O funcionário público, quando comete, não pratica crime funcional: pratica um crime contra a fé pública (que qualquer um pode cometer), mas merece maior reprovação se valer-se do cargo para a falsificação.

OBSERVAÇÃO: essa circunstância é INCOMUNICÁVEL, mediante aplicação do art. 30 do CP:

Circunstâncias incomunicáveis

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Aqui, no presente caso, não se trata de uma circunstância elementar: é uma circunstância que aumenta a pena, de natureza incomunicável.

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Ex. Um particular tem um amigo que trabalha no DETRAN; esse particular fala com esse amigo, o qual consegue um espelho de carteira de motorista e, com isso, conseguem falsificar, montando o documento com uma foto digitalizada, preenchimento dos dados, etc.; o funcionário público recebe aumento de pena de 1/6 por ter se prevalecido do cargo; o particular, contudo, não é funcionário do DETRAN, portanto, não recebe o aumento de 1/6, pois essa condição pessoal é uma circunstância que aumenta a pena, mas não é uma elementar do crime: trata-se de uma circunstância incomunicável, seguindo a lógica do art. 30 do CP.

◙ Parágrafo 2º - MUITO COBRADO EM PROVA

- Aqui, o conceito de paraestatal é no sentido amplo, abrangendo, por exemplo: entidades de Administração Indireta (autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista), pois documentos provenientes da Administração Direta já são, naturalmente, públicos.

- Título ao portador ou transmissível por endosso (em razão da natureza, da circulação desses documentos): ex. cheque. Apesar de terem natureza privada, são equiparados a documentos públicos para fins penais.

- Ações de sociedade comercial, num sentido mais amplo (Ex. Sociedades Anônimas, títulos representativos de participação nessas entidades, etc.).

- Os livros empresariais são equiparados a documentos públicos, assim como o testamento particular, que é UM DOS TEMAS MAIS EXPLORADOS EM PROVAS OBJETIVAS: O TESTAMENTO PARTICULAR É EQUIPARADO A DOCUMENTO PÚBLICO.

- Esse rol é taxativo, prevê as equiparações legais; na essência, são documento particulares, mas são equiparados, para efeitos penais, a documentos públicos.

◙ Parágrafo 3º - Formas equiparadas de falsidade documental

Essas falsificações do §3º, quando analisadas, percebe-se que, na verdade, é uma falsidade ideológica equiparada a falsidade material.

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- “(...) quem insere ou faz inserir”: o que, a rigor, seria uma falsidade ideológica, é tratado como equiparado a falsificação documental.

- Inciso I: Ex. o agente coloca na folha de pagamento uma pessoa que sequer trabalha em sua empresa – ele quer arranjar uma aposentadoria para a mãe (dona de casa, não trabalha, não é segurada obrigatória, embora possa se filiar de forma facultativa) – o agente coloca a mãe na folha de pagamento para efetuar a contribuição e fazer com que ela se aposente como segurada obrigatória, mesmo quando, na verdade, ela nunca pisou naquela entidade.

- Inciso II: Ex. a função, o salário registrado na carteira, etc. Tudo isso produzirá efeitos perante a Previdência Social.

- Inciso III.

Veja: aqui, o conteúdo intelectual é fraudulento; a rigor, isso é uma falsidade ideológica, mas é equiparada a uma falsidade documental. Isso que está aqui não está no art. 299 do CP. Nos três incisos, percebe-se que são meios de fraude para fazer prova e/ou produzir efeitos perante a previdência social.

Exemplo: lançar dados discrepantes na contabilidade com o intuito de pagar menos contribuição (espécie de tributo). Ex.2: O empregador paga uma quantia ao empregado, mas coloca menos na carteira, a fim de recolher menos contribuição previdenciária. Portanto, tratam-se de condutas fraudulentas, meios de crimes que produzem resultados perante a previdência (sonegação de contribuição previdenciária e tributos em geral).

◙ Parágrafo §4º

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No §4º, há a omissão. O legislador poderia ter trabalhado junto no §3º (“inserir, fazer inserir ou omitir”). Tudo que é mencionado no §4º são elementos capazes de influir, de produzir efeitos perante a previdência social. Se não há esse objetivo de fazer prova perante a previdência social, não se enquadra nas figuras indicadas nos §§3º e 4º.

Jurisprudência do STJ:

O agente deve saber que o faz ilicitamente, ou seja, com intenção de criar direitos, de alterar verdade relevante. Continuação:

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A mera omissão de anotação de carteira de trabalho, por si só, não constitui o delito do art. 297,

§4º, CP: é necessário dolo e o dolo compreende, também, a lesão aos cofres da previdência. Se não houver um direcionamento desse elemento subjetivo, não se enquadra nessa figura típica; pode ser outro tipo de delito, mas não esse. E mais: também a potencialidade lesiva é relevante. A falta de anotação ou omissão ou demora na anotação, por exemplo, não é, necessariamente, criminosa. É claro que existem prazos e sanções para esses comportamentos, mas que não necessariamente são sanções penais.

ESSE INFORMATIVO É INTERESSANTE E PODE SER OBJETO DE CONCURSO: a mera omissão da anotação, por si só, não caracteriza o crime, pois tem que ter potencialidade lesiva para atingir a atuação da previdência social: fiscalização da previdência, o recolhimento de tributos (contribuições sociais, contribuições previdenciárias, etc.) incidentes no caso. A simples omissão de anotação ou a simples demora na anotação, por si só, resulta em sanções administrativas (art. 47 da CLT), afastando a necessidade da intervenção do Direito Penal, que é somente em ultima ratio.

3. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR

Aqui, muito do que foi dito sobre a falsidade dos documentos públicos se repete. Mas muda o tipo de documento: residualmente, documento particular é aquele que não é elaborado por funcionário público.

A pena nesse crime é menor: no art. 297, a pena é de dois a seis anos de reclusão; aqui, a pena é menor, uma vez que o documento é particular. A pena privativa de liberdade é cumulada com multa.

Valem as mesmas considerações feitas anteriormente: trata-se de falsidade material (que diz respeito ao aspecto extrínseco do documento, assim como no art. 297, CP). Ex. Se o agente substitui a foto de um documento, isso é falsidade material; se esse documento é público, é o art. 297, CP; se particular, é o art. 298, CP.

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Ex. Trocar a foto de uma carteira de identidade – falsidade material, uma alteração no aspecto extrínseco do documento; pode ser também o caso de alterar a data de nascimento ou o nome – também é falsidade material: não é falsidade ideológica.

Na sequência, será visto, no que diz respeito à falsidade ideológica, que é o conteúdo intelectual, diz respeito ao aspecto intrínseco do documento. O que se tem tratado até agora são as falsidades materiais (aspecto extrínseco ou exterior – alteração ou falsificação de documento público ou particular, conforme o caso).

O dispositivo ora em estudo é bem mais simples, até porque não tem equiparações. Na falsidade de documento público, há equiparações; há previsão de pena maior para o funcionário público; tem as figuras equiparadas do §3º, em relação à previdência; e do §4º também.

No art. 297, §2º, CP, há equiparações de documentos particulares a públicos, para efeitos penais.

Também existem equiparações de falsidades ideológicas a falsificações materiais, nos §§3º e 4º.

Aqui, no art. 298, o caput simplesmente traz as informações essenciais: falsificar, no todo ou em parte, ou alterar documento particular: falsificar documento particular (criar o documento) ou alterar documento verdadeiro.

Deve haver relevância jurídica, ou seja, a falsificação deve ter o condão de prejudicar algum direito, provar ou afastar alguma pretensão; tem que ter potencialidade lesiva – se o falso é ridículo, grosseiro, pelo menos a título de art. 298, CP, ele não se configura.

O parágrafo único trata da falsidade de cartão, inserido pela lei 12.737/2012: “para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito”. O legislador fez a equiparação descrita neste dispositivo em razão do critério formalista, restritivo, que segue: o legislador ainda está muito apegado ao conceito restritivo de documento (documento escrito).

OBS. Alguns bancos já tem fornecido serviço de cartão virtual – aquele cartão existe para aquela compra; depois ele não existe mais. Isso são coisas da modernidade; o legislador está sempre correndo atrás das mudanças sociais; por isso a equiparação acima mencionada.

OBS. Se o agente falsifica e usa o cartão (documento particular) ou falsifica e passa para pessoas usarem esse cartão, debitando em contas de terceiros, em créditos de outras pessoas, etc., que sofrerão o prejuízo. Nesse caso, há crime de estelionato (art. 171, CP), através desse meio (o meio fraudulento é o cartão falso); e há também o crime de falso, que não se esgota no estelionato, pois o cartão pode ser usado inúmeras vezes. Portanto, aqui não se aplica a súmula 17 do STJ, até porque se esse cartão tem vários usos, haverá concurso material de crimes.

A falsidade, quando elaborada, já tem o condão de ofender a fé pública e quando os vários estelionatos são praticados, a potencialidade lesiva não se esgota num único fato: diversos crimes podem ser praticados, gerando concurso material.

4. FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299, CP)

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Esse dispositivo envolve o conteúdo intelectual: há uma mudança de foco, como se depreende da leitura. A falsidade ideológica pressupõe a legitimidade de quem escreve ou forma o documento.

Na falsidade material (arts. 297 e 298, CP), a alteração/falsificação é feita por quem não tem legitimidade e diz respeito ao aspecto extrínseco do documento; na falsidade ideológica, a preocupação é com o aspecto intrínseco do documento, o conteúdo intelectual dessa fraude, que tem relevância para afetar algum tipo de direito.

Ex. 1: alterar a data de nascimento numa carteira de identidade – falsidade documental, material.

Ex. 2: A pessoa tem que preencher um formulário para fazer uma carteira de identidade e preenche o formulário com informação falsa, diversa da que deveria constar; ou omite informação verdadeira – isso são casos de falsidade ideológica.

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- Crime impossível. Ex. o agente declara, no documento , que é D. Pedro I. Trata-se de uma falsidade

“ridícula” – o conteúdo intelectual é tão absurdo que não tem aptidão para causar prejuízo, criar direitos, etc. Ex.2: o agente coloca sobrenomes falsos e diz que é herdeiro, que faz parte da linha sucessória de D.

Pedro; isso tem relevância e pode afetar direitos e causar prejuízos para alguém.

Se o conteúdo inserido ou omitido no documento é absurdo, é falsificação grosseira, não tem potencialidade lesiva para afetar qualquer direito.

- O tipo subjetivo é o dolo; não existe modalidade culposa dos crimes de falso. Se a pessoa lançou informação errada porque se confundiu, não há vontade: o elemento subjetivo está excluído, por conta de uma imperícia, desatenção, etc.

Ex. O sujeito esqueceu de colocar uma informação que era importante – se não houve dolo, não há falsidade ideológica.

Além disso, o tipo subjetivo exige o especial fim de agir, qual seja, a intenção de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. ISSO CAIU NA PROVA DA DPU-2015: se ficar evidenciado que o agente, ao lançar ou omitir a informação, tem intenção de prejudicar direito, criar direito ou, de alguma forma, alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, há crime de falsidade ideológica. Se a intenção do agente não é essa, se ele não tem o especial fim de agir, ainda que, dolosamente, ele omita ou insira informação, se faltar o especial fim de agir, falta a esse comportamento esse elemento subjetivo distinto do dolo.

Tem que ter o especial fim de agir, sem o qual o comportamento não se adéqua ao art. 299, CP.

Além da intenção, tem que ter a potencialidade lesiva.

- Se o sujeito faz uma petição ou requerimento e mente, ele promove uma ação indenizatória e mente na petição – o requerimento, a petição, não caracteriza documento para efeito de falsidade ideológica.

- Declarações prestadas por particulares – para que seja considerado documento, tem que ter valor probante per si, ou seja, o documento, em si mesmo, deve ter relevância jurídica.

- Se o funcionário público a quem a declaração particular se dirige deve averiguar a fidelidade da declaração, e se a verdade dos fatos for passível de confronto objetivo e concomitante pela autoridade, não há crime.

Se a informação tem que ser checada pelo funcionário, não há crime, pois essa falsidade ideológica não tem o condão de se aperfeiçoar. Ex. o agente diz uma mentira ao funcionário público; mas o funcionário público tem a obrigação de confirmar, de checar; se, nessa checagem, não procede, não há crime. Ex. 2: o sujeito vai a uma repartição e tem que fazer um declaração particular; ele diz apenas uma parte do nome (Marcelo Uzêda); o funcionário verifica que o nome completo é Marcelo Uzêda de Faria – como o funcionário tem que checar essa informação e confrontá-la imediatamente, não há crime, porque isso não tem potencialidade lesiva, ainda que, voluntariamente, o sujeito só queira ser chamado de Marcelo Uzêda e assim o declare na ocasião, apenas seu nome parcial.

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