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Concessão judicial de medicamentos de alto custo no Ceará: entraves das políticas públicas de saúde

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

MARINA LIMA DA ROCHA

CONCESSÃO JUDICIAL DE MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO NO CEARÁ:

ENTRAVES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

(2)

CONCESSÃO JUDICIAL DE MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO NO CEARÁ: ENTRAVES

DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do título de Bacharel em

Direito.

Orientador: Prof. Dr. Felipe Braga Albuquerque

(3)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito

R673c Rocha, Marina Lima da.

Concessão judicial de medicamentos de alto custo no Ceará: entraves das políticas públicas de saúde / Marina Lima da Rocha. – 2014.

93 f. : enc. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2014.

Área de Concentração: Direito Constitucional. Orientação: Prof. Dr. Felipe Braga Albuquerque.

1. Direito à saúde - Ceará. 2. Políticas Públicas de Saúde - Ceará. 3. Poder judiciário e questões políticas - Ceará. I. Albuquerque, Felipe Braga (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Graduação em Direito. III. Título.

(4)

MARINA LIMA DA ROCHA

CONCESSÃO JUDICIAL DE MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO NO CEARÁ: ENTRAVES

DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

Aprovada em: ___ /___ /______.

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do título de Bacharel em

Direito.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Prof. Dr. Felipe Braga Albuquerque (Orientador)

Universidade Federal do Ceará

_________________________________________

Mestranda Julianne Melo dos Santos

Universidade Federal do Ceará

________________________________________

Mestranda Patrícia Oliveira Gomes

(5)
(6)

Ao Prof. Dr. Felipe Braga Albuquerque, pela disponibilidade e excelente orientação.

Ás mestrandas Julianne Melo dos Santos e Patrícia Gomes Oliveira, participantes da

banca examinadora, pelas valiosas sugestões.

Aos colegas da turma de graduação, pelo constante apoio.

(7)
(8)

RESUMO

O presente trabalho pretende realizar a análise do controle judicial nas políticas públicas de saúde

no Ceará, especificamente em relação à concessão de medicamentos de alto custo. No Brasil, o

direito à saúde é constitucionalmente assegurado, assim como os direitos à vida e da dignidade da

pessoa humana, aos quais está intimamente ligado. Entretanto, a garantia constitucional, em muitos

casos, não é respeitada pela Administração Pública, deixando o usuário do sistema público de saúde

desamparado. A consequência é o aumento exponencial de ações buscando o fornecimento de

medicamentos de alto custo por pacientes portadores de doenças graves. Diante do alto número de

processos judiciais relacionados ao tema, é necessário discutir as dificuldades para a efetivação

dessas políticas públicas de saúde, assim como os critérios utilizados no fornecimento de

medicamentos de dispensação excepcional.

(9)

ABSTRACT

The present work intends to make an analysis of de judicial control of public politics of health in

Ceará, specifically in relation of the concession high cost medicines. In Brazil, the right to health is

constitutionally secured, such as the rights to life and human dignity, to whom is closely linked.

However, the constitutional guarantee, in many cases, is not respected by the Public Administration,

leaving the user of the Public Health System unattended. The consequence is the exponential rise of

lawsuits searching for the provision of high cost medicines by patients carrying severe diseases. In

face of the high number of lawsuits related to the theme, is necessary to discuss the difficulties for

the execution of these public health politics, such as the criteria used in the provision of medicines

of exceptional delivery.

(10)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

§

Parágrafo

ADPF

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

AgR

Agravo Regimental

AI

Agravo de Instrumento

ANVISA

Agência Nacional de Vigilância Sanitária

art. Artigo

CAP

Caixa de Aposentadoria e Pensões

CF Constituição Federal

CMDE

Componente de Dispensação em Caráter Excepcional

CNJ

Conselho Nacional de Justiça

COASF

Coordenadoria de assistência farmacêutica do Estado do Ceará

DJE

Diário da Justiça do Estado

DJU

Diário da Justiça da União

DPU-CE Defensoria Pública da União no Ceará

EC

Emenda Constitucional

EREsp

Embargos de Divergência no Recurso Especial

FNS

Fundo Nacional de Saúde

IAP

Institutos de Aposentadorias e Pensões

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INAMPS

Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INPS

Instituto Nacional da Previdência Social

LC

Lei Complementar

LDO

Lei de Diretrizes Orçamentárias

MS

Mandado de Segurança

Min.

Ministro

n.

Número

NOB

Norma Operacional Básica

NUFITO

Núcleo de Fitoterápicos

NUMES

Núcleo de Medicamentos Essenciais e Estratégicos

NUMEX

Núcleo de Medicamentos de Caráter Excepcional

p.

Página

(11)

RE

Recurso Extraordinário

Rel.

Relator

RENAME

Relação Nacional de Medicamentos

RTJ

Revista Trimestral de Jurisprudência

SESA-CE Secretaria de Saúde do Estado do Ceará

STF Supremo Tribunal Federal

STJ

Superior Tribunal de Justiça

SUS

Sistema Único de Saúde

(12)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...

12

2. DIREITO À SAÚDE NO BRASIL...

14

2.1 Previsão como direito fundamental na Constituição...

14

2.2 Histórico...

16

2.3

O Sistema Único de Saúde...

17

2.3.1 Princípios e diretrizes do SUS...

19

2.2.2 Financiamento...

23

3. ATIVISMO JUDICIAL NO DIREITO À SAÚDE...

26

3.1 Norma programática x princípio da dignidade humana...

26

3.2 Separação dos poderes...

28

3.3 Responsabilidade solidária dos entes federativos...

29

3.4 Reserva do possível e limites da amplitude ao direito à saúde...

31

3.5 Audiência pública do STF sobre judicialização da saúde...

35

4. MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO NO CEARÁ...

37

4.1 Definição...

37

4.2 Organização da estrutura de saúde...

38

4.3 Jurisprudência...

41

4.4 Problemáticas das políticas públicas de saúde...

.

45

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...

49

REFERÊNCIAS...

51

ANEXO A - Portaria n. 1.554 MS/GM, de 30 de julho de 2013...

56

ANEXO B - Portaria n. 2.577 MS/GM, de 27 de outubro de 2006...

69

ANEXO C - Portaria n. 3.916 MS/GM, de 30 de outubro de 1998...

70

ANEXO D - Portaria n. 533 MS/GM, de 28 de março de 2012...

89

(13)

1.INTRODUÇÃO

Diante de um sistema público de saúde que apresenta dificuldades desde a

disponibilização dos insumos mais básicos aos mais complexos, a quantidade de processos

solicitando a concessão judicial de medicamentos de alto custo aumenta a cada ano no Estado do

Ceará e no Brasil em geral. A inércia administrativa e a falta de recursos do Sistema Único de Saúde

levam o cidadão acometido por graves enfermidades a buscar no Poder Judiciário a solução para

suas demandas na área da saúde. Dessa maneira, o Judiciário está sendo constantemente instado a

corrigir omissões que ameaçam gravemente direitos fundamentais previstos na Constituição Federal

de 1988. A relevância do tema levou inclusive à convocação de audiência pública realizada no

Supremo Tribunal Federal em 2009, para tratar sobre a judicialização do direito à saúde e

estabelecer parâmetros para a concessão judicial de medicamentos de alto custo.

A pesquisa para o presente estudo analítico descritivo foi realizada mediante leituras

embasadas em livros, revistas, publicações especializadas, imprensa escrita, processos judiciais,

artigos, e dados oficiais publicados na internet, que abordavam direta ou indiretamente o tema em

análise.

Nesse trabalho serão apresentadas primeiramente as leis e disposições constitucionais

que regem o direito à saúde, além do histórico que levou a criação de um sistema público de saúde

universal e gratuito. O Sistema Único de Saúde (SUS), que gere a saúde pública no Brasil, será

abordado quanto a seus princípios e financiamento, especialmente em relação à divisão de

competências entre os entes federativos.

Após serão discutidos os argumentos que integram o debate do ativismo judicial nas

políticas públicas de saúde, demonstrando como se dá a separação de responsabilidades no direito

constitucional em relação aos entes federativos e aos três poderes: Judiciário, Legislativo e

Executivo. Assim como o embate entre a concepção de que o direito à saúde seria uma norma

constitucional programática, necessitando de uma ação estatal para sua efetivação ou se trata-se de

uma norma de eficácia plena, a qual desde a promulgação da Constituição está apta a produzir seus

efeitos.

(14)
(15)

2. DIREITO À SAÚDE NO BRASIL

A saúde, como premissa básica para o exercício de todos os outros direitos, por estar

intrinsecamente ligado à vida, constitui-se de extrema relevância para a sociedade, sendo

indispensável o tratamento prioritário às questões de saúde dos cidadãos.

Entretanto, o Brasil enfrenta diversas dificuldades em relação a seu sistema público de

saúde, o SUS, do qual depende a maioria da população. A mídia frequentemente noticia as longas

filas de pacientes à espera de atendimento, a falta de leitos hospitalares para atender a demanda,

além da escassez medicamentos, insumos e profissionais, impedindo a operação desejável dos

serviços de saúde. O Estado, portanto, falha gravemente ao não assegurar de maneira eficaz e

contínua o direito à saúde constitucionalmente assegurado a todos os brasileiros.

2.1 Previsão constitucional

A Constituição Federal de 1988 destaca-se pelo tratamento dado aos direitos sociais,

elevando-os ao patamar de garantias fundamentais explicitamente previstas no texto constitucional.

Dentre os direitos elencados no art. 6º está o direito à saúde:

São direitos sociais a educação, à

saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparad

os, na forma desta Constituição”.

O direito à saúde também é previsto pelo art. 196 da Constituição Federal, segundo o

qual

a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e

econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e

igualitário às ações e serviços para sua p

romoção, proteção e recuperação”.

Dessa maneira, foi reconhecido que o Estado tem o dever de promover, mediante

políticas sociais e econômicas, a efetividade do direito à saúde a todos os cidadãos de forma

igualitária, universal e gratuita. Desde a promulgação da Constituição de 1988, referido direito

fundamental tem ocupado lugar cada vez mais frequente nos julgados do Poder Judiciário, devido à

falhas na prestação estatal, com destaque às ações judiciais objetivando o fornecimento de

medicamentos de alto custo.

A responsabilidade do Poder Público em relação às ações de saúde é descrita da

seguinte forma por Silva (2006, p.831):

(16)

tem ele integral poder de dominação, que é o sentido do termo controle, mormente quando aparece ao lado da palavra fiscalização.

O entendimento do direito à saúde como indisponível e constitucionalmente tutelado é

confirmado pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello no RE 271.286 AgR/RS

1

.

O direito à saúde representa consequência constitucional indissociável do direito à vida. O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular – e implementar – políticas sociais e econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles portadores do vírus HIV, o acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica e médico-hospitalar. O direito à saúde – além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas – representa consequência constitucional indissociável do direito à vida. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional..”

Há íntima ligação entre o direito à saúde e os direitos constitucionais à dignidade da

pessoa humana² e à vida

3

, sendo o Estado obrigado a prestar ações concernentes à saúde, de forma

gratuita e universal a todos. Assegurar à coletividade, mediante a prestação de recursos materiais

essenciais, uma existência digna é objetivo comum dos direitos fundamentais sociais. Ademais, o

direito a vida é condição essencial para o exercício de todos os demais direitos fundamentais,

devendo ser prioritariamente assegurado. De acordo com Ordacgy (2009, p.1), a saúde seria um

bem intangível, já que é característica indissociável do direito à vida, devendo ser plenamente

assegurada pelas políticas públicas governamentais.

O Min. Celso de Mello prossegue em seu voto no RE 271286 AgR/RS entendendo que

o respeito à vida e à saúde humana são indeclináveis:

[...] entre proteger a inviolabilidade do direito à vida e à saúde, que se qualifica como direito subjetivo inalienável assegurado a todos pela própria Constituição da República (art. 5º., caput e art. 196), ou fazer prevalecer, contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundário do Estado, entendo - uma vez configurado esse dilema - que razões de ordem ético-jurídica impõem ao julgador uma só e possível opção: aquela que privilegia o respeito indeclinável à vida e à saúde humana, notadamente daqueles que têm acesso, por força de legislação local, ao programa de distribuição gratuita de medicamentos, instituído em favor de pessoas carentes.

No Brasil, os direitos à vida e à dignidade geram a obrigação do Estado de formular e

implementar políticas públicas que garantam aos cidadãos o acesso universal e igualitário à saúde,

através de um serviço nacional de saúde disponibilizando uma prestação efetiva, como determina o

__________

1. RE 271.286 AgR/RS, 2ª Turma, Relator Min. Celso de Mello, DJU de 24.11.00, p. 101. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=335538>. Acesso em: 10 out. 2014.

2. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana; CF/88.

(17)

texto constitucional. Importante destacar, que a CF/88, de forma inovadora, dispôs em seu art. 5º, §

1º, que

“as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata

.

Dessa forma, como leciona Botelho (2009, p. 290)

, “

o direito à saúde no ordenamento

constitucional brasileiro pode ser entendido como um direito social fundamental, público, subjetivo

e universal”.

O caráter prestacional do direito à saúde assume relevância no âmbito de sua eficácia e

efetivação, significando que a materialidade das prestações necessitadas somente é possível através

de políticas públicas de saúde formuladas pelo Estado. Sendo assim, o Poder Público, não pode

mostrar-se indiferente ao problema da saúde em nosso país e ignorar essas demandas.

2.2 Histórico

O direito à saúde foi reconhecido internacionalmente em 1948, quando da aprovação da

Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas (ONU). A

Organização Mundial da Saúde conceitua saúde como

“um estado de completo bem

-estar físico,

mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade

”, segundo Rezende

(2010. p.222).

A trajetória da saúde pública no Brasil inicia-se no início do século XIX, com a vinda da

Corte portuguesa, quando foram criadas as Academias Médico Cirúrgicas, no Rio de Janeiro e na

Bahia, depois transformadas nas duas primeiras escolas de medicina do país, de acordo com

SANTANA (2010, p.50).

Somente entre 1870 e 1930 que o Estado passou a praticar ações efetivas no campo da

saúde, com a adoção do modelo “campanhista”, caracterizado pelo uso corrente da

autoridade e da

força policial.

4

Sobre a Lei Eloy Chaves, criada pelo Decreto nº 4.682, em 1923, que determinou a

criação da Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAP) em cada uma das empresas de ferro do país

para seus respectivos empregados e é considerada um marco do início da Previdência Social no

Brasil, os autores Carvalho e Santos (1995, p. 58) lecionam:

Em um contexto de rápido processo de industrialização e acelerada urbanização, a lei vem apenas conferir estatuto legal a iniciativas já existentes de organização dos trabalhadores

por fábricas, visando garantir pensão em caso de algum acidente ou afastamento do trabalho por doença, e uma futura aposentadoria. Com as “caixas”, surgem as primeiras discussões sobre a necessidade de se atender à demanda dos trabalhadores. Nascem nesse

momento complexas relações entre os setores público e privado que persistirão no futuro Sistema Único de Saúde.

__________

(18)

A partir da década de 30, há a estruturação básica do sistema público de saúde, que

passa a realizar também ações curativas. É criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, além

dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), que ofereciam serviços de saúde limitados à

categoria profissional ligada ao respectivo Instituto, pois a saúde pública não era universalizada,

restringindo-se a beneficiar os trabalhadores que contribuíam para os institutos de previdência.

O Ministério da Saúde só veio a ser instituído no dia 25 de julho de 1953, com a Lei nº

1.920/53, que desdobrou o então Ministério da Educação e Saúde em dois ministérios

5

.

Em 1966, através do Decreto-Lei n. 72, foi criado o Instituto Nacional de Previdência

Social (INPS), unificando os IAPs. Todo trabalhador urbano com carteira assinada era contribuinte

e beneficiário desse sistema, possuindo direito a atendimento na rede pública de saúde. No entanto,

grande contingente da população brasileira não integrava o mercado de trabalho formal e

continuava excluído do direito à saúde.

Em 1975, foi regulamentada a Lei n. 6.229, que criou o Sistema Nacional de Saúde,

definindo sua organização e distribuição das responsabilidades entre a Previdência Social, a qual

caberia a assistência individual e curativa, enquanto os cuidados preventivos e de alcance coletivo

ficariam sob a responsabilidade do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais de

Saúde.

Destacou-se a Constituição Federal de 1988, que determinou ser dever do Estado

garantir saúde a toda a população e, para tanto, criou o Sistema Único de Saúde. Em 1990, o

Congresso Nacional aprovou a Lei Orgânica da Saúde que detalhou como se daria a organização e o

funcionamento do sistema público de saúde e, que, por tratar da mesma matéria, revogou

expressamente a lei n. 6.229/75, anteriormente citada.

2.3 O Sistema Único de Saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS) é formado pelo conjunto de todas as ações e serviços

de saúde prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da

administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. O SUS é considerado

uma das mais importantes conquistas advindas da Constituição de 1988, pois foi criado com o

objetivo de atender as necessidades de saúde da população brasileira, além de questões que

influenciam na saúde, como o meio ambiente, a vigilância sanitária, a fiscalização de alimentos,

entre outros, sendo financiado por todos os membros federativos, de acordo com o art. 196 da

Constituição Federal.

__________

(19)

Interessante destacar que o processo que levou à instituição do SUS partiu da própria

sociedade, através do Movimento Sanitarista, que envolveu milhares de intelectuais, trabalhadores

de saúde e usuários, que criticaram o modelo de saúde vigente até então e cujas reivindicações

foram catalisadas na VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986. As resoluções dessa

Conferência deram os moldes que viriam, em breve, ser inscritos na Constituição de 1988. Fleury

(2009,

p.743) aponta que a nova Constituição “representou uma ruptura com o modelo tanto de

Estado quanto de cidadania anteriores, em resposta à mobilização social que a antecedeu

.

O artigo 198 da Constituição de 1988 estrutura o Sistema Único de Saúde, criado para

garantir que toda a população obtenha acesso ao atendimento público de saúde, o que antes da

Constituição só era garantido aos empregados que contribuíssem com a previdência social,

tratando-se, portanto, de grande evolução social devido à democratização das ações e dos serviços

de saúde, que deixaram de ser restritos e passaram a ser universais.

A Lei Orgânica da Saúde, Lei n. 8.080/90, regulamenta os artigos 196 e seguintes da

Constituição Federal e dispõe nos artigos 6º, inciso I, alínea

“d”:

Art. 6º. Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):

I - a execução de ações:

d)

de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;

Já a organização operacional do SUS é realizada através da edição de Normas

Operacionais Básicas (NOB), que se constituem nos principais instrumentos normalizadores do

processo de descentralização das ações e serviços de saúde no Brasil. A NOB/96, apesar das

posteriores alterações, é a que está atualmente em vigor.

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado para, juntamente com a Previdência e

Assistência Social, formar um sistema integrado, com a finalidade de assegurar a dignidade material

de todas as pessoas e garantir a universalidade e gratuidade do atendimento em saúde. Segundo o

disposto pelo art. 195 da Constituição Federal:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios e das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento; c) o lucro;

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o Art. 201;

III - sobre a receita de concursos de prognósticos;

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

(20)

estas eram prestadas pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

(INAMPS), porém, apenas para os seus beneficiários. Em 1990, o INAMPS passou a integrar a

estrutura do Ministério da Saúde, sendo extinto três anos mais tarde com a edição da Lei n.8.689/93,

que em seu art.1º, § único determinou que:

As funções, competências, atividades e atribuições do INAMPS serão absorvidas pelas instâncias federal, estadual e municipal gestoras do SUS, de acordo com as respectivas competências, critérios e demais disposições das Leis n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8.142, de 28 de dezembro de 1990.

Trata-se de um sistema universal e gratuito, baseado nos princípios da universalidade,

integralidade e equidade, que visa concretizar o direito à saúde que todos os indivíduos da

população possuem.

Reafirmando as previsões dispostas no Texto Constitucional, a Lei n. 8.080/90, dispõe o

que a saúde é um direito fundamental e cabe ao Estado formular e executar políticas públicas para

sua efetivação:

Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

As políticas públicas de saúde, por sua vez, devem ser pautadas nos princípios de

diretrizes do Sistema Único de Saúde.

2.3.1 Princípios e diretrizes do SUS

O SUS rege-se pelos princípios doutrinários da universalidade, da integralidade e da

equidade e por diretrizes organizativas como a descentralização, a regionalização e hierarquização

dos serviços e participação popular e complementariedade do sistema privado, que buscam garantir

um melhor funcionamento do sistema, de acordo com o art. 7º da Lei n. 8.080/90:

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e

serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário;

VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática;

VIII - participação da comunidade;

IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;

(21)

X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população;

XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e

XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos.

Os princípios e diretrizes que orientar o Sistema Único de saúde podem assim ser

resumidos:

a) O princípio da universalidade

De acordo com o art. 196 da Constituição Federal, a prestação de serviço público de

saúde deve estar ao alcance de todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país, de forma

universal e igualitária.

Acerca dos destinatários dos direitos fundamentais, ressalve-se que a doutrina não

exclui os estrangeiros em trânsito no Brasil. Nesse sentido, Moraes (2005, p. 172):

Observe-se, porém, que a expressão residentes no Brasil deve ser interpretada no sentido de que a Carta Federal só pode assegurar a validade e o gozo dos direitos fundamentais dentro do território brasileiro (RTJ 3/566)6, não excluindo, pois, o estrangeiro em trânsito pelo território nacional [...].

No Brasil, antes da Constituição de 1988, somente os trabalhadores segurados do

INAMPS tinham direito à cobertura médica. Após a implantação do SUS, a saúde passou a ser

direito de cidadania de todas as pessoas, cabendo ao Estado assegurar este direito. A universalidade

é a garantia de atenção à saúde por parte do sistema, a todo e qualquer cidadão, que tem direito de

acesso a todos os serviços públicos de saúde, assim como àqueles contratados pelo poder público.

Segundo esse princípio a saúde é um direito de todos e é um dever de prestação do

Poder, referindo-se à garantia de acesso às ações e aos serviços de saúde.

b) O princípio da integralidade

O princípio da integralidade significa considerar a pessoa como um todo, atendendo a

todas as suas necessidades. Para garantir esse atendimento, é importante a integração de ações,

incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento e a reabilitação. Esse

princípio pressupõe a articulação da saúde com outras políticas públicas, como forma de assegurar

uma atuação entre os diferentes órgãos estatais que tenham repercussão na saúde e qualidade de

vida dos indivíduos.

O artigo 7º da Lei 8.080/90 define integralidade como um “conjunto articulado e

contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada

__________

(22)

caso em todos os níveis de complexidade do sistema”.

Dessa maneira, busca-se a estruturação de redes de maneira hierarquizada, com níveis

crescentes dos serviços. Assim as ações de baixa, média e alta complexidade são articuladas para

racionalizar o sistema, aumentando o seu nível de resolutividade e sua capacidade de atendimento

da demanda.

c) O princípio da equidade

A redução das disparidades sociais e regionais existentes em nosso país através ações e

dos serviços de saúde é o objetivo maior do princípio da equidade. Equidade significa tratar

desigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior. Para isso, a rede de serviços

deve focar nas reais necessidades da população a ser atendida. Segundo Starfield (2004, p.10), é

importante minimizar as disparidades entre subgrupos populacionais, de modo que determinados

grupos não estejam em desvantagem sistêmica em relação ao seu acesso aos serviços de saúde e

tenham acesso a um ótimo nível de saúde.

Seguem o mesmo entendimento os autores Vasconcelos e Pasche (2006 p. 535),

segundo os quais a busca pela equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde justifica a

prioridade na oferta direcionada aos segmentos populacionais que enfrentam maiores riscos de

adoecer e morrer em decorrência da desigualdade na distribuição de renda, bens e serviços.

d) Descentralização

Descentralizar é redistribuir poder e responsabilidades entre os três níveis de governo.

Na saúde, a descentralização tem como objetivo prestar serviços com maior qualidade e garantir o

controle e a fiscalização pelos cidadãos. No SUS a responsabilidade pela saúde deve ser

descentralizada até o município. A descentralização, ou municipalização, é uma forma de aproximar

o cidadão das decisões do setor e significa a responsabilização do município pela saúde de seus

cidadãos.

Sobre a importância dos sistemas locais de saúde, Fortes e Paulsen (2005, p. 315)

estabelecem que:

A criação deste sistema descentralizado de atendimento à saúde atribuiu grande responsabilidade aos municípios, no setor, no que tange aos residentes em seus territórios, tanto assim que ao gestor municipal incumbe garantir à população acesso aos serviços e disponibilidade de ações e meios para atendimento integral.

(23)

gestores do sistema de saúde.

O Ministério da Saúde

7

estabelece a cooperação financeira com órgãos das três esferas e

com entidades públicas e privadas mediante três formas de descentralização de recursos através da:

[...]transferência de recursos, pelo Fundo Nacional de Saúde aos municípios, estados e Distrito Federal, de forma regular e automática (repasse fundo a fundo); remuneração de serviços produzidos, que consiste no pagamento direto aos prestadores estatais ou privados, contratados e conveniados, contra apresentação de faturas, referentes a serviços prestados junto à população; celebração de convênios e instrumentos similares, com órgãos ou entidades federais, estaduais e do Distrito Federal, prefeituras municipais e organizações não governamentais, interessados em financiamentos de projetos específicos na área da saúde.

O emprego da descentralização melhora a utilização de recursos, permitindo identificar

com mais precisão as necessidades de cada comunidade.

e) Regionalização e hierarquização da rede

A regionalização é um processo de articulação entre os serviços já existentes, buscando

o comando unificado dos mesmos. A possibilidade da formação de consórcios entre os municípios e

entre os estados dá efetividade à regionalização da rede e dos serviços prestados pelo SUS.

A hierarquização deve, além de proceder à divisão de níveis de atenção, garantir formas

de acesso a serviços que componham toda a complexidade requerida para o caso, no limite dos

recursos disponíveis numa dada região. Está muito ligada às atribuições dos gestores estaduais e

municipais que devem buscar garantir a eficiência, a eficácia e a efetividade do SUS.

Rocha (2011, p. 91) explica:

A hierarquização da rede de serviços de saúde implica na divisão em níveis de complexidade crescente, daí a existência das redes de atenção básica, de atenção de média complexidade e de atenção de alta complexidade. A rede de atenção básica envolve os serviços menos complexos, que devam ser prestados especialmente pelos postos de saúde, clinicas médicas, etc. A rede de atenção de média complexidade abrange situações mais graves do que a rede básica, sendo realizadas consultas hospitalares, exames, etc. Já nas

redes de atenção de alta complexidade, são realizados procedimentos médicos complexos que envolvam profissionais especializados e equipamentos mais sofisticados, como é o caso

da cirurgia cardiovascular [...].

A hierarquização da rede vem consolidando-se ao passo que os gestores estaduais e

municipais vêm assumindo suas responsabilidades e prerrogativas perante o SUS através das formas

de gestão trazidas pela NOB/96.

f) Participação popular

A Lei n. 8142/90, em seu art. 1, inciso II, §§ 2º e 4º regulamenta a matéria, assegurando

a participação nessas instâncias de 50% de usuários e 50% reservados a profissionais, gestores,

__________

(24)

prestadores de serviços da saúde e representantes do governo:

Art. 1º. O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo,

com as seguintes instâncias colegiadas: II - o Conselho de Saúde:

§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo. § 4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências será paritária em

relação ao conjunto dos demais segmentos.

A obrigatoriedade da formação e do funcionamento dos conselhos de saúde tem o

objetivo de impulsionar a sociedade a participar dos rumos tomados pelo SUS, buscando viabilizar

a participação popular na condução da política de saúde.

g) Complementariedade do setor privado

A Constituição estabeleceu as condições sob as quais o setor privado deve ser

contratado, quando o setor público se mostre incapaz de atender a demanda programada:

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

Entre os serviços privados devem-se priorizar os não lucrativos ou filantrópicos e todo

serviço privado contratado passa a seguir as determinações do sistema público, em termos de regras

de funcionamento, organização e articulação com o restante da rede devendo ser realizada licitação

pelos gestores, de acordo com a Lei Federal n. 8.666/93, que regulamenta as normas gerais sobre

licitações e contratos administrativos dos três entes federativos.

2.3.2 Financiamento do SUS

A Constituição de 1988 criou um orçamento especifico para o financiamento da

Seguridade Social, o qual deve receber recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, além de outras fontes para financiar a área social e, dentro dela, a saúde.

Na divisão dos recursos dentro da Seguridade Social, a Constituição não definiu

percentuais para cada política, bem como não definiu, no caso da saúde, como se daria a

participação de cada esfera de governo - municipal, estadual e federal - no seu financiamento. A

Emenda Constitucional 29, editada em 2000, teve o intuito de prover a suficiência de recursos,

assim como avançar no que concerne à solidariedade federativa, ao estabelecer parâmetros para as

relações fiscais intergovernamentais dentro do Sistema Único de Saúde.

(25)

7% de sua receita bruta na área da saúde, e, até o ano de 2004, atingir o mínimo de 12% e 15%,

respectivamente. A União deveria no primeiro ano ampliar em 5% o orçamento do ano anterior e a

partir daí corrigir todos os anos o orçamento da saúde pela variação do Produto Interno Bruto (PIB).

A definição do percentual mínimo necessário para o financiamento da saúde foi prevista

no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT):

Art. 77. Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações e serviços públicos de saúde serão equivalentes:

I - no caso da União:

a) no ano 2000, o montante empenhado em ações e serviços públicos de saúde no exercício financeiro de 1999 acrescido de, no mínimo, cinco por cento;

b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do Produto Interno Bruto - PIB;

II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; e

III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º. § 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que apliquem percentuais inferiores aos fixados nos incisos II e III deverão elevá-los gradualmente, até o exercício financeiro de 2004, reduzida a diferença à razão de, pelo menos, um quinto por ano, sendo que, a partir de 2000, a aplicação será de pelo menos sete por cento.

§ 2º Dos recursos da União apurados nos termos deste artigo, quinze por cento, no mínimo, serão aplicados nos Municípios, segundo o critério populacional, em ações e serviços básicos de saúde, na forma da lei. (grifo nosso)

Apesar de tratar-se de regra de caráter transitório, que deveria ter vigorado apenas até

2004, continuou em vigor por falta de lei complementar que regulamentasse a emenda.

A Lei Complementar n.141/2012 regulamentou a EC 29 e dispôs sobre os valores

mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em

ações e serviços públicos de saúde, estabelecendo os critérios de rateio dos recursos de

transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com

saúde nas três esferas de governo:

Art. 5o A União aplicará, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, o montante correspondente ao valor empenhado no exercício financeiro anterior, apurado nos termos desta Lei Complementar, acrescido de, no mínimo, o percentual correspondente à variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB) ocorrida no ano anterior ao da lei orçamentária anual.

§ 2o Em caso de variação negativa do PIB, o valor de que trata o caput não poderá ser reduzido, em termos nominais, de um exercício financeiro para o outro.

Art. 6o Os Estados e o Distrito Federal aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, no mínimo, 12% (doze por cento) da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam o art. 157, alínea “a” do inciso I e o inciso II do caput do art. 159, todos da Constituição Federal, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios.

Art. 7o Os Municípios e o Distrito Federal aplicarão anualmente em ações e serviços públicos de saúde, no mínimo, 15% (quinze por cento) da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam o art. 158 e a alínea “b” do inciso I do caput e o § 3º do art. 159, todos da Constituição Federal.

(26)

o financiamento do SUS, não houve alteração entre os termos da norma do art. 77 do ADCT e a

atual LC 141/2012 no que diz respeito ao montante de recursos que União, Estados e Municípios

devem destinar às ações e serviços de saúde.

Resta aos usuários do SUS aguardar pela próxima revisão da LC 141/2012, seguindo a

norma do art. 198, §3º da CF/88

8

que dispõe que a lei complementar deverá ser revista pelo menos a

cada cinco anos, e pressionar os legisladores a aumentar o orçamento do SUS, dando efetividade ao

comando constitucional da integralidade do atendimento e da universalidade da cobertura. serviços

públicos de saúde.

__________

8. Art. 198, § 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:

I - os percentuais de que trata o § 2º;

II - os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais;

III - as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal;

(27)

3. ATIVISMO JUDICIAL DO DIREITO À SAÚDE

Segundo Luís Roberto Barroso

1

, o termo “ativismo judicial” surgiu nos Estados

Unidos,

durante os anos em que a Suprema Corte foi presidida por Earl Warren, entre 1954 e 1969, quando

houve grande avanço jurisprudencial em matérias referentes aos direitos fundamentais, sem

qualquer participação do Executivo ou Legislativo americano.

Dessa forma, o ativismo judicial refere-se a uma participação mais ampla e proativa do

Judiciário na concretização das normas constitucionais, com maior interferência no espaço de

atuação dos poderes Legislativo e Executivo.

No Brasil, o número de processos demandando intervenção judicial para garantir o

direito às prestações de saúde cresceu vertiginosamente nos últimos anos, gerando grandes

discussões sobre essa temática.

Os defensores da interferência judicial alegam que o Poder Público não oferece seus

serviços de maneira apropriada, deixando desamparados aqueles que têm direitos a essas prestações

na área da saúde. Ressaltam também que o caráter fundamental dos direitos sociais e sua

aplicabilidade imediata dão legitimidade ao Judiciário para ordenar o fornecimento imediato de

medicamentos e demais prestações de saúde garantidas constitucionalmente, pois estão relacionados

à questão os direitos à saúde, à vida e da dignidade da pessoa humana.

Já os críticos do ativismo judicial apontam a quebra do princípio da separação dos

poderes e que o direito à saúde é norma programática, que meramente aponta objetivos a serem

alcançados, mas que não vinculam a Administração Pública. Ademais, citam o argumento da

“reserva do possível”, segundo a qual a efetivação dos direitos sociais depende da disponibilidade

econômica do Estado. Nas ações judicias que versam sobre direito à saúde, os entes federativos

tendem a alegar ilegitimidade passiva, tentando combater a tese de solidariedade solidária entre

eles.

Os argumentos apresentados no debate sobre intervenção judicial nas políticas públicas

de saúde serão abordados a seguir.

3.1 Norma programática x princípio da dignidade humana

Á época da promulgação da Constituição Federal de 1988, o direito à saúde era

considerado uma norma programática. Assim, sua eficácia dependeria de uma ação estatal, pois

__________

(28)

determinaria um fim, um objetivo a ser perseguido pelas políticas públicas estatais

2

. Dessa forma

não haveria aplicabilidade imediata e eficácia plena, já que normas programáticas apenas apontam

objetivos gerais a serem alcançados, sem estabelecer os meios para o alcance de seus objetivos.

Segundo classificação de Silva (2007, p. 82-83), adotada pelo Supremo Tribunal

Federal (STF), as normas constitucionais podem ser divididas em três categorias: normas de

eficácia plena, de eficácia contida e de eficácia limitada. Na primeira categoria estariam incluídas

todas as normas que, desde a entrada em vigor da constituição, produzem ou têm a possibilidade de

produzir todos os seus efeitos essenciais, atingindo todos os objetivos visados pelo legislador

constituinte. O segundo grupo também estaria constituído de normas que incidem imediatamente e

produzem ou podem produzir todos os efeitos desejados, mas preveem meios ou conceitos que

permitem manter sua eficácia contida em certos limites, dada certas circunstâncias. Já as normas de

terceiro grupo são todas as que não produzem, com a simples entrada em vigor, todos os seus

efeitos essenciais, porque o legislador constituinte não estabeleceu sobre elas normatividade

suficiente, deixando essa atribuição ao legislador ordinário ou a outro órgão do Estado.

Entretanto, a tese de que a norma constitucional do direito à saúde estaria nessa terceira

categoria e seria meramente programática, devendo aguardar regulamentação infraconstitucional,

permitiria ao Estado opor aos cidadãos que buscam o Judiciário, sua própria omissão como forma

de defesa, mantendo sua inércia em não efetivar direitos.

Entretanto, o entendimento do STF

3

em relação ao direito à saúde atualmente é de que

não basta que o Estado meramente proclame o reconhecimento formal do direito, sendo essencial

que seja integralmente respeitado e plenamente garantido, especialmente naqueles casos em que

esse direito se qualifica como prerrogativa jurídica de exigir do Estado a implementação de

prestações positivas impostas pelo próprio ordenamento constitucional.

A aplicabilidade do direito à saúde também é defendida por Krell (2002, p.20):

As normas programáticas sobre direitos sociais que hoje encontramos nas grandes maiorias dos textos constitucionais dos países europeus e latino-americanos definem metas e finalidades, as quais o legislador ordinário deve elevar a um nível adequado de concretização. Essas “normas-programa” prescrevem a realização, por parte do Estado, de determinados fins e tarefas. Elas não representam meras recomendações ou preceitos morais com eficácia ético-política meramente diretiva, mas constituem Direito diretamente aplicável.

__________

2. Segundo definição de Régis Fernandes de Oliveira: “As políticas públicas são providências para que os direitos se realizem, para que as satisfações sejam atendidas, para que as determinações constitucionais e legais saiam do papel e se transformem em utilidades aos governados.” OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Curso de direito financeiro. São Paulo: RT, 2006. p. 251.

(29)

Ademais, a dignidade da pessoa humana é um fundamento da República Federativa do

Brasil, como estabelece o art. 1°, inciso III da CF, constituindo-se em vetor interpretativo da

Constituição, como aduz Sarlet (2004, p. 101):

O que se pretende demonstrar, neste contexto, é que o princípio da dignidade da pessoa humana assume posição de destaque, servindo como diretriz material para a identificação de direitos implícitos (tanto de cunho defensivo como prestacional) e, de modo especial, sediados em outras partes da Constitucional. Cuida-se, em verdade, de critério basilar, mas não exclusivo, já que em diversos casos outros referenciais podem ser utilizados (como, por exemplo, o direito à vida e à saúde na hipótese do meio ambiente, ou mesmo a ampla defesa e os recursos a ela inerentes, no caso da fundamentação das decisões judiciais e administrativas).

O princípio da dignidade da pessoa humana, portanto, irradia-se por todo o

ordenamento jurídico brasileiro e a interpretação de seus dispositivos deve se pautar pelo respeito a

esse direito fundamental.

Sarlet (2006, p. 145) também critica o desrespeito do poder público pelo princípio da

dignidade humana e alerta que quando não se trata com a devida seriedade os direitos fundamentais,

não se leva a sério as necessidades vitais das pessoas merecedoras de respeito e consideração.

Entendimento que exemplifica a importância da preservação da dignidade humana para o devido

respeito aos cidadãos.

3.2 Separação dos poderes

No Brasil, a efetivação dos direitos fundamentais se concretiza por meio das políticas

públicas, podem ser definidas como um conjunto de ações desencadeadas pelo Estado, com vistas

ao bem da coletividade, procurando garantir a proteção de direitos sociais.

No ordenamento jurídico brasileiro, através da separação dos poderes, há funções

diferentes outorgadas aos poderes do Estado, desse modo, elenca o art. 2º da Constituição Federal

que:

“São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o

Judiciário”.

No âmbito das políticas públicas, com o intuito de se ter protegido interesses frente ao

Poder Público, há uma proliferação de ações judiciais pleiteando fornecimento de medicamentos

dos entes federativos. Assim, há certa discussão sobre até que ponto o Poder Judiciário pode intervir

nas políticas públicas, visto que essa tutela jurisdicional do direito à saúde é acusada de intervir na

independência dos poderes Executivo e Legislativo, garantida pelo princípio constitucional da

separação dos poderes.

(30)

a contribuir para a atuação administrativa ao participar com maior ênfase da elaboração de políticas

públicas e diretrizes orçamentárias, e o Judiciário a exercer em maior extensão a função

jurisdicional, tanto na tutela de novos direitos surgidos em decorrência do maior destaque aos

direitos sociais nas relações jurídicas, quanto no papel de protagonismo na interpretação da

Constituição e do alargamento dos princípios jurídicos instituídos.

Em relação à atuação do Poder Judiciário em temas concernentes às políticas públicas

de saúde, os entes federativos defendem não ser cabível a interferência judicial por estar a matéria

sob competência do Poder Executivo, sob pena de desrespeito ao princípio da separação dos

poderes e interferência no mérito administrativo, na aferição de conveniência e oportunidade sobre

como executar o serviço público de saúde. Portanto, seria atribuição exclusiva do Poder Público

decidir como devam ser aplicados esses recursos.

Contudo, a Constituição Federal assegura de forma expressa a proteção dos direitos

sociais, além de, em seu art. 5º, inciso XXXV, prever a possibilidade de o cidadão recorrer às vias

judiciais quando houver violação de direito:

“A lei não excluirá da apreciação do poder judiciário

lesão o

u ameaça de lesão a direito”.

O desrespeito aos princípios e garantias fundamentais

essenciais para a existência humana fundamentam a intervenção judicial.

É assim que entende Freire Júnior (2005, p. 44)

ao estatuir que: “O juiz tem a missão

constitucional de impedir ações ou omissões contrárias ao texto [constitucional], sem que com essa

atitude esteja violando a Constituição

.

A atividade jurisdicional certamente deve procurar respeitar as funções executivas e

legislativas. Porém, diante de causas de relevância e urgência, os cidadãos podem provocar o

Judiciário para tomar uma decisão e garantir, por exemplo, a entrega de medicamentos.

Nesse sentido, destaca-se o trecho do voto do Ministro Celso de Mello, em julgamento

da ADPF 45/2004 (DJ 04/05/2004) no Supremo Tribunal Federal, que segue:

Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integralidade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados e cláusulas revestidas de conteúdo programático.4

Pacificando o entendimento de que cabe intervenção do Judiciário diante da omissão do

Estado.

3.3 Responsabilidade solidária dos entes federativos

No Brasil, que adota o sistema federativo

5

, todos os entes (União, Estados-membros,

_________

4. Disponível em: <http://www.sbdp.org.br/arquivos/material/343_204%20ADPF%202045.pdf>. Acesso em: 10 out. 2014.

(31)

e Municípios), têm responsabilidade solidária em relação ao direito à saúde no país.

6

A

responsabilidade solidária

7

implica o reconhecimento de que cada um dos entes é responsável pela

totalidade da prestação de saúde requerida.

A Constituição estabelece, ainda, a competência concorrente

8

dos entes federados para

legislar sobre o direito à saúde. Desta forma, a União se obriga ao estabelecimento de normas

gerais, enquanto os Estados legislam de forma suplementar

9

e os Municípios legislam nas matérias

de interesse local

10

.

O ministro do STF Luiz Fux, no julgamento do RE 607.381-AgR

,

entende que o

requerente de prestações de saúde pode pleitear seu direito de quaisquer dos entes federativos:

O recebimento de medicamentos pelo Estado é direito fundamental, podendo o requerente

pleiteá-los de qualquer um dos entes federativos, desde que demonstrada sua necessidade e a impossibilidade de custeá-los com recursos próprios. Isso por que, uma vez satisfeitos tais requisitos, o ente federativo deve se pautar no espírito de solidariedade para conferir efetividade ao direito garantido pela Constituição, e não criar entraves jurídicos para postergar a devida prestação jurisdicional.”11

Entretanto, o jurista Luís Roberto Barroso discorda:

Parâmetro: o ente federativo que deve figurar no polo passivo de ação judicial é aquele responsável pela lista da qual consta o medicamento requerido. Como mencionado, apesar das listas formuladas por cada ente da federação, o Judiciário vem entendendo possível

responsabilizá-los solidariamente, considerando que se trata de competência comum. Esse entendimento em nada contribui para organizar o já complicado sistema de repartição de atribuições entre os entes federativos. Assim, tendo havido a decisão política de determinado ente de incluir um medicamento em sua lista, parece certo que o polo passivo de uma eventual demanda deve ser ocupado por esse ente. A lógica do parâmetro é bastante simples: através da elaboração de listas, os entes da federação se autovinculam.

Nesse contexto, a demanda judicial em que se exige o fornecimento do medicamento não precisa adentrar o terreno árido das decisões políticas sobre quais medicamentos devem ser fornecidos, em função das circunstâncias orçamentárias de cada ente político. Também não haverá necessidade de examinar o tema do financiamento integrado pelos diferentes níveis federativos, discussão a ser travada entre União, Estados e Municípios e não no âmbito de cada demanda entre cidadão e Poder Público. Basta, para a definição do polo passivo em tais casos a decisão política já tomada por cada ente, no sentido de incluir o medicamento em lista.12

__________

6. Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

II- cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; CF/88

7. A solidariedade é instituto do Direito Civil e está prevista no art. 265 do novo Código Civil de 2002, em seu art. 265: “a solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes, cabendo ao credor escolher qual dos devedores deseja acionar”. Importante também a previsão do art. 267 do mesmo Código: “cada um dos credores

solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro”.

8. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; CF/88.

9. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados; CF/88

10. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; CF/88.

11. RE 607.381-AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 31/05/2011, Primeira Turma, DJE de 17/06/2011. Disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=87975297&tipoApp=.pdf>. Acesso em: 10 out. 2014.

12.BARROSO, Luís Roberto. Da falta de efetividade à judicialização excessiva: direito à saúde, fornecimento gratuito de medicamentos e parâmetros para a atuação judicial. 21/01/2008. Disponível em:

(32)

A questão é relevante porque o cidadão tem a possibilidade de escolher os entes

federativos que pretende acionar para efetivação do direito à saúde. A ação judicial pode ser de

alçada da Justiça Federal ou Estadual, dependendo do ente público que praticou a lesão ao direito à

saúde do requerente. De qualquer forma, quando se trata do fornecimento de medicamentos, o

requerente pode optar em promover a ação na Justiça Estadual, caso deseje receber os remédios do

Estado e/ou do Município, ou então na Justiça Federal, em face de todas as esferas do Poder

Executivo, visto que o Sistema Único de Saúde (SUS) abrange todos os entes federativos. A

presença da União Federal entre os requeridos da lide, por si só desloca a competência para o foro

federal.

13

É comum que, ao serem acionados, os entes aleguem ilegitimidade passiva

ad causam

ou mesmo os pedidos de chamamento ao processo dos demais entes federados. Porém, já está

consolidado pela jurisprudência, que todos os entes têm responsabilidade passiva e que não há

obrigatoriedade de chamamento ao processo das demais esferas do poder público.

Entendimento exemplificado no prosseguimento do voto do RE 607.381-AgR pelo

Ministro do STF Luiz Fux:

Ademais, o objetivo do chamamento ao processo é garantir ao devedor solidário o direito de regresso caso seja perdedor da demanda; configura atalho processual para se exigir dos demais co-devedores o pagamento de suas respectivas cotas da dívida. Contudo, in casu,

não há se falar em direito de regresso, pois, mesmo que a União integre o feito em comunhão com o Estado, caso saiam perdedores da demanda, o Estado de Santa Catarina arcará sozinho com o ônus do fornecimento do medicamento requerido, pois essa foi a escolha da autora da ação.

É pacífico o entendimento do STF sobre a legitimidade dos entes federados. Para o

Tribunal, tanto a União, quanto os Estados e Municípios são legítimos para figurar no pólo passivo

de ação judicial que vise à garantia do direito à saúde e que há responsabilidade solidária entre eles,

podendo ser condenados solidariamente à concessão do tratamento ou fármaco necessário à garantia

desse direito.

14

3.4 Reserva do possível e limites da amplitude ao direito à saúde

O direito à saúde deixou de ser percebido como previsão formal e mera convocação a

atuação do Legislativo e do Executivo, para desfrutar de aplicabilidade direta e imediata por juízes e

tribunais. Dessa forma, os pedidos de intervenção do Poder Judiciário para obrigar a Administração

Pública a fornecer gratuitamente medicamentos, procura realizar a promessa constitucional de

________

13. Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal; CF/88.

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