• Nenhum resultado encontrado

LICENCIATURA EM DIREITO CANÓNICO SANÇÕES NA IGREJA PROGRAMA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "LICENCIATURA EM DIREITO CANÓNICO SANÇÕES NA IGREJA PROGRAMA"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

LICENCIATURA EM DIREITO CANÓNICO

Ano Lectivo 2013-2014 Semestre de Verão

SANÇÕES NA IGREJA

LIVRO VI DO CÓDIGO DE DIREITO CANÓNICO

PROGRAMA

I. Introdução: um sector polémico à data da elaboração do Código de Direito Canónico e ainda nos nossos dias

1. Alguns dos aspectos mais questionados:

- um verdadeiro direito penal na Igreja ou apenas uma disciplina penitencial pastoral? Uma legislação universal (para toda a Igreja Latina) ou, em abono do princípio de subsidiaridade, um direito confiado à competência das Conferências episcopais ou, porventura, aos que presidem às Igrejas particulares?

- Restringir o direito penal apenas ao foro externo ou também admitir a sua eficácia no foro interno, procurando embora uma boa coordenação de modo a desaparecerem (ou ao menos restarem atenuados…) os conflitos possíveis entre ambos os foros?

- Suprimir as sanções latae sententiae por insuficiência da sua pedagogia pastoral face à sensibilidade do homem do nosso tempo tão afeiçoado aos valores da dignidade da pessoa humana ou reservá-las apenas para os delitos gravíssimos lesivos da comunhão eclesial?

(2)

2. A questão fundamental: o Livro VI do Código tem por objecto um verdadeiro Direito Penal ou apenas um Directório Pastoral que tem por função orientar a aplicação de sanções penais adequadas a situações delituosas mais graves na Igreja?

A consciência histórica da Igreja sempre tratou esta matéria como verdadeira disciplina jurídica:

- Propriamente falando, o primeiro cânone do Livro VI do Código recolhe um princípio geral do designado Direito Público da Igreja. Princípio que poderíamos expor nestas premissas: “ para criar leis a Igreja como sociedade originária e independente que é, tem o seu fim próprio e dispõe de meios adequados para o alcançar;

entre esses meios encontra-se o poder para promulgar leis e fazê-las cumprir, recorrendo às penas para aqueles delinquentes que violem as ditas leis ou normas jurídica (Ángel Marzoa, Comentário ao c. 1311, in Comentário Exegético al Código de Derecho Canónico IV/I, Pamplona 1995, 247).

- Que seja um direito originário da Igreja, o poder de punir os delinquentes, tal faculdade é suficientemente atestada pela tradição, já consagrada na época apostólica.

Veja-se por exemplo Mt 18, 15 (na regra da correcção fraterna: “Se o teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós contigo. Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas testemunhas, para que toda a questão seja decidida pela palavra de duas ou três testemunhas. Caso não lhes der ouvido, di-lo à Igreja”.

1Cor: “Se o Senhor permitir, em breve irei ter convosco e tomarei conhecimento, não das palavras dos orgulhosos, mas do seu poder. Pois o Reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder. Que preferis? Que eu vos visite com vara ou com amor e em espírito de mansidão?”. Caso do incestuoso (1Cor. 5). 2Cor. : “Destruímos os raciocínios presunçosos e todo o poder altivo que se levante contra o conhecimento de Deus...e estamos pronto a punir toda a desobediência desde que a vossa obediência seja perfeita.

Poder-se-iam apontar ainda outros exemplos da era apostólica, v.g. 2 Ts 3, 14 e Tm. 1, 20. Que, por economia de tempo não podemos, aqui tratar.

Mas, ao longo da História do Magistério da Igreja, não faltam casos em que Ela apregoa a faculdade originária de usar penas coactivas. Citamos alguns casos mais célebres:

(3)

(a. 1327) João XXII (Const. Licet) condena a passagem do Defensor Pacis de Marsílio de Pádua : “Quod Papa vel tota Ecclesia simul iuncta nullum hominem punire potest punitione coactiva, nisi hoc concedat Imperator” (D-S).

a. 1415, Concílio de Constança, que condena entre os erros de Wyclif: “Prelatus excomunicans clericum, qui appelavit ad regem vela d concilium regni, eo ipso, eo ipso est traditor est regi edt regni (DS 1162) e “Nullus praelatus debet aliquem excomunicare, nisi prius sciat eum excomunicaturum a Deo (DS, 1161).

a. 1520, Leão X, entre os erros de Martinho Lutero, a afirmação:

“Excuminicationes sunt tantum externae poenae nec privant hominem communibus spiritualibus Ecclesiae orationibus” (DS, 1473).

Não deixa contudo de ter uma grande importância uma passagem recente (a.

1979) do Papa João Paulo II que toca explicitamente esta matéria em discurso pronunciado a 17. 11. 1979, in: AAS 71, 1979, 422-427): “Na perspectiva de uma Igreja que tutela os direitos de cada fiel, mas também promove e protege o bem comum como condição indispensável para o desenvolvimento integral da pessoa humana e cristã, se inserta positivamente também a disciplina penal, sem excluir a pena cominada pela autoridade eclesiástica (porém que, na realidade se trata de reconhecer a situação em que o sujeito se há colocado), apresenta-se também como instrumento de comunhão, isto é, como meio de superar as deficiências do bem individual e do bem comum que se manifestaram no comportamento antieclesial, delictivo e escandaloso do Povo de Deus”.

3. Princípios de orientação seguidos na redacção deste sector canónico (cf.

Praenotanda Schematis documenti quo discplina sanctionum seu poenarum in Ecclesia latina denuo ordinatur, Typis Polyglottis Vaticani, 1973):

- O foro externo é próprio do Direito penal: por isso, todo ele se desenvolve no referido foro.

- Sempre se há-de respeitar a dignidade da pessoa humana e, portanto, a defesa dos seus direitos; para tanto, a misericórdia constituirá um objectivo permanente a atingir, remetendo a instância penal para última medida a realizar, esgotados todos os outros instrumentos possíveis, dentro das vias pastoral e jurídica, “para reparar o escândalo, restituir a justiça e emendar o réu” (c. 1341).

(4)

- A finalidade da pena canónica tem um significado pastoral, já que busca unicamente a integridade espiritual e moral da Igreja e o bem do próprio culpável; daí que os titulares do poder coactivo só devem utilizá-la quando for necessário para defender a disciplina eclesiástica (cc. 1317 e 1341).

- As penas, em geral, devem ser ferendae sententiae e devem impor-se e remitir-se no foro externo. As penas latae sententiae devem ser muito poucas e estabelecidas para sancionar delitos dolosos singulares, os quais envolvam um escândalo especialmente grave ou não possam ser contemplados, com a necessária eficácia, por sanções ferendae sententiae. Além disso,as censuras, em especial a excomunhão, hão-de ser preceituadas com moderação e só para delitos muito graves.

- Só se tipificam no actual sistema canónico, os delitos que dizem respeito à Igreja universal. Aqueles atinentes às igrejas particulares, são deixadas a leis particulares ou a preceitos, salvaguardando, ainda, que não poderão promulgar penas expiatórias perpétuas e, em nenhum caso, a pena de demissão do estado clerical (cc.1317 e 1319).

- As definições são evitadas, na medida do possível, já que a sua elaboração compete mais à doutrina do que ao corpo legal.

II. O direito da Igreja em impor sanções penais

1. A afirmação deste direito no Código da Igreja Latina: A Igreja tem direito originário e próprio de punir com sanções penais os fiéis delinquentes (c.1311).

A afirmação deste direito segundo o Código de Cânones para as Igrejas Orientais:

À semelhança de Deus que tudo realiza para que regresse a ovelha errante, os que receberam dEle o poder de desligar e de ligar ministrem o remédio conveniente à enfermidade dos que delinquiram, os aconselhem, solicitem e repreendam com toda a paciência e doutrina, e inclusivamente lhes imponham penas, para que sejam curadas as feridas provocadas pelo delito, de maneira que nem os delinquentes sejam impulsionados

(5)

para os precipícios da desesperação, nem se relaxem os freios para a vida dissoluta e para o desprezo da lei (CCIO, c. 1401).

2. Uma análise comparativa das duas normativas sobre a fundamentação, tomando como base de referências os modelos eclesiológicos referenciados pelo Concílio Vaticano II: a Igreja como Novo Povo de Deus; a Igreja como Comunhão; e a Igreja como Comunidade e Sociedade.

III. Para uma análise da estrutura das normativas penais da Igreja

1. Noção de delito canónico e classes de sanções penais (c. 1312): penas medicinais ou censuras (cc. 1331-1333); penas expiatórias (c. 1336); remédios penais e penitências.

2. Da vigência e eficácia da lei (e preceito) penal (cc. 1313-1314).

3. Da Autoridade competente para estabelecer leis (preceitos) penais e requisitos orientadores na estipulação das mesmas (cc. 1315-1320).

IV. Das pessoas sujeitas às sanções penais

1. Dos requisitos para incorrer nas sanções penais (c. 1321)

2. Das situações subjectivas eximentes de tais normativas (cc. 1322-1323).

3. Das situações diminuentes da eficácia das leis penais (c. 1324).

4. Algumas regras reguladoras da aplicação das sanções penais (cc. 1325-1330).

V. Das censuras em espécie

1. Dos efeitos da excomunhão (c. 1331).

2. Do interdito (c. 1322).

3. Da suspensão (cc. 1333-1334).

4. Casos excepcionais em que se suspendem as censuras que proibem celebrar sacramentos ou sacramentais ou exercitar actos de governo (c.1335).

(6)

VI. Das penas expiatórias remédios penais e penitências

1. As penas expiatórias canonicamente especificadas e sua disciplina (cc. 1336- 1338).

2. Os remédios penais e penitências (cc. 1339-1340).

VII. Da aplicação das penas

1. A procedura pastoral a observar pelo Ordinário de modo a pena constituir apenas o último recurso (c. 1341).

2. A preferência, por justa causa, da via administrativa à judicial na aplicação da pena (c. 1342).

3. Faculdades concedidas ao critério do juíz na aplicação das sanções penais (cc.

1343-1346 e 1349).

4. Procedimento específico nos casos da aplicação das censuras e, providencias a acautelar no caso de se tratar de clérigos (cc. 1348 e 1350).

5. O princípio geral da ubiquidade da pena (obriga em toda a parte) e as excepções contempladas nos casos de “perigo de morte”, “perigos de grave escândalo ou infâmia” e seu carácter suspensivo por via de apelação ou de recurso (cc. 1351- 1353).

VIII. Da cessação das penas

1. As entidades competentes para remitir as penas aplicadas ou declaradas que não estejam reservadas à Sé Apostólica (c.1355).

2. As faculdades do confessor e necessários requisitos a salvaguardar (c. 1357).

3. Condições prévias a observar na remissão das penas (cc. 1358-1361).

(7)

IX. Das penas contra cada um dos delitos

1. Uma consideração em geral sobre a tipificação dos delitos (com respectivas sanções) atinentes a núcleos do bem comum protegidos pela lei universal. Poder-se-ão especificar estes núcleos em 6:

- a religão e a unidade da Igreja (cc. 1364-1369);

- autoridade e liberdade da Igreja (cc. 1370-1377);

- exercício das funções eclesiásticas (cc. 1378-1389);

- a boa fama e autenticidade documental (cc.1390-1391);

- obrigações especiais (cc. 1392-1398);

- o direito à vida e liberdade da pessoa (cc. 1397-1398).

2. Uma consideração em especial sobre as excomunhões latae sententiae reservadas à Sé Apostólica:

- deitar for a as espécies consagradas ou as subtrair ou retiver para um fim sacrílego (c. 1367);

- usar de violência física contra o Romano Pontífice (c. 1370 §1);

- o sacerdote que agir contra a prescrição do c. 977 - absolvição do cúmplice em pecado contra o sexto preceito do Decálogo, excepto em perigo de morte – (c. 1378);

- o Bispo que, sem mandato pontifício, conferiu a consagração episcopal bem como a quem foi conferida (c. 1382);

- o confessor que violar directamente o sigilo sacramental (c. 1388).

X. Considerações finais

1. Um direito penal da Igreja e sua consideração à luz das obrigações e direitos fundamentais dos fiéis na Igreja.

2. Direito penal canónico como tutela da comunhão eclesial.

(8)

BIBLIOGRAFIA

COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE DIREITO CANÓNICO: J. ARIAS, «Comentarios al Livro VI», in: Código de Derecho Canonico, Pamplona 1984 (tradução portuguesa das edições Theologica, Braga); F. AZNAR, «Comentarios al Livro VI», in: Código de Derecho Canónico, Madrid 1985; V. DE PAOLIS, De Sanctionibus in Ecclesia, Roma 1986).

ARTIGOS E ESTUDOS: F. COCCOPALMERIO, «La normativa penale della Chiesa», in: La normativa del Nuovo Codice, Brescia 1983, 285-331; F. NIGRO, «La sanzione nella Chiesa come titela della comunione ecclesiale», in: La nuova legislazione canonica, Roma 1983, 423-466; J. ARIAS, «El precepto canónico como norma juridica o como acto administrativo», in: Revista Española de Derecho Canonico 39, 1983,217- 231; A. M. BORGES, La naturaleza juridica dela Excomunion, Pamplona 1984; ANGEL MARZOA, «Los delitos y las penas canónicas», in: Manual de Derecho Canonico, Pamplona 1988, 676717.

REGIME DE AVALIAÇÃO

Os alunos serão avaliados em exame final escrito.

Lisboa, ISDC, 17 de Fevereiro de 2014.

O Professor

Prof. Doutor Manuel de Pinho Ferreira

Referências

Documentos relacionados

De  acordo  com  a  Lei  nº  8.842/1994,  a  Política  Nacional  do  Idoso  tem  por  objetivo  assegurar  os  direitos  sociais  do  idoso,  criando 

Para auxiliar nesta compreensão, realiza-se uma releitura sobre gêneros jornalísticos e teoria da narrativa, além de estudar a midiatização e as produções de

Ou, como salientado em momento anterior (SOSTER, 2017), a cir- culação midiática opera igualmente como um dispositivo; portanto, nem meio e nem mensagem; sobretudo, como

E então, o papel dos leigos deveria ser mais, eu acho mais presente, mais aprofundado também nesta questão de ajudar na estrutura da organização da Igreja com

Tautologia – Quando uma proposição sempre é verdadeira, o que acarreta que toda sua coluna na tabela- verdade possui somente valores Verdadeiros. Contradição – Oposto à

Na relação entre o tempo de maturação e as doenças causadoras da insuficiência renal crônica, foi encontrado que os pacientes diabéticos obtiveram maior média de 45,8 dias

Em seguida, as sementes mantidas sobre papel absorvente ou jornal à sombra por 24 horas até usa secagem (Figuras 1E e 1F). Após esse período, devem ser descartadas as de

Ateliers Juvenis de Belinho e Vila Chã - Caberá à Direção da Associação Esposende Solidário a responsabilidade de gestão da equipa afeta aos Ateliers Juvenis,