Meu primeiro dia de aula
É, meu caro, “o tempo passa, o mundo gira”, e quando menos nos deparamos, algo mudou. Ou será que a frase é “nada mudou”? Tudo é como era: a sala, o professor, o “bom dia, turma!
podemos começar?”
Opa, algo tá diferente...
Até parece que meus ouvidos estão mais limpos! Não é possível, aquele antigo cochichado discreto do fundo da sala se transformo em um barulho ensurdecedor. E aquela virada que, ao se equilibrar em duas pernas da cadeira, o garoto deu no meio da aula pra conversar um eterno tempinho com o colega? Isso, isso é um absurdo!!! E o professor fala, aumenta a voz, grita, diz até: “hoje vocês tão demais” (se bem que algo me diz que essa frase não seria dita se eu e Tanaka não estivéssemos lá).
Esses alunos de hoje sei não, boa era a nossa época.
Rapaz, pensando direitinho, eu acho que o ambiente da sala não era tão diferente na minha época não...
Inclusive eu até gostava de usar as duas pernas de trás da cadeira pra ficar me equilibrando...
Ué?! Não pode ser, agora tá tudo igual a minha antiga turma do ensino médio, tudo mesmo! O entra-e-sai na aula sem pedir permissão, aquelas três meninas que ficam ali na frente do professor acompanhando toda a aula, respondendo palavra por palavra, operação por operação, com suas borrachas cor de rosa acompanhadas daqueles conjuntos de canetas coloridas, que na verdade só servem pra escrever recadinhos (ou ensaiá-los). O incrível é que o professor continua dando a aula, mesmo tendo três únicas cabeças a balançar, acompanhando a aula. Pera, agora são cinco, umas dez já...
Acreditem ou não, o impossível aconteceu. Em cerca de vinte minutinhos de aula, todos acompanhavam a resolução do exercício que o professor fielmente continuava a fazer, todos mesmo. Raro era o momento em que alguém virava o pescoço pra cochichar, e quando virava, voltava para o quadro depressa.
Algo me encucava: mesmo com tudo parecido a minha época, ainda não me sentia bem, não estava me sentindo “em casa”. Acho que supus errado.
É, a hipótese tá falsa, na verdade algo mudou sim, e muito: a maneira de ver, o meu ponto de vista, acho que é o que chamam de maturidade ou senso crítico, o foco, o objetivo, sei lá!
O que sei é que não imaginava o quanto assistir uma resolução de exercícios de função do segundo grau no 2ºA poderia ser tão fascinante.