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Análise da eficiência técnica e do perfil socioeconômico dos produtores de leite do município de Sobral Ceará

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Academic year: 2018

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MESTRADO EM ECONOMIA RURAL

KLINGER ARAGÃO MAGALHÃES

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA TÉCNICA E DO PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PRODUTORES DE LEITE DO MUNICÍPIO DE SOBRAL - CEARÁ

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ANÁLISE DA EFICIÊNCIA TÉCNICA E DO PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PRODUTORES DE LEITE DO MUNICÍPIO DE SOBRAL - CEARÁ

Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Mestrado em Economia Rural, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Economia Rural. Orientador: Prof. Dr. Robério Telmo Campos Co-orientador: Prof. Dr. Adriano Provezano

Gomes - UFV

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Klinger Aragão Magalhães. – Fortaleza : UFC, 2005. 111 f.: il.

Orientador: Robério Telmo Campos

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará. Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Economia Agrícola, Mestrado em Economia Rural, 2005.

1. Leite - Sobral. 2. DEA – Análise Envoltória de Dados. 3. Leite – Eficiência Técnica . I. Campos, Robério Telmo. II. Universidade Federal do Ceará. III. Titulo.

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ANÁLISE DA EFICIÊNCIA TÉCNICA E DO PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS PRODUTORES DE LEITE DO MUNICÍPIO DE SOBRAL - CEARÁ

Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Mestrado em Economia Rural, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Economia Rural.

Aprovada em 31/ 01/ 2005

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Prof. Dr. Robério Telmo Campos (Orientador)

Universidade Federal do Ceará - UFC

____________________________________________ Prof. Dr. José César Vieira Pinheiro

Universidade Federal do Ceará – UFC

_____________________________________________ Dr. José Carlos Machado Pimentel

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A Deus, nosso Criador, pela proteção e vitórias alcançadas.

A meus pais, José Muniz e Socorro Muniz, e irmãos Aloisio, Claudia e Flávia, pela compreensão, apoio e incentivos constantes.

À minha namorada Joyce, pelo apoio, dedicação e contribuição na realização deste estudo. A D. Socorro Amaro, pelo desprendimento e atenção materna me acolhendo em sua família. Ao Prof. Robério Telmo Campos, pelo empenho, compromisso, competência na orientação deste estudo.

A Raimundo José Couto Reis Filho, em nome da Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará, pela solicitude e colaboração para a realização deste estudo.

Ao Prof. Adriano Provezano Gomes da Universidade Federal de Viçosa - UFV, que, mesmo à distância, dedicou-me sua atenção e competência, fornecendo sábias orientações para o desenvolvimento do estudo.

Aos membros da Banca Examinadora, Prof. José César Vieira Pinheiro e Dr. José Carlos Machado Pimentel, renomados profissionais, que se dispuseram prontamente a contribuir no aprimoramento desta pesquisa.

Ao Mestrado em Economia Rural da UFC, por me proporcionar mais um salto na vida acadêmica.

À FUNCAP- Fundação Cearense de Apoio a Pesquisa, pelo apoio financeiro com a concessão e manutenção da bolsa de auxilio, que possibilitou o custeio deste estudo.

Aos Amigos e Colegas de Mestrado, Fabrício, Keuler, Kilmer, Leonardo, Cleyciane, Edivane, Elane, Siena, Cristiane e Gilberto Martins (“Mineiro”), pelas reflexões, críticas e aprendizado adquirido.

Aos Produtores Rurais do Município de Sobral, que aceitaram participar deste estudo, respondendo prontamente às indagações.

Aos profissionais do Departamento de Economia Agrícola, Ricardo, Mônica, Margareth, Dermivam, João e Brian, pela pronta e indispensável colaboração.

A D. Valda e Conceição, pela atenção e obsequiosidade.

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feito“

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Este trabalho objetiva identificar o grau de eficiência dos produtores de leite e apontar os

meios para a redução das ineficiências, indicando suas possíveis causas através da identificação do perfil dos produtores eficientes e ineficientes. Utilizou-se a Análise Envoltória de Dados (DEA) para o cálculo da eficiência, com orientação para os insumos, em uma amostra de 40 produtores do Município de Sobral, Ceará, os quais foram divididos de acordo com a medida de eficiência obtida. Foram utilizados dados primários, obtidos através da aplicação de formulários em visitas às propriedades. Observou-se que apenas dez produtores obtiveram eficiência máxima, e 30 obtiveram medida de eficiência inferior a um, sendo que destes, 26 operam na faixa de retornos crescentes e quatro na faixa de retornos decrescentes. O grupo eficiente, que alcançou nível de eficiência superior a 90%, é formado por 13 produtores, enquanto o grupo ineficiente possui 27 produtores, que obtiveram medida de eficiência inferior a 90%. A comparação destes grupos, segundo algumas características socioculturais e tecnológicas e quanto a indicadores de desempenho técnico e econômico, demonstrou positivamente a influência da participação familiar na administração da propriedade e do nível de escolaridade. A residência do produtor na cidade mostrou-se, diferentemente do que se podia esperar, mais favorável ao aumento de eficiência, o que pode ser explicado pela maior socialização do produtor, levando a um maior nível de escolarização, maior participação em entidades classistas, recebimento de assistência técnica e maior uso de tecnologia, tudo isso demonstrando-se favorável a produtores eficientes, levando-os a obter melhores desempenhos técnico e econômico. No momento seguinte procedeu-se à análise dos produtores ineficientes através de alguns estudos de caso e análise do grupo ineficiente como um todo, considerando-se as possíveis reduções médias percentuais no uso dos insumos, com referência aos benchmarks. A análise de alguns produtores ineficientes demonstrou, através

dos estratos de eficiência, que à medida em que o nível de eficiência técnica aumenta, os indicadores de desempenhos técnico e econômico se mostram melhores. Os resultados demonstraram a possibilidade de uma redução média de 58,6% no custo operacional total e de 67,4% no custo unitário do leite, através das reduções proporcionais e eliminação das folgas, de forma que a produção se manteria no mesmo nível e os produtores passariam a obter eficiência máxima.

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This essay aims to identify the milk producers’ degree of efficiency and point the means out for the unefficiency decrease, pointing at their contingent causes by means of the identifying of the efficient and unefficient producers’ profile. For the computation of efficiency we’ve used the Data Envelopment Analysis (DEA), directed to the input by means of a sample of forty producers of the Municipal District of Sobral (CE), divided according to the degree of realized efficiency. We’ve used primary data, obtained by applying formularies on visits to land properties. We’ve observed that only tem producers acquired the maximum efficiency, thirty obtained an efficiency a degree lesser than one, while twenty-six of all of them work at the scale in increasing returns, and four on the basis of decreasing ones. The efficient class, which obtained an efficiency level superior to 90% (ninety percent) is formed by thirteen producers, while the unefficient group includes twenty-seven producers, who obtained an efficient degree inferior to 90% (ninety percent). The comparison of these groups, according to some social, cultural and technological characteristics, as well as to indicators of technical and economical performance, showed, positively, the influence of familiar participation in the management of the property and scholar level. The producer’s residence in city, differently from what could be expected, revealed itself as favourable to an increasing efficiency, what may be explained by the more intense producer’s socializing, leading to a higher scholar level, partnership in class entities, admission to technical assistance and a larger use of technology; this all demonstrates favourability to efficient producers and leads them to obtain better technological and economical performances. After that, we went on analyzing the unefficient producers by means of some studycases and analyses of the contingent average reductions in the input usage, with a reference to the benchmarks. The analysis of some unefficient producers indicated, by means of efficiency levels, that, in proportion to the rising level of efficiency, the signs of technical and economical performance reveal themselves better. The results have demonstrated the possibility of an average reduction of 58,6% on the total operating cost, and of 67,4% on the milk unitary cost by means of proportional reductions and eliminations of vacua, so that the production would remain on the same level, and producers would pass to obtain the maximum efficiency.

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TABELA 1 - Produção de leite no Ceará e nas bacias leiteiras do Estado... 17 TABELA 2 – Produção, taxa de crescimento e participação dos Municípios na bacia

leiteira de Sobral... 19 TABELA 3 - Produção e participação dos países na produção mundial de leite,

1992/2002... 25 TABELA 4 - Vacas ordenhadas e produtividade em países selecionados, 2002... 26 TABELA 5 - Produção per capita (litros/por habitante) em países selecionados, 1992 a

2001... 27 TABELA 6 - Produção de leite, vacas ordenhadas e produtividade animal no Brasil,

1980/2002... 30 TABELA 7 - Participação das regiões na produção brasileira, 1990 a 2001... 31 TABELA 8 - Déficit regional da produção em relação à população, Brasil, 1990-2001 32 TABELA 9 - Eficiência técnica dos produtores considerando rendimentos constantes

(RC) e variáveis (RV)... 68 TABELA 10 - Eficiência de escala e distribuição dos produtores segundo a faixa de

retornos à escala... 69 TABELA 11 – Distribuição dos produtores segundo o nível de eficiência... 69 TABELA 12 – Área disponível, rebanho total de vacas e vacas em lactação dos

produtores do município de Sobral, Ceará... 70 TABELA 13 – Local de moradia, participação dos produtores em associações e

entidades de classe e assistência técnica... 72 TABELA 14 – Nível de escolaridade da amostra e dos grupos eficientes e ineficientes.. 73

TABELA 15 – Forma de administração da propriedade dos produtores de leite... 74

TABELA 16 – Participação de filhos na mão-de-obra da propriedade... 74 TABELA 17 – Tipo e número de ordenhas, resfriamento do leite e utilização de

inseminação artificial pelos produtores... 76 TABELA 18 – Manejo do solo, utilização de pastagem cultivada e manejo alimentar.... 78 TABELA 19 – Comercialização, produção de derivados e utilização de controle de

custo de produção pelos produtores de leite... 79 TABELA 20 – Desempenho produtivo dos produtores de leite no município de Sobral,

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TABELA 22 – Indicadores de desempenho produtivo e econômico dos produtores ineficientes selecionados e reduções percentuais possíveis na utilização de insumos em relação ao benchmark... 88 TABELA 23 – Valores médios e projetados da produção e utilização de insumos, de

acordo com as reduções percentuais encontrados na DEA... 93 TABELA 24 – Indicadores de desempenho dos produtores ineficientes selecionados,

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FIGURA 1 - Comportamento da produção de leite na Bacia leiteira de Sobral,

1990-2003... 18

FIGURA 2 - Produtividade do rebanho leiteiro brasileiro, 1991 a 2001... 29

FIGURA 3 - Eficiência técnica e alocativa sob orientação insumo... 39

FIGURA 4 - Isoquanta convexa linear... 40

FIGURA 5 - Medidas de Eficiência Técnica sob orientação insumo e produto para retornos decrescentes e constantes à escala... 42

FIGURA 6 - Eficiência alocativa e técnica para uma orientação produto... 42

FIGURA 7 - Folgas de insumos em medidas de eficiência... 51

FIGURA 8 - Eficiência de Escala em um modelo DEA... 54

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1 INTRODUÇÃO... 13

1.1 Importância da Produção de Leite... 13

1.2 O Problema e sua Importância... 16

2 OBJETIVOS... 22

2.1 Geral... 22

2.2 Específicos... 22

3 REFERENCIAL TEÓRICO... 21

3.1 Histórico da Produção de Leite no Brasil... 23

3.2 Situação da Produção de Leite... 24

3.2.1 Produção Mundial... 24

3.2.2 Produção de Leite no Brasil... 28

3.2.3 Atividade Leiteira na Região Nordeste... 34

3.3 Abordagens sobre Eficiência... 36

3.3.1 Conceitos de Eficiência... 36

3.3.2 Medidas de Eficiência... 38

3.3.2.1 Medidas com Orientação para o Insumo... 38

3.3.2.2 Medidas com Orientação para o Produto... 41

3.3.3 Análise Envoltória de Dados – DEA... 43

3.3.3.1 Modelo com Retornos Constantes à Escala – CCR... 47

3.3.3.2 Folgas ou Excedentes... 50

3.3.3.3 Modelo de Retornos Variáveis à Escala – BCC... 53

3.3.3.4 Eficiência de Escala ... 53

3.3.3.5 Medidas com Orientação para o Produto sob Retornos Constantes e Variáveis... 55

3.3.3.6 Eficiência Alocativa... 57

4 METODOLOGIA... 59

4.1 Caracterização do Estudo... 59

4.2 Local do Estudo... 59

4.3 Período do Estudo... 60

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4.6.1 Definição das Variáveis... 61

4.6.2 Comparação dos Produtores... 63

4.6.3 Caracterização dos Produtores... 63

4.6.3.1 Perfil dos Produtores ... 63

4.6.3.2 Indicadores de Desempenho Técnico e Econômico... 64

4.6.4 Análise dos Produtores Ineficientes... 65

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 67

5.1 Eficiência Técnica e de Escala dos Produtores... 67

5.2 Identificação dos Grupos Eficiente e Ineficiente... 69

5.2.1 Perfil dos Produtores Eficientes e Ineficientes... 70

5.2.2 Indicadores de Desempenho... 80

5.3 Análise dos Produtores Ineficientes... 85

6 CONCLUSÕES... 94

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 96

APÊNDICES... 102

Apêndice A... 103

Apêndice B... 104

Apêndice C... 105

Apêndice D... 106

Apêndice E... 107

ANEXOS... 108

Anexo A... 109

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Importância da Produção de Leite

A produção animal tem uma indiscutível importância em todas as sociedades do mundo, mais notadamente para aquelas menos desenvolvidas, as quais requerem maior atenção quanto à função social no delineamento das políticas de desenvolvimento. O papel desta atividade nos países em desenvolvimento alcança aspectos culturais, propicia status ao produtor, provê sustento sob a forma de emprego para a unidade familiar de produção, gera estoque de capital na formação do patrimônio, funciona como uma forma de seguro, constitui-se numa alternativa para reciclagem de produtos de descarte e resíduos de agroindústrias, aumenta a estruturação e fertilidade do solo e presta-se ao controle de pestes (ASHDOWN, 1996; BINDER, 1996; FALCHAMPS; GAVIAN, 1996; KE, 1998; PELANT et al., 1999; SANSOUCY et al., 1995; WIT et al., 1997 apud RIETHMULLER, 2001).

Riethmuller (2001) afirma que a produção animal em escala industrial utiliza muito capital, mas ainda assim promove oportunidades de emprego. Para ele, o setor produtivo pode gerar empregos tanto quanto as indústrias de processamento, assim como tem se mostrado grande provedor de trabalho em tempo parcial para as mulheres que, em parceria com os maridos, desenvolvem atividades de subsistência em sistemas chamados “fundo de quintal”. Este modelo de produção recebeu atenção do governo da Indonésia no período anterior à intervenção do Fundo Monetário Internacional em 1997, através de uma política de exigência para que os laticínios utilizassem o leite doméstico antes que pudessem usar o importado, o que resultou, apesar de alguns efeitos econômicos indesejáveis, na geração de emprego para mais de 100.000 pequenos produtores.

Outro importante efeito da produção animal, principalmente para os pequenos produtores, é a melhoria na renda e geração de uma receita regular pela comercialização da produção e outras ocasionais, mercê dos subprodutos resultantes da atividade; apresenta ainda resultados positivos na função de formação de capital. Singh (2001 apud RIETHMULLER, 2001) ressalta que, na Índia, a adição de uma cabeça de bovino ou bubalino aos recursos do produtor reduz a incidência de fome em 16 e 25 pontos percentuais, respectivamente, nas famílias de baixa renda.

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a agricultura tropical irrigada na Ásia e contribui para a economia de US$ 650 milhões em combustível fóssil naquela região.

Nessa perspectiva, destaca-se no Brasil o setor lácteo como um dos três principais sistemas agroindustriais, a movimentar R$ 17,34 bilhões, descontados os impostos indiretos líquidos e as margens de transporte e comercialização. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a indústria de laticínios gerou 65,4 mil empregos diretos, sendo o leite in natura produzido por cerca de 1,8 milhão de propriedades agrícolas. Admitindo-se uma média de dois trabalhadores em cada propriedade, é possível afirmar que somente o segmento primário é responsável por 3,6 milhões de postos de trabalho permanentes (MARTINS; GUILHOTO, 2001).

Para Yamaguchi, Martins e Carneiro (2001), é notório o destaque da atividade leiteira, considerando-se as suas características de ocupação e o uso de extensas áreas de terra, empregadora de grandes contingentes de mão-de-obra, significativa participação na formação da renda do setor agropecuário e da renda nacional, fornecimento de alimento de alto valor nutritivo para a população e matéria-prima para as indústrias de laticínios.

Ainda segundo estes autores, o produto gerado por esta atividade constitui um componente importante no cálculo dos índices de custo de vida e no orçamento familiar dos consumidores. Argumentos semelhantes são apresentados por Castro (2001), segundo o qual o agronegócio do leite tem relevância para o País, não só por sua participação no PIB, mas também pela geração de emprego e tributos, bem como na fixação da mão-de-obra rural.

Os dados apresentados no Censo Agropecuário de 1995/96 mostram a importância da pecuária leiteira na composição da renda familiar do pequeno produtor rural, já que 13,3% dos agricultores familiares no Brasil têm nesta atividade sua principal fonte de renda. No entanto, na região Sudeste é a principal atividade rural para os pequenos, enquanto para os produtores patronais a pecuária de corte é a atividade rural principal (ALMEIDA, 2001).

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aos setores que lhe são fornecedores e que, por sua vez, aumentarão sua demanda junto aos demais setores da economia. Da mesma forma, em razão dos novos pagamentos feitos às famílias pela cessão de fatores ao processo produtivo, estas disporão de um acréscimo de renda, que poderá ser usado na obtenção de diferentes bens e serviços na economia.

O índice Rasmussen-Hirschman, que permite estudar o encadeamento de um setor em relação aos setores que lhe são fornecedores de insumos e os setores que lhe são compradores, serve para identificar os setores da economia capazes de impulsionar o crescimento. No primeiro caso têm-se índices de ligações para trás, estimando o quanto um setor demanda dos demais, enquanto o segundo, índices de ligações para frente, se refere a quanto este setor é demandado pelos demais setores que compõem a estrutura econômica. São considerados setores-chave de uma economia aqueles que apresentam ambos os índices, para trás e para frente, com valores maiores que a unidade.

Martins e Guilhoto (2001) mostram que a indústria de laticínios tem a característica de impulsionar de maneira significativa o crescimento de setores que se colocam como seus fornecedores. Contudo, os setores a jusante desta indústria são fracamente impulsionados. A arrecadação de ICMS sobre os lácteos, em 1996, foi, segundo estes autores, de R$ 2,11 bilhões, correspondendo a 4% do total arrecadado com esse imposto.

Entretanto, percebe-se, no setor leiteiro brasileiro, a convivência de produtores com perfis tecnológicos bem diferentes, ou seja, de um lado um pequeno grupo de produtores com médias de produtividade semelhantes aos padrões internacionais e, de outro, um grande número de produtores com índices tecnológicos extremamente baixos.

Esta situação, no entanto, é observada somente em sistemas agroindustriais que têm elevada tolerância à heterogeneidade tecnológica, como é o caso da bovinocultura leiteira, permitindo a coexistência de participantes com distintos graus de sofisticação tecnológica e resultando em produtos com distintos padrões de qualidade. No sistema de produção industrial do frango, por exemplo, praticamente não há tolerância a participantes com tecnologias menos sofisticadas, enquanto a suinocultura se encontra em um estágio intermediário, mas com crescente grau de tecnificação (FARINA, 1997 apud WAACK, 2000 p. 344).

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1.2 Problema e sua Importância

Martins e Gomes (1998) enfatizam que a importante característica da pecuária leiteira de amortecedor social e econômico está perdendo espaço no Brasil. Do ponto de vista social, isso significa uma grave crise nos espaços rural e urbano, acentuando a concentração fundiária e reduzindo a oferta de trabalho para o meio rural, o que contribui para elevar a taxa de migração e gerar uma demanda adicional de emprego e de infra-estrutura nas áreas urbanas (ALVES, 2001). Do ponto de vista econômico, denota a eliminação de postos de trabalho e, com estes, uma alternativa para promover a distribuição de renda que, em regiões pobres como o semi-árido nordestino, representa uma questão fundamental, visto que nestas as alternativas de geração de trabalho e renda são escassas.

De acordo com Fernandes et al (2001), a atividade leiteira no Ceará apresentou, no período de 1985 a 1996, uma das menores taxas de crescimento na produção de leite em relação a outros estados do País, menos de 10%. No Ceará, o setor produtivo demonstra tratar-se, segundo Fernandes et al. (2001, p. 424), “de uma pecuária extensiva, pouco especializada, tecnologicamente pouco desenvolvida, dependente das condições edafo-climáticas das áreas em que é praticada, principalmente do regime e distribuição de chuvas”.

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TABELA 1 – Produção de leite no Ceará e nas bacias leiteiras do Estado.

1990 1995 2000 2003 2003/1990%

Ceará 293.561 292.345 331.873 352.832 20,19

Bacia leiteira de Fortaleza 32.754 32.888 23.670 28.997 -11,47 Bacia leiteira do Cariri 12.086 13.352 19.933 21.092 74,52 Bacia leiteira de Sobral 21.998 23.125 28.611 35.199 60,01 Bacia leiteira de Crateús 35.630 33.040 29.459 28.973 -18,68 Bacia leiteira do Baixo Curu 3.358 3.850 4.514 5.133 52,86 Bacia leiteira do Alto Salgado 26.902 24.761 40.583 42.039 56,27 Bacia leiteira do Médio Jaguaribe 60.743 51.783 55.946 54.050 -11,02 Bacia leiteira de Quixeramobim 49.439 49.483 58.926 65.574 32,64

Fonte: IBGE (2004)

A produção da bacia leiteira de Sobral, em 2003, foi de aproximadamente 35,2 milhões de litros, sobre um rebanho de vacas ordenhadas de 38.263 cabeças, enquanto em 1990 a produção foi de, aproximadamente, 22 milhões de litros, para um rebanho de 44.165 vacas ordenhadas, representando um aumento na produção de 60% para uma redução de 13,36% no número de vacas ordenhadas, demonstrando, portanto, um aumento de produtividade no período.

Ao se analisar o período mais recente, de 1996 a 2001, justamente quando se começava a notar os efeitos das transformações do setor lácteo no Brasil, verifica-se que houve uma redução de 16,4% na produção, para uma diminuição de 14% no número de vacas ordenhadas, mostrando uma redução na produção de leite maior que a do número de animais em produção, o que representa uma diminuição da eficiência e da produtividade no período.

Nos anos de 2002 e 2003, esta bacia apresentou um considerável aumento de 13,59 e 8,21%, respectivamente, o que pode ter ocorrido como resultado de programas governamentais de assistência técnica e transferência de tecnologia, assim como pela regularidade pluviométrica. No entanto, tais programas não poderão atingir todo universo de produtores, e os produtores não poderão continuar a depender das inconstantes pluviométricas.

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FONTE: IBGE (2004)

FIGURA 1 – Comportamento da produção de leite na bacia leiteira de Sobral, 1990-2003.

A pecuária tem um papel fundamental no desenvolvimento do interior cearense como agente de fixação do homem no campo. Sobral é, economicamente, o principal município e o terceiro maior produtor de sua bacia leiteira, tendo perdido a primeira posição nos últimos anos (TABELA 2). Este município, que teve seu início a partir da Fazenda

Caiçara, traz em sua história uma característica comum à maioria dos municípios que

compõem a bacia, ou seja, o desenvolvimento econômico a partir da pecuária.

Neste município, assim como em toda aquela bacia, a pecuária é desenvolvida de

forma extensiva e semi-intensiva, e apresentou, em 2003, um rebanho bovino de

aproximadamente 36.750 cabeças, enquanto em 1990 o número registrado alcançou

aproximadamente 60.400, o que demonstra uma redução do efetivo bovino, formado na

maioria por animais mestiços de zebu com holandês (IBGE, 2003).

0 10.000 20.000 30.000 40.000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Ano

(21)

19 Produção (mil litros) e participação (%) na bacia leteira

Ano Cariré Coreaú Forquilha Groaíras Irauçuba Itapagé Itapipoca Santana do Acaraú

Santa

Quitéria Sobral Total

Txa crescimento 1990 1.791 8,14 582 2,65 845 3,84 324 1,47 2.111 9,60 936 4,25 1.683 7,65 1.590 7,23 3.611 16,42 8.525 38,75 21.998

1991 2.194 8,43 1.249 4,80 885 3,40 338 1,30 3.383 13,00 1.229 4,72 1.683 6,47 1.450 5,57 5.009 19,25 8.600 33,05 26.020 18,28 1992 1.799 6,94 1.175 4,53 587 2,26 285 1,10 4.752 18,33 1.417 5,47 1.733 6,69 1.348 5,20 4.620 17,82 8.203 31,65 25.919 -0,39 1993 1.673 7,70 942 4,34 420 1,93 222 1,02 2.752 12,67 1.132 5,21 2.254 10,38 1.281 5,90 3.505 16,14 7.539 34,71 21.720 -16,20 1994 1.464 6,82 1.193 5,56 400 1,86 212 0,99 2.661 12,40 1.188 5,53 1.203 5,60 1.240 5,78 3.855 17,96 8.048 37,50 21.464 -1,18 1995 1.206 5,22 1.100 4,76 401 1,73 228 0,99 2.688 11,62 1.248 5,40 2.082 9,00 1.249 5,40 4.788 20,70 8.135 35,18 23.125 7,74 1996 2.097 6,12 985 2,88 1.053 3,07 772 2,25 6.888 20,11 3.103 9,06 2.552 7,45 2.816 8,22 7.113 20,76 6.876 20,07 34.255 48,13 1997 2.090 6,14 945 2,78 1.043 3,07 769 2,26 6.850 20,13 3.090 9,08 2.501 7,35 2.797 8,22 7.088 20,83 6.848 20,13 34.021 -0,68 1998 2.068 7,88 927 3,53 1.209 4,61 768 2,93 6.371 24,28 2.873 10,95 2.096 7,99 1.547 5,89 3.980 15,17 4.404 16,78 26.243 -22,86 1999 1.960 7,16 842 3,08 1.314 4,80 765 2,80 5.654 20,66 3.048 11,14 2.140 7,82 1.553 5,68 5.731 20,95 4.355 15,92 27.362 4,26 2000 1.809 6,32 852 2,98 1.330 4,65 763 2,67 5.202 18,18 2.805 9,80 2.200 7,69 1.709 5,97 7.593 26,54 4.348 15,20 28.611 4,56 2001 1.842 6,43 833 2,91 1.356 4,73 765 2,67 5.228 18,26 2.833 9,89 2.156 7,53 2.035 7,11 7.214 25,19 4.376 15,28 28.638 0,09 2002 2.292 7,05 1.002 3,08 1.133 3,48 775 2,38 5.332 16,39 2.889 8,88 1.833 5,63 2.444 7,51 10.351 31,82 4.478 13,77 32.529 13,59 2003 2.396 6,81 1.082 3,07 1.156 3,28 771 2,19 5.386 15,30 2.947 8,37 1.869 5,31 2.649 7,53 12.421 35,29 4.522 12,85 35.199 8,21

(22)

Para Leite e Gomes (2001), a baixa produtividade gera ineficiência no uso dos fatores de produção, o que leva a um aumento dos custos e, daí, a uma redução da competitividade em relação a outras regiões e aumento do custo de oportunidade da produção de leite em relação a outras atividades. Frente a este cenário, a avaliação da eficiência técnica representa um importante instrumento para o planejamento da atividade e melhor alocação de recursos.

Melhor desempenho da atividade poderia ser alcançado através de estratégias que visem o aumento da eficiência do sistema como um todo, eliminando desperdícios, reduzindo custos e possibilitando o aumento da margem de lucro ou, alternativamente, repassando os ganhos obtidos com o aumento da eficiência para o preço de seus produtos, para que, através da redução destes, se amplie o número de consumidores (SAMPAIO; RAMOS; SAMPAIO, 2002).

O benchmarking, abordagem utilizada para comparar firmas ou unidades produtivas, é um instrumento valioso para os produtores, facilitando também o trabalho da pesquisa e da extensão rural, pois, ao serem identificados os sistemas de produção eficientes ou de fronteira (benchmarks), estarão sendo identificadas as melhores práticas produtivas para as unidades ineficientes (TUPY; YAMAGUCHI, 2001).

Além disso, em qualquer atividade econômica, o custo de produção é o mais importante instrumento de administração da empresa. Gomes (1998) ressalta ser necessário conhecer a metodologia de cálculo destes, sob pena de se chegar a conclusões equivocadas. A análise econômica é o processo pelo qual o produtor rural passa a conhecer os resultados monetários de cada exploração, em nível da empresa rural. É mediante os resultados econômicos que o produtor pode tomar, conscientemente, suas decisões e ver a agricultura como um negócio. Dessa forma, o produtor deve tentar alcançar, além da eficiência econômica relacionada à eficiente alocação dos insumos, a viabilidade econômica, que diz respeito à relação entre custos e receitas.

No entanto, poucos são os produtores rurais de pequeno e médio portes que contabilizam e realizam controle sistemático de suas atividades para posterior análise econômica, o que os leva a tomar decisões condicionadas à sua experiência, à tradição e à

falta de outras opções. Nesse sentido, faz-se necessário responder a algumas questões do tipo: Qual o nível de eficiência dos produtores? Qual o perfil dos produtores eficientes e

(23)

atividade seja praticada de forma eficiente? Quais as práticas a serem seguidas para tornar os produtores eficientes?

Fernandes et al. (2001) concordam que estudos pormenorizados nas maiores bacias produtoras de leite do Estado do Ceará, através de pesquisa documental e de campo, são imprescindíveis para melhor entender-se a dinâmica da atividade e estabelecer estratégias de ação para aumentar sua competitividade. Ademais, Yamaguchi, Martins e Carneiro (2001) afirmam que estudos conduzidos em diferentes regiões do País demonstraram ineficiência quanto à alocação e combinação dos recursos produtivos na atividade leiteira.

(24)

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

- Analisar o nível de eficiência técnica, o desempenho técnico-ecnonômico e os condicionantes da ineficiência dos produtores de leite do Município de Sobral, Ceará, Brasil.

2.2 Específicos

- Avaliar a eficiência dos produtores pelas medidas de eficiência técnica e de escala;

- Caracterizar os produtores eficientes e os ineficientes quanto aos indicadores técnicos, econômicos e socioculturais;

- Determinar indicadores de desempenho produtivo e econômico da atividade leiteira;

(25)

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Histórico da Produção de Leite no Brasil

Segundo relata Alves (2001), o leite de consumo no Brasil teve sua origem a partir da exploração do gado trazido durante o período de colonização, este utilizado inicialmente como animal de trabalho, posteriormente passando a ser explorado com a finalidade de produção de carne. Assim, a produção de leite teve caráter secundário até meados do século XIX.

Conforme relata Primo (1999), a indústria nacional de laticínios data do início do século XX, com uma produção primária comercial localizada no interior de São Paulo e Minas Gerais. Até esse período, o leite era consumido sem nenhum tratamento industrial, e seu transporte, antes feito pelos escravos em latão, passou a ser feito por vaqueiros (ALVES, 2001).

Na década de 1970 foi implantado o Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL) em fazendas produtoras de leite, com o objetivo de instigar inovações tecnológicas. A partir de 1972 iniciou-se, segundo Meireles e Alves (2001), a utilização do processo UHT – Ultra High Temperature – por empresas brasileiras. Nessa década, a produção de leite teve um aumento de 43,7%, com uma taxa média anual de crescimento de 4,8%; no entanto, a produtividade decresceu a uma taxa de 1,4% ao ano, enquanto o preço real pago ao produtor teve uma taxa anual de crescimento de 5,03%.

Na década de 1980, como forma de minimizar as perdas, devido ao tabelamento praticado na época, o Governo Federal através da Embrapa Gado de Leite, desenvolveu planilhas para estimar custos de produção, com a finalidade de fornecer valores referenciais para as negociações de reajuste de preços, já que nesse período o leite tipo C era utilizado como referência para o cálculo do índice de custo de vida. Essa década foi marcada, de acordo com Primo (1999), por crises de escassez e excesso de leite, que iniciaram um período de importações e intervenção governamental, que deixariam conseqüências que se sentem ainda hoje e que vão durar muito tempo.

(26)

exterior foi fixado o direito compensatório nas importações de leite subsidiado da União Européia, assim como foi firmada a valoração aduaneira, a anuência prévia, a redução do

prazo de pagamento para importação de lácteos, petição contra os subsídios agrícolas e

aumento da alíquota de importação de leite em pó e queijo de 16 para 35%, nos casos dos

países do Mercosul.

Nessa década, a pecuária leiteira brasileira apresentou um bom desempenho com

crescimento de 31,6%, sob uma taxa média anual de 3,1%, no entanto, deve-se salientar que

houve uma significativa redução no consumo de leite tipo C e, por outro lado, o leite longa

vida registrou um aumento aproximado de 1700%.

3.2 Situação da Produção de Leite

3.2.1 Produção Mundial

A produção de leite no mundo apresenta uma elevada concentração e uma baixa

mobilidade entre os países produtores, o que pode ser notado ao se observar a relação dos

vinte maiores produtores mundiais que, em um longo período de tempo, praticamente não

apresentou nenhuma alteração na sua composição.

Dentre os continentes, a Europa registra a maior participação na produção

mundial, embora esteja apresentando sucessivas reduções no total produzido e,

conseqüentemente, na sua participação, que em 1992 foi superior a 50% e, em 2002, passou a

aproximadamente 42,2%. Todos os demais continentes aumentaram sua participação no

mesmo período, destacando-se a Oceania, que teve uma variação percentual na produção,

entre 1996 e 2002, acima de 34%, e a América, com 18%, passando a representar 28,6% da

produção no mundo.

Quanto à concentração da produção, pode-se observar que os vinte maiores

produtores são responsáveis por, aproximadamente, 74% do leite produzido no mundo.

O Brasil ocupa a 6ª posição na produção mundial de leite bovino, apresentando

taxas de crescimento da produção superiores às observadas no mundo, o que fez o País sair da

7ª posição em 1992, com uma participação de 3,53% da produção total, para uma quase

igualdade com a 5ª colocada, França, em 2002 (TABELA 3).

Segundo Brandão (1999), no período de 1970 a 1997, a produção mundial cresceu

em 1,2%, enquanto a produção brasileira registrou crescimento de 3,6%. Para Gomes, S.

(1999), esta taxa é superior ao crescimento da população, o que indica um aumento na

(27)

25

1992 1997 2002

Posição1 Produção (t) % Produção (t) % Produção (t) %

Mundo 460.815.550 100 468.198.514 100 502.325.043 100

1 EUA 68.423.000 14,85 70.801.000 15,12 77.021.296 15,33

2 Índia 24.291.000 5,27 29.576.352 6,32 35.700.000 7,11

3 Rússia 47.015.000 10,20 33.834.848 7,23 33.100.000 6,59

4 Alemanha 27.991.008 6,07 28.701.906 6,13 28.012.000 5,58

5 França 25.738.060 5,59 24.916.700 5,32 25.197.330 5,02

6 Brasil 16.273.320 3,53 19.244.656 4,11 22.635.000 4,51

7 Reino Unido 14.776.300 3,21 14.841.000 3,17 14.918.000 2,97

8 Ucrânia 18.955.008 4,11 13.539.600 2,89 14.138.000 2,81

9 Nova Zelândia 8.050.000 1,75 11.058.000 2,36 14.078.500 2,80

10 Polônia 13.153.172 2,85 12.123.333 2,59 12.200.000 2,43

11 Austrália 6.941.000 1,51 9.316.000 1,99 11.610.000 2,31

12 Itália 10.897.900 2,36 11.752.300 2,51 11.365.000 2,26

13 China 5.278.252 1,15 6.341.684 1,35 10.843.250 2,16

14 Holanda 11.901.700 2,58 10.922.310 2,33 10.842.000 2,16

15 México 7.182.162 1,56 8.091.400 1,73 9.597.556 1,91

16 Turquia 8.715.020 1,89 8.914.176 1,90 8.489.082 1,69

17 Japão 8.576.442 1,86 8.645.455 1,85 8.380.000 1,67

18 Argentina 6.795.320 1,47 9.371.790 2,00 8.200.000 1,63

19 Canada 7.633.000 1,66 8.100.000 1,73 8.130.000 1,62

20 Paquistão 3.788.000 0,82 6.120.000 1,31 6.840.000 1,36

(28)

O desempenho do Brasil no cenário mundial tem apresentado significativo crescimento não só em volume produzido, mas em produtividade. No entanto, a produção do País ainda se atribui mais ao tamanho do rebanho do que à sua produtividade, levando-o a ocupar a sexta colocação na produção mundial e a 15ª posição em produtividade (TABELA 4). Como forma de avaliar os níveis de produtividade observados no Brasil, pode-se traçar um paralelo com a Argentina, parceira econômica pertencente ao mesmo bloco econômico, 18ª produtora mundial de leite, porém, com uma produtividade acima de três vezes superior à do Brasil.

TABELA 4 – Vacas ordenhadas e produtividade em países selecionados, 2002

Posição1

País Vacas Ordenhadas (mil cabeças)

Produtividade (litros/vaca/ano)

1º Estados Unidos 9.120 8.226

2º Canadá 1.084 7.472

3º Países Baixos 1.540 6.786

4º Reino Unido 2.228 6.724

5º Alemanha 4.545 6.187

6º Austrália 2.206 5.267

7º Polônia 2.769 4.334

8º França 6.705 3.858

9º Nova Zelândia 3.756 3.703

10º Argentina 2.300 3.565

11º Ucrânia 5.550 2.567

12º Federação Russa 13.300 2.483

13º México 7.600 1.276

14º Itália 10.058 1.178

15º Brasil 20.580 1.137

16º Chile 1950 1.134

17º Índia 94.100 917

1Ordenação dos países pela produtividade. Fonte: USDA - Anualpec 2002

A Índia, por outro lado, é o segundo maior produtor mundial, com produção de

aproximadamente 58% superior à do Brasil, mas com um número de vacas ordenhadas mais de 3,5 vezes. No outro extremo, os EUA apresentam uma produção de aproximadamente 240% superior à brasileira com um número de vacas ordenhadas 57% menor, demonstrando alta especialização do rebanho e excelente aproveitamento dos fatores de produção.

(29)

mercado extremamente regulamentado, competitivo, dominado por poucos grandes exportadores, no qual apenas 5% da produção mundial são transacionados. Para Jank (1995 apud RIOS, 2001), o mercado mundial não reflete necessariamente a competitividade, mas o poder de fogo do Tesouro de países ricos, pois a aquisição de produtos altamente subsidiados cria condições artificiais de competitividade tanto em nível de produção primária quanto para a industrialização, gerando conseqüências graves para o setor no país importador.

As importações brasileiras a partir dos anos 90 apresentaram números significativos por causa de uma série de fatores, como a maior abertura da economia brasileira para o mercado internacional e o aumento da renda real a partir da estabilização macroeconômica do País pelo Plano Real.

A produção per capita no Brasil é uma das mais baixas dentre os países de maior produção, mesmo tendo apresentado considerável crescimento nos últimos anos, passando de 107 para 132 litros/habitante entre 1992 e 2001 (TABELA 5). De acordo com Yamaguchi, Martins e Carneiro (2001), esse desempenho ainda não foi suficiente para atender o País segundo as recomendações dos organismos internacionais de saúde, que preconizam 146 litros/habitante/ano, o que revela um déficit nutricional em determinada faixa da população, visto que a importação também não é suficiente para suprí-lo, o que se deve à insuficiência de renda da população.

TABELA 5 – Produção per capita (litros/por habitante) em países selecionados, 1992 a 2001.

Países 1992 1996 2001

Nova Zelândia 2.333 2.745 3.456

Países Baixos 785 708 659

Austrália 399 491 562

França 449 430 429

Alemanha 348 351 344

Polônia 343 303 308

Ucrânia 365 304 274

Estados Unidos 263 257 262

Argentina 203 260 253

Reino Unido 254 251 246

Rússia - 265 227

Itália 191 202 206

Brasil 107 118 132

México 83 84 96

Índia 28 29 82

Média mundial 85 82 96

(30)

3.2.2 Produção de Leite no Brasil

É improvável que qualquer trabalho, produzido nos últimos anos, que aborde a problemática do leite no Brasil, não se aproprie da dialética acerca dos acontecimentos ocorridos na década de 1990, responsáveis por bruscas transformações para o sistema

agroindustrial do leite e pela construção de um cenário absolutamente novo para os integrantes desta cadeia, impondo regras severas, principalmente quando se admite a inércia vivida, até então, pelo setor.

A política para o setor lácteo, praticada até aquele momento, era fundamentada no tabelamento de preços, importações em caráter exclusivo de regulação do abastecimento, e

estocagem do excedente da oferta financiada a taxas de juros privilegiadas. Assim, observou-se um retardamento na modernização da indústria de laticínios e, conobservou-seqüentemente, da pecuária leiteira, devido ao controle de preços, que se reverteu na produção de matéria-prima de baixa qualidade, altos custos para a indústria de processamento, escassas opções de

produção e perda do foco da indústria, que se empenhava em reivindicar aumentos de preços ao invés de buscar o aumento da eficiência.

O cenário na época era, ainda segundo Primo (1999), de sindicatos fracos e baixos salários; subsídio ao uso de capital, estimulando a substituição do trabalho, linhas especiais de crédito a longo prazo, como o FINAME, tratamento tributário diferenciado para cooperativas, inexistência de controles sobre monopólios, mercado consumidor pouco exigente e sem proteção, inexistência de legislação ambiental, estreito relacionamento com os escalões decisórios do governo e, por fim, aprovação da população aos incentivos fiscais sem a percepção de que financiava tais benefícios.

Gomes, S. (1999) aponta a liberação do preço do leite em 1991 após mais de 40 anos de tabelamento, assim como a maior abertura da economia brasileira ao mercado internacional, implementação do Mercosul e a estabilidade macroeconômica brasileira com o Plano Real como determinantes dessas transformações. Segundo Primo (1999), os “incentivos” foram eliminados, o consumidor apresenta mudança no seu padrão quantitativo e qualitativo pelo crescimento da renda real, os incentivos fiscais foram substituídos por uma carga tributária mais onerosa aos custos de produção, o crédito foi restringido e as portas comerciais do País foram abertas às importações, abolindo o mercado protegido.

(31)

percebida a partir da análise de determinados períodos, tendo-se em vista que estes refletem uma série de episódios políticos, econômicos e institucionais.

Segundo Yamaguchi, Martins e Carneiro (2001), no período de 1970 a 1999, a taxa anual de crescimento da produção de leite foi de 3,8%, sendo que o crescimento do

número de vacas ordenhadas foi responsável por 2,4%, enquanto o aumento da produtividade representou 1,4%, o que levou o País a atingir a marca de 1000 litros/vaca/ano somente em 1996 (FIGURA 2).

0 200 400 600 800 1000 1200

90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 Ano

L

it

ro

s/

vaca/

an

o

FONTE: IBGE (2004)

FIGURA 2 – Produtividade do rebanho leiteiro brasileiro, 1991 a 2001.

Brandão (1999) ressalta que os valores das importações observados em 1995,

1996 e 1997 no Brasil foram significativamente elevados em relação aos anos anteriores. Isso teve, segundo Gomes (2001b), grande influência no mercado doméstico, em especial no preço recebido pelo produtor brasileiro, não devido à quantidade importada, mas ao preço dos importados.

No período de 1980 a 1989, a produção cresceu 26,2% a uma taxa média anual de 2,64%, enquanto nos períodos de 1990/99 e 2000/03, a variação da produção alcançou 31,66% e 12,6%, e as taxas anuais médias foram de 3,13 e 3,94%, respectivamente (TABELA 6). Note-se que as taxas médias de crescimento vêm apresentando crescimentos sucessivos em cada período, o que permite projetar um crescimento para a década de 2000.superior ao que foi observado na década de 1990, que já foi 20% superior à década anterior.

(32)

TABELA 6 – Produção de leite, vacas ordenhadas e produtividade animal no Brasil, 1980/2002

Ano Produção de Leite (milhões litros/ano)

Vacas Ordenhadas (mil cabeças)

Produtividade (litros/vaca/ano)

Taxa crescimento produção (%)

1980 11.162 16.513 676

1981 11.324 16.492 687 1,45

1982 11.461 16.387 700 1,21

1983 11.463 16.276 704 0,02

1984 11.933 16.743 713 4,10

1985 12.078 16.890 715 1,22

1986 12.492 17.330 721 3,43

1987 12.996 17.774 731 4,03

1988 13.522 18.054 749 4,05

1989 14.095 18.673 755 4,24

1990 14.484 19.072 760 2,76

1991 15.079 19.964 755 4,11

1992 15.784 20.476 771 4,68

1993 15.591 20.023 779 -1,22

1994 15.784 20.068 787 1,24

1995 16.474 20.579 800 4,37

1996 18.515 16.273 1.138 12,39

1997 18.666 17.048 1.095 0,82

1998 18.694 17.280 1.082 0,15

1999 19.070 17.395 1.096 2,01

2000 19.767 17.885 1.105 3,65

2001 20.510 18.194 1.127 3,76

2002 21.643 20.580 1.051 5,52

2003 22.254 19.255 1.155 2,8

Média 3,08

Elaboração: R. ZOCCAL - Embrapa Gado de Leite

Fonte: IBGE (Censo Agropecuário e Pesquisa da Pecuária Municipal)

Segundo Madalena (2001), a maior restrição ao aumento do consumo de leite e ao aumento dos preços no Brasil decorre da baixa renda da maioria da população haja vista que a elasticidade-renda do leite e derivados é muito alta nos estratos de menor renda; isso justifica a afirmação de que, se a população com maior renda passasse a ganhar mais, pouco aumentaria seu consumo de leite, pois sua necessidade já é, praticamente, toda satisfeita; por

outro lado, a população de baixa renda aumenta seu consumo de forma expressiva, conforme

foi observado após a implantação do Plano Real no Brasil, em 1994. Para Leite e Gomes (2001), muitos dos produtos lácteos têm elevada elasticidade preço/renda; no entanto, para

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Analisando-se a produção regional, constata-se que, apesar das mudanças ocorridas, em termos gerais não houve grandes mudanças na distribuição da produção brasileira (TABELA 7). A região Sudeste mantém a hegemonia há bastante tempo, porém vem mostrando uma tendência de enfraquecimento, devido à migração da produção para o

Centro-Oeste.

TABELA 7 – Participação das regiões na produção brasileira, 1990 a 2001

Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

1990 3,83% 14,12% 47,80% 22,52% 11,73%

1991 4,54% 14,42% 46,36% 22,48% 12,20%

1992 4,60% 14,36% 45,72% 22,72% 12,60%

1993 4,59% 10,79% 47,11% 23,64% 13,87%

1994 4,13% 11,23% 46,58% 24,27% 13,79%

1995 4,29% 11,45% 45,76% 24,90% 13,59%

1996 4,16% 12,72% 45,03% 22,91% 15,18%

1997 4,50% 12,80% 44,98% 23,28% 14,44%

1998 4,83% 11,07% 45,28% 23,59% 15,22%

1999 5,03% 10,71% 44,78% 24,15% 15,33%

2000 5,31% 10,92% 43,37% 24,81% 15,58%

2001 6,03% 11,05% 41,80% 25,29% 15,83%

Fonte: IBGE (2004)

Esta região, por sua vez, tem sido responsável pelo mais recente fenômeno do

sistema agroindustrial do leite, explicado por sua vantagem comparativa no custo de produção, que ocorre pelo baixo preço da soja, baixo custo de oportunidade da terra, taxas

privilegiadas para financiamentos e tecnologias que resultam em maiores produtividades. Além disso, contribuíram também a indústria laticinista mediante assistência técnica aos

produtores e a formação de demanda, assim como o empenho da Federação de Agricultura de Goiás através de um intenso trabalho de intermediação com a indústria e conscientização para a profissionalização do produtor (GOMES, S. 1999).

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A distribuição da produção de leite nas regiões será melhor compreendida se analisarmos conjuntamente os dados das TABELAS 7 e 8, pelos quais se visualiza facilmente que as regiões Sudeste e Sul juntas são responsáveis por 57,4% da população do País, pelos

dados de 2001, e respondem por 67% da produção leiteira do Brasil, enquanto as regiões Norte e Nordeste juntas respondem por pouco mais de 17% da produção, para 35,7% da população. Analisando-se as regiões individualmente, nota-se que a maior diferença entre os percentuais de população e produção ocorre no Nordeste; no entanto, este déficit mostra uma pequena tendência de queda nos últimos anos.

A região Norte demonstra tendência de atingir em pouco tempo a auto-suficiência; por outro lado, o Sudeste ratifica a redução de sua participação na produção total, passando a apresentar déficit quanto à população, enquanto a região Sul apresenta certa estabilidade e o Centro-Oeste, um contínuo crescimento.

TABELA 8 – Déficit regional da produção de leite em relação à população, Brasil, 1990-2001

1990 1995 2001

% população Déficit % população Déficit % população Déficit

Região Norte 6,73% 2,90% 7,16% 2,87% 7,68% 1,65%

Região Nordeste 28,97% 14,85% 28,86% 17,41% 28,04% 16,99%

Região Sudeste 42,79% (5,01%) 42,54% (3,22%) 42,62% 0,82%

Região Sul 15,15% (7,38%) 14,84% (10,06%) 14,77% (10,53%)

Região Centro-Oeste 6,36% (5,36%) 6,59% (7,00%) 6,89% (8,93%)

Quanto aos estados, deve-se destacar a concentração da produção, demonstrada pelos três maiores estados produtores, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul, que representaram 51,3% do total do País; isoladamente, Minas Gerais produziu 29,1% do leite

total do Brasil.

A produção primária de leite no Brasil apresenta como características marcantes,

conforme indica freqüentemente a literatura, a predominância de produtores com baixa ou nenhuma especialização, elevada sazonalidade, baixa relação volume/produtor e venda de animais mestiços e de corte (ALMEIDA, 2001). Compõe-se em sua maior parte por pequenos

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produtores respondem por apenas 20 a 30% da produção nacional, provenientes de um rebanho de animais mestiços, euro-indianos, que se prestam à dupla finalidade, leite e carne (YAMAGUCHI, 2001).

A grande diversidade existente no setor leiteiro é, segundo Brandão (1999), mais notável do que a que caracteriza o setor agropecuário no País, e está associada a fatores regionais e às características dos estabelecimentos e de seus operadores, proprietário ou não. Para Gomes, S. (1999), a distribuição assimétrica é característica marcante da produção de leite no Brasil onde os pequenos tendem a participar cada vez menos e os grandes cada vez mais.

No entanto, o conceito de pequeno produtor, segundo o mesmo autor, é relativo, pois provavelmente na Argentina, um produtor de 210 litros/dia é classificado como pequeno, enquanto no Brasil 50 litros/dia parece ser um parâmetro adequado, já no outro extremo se pode considerar como grande produtor aquele com produção acima de 200 litros/dia.

Não obstante, também é comum a utilização dos termos especializado, não-especializado, familiar e de subsistência, para adjetivar os produtores, sendo muitas vezes alguns destes empregados indevidamente como sinônimos. Para Jank et al. (1999 apud MADALENA, 2001, p. 16), são considerados produtores especializados

aqueles que têm como atividade principal a produção de leite, obtida através de rebanhos leiteiros especializados e outros ativos específicos para este fim, tendo investido em know-how, tecnologia, economia de escala e até alguma diferenciação do produto. Por especialização entende-se a aplicação de recursos financeiros em elementos de incremento da produção de leite em termos de volume e qualidade, como vacas especializadas de raças européias, alimentos concentrados, alimentos volumosos, etc.

Para o mesmo autor, os produtores não-especializados, também chamados “extratores” ou “ extrativistas” ou, ainda, “safristas”,

são aqueles que trabalham com tecnologia extremamente rudimentar, para os quais o leite ainda é um subproduto do bezerro de corte (ou vice-versa, de acordo com a época do ano); [...] trata-se, na sua maioria, de produtores que encontram no leite uma atividade típica de subsistência, portanto não-empresarial (JANK et al., 1999 apud MADALENA, 2001, p. 15).

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sua família, uma área reduzida de terra (própria ou de outros) e que nela emprega predominantemente mão-de-obra familiar, cuja produção está parcial ou totalmente orientada para o mercado”.

Posto isso, deve-se entender que a categorização do produtor, geralmente feita de forma generalista, nem sempre é apropriada, levando muitas vezes a crer equivocadamente que produtor familiar é o mesmo que de subsistência, ou que pequeno produtor não pode ser especializado, e assim por diante.

A escala de produção é, segundo Brandão (1999), o principal determinante da renda desta atividade, haja visto o baixo retorno por litro de leite. Isso explica, também, a tendência crescente à especialização da pecuária leiteira, visto que, desta forma, se tem maior estímulo para aumentar o volume de produção através da garantia de rendas maiores e redução do custo médio de produção. Tal redução de custo decorre da diluição dos custos fixos e dos investimentos, que são bastante elevados nesta atividade.

Dentro deste contexto, a existência de dois mercados de lácteos concorrentes e igualmente fortes torna mais complicada a organização do setor. As diferenças entre os mercados formal e informal consistem basicamente na inspeção sanitária e higiênica do governo, na fiscalização do controle de qualidade e do recolhimento de impostos aos quais o primeiro é submetido, enquanto o segundo não. Gomes, S. (1999) ressalta que este mercado apresenta, paradoxalmente, um crescimento superior ao observado pelo mercado formal, o que é bastante preocupante.

Como elemento final para caracterizar a atividade leiteira no Brasil, apresenta-se uma série de fatores exógenos, como a estrutura tributária, os custos financeiros, a burocracia, a falta de concorrência, as deficiências da infra-estrutura, mão-de-obra desqualificada, a concentração do consumo e a qualidade da matéria-prima, que se influenciam mutuamente e tornam, segundo Primo (1999), os produtos brasileiros menos competitivos, seja no próprio mercado interno, seja no mercado externo, criando o chamado Custo Brasil.

3.2.3 Atividade Leiteira na Região Nordeste

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Segundo Gomes (2001a), a região Nordeste responde por 14% do leite produzido no Brasil, sendo o Estado da Bahia o maior produtor. No entanto, a produção de leite do

Nordeste é suficiente para atender somente 10% do mercado regional, gerando um grande déficit, que é suprido pela importação de leite de outras regiões do País e de outros países.

Considerando os consumos per capita do Nordeste, para leite fluido e queijo, em torno de 68 e 50% dos nacionais, respectivamente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) estimou, para o ano de 1998, uma necessidade de produção de 2,82 bilhões de litros de leite para o abastecimento regional, apenas nesses dois itens. Ter-se-ia, portanto, um déficit da ordem de 850 milhões de litros ou 43% da produção média.

Segundo pesquisa realizada pelo Banco do Nordeste (2001) sobre a agroindústria do leite no Nordeste, 50% das grandes empresas laticinistas estão sob controle familiar; no entanto, a presença do capital estrangeiro já se revela bastante significativa através de aquisições de empresas de grande e médio porte, o que configura uma tendência bastante definida. De acordo com o mesmo estudo, produtores de médio e grande portes estão buscando, na implantação de miniusinas, uma alternativa para enfrentar o grande poder das indústrias em razão da elevada concentração de compra, que reduz a capacidade de negociação do produtor.

Para Primo (2001), a região Nordeste é, dentre as regiões brasileiras, a que mais problemas apresenta quando se analisa a cadeia agroindustrial do leite, demonstrando que a indústria local se move em sentido contrário à tendência nacional, pois vem apresentando um aumento na quantidade de postos de resfriamento, enquanto no restante do País a coleta de leite a granel caminha no sentido de acabar com estas unidades. Além disso, a região apresenta reduzido número de usinas e fábricas de limitado poder de negociação frente às localizadas em regiões mais desenvolvidas. Ainda segundo ele, a indústria de laticínios do Nordeste caracteriza-se pela pequena capacidade de processamento e pela elevada concentração de estabelecimentos nos Estados da Bahia (35%) e Pernambuco (14%), ressaltando-se que metade das fábricas processam apenas 5.000 litros de leite/dia.

Gomes (2001a) afirma que, além dos problemas estruturais, contribui também para o atual estágio de atraso tecnológico na produção de leite o perfil conservador do

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externa, concentração da produção em áreas produtoras de grãos e/ou subprodutos utilizáveis

na alimentação do rebanho, e necessidade de investimentos no treinamento dos pequenos produtores, isso pelo seu importante papel social.

Para Brandão (2001), a falta de profissionalismo e especialização dos produtores são os principais elementos que explicam os elevados custos da atividade no Nordeste, enquanto o baixo nível de adoção de tecnologia está relacionado com a baixa capacidade de investimento e com a eficácia da assistência técnica, que requer um redirecionamento dos esforços da assistência técnica estatal, como também uma maior integração com as

instituições de pesquisa. Neste sentido, Schuh (1996) esclarece que o uso de tecnologia é uma premissa básica para a sobrevivência dos agricultores, tanto para os grandes como pequenos, pois a não utilização de tecnologia os conduzirá à miséria ou os expulsará do ambiente rural.

Assim, segundo Pimentel e Souza Neto (2000), a pecuária leiteira do Nordeste necessita de forma mais urgente transformar o produtor em empresário eficiente através da melhoria dos processos já existentes dentro da propriedade, reduzindo custos, e da organização dos produtores a fim de conseguir maior poder nas negociações com os demais elos da cadeia produtiva. Porém, a eficiência da pecuária leiteira está condicionada à coleta sistemática e consistente de dados, adoção de tecnologias apropriadas à região e à capacidade de investimento do produtor, além da adequação às políticas econômicas, dentro de um contexto globalizado e de rápidas transformações.

3.3 Abordagens sobre Eficiência

3.3.1 Conceitos de Eficiência

Segundo Badin (1997), na maioria das vezes o conceito de eficiência é interpretado como eficiência técnica, isto é, a obtenção da maior quantidade de produto possível por quantidade de insumo. Considerando que o objetivo da firma é obter a máxima rentabilidade possível, o empresário não pode considerar apenas a eficiência técnica, devendo objetivar também ser economicamente eficiente dentre as possíveis combinações de fatores existentes; do contrário estará havendo apenas eficiência alocativa, mas não econômica, já que esta só poderá ser alcançada através de uma combinação das eficiências técnica e alocativa.

(39)

produto”. Eficiência geralmente é definida em termos de custo de produção, lucro e produtividade da mão-de-obra. De fato, o termo produtividade é freqüentemente usado pelas

empresas para se referir à eficiência.

Para Sander (1982 apud BORGERT; ENSSLIN; CASAGRANDE, 1996), a

eficiência “é o critério administrativo que revela a capacidade real de produzir o máximo com

o mínimo de recursos, energia e tempo”; afirma ainda o autor que o conceito de eficiência

está, conseqüentemente, associado à racionalidade econômica, por se preocupar em encontrar

os meios e procedimentos mais adequados para atingir resultados e metas, independentemente

de seu conteúdo humano e político ou de sua natureza ética. Dessa forma, é considerado

eficiente aquele que apresenta uma elevada relação produto/fator.

Zey-Ferrell (1979 apud BORGERT; ENSSLIN; CASAGRANDE, 1996) ressalta

que durante muito tempo a eficiência foi tratada em termos de custos por unidade de

produção. Assim, entre duas organizações com igual produção deverá ser a mais eficiente

aquela que possuir o menor custo. Um alto grau de eficiência é resultado de um grande

empenho para conservar os recursos, e um baixo grau de eficiência implica poucos esforços

organizacionais na conservação dos recursos. Eficiência é uma medida de quantidade e pode

ser muito importante nos períodos em que os recursos (dinheiro, tecnologia, pessoal, etc.) são

escassos. Mas, em outros períodos de tempo, quando a emergência se faz presente (desastres,

catástrofes), o conceito de eficácia pode ser muito mais importante do que eficiência, já que a

primeira se refere à capacidade de adquirir e utilizar recursos na busca de algum tipo de

resultado.

Segundo Farrell (1957 apud SILVA, 2002), a medida de eficiência produtiva tem

importância tanto do ponto de vista teórico como empírico, pois permite testar empiricamente

argumentos teóricos e obter medidas para aumentar o desempenho de firmas ou indústrias, já

que uma firma ou indústria pode aumentar seu produto, simplesmente aumentando a

eficiência, sem qualquer utilização adicional de recursos. Do ponto de vista microeconômico,

a função de produção mostra a máxima quantidade de produto que possa ser obtida,

combinando várias quantidades de insumos ou, considerando uma orientação para o insumo, a

função de produção descreve a quantidade mínima de insumos necessária para alcançar um

dado nível de produto.

Como a firma visa atingir o maior nível de produto com o menor custo possível,

ela procura atingir a fronteira de produção. Se a tecnologia é conhecida, a fronteira de

(40)

de acordo com Seiford (1990), na prática tem-se apenas um conjunto de observações correspondente aos níveis de produtos para determinados níveis de insumos. Portanto, o problema principal passa a ser a construção de uma fronteira de produção empírica baseada nas informações observadas.

3.3.2 Medidas de Eficiência

As avaliações de eficiência normalmente são feitas através de funções-fronteiras que representam uma tecnologia eficiente; estas fronteiras têm sido estimadas por diferentes métodos a mais de 40 anos. As medidas de eficiência atuais tiveram origem com Farrell (1957), que partiu do trabalho de Debreu (1951) e Koopmans (1951) para definir uma medida simples para uma firma eficiente que utiliza vários insumos. Ele propôs que a eficiência de uma firma apresenta dois componentes: eficiência técnica, que reflete a habilidade de uma firma obter a máxima produção de uma dada combinação de insumos em termos físicos, e eficiência alocativa, que reflete a habilidade de uma firma usar os insumos em uma proporção ótima, dados seus respectivos preços. Estas duas medidas são então combinadas e formam a eficiência econômica total.

Existem duas orientações que podem conduzir estas medidas de acordo com seu foco, segundo a idéia original de Farrell, que prevê um espaço insumo/insumo, quando a ênfase é na redução de insumos, chamada de insumo orientado; e, do outro lado, a que prevê expansão na produção, chamada de produto orientado.

3.3.2.1 Medidas com Orientação para o Insumo

Para ilustrar sua idéia, Farrell utilizou o exemplo simples de uma firma que usa dois insumos (x1 e x2) para produzir um único produto (y), sob a pressuposição de retornos constantes à escala, ou seja, no caso de a função de produção, y = f(x1, x2), ser homogênea de grau um nos insumos, a fronteira tecnológica pode ser representada pelas isoquantas unitárias, tais como 1 = f(x1/y, x2/y). O conhecimento da isoquanta unitária de uma firma completamente eficiente, representada por SS’, permite a determinação da eficiência técnica (FIGURA 3).

(41)

firma pode ser representada pela distância QP, que é a quantidade em que todos os insumos

podem ser proporcionalmente reduzidos sem uma redução na produção. Esta quantidade é

geralmente expressa em termos percentuais pela relação QP/OP. A eficiência técnica de uma

firma é mais comumente medida pela razão

OP OQ

ET (1)

que é igual a 1- QP/OP. Esta medida deverá assumir um valor entre zero e 1 e fornecerá um indicador do grau de ineficiência técnica da firma. Se ET = 1, a firma é tecnicamente

eficiente, situando-se sobre a isoquanta eficiente, tal como o ponto Q.

FIGURA 3 – Eficiência técnica e alocativa sob orientação insumo

Se a relação de preços dos insumos é também conhecida, representada pela linha AA’ na figura 3, a eficiência alocativa (EA) pode ser calculada. A eficiência alocativa de uma firma operando em P é definida pela razão

OQ OR

EA (2)

em que a distância RQ representa a redução nos custos de produção que poderiam ocorrer se a produção se desse de forma alocativamente (e tecnicamente) eficiente, como no ponto Q’, ao invés de tecnicamente eficiente, mas alocativamente ineficiente, como no ponto Q.

X2/y

S’ P

Q R

Q’

X1/y A’

A

0

(42)

Segundo Forsund, Lovell e Schimidt (1980 apud GOMES, A., 1999), a ineficiência técnica é resultante do uso excessivo de insumos para dado nível de produção. A

ineficiência alocativa decorre do emprego desses insumos em proporções inadequadas, dados seus respectivos preços, ou seja, quando a taxa marginal de substituição entre os insumos não é igual à razão dos seus preços. Em ambos os casos, o custo não será minimizado.

A eficiência econômica total (EE) é definida pela razão

OP OR

EE (3)

que é resultado do produto das eficiências técnica (OQ/OP) e alocativa (OR/OQ), e a distância RP também pode ser interpretada em termos de uma redução de custo.

EE OP OR OQ OR OP OQ EA

ET× × (4)

Estas medidas de eficiência consideram que a função de produção da firma eficiente é conhecida; no entanto, na prática isto não ocorre, devendo a isoquanta eficiente ser estimada a partir de uma amostra de dados. Farrell (1957) sugere o uso de um destes: a) um método não-paramétrico que forma uma isoquanta linear convexa tal que nenhum ponto observado deve estar à sua esquerda ou abaixo dela (FIGURA 4), ou b) uma função

paramétrica, tal como a forma Cobb-Douglas, adequada aos dados, em que novamente nenhum ponto observado deve estar à esquerda ou abaixo dela.

FIGURA 4– Isoquanta convexa linear

X2/y S

S’

(43)

A primeira alternativa possui, segundo Gomes, A. (1999), duas vantagens principais: a) estima a eficiência técnica para cada observação individual, e b) não se baseia em nenhum modelo matemático específico. Por outro lado, possui uma elevada sensibilidade a observações extremas (outliers), ou seja, apenas uma observação discrepante na amostra influenciará todas as outras medidas de eficiência. Porém, segundo o mesmo autor, citando

Farrell (1957), é melhor determinar uma medida de eficiência de uma firma comparando-a

com o melhor nível de eficiência até então observado do que compará-la com algum nível ideal inatingível. A fronteira de eficiência, nessa formulação, é construída pelos valores observados de insumos e produtos, e não por valores estimados.

3.3.2.2 Medidas com Orientação para o Produto

As medidas insumo orientado de eficiência técnica respondem a questão: “Em

quanto os insumos podem ser proporcionalmente reduzidos sem alterar as quantidades

produzidas?” Alternativamente podemos perguntar: “Quanto a produção pode ser

proporcionalmente aumentada sem alterar as quantidades de insumos utilizadas?” Esta é uma

medida produto orientado, que pode ser ilustrada com um exemplo simples a envolver um

insumo e um produto, conforme é demonstrado na FIGURA 5a – uma firma ineficiente

operando em P, onde a tecnologia f(x) apresenta retornos decrescentes à escala. A medida insumo orientado de Farrell para eficiência técnica deveria ser igual à razão AB/AP, enquanto a medida produto orientada de eficiência técnica deveria ser CP/CD. As medidas insumo e

produto orientados somente serão medidas equivalentes de eficiência técnica, quando

(44)

(a) Retornos decrescentes (b) Retornos constantes

FIGURA 5 – Medidas de Eficiência Técnica sob orientação insumo e produto para retornos decrescentes e constantes à escala

Considerando-se um caso que envolva dois produtos (y1 e y2) e um único insumo (x1), se os retornos à escalas forem constantes, então poder-se-á representar a tecnologia por

uma curva de possibilidades de produção unitária em duas dimensões, representada pela linha ZZ’ na FIGURA 6. O ponto A representa uma firma ineficiente, situando-se abaixo da curva de possibilidades de produção. A distância AB representa sua ineficiência técnica,

FIGURA 6 – Eficiência alocativa e técnica para uma orientação produto

que é a quantidade de produtos que poderia ser aumentada sem requerer insumos adicionais.

Assim, a medida de eficiência técnica produto orientado é a razão

OB OA

ET (5)

y2/x

D

C

B’ B

D’ y1/x Z

0 A

Z’ y

D

x 0

B

P A

C

f(x)

y

D

x 0

B

D P

A

C

Imagem

TABELA 1 – Produção de leite no Ceará e nas bacias leiteiras do Estado.
FIGURA 1 – Comportamento da produção de leite na bacia leiteira de Sobral, 1990-2003.
TABELA 4 – Vacas ordenhadas e produtividade em países selecionados, 2002
TABELA 5 – Produção  per capita (litros/por habitante) em países selecionados, 1992 a 2001.
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Referências

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